Esse disco foi lançado para celebrar a passagem de Elvis Presley por Nova Iorque em 1972. Na ocasião o cantor se apresentou em quatro concertos no Madison Square Garden, um dos locais mais prestigiados dos EUA, onde apenas grandes astros se apresentavam. Por essa época a carreira de Elvis se concentrava em suas temporadas na cidade de Las Vegas e nas extensas turnês que realizava, atravessando o país de costa a costa. Os shows em NYC nada mais eram do que a abertura de uma série de apresentações que Elvis realizaria no meio do ano. Em pouco mais de um mês Elvis cumpriria uma apertada agenda que incluiria ainda aparições em várias outras cidades, com destaque para uma outra série de concorridos concertos em outra grande metrópole americana, Chicago.
O que deveria ser apenas uma passagem por Nova Iorque acabou se tornando um evento da mídia, pois os jornais não deixaram por menos e fizeram uma extensa cobertura dos concertos de Elvis na Big Apple. Não era para menos, Elvis era um notório ausente no circuito de shows da cidade. Dificilmente se conseguia entender como um astro do porte de Elvis Presley nunca havia antes se apresentado numa das mais importantes cidades do mundo. As turnês eram visivelmente agendadas em cidades do interior, em locais muitas vezes nada condizentes com a fama e o status que Elvis ostentava. De qualquer forma agora Elvis estava na cidade e isso definitivamente causou um grande rebuliço entre os meios de comunicação. Até mesmo uma entrevista coletiva foi agendada para o cantor, algo que era extremamente raro para Elvis e sua equipe. Bem humorado, Presley não se fez de rogado e no meio das brincadeiras falou sobre sua carreira, a volta aos palcos e tentou explicar a razão de ter demorado tanto tempo para realizar shows na cidade. "Estávamos procurando um local adequado" - brincou.
O disco retrata bem o bom momento em que Elvis vinha atravessando. Existe consenso entre os biógrafos e estudiosos sobre o assunto que um dos períodos mais ricos e férteis da carreira de Elvis Presley vai justamente de sua volta aos palcos em 1969 até mais ou menos 1973, no Aloha. Nesses anos Elvis realizou ótimos concertos, gravou excelentes canções e voltou aos primeiros postos das paradas de sucesso. No Madison Square Garden temos um dos picos de criatividade de Elvis nos palcos. O repertório, bastante coeso e diversificado; a banda, extremamente entrosada e Elvis, com pleno domínio vocal, constituíram uma forte base no qual se fundou o enorme sucesso das apresentações do astro em Nova Iorque. Elvis lotou o Madison Square por quatro vezes seguidas e foi prestigiado na plateia com as presenças de grandes mitos da música como John Lennon e George Harrison, que não perderam a oportunidade de conferir o concerto de seu grande ídolo.
Tão boa foi a repercussão de uma maneira geral que mudou até mesmo os planos da RCA Victor. Inicialmente a gravadora havia posicionado seus equipamentos para gravar o concerto e aproveitar apenas algumas músicas para serem encaixadas na trilha sonora do filme Elvis On Tour. O sucesso porém foi tão positivo que os executivos resolveram cancelar a trilha e lançar o mais rapidamente possível o LP com a apresentação. A ideia deu certo e Elvis conseguiu uma excelente vendagem, se tornando o disco um dos mais representativos de sua carreira. A decisão foi acertada sem dúvida, principalmente em relação aos fãs que não puderam comparecer ao evento, além de trazer para os fãs internacionais a chance de ouvir pela primeira vez várias faixas inéditas dentro da discografia de Elvis, como por exemplo The Impossible Dream, For The Good Times e até mesmo An American Trilogy (cujo single não havia sido lançado em todos os países ao redor do mundo).
Recentemente uma séria de fotos inéditas desses concertos foram encontradas, gerando novamente um grande interesse pelo fato na mídia mundial. Nelas podemos perceber como o evento foi grandioso. Infelizmente nenhum registro fílmico oficial foi realizado, nessa que foi uma das decisões mais infelizes da carreira de Elvis pois os realizadores decidiram que o show não seria filmado profissionalmente. O que existe atualmente são apenas imagens amadoras ou semi amadoras que nos dão apenas uma pálida ideia da performance de Elvis. Nem mesmo as pretensas imagens feitas pelas emissoras de TV de Nova Iorque conseguem reparar o estrago feito de não ter se realizado um plano profissional de filmagem dos concertos. De qualquer forma o disco oficial está aí e nos deixou a música realizada nesse dia como um testemunho do grande astro que Elvis foi. Certamente nem mesmo a Big Apple resistiu ao seu grande talento.
Elvis Presley - Elvis as Recorded at Madison Square Garden (1972)
01. Also Sprach Zarathustra
02. That's All Right
03. Proud Mary
04. Never Been To Spain
05. You Don't Have To Say You Love Me
06. You've Lost That Lovin' Feelin'
07. Polk Salad Annie
08. Love Me
09. All Shook Up
10. Heartbreak Hotel
11. Teddy Bear/Don't Be Cruel
12. Love Me Tender
13. The Impossible Dream
14. Introductions by Elvis
15. Hound Dog
16. Suspicious Minds
17. For The Good Times
18. American Trilogy
19. Funny How Time Slips Away
20. I Can't Stop Loving You
21. Can't Help Falling In Love
22. Closing Vamp
Elvis Presley - Elvis as Recorded at Madison Square Garden (1972): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / John Wilknson (guitarra) / Charlie Hodge (violão e vocais) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Glen Hardin (piano) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Kathy Westmoreland (vocais) / Joe Guercio Orquestra / Harry Jenkins e Joan Deary (produção e arranjo) / Data de Gravação: 10 de junho de 1972, 8:30 pm / Local de Gravação: Madison Square Garden, Nova Iorque / Data de Lançamento: junho de 1972 / Melhor posição nas charts: #11 (EUA) e #3 (UK).
Pablo Aluísio.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - He Touched Me (1972)
He Touched Me foi o terceiro e último álbum gospel da carreira de Elvis Presley. Lançado em 1972 o disco foi premiado com o prêmio Grammy na categoria "Melhor Interpretação Inspirativa" ainda naquele ano. Apesar de laureado pela academia musical He Touched Me não se tornou uma unanimidade entre os especialistas. Ao contrário dos discos evangélicos anteriores de Elvis esse não foi gravado em uma sessão exclusiva mas sim no meio da maratona de maio de 1971, sendo completado meio às pressas no mês seguinte em Nashville. Tanta correria e rapidez de certa forma acabaram prejudicando em parte o desenvolvimento do disco, cujo projeto deveria ter sido melhor trabalhado.
Um reflexo disso acabou aparecendo depois quando todos o ouviram pela primeira vez. Por causa da correria em finalizar o LP o produtor Felton Jarvis não conseguiu providenciar um arranjo mais original para as faixas do disco. Dessa forma quando surgiu nas lojas os principais críticos de música dos EUA foram quase unânimes em acusar o disco de simplesmente copiar linha a linha o arranjo e as harmonias das gravações originais. De certa forma havia razão por parte dos jornalistas e da crítica em geral. He Touched Me sofre bastante nesse aspecto. A impressão que nos passa é que realmente tudo foi gravado na pressa de finalizar o número de canções planejadas a tempo. Também pudera, Elvis vinha cumprindo uma extensa e apertada agenda de shows e temporadas ao vivo que acabavam sendo incompatíveis com as chamadas maratonas de gravação, como essa de 1971, praticamente a última grande sessão em estúdio da carreira de Elvis.
O álbum é puxado pela faixa título, na realidade um sucesso gospel de Bill Gaither, famoso compositor, músico e pregador americano. A canção é um spiritual ideal para o grupo The Imperials brilhar. O cantor por sua vez deve ter se sentido muito bem gravando essa faixa pois ela foi escrita especificamente para ser executada por um quarteto gospel e não é segredo para ninguém que um dos maiores sonhos de Elvis era justamente esse, participar como vocalista de um grupo como o The Imperials (aqui brilhantemente o acompanhando). I´ve Got a Confidence, a faixa seguinte, demonstra a falta de um trabalho mais consistente de arranjo. A música mais parece uma jam session descompromissada.
Os grandes destaques do álbum realmente são as faixas Amazing Grace (clássico absoluto do repertório gospel americano, aqui muito bem executado por Elvis e seu grupo feminino de apoio), Bossom Of Abraham (com seu balanço que não deixa margens de dúvidas de onde proveio o Rock n Roll) e I, John (que acabou ganhando uma divertida cena no documentário Elvis On Tour). Enfim, He Touched Me é um disco que tem belos méritos e se peca por não ter sido muito original em seus arranjos se redime pela intensa dedicação de Elvis em dar o melhor de si nas músicas. No saldo final acaba sendo salvo do inferno de discos ruins da carreira de Elvis, o que por si só já é um grande milagre, amém.
Elvis Presley - He Touched Me (1972)
01. He Touched Me
02. I've Got Confidence
03. Amazing Grace
04. Seeing Is Believing
05. He is My Everything
06. Bosom of Abraham
07. An Evening Prayer
08. Lead Me, Guide Me
09. There Is No God But God
10. A Thing Called Love
11. I, John
12. Reach Out to Jesus
Pablo Aluísio.
Um reflexo disso acabou aparecendo depois quando todos o ouviram pela primeira vez. Por causa da correria em finalizar o LP o produtor Felton Jarvis não conseguiu providenciar um arranjo mais original para as faixas do disco. Dessa forma quando surgiu nas lojas os principais críticos de música dos EUA foram quase unânimes em acusar o disco de simplesmente copiar linha a linha o arranjo e as harmonias das gravações originais. De certa forma havia razão por parte dos jornalistas e da crítica em geral. He Touched Me sofre bastante nesse aspecto. A impressão que nos passa é que realmente tudo foi gravado na pressa de finalizar o número de canções planejadas a tempo. Também pudera, Elvis vinha cumprindo uma extensa e apertada agenda de shows e temporadas ao vivo que acabavam sendo incompatíveis com as chamadas maratonas de gravação, como essa de 1971, praticamente a última grande sessão em estúdio da carreira de Elvis.
O álbum é puxado pela faixa título, na realidade um sucesso gospel de Bill Gaither, famoso compositor, músico e pregador americano. A canção é um spiritual ideal para o grupo The Imperials brilhar. O cantor por sua vez deve ter se sentido muito bem gravando essa faixa pois ela foi escrita especificamente para ser executada por um quarteto gospel e não é segredo para ninguém que um dos maiores sonhos de Elvis era justamente esse, participar como vocalista de um grupo como o The Imperials (aqui brilhantemente o acompanhando). I´ve Got a Confidence, a faixa seguinte, demonstra a falta de um trabalho mais consistente de arranjo. A música mais parece uma jam session descompromissada.
Os grandes destaques do álbum realmente são as faixas Amazing Grace (clássico absoluto do repertório gospel americano, aqui muito bem executado por Elvis e seu grupo feminino de apoio), Bossom Of Abraham (com seu balanço que não deixa margens de dúvidas de onde proveio o Rock n Roll) e I, John (que acabou ganhando uma divertida cena no documentário Elvis On Tour). Enfim, He Touched Me é um disco que tem belos méritos e se peca por não ter sido muito original em seus arranjos se redime pela intensa dedicação de Elvis em dar o melhor de si nas músicas. No saldo final acaba sendo salvo do inferno de discos ruins da carreira de Elvis, o que por si só já é um grande milagre, amém.
Elvis Presley - He Touched Me (1972)
01. He Touched Me
02. I've Got Confidence
03. Amazing Grace
04. Seeing Is Believing
05. He is My Everything
06. Bosom of Abraham
07. An Evening Prayer
08. Lead Me, Guide Me
09. There Is No God But God
10. A Thing Called Love
11. I, John
12. Reach Out to Jesus
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - Elvis On Tour The Rehearsals
Quando esse CD foi lançado eu escrevi aqui mesmo em nosso site o seguinte: "Todos sabem que Elvis On Tour possui um rico acervo de material inédito, não só de imagens gravadas para o filme e que nunca foram utilizadas, mas também de músicas e versões que estão arquivadas há anos pela gravadora de Elvis. Esse é só um exemplo do que nunca foi mostrado antes. São ensaios feitos por Elvis dentro do projeto Standing Room Only, que depois foi renomeado para Elvis On Tour. Mas é sempre bom ressaltar que isso é apenas uma pálida amostra do que está por vir nos próximos anos. Esperamos que o tão aguardado e prometido DVD venha com grande parte desses arquivos perdidos. Só nos resta esperar e torcer!" Um ano depois ainda estamos em compasso de espera. De qualquer forma esse CD é a prova viva de que muito material de excelente qualidade ainda está por aí, ou efetivamente arquivado pela EPE e pela BMG ou então esquecido em algum depósito da MGM, apenas esperando para finalmente sair à tona!
Porém isso não é tudo, fora essas duas hipóteses, existe uma terceira via que cada vez mais tem se destacado na divulgação dessas imagens e registros. Enquanto as empresas oficiais que cuidam do acervo de Elvis não lançam quase nada de forma legal, vai o mercado paralelo ficando cada vez mais organizado e sofisticado e com o auxílio da Internet temos tido acesso a várias imagens desse projeto, cenas essas que muitos nem sequer sabem como surgiram ou como apareceram na web! Quem são essas pessoas que, pela primeira vez, resolveram colocar essas imagens na net? Certamente, temendo um processo por violação de direitos autorais, muitos colecionadores procuram o anonimato e disponibilizam apenas alguns trechos desse filme. Apesar de muitos que apenas distribuem esse material assumirem uma posição de terem sido os que primeiro colocaram esses tapes pela net, sabemos muito bem que são apenas os atravessadores disso. Os verdadeiros colecionadores, aqueles que conseguiram os originais, as masters dos fotogramas no mercado negro, nunca irão aparecer de forma ostensiva. É a velha história, quando as pessoas que deveriam promover esse tipo de lançamento se omitem ou escondem esse material dos fãs em geral, acabam na verdade, com essa atitude, promovendo e abrindo espaço para que outros entrem nesse vácuo deixado e lancem eles mesmos, fragmentos desse acervo de forma ilícita.
Processo muito semelhante aconteceu com o especial "Elvis In Concert" de 1977. Desde o começo, a empresa que cuida dos direitos de Elvis, tentou varrer para debaixo do tapete esse programa de TV. A razão absurda apresentada seria a de que o especial iria macular a imagem de Elvis! Isso só vem demonstrar a imensa futilidade e falta de percepção da obra de Elvis por parte daqueles que hoje controlam o acervo do cantor. Como se pode ignorar um material desses e de tamanha importância histórica apenas porque Elvis não apresentava um bom aspecto físico? Esse tipo de atitude e de postura sempre me deixou bastante atônito! Os efeitos dessa omissão proposital da EPE são conhecidos de todos, pois o especial não deixou de chegar nas mãos dos fãs, a verdade é que ele chegou sim, porém de forma ilegal em cópias piratas. O que foi pior no final das contas? Com a tecnologia de nosso tempo não há como negar ou ignorar a existência de um projeto como esse, que repito, é muito importante, pois traz Elvis em seus últimos shows pelos EUA. Com "Elvis On Tour" temos uma situação parecida. Lançar o filme tal como foi apresentado nos cinemas em 1972 não irá trazer grandes novidades, principalmente para aqueles que sempre se empenharam em enriquecer suas coleções particulares.
Para esse tipo de público um DVD apenas com o filme seria banal demais. Por quê não resgatar todos os momentos perdidos que fizeram parte desse filme? O próprio diretor Martin Scorsese, que participou da montagem do documentário, sempre deixou claro em entrevistas que muito material foi descartado e não entrou na montagem final. Não estou falando de pequenos trechos, de filmagens rápidas de ensaios, nada disso, o que ele quis deixar claro é que existem shows inteiros filmados! Mas afinal aonde foi parar todo esse material? Talvez a péssima situação financeira da MGM nos últimos anos tenha colaborado para agravar esse quadro. Talvez a existência de grande parte desse material seja simplesmente ignorada pela própria empresa, ou ainda que muito provavelmente a MGM tenha um arquivo em más condições, podendo até mesmo grande parte desses registros ter se deteriorado pela passagem do tempo, quem sabe toda a verdade? Uma das hipóteses mais comentadas seria aquela em que afirma que os próprios funcionários dessa companhia teriam repassado a colecionadores esses trechos arquivados. Muito do que se vê e se conhece hoje desse projeto pode ter sido adquirido justamente dessa forma. Afinal espera-se de tudo de funcionários em uma empresa à beira da falência. Mesmo que grande parte dos direitos da MGM tenham sido repassados à frente para pagar suas contas, temos que entender que o que foi negociado foi a versão oficial do filme e não seus trechos não utilizados. Esses continuaram perdidos nos labirintos que formam os arquivos de uma companhia com quase 100 anos de existência! Imagine só a imensidão, o mar de películas fechadas e arquivadas em seus imensos depósitos! São exatamente essas cenas, que não entraram no corte final do filme, que possuem importância hoje para os fãs de Elvis. Outra coisa muito comentada: todo projeto de Elvis, após sua conclusão, era repassado para o Coronel Parker. O empresário então arquivava todo o material.
Teria a parte inédita, não utilizada, desse filme, também sido repassado a Parker? Ou será que simplesmente lhe foi dada pela produtora a versão oficial do filme e nada mais? Parker sabia certamente do valor desse tipo de coisa, principalmente após a morte de Elvis. Teria ele guardado algo a sete chaves do "Elvis On Tour"? O Coronel sempre estava fazendo insinuações sobre coisas inéditas que tinha sobre a carreira de Elvis. Infelizmente ele nunca resolveu provar suas afirmações. Quando morreu ficou a dúvida: O Coronel realmente tinha seu próprio tesouro de coisas inéditas ou só estava querendo fazer média com a EPE? Com sua morte tudo ficou em aberto e sem resposta. Vamos supor que tudo seja verdade, que o Coronel realmente possuía o que sempre afirmou ter em suas mãos, caso isso seja verdadeiro o que teria acontecido com esse "tesouro perdido" que foi arquivado pelo Coronel por anos e anos? Há uma corrente de autores que afirma que Parker guardou tudo para depois ter uma "carta na manga" e a utilizar como uma eventual garantia futura contra o espólio de Elvis, principalmente depois que ele perdeu grande parte dos direitos autorais sobre a obra do cantor, após aquele processo movido contra ele por Priscilla e a EPE! Jogador inveterado como era, Parker realmente nunca iria ficar sem um coringa escondido na manga para utilizar contra Priscilla ou quem quer que seja. Afinal estamos falando de Tom Parker, uma das pessoas mais astutas que já viveram no show business. E o que aconteceu com todo esse suposto material inédito guardado pelo Coronel após sua morte? Teria alguma pessoa envolvida com o espólio do Coronel passado trechos inéditos à frente?
Essas cenas inéditas de "Elvis On Tour" estariam vindo também dos arquivos de Tom Parker? Tudo entra no campo das especulações. Toda essa exposição serve para demonstrar ao fã como é complexo e vasto falar sobre o material inédito do projeto "Elvis on Tour". Isso dá margem a muita especulação, muitas teorias de conspiração! Para falar a verdade o "Elvis On Tour" acabou se tornando mesmo o "Santo Graal" da carreira de Elvis. Isso só vai acabar quando a EPE resolver colocar no mercado um DVD com tudo o que se especula existir e com tudo o que já é bem conhecido por todos! Até lá as visões, cada vez mais especulativas e contraditórias, irão prosperar. Não seria aqui o momento também para dissertar sobre o que já é ou não conhecido pelos fãs, o que já vazou ou não. Esse assunto é por demais extenso e fugiria ao tema proposto nessa análise. Sem dúvida posso até mesmo tratar com maiores detalhes sobre isso em artigos futuros, mas não nesse momento.
Temos agora que nos concentrar e nos focar especificamente no CD Elvis On Tour The Rehearsals, sem dúvida um ótimo lançamento do selo FTD (Follow That Dream). Comecemos pela Direção de Arte do CD. A capa traz um close do rosto de Elvis durante as sessões de gravação que deram origem ao disco. Sem dúvida é uma escolha interessante pois não deixa de ser tecnicamente simples, mas que de qualquer forma demonstra a inequívoca escolha por algo mais simplório e direto, sem superproduções. Qualquer fã irá associar rapidamente o conteúdo do disco com essa foto, pois certamente todos irão lembrar em poucos segundos das cenas de "Elvis On Tour", quando Elvis aparece cantando "Separate Ways". Não tem a virtuosidade de uma capa feita por Klaus Voorman e nem muito menos o classicismo de um Pietro Alfieri, responsável por tantas capas interessantes, inclusive da própria carreira de Elvis. É uma capa direta, sem maiores retoques ou firulas. Obviamente foi produzida para deixar claro para o consumidor do que se trata. Aliás esse direcionismo é encontrado também no título do disco, "Elvis On Tour - Os ensaios". Direto, simples, rápido e o mais importante, eficiente. Aliás vou aproveitar para abrir um parêntese aqui. Certamente um dos grandes pecados dentro da discografia de Elvis, principalmente durante os anos 70, reside justamente na fraca direção de arte de seus álbuns. São capas derivativas, sem grande cuidado técnico. Aliás, a bem da verdade, é até mesmo muito fácil de explicar porque as capas de Elvis durante os anos 70 são tão fracas do ponto artístico. O Coronel Parker impôs um regime de austeridade incrível. Nas capas de Elvis dos anos 60, principalmente de trilhas sonoras, logo notamos muitas fotos, ótimas contracapas, muita cor e alegria. Nos anos 70 as capas são simplíssimas, impessoais, burocráticas e tristes e as contracapas são, muitas vezes, pateticamente pobres do ponto de vista artístico. Veja o caso de dois discos de 1975, "Promised Land" e "Elvis Today".
Nada de maiores detalhes, apenas a lista seca das músicas sem nem ao menos a confecção de um design interessante. Muitas vezes a capa produzida para um projeto era aproveitado para outro e o pior, nada tinha a ver com o disco original para a qual elas foram confeccionadas. O caso mais conhecido é a do disco gravado no Madison Square Garden, cuja capa foi reaproveitada da nunca lançada trilha sonora do filme "Elvis On Tour". Veja a que ponto chegava o pão durismo de Tom Parker! Outro exemplo é a capa do disco "Elvis" de 1973, que nada mais era do que a capa não utilizada para o "Aloha From Hawaii". Esse último disco aliás possui uma capa original medonha, com um Elvis balofo e um satélite pessimamente montado sobre uma foto do planeta terra! Para piorar a ideia apelativa e fora de contexto ainda ousaram utilizar uma das mais infelizes fotos de Elvis já tiradas! A capa original do álbum duplo "Aloha" era tão feia que quando o disco foi relançado em CD resolveram fazer uma melhor, mais bonita. Um terrível atentado estético, certamente. Além de capas feias e pobres o Coronel Parker às vezes decidia que nem era preciso desenhar uma contracapa! Então ele simplesmente mandava aproveitar a capa para repeti-la na contracapa, como em "Raised On Rock". Enfim, a velha questão de se cortar os custos onde não se deveria. Enquanto outros grupos e cantores da época contratavam artistas plásticos renomados para elaborarem e criarem verdadeiras obras de arte para seus discos, Parker economizava seus níqueis. Passada essa análise inicial vamos agora nos ater às faixas do CD. Uma primeira constatação:
A Qualidade de Som é das melhores. Não poderia ser diferente, até mesmo em razão das circunstâncias em que o CD foi gravado. Os registros foram feitos por Elvis e banda no estúdio C da RCA e por essa razão aqui o ouvinte não vai encontrar muitos dos problemas de qualidade de áudio que ocorrem em outros títulos do selo Follow That Dream. São gravações profissionais, cercadas de todos os cuidados técnicos que se encontram nos grandes estúdios. Na verdade as existências dessas 19 canções se devem única e exclusivamente ao filme documentário "Elvis On Tour". Se não fosse pela necessidade que os diretores do filme sentiram em mostrar Elvis dentro dos estúdios ou ter material extra para uma eventual trilha sonora dificilmente Elvis teria participado dessa "sessão". Até mesmo porque todos sabem que Elvis odiava ensaiar! O repertório é o mesmo que ele utilizava nos palcos, sem grandes novidades. Um dos grandes interesses desse título talvez seja justamente esse, ouvir músicas exaustivamente tocadas por Elvis nas turnês sendo executadas dentro dos estúdios. Praticamente todas elas entraram no repertório de shows de Elvis nas primeiras apresentações em Las Vegas e nunca mais deixaram a set list dos concertos do cantor.
É o caso de Proud Mary, See See Rider, Polk Salad Annie, A Big Hunk O'Love ou até mesmo Johnny B. Goode. Muitos especialistas inclusive afirmam, com certa dose de razão, que praticamente todas as apresentações de Elvis durante os anos 70 derivariam insistentemente desses primeiros shows em Vegas. Realmente, se formos analisar bem, as temporadas de 69, 70, 71, e no mais tardar 72, iriam imperar de forma definitiva no que Elvis iria apresentar até o final de sua vida, com ocasionais e pontuais exceções. Por essa razão muitos autores afirmam que Elvis estacionou em seus últimos anos. Os shows eram praticamente iguais, as músicas muito raramente variavam e sem mudanças significativas Elvis ficou nos anos seguintes repetindo o mesmo repertório de seus primeiros shows no International Hotel (depois mudado para Hilton). E dentro dessa repetição insistente, poucas canções são mais representativas desse estado de coisas do que as acima citadas. Depois que surgiram, nunca mais foram descartadas por Elvis. Algumas ficaram fora dos concertos em determinadas épocas mas não tardavam a voltar depois. Várias são as razões que levavam Elvis a repetir ano após ano a mesma seleção musical. Além da facilidade que isso trazia para ele, sempre preocupado em não esquecer as letras das novas músicas, o próprio público também pouco colaborava para incentivar Elvis e banda a tomar novos rumos, produzir coisas diferentes. Preso dentro dessa situação Elvis pouco inovou em seus anos finais. Como o CD foi gravado em 1972 podemos perceber ainda algumas novidades de repertório, mesmo notando que Elvis começava, mesmo nesse ano, a se repetir, como podemos perceber na lista das canções presentes aqui.
A primeira faixa do CD, Proud Mary, por exemplo, pouco difere das versões ao vivo de que tanto conhecemos. Elvis está bem empenhado e o grupo a toca corretamente, mas é só. Praticamente igual à versão do disco "On Stage, February 1970", sem nenhuma novidade. Uma pena que Elvis não tenha aproveitado para trazer algo novo, diferente. Certamente se tivesse agido assim o interesse por essa faixa seria maior. Infelizmente ao invés de inovar, muitas vezes ele ficava entediado facilmente, como podemos perceber logo após. Polk Salad Annie já traz Elvis um pouco desligado e desinteressado de tudo à sua volta. Sutilmente Elvis vai levando ela meio que no controle remoto. Nas partes em que seu tédio é mais visível Elvis vai murmurando a letra. Nem no final eletrizante Elvis se empolga e termina a canção com um indisfarçável ar de preguiça ao bocejar "blablablablablabla...." Difícil segurar o riso ao perceber como Elvis estava de saco cheio nessa gravação! A seguinte, See See Rider, é tecnicamente semelhante também às primeiras versões da temporada de 1970. Fico admirado em perceber como Elvis não se cansou dessa música! Foram anos e anos cantando "See See Rider", em centenas de shows, praticamente sem interrupção! Em 1972 ele já teria interpretado exaustivamente essa canção dezenas e dezenas de vezes e mesmo assim continuou com ela nos anos seguintes, muitas vezes sem demonstrar sinais de aborrecimento. Talvez ela tenha sido ideal para abrir os shows por ser empolgante, contagiante e o mais importante para Elvis, ter uma letra de fácil assimilação, até porque ninguém quer começar um concerto errando a letra da música de abertura, logo de cara! Enfim, essa versão de "See See Rider" é perfeita e impecável. Vale muito ouvi-la em estúdio.
Então chegamos em Johnny B. Goode. Sinceramente, muitos críticos crucificam Elvis Presley e afirmam que ele teria tomado um rumo fácil em seus anos finais, vivendo basicamente da nostalgia de seus fãs! E o que dizer de um artista como Chuck Berry? (autor dessa canção). Posso afirmar, sem medo de ser injusto, que Berry, apesar de ser um talento inigualável, vive praticamente de suas canções dos anos 50 até hoje! Se isso não for estagnação não sei mais o que poderia ser! Vamos ser corretos em um ponto: pode até ser que Elvis realmente tenha ficado parado no tempo em seus shows, sem grandes inovações, vivendo realmente basicamente de suas velhas canções. Mas esse estado de coisas nem sempre pode ser transferida para sua carreira nos estúdios. Em seus discos Elvis procurou trazer muito material inédito, tanto que muitas vezes era criticado por confundir qualidade com quantidade! Os discos de Elvis em estúdio dos anos 70 registram um cantor antenado com novos compositores e novas tendências musicais (claro que restritas em sua área de atuação e estilo). Elvis e seu produtor Felton Jarvis procuraram andar em uma tênue linha que não separasse os novos sons e o legado do passado glorioso do próprio Elvis. Seguir em frente sem esquecer o caminho já percorrido.
E se todas essas músicas anteriores representam uma certa falta de renovação por parte de Elvis, as que vêm a seguir demonstram exatamente o contrário, pois são as novidades, as faixas inéditas que Elvis tinha para apresentar em sua carreira naquele momento. Burning Love era a primeira preciosidade. Muitos afirmam que Elvis tinha um certo pé atrás em relação à música. Em um primeiro momento realmente Elvis não a quis gravar. Achou a canção um pouco fora do contexto do material que ele vinha gravando na época. Mas ele acabou sendo incentivado não só por seu produtor como também pelos outros músicos presentes. No final a música acabou se tornando seu grande hit nos 70's. Essa versão que ouvimos no "Elvis On Tour - Rehearsals" é mais contida, com menos energia por parte não só de Elvis como da banda também. Naquela ocasião a canção era recentíssima dentro do repertório de Elvis e ele obviamente estava ainda se acertando durante os ensaios. A única singularidade dessa versão surge no finalzinho da faixa: Elvis tira uma pequena brincadeira com a vocalização feminina.
Always On My Mind vem logo a seguir. Essa música foi o melhor e maior exemplo de sucesso póstumo da carreira de Elvis. Burning Love foi o single mais vendido de Elvis durante os anos 70 e Always on My Mind? Não chegou nem ao Top 100 da Billboard. Como explicar tamanho sucesso nos dias de hoje? O caminho de Always on My Mind foi muito curioso. Inicialmente ela foi gravada para fazer parte do disco Standind Room Only, trilha sonora do segundo documentário feito por Elvis nos anos 70. Depois de gravar cenas de Elvis gravando essa e Separate Ways para o filme, a trilha foi cancelada por Felton Jarvis. O nome do filme foi mudado para Elvis On Tour e Always on My Mind foi renegada a um lado B de um single do Rei nos anos 70. O Lado A, Separate Ways, conseguiu entrar no Top 20 da Billboard mas "Always" foi totalmente ignorada pelo público. O Coronel ainda a utilizou para lançar um disco de preço promocional de mesmo nome do single e depois disso Always on My Mind foi completamente esquecida. Detalhe mais do que curioso: Nunca foi lançada no Brasil durante a carreira de Elvis. O tempo passa, Elvis morre e a música continua completamente obscura e perdida dentro da vasta discografia de Elvis. Só os fãs mais conceituados a conhecem, não por sua falta de qualidade, nada disso, muito pelo contrário, mas por ter sido tão mal lançada na época. Hoje muitas pessoas que assistem Elvis On Tour em sua versão original estranham muito o fato de aparecer Elvis cantando Separate Ways e não Always on My Mind. Isso demonstra que ela nunca foi uma música de ponta durante a carreira de Elvis. Aliás sequer foi utilizada por ele durante os shows dos anos 70!
Pois bem, passam-se muitos anos até que o grupo Pet Shop Boys lança uma versão de Always on My Mind que estoura em todas as rádios do mundo todo. A música fica conhecidíssima e sua melodia se torna muito, mas muito popular. Em uma entrevista na BBC de Londres um dos vocalistas do Pet afirma que a música é na realidade uma versão de uma antiga canção de Elvis Presley. Mas ninguém a conhecia, pois muitas pessoas, no máximo, se lembravam da versão de Brenda Lee. Os radialistas ingleses começam a procurar a tal versão de Elvis e começam tocar a Always on My Mind do Rei do Rock nas rádios, muitas vezes em dobradinha com a versão do Pet Shop Boys. A RCA corre e relança a canção dessa vez com toda a campanha de marketing a que ela tem direito. Nasce o maior de todos os hits póstumos de Elvis Presley. Para terminar a consagração Priscilla Presley escolhe a canção como tema da minissérie "Elvis e Eu". A metamorfose estava completa. "Always on My Mind" se tornava assim a canção super popular que todos conhecem nos dias de hoje. Como diria Paul McCartney essa música teve que percorrer um longo e suntuoso caminho (The Long and Winding Road, título de uma das mais belas canções dos Beatles) para se tornar o que ela hoje é. Essa versão que está nesse CD é de excelente nível.
Separate Ways que vem para fechar o disco demonstra a grande qualidade do material gravado por Elvis na época. Com um arranjo fabuloso e uma grande performance do cantor, ela é certamente uma das mais biográficas canções já interpretadas por Elvis. A letra caiu como uma luva e retrata fielmente os problemas pessoais dele em seu casamento. Como todos sabemos, o divórcio de sua esposa Priscilla colocou Elvis em um caminho sem volta de autodestruição. O intérprete estava se separando de Priscilla, dando início a um período extremamente conturbado de sua vida. O grande momento desse CD, porém, não vem dessas novas canções de Elvis, como "Always On My Mind" ou "Separate Ways", mas sim de um antigo clássico, um tanto esquecido, mas de uma beleza ímpar, que ganha uma nova leitura. Quem já ouviu o CD sabe do que estou falando.
Trata-se de uma versão de Young and Beautifull, balada dos anos 50, mais especificamente do filme "Jailhouse Rock", que ganha um tratamento todo especial por parte de Elvis e banda. Antes de mais nada é bom deixar claro que se trata de um ensaio, como o próprio nome do disco deixa claro, isso é até óbvio, mas a despeito disso não podemos ficar menos do que surpresos com a qualidade final da faixa. A canção começa meio sem querer, Elvis cantarola suavemente a introdução da música e o resto da TCB começa o acompanhamento. Após um pequeno deslize, em que Elvis se confunde com a letra, ele vai muito bem na execução até seu final. Infelizmente Elvis não a incluiu efetivamente em seu repertório de shows nos anos 70. Ao invés disso ele continuava a preferir incluir pela centésima vez nos concertos músicas como Love Me, Hound Dog ou Lawdy Miss Clawdy, todas presentes no disco também. Sinceramente, tem coisa mais chata que esse arranjo de "Hound Dog"?! A música perde seu sentido original, seu arranjo marcante, e se torna uma paródia de si mesma, que inclusive foi até mesmo usada em shows a exaustão, chegando a aparecer em discos oficiais ao vivo. É mais uma versão medíocre de seus antigos clássicos, daquelas que mal ultrapassavam mais do que um minuto de duração. Elvis certamente poderia passar sem essa. "Lawdy, Miss Clawdy" tem mais dignidade, sendo muito mais fiel à gravação dos anos 50, mas mesmo assim não traz nenhuma novidade mais digna de nota! Por fim "Love Me" é totalmente de rotina. Você já ouviu esse arranjo e essa execução um milhão de vezes antes em milhões de discos diversos de Elvis ao vivo. Por essa razão pode pular essa faixa sem problemas.
As demais faixas do CD não trazem grande novidade. For The Good Times e Funny How Times Slips Away são apenas interessantes. A segunda, pela própria beleza da melodia é muito superior à primeira, que também é rotineira e sem surpresas. El Paso que está creditada entre as duas nem sequer merecia essa distinção. Aqui é um arremedo de ensaio, Elvis só canta o comecinho e o resto da faixa fica no lenga lenga dos músicos tentando acertar seus instrumentos. Desculpe mas isso não deveria ter sido creditado no CD, isso nem sequer é um faixa de verdade, é um arremedo sem importância. Soa até mesmo como pegadinha, o consumidor lê no encarte "El Paso" e pensa que é algo inédito, uma música que ele não tem em sua coleção e por isso decide comprar o CD. Imagine a cara de decepção do sujeito quando coloca o CD para tocar e ouve isso. A FTD aqui pisou na bola feio. Chamem urgentemente o Procon! Resumindo: um minuto e seis segundos de enrolação e nada mais!
Com Help Me Make it Through The Night e Release Me acontece uma coisa interessante: as versões são superiores às oficiais. Com o clássico de Kris Kristoferson isso é até fácil de entender o porquê! Existe o consenso de que a versão do disco "Elvis Now" é muito mal gravada e interpretada. Qualquer outra versão com o mínimo de fluidez e desenvolvimento iria superá-la facilmente. Basta ouvir os primeiros acordes para todos entenderem a razão dessa minha afirmação. Essa versão desse CD é muito mais interessante, mais leve, com Elvis mais à vontade. Na versão oficial Elvis soa cansado (e cansativo), a faixa tem uma sonorização esquisita e abafada demais e o grupo apenas se arrasta lentamente e tediosamente ao lado de Elvis. Uma pena que o cantor não tenha naquela ocasião gravado uma levada bem mais leve e menos chata como aquela que ouvimos. Já com "Release Me" a razão é diferente, diversa. Não que a faixa ao vivo, oficial, do disco "On Stage" não seja boa, nada disso. Ela é excelente. O que acontece é que como essa é gravada em estúdio tem muito mais qualidade sonora e de arranjo. Ouçam como ela é muito mais suave, tem muito mais ritmo, enfim como ela é agradável. Nas gravações ao vivo existe toda aquela produção inerente aos concertos para causar impacto no público. Todos aqueles arranjos de metais, muitas vezes super exagerados! Mas ouça essa versão. Nada disso está presente. Elvis, a banda TCB e os vocalistas de apoio estão totalmente entrosados, estão ótimos. Repare como até mesmo o grupo vocal de Elvis está bem mais discreto e oportuno.
Já em relação aos tapes de The First Time I Saw Your Face e Never Been To Spain acontece justamente o contrário pois elas são bem piores do que às versões oficiais. O caso de "The First Time" é bem exemplificativo disso. A versão original é irretocável e perfeita. Tentar chegar perto de sua grande qualidade seria muito complicado para Elvis e seus músicos. Extremamente bem produzida a canção era de difícil reprodução, não só em estúdio mas também e principalmente nas versões ao vivo. O próprio início da canção já começa de forma esquisita com uma introdução que inexiste na master definitiva. Depois dessa derrapagem inicial a música se normaliza mas em nenhum momento consegue se igualar à versão oficial que saiu em single. Sua velocidade original está acelerada, com isso a música perde algumas de suas características mais conhecidas como a suavidade e a melodia sutil. Do jeito que está fica mais para uma boa marcha do que para sua linda linha melódica original. Se "First" está rápida demais, "Never Been To Spain" está excessivamente lenta. Talvez isso nem seja um ponto totalmente negativo porque assim ela estará fazendo jus ao seu ritmo que é o blues. De qualquer forma fica a sensação de que ela poderia ser bem melhor. Talvez por ser apenas um ensaio Elvis fique no piloto automático. É compreensível.
Enfim, o CD FTD Elvis On Tour The Rehearsals é bastante interessante. Ele certamente não é o melhor lançamento desse selo e nem tampouco fica entre os piores. Seus pontos fortes se concentram na boa qualidade sonora, na coesão contextual e histórica das faixas, da seleção em si, e no bom trabalho de resgate que ele nos proporciona. Além disso é muito interessante para quem já não aguenta mais ouvir músicas como See See Rider ou Proud Mary ao vivo. Apesar de tudo não deixa de ser prazeroso ouvir todos esses momentos em estúdio. Seu principal ponto negativo talvez provenha da falta de grandes novidades, da ausência de versões que nos surpreendam mais. Ele passa longe de ser totalmente burocrático como outros lançamentos desse selo como por exemplo "Summer Festival" e nem tampouco é tão revelador como outros da série, mas certamente marca pontos interessantes principalmente por fazer parte de um projeto que tem muito ainda a revelar. Não é ainda o que todos esperamos, mas é, como o próprio título do CD sugere, um ensaio do que ainda está por vir. Quem viver verá!
Pablo Aluísio.
Porém isso não é tudo, fora essas duas hipóteses, existe uma terceira via que cada vez mais tem se destacado na divulgação dessas imagens e registros. Enquanto as empresas oficiais que cuidam do acervo de Elvis não lançam quase nada de forma legal, vai o mercado paralelo ficando cada vez mais organizado e sofisticado e com o auxílio da Internet temos tido acesso a várias imagens desse projeto, cenas essas que muitos nem sequer sabem como surgiram ou como apareceram na web! Quem são essas pessoas que, pela primeira vez, resolveram colocar essas imagens na net? Certamente, temendo um processo por violação de direitos autorais, muitos colecionadores procuram o anonimato e disponibilizam apenas alguns trechos desse filme. Apesar de muitos que apenas distribuem esse material assumirem uma posição de terem sido os que primeiro colocaram esses tapes pela net, sabemos muito bem que são apenas os atravessadores disso. Os verdadeiros colecionadores, aqueles que conseguiram os originais, as masters dos fotogramas no mercado negro, nunca irão aparecer de forma ostensiva. É a velha história, quando as pessoas que deveriam promover esse tipo de lançamento se omitem ou escondem esse material dos fãs em geral, acabam na verdade, com essa atitude, promovendo e abrindo espaço para que outros entrem nesse vácuo deixado e lancem eles mesmos, fragmentos desse acervo de forma ilícita.
Processo muito semelhante aconteceu com o especial "Elvis In Concert" de 1977. Desde o começo, a empresa que cuida dos direitos de Elvis, tentou varrer para debaixo do tapete esse programa de TV. A razão absurda apresentada seria a de que o especial iria macular a imagem de Elvis! Isso só vem demonstrar a imensa futilidade e falta de percepção da obra de Elvis por parte daqueles que hoje controlam o acervo do cantor. Como se pode ignorar um material desses e de tamanha importância histórica apenas porque Elvis não apresentava um bom aspecto físico? Esse tipo de atitude e de postura sempre me deixou bastante atônito! Os efeitos dessa omissão proposital da EPE são conhecidos de todos, pois o especial não deixou de chegar nas mãos dos fãs, a verdade é que ele chegou sim, porém de forma ilegal em cópias piratas. O que foi pior no final das contas? Com a tecnologia de nosso tempo não há como negar ou ignorar a existência de um projeto como esse, que repito, é muito importante, pois traz Elvis em seus últimos shows pelos EUA. Com "Elvis On Tour" temos uma situação parecida. Lançar o filme tal como foi apresentado nos cinemas em 1972 não irá trazer grandes novidades, principalmente para aqueles que sempre se empenharam em enriquecer suas coleções particulares.
Para esse tipo de público um DVD apenas com o filme seria banal demais. Por quê não resgatar todos os momentos perdidos que fizeram parte desse filme? O próprio diretor Martin Scorsese, que participou da montagem do documentário, sempre deixou claro em entrevistas que muito material foi descartado e não entrou na montagem final. Não estou falando de pequenos trechos, de filmagens rápidas de ensaios, nada disso, o que ele quis deixar claro é que existem shows inteiros filmados! Mas afinal aonde foi parar todo esse material? Talvez a péssima situação financeira da MGM nos últimos anos tenha colaborado para agravar esse quadro. Talvez a existência de grande parte desse material seja simplesmente ignorada pela própria empresa, ou ainda que muito provavelmente a MGM tenha um arquivo em más condições, podendo até mesmo grande parte desses registros ter se deteriorado pela passagem do tempo, quem sabe toda a verdade? Uma das hipóteses mais comentadas seria aquela em que afirma que os próprios funcionários dessa companhia teriam repassado a colecionadores esses trechos arquivados. Muito do que se vê e se conhece hoje desse projeto pode ter sido adquirido justamente dessa forma. Afinal espera-se de tudo de funcionários em uma empresa à beira da falência. Mesmo que grande parte dos direitos da MGM tenham sido repassados à frente para pagar suas contas, temos que entender que o que foi negociado foi a versão oficial do filme e não seus trechos não utilizados. Esses continuaram perdidos nos labirintos que formam os arquivos de uma companhia com quase 100 anos de existência! Imagine só a imensidão, o mar de películas fechadas e arquivadas em seus imensos depósitos! São exatamente essas cenas, que não entraram no corte final do filme, que possuem importância hoje para os fãs de Elvis. Outra coisa muito comentada: todo projeto de Elvis, após sua conclusão, era repassado para o Coronel Parker. O empresário então arquivava todo o material.
Teria a parte inédita, não utilizada, desse filme, também sido repassado a Parker? Ou será que simplesmente lhe foi dada pela produtora a versão oficial do filme e nada mais? Parker sabia certamente do valor desse tipo de coisa, principalmente após a morte de Elvis. Teria ele guardado algo a sete chaves do "Elvis On Tour"? O Coronel sempre estava fazendo insinuações sobre coisas inéditas que tinha sobre a carreira de Elvis. Infelizmente ele nunca resolveu provar suas afirmações. Quando morreu ficou a dúvida: O Coronel realmente tinha seu próprio tesouro de coisas inéditas ou só estava querendo fazer média com a EPE? Com sua morte tudo ficou em aberto e sem resposta. Vamos supor que tudo seja verdade, que o Coronel realmente possuía o que sempre afirmou ter em suas mãos, caso isso seja verdadeiro o que teria acontecido com esse "tesouro perdido" que foi arquivado pelo Coronel por anos e anos? Há uma corrente de autores que afirma que Parker guardou tudo para depois ter uma "carta na manga" e a utilizar como uma eventual garantia futura contra o espólio de Elvis, principalmente depois que ele perdeu grande parte dos direitos autorais sobre a obra do cantor, após aquele processo movido contra ele por Priscilla e a EPE! Jogador inveterado como era, Parker realmente nunca iria ficar sem um coringa escondido na manga para utilizar contra Priscilla ou quem quer que seja. Afinal estamos falando de Tom Parker, uma das pessoas mais astutas que já viveram no show business. E o que aconteceu com todo esse suposto material inédito guardado pelo Coronel após sua morte? Teria alguma pessoa envolvida com o espólio do Coronel passado trechos inéditos à frente?
Essas cenas inéditas de "Elvis On Tour" estariam vindo também dos arquivos de Tom Parker? Tudo entra no campo das especulações. Toda essa exposição serve para demonstrar ao fã como é complexo e vasto falar sobre o material inédito do projeto "Elvis on Tour". Isso dá margem a muita especulação, muitas teorias de conspiração! Para falar a verdade o "Elvis On Tour" acabou se tornando mesmo o "Santo Graal" da carreira de Elvis. Isso só vai acabar quando a EPE resolver colocar no mercado um DVD com tudo o que se especula existir e com tudo o que já é bem conhecido por todos! Até lá as visões, cada vez mais especulativas e contraditórias, irão prosperar. Não seria aqui o momento também para dissertar sobre o que já é ou não conhecido pelos fãs, o que já vazou ou não. Esse assunto é por demais extenso e fugiria ao tema proposto nessa análise. Sem dúvida posso até mesmo tratar com maiores detalhes sobre isso em artigos futuros, mas não nesse momento.
Temos agora que nos concentrar e nos focar especificamente no CD Elvis On Tour The Rehearsals, sem dúvida um ótimo lançamento do selo FTD (Follow That Dream). Comecemos pela Direção de Arte do CD. A capa traz um close do rosto de Elvis durante as sessões de gravação que deram origem ao disco. Sem dúvida é uma escolha interessante pois não deixa de ser tecnicamente simples, mas que de qualquer forma demonstra a inequívoca escolha por algo mais simplório e direto, sem superproduções. Qualquer fã irá associar rapidamente o conteúdo do disco com essa foto, pois certamente todos irão lembrar em poucos segundos das cenas de "Elvis On Tour", quando Elvis aparece cantando "Separate Ways". Não tem a virtuosidade de uma capa feita por Klaus Voorman e nem muito menos o classicismo de um Pietro Alfieri, responsável por tantas capas interessantes, inclusive da própria carreira de Elvis. É uma capa direta, sem maiores retoques ou firulas. Obviamente foi produzida para deixar claro para o consumidor do que se trata. Aliás esse direcionismo é encontrado também no título do disco, "Elvis On Tour - Os ensaios". Direto, simples, rápido e o mais importante, eficiente. Aliás vou aproveitar para abrir um parêntese aqui. Certamente um dos grandes pecados dentro da discografia de Elvis, principalmente durante os anos 70, reside justamente na fraca direção de arte de seus álbuns. São capas derivativas, sem grande cuidado técnico. Aliás, a bem da verdade, é até mesmo muito fácil de explicar porque as capas de Elvis durante os anos 70 são tão fracas do ponto artístico. O Coronel Parker impôs um regime de austeridade incrível. Nas capas de Elvis dos anos 60, principalmente de trilhas sonoras, logo notamos muitas fotos, ótimas contracapas, muita cor e alegria. Nos anos 70 as capas são simplíssimas, impessoais, burocráticas e tristes e as contracapas são, muitas vezes, pateticamente pobres do ponto de vista artístico. Veja o caso de dois discos de 1975, "Promised Land" e "Elvis Today".
Nada de maiores detalhes, apenas a lista seca das músicas sem nem ao menos a confecção de um design interessante. Muitas vezes a capa produzida para um projeto era aproveitado para outro e o pior, nada tinha a ver com o disco original para a qual elas foram confeccionadas. O caso mais conhecido é a do disco gravado no Madison Square Garden, cuja capa foi reaproveitada da nunca lançada trilha sonora do filme "Elvis On Tour". Veja a que ponto chegava o pão durismo de Tom Parker! Outro exemplo é a capa do disco "Elvis" de 1973, que nada mais era do que a capa não utilizada para o "Aloha From Hawaii". Esse último disco aliás possui uma capa original medonha, com um Elvis balofo e um satélite pessimamente montado sobre uma foto do planeta terra! Para piorar a ideia apelativa e fora de contexto ainda ousaram utilizar uma das mais infelizes fotos de Elvis já tiradas! A capa original do álbum duplo "Aloha" era tão feia que quando o disco foi relançado em CD resolveram fazer uma melhor, mais bonita. Um terrível atentado estético, certamente. Além de capas feias e pobres o Coronel Parker às vezes decidia que nem era preciso desenhar uma contracapa! Então ele simplesmente mandava aproveitar a capa para repeti-la na contracapa, como em "Raised On Rock". Enfim, a velha questão de se cortar os custos onde não se deveria. Enquanto outros grupos e cantores da época contratavam artistas plásticos renomados para elaborarem e criarem verdadeiras obras de arte para seus discos, Parker economizava seus níqueis. Passada essa análise inicial vamos agora nos ater às faixas do CD. Uma primeira constatação:
A Qualidade de Som é das melhores. Não poderia ser diferente, até mesmo em razão das circunstâncias em que o CD foi gravado. Os registros foram feitos por Elvis e banda no estúdio C da RCA e por essa razão aqui o ouvinte não vai encontrar muitos dos problemas de qualidade de áudio que ocorrem em outros títulos do selo Follow That Dream. São gravações profissionais, cercadas de todos os cuidados técnicos que se encontram nos grandes estúdios. Na verdade as existências dessas 19 canções se devem única e exclusivamente ao filme documentário "Elvis On Tour". Se não fosse pela necessidade que os diretores do filme sentiram em mostrar Elvis dentro dos estúdios ou ter material extra para uma eventual trilha sonora dificilmente Elvis teria participado dessa "sessão". Até mesmo porque todos sabem que Elvis odiava ensaiar! O repertório é o mesmo que ele utilizava nos palcos, sem grandes novidades. Um dos grandes interesses desse título talvez seja justamente esse, ouvir músicas exaustivamente tocadas por Elvis nas turnês sendo executadas dentro dos estúdios. Praticamente todas elas entraram no repertório de shows de Elvis nas primeiras apresentações em Las Vegas e nunca mais deixaram a set list dos concertos do cantor.
É o caso de Proud Mary, See See Rider, Polk Salad Annie, A Big Hunk O'Love ou até mesmo Johnny B. Goode. Muitos especialistas inclusive afirmam, com certa dose de razão, que praticamente todas as apresentações de Elvis durante os anos 70 derivariam insistentemente desses primeiros shows em Vegas. Realmente, se formos analisar bem, as temporadas de 69, 70, 71, e no mais tardar 72, iriam imperar de forma definitiva no que Elvis iria apresentar até o final de sua vida, com ocasionais e pontuais exceções. Por essa razão muitos autores afirmam que Elvis estacionou em seus últimos anos. Os shows eram praticamente iguais, as músicas muito raramente variavam e sem mudanças significativas Elvis ficou nos anos seguintes repetindo o mesmo repertório de seus primeiros shows no International Hotel (depois mudado para Hilton). E dentro dessa repetição insistente, poucas canções são mais representativas desse estado de coisas do que as acima citadas. Depois que surgiram, nunca mais foram descartadas por Elvis. Algumas ficaram fora dos concertos em determinadas épocas mas não tardavam a voltar depois. Várias são as razões que levavam Elvis a repetir ano após ano a mesma seleção musical. Além da facilidade que isso trazia para ele, sempre preocupado em não esquecer as letras das novas músicas, o próprio público também pouco colaborava para incentivar Elvis e banda a tomar novos rumos, produzir coisas diferentes. Preso dentro dessa situação Elvis pouco inovou em seus anos finais. Como o CD foi gravado em 1972 podemos perceber ainda algumas novidades de repertório, mesmo notando que Elvis começava, mesmo nesse ano, a se repetir, como podemos perceber na lista das canções presentes aqui.
A primeira faixa do CD, Proud Mary, por exemplo, pouco difere das versões ao vivo de que tanto conhecemos. Elvis está bem empenhado e o grupo a toca corretamente, mas é só. Praticamente igual à versão do disco "On Stage, February 1970", sem nenhuma novidade. Uma pena que Elvis não tenha aproveitado para trazer algo novo, diferente. Certamente se tivesse agido assim o interesse por essa faixa seria maior. Infelizmente ao invés de inovar, muitas vezes ele ficava entediado facilmente, como podemos perceber logo após. Polk Salad Annie já traz Elvis um pouco desligado e desinteressado de tudo à sua volta. Sutilmente Elvis vai levando ela meio que no controle remoto. Nas partes em que seu tédio é mais visível Elvis vai murmurando a letra. Nem no final eletrizante Elvis se empolga e termina a canção com um indisfarçável ar de preguiça ao bocejar "blablablablablabla...." Difícil segurar o riso ao perceber como Elvis estava de saco cheio nessa gravação! A seguinte, See See Rider, é tecnicamente semelhante também às primeiras versões da temporada de 1970. Fico admirado em perceber como Elvis não se cansou dessa música! Foram anos e anos cantando "See See Rider", em centenas de shows, praticamente sem interrupção! Em 1972 ele já teria interpretado exaustivamente essa canção dezenas e dezenas de vezes e mesmo assim continuou com ela nos anos seguintes, muitas vezes sem demonstrar sinais de aborrecimento. Talvez ela tenha sido ideal para abrir os shows por ser empolgante, contagiante e o mais importante para Elvis, ter uma letra de fácil assimilação, até porque ninguém quer começar um concerto errando a letra da música de abertura, logo de cara! Enfim, essa versão de "See See Rider" é perfeita e impecável. Vale muito ouvi-la em estúdio.
Então chegamos em Johnny B. Goode. Sinceramente, muitos críticos crucificam Elvis Presley e afirmam que ele teria tomado um rumo fácil em seus anos finais, vivendo basicamente da nostalgia de seus fãs! E o que dizer de um artista como Chuck Berry? (autor dessa canção). Posso afirmar, sem medo de ser injusto, que Berry, apesar de ser um talento inigualável, vive praticamente de suas canções dos anos 50 até hoje! Se isso não for estagnação não sei mais o que poderia ser! Vamos ser corretos em um ponto: pode até ser que Elvis realmente tenha ficado parado no tempo em seus shows, sem grandes inovações, vivendo realmente basicamente de suas velhas canções. Mas esse estado de coisas nem sempre pode ser transferida para sua carreira nos estúdios. Em seus discos Elvis procurou trazer muito material inédito, tanto que muitas vezes era criticado por confundir qualidade com quantidade! Os discos de Elvis em estúdio dos anos 70 registram um cantor antenado com novos compositores e novas tendências musicais (claro que restritas em sua área de atuação e estilo). Elvis e seu produtor Felton Jarvis procuraram andar em uma tênue linha que não separasse os novos sons e o legado do passado glorioso do próprio Elvis. Seguir em frente sem esquecer o caminho já percorrido.
E se todas essas músicas anteriores representam uma certa falta de renovação por parte de Elvis, as que vêm a seguir demonstram exatamente o contrário, pois são as novidades, as faixas inéditas que Elvis tinha para apresentar em sua carreira naquele momento. Burning Love era a primeira preciosidade. Muitos afirmam que Elvis tinha um certo pé atrás em relação à música. Em um primeiro momento realmente Elvis não a quis gravar. Achou a canção um pouco fora do contexto do material que ele vinha gravando na época. Mas ele acabou sendo incentivado não só por seu produtor como também pelos outros músicos presentes. No final a música acabou se tornando seu grande hit nos 70's. Essa versão que ouvimos no "Elvis On Tour - Rehearsals" é mais contida, com menos energia por parte não só de Elvis como da banda também. Naquela ocasião a canção era recentíssima dentro do repertório de Elvis e ele obviamente estava ainda se acertando durante os ensaios. A única singularidade dessa versão surge no finalzinho da faixa: Elvis tira uma pequena brincadeira com a vocalização feminina.
Always On My Mind vem logo a seguir. Essa música foi o melhor e maior exemplo de sucesso póstumo da carreira de Elvis. Burning Love foi o single mais vendido de Elvis durante os anos 70 e Always on My Mind? Não chegou nem ao Top 100 da Billboard. Como explicar tamanho sucesso nos dias de hoje? O caminho de Always on My Mind foi muito curioso. Inicialmente ela foi gravada para fazer parte do disco Standind Room Only, trilha sonora do segundo documentário feito por Elvis nos anos 70. Depois de gravar cenas de Elvis gravando essa e Separate Ways para o filme, a trilha foi cancelada por Felton Jarvis. O nome do filme foi mudado para Elvis On Tour e Always on My Mind foi renegada a um lado B de um single do Rei nos anos 70. O Lado A, Separate Ways, conseguiu entrar no Top 20 da Billboard mas "Always" foi totalmente ignorada pelo público. O Coronel ainda a utilizou para lançar um disco de preço promocional de mesmo nome do single e depois disso Always on My Mind foi completamente esquecida. Detalhe mais do que curioso: Nunca foi lançada no Brasil durante a carreira de Elvis. O tempo passa, Elvis morre e a música continua completamente obscura e perdida dentro da vasta discografia de Elvis. Só os fãs mais conceituados a conhecem, não por sua falta de qualidade, nada disso, muito pelo contrário, mas por ter sido tão mal lançada na época. Hoje muitas pessoas que assistem Elvis On Tour em sua versão original estranham muito o fato de aparecer Elvis cantando Separate Ways e não Always on My Mind. Isso demonstra que ela nunca foi uma música de ponta durante a carreira de Elvis. Aliás sequer foi utilizada por ele durante os shows dos anos 70!
Pois bem, passam-se muitos anos até que o grupo Pet Shop Boys lança uma versão de Always on My Mind que estoura em todas as rádios do mundo todo. A música fica conhecidíssima e sua melodia se torna muito, mas muito popular. Em uma entrevista na BBC de Londres um dos vocalistas do Pet afirma que a música é na realidade uma versão de uma antiga canção de Elvis Presley. Mas ninguém a conhecia, pois muitas pessoas, no máximo, se lembravam da versão de Brenda Lee. Os radialistas ingleses começam a procurar a tal versão de Elvis e começam tocar a Always on My Mind do Rei do Rock nas rádios, muitas vezes em dobradinha com a versão do Pet Shop Boys. A RCA corre e relança a canção dessa vez com toda a campanha de marketing a que ela tem direito. Nasce o maior de todos os hits póstumos de Elvis Presley. Para terminar a consagração Priscilla Presley escolhe a canção como tema da minissérie "Elvis e Eu". A metamorfose estava completa. "Always on My Mind" se tornava assim a canção super popular que todos conhecem nos dias de hoje. Como diria Paul McCartney essa música teve que percorrer um longo e suntuoso caminho (The Long and Winding Road, título de uma das mais belas canções dos Beatles) para se tornar o que ela hoje é. Essa versão que está nesse CD é de excelente nível.
Separate Ways que vem para fechar o disco demonstra a grande qualidade do material gravado por Elvis na época. Com um arranjo fabuloso e uma grande performance do cantor, ela é certamente uma das mais biográficas canções já interpretadas por Elvis. A letra caiu como uma luva e retrata fielmente os problemas pessoais dele em seu casamento. Como todos sabemos, o divórcio de sua esposa Priscilla colocou Elvis em um caminho sem volta de autodestruição. O intérprete estava se separando de Priscilla, dando início a um período extremamente conturbado de sua vida. O grande momento desse CD, porém, não vem dessas novas canções de Elvis, como "Always On My Mind" ou "Separate Ways", mas sim de um antigo clássico, um tanto esquecido, mas de uma beleza ímpar, que ganha uma nova leitura. Quem já ouviu o CD sabe do que estou falando.
Trata-se de uma versão de Young and Beautifull, balada dos anos 50, mais especificamente do filme "Jailhouse Rock", que ganha um tratamento todo especial por parte de Elvis e banda. Antes de mais nada é bom deixar claro que se trata de um ensaio, como o próprio nome do disco deixa claro, isso é até óbvio, mas a despeito disso não podemos ficar menos do que surpresos com a qualidade final da faixa. A canção começa meio sem querer, Elvis cantarola suavemente a introdução da música e o resto da TCB começa o acompanhamento. Após um pequeno deslize, em que Elvis se confunde com a letra, ele vai muito bem na execução até seu final. Infelizmente Elvis não a incluiu efetivamente em seu repertório de shows nos anos 70. Ao invés disso ele continuava a preferir incluir pela centésima vez nos concertos músicas como Love Me, Hound Dog ou Lawdy Miss Clawdy, todas presentes no disco também. Sinceramente, tem coisa mais chata que esse arranjo de "Hound Dog"?! A música perde seu sentido original, seu arranjo marcante, e se torna uma paródia de si mesma, que inclusive foi até mesmo usada em shows a exaustão, chegando a aparecer em discos oficiais ao vivo. É mais uma versão medíocre de seus antigos clássicos, daquelas que mal ultrapassavam mais do que um minuto de duração. Elvis certamente poderia passar sem essa. "Lawdy, Miss Clawdy" tem mais dignidade, sendo muito mais fiel à gravação dos anos 50, mas mesmo assim não traz nenhuma novidade mais digna de nota! Por fim "Love Me" é totalmente de rotina. Você já ouviu esse arranjo e essa execução um milhão de vezes antes em milhões de discos diversos de Elvis ao vivo. Por essa razão pode pular essa faixa sem problemas.
As demais faixas do CD não trazem grande novidade. For The Good Times e Funny How Times Slips Away são apenas interessantes. A segunda, pela própria beleza da melodia é muito superior à primeira, que também é rotineira e sem surpresas. El Paso que está creditada entre as duas nem sequer merecia essa distinção. Aqui é um arremedo de ensaio, Elvis só canta o comecinho e o resto da faixa fica no lenga lenga dos músicos tentando acertar seus instrumentos. Desculpe mas isso não deveria ter sido creditado no CD, isso nem sequer é um faixa de verdade, é um arremedo sem importância. Soa até mesmo como pegadinha, o consumidor lê no encarte "El Paso" e pensa que é algo inédito, uma música que ele não tem em sua coleção e por isso decide comprar o CD. Imagine a cara de decepção do sujeito quando coloca o CD para tocar e ouve isso. A FTD aqui pisou na bola feio. Chamem urgentemente o Procon! Resumindo: um minuto e seis segundos de enrolação e nada mais!
Com Help Me Make it Through The Night e Release Me acontece uma coisa interessante: as versões são superiores às oficiais. Com o clássico de Kris Kristoferson isso é até fácil de entender o porquê! Existe o consenso de que a versão do disco "Elvis Now" é muito mal gravada e interpretada. Qualquer outra versão com o mínimo de fluidez e desenvolvimento iria superá-la facilmente. Basta ouvir os primeiros acordes para todos entenderem a razão dessa minha afirmação. Essa versão desse CD é muito mais interessante, mais leve, com Elvis mais à vontade. Na versão oficial Elvis soa cansado (e cansativo), a faixa tem uma sonorização esquisita e abafada demais e o grupo apenas se arrasta lentamente e tediosamente ao lado de Elvis. Uma pena que o cantor não tenha naquela ocasião gravado uma levada bem mais leve e menos chata como aquela que ouvimos. Já com "Release Me" a razão é diferente, diversa. Não que a faixa ao vivo, oficial, do disco "On Stage" não seja boa, nada disso. Ela é excelente. O que acontece é que como essa é gravada em estúdio tem muito mais qualidade sonora e de arranjo. Ouçam como ela é muito mais suave, tem muito mais ritmo, enfim como ela é agradável. Nas gravações ao vivo existe toda aquela produção inerente aos concertos para causar impacto no público. Todos aqueles arranjos de metais, muitas vezes super exagerados! Mas ouça essa versão. Nada disso está presente. Elvis, a banda TCB e os vocalistas de apoio estão totalmente entrosados, estão ótimos. Repare como até mesmo o grupo vocal de Elvis está bem mais discreto e oportuno.
Já em relação aos tapes de The First Time I Saw Your Face e Never Been To Spain acontece justamente o contrário pois elas são bem piores do que às versões oficiais. O caso de "The First Time" é bem exemplificativo disso. A versão original é irretocável e perfeita. Tentar chegar perto de sua grande qualidade seria muito complicado para Elvis e seus músicos. Extremamente bem produzida a canção era de difícil reprodução, não só em estúdio mas também e principalmente nas versões ao vivo. O próprio início da canção já começa de forma esquisita com uma introdução que inexiste na master definitiva. Depois dessa derrapagem inicial a música se normaliza mas em nenhum momento consegue se igualar à versão oficial que saiu em single. Sua velocidade original está acelerada, com isso a música perde algumas de suas características mais conhecidas como a suavidade e a melodia sutil. Do jeito que está fica mais para uma boa marcha do que para sua linda linha melódica original. Se "First" está rápida demais, "Never Been To Spain" está excessivamente lenta. Talvez isso nem seja um ponto totalmente negativo porque assim ela estará fazendo jus ao seu ritmo que é o blues. De qualquer forma fica a sensação de que ela poderia ser bem melhor. Talvez por ser apenas um ensaio Elvis fique no piloto automático. É compreensível.
Enfim, o CD FTD Elvis On Tour The Rehearsals é bastante interessante. Ele certamente não é o melhor lançamento desse selo e nem tampouco fica entre os piores. Seus pontos fortes se concentram na boa qualidade sonora, na coesão contextual e histórica das faixas, da seleção em si, e no bom trabalho de resgate que ele nos proporciona. Além disso é muito interessante para quem já não aguenta mais ouvir músicas como See See Rider ou Proud Mary ao vivo. Apesar de tudo não deixa de ser prazeroso ouvir todos esses momentos em estúdio. Seu principal ponto negativo talvez provenha da falta de grandes novidades, da ausência de versões que nos surpreendam mais. Ele passa longe de ser totalmente burocrático como outros lançamentos desse selo como por exemplo "Summer Festival" e nem tampouco é tão revelador como outros da série, mas certamente marca pontos interessantes principalmente por fazer parte de um projeto que tem muito ainda a revelar. Não é ainda o que todos esperamos, mas é, como o próprio título do CD sugere, um ensaio do que ainda está por vir. Quem viver verá!
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - Elvis On Tour (1972)
No verão de 1972 Elvis foi informado pelo coronel Parker que a MGM estava interessada em filmar um documentário que mostrasse suas concorridas turnês pelas cidades dos Estados Unidos. A direção seria entregue a um dos maiores documentaristas em atividade e o aclamado diretor de cinema Martin Scorsese iria coordenar parte dos trabalhos de edição e montagem. Em Las Vegas, nesse mesmo mês, Elvis se encontrou pessoalmente com os produtores Pierre Adidge e Bob Abel. A conversa foi muito franca, tanto do lado de Elvis como dos produtores que lhe disseram abertamente: "Depois do sucesso do filme Woodstock entendemos Ter chegado o momento de filmar um documentário mostrando a origem de tudo isso, desse movimento social: você! Não gostamos de That's The Way It Is e seus filmes dos anos 60 foram tão ruins que ficamos até surpresos em como a MGM conseguiu comercializá-los. Apreciamos seu trabalho atual, mas preferimos as músicas que você cantava nos anos 50" Elvis, por sua vez, disse que não se sentiu muito à vontade nos estúdios da MGM durante as gravações de "That's The Way It Is" por causa das enormes câmeras de cinema que foram instaladas durante as filmagens, atrapalhando o movimento e a espontaneidade dele e do seu grupo de apoio.
A conversa se prolongou e foi muito produtiva, os realizadores prometeram a Elvis que ele seria filmado por câmeras especiais, do tipo portátil e que seu raio de ação não seria limitado por falta de espaço como no caso de "That's The Way It Is". Pierre Adidge disse a Elvis, com seu forte sotaque francês, que esse filme seria produzido com a utilização do que havia de mais moderno em termos de edição de filmagem. Tudo seria de primeira linha. Elvis deveria se mostrar de forma autêntica, agir de maneira habitual e espontânea, e não se importar com a equipe de filmagem que iria acompanhá-lo para todos os lugares. A intenção era filmar Elvis não só no palco, mas também nos camarins, no contato com os fãs, interagindo com os músicos, sem roteiros ou scripts pré determinados, tudo o que se queria captar era a verdadeira essência do mito Elvis Presley. Para tanto a equipe da MGM já começaria a gravar algumas cenas como teste nos seus próximos shows e iria acompanhá-lo nos estúdios da RCA em sua próxima sessão de gravação onde ele iria registrar novas músicas - entre elas uma tal de "Always On My Mind" e outra de um novo compositor, uma canção que Elvis tinha ouvido e que não tinha muita certeza se deveria gravá-la: "Burning Love"!
A parte da direção musical ficaria inteiramente sob controle de Elvis e de seu produtor Felton Jarvis, sem intervenção do pessoal da MGM. Três dias depois Elvis se reuniu com a TCB Band e os avisou que sua próxima turnê seria filmada para o cinema. Elvis resolveu providenciar uma mudança no repertório com a introdução de novas canções nos shows. Trabalho duro pela frente!. Enquanto a RCA lançava o single "American Trilogy" - com "The First Time Ever I Saw Your Face" no lado B - Elvis começava sua turnê no leste do país, com a MGM gravando tudo o que acontecia nessa primeira rodada de shows. Elvis foi filmado dentro do avião, antes dos shows, conversando com fãs, enfim, todo o delírio que acontecia ao redor de uma turnê do rei do rock foi registrado pelo pessoal do estúdio. Mais de 250 pessoas da equipe de filmagem acompanharam Elvis e banda nesses quinze shows realizados em várias cidades, como Buffalo, Indianapolis, Detroit, Dayton, Hampton Roads, Knoxville, Charlotte, Macon e Jacksonville. Segundo alguns membros da equipe que participaram do time da MGM mais de 40 horas de material foram filmados para "Standing Room Only" – o nome original do filme, depois mudado para "Elvis On Tour" (Elvis Triunfal no Brasil) – mas que nunca foram mostrados ao público. Shows inteiros foram filmados e não aproveitados, ficando no chão da sala de edição de Martin Scorsese.
Esse precioso material pode um dia ser lançado, mas atualmente jaz nos arquivos dos estúdios MGM em Hollywood. Sem dúvida muita coisa foi gravada, mas a principal apresentação de Elvis nessa turnê ficou de fora!!! Talvez o pior erro cometido pelos produtores de "Elvis On Tour" foi não Ter filmado os shows de Elvis no Madison Square Garden em Nova Iorque. Até hoje a MGM não consegue dar uma resposta satisfatória por ter deixado passar essa apresentação – uma das mais importantes da carreira de Elvis – em branco. Como é que cometeram uma bobeada dessas? Durante a coletiva à imprensa em NY os jornalistas perguntaram a Elvis e ao Coronel porque não iriam ser filmados seus shows no MSQ? Os dois saíram pela tangente e não souberam responder a pergunta!!! – até mesmo porque essa era uma decisão da Metro e não de Elvis e nem do Coronel Tom Parker. Ninguém sabe ao certo porque essa infeliz decisão de não filmar em Nova Iorque foi tomada.
A última coisa a ser gravada para esse documentário foi uma entrevista particular que Elvis deu nos estúdios da MGM para os realizadores da película. A intenção era usar esses trechos falados entre as imagens com cenas dos shows, mas essa ideia foi abandonada depois. Essa entrevista que continua em grande parte inédita até hoje é um raro registro onde Elvis falou sobre tudo: a origem de sua música, seus ídolos de infância, sobre sua vida pessoal etc. Desse rico material só foi aproveitado um pequeno trecho em áudio, de alguns segundos, que foi utilizado durante as cenas de Elvis na TV americana nos anos 50.
A revista Rolling Stone não poupou elogios e afirmou que "Finalmente havia sido lançado o primeiro filme de Elvis Presley". O coronel Parker já estava por essa época em negociações com a TV para a realização de um grande especial com Elvis, que iria ser transmitido via satélite para o mundo. Por isso pressionou os produtores para lançarem "Elvis On Tour" logo, pois caso contrário o filme iria acabar se transformando em concorrência para o especial de TV. O pior aconteceu com a trilha sonora do filme. Parker simplesmente resolveu cancelar seu lançamento, pois ele estava mesmo apostando em dois outros projetos de discos gravados ao vivo – um no Madison Square Garden e outro do especial via satélite – e por essa razão se tornava inviável o lançamento de mais um disco ao vivo. Três discos iguais, com apresentações ao vivo de Elvis, seriam demais para o mercado! Mas uma coisa é certa: todo esse trabalho acabou valendo muito a pena. Quando foram anunciados os nomes dos filmes que iriam concorrer ao Globo de Ouro - o segundo mais prestigiado prêmio da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, atrás apenas do Oscar - "Elvis On Tour" estava presente na lista, disputando na categoria de "melhor documentário do ano".
Elvis, bastante nervoso, acompanhou a noite de premiação de sua suíte no Las Vegas Hilton. Quando o mestre de cerimônias finalmente leu o nome do ganhador de melhor documentário do ano de 1972 – "Elvis On Tour" de Pierre Adidge e Bob Abel – Elvis deu um pulo da poltrona e simplesmente explodiu de felicidade! Não havia espaço dentro da suíte para tamanha comemoração por parte de Elvis e dos caras da Máfia de Memphis! O Rei também não deixou barato e nessa mesma noite deu uma das maiores festas que Las Vegas já presenciou! Todos correram para cumprimentá-lo e lhes dar os parabéns. Elvis não se conteve de tanta alegria e entre abraços, lágrimas e risos anunciou com muito orgulho que finalmente havia vencido o Globo de Ouro. Era a primeira vez que um filme de Elvis Presley ganhava um prêmio dessa importância. Foi uma das maiores glórias de sua já tão gloriosa carreira. Elvis estava mais do que nunca... Triunfal!
Pablo Aluísio.
A conversa se prolongou e foi muito produtiva, os realizadores prometeram a Elvis que ele seria filmado por câmeras especiais, do tipo portátil e que seu raio de ação não seria limitado por falta de espaço como no caso de "That's The Way It Is". Pierre Adidge disse a Elvis, com seu forte sotaque francês, que esse filme seria produzido com a utilização do que havia de mais moderno em termos de edição de filmagem. Tudo seria de primeira linha. Elvis deveria se mostrar de forma autêntica, agir de maneira habitual e espontânea, e não se importar com a equipe de filmagem que iria acompanhá-lo para todos os lugares. A intenção era filmar Elvis não só no palco, mas também nos camarins, no contato com os fãs, interagindo com os músicos, sem roteiros ou scripts pré determinados, tudo o que se queria captar era a verdadeira essência do mito Elvis Presley. Para tanto a equipe da MGM já começaria a gravar algumas cenas como teste nos seus próximos shows e iria acompanhá-lo nos estúdios da RCA em sua próxima sessão de gravação onde ele iria registrar novas músicas - entre elas uma tal de "Always On My Mind" e outra de um novo compositor, uma canção que Elvis tinha ouvido e que não tinha muita certeza se deveria gravá-la: "Burning Love"!
A parte da direção musical ficaria inteiramente sob controle de Elvis e de seu produtor Felton Jarvis, sem intervenção do pessoal da MGM. Três dias depois Elvis se reuniu com a TCB Band e os avisou que sua próxima turnê seria filmada para o cinema. Elvis resolveu providenciar uma mudança no repertório com a introdução de novas canções nos shows. Trabalho duro pela frente!. Enquanto a RCA lançava o single "American Trilogy" - com "The First Time Ever I Saw Your Face" no lado B - Elvis começava sua turnê no leste do país, com a MGM gravando tudo o que acontecia nessa primeira rodada de shows. Elvis foi filmado dentro do avião, antes dos shows, conversando com fãs, enfim, todo o delírio que acontecia ao redor de uma turnê do rei do rock foi registrado pelo pessoal do estúdio. Mais de 250 pessoas da equipe de filmagem acompanharam Elvis e banda nesses quinze shows realizados em várias cidades, como Buffalo, Indianapolis, Detroit, Dayton, Hampton Roads, Knoxville, Charlotte, Macon e Jacksonville. Segundo alguns membros da equipe que participaram do time da MGM mais de 40 horas de material foram filmados para "Standing Room Only" – o nome original do filme, depois mudado para "Elvis On Tour" (Elvis Triunfal no Brasil) – mas que nunca foram mostrados ao público. Shows inteiros foram filmados e não aproveitados, ficando no chão da sala de edição de Martin Scorsese.
Esse precioso material pode um dia ser lançado, mas atualmente jaz nos arquivos dos estúdios MGM em Hollywood. Sem dúvida muita coisa foi gravada, mas a principal apresentação de Elvis nessa turnê ficou de fora!!! Talvez o pior erro cometido pelos produtores de "Elvis On Tour" foi não Ter filmado os shows de Elvis no Madison Square Garden em Nova Iorque. Até hoje a MGM não consegue dar uma resposta satisfatória por ter deixado passar essa apresentação – uma das mais importantes da carreira de Elvis – em branco. Como é que cometeram uma bobeada dessas? Durante a coletiva à imprensa em NY os jornalistas perguntaram a Elvis e ao Coronel porque não iriam ser filmados seus shows no MSQ? Os dois saíram pela tangente e não souberam responder a pergunta!!! – até mesmo porque essa era uma decisão da Metro e não de Elvis e nem do Coronel Tom Parker. Ninguém sabe ao certo porque essa infeliz decisão de não filmar em Nova Iorque foi tomada.
A última coisa a ser gravada para esse documentário foi uma entrevista particular que Elvis deu nos estúdios da MGM para os realizadores da película. A intenção era usar esses trechos falados entre as imagens com cenas dos shows, mas essa ideia foi abandonada depois. Essa entrevista que continua em grande parte inédita até hoje é um raro registro onde Elvis falou sobre tudo: a origem de sua música, seus ídolos de infância, sobre sua vida pessoal etc. Desse rico material só foi aproveitado um pequeno trecho em áudio, de alguns segundos, que foi utilizado durante as cenas de Elvis na TV americana nos anos 50.
A revista Rolling Stone não poupou elogios e afirmou que "Finalmente havia sido lançado o primeiro filme de Elvis Presley". O coronel Parker já estava por essa época em negociações com a TV para a realização de um grande especial com Elvis, que iria ser transmitido via satélite para o mundo. Por isso pressionou os produtores para lançarem "Elvis On Tour" logo, pois caso contrário o filme iria acabar se transformando em concorrência para o especial de TV. O pior aconteceu com a trilha sonora do filme. Parker simplesmente resolveu cancelar seu lançamento, pois ele estava mesmo apostando em dois outros projetos de discos gravados ao vivo – um no Madison Square Garden e outro do especial via satélite – e por essa razão se tornava inviável o lançamento de mais um disco ao vivo. Três discos iguais, com apresentações ao vivo de Elvis, seriam demais para o mercado! Mas uma coisa é certa: todo esse trabalho acabou valendo muito a pena. Quando foram anunciados os nomes dos filmes que iriam concorrer ao Globo de Ouro - o segundo mais prestigiado prêmio da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, atrás apenas do Oscar - "Elvis On Tour" estava presente na lista, disputando na categoria de "melhor documentário do ano".
Elvis, bastante nervoso, acompanhou a noite de premiação de sua suíte no Las Vegas Hilton. Quando o mestre de cerimônias finalmente leu o nome do ganhador de melhor documentário do ano de 1972 – "Elvis On Tour" de Pierre Adidge e Bob Abel – Elvis deu um pulo da poltrona e simplesmente explodiu de felicidade! Não havia espaço dentro da suíte para tamanha comemoração por parte de Elvis e dos caras da Máfia de Memphis! O Rei também não deixou barato e nessa mesma noite deu uma das maiores festas que Las Vegas já presenciou! Todos correram para cumprimentá-lo e lhes dar os parabéns. Elvis não se conteve de tanta alegria e entre abraços, lágrimas e risos anunciou com muito orgulho que finalmente havia vencido o Globo de Ouro. Era a primeira vez que um filme de Elvis Presley ganhava um prêmio dessa importância. Foi uma das maiores glórias de sua já tão gloriosa carreira. Elvis estava mais do que nunca... Triunfal!
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Separate Ways / Always On My Mind
Em 1972 Elvis lançou em single uma das canções que se tornariam símbolo de sua carreira: Always On My Mind. Essa música foi o melhor e maior exemplo de sucesso póstumo da carreira de Elvis. Isso porque quando ela foi lançada originalmente em 1972 como lado B de Separate Ways passou em brancas nuvens. Burning Love, por exemplo, foi o single mais vendido de Elvis durante os anos 70 e Always on My Mind? Não chegou nem ao Top 100 da Billboard. Como explicar tamanho sucesso nos dias de hoje? O caminho de Always on My Mind foi muito curioso. Inicialmente ela foi gravada para fazer parte do disco Standind Room Only, trilha sonora do segundo documentário feito por Elvis nos anos 70.
Depois de gravar cenas de Elvis gravando essa e Separate Ways para o filme, a trilha foi cancelada por Felton Jarvis. O nome do filme foi mudado para Elvis On Tour e Always on My Mind foi renegada a um lado B de um single do Rei nos anos 70. O Lado A, Separate Ways, conseguiu entrar no Top 20 da Billboard. O coronel ainda a utilizou para lançar um disco de preço promocional de mesmo nome e depois disso Always on My Mind foi completamente esquecida. Detalhe mais do que curioso: Nunca foi lançada no Brasil durante a carreira de Elvis. O tempo passa, Elvis morre e a música continua completamente obscura e perdida dentro da vasta discografia de Elvis. Só os fãs mais conceituados a conhecem, não por sua falta de qualidade, nada disso, muito pelo contrário, mas por ter sido tão mal lançada na época.
Muitas pessoas que assistem Elvis On Tour em sua versão original estranham muito o fato de aparecer Elvis cantando Separate Ways e não Always on My Mind. Isso demonstra que ela nunca foi uma música de ponta durante a carreira de Elvis. Passaram-se muitos anos até que o grupo Pet Shop Boys lançou uma versão de Always on My Mind que estourou em todas as rádios do mundo todo. A música ficou então conhecidíssima e sua melodia se tornou muito, mas muito popular. Em uma entrevista na BBC de Londres um dos vocalistas do Pet afirmou então que a música era na realidade uma versão de uma antiga canção de Elvis Presley. Mas ninguém a conhecia. Os radialistas ingleses começaram a procurar a tal versão de Elvis e então promoveram a Always on My Mind do Rei do Rock nas rádios, muitas vezes em dobradinha com a versão do Pet Shop Boys.
Não tardou para a RCA aproveitar o momento e relançar a canção dessa vez com toda a campanha de marketing a que ela tinha direito. Assim nasceu o maior de todos os hits póstumos de Elvis Presley. Para terminar a consagração Priscilla Presley ainda a escolheu como tema da minissérie "Elvis e Eu". A metamorfose então estava completa. "Always on My Mind" se tornava assim a canção super popular que todos conhecem nos dias de hoje. O fato da canção só ter se tornado o hit que conhecemos muitos anos depois da morte de Elvis explica o porquê do cantor nunca tê-la cantado ao vivo. Para Elvis a música passou completamente despercebida e não teve qualquer repercussão em sua carreira, muito embora sua letra diga muito sobre o problema pelo qual ele estava passando (com o fim de seu casamento com Priscilla). O tempo porém lhe fez justiça.
Pablo Aluísio.
Depois de gravar cenas de Elvis gravando essa e Separate Ways para o filme, a trilha foi cancelada por Felton Jarvis. O nome do filme foi mudado para Elvis On Tour e Always on My Mind foi renegada a um lado B de um single do Rei nos anos 70. O Lado A, Separate Ways, conseguiu entrar no Top 20 da Billboard. O coronel ainda a utilizou para lançar um disco de preço promocional de mesmo nome e depois disso Always on My Mind foi completamente esquecida. Detalhe mais do que curioso: Nunca foi lançada no Brasil durante a carreira de Elvis. O tempo passa, Elvis morre e a música continua completamente obscura e perdida dentro da vasta discografia de Elvis. Só os fãs mais conceituados a conhecem, não por sua falta de qualidade, nada disso, muito pelo contrário, mas por ter sido tão mal lançada na época.
Muitas pessoas que assistem Elvis On Tour em sua versão original estranham muito o fato de aparecer Elvis cantando Separate Ways e não Always on My Mind. Isso demonstra que ela nunca foi uma música de ponta durante a carreira de Elvis. Passaram-se muitos anos até que o grupo Pet Shop Boys lançou uma versão de Always on My Mind que estourou em todas as rádios do mundo todo. A música ficou então conhecidíssima e sua melodia se tornou muito, mas muito popular. Em uma entrevista na BBC de Londres um dos vocalistas do Pet afirmou então que a música era na realidade uma versão de uma antiga canção de Elvis Presley. Mas ninguém a conhecia. Os radialistas ingleses começaram a procurar a tal versão de Elvis e então promoveram a Always on My Mind do Rei do Rock nas rádios, muitas vezes em dobradinha com a versão do Pet Shop Boys.
Não tardou para a RCA aproveitar o momento e relançar a canção dessa vez com toda a campanha de marketing a que ela tinha direito. Assim nasceu o maior de todos os hits póstumos de Elvis Presley. Para terminar a consagração Priscilla Presley ainda a escolheu como tema da minissérie "Elvis e Eu". A metamorfose então estava completa. "Always on My Mind" se tornava assim a canção super popular que todos conhecem nos dias de hoje. O fato da canção só ter se tornado o hit que conhecemos muitos anos depois da morte de Elvis explica o porquê do cantor nunca tê-la cantado ao vivo. Para Elvis a música passou completamente despercebida e não teve qualquer repercussão em sua carreira, muito embora sua letra diga muito sobre o problema pelo qual ele estava passando (com o fim de seu casamento com Priscilla). O tempo porém lhe fez justiça.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - Elvis Now (1972)
Elvis Now - 1972 foi um ano de grande correria para Elvis. Além de lançar vários LPs e Singles o cantor ainda gravou um filme registrando seus Shows, "Elvis On Tour" (Elvis triunfal, 1972) e também cruzou os Estados Unidos de costa a costa, sem contar ainda com suas temporadas anuais em Las Vegas. Tudo isso aliado a diversos outros problemas que ocorriam em sua vida pessoal como a separação definitiva de sua esposa Priscilla. Este Disco foi gravado em meio a este turbilhão de acontecimentos e registra de certa forma o cansaço físico e emocional de Presley. Deve-se ressaltar porém que mesmo em momentos difíceis Elvis conseguia produzir grandes momentos que sem dúvida estão presentes neste disco. A vida de Elvis Presley nesta época se resumia a viajar de cidade em cidade, um show a cada noite, em um ritmo tão frenético, que às vezes, o cantor nem sabia direito aonde se encontrava. Nos anos 70 Elvis fez mais de mil shows, nos cinquenta Estados da federação americana. A rotina do Rei do Rock era sempre a mesma: viagem, hotel, show, viagem, hotel, show... Muita correria, o que fazia muitas vezes Elvis perder o controle do que estava acontecendo. O crítico do jornal Los Angeles Times escreveu na edição de 25 de fevereiro de 1972: "O novo disco de Elvis Presley é bom, na realidade é muito melhor do que alguns outros lançamentos deste mês, mas Elvis está ficando intimista demais, romântico demais, country demais, a hora é de Presley lançar um disco de Rock 'n' Roll e sustentar o título que ele sempre ostentou". De qualquer forma o disco "Elvis Now" (LSP 4671) apresenta as seguintes canções:
HELP ME MAKE IT THROUGHT THE NIGHT (Kris Kristofferson) - Sucesso do cantor e ator Kristofferson lançado pelo selo Columbia em 1971. Foi lançada ainda nas vozes de Sammi Smith e Joe Simon. Elvis abre o disco com esta música country bem ao estilo "Nashville". Elvis Presley e seu produtor Felton Jarvis não foram fiéis a versão original acelerando seu ritmo um pouco para dar mais consistência musical à canção.
MIRACLE OF THE ROSARY (Lee Denson) - Como quase todos os discos de Presley nos anos 70 este também traz em seu repertório uma música Gospel. Elvis simplesmente adorava estas canções que traziam em suas letras o sentimento religioso típico das famílias cristãs, do sul dos EUA. Neste mesmo ano Presley iria gravar mais um LP só com canções Gospel que se intitularia "He Touched Me". Mais um trabalho musical de Elvis Presley no estilo Gospel.
HEY JUDE (Lennon/McCartney) - Um dos maiores sucessos dos Beatles. Música símbolo do final dos anos 60. Foi lançada no primeiro single dos Fab-four pela sua recém criada gravadora, a Apple. Elvis a gravou em janeiro de 1969 em Memphis, no American Studios, naquela sessão que foi considerada a melhor de sua carreira durante os anos 60. Finalmente depois de 10 anos estrelando filmes musicais fracos, o Rei voltava a gravar canções de alto nível artístico, como esta que marcou a época do "Flower Power".
PUT YOUR HAND IN THE HAND (Gene McLellan) - Sucesso de Anne Murray. Elvis gravou esta canção no dia 08 de junho de 1971, nos Estúdios B, da RCA, em Nashville. Esta sessão é histórica, porque se tornou a última de Presley em Nashville, a capital mundial da música country. Sem dúvida nesta cidade Elvis gravou algumas das músicas mais populares do século XX. A partir desse momento, Elvis iria gravar seus LPs somente em Memphis, seja em estúdios localizados na cidade ou em sua casa, Graceland.
UNTIL IT'S TIME FOR YOU TO GO (Marie) - Sucesso na voz de Neil Diamond em 1971, mas lançada antes por Buffy Sainte-Marie, pelo selo Vanguard no mesmo ano. A Versão de Elvis foi lançada como lado principal de um single em Janeiro de 1972, com "We Can Make the Morning" no lado B. Elvis resolveu regravá-la, pois achou a sua primeira versão ruim. Mas no final a nova versão ficou pior e Felton Jarvis, seu produtor, resolveu usar a original mesmo.
WE CAN MAKE THE MORNING (Jay Ramsem) - Canção que fez parte do single lançado no começo de 1972, junto com "Until It's Time For You To Go". Nestas sessões de gravações, que deram origem a este disco, o cantor gravou mais de trinta músicas, que posteriormente seriam lançadas em vários outros trabalhos importantes de sua carreira, como por exemplo: "Elvis Now", "Elvis", "He Touched Me" e "Elvis sings the Wonderfull World of Christmas". Sem dúvida nos anos 70 Elvis Presley foi o maior "Hit Maker" da Indústria fonográfica.
EARLY MORNING RAIN (Gordon Lightfood) - Sucesso country de Peter, Paul and Mary nos anos 60. A Versão de Elvis Presley foi gravada no dia 15 de março de 1971. Era uma de suas preferidas, estando sempre presente em seus shows, como pode-se constatar nos discos "Elvis in Concert" e "Alternate Aloha". Vale salientar que ela foi utilizada e gravada em uma versão de estúdio para o "Aloha From Hawaii" em 1973.
SYLVIA (Geoff Stephens/Les Reed) - Grande sucesso de Elvis Presley no Brasil. Assim como "Kiss me Quick" esta música somente alcançou todo este sucesso em terras Brasileiras. Tamanho foi seu sucesso por aqui que a RCA Brasileira a colocou abrindo o Lado 2 do Disco. Foi gravada em junho de 1970 junto com as canções do disco "That's The Way It Is".
FOOLS RUSH IN (Rube Bloom/Johnny Mercer) - Lançada originalmente por Johnny Mercer nos anos 30. Posteriormente foi gravada por Glenn Miller e Frank Sinatra. A Versão de Elvis porém copia os arranjos da versão de Rick Nelson, que foi lançada em 1963 pelo selo Decca. Inclusive o guitarrista James Burton participou de ambas as versões. Rick Nelson considerava Burton como seu músico exclusivo e ficou muito magoado quando este o deixou, para trabalhar com Presley no lugar de Scotty Moore, como o guitarrista oficial do Rei.
I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Arranjos: Elvis Presley) - Esta música é a mesma que foi "picotada" entre as faixas do LP "Elvis Country". Aqui ela aparece completa da forma como foi gravada em meados de 1970. Essa canção acabou servindo de inspiração para outro roqueiro famoso: Raul Seixas. Fã confesso de Elvis Presley sua "versão" Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás acabou se tornando um de seus maiores sucessos. Durante anos pairou a dúvida entre a música de Elvis e a música de Raul até que tudo foi esclarecido por Paulo Coelho durante uma entrevista para o programa Fantástico da Rede Globo onde ele declarou: "Realmente, a letra foi inspirada na música do Elvis. Era uma maneira de Raul prestar sua homenagem ao seu maior ídolo". "Elvis Now" foi lançado em fevereiro de 1972 e foi criticado por um cronista que afirmou que o título do disco era exagerado pois Elvis tinha gravado estas músicas já há algum tempo. Coisas do Coronel Tom Parker.
Elvis Presley - Elvis Now (1972): Elvis Presley (voz, violão e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (vocais) / Al Pachucki (engenheiro de som) / Arranjado e produzido por Felton Jarvis / Data de Gravação:6 e 8 de junho de 1970, 15 de março, 15 a 21 de maio e 8 a 10 de junho de 1971 nos Estúdios B da RCA em Nashville / Data de Lançamento: fevereiro de 1972.
Pablo Aluísio.
HELP ME MAKE IT THROUGHT THE NIGHT (Kris Kristofferson) - Sucesso do cantor e ator Kristofferson lançado pelo selo Columbia em 1971. Foi lançada ainda nas vozes de Sammi Smith e Joe Simon. Elvis abre o disco com esta música country bem ao estilo "Nashville". Elvis Presley e seu produtor Felton Jarvis não foram fiéis a versão original acelerando seu ritmo um pouco para dar mais consistência musical à canção.
MIRACLE OF THE ROSARY (Lee Denson) - Como quase todos os discos de Presley nos anos 70 este também traz em seu repertório uma música Gospel. Elvis simplesmente adorava estas canções que traziam em suas letras o sentimento religioso típico das famílias cristãs, do sul dos EUA. Neste mesmo ano Presley iria gravar mais um LP só com canções Gospel que se intitularia "He Touched Me". Mais um trabalho musical de Elvis Presley no estilo Gospel.
HEY JUDE (Lennon/McCartney) - Um dos maiores sucessos dos Beatles. Música símbolo do final dos anos 60. Foi lançada no primeiro single dos Fab-four pela sua recém criada gravadora, a Apple. Elvis a gravou em janeiro de 1969 em Memphis, no American Studios, naquela sessão que foi considerada a melhor de sua carreira durante os anos 60. Finalmente depois de 10 anos estrelando filmes musicais fracos, o Rei voltava a gravar canções de alto nível artístico, como esta que marcou a época do "Flower Power".
PUT YOUR HAND IN THE HAND (Gene McLellan) - Sucesso de Anne Murray. Elvis gravou esta canção no dia 08 de junho de 1971, nos Estúdios B, da RCA, em Nashville. Esta sessão é histórica, porque se tornou a última de Presley em Nashville, a capital mundial da música country. Sem dúvida nesta cidade Elvis gravou algumas das músicas mais populares do século XX. A partir desse momento, Elvis iria gravar seus LPs somente em Memphis, seja em estúdios localizados na cidade ou em sua casa, Graceland.
UNTIL IT'S TIME FOR YOU TO GO (Marie) - Sucesso na voz de Neil Diamond em 1971, mas lançada antes por Buffy Sainte-Marie, pelo selo Vanguard no mesmo ano. A Versão de Elvis foi lançada como lado principal de um single em Janeiro de 1972, com "We Can Make the Morning" no lado B. Elvis resolveu regravá-la, pois achou a sua primeira versão ruim. Mas no final a nova versão ficou pior e Felton Jarvis, seu produtor, resolveu usar a original mesmo.
WE CAN MAKE THE MORNING (Jay Ramsem) - Canção que fez parte do single lançado no começo de 1972, junto com "Until It's Time For You To Go". Nestas sessões de gravações, que deram origem a este disco, o cantor gravou mais de trinta músicas, que posteriormente seriam lançadas em vários outros trabalhos importantes de sua carreira, como por exemplo: "Elvis Now", "Elvis", "He Touched Me" e "Elvis sings the Wonderfull World of Christmas". Sem dúvida nos anos 70 Elvis Presley foi o maior "Hit Maker" da Indústria fonográfica.
EARLY MORNING RAIN (Gordon Lightfood) - Sucesso country de Peter, Paul and Mary nos anos 60. A Versão de Elvis Presley foi gravada no dia 15 de março de 1971. Era uma de suas preferidas, estando sempre presente em seus shows, como pode-se constatar nos discos "Elvis in Concert" e "Alternate Aloha". Vale salientar que ela foi utilizada e gravada em uma versão de estúdio para o "Aloha From Hawaii" em 1973.
SYLVIA (Geoff Stephens/Les Reed) - Grande sucesso de Elvis Presley no Brasil. Assim como "Kiss me Quick" esta música somente alcançou todo este sucesso em terras Brasileiras. Tamanho foi seu sucesso por aqui que a RCA Brasileira a colocou abrindo o Lado 2 do Disco. Foi gravada em junho de 1970 junto com as canções do disco "That's The Way It Is".
FOOLS RUSH IN (Rube Bloom/Johnny Mercer) - Lançada originalmente por Johnny Mercer nos anos 30. Posteriormente foi gravada por Glenn Miller e Frank Sinatra. A Versão de Elvis porém copia os arranjos da versão de Rick Nelson, que foi lançada em 1963 pelo selo Decca. Inclusive o guitarrista James Burton participou de ambas as versões. Rick Nelson considerava Burton como seu músico exclusivo e ficou muito magoado quando este o deixou, para trabalhar com Presley no lugar de Scotty Moore, como o guitarrista oficial do Rei.
I WAS BORN ABOUT TEN THOUSAND YEARS AGO (Arranjos: Elvis Presley) - Esta música é a mesma que foi "picotada" entre as faixas do LP "Elvis Country". Aqui ela aparece completa da forma como foi gravada em meados de 1970. Essa canção acabou servindo de inspiração para outro roqueiro famoso: Raul Seixas. Fã confesso de Elvis Presley sua "versão" Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás acabou se tornando um de seus maiores sucessos. Durante anos pairou a dúvida entre a música de Elvis e a música de Raul até que tudo foi esclarecido por Paulo Coelho durante uma entrevista para o programa Fantástico da Rede Globo onde ele declarou: "Realmente, a letra foi inspirada na música do Elvis. Era uma maneira de Raul prestar sua homenagem ao seu maior ídolo". "Elvis Now" foi lançado em fevereiro de 1972 e foi criticado por um cronista que afirmou que o título do disco era exagerado pois Elvis tinha gravado estas músicas já há algum tempo. Coisas do Coronel Tom Parker.
Elvis Presley - Elvis Now (1972): Elvis Presley (voz, violão e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (vocais) / Al Pachucki (engenheiro de som) / Arranjado e produzido por Felton Jarvis / Data de Gravação:6 e 8 de junho de 1970, 15 de março, 15 a 21 de maio e 8 a 10 de junho de 1971 nos Estúdios B da RCA em Nashville / Data de Lançamento: fevereiro de 1972.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas (1971)
Elvis estava relaxando e se recuperando em seu camarim, durante o período que antecedia o midnight show em Las Vegas durante o mês de fevereiro de 1971, quando recebeu um telegrama da RCA Victor assinado pelo executivo Harry Jenkins informando-o que os estúdios em Nashville estavam prontos para recebê-lo entre os dias 15 a 20 do mês seguinte para uma nova maratona de gravações. Assim que terminasse sua agenda de shows em Vegas Elvis teria que voar imediatamente para Nashville para gravar novas canções de estúdio para seu novo álbum. O texto também informava que a direção da RCA havia decidido que Elvis deveria gravar um novo disco com músicas natalinas e que para isso lhe seria enviado uma série de demos e discos de demonstração com canções desse estilo, entre as quais ele poderia escolher suas preferidas para compor esse seu novo trabalho. Elvis, sentado em sua cadeira em frente ao espelho do luxuoso camarim estendeu a mão e deu o telegrama para Joe Esposito ler: "Dê só uma olhada nisso, Joe!" – disse balançando a cabeça em sinal de desaprovação. O desânimo era visível no semblante do cantor. Joe leu o teor da mensagem e compreendeu o motivo do desapontamento por parte de Elvis. "Bem Elvis, talvez eles saibam o que estão fazendo!" – disse Joe tentando amenizar a situação. "Duvido muito Joe! Sempre quando esses caras da RCA interferem em minha música eu sofro as consequências, recebo todas as críticas negativas, no final sempre pago o preço desse tipo de coisa sozinho!", desabafou o cantor.
No fundo Elvis sabia que o velho fantasma de suas trilhas sonoras ridículas e impostas pelos estúdios durante os anos 60 sempre iriam macular seu status de artista e interprete relevante e receava que tudo voltasse agora, com um novo projeto totalmente fabricado pelos executivos de Nova Iorque. Pessoas que, segundo a visão de Elvis, não sabiam nada de música! Gravar todos aqueles discos de filmes tinha sido um tremendo erro em sua passado e agora ser levado novamente a embarcar em um projeto do qual não acreditava trazia imediatamente à sua lembrança aquele período negro de sua carreira. Gravar um novo disco de natal, justamente agora que ele procurava produzir bons álbuns e apresentar bom material e de qualidade era um tremendo retrocesso em sua visão. Naquele momento Elvis estava disposto a não embarcar nesse projeto, a rejeitar a ideia dos executivos da RCA (afinal ele nem tinha sido consultado sobre isso!) e comunicar sua decisão ao Coronel Parker após o show. Não foi preciso. Em poucos minutos Parker entrava nos camarins para verificar se tudo estava bem com sua "propriedade". Encontrou um Elvis abatido e cabisbaixo, sem o ânimo necessário para alguém que iria enfrentar um show em poucos minutos. Parker mandou os membros da Máfia de Memphis saírem para deixá-lo a sós com o deprimido superstar. "O que está havendo Elvis?"- disparou Parker sabendo muito bem que o cantor não se encontrava em um bom estado emocional naquele momento. "A velha história se repete Coronel...Os caras da RCA querem que eu grave um novo disco de natal. Eu não quero gravar mais canções de natal, simplesmente não dá mais para gravar esse tipo de coisa. Por que não editam novamente o disco dos anos 50?" – perguntou Elvis. Tom Parker sentou-se ao lado de Elvis e vendo que a situação poderia lhe fugir ao controle começou a expor seus argumentos ao seu pupilo: "Elvis, isso não é uma coisa tão séria assim para você se preocupar, sabe? Eles estão com a razão. Não há mais como relançar novamente o Elvis Christmas Album depois de todos esses anos. A direção da RCA tomou essa atitude por uma razão bem simples: suas músicas natalinas sempre venderam muito bem no final de ano, durante as festas, e já é hora de apresentar material novo nesse estilo. Seus fãs querem isso, não os chefões da RCA, entende meu ponto de vista? São seus fãs que querem ouvi-lo novamente cantando canções de natal!".
Elvis ficou em silêncio ouvindo os argumentos do Coronel, fitando e mexendo seus diversos anéis. Parecia antes de tudo distante e desapontado. Durante a conversa Elvis não olhou para o Coronel, que ficou o tempo todo ao seu lado tentando convencê-lo a se submeter aos desígnios da grande multinacional. Mesmo com seu esforço de persuasão os argumentos pareciam não fazer efeito. Elvis não parecia nada convencido e por fim disparou: "Gravar essas músicas não me interessa, além do mais elas não se parecem em nada com o tipo de trabalho que venho mostrando atualmente para meus fãs, não quero fazer o disco!". Tom Parker entendeu que não adiantava pressionar naquele momento, pois não queria impor uma decisão ou passar a imagem para Elvis de alguém que estava forçando uma situação. Calejado pela vida e profundo conhecedor da personalidade facilmente irritável do artista, preferiu jogar panos quentes no assunto, pelo menos por enquanto. Então a velha raposa simplesmente disse ao Rei, que agora estava de pé, em frente ao grande espelho, verificando se tudo estava em ordem para sua entrada no palco: "Vamos fazer o seguinte: não fique abatido por isso, prometa apenas ouvir as músicas que a RCA vai enviar a você, depois iremos discutir sobre a gravação desse disco, ok? Faça o show tranquilamente e depois resolveremos esse problema, certo assim?". Elvis timidamente balançou a cabeça e se dirigiu para fora de seu recinto privativo para encontrar seu staff pessoal que iria conduzi-lo até o palco, para que ele assim finalmente fizesse seu concerto. Não parecia nada animado, sua melancolia era agora cada vez mais aparente. A temporada em Vegas transcorreu normalmente e o assunto não foi mais mencionado entre Elvis e o Coronel Parker. Então no dia 15 de março Elvis chegou à Nashville para o início de suas sessões de gravação.
Ele havia feito péssimo vôo, estava se sentindo mal, tinha enjoado durante o percurso, se queixava de fortes dores de cabeça acrescida de uma pressão incomum sentida sobre seu globo ocular e para falar a verdade não estava com a mínima vontade de gravar. Mesmo assim tentou seguir em frente. Quando chegou aos estúdios estava com péssima aparência: olheiras visíveis demonstrando que não tinha dormido bem nas últimas semanas, cabelo despenteado, barba por fazer e com expressão de dor. Teve inclusive que ser amparado por seu homens para poder sair do carro em que estava. Depois de realizar tantos shows em Las Vegas Elvis estava simplesmente muito estressado e exausto para cumprir uma maratona de gravações em Nashville. Além disso estava sentido dores cada vez mais agudas e latentes em seu olho esquerdo. Felton Jarvis ficou um pouco assustado com a aparência abatida de Elvis, mas mesmo assim resolveu dar prosseguimento aos trabalhos. Começou a tocar alguns demos natalinos para Elvis, para que ele finalmente decidisse quais canções iria gravar. O cantor ficou o tempo todo sentado em uma cadeira ao lado de uma caixa de som, mostrando total desinteresse pelas canções. A aversão de Elvis foi aumentando a cada música demonstrada a ele, até que finalmente pediu a Jarvis que parasse com as execuções. Elvis olhou ao seu lado e disse à sua banda: "Bom, vamos gravar alguma coisa por enquanto, depois a gente volta para esse material de natal, ok?". Dito e feito. Com a mudança de direção Elvis até mesmo se animou e conseguiu se empolgar um pouco. Pediu uma garrafa de água e começou a conversar com os caras da banda. Sugeriu ótimas músicas para salvar a sessão como "The First Time Ever I Saw Your Face", "Early Morning Rain", "For Loving Me" e a sua preferida na noite: o Gospel "Amazing Grace", que o levou a praticamente renascer dentro do estúdio. Novamente ligado no que estava acontecendo à sua volta, Elvis resolveu escrever ele mesmo um novo arranjo para a famosa música religiosa, depois discutiu com os caras da banda a melhor forma de gravá-la, enfim, era o Elvis Presley dos bons tempos que todos conheciam. As músicas natalinas ficariam para depois, até mesmo porque Elvis não tinha o menor interesse pelo material apresentado por Felton Jarvis. Ele não conseguiu se conectar com as músicas de natal. Na verdade ele havia até mesmo comentado com James Burton dentro da sala de gravação: "...essas músicas de natal são ruins demais, puxa vida!". Todos riram, o que foi ótimo, pois levou a amenizar bastante o clima de tensão que pairava no ar. Depois de algumas horas ali gravando as músicas não natalinas escolhidas por ele, Elvis chamou todos os presentes e os reuniu em uma sala adjacente ao estúdio principal: "Eu quero comunicar a vocês que estou cancelando o restante das sessões, vou hoje mesmo para Graceland. Não estou me sentido bem, sinto dores, estou cansado, indisposto e minha voz está no limite. Não quero gravar nada nesse estado. O pessoal de Los Angeles está dispensado e o de Memphis segue comigo hoje mesmo para casa. Vejo vocês depois! Estão todos livres! Obrigado e fiquem com Deus!" Poucos minutos depois Elvis embarcava de volta para Graceland.
Ao chegar foi imediatamente atendido por uma junta médica que constatou que ele tinha uma séria lesão no globo ocular esquerdo (provavelmente causada pelos fortes holofotes em seus shows) e que deveria se internar imediatamente para novos exames. Nenhuma luminosidade seria suportada pelo olho lesionado e assim o cantor adotou, por orientação médica, um tapa olho preto que logo virou piada entre os caras da máfia de Memphis. O Coronel Parker também logo foi informado que Elvis estava de licença médica por dois meses e que todos os seus compromissos deveriam ser cancelados. Elvis respirou aliviado e se trancou em seus aposentos para tratar de sua saúde e principalmente descansar. Agora o objetivo principal para ele era dormir o máximo que pudesse para se recuperar das longas noites mal dormidas em Las Vegas. Duas semanas depois o Coronel ligou de Los Angeles para ele em Graceland: "Elvis, você ouviu as músicas natalinas? A direção da RCA está me cobrando uma posição de sua parte!" do outro lado da linha cheia de interferência o Coronel conseguiu perceber o estado emocional deprimido do cantor que ao falar, apenas disse de forma melancólica: "Ouvi as músicas...são horríveis...não me interessa..." - então fez-se uma longa pausa, com Elvis em total silêncio - finalmente ele disse: "...depois lhe retorno com alguma decisão, não estou com estado de espírito hoje para esse tipo de conversa..." e desligou. O Coronel ficou preocupado. Parker não tinha costume em encontrar tanta resistência assim por parte de Elvis. Tudo levava a crer que depois de tanto material medíocre imposto por ele e pela RCA ao cantor ao longo dos anos, finalmente Elvis parecia agora encontrar disposição em dizer não a projetos nos quais ele não acreditava mais. O Coronel Parker então decidiu abrir um espaço para Elvis se refazer e depois partiu para o ataque. Um mês depois o Coronel chegou à Memphis para ver como Elvis estava e intensificou sua propaganda do disco de natal, sempre passando a idéia de que ele seria um grande sucesso, que com esse LP Elvis iria novamente alcançar as primeiras posições, que tudo seria ótimo para sua carreira e blá, blá, blá... Elvis começou a se encher daquela conversa.
Em uma noite particularmente agitada em sua suíte, visivelmente alterado pelo uso de drogas, Elvis explodiu com o empresário após esse lhe sugerir pela milionésima vez a gravações das malditas músicas de natal: "Não aguento mais!!! Eu não vou gravar essas merdas!!! Essa porcarias da RCA, eu não vou gravar esse lixo!!! Me deixe me paz, pelo amor de Deus!!!" e bateu a porta na cara do Coronel. Sabendo do terrível temperamento de Elvis Tom Parker simplesmente se retirou de Graceland e orientou Joe Esposito a ficar de olho no cantor. No dia seguinte já estava pronto para telefonar para Felton Jarvis, produtor de Elvis na RCA, para lhe comunicar da decisão de Elvis em não gravar músicas natalinas em suas próximas sessões, quando foi surpreendido por um telefonema do próprio Elvis: "Coronel...sobre as músicas de natal..." – O Coronel nem deixou o cantor completar a frase e lhe disse: "Elvis, não se preocupe, vou entrar em contato hoje com o pessoal da RCA, não se preocupe.." – Elvis então lhe disse: "Não é isso... eu tomei uma decisão...eu vou gravar o disco de natal......no dia que vocês quiserem voarei para Nashville e farei o álbum.... Não quero mais me aborrecer por esse tipo de coisa. Eu o farei". Não havia nenhum sinal de animação ou contentamento na voz de Elvis, apenas de resignação mesmo. O Coronel ficou estupefato! Quem afinal poderia entender uma mudança tão brusca de decisão em menos de 24 horas? Elvis era assim mesmo, mudanças repentinas de decisão e de temperamento faziam parte de sua personalidade. O Coronel ficou muito contente e garantiu a Elvis que ele tinha tomado uma "ótima decisão" do qual "não iria se arrepender!". E assim foi feito. Elvis entrou novamente em estúdio no dia 15 de maio (exatamente dois meses após sua primeira tentativa frustrada de gravar as canções do disco de natal).
Ainda sem acreditar no disco e com uma certa má vontade Elvis começou a gravar as músicas. Para tornar um pouco menos penosa a tarefa de cantar tanto material horrível, Elvis também intercalava as gravações natalinas com várias jam sessions de canções Gospel, que no futuro iriam acabar sendo reunidas no premiado disco "He Touched Me". No fundo o cantor procurou antes de tudo ter uma postura eminentemente profissional. Se ele era um artista contratado pela RCA Victor, então cumpriria as determinações da sua gravadora. Como era muito eficiente em estúdio, desde seus primeiros anos, conseguiu finalizar o álbum em apenas duas noites. Alguns músicos que estiveram ao seu lado naquelas desanimadas sessões iniciais pensam que o fator predominante nem foi tanto a intenção de ser eficiente, mas sim de ser rápido o bastante para se livrar desse disco de uma vez por todas. Elvis queria antes de tudo gravar o material, evitar novos atritos com o Coronel e a direção da RCA e seguir em frente na sua carreira, esquecendo essa má experiência da forma mais indolor e célere possível. Em suma, ele seria profissional e completaria as músicas. Infelizmente porém o gosto amargo ficaria na boca por mais alguns meses. Ele sabia que todo o material era um desperdício de tempo e dinheiro e que não tinha o menor valor artístico. Mesmo querendo se livrar do disco logo, Elvis percebeu rapidamente que o famigerado LP iria persegui-lo por mais algum tempo ainda. O Projeto iria continuar, em um futuro não muito distante, a trazer vários aborrecimentos pessoais a ele. Definitivamente as coisas não melhoraram muito nos meses seguintes, principalmente quando Felton Jarvis comunicou a Elvis o nome do novo disco: "Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas" (Elvis canta o maravilhoso mundo do natal). O Rei simplesmente odiou o título, que para ele era "completamente estúpido!", mas resolveu novamente se calar, só manifestando sua opinião pessoal para os mais próximos.
Depois outro aborrecimento surgiu quando a arte final da capa chegou em suas mãos: Elvis odiou muito a foto montagem feita com sua imagem, aonde colocaram a foto de sua face acoplada a um desenho de um Papai Noel balofo. Para quem lutava diariamente contra a balança, se deparar agora com um desenho que o retratava como um Papai Noel roliço não era das experiências mais agradáveis e o pior: o desenho iria sair na capa de um de seus próprios discos! Aquilo já era demais! Resolveu reclamar dessa vez. Chegou a comentar com Joe Esposito: "Aonde será que esses caras querem chegar??!! Meu Deus, não há limites para tanta mediocridade!!!" Tentou até mesmo impedir a reprodução da capa, mas o Coronel lhe informou que seria impossível pois todas já estavam impressas! Como não havia mais o que fazer, Elvis resolveu não se estressar mais e tomou a decisão de se divertir com o disco, fazendo piadas em cima de sua capa, de seu título, etc. Era um humor misturado com angústia e melancolia, pois apesar de rir do LP, Elvis sabia que os outros iriam criticá-lo por ter gravado tal material. Mas ele já tinha problemas demais e aquilo parecia ser o menor deles. Além do mais pensou: Quem sabe ele não estaria errado e os caras da RCA certos, não é mesmo? Podia ser até mesmo que "aquilo" fizesse sucesso! Quem sabe... O LP, finalmente, depois de sofrer muitas modificações promovidas pelo produtor de Elvis, foi lançado em outubro de 1971. A crítica caiu em cima, malhou impiedosamente o trabalho e culpou Elvis, o Coronel e o produtor Felton Jarvis pelo lançamento. Pelo menos dessa vez Elvis não levou a culpa toda sozinho como ele temia. De sua parte Elvis até mesmo se divertiu com alguns artigos e no final deu de ombros, declarando: "Eu tinha razão, esses caras da RCA não entendem nada mesmo de música!"...
Pablo Aluísio.
No fundo Elvis sabia que o velho fantasma de suas trilhas sonoras ridículas e impostas pelos estúdios durante os anos 60 sempre iriam macular seu status de artista e interprete relevante e receava que tudo voltasse agora, com um novo projeto totalmente fabricado pelos executivos de Nova Iorque. Pessoas que, segundo a visão de Elvis, não sabiam nada de música! Gravar todos aqueles discos de filmes tinha sido um tremendo erro em sua passado e agora ser levado novamente a embarcar em um projeto do qual não acreditava trazia imediatamente à sua lembrança aquele período negro de sua carreira. Gravar um novo disco de natal, justamente agora que ele procurava produzir bons álbuns e apresentar bom material e de qualidade era um tremendo retrocesso em sua visão. Naquele momento Elvis estava disposto a não embarcar nesse projeto, a rejeitar a ideia dos executivos da RCA (afinal ele nem tinha sido consultado sobre isso!) e comunicar sua decisão ao Coronel Parker após o show. Não foi preciso. Em poucos minutos Parker entrava nos camarins para verificar se tudo estava bem com sua "propriedade". Encontrou um Elvis abatido e cabisbaixo, sem o ânimo necessário para alguém que iria enfrentar um show em poucos minutos. Parker mandou os membros da Máfia de Memphis saírem para deixá-lo a sós com o deprimido superstar. "O que está havendo Elvis?"- disparou Parker sabendo muito bem que o cantor não se encontrava em um bom estado emocional naquele momento. "A velha história se repete Coronel...Os caras da RCA querem que eu grave um novo disco de natal. Eu não quero gravar mais canções de natal, simplesmente não dá mais para gravar esse tipo de coisa. Por que não editam novamente o disco dos anos 50?" – perguntou Elvis. Tom Parker sentou-se ao lado de Elvis e vendo que a situação poderia lhe fugir ao controle começou a expor seus argumentos ao seu pupilo: "Elvis, isso não é uma coisa tão séria assim para você se preocupar, sabe? Eles estão com a razão. Não há mais como relançar novamente o Elvis Christmas Album depois de todos esses anos. A direção da RCA tomou essa atitude por uma razão bem simples: suas músicas natalinas sempre venderam muito bem no final de ano, durante as festas, e já é hora de apresentar material novo nesse estilo. Seus fãs querem isso, não os chefões da RCA, entende meu ponto de vista? São seus fãs que querem ouvi-lo novamente cantando canções de natal!".
Elvis ficou em silêncio ouvindo os argumentos do Coronel, fitando e mexendo seus diversos anéis. Parecia antes de tudo distante e desapontado. Durante a conversa Elvis não olhou para o Coronel, que ficou o tempo todo ao seu lado tentando convencê-lo a se submeter aos desígnios da grande multinacional. Mesmo com seu esforço de persuasão os argumentos pareciam não fazer efeito. Elvis não parecia nada convencido e por fim disparou: "Gravar essas músicas não me interessa, além do mais elas não se parecem em nada com o tipo de trabalho que venho mostrando atualmente para meus fãs, não quero fazer o disco!". Tom Parker entendeu que não adiantava pressionar naquele momento, pois não queria impor uma decisão ou passar a imagem para Elvis de alguém que estava forçando uma situação. Calejado pela vida e profundo conhecedor da personalidade facilmente irritável do artista, preferiu jogar panos quentes no assunto, pelo menos por enquanto. Então a velha raposa simplesmente disse ao Rei, que agora estava de pé, em frente ao grande espelho, verificando se tudo estava em ordem para sua entrada no palco: "Vamos fazer o seguinte: não fique abatido por isso, prometa apenas ouvir as músicas que a RCA vai enviar a você, depois iremos discutir sobre a gravação desse disco, ok? Faça o show tranquilamente e depois resolveremos esse problema, certo assim?". Elvis timidamente balançou a cabeça e se dirigiu para fora de seu recinto privativo para encontrar seu staff pessoal que iria conduzi-lo até o palco, para que ele assim finalmente fizesse seu concerto. Não parecia nada animado, sua melancolia era agora cada vez mais aparente. A temporada em Vegas transcorreu normalmente e o assunto não foi mais mencionado entre Elvis e o Coronel Parker. Então no dia 15 de março Elvis chegou à Nashville para o início de suas sessões de gravação.
Ele havia feito péssimo vôo, estava se sentindo mal, tinha enjoado durante o percurso, se queixava de fortes dores de cabeça acrescida de uma pressão incomum sentida sobre seu globo ocular e para falar a verdade não estava com a mínima vontade de gravar. Mesmo assim tentou seguir em frente. Quando chegou aos estúdios estava com péssima aparência: olheiras visíveis demonstrando que não tinha dormido bem nas últimas semanas, cabelo despenteado, barba por fazer e com expressão de dor. Teve inclusive que ser amparado por seu homens para poder sair do carro em que estava. Depois de realizar tantos shows em Las Vegas Elvis estava simplesmente muito estressado e exausto para cumprir uma maratona de gravações em Nashville. Além disso estava sentido dores cada vez mais agudas e latentes em seu olho esquerdo. Felton Jarvis ficou um pouco assustado com a aparência abatida de Elvis, mas mesmo assim resolveu dar prosseguimento aos trabalhos. Começou a tocar alguns demos natalinos para Elvis, para que ele finalmente decidisse quais canções iria gravar. O cantor ficou o tempo todo sentado em uma cadeira ao lado de uma caixa de som, mostrando total desinteresse pelas canções. A aversão de Elvis foi aumentando a cada música demonstrada a ele, até que finalmente pediu a Jarvis que parasse com as execuções. Elvis olhou ao seu lado e disse à sua banda: "Bom, vamos gravar alguma coisa por enquanto, depois a gente volta para esse material de natal, ok?". Dito e feito. Com a mudança de direção Elvis até mesmo se animou e conseguiu se empolgar um pouco. Pediu uma garrafa de água e começou a conversar com os caras da banda. Sugeriu ótimas músicas para salvar a sessão como "The First Time Ever I Saw Your Face", "Early Morning Rain", "For Loving Me" e a sua preferida na noite: o Gospel "Amazing Grace", que o levou a praticamente renascer dentro do estúdio. Novamente ligado no que estava acontecendo à sua volta, Elvis resolveu escrever ele mesmo um novo arranjo para a famosa música religiosa, depois discutiu com os caras da banda a melhor forma de gravá-la, enfim, era o Elvis Presley dos bons tempos que todos conheciam. As músicas natalinas ficariam para depois, até mesmo porque Elvis não tinha o menor interesse pelo material apresentado por Felton Jarvis. Ele não conseguiu se conectar com as músicas de natal. Na verdade ele havia até mesmo comentado com James Burton dentro da sala de gravação: "...essas músicas de natal são ruins demais, puxa vida!". Todos riram, o que foi ótimo, pois levou a amenizar bastante o clima de tensão que pairava no ar. Depois de algumas horas ali gravando as músicas não natalinas escolhidas por ele, Elvis chamou todos os presentes e os reuniu em uma sala adjacente ao estúdio principal: "Eu quero comunicar a vocês que estou cancelando o restante das sessões, vou hoje mesmo para Graceland. Não estou me sentido bem, sinto dores, estou cansado, indisposto e minha voz está no limite. Não quero gravar nada nesse estado. O pessoal de Los Angeles está dispensado e o de Memphis segue comigo hoje mesmo para casa. Vejo vocês depois! Estão todos livres! Obrigado e fiquem com Deus!" Poucos minutos depois Elvis embarcava de volta para Graceland.
Ao chegar foi imediatamente atendido por uma junta médica que constatou que ele tinha uma séria lesão no globo ocular esquerdo (provavelmente causada pelos fortes holofotes em seus shows) e que deveria se internar imediatamente para novos exames. Nenhuma luminosidade seria suportada pelo olho lesionado e assim o cantor adotou, por orientação médica, um tapa olho preto que logo virou piada entre os caras da máfia de Memphis. O Coronel Parker também logo foi informado que Elvis estava de licença médica por dois meses e que todos os seus compromissos deveriam ser cancelados. Elvis respirou aliviado e se trancou em seus aposentos para tratar de sua saúde e principalmente descansar. Agora o objetivo principal para ele era dormir o máximo que pudesse para se recuperar das longas noites mal dormidas em Las Vegas. Duas semanas depois o Coronel ligou de Los Angeles para ele em Graceland: "Elvis, você ouviu as músicas natalinas? A direção da RCA está me cobrando uma posição de sua parte!" do outro lado da linha cheia de interferência o Coronel conseguiu perceber o estado emocional deprimido do cantor que ao falar, apenas disse de forma melancólica: "Ouvi as músicas...são horríveis...não me interessa..." - então fez-se uma longa pausa, com Elvis em total silêncio - finalmente ele disse: "...depois lhe retorno com alguma decisão, não estou com estado de espírito hoje para esse tipo de conversa..." e desligou. O Coronel ficou preocupado. Parker não tinha costume em encontrar tanta resistência assim por parte de Elvis. Tudo levava a crer que depois de tanto material medíocre imposto por ele e pela RCA ao cantor ao longo dos anos, finalmente Elvis parecia agora encontrar disposição em dizer não a projetos nos quais ele não acreditava mais. O Coronel Parker então decidiu abrir um espaço para Elvis se refazer e depois partiu para o ataque. Um mês depois o Coronel chegou à Memphis para ver como Elvis estava e intensificou sua propaganda do disco de natal, sempre passando a idéia de que ele seria um grande sucesso, que com esse LP Elvis iria novamente alcançar as primeiras posições, que tudo seria ótimo para sua carreira e blá, blá, blá... Elvis começou a se encher daquela conversa.
Em uma noite particularmente agitada em sua suíte, visivelmente alterado pelo uso de drogas, Elvis explodiu com o empresário após esse lhe sugerir pela milionésima vez a gravações das malditas músicas de natal: "Não aguento mais!!! Eu não vou gravar essas merdas!!! Essa porcarias da RCA, eu não vou gravar esse lixo!!! Me deixe me paz, pelo amor de Deus!!!" e bateu a porta na cara do Coronel. Sabendo do terrível temperamento de Elvis Tom Parker simplesmente se retirou de Graceland e orientou Joe Esposito a ficar de olho no cantor. No dia seguinte já estava pronto para telefonar para Felton Jarvis, produtor de Elvis na RCA, para lhe comunicar da decisão de Elvis em não gravar músicas natalinas em suas próximas sessões, quando foi surpreendido por um telefonema do próprio Elvis: "Coronel...sobre as músicas de natal..." – O Coronel nem deixou o cantor completar a frase e lhe disse: "Elvis, não se preocupe, vou entrar em contato hoje com o pessoal da RCA, não se preocupe.." – Elvis então lhe disse: "Não é isso... eu tomei uma decisão...eu vou gravar o disco de natal......no dia que vocês quiserem voarei para Nashville e farei o álbum.... Não quero mais me aborrecer por esse tipo de coisa. Eu o farei". Não havia nenhum sinal de animação ou contentamento na voz de Elvis, apenas de resignação mesmo. O Coronel ficou estupefato! Quem afinal poderia entender uma mudança tão brusca de decisão em menos de 24 horas? Elvis era assim mesmo, mudanças repentinas de decisão e de temperamento faziam parte de sua personalidade. O Coronel ficou muito contente e garantiu a Elvis que ele tinha tomado uma "ótima decisão" do qual "não iria se arrepender!". E assim foi feito. Elvis entrou novamente em estúdio no dia 15 de maio (exatamente dois meses após sua primeira tentativa frustrada de gravar as canções do disco de natal).
Ainda sem acreditar no disco e com uma certa má vontade Elvis começou a gravar as músicas. Para tornar um pouco menos penosa a tarefa de cantar tanto material horrível, Elvis também intercalava as gravações natalinas com várias jam sessions de canções Gospel, que no futuro iriam acabar sendo reunidas no premiado disco "He Touched Me". No fundo o cantor procurou antes de tudo ter uma postura eminentemente profissional. Se ele era um artista contratado pela RCA Victor, então cumpriria as determinações da sua gravadora. Como era muito eficiente em estúdio, desde seus primeiros anos, conseguiu finalizar o álbum em apenas duas noites. Alguns músicos que estiveram ao seu lado naquelas desanimadas sessões iniciais pensam que o fator predominante nem foi tanto a intenção de ser eficiente, mas sim de ser rápido o bastante para se livrar desse disco de uma vez por todas. Elvis queria antes de tudo gravar o material, evitar novos atritos com o Coronel e a direção da RCA e seguir em frente na sua carreira, esquecendo essa má experiência da forma mais indolor e célere possível. Em suma, ele seria profissional e completaria as músicas. Infelizmente porém o gosto amargo ficaria na boca por mais alguns meses. Ele sabia que todo o material era um desperdício de tempo e dinheiro e que não tinha o menor valor artístico. Mesmo querendo se livrar do disco logo, Elvis percebeu rapidamente que o famigerado LP iria persegui-lo por mais algum tempo ainda. O Projeto iria continuar, em um futuro não muito distante, a trazer vários aborrecimentos pessoais a ele. Definitivamente as coisas não melhoraram muito nos meses seguintes, principalmente quando Felton Jarvis comunicou a Elvis o nome do novo disco: "Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas" (Elvis canta o maravilhoso mundo do natal). O Rei simplesmente odiou o título, que para ele era "completamente estúpido!", mas resolveu novamente se calar, só manifestando sua opinião pessoal para os mais próximos.
Depois outro aborrecimento surgiu quando a arte final da capa chegou em suas mãos: Elvis odiou muito a foto montagem feita com sua imagem, aonde colocaram a foto de sua face acoplada a um desenho de um Papai Noel balofo. Para quem lutava diariamente contra a balança, se deparar agora com um desenho que o retratava como um Papai Noel roliço não era das experiências mais agradáveis e o pior: o desenho iria sair na capa de um de seus próprios discos! Aquilo já era demais! Resolveu reclamar dessa vez. Chegou a comentar com Joe Esposito: "Aonde será que esses caras querem chegar??!! Meu Deus, não há limites para tanta mediocridade!!!" Tentou até mesmo impedir a reprodução da capa, mas o Coronel lhe informou que seria impossível pois todas já estavam impressas! Como não havia mais o que fazer, Elvis resolveu não se estressar mais e tomou a decisão de se divertir com o disco, fazendo piadas em cima de sua capa, de seu título, etc. Era um humor misturado com angústia e melancolia, pois apesar de rir do LP, Elvis sabia que os outros iriam criticá-lo por ter gravado tal material. Mas ele já tinha problemas demais e aquilo parecia ser o menor deles. Além do mais pensou: Quem sabe ele não estaria errado e os caras da RCA certos, não é mesmo? Podia ser até mesmo que "aquilo" fizesse sucesso! Quem sabe... O LP, finalmente, depois de sofrer muitas modificações promovidas pelo produtor de Elvis, foi lançado em outubro de 1971. A crítica caiu em cima, malhou impiedosamente o trabalho e culpou Elvis, o Coronel e o produtor Felton Jarvis pelo lançamento. Pelo menos dessa vez Elvis não levou a culpa toda sozinho como ele temia. De sua parte Elvis até mesmo se divertiu com alguns artigos e no final deu de ombros, declarando: "Eu tinha razão, esses caras da RCA não entendem nada mesmo de música!"...
Pablo Aluísio.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - Love Letters From Elvis (1971)
O ano de 1971 foi bastante agitado para Elvis Presley. Começamos o ano brindados com seu melhor disco de estúdio da década de 70, "Elvis Country", e com o excelente filme "That´s The Way It Is", atacando os cinemas em todo os Estados Unidos. No dia 16 de janeiro desse mesmo ano, Elvis recebeu aquele que talvez fosse para ele o prêmio mais significativo de sua carreira, o Jaycees Award (concedido pela Jumior Chamber of Commerce), como um dos dez jovens que mais se destacaram na América. Na ocasião de premiação Elvis recebeu o troféu das mãos de ninguém menos do que George Bush, que anos depois iria se tornar presidente dos EUA. Elvis era tão orgulhoso desse prêmio que o carregou consigo até o final de sua vida. Não era raro Elvis exibir o vistoso objeto em sua suíte de Las Vegas, orgulhosamente colocado em um local de destaque para que todos pudessem vê-lo, ou então mostrá-lo para todos aqueles que encontrava durante as viagens de suas turnês. 1971 foi também um ano de trabalho árduo para o cantor. Para se ter uma idéia da agenda lotada de Elvis, basta dizer que em um curto espaço de tempo ele entrou em estúdio três vezes, para realizar sessões em março, maio e junho.
Como se isso não bastasse Elvis também caiu na estrada e realizou uma puxada maratona de apresentações em várias cidades, sendo que sua turnê em novembro ficou particularmente conhecida pelos fãs pela qualidade dos shows realizados. Mas isso ainda não foi tudo em sua vida artística, pois como sempre fazia nos anos 70, Elvis ainda realizou duas de suas habituais temporadas em Las Vegas. Mesmo esgotado física e emocionalmente, Elvis acabou aceitando a sugestão de Tom Parker para cumprir uma temporada extra em Lake Tahoe. Para Parker era interessante manter Elvis mergulhado numa infinidade de obrigações, pois isso iria manter a mente do cantor ocupada e produtiva. O Coronel, depois de tantos anos ao lado de Elvis, sabia que quando ele ficava muito tempo em ócio, sem ter o que fazer, mergulhava em depressão ou então se metia em alguma confusão tola. Parker sempre dizia o velho ditado inglês para Elvis: "Cabeça vazia, instrumento do diabo!". Além dos desafios impostos, o Coronel obviamente via o elevado potencial comercial do grande número de shows realizados.
Financeiramente 1971 foi um dos melhores anos da carreira de Elvis. Os lucros iriam finalmente equilibrar suas contas pessoais e de sua empresa. Era uma via de mão dupla que deixava todos satisfeitos: Elvis ficava feliz por estar trabalhando com agenda cheia e o Coronel Parker ficava igualmente contente em ver as verdinhas entrando em abundância. Mas se Elvis estava em uma ótima fase profissional, sua vida pessoal não ia pelo mesmo caminho. Apesar de estar se sentindo novamente valorizado e reconhecido como artista nesse período, 1971 não foi só um ano de glórias na vida do Rei do Rock. Esse também foi o ano em que seu relacionamento com Priscilla afundou de vez. Embora Priscilla só tenha pedido o divórcio e se separado do marido em 1972, nessa época ela já tinha chegado à conclusão de que seu casamento estava irremediavelmente arruinado.
Vivendo vidas separadas, Elvis ficava louco se tivesse que ficar mais de uma semana ao lado de sua esposa. Não havia mais carinho ou envolvimento. O que era prazer e alegria para Elvis antes em seu casamento, agora havia se transformado em obrigações, brigas e aborrecimentos. Embora infeliz em sua vida conjugal Elvis não estava disposto a tomar a iniciativa de um rompimento definitivo ou de uma conversa franca que colocasse todos os problemas em panos limpos. Tentava administrar a eterna crise conjugal com Priscilla com atitudes paliativas, viajando muito, dando desculpas para não passar muito tempo ao lado dela e o pior de tudo: procurando em outras mulheres o que não conseguia mais encontrar em sua esposa. Priscilla também resolveu seguir o mesmo caminho e logo estava de romance sério com Mike Stone, seu instrutor de caratê.
Depois de tentar solucionar seus problemas conjugais Priscilla finalmente entendeu que Elvis nunca seria fiel em seu matrimônio, nunca iria se tornar um pai presente e provavelmente nunca iria assumir todas as consequências ruins que invariavelmente surgem em um relacionamento adulto. Elvis ainda queria levar uma vida de mulherengo inconsequente, aprontando nas turnês ao lado de seus amigos. Na visão de Priscilla, Elvis se recusava a deixar sua postura adolescente de ser, uma atitude que diga-se de passagem em nada ajudava no projeto de salvamento de suas vidas em comum. Sem comunicação, com duas pessoas tentando levar vidas tão diferentes, não haveria outro rumo a tomar. O fim era inevitável, pois naquele momento o casamento havia se transformado apenas em uma fachada mesmo, uma paródia infeliz de um sonho não realizado. E tanto Elvis como Priscilla sabiam muito bem disso, embora continuassem a manter as aparências externas. Em conversas mais íntimas com seus amigos mais chegados Elvis revelava extrema decepção, angústia e sentimento de culpa pelo fracasso de seu casamento. Durante anos ele idealizou em Priscilla a mulher perfeita, a jovem correta e linda que iria ficar ao seu lado para sempre.
Durante anos ele preservou Priscilla ao seu lado, em um romance muitas vezes puramente platônico (pelo menos no aspecto sexual), e viu nela um modelo de mulher em que ele poderia confiar: leal, correta e pura. Depois do casamento tudo foi por água abaixo. O que era idealização romântica logo se tornou decepção com a realidade cotidiana de um matrimônio muitas vezes marcado pela indiferença e pela falta de diálogo. Talvez o grande problema para Elvis tenha sido a formulação em sua cabeça dessa imagem irreal de Priscilla por tantos anos. Quando se casou e a realidade bateu à porta, Elvis se sentiu frustrado e decepcionado com o que encontrou. Não poderia ter acontecido diferente, diga-se de passagem.
Sem encontrar aspectos positivos em sua vida pessoal, Elvis se voltou com todas as forças para sua vida profissional. Não que a RCA ajudasse muito nesse campo, pois ocasionado por infelizes escolhas da gravadora, os singles de Elvis testemunharam uma queda nas paradas, tendo sua melhor posição alcançada com "Rag to Riches", um mero e tímido 33º lugar. Lançado em junho de 1971 e sendo um dos discos de estúdio menos conhecidos de Elvis, "Love Letters", seguiu um caminho parecido, pois também não alcançou uma grande repercussão em vendas (33ª posição nos EUA), embora na Inglaterra tenha atingido um excelente 7º lugar. O álbum trazia canções que estavam arquivadas há mais de um ano nos estúdios da RCA em Nashville, pois grande parte desse material havia sido gravado em junho de 1970. De uma certa forma o disco criado por Felton Jarvis foi uma forma de aproveitar todos os "restos" dessas famosas sessões de gravação, com a honrosa exceção da belíssima "Sylvia" que só iria ser lançada no ano seguinte, no disco "Elvis Now". A palavra "restos" deve ser entendida em termos de comparação, pois apesar de "Love Letters" possuir algumas ótimas músicas, se formos compará-lo com "Elvis Country" ou "That´s The Way It Is" chegaremos a conclusão que ele é realmente meio fraquinho em termos de qualidade. Agora, prestem atenção no título do álbum. Quem o comprava esperava ouvir um disco só de baladas de Elvis, mas não se enganem. O repertório se mostra muito mais eclético, pois entre suas faixas podemos facilmente encontrar rocks, country, baladas e até mesmo um gospel! Vai entender a RCA!!!
Love Letters (E. Heyman / V. Young) - Essa linda balada que dá nome ao disco é na verdade uma regravação, visto que, Elvis a havia gravado em 1966. Quando lançada na época alcançou o 19º lugar. Iria ser bastante executada em shows durante o ano de 1976. A versão original de "Love Letters" foi gravada em 1945 e foi composta como tema de um filme estrelado por Joseph Cotten e Jennifer Jones. As duas versões são excelentes, tanto essa como a de 1966. A diferença é que na versão da década de 70 a voz de Elvis está bem mais forte, com entonações diferentes da versão anterior, em que sua voz está bem mais suave, quase murmurando as palavras. Escolha sua favorita!
When I'm Over You (S. Milete) - S. Milete escreveu três músicas que foram gravadas por Elvis em 1970: "When I´m Over You", "It´s Your Baby You Rock It" e finalmente "Life". Essa é a pior das três. A música não decola, tem um ritmo arrastado e definitivamente não deveria ter sido gravada. Vale ressaltar que apesar de não ser boa, a voz de Elvis está impecável e os músicos ótimos. Esse country insosso é um claro sinal de uma situação que já ocorrera na década de 60: falta de material de qualidade. É por essas e outras que digo que esse álbum foi comprometido em termos de qualidade pelo pessoal da RCA.
If I Were You (G. Nelson) - Outro country fraquinho que é burocrático ao extremo e ainda contém uma letra estúpida dizendo: "Se eu fosse você eu sei que que eu me amaria." O autor aqui tentou dar uma de poeta, mas falhou miseravelmente. É interessante notar que materiais fracos como esse foram gravados na mesma sessão em que foram produzidas músicas como "Brigde Over Trouble Water", "You Don´t Have To Say You Love Me", entre outros clássicos! Talvez Elvis ao gravar canções como essa só estivesse tentando agradar a Hill and Range, companhia responsável por fornecer material. Enquanto grandes compositores como John Lennon, Bob Dylan e outros achariam um privilégio em Elvis gravar suas músicas, ele se punha a gravar coisas assim!
Got My Mojo Working / Keep Your Hands Off Of It (P. Faster / E. Presley) - Malicioso e sujo, esse excelente rock, originalmente gravado por Muddy Waters, é na verdade uma Jam Session e claramente não havia sido gravado com intenção de ser lançado oficialmente. Sua versão completa possui mais de 5 minutos, porém foi editada pelo palavreado um tanto inadequado usado por Elvis no começo da canção. Caso excepcional de um feliz casamento entre a música de estúdio e os instrumentos acrescentados por Felton Jarvis posteriormente, que deixaram a música mais cheia. Elvis ainda a mistura em alguns momentos com "Keep Your Hands Off Of It", música que podemos vê-lo ensaiando na Alemanha em 1959, quando ainda estava servindo o exército americano.
Heart Of Rome (Stephens / Blaikley / Howard) - Um dos pontos altos do disco, essa canção possui fabulosa melodia e a voz de Elvis está fantástica. A letra é bem piegas, é verdade, mas tirando esse detalhe é um verdadeiro prazer sem culpas. Claro que é estranho o descendente de escocês Elvis cantando uma música que menciona Roma, mas avaliando a discografia de Elvis ("It´s Now Or Never", "You Don´t Have To Say You Love Me", "Surrender", etc) não é de se surpreender ouvir Elvis se aproximando musicalmente mais uma vez da Itália. Tem uma versão engraçada no bootleg "The Brighest Sar On Sunset Boulevard vol 2" onde Elvis literalmente avacalha a música, metendo palavrões e um grito hilário bem no meio da música. Divertidíssima!!! A versão oficial, por sua vez, foi lançada como lado B de "I´m Leaving", o que como sabemos era sentença de morte para uma música de Elvis na década de 70 e significava chances nulas de entrar para as paradas.
Only Believe (P. Rader) - Os discos de Elvis são uma verdadeira salada musical de gêneros e refletem seu gosto musical eclético e sua preocupação zero em seguir só um estilo. Eis que depois de balada, countries e rock surge um gospel!!! Lançado no lado B de "Life", para promover o álbum esse gospel ganhou algumas versões ao vivo em 1971 e possui uma melodia meio esquisita, puxando algumas vezes para o Blues, outras vezes para o R&B e ensaiando uma proposital desafinada no seu final. Diferente de tudo que Elvis gravou, mas, na minha opinião um pouco abaixo da média.
This Is Our Dance (L. Reed / G. Stephens) - De longe uma das piores músicas de Elvis na década de 70, ao lado de "Take Good Care of Her". Aqui quase nada se salva, o ritmo é lerdo, a letra chatinha e não achando pouco, Felton Jarvis incluiu desnecessários violinos o que catapultou a música para um baile brega dos anos 40, o que em um disco de Elvis não é muito bom. Se possível pulem essa, pois não acrescenta em nada na discografia de Elvis e baixa consideravelmente o nível do disco.
Cindy, Cindy (Kaye / Weisman / Fuller) - Esse rock não ter sido lançado como single é um crime! Uma pena, pois é um típico rock de Elvis da década de 70 com um solo de arrebentar de James Burton (tem uma versão do "Essential Elvis vol.4" que tem dois solos), a banda detonando e o segredo de todo bom rock: ritmo bom, acelerado e um vocal poderoso do vocalista. Aqui Elvis dá um show. Sua voz ainda estava com a aspereza (no bom sentido) dos anos de 68 e 69. "Cindy, Cindy" já havia sido gravada diversas vezes com nomes e letras diferentes. Ricky Nelson, por exemplo, a gravou sob o nome de "Get Along Home Cindy" em 59 e Teddy Van também a gravou com o título de "Cindy". A letra foi reescrita por Ben Weisman, Florence Kaye e Dollores Fuller, três compositores de Elvis que escreveram para ele bastante na década de 60. De longe a melhor música do disco inteiro.
I'll Never Know (Karget / Wayne / Weisman) - Música escrita por Ben Weisman, que escreveu para Elvis mais de 50 músicas! Essa balada bonitinha lembra muito as musiquinhas inocentes dos filmes dos anos 60. A diferença em relação a essas fica a critério da voz de Elvis, bem mais madura e da instrumentação com violinos. Tudo utilizado por Felton Jarvis, o que não acontecia nas trilhas, que optavam por um arranjo bem básico. Não entra na lista das melhores de Elvis, mas é bem melhor do que outras músicas do disco.
It Ain't Big Thing (But is Crowing) (Merrit / Joy / Hall) - Essa canção é definitivamente, junto com "Just Call Me Lonesome", a música mais fiel ao estilo country gravada por Elvis. O porquê de não ter sido incluída no "Elvis Country" é um mistério. Algumas semanas depois da sessão de gravação em junho de 1970 ela estaria nas paradas na voz de Tex Williams. James Burton aqui capricha nos seu solo. Particularmente acho a música bem chatinha e meio deslocada no álbum.
Life (S. Milete) - Essa canção é única na carreira de Elvis, tanto pelo tema, falando da origem da vida(!), tanto pelo arranjo, que aqui sim ficou de primeira, principalmente na parte final da música, diferente de tudo que você já ouviu na voz de Elvis. Jarvis aqui acertou em cheio. No versos finais, a música acaba revelando ser uma balada. Muito bem escrita é a melhor das três músicas de S. Milete que Elvis gravou em 1970 e fecha o álbum com chave de ouro. Porém o público não aceitou essa simpática alienígena no mundo de Elvis e quando lançada como single para promover o álbum não ultrapassou a medíocre 53º posição, não tendo sido nem lançada na Inglaterra. Uma pena.
Em suma: "Love Letters From Elvis" é um álbum razoável de Elvis, que alterna excelentes momentos com outros bem medíocres e é bem inferior a seus antecessores "Elvis Country" e "That's The Way It Is". Os produtores também tiveram sua parcela de culpa no quase esquecimento desse álbum com o passar dos anos, apesar de sua posição não ter sido ruim, pois lançaram músicas fracas nos singles, deixando de fora pérolas como "Cindy, Cindy". Além disso o seu título dava a entender que era um álbum exclusivo de baladas, quando é um dos mais mistos, em termos de estilos musicais, de toda a carreira de Elvis Presley.
Pablo Aluísio e Victor Alves.
Como se isso não bastasse Elvis também caiu na estrada e realizou uma puxada maratona de apresentações em várias cidades, sendo que sua turnê em novembro ficou particularmente conhecida pelos fãs pela qualidade dos shows realizados. Mas isso ainda não foi tudo em sua vida artística, pois como sempre fazia nos anos 70, Elvis ainda realizou duas de suas habituais temporadas em Las Vegas. Mesmo esgotado física e emocionalmente, Elvis acabou aceitando a sugestão de Tom Parker para cumprir uma temporada extra em Lake Tahoe. Para Parker era interessante manter Elvis mergulhado numa infinidade de obrigações, pois isso iria manter a mente do cantor ocupada e produtiva. O Coronel, depois de tantos anos ao lado de Elvis, sabia que quando ele ficava muito tempo em ócio, sem ter o que fazer, mergulhava em depressão ou então se metia em alguma confusão tola. Parker sempre dizia o velho ditado inglês para Elvis: "Cabeça vazia, instrumento do diabo!". Além dos desafios impostos, o Coronel obviamente via o elevado potencial comercial do grande número de shows realizados.
Financeiramente 1971 foi um dos melhores anos da carreira de Elvis. Os lucros iriam finalmente equilibrar suas contas pessoais e de sua empresa. Era uma via de mão dupla que deixava todos satisfeitos: Elvis ficava feliz por estar trabalhando com agenda cheia e o Coronel Parker ficava igualmente contente em ver as verdinhas entrando em abundância. Mas se Elvis estava em uma ótima fase profissional, sua vida pessoal não ia pelo mesmo caminho. Apesar de estar se sentindo novamente valorizado e reconhecido como artista nesse período, 1971 não foi só um ano de glórias na vida do Rei do Rock. Esse também foi o ano em que seu relacionamento com Priscilla afundou de vez. Embora Priscilla só tenha pedido o divórcio e se separado do marido em 1972, nessa época ela já tinha chegado à conclusão de que seu casamento estava irremediavelmente arruinado.
Vivendo vidas separadas, Elvis ficava louco se tivesse que ficar mais de uma semana ao lado de sua esposa. Não havia mais carinho ou envolvimento. O que era prazer e alegria para Elvis antes em seu casamento, agora havia se transformado em obrigações, brigas e aborrecimentos. Embora infeliz em sua vida conjugal Elvis não estava disposto a tomar a iniciativa de um rompimento definitivo ou de uma conversa franca que colocasse todos os problemas em panos limpos. Tentava administrar a eterna crise conjugal com Priscilla com atitudes paliativas, viajando muito, dando desculpas para não passar muito tempo ao lado dela e o pior de tudo: procurando em outras mulheres o que não conseguia mais encontrar em sua esposa. Priscilla também resolveu seguir o mesmo caminho e logo estava de romance sério com Mike Stone, seu instrutor de caratê.
Depois de tentar solucionar seus problemas conjugais Priscilla finalmente entendeu que Elvis nunca seria fiel em seu matrimônio, nunca iria se tornar um pai presente e provavelmente nunca iria assumir todas as consequências ruins que invariavelmente surgem em um relacionamento adulto. Elvis ainda queria levar uma vida de mulherengo inconsequente, aprontando nas turnês ao lado de seus amigos. Na visão de Priscilla, Elvis se recusava a deixar sua postura adolescente de ser, uma atitude que diga-se de passagem em nada ajudava no projeto de salvamento de suas vidas em comum. Sem comunicação, com duas pessoas tentando levar vidas tão diferentes, não haveria outro rumo a tomar. O fim era inevitável, pois naquele momento o casamento havia se transformado apenas em uma fachada mesmo, uma paródia infeliz de um sonho não realizado. E tanto Elvis como Priscilla sabiam muito bem disso, embora continuassem a manter as aparências externas. Em conversas mais íntimas com seus amigos mais chegados Elvis revelava extrema decepção, angústia e sentimento de culpa pelo fracasso de seu casamento. Durante anos ele idealizou em Priscilla a mulher perfeita, a jovem correta e linda que iria ficar ao seu lado para sempre.
Durante anos ele preservou Priscilla ao seu lado, em um romance muitas vezes puramente platônico (pelo menos no aspecto sexual), e viu nela um modelo de mulher em que ele poderia confiar: leal, correta e pura. Depois do casamento tudo foi por água abaixo. O que era idealização romântica logo se tornou decepção com a realidade cotidiana de um matrimônio muitas vezes marcado pela indiferença e pela falta de diálogo. Talvez o grande problema para Elvis tenha sido a formulação em sua cabeça dessa imagem irreal de Priscilla por tantos anos. Quando se casou e a realidade bateu à porta, Elvis se sentiu frustrado e decepcionado com o que encontrou. Não poderia ter acontecido diferente, diga-se de passagem.
Sem encontrar aspectos positivos em sua vida pessoal, Elvis se voltou com todas as forças para sua vida profissional. Não que a RCA ajudasse muito nesse campo, pois ocasionado por infelizes escolhas da gravadora, os singles de Elvis testemunharam uma queda nas paradas, tendo sua melhor posição alcançada com "Rag to Riches", um mero e tímido 33º lugar. Lançado em junho de 1971 e sendo um dos discos de estúdio menos conhecidos de Elvis, "Love Letters", seguiu um caminho parecido, pois também não alcançou uma grande repercussão em vendas (33ª posição nos EUA), embora na Inglaterra tenha atingido um excelente 7º lugar. O álbum trazia canções que estavam arquivadas há mais de um ano nos estúdios da RCA em Nashville, pois grande parte desse material havia sido gravado em junho de 1970. De uma certa forma o disco criado por Felton Jarvis foi uma forma de aproveitar todos os "restos" dessas famosas sessões de gravação, com a honrosa exceção da belíssima "Sylvia" que só iria ser lançada no ano seguinte, no disco "Elvis Now". A palavra "restos" deve ser entendida em termos de comparação, pois apesar de "Love Letters" possuir algumas ótimas músicas, se formos compará-lo com "Elvis Country" ou "That´s The Way It Is" chegaremos a conclusão que ele é realmente meio fraquinho em termos de qualidade. Agora, prestem atenção no título do álbum. Quem o comprava esperava ouvir um disco só de baladas de Elvis, mas não se enganem. O repertório se mostra muito mais eclético, pois entre suas faixas podemos facilmente encontrar rocks, country, baladas e até mesmo um gospel! Vai entender a RCA!!!
Love Letters (E. Heyman / V. Young) - Essa linda balada que dá nome ao disco é na verdade uma regravação, visto que, Elvis a havia gravado em 1966. Quando lançada na época alcançou o 19º lugar. Iria ser bastante executada em shows durante o ano de 1976. A versão original de "Love Letters" foi gravada em 1945 e foi composta como tema de um filme estrelado por Joseph Cotten e Jennifer Jones. As duas versões são excelentes, tanto essa como a de 1966. A diferença é que na versão da década de 70 a voz de Elvis está bem mais forte, com entonações diferentes da versão anterior, em que sua voz está bem mais suave, quase murmurando as palavras. Escolha sua favorita!
When I'm Over You (S. Milete) - S. Milete escreveu três músicas que foram gravadas por Elvis em 1970: "When I´m Over You", "It´s Your Baby You Rock It" e finalmente "Life". Essa é a pior das três. A música não decola, tem um ritmo arrastado e definitivamente não deveria ter sido gravada. Vale ressaltar que apesar de não ser boa, a voz de Elvis está impecável e os músicos ótimos. Esse country insosso é um claro sinal de uma situação que já ocorrera na década de 60: falta de material de qualidade. É por essas e outras que digo que esse álbum foi comprometido em termos de qualidade pelo pessoal da RCA.
If I Were You (G. Nelson) - Outro country fraquinho que é burocrático ao extremo e ainda contém uma letra estúpida dizendo: "Se eu fosse você eu sei que que eu me amaria." O autor aqui tentou dar uma de poeta, mas falhou miseravelmente. É interessante notar que materiais fracos como esse foram gravados na mesma sessão em que foram produzidas músicas como "Brigde Over Trouble Water", "You Don´t Have To Say You Love Me", entre outros clássicos! Talvez Elvis ao gravar canções como essa só estivesse tentando agradar a Hill and Range, companhia responsável por fornecer material. Enquanto grandes compositores como John Lennon, Bob Dylan e outros achariam um privilégio em Elvis gravar suas músicas, ele se punha a gravar coisas assim!
Got My Mojo Working / Keep Your Hands Off Of It (P. Faster / E. Presley) - Malicioso e sujo, esse excelente rock, originalmente gravado por Muddy Waters, é na verdade uma Jam Session e claramente não havia sido gravado com intenção de ser lançado oficialmente. Sua versão completa possui mais de 5 minutos, porém foi editada pelo palavreado um tanto inadequado usado por Elvis no começo da canção. Caso excepcional de um feliz casamento entre a música de estúdio e os instrumentos acrescentados por Felton Jarvis posteriormente, que deixaram a música mais cheia. Elvis ainda a mistura em alguns momentos com "Keep Your Hands Off Of It", música que podemos vê-lo ensaiando na Alemanha em 1959, quando ainda estava servindo o exército americano.
Heart Of Rome (Stephens / Blaikley / Howard) - Um dos pontos altos do disco, essa canção possui fabulosa melodia e a voz de Elvis está fantástica. A letra é bem piegas, é verdade, mas tirando esse detalhe é um verdadeiro prazer sem culpas. Claro que é estranho o descendente de escocês Elvis cantando uma música que menciona Roma, mas avaliando a discografia de Elvis ("It´s Now Or Never", "You Don´t Have To Say You Love Me", "Surrender", etc) não é de se surpreender ouvir Elvis se aproximando musicalmente mais uma vez da Itália. Tem uma versão engraçada no bootleg "The Brighest Sar On Sunset Boulevard vol 2" onde Elvis literalmente avacalha a música, metendo palavrões e um grito hilário bem no meio da música. Divertidíssima!!! A versão oficial, por sua vez, foi lançada como lado B de "I´m Leaving", o que como sabemos era sentença de morte para uma música de Elvis na década de 70 e significava chances nulas de entrar para as paradas.
Only Believe (P. Rader) - Os discos de Elvis são uma verdadeira salada musical de gêneros e refletem seu gosto musical eclético e sua preocupação zero em seguir só um estilo. Eis que depois de balada, countries e rock surge um gospel!!! Lançado no lado B de "Life", para promover o álbum esse gospel ganhou algumas versões ao vivo em 1971 e possui uma melodia meio esquisita, puxando algumas vezes para o Blues, outras vezes para o R&B e ensaiando uma proposital desafinada no seu final. Diferente de tudo que Elvis gravou, mas, na minha opinião um pouco abaixo da média.
This Is Our Dance (L. Reed / G. Stephens) - De longe uma das piores músicas de Elvis na década de 70, ao lado de "Take Good Care of Her". Aqui quase nada se salva, o ritmo é lerdo, a letra chatinha e não achando pouco, Felton Jarvis incluiu desnecessários violinos o que catapultou a música para um baile brega dos anos 40, o que em um disco de Elvis não é muito bom. Se possível pulem essa, pois não acrescenta em nada na discografia de Elvis e baixa consideravelmente o nível do disco.
Cindy, Cindy (Kaye / Weisman / Fuller) - Esse rock não ter sido lançado como single é um crime! Uma pena, pois é um típico rock de Elvis da década de 70 com um solo de arrebentar de James Burton (tem uma versão do "Essential Elvis vol.4" que tem dois solos), a banda detonando e o segredo de todo bom rock: ritmo bom, acelerado e um vocal poderoso do vocalista. Aqui Elvis dá um show. Sua voz ainda estava com a aspereza (no bom sentido) dos anos de 68 e 69. "Cindy, Cindy" já havia sido gravada diversas vezes com nomes e letras diferentes. Ricky Nelson, por exemplo, a gravou sob o nome de "Get Along Home Cindy" em 59 e Teddy Van também a gravou com o título de "Cindy". A letra foi reescrita por Ben Weisman, Florence Kaye e Dollores Fuller, três compositores de Elvis que escreveram para ele bastante na década de 60. De longe a melhor música do disco inteiro.
I'll Never Know (Karget / Wayne / Weisman) - Música escrita por Ben Weisman, que escreveu para Elvis mais de 50 músicas! Essa balada bonitinha lembra muito as musiquinhas inocentes dos filmes dos anos 60. A diferença em relação a essas fica a critério da voz de Elvis, bem mais madura e da instrumentação com violinos. Tudo utilizado por Felton Jarvis, o que não acontecia nas trilhas, que optavam por um arranjo bem básico. Não entra na lista das melhores de Elvis, mas é bem melhor do que outras músicas do disco.
It Ain't Big Thing (But is Crowing) (Merrit / Joy / Hall) - Essa canção é definitivamente, junto com "Just Call Me Lonesome", a música mais fiel ao estilo country gravada por Elvis. O porquê de não ter sido incluída no "Elvis Country" é um mistério. Algumas semanas depois da sessão de gravação em junho de 1970 ela estaria nas paradas na voz de Tex Williams. James Burton aqui capricha nos seu solo. Particularmente acho a música bem chatinha e meio deslocada no álbum.
Life (S. Milete) - Essa canção é única na carreira de Elvis, tanto pelo tema, falando da origem da vida(!), tanto pelo arranjo, que aqui sim ficou de primeira, principalmente na parte final da música, diferente de tudo que você já ouviu na voz de Elvis. Jarvis aqui acertou em cheio. No versos finais, a música acaba revelando ser uma balada. Muito bem escrita é a melhor das três músicas de S. Milete que Elvis gravou em 1970 e fecha o álbum com chave de ouro. Porém o público não aceitou essa simpática alienígena no mundo de Elvis e quando lançada como single para promover o álbum não ultrapassou a medíocre 53º posição, não tendo sido nem lançada na Inglaterra. Uma pena.
Em suma: "Love Letters From Elvis" é um álbum razoável de Elvis, que alterna excelentes momentos com outros bem medíocres e é bem inferior a seus antecessores "Elvis Country" e "That's The Way It Is". Os produtores também tiveram sua parcela de culpa no quase esquecimento desse álbum com o passar dos anos, apesar de sua posição não ter sido ruim, pois lançaram músicas fracas nos singles, deixando de fora pérolas como "Cindy, Cindy". Além disso o seu título dava a entender que era um álbum exclusivo de baladas, quando é um dos mais mistos, em termos de estilos musicais, de toda a carreira de Elvis Presley.
Pablo Aluísio e Victor Alves.
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