sábado, 10 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 20

Priscilla Presley resumiu toda a situação em seu livro “Elvis e Eu”. Na sua autobiografia ela escreveu: “Por volta de 1976 todos estavam alarmados com seu estado mental, além da aparência física. O rosto estava inchado, o corpo anormalmente pesado. Quanto mais as pessoas tentavam lhe falar a respeito, mais ele insistia que estava tudo bem. O Coronel estava preocupado até mesmo com as ações de Elvis no palco. Elvis começava a esquecer as letras e a recorrer às partituras. Comportava-se de maneira imprevista, ignorando a audiência e se apresentando apenas para a banda. Alguns shows foram cancelados e ninguém podia prever se ele apareceria ou não no palco! A classe, o charme e o orgulho que durante os últimos anos havia caracterizado as apresentações ao vivo de Elvis Presley beiravam agora à paródia.

Frustrado pela falta de desafios a cada show que passava, Elvis passou a recorrer à pura exuberância, simbolizada por seus trajes, cada um mais requintado do que o anterior, com uma abundância de pedras falsas, tachas e franjas. Havia capas enormes e cintos incômodos. Ele se apresentava com trajes que acrescentavam quinze quilos a seu peso. Era como se estivesse determinado a conquistar a audiência apenas por sua aparência, em vez de confiar apenas em seu talento! Houve ocasiões, durante o último ano, em que ele foi criticado pela maneira como se relacionava com o publico. Algumas pessoas comentaram que ele gracejava demais com os músicos e não terminava as canções. Um dos rapazes (da máfia de Memphis) disse a Elvis que ele estava se parecendo cada vez mais com Liberace. Sua esperança era de que Elvis compreendesse a insinuação e recuperasse o bom senso, passando a se confiar apenas em seu talento! Mas Elvis insistira desde o início afirmando: 'Só quero ler as críticas positivas. Não quero tomar conhecimento de qualquer comentário negativo!'.

Como adolescente ele fora resguardado das críticas negativas por Gladys. Quando fazia seus álbuns ela só colava os recortes favoráveis. Se não tivesse sido tão protegido, Elvis poderia ter tido uma perspectiva melhor de sua carreira. Pelo menos estaria a par de tudo o que se dizia a seu respeito e talvez usasse alguns comentários de maneira construtiva!”. Elvis realmente preferia fugir das críticas negativas mas Tom Parker fazia questão de ler tudo! E ele estava preocupado com o que estava sendo escrito, tanto que resolveu levar Elvis para longe das grandes cidades, levando o cantor para localidades menores, de preferência no sul do país onde ele tinha sua legião de fãs mais fiéis. Isso não significaria que Elvis deixaria de se apresentar nos grandes centros, nada disso, mas em menor escala do que antes. Nas grandes cidades Elvis era selvagemente atacado pela imprensa após seus concertos. Os críticos não o poupavam e cada mínimo deslize seu virava manchete de jornal no dia seguinte! Para Tom Parker era importante se retirar desses locais até Elvis se recuperar, era necessário preservar sua já tão abalada imagem de desgastes desnecessários. Porém o empresário do cantor percebeu logo que apenas essa estratégia não bastava.

O Coronel Parker viu que era hora de agir, de ter uma conversa franca, de homem para homem, com Elvis! Ele tinha decidido que iria enfrentar o cantor em toda essa situação. Iria falar francamente com ele, expor todos os problemas. Não seria uma tarefa fácil pois Elvis, como bem resumiu Lamar Fike, era "dessa classe de pessoas que não gostam de se defrontar com a realidade. Elvis sempre confiava que desconhecendo os problemas, estes desapareciam!" Mas não desapareceram, pelo contrário, eles aumentaram. Numa noite David Stanley, filho de Dee, a madrasta de Elvis, resolveu perguntar diretamente a ele porque tomava tantos remédios, porque se submetia a uma rotina tão mortificante, tão sinistra e perigosa? Elvis ficou surpreso com a sinceridade de David e resolveu também lhe ser o mais sincero possível. Dar o troco na mesma moeda! Elvis tirou seus óculos lentamente, o encarou e foi de uma sinceridade atroz: "David..." - disse em tom melancólico - "...Prefiro estar inconsciente do que desgraçado!..." O silêncio que se seguiu a essa frase foi absoluto! Não havia mais dúvidas... A tempestade estava próxima...

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 19

No meio de todo esse cochicho começaram a surgir os primeiros boatos. Já em 1972 os hóspedes e funcionários do Hilton comentavam baixinho pelos corredores que o problema principal de Elvis era um vício profundo em cocaína. Não era verdade, mas como ninguém sabia a realidade de seus problemas com remédios, todos chegaram a conclusão que Elvis estava daquele jeito por causa de seu vício na droga. Quando Elvis soube dos boatos explodiu! O cantor era muito sensível em relação à sua imagem. Elvis gritou para os caras da máfia de Memphis: "O que essas pessoas estão pensando? Quem usa drogas são os Beatles e não eu!"

A verdade porém era que antes de estourar com seus capangas, Elvis deveria ter feito uma auto-análise e verificar que seu estado era realmente deplorável. Alguns de seus últimos shows em Las Vegas tinham sido lamentáveis, causando uma repercussão tão negativa que a direção do Hilton chamou Tom Parker para uma reunião a portas fechadas. Naquela ocasião o conselho diretor da cadeia de hotéis comunicou, sem rodeios, a Tom Parker que a partir de agora tudo o que acontecesse nas apresentações de Elvis seria de sua exclusiva responsabilidade! Na realidade a rede deixou subentendido para o empresário que se Elvis não se endireitasse logo, eles muito provavelmente iriam cancelar todas as temporadas futuras do cantor em Las Vegas. A possibilidade de uma rescisão de contrato ficou na mente de todos!

Todos estavam temerosos pelas repercussões e eles tinham que manter a imagem da rede Hilton de qualquer forma. Parker ficou preocupado após essa reunião! A mensagem tinha sido clara. O Coronel ficou inquieto. O que ele iria fazer agora? Mesmo quando Elvis se apresentava bem, as pessoas só conseguiam reparar em sua imagem, em seu incrível aumento de peso! Também pudera, durante vinte anos Elvis Presley foi símbolo de beleza, sua imagem era conhecida nos quatro cantos do mundo! Ele sempre foi considerado pelas fãs como um dos homens mais belos do planeta! De repente ele aparecia muito mal na frente de todas essas pessoas que ainda idolatravam aquela imagem impecável! Só poderia causar um grande choque mesmo! Às vezes, porém, Elvis nem ao menos conseguia fazer um bom concerto, em certos momentos ele realmente mal conseguia cantar as músicas até o final.

Havia muita enrolação e piadas, mas musicalidade não. O pior de tudo é que sua vida na estrada e em Las Vegas era uma verdadeira montanha russa. Numa noite ele poderia cantar muito bem, se apresentar de forma excelente, mesmo estando fora de seu peso, mas poderia muito bem acontecer que na noite seguinte Elvis se apresentasse da pior forma possível, visivelmente alterado pelo abuso de drogas, deixando todos, da banda a platéia, constrangidos com sua presença! Na verdade ninguém poderia ter certeza absoluta do que iria acontecer no palco durante essa fase da vida dele. Era um jogo de dados e isso gerava muito stress e ansiedade em todos os que estavam envolvidos nas excursões. Não é por outra razão que muitos músicos da TCB Band estavam dispostos a deixar Elvis em seus últimos momentos. Além da falta de renovação musical, que os deixavam frustrados como artistas que eram, havia ainda a enorme ansiedade decorrente do que iria acontecer nos shows por causa dos problemas pessoais de Elvis!

Fora isso tinham ainda que lidar com a má remuneração paga por Tom Parker e a desorganização total das agendas de shows, que só eram lhes repassadas em cima da hora, fazendo com que eles perdessem a oportunidade de fazer outros trabalhos com outros artistas em estúdio. Com isso perdiam uma importante fonte de renda extra. Ser um músico da banda de Elvis não estava mais compensando para esses verdadeiros heróis anônimos! Muitos chegaram mesmo a comunicar pessoalmente a Elvis que estavam indo embora e só ficaram porque Elvis resolveu oferecer muito dinheiro para eles, muitas vezes pagando de seu próprio bolso para evitar a debandada. Caso contrário era certo que muitos deles teriam ido embora já em 1975 ou 1976.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 18

Rick Stanley, uma das pessoas mais próximas de Elvis em seus últimos dias de vida, acusou, sem meias palavras, alguns médicos do cantor pela sua morte: “Em troca de receitas, quatro ou cinco médicos ganharam caríssimos presentes de Elvis”. A situação foi de certa forma confirmada por Ulisses Jones, uma das primeiras pessoas que estiveram no local da morte de Elvis para tentar salvar sua vida, pois em sua opinião algo foi deliberadamente mexido no banheiro onde Elvis morreu, escondendo evidências do local da sua morte, sumindo com caixas de remédios que estavam no chão e destruindo provas materiais da cena da morte de Elvis.

Em seu depoimento ele afirmou: “Assim que cheguei no local onde Elvis tinha morrido, vi vários frascos de remédios sobre o lavatório e no chão e imaginei, imediatamente, tratar-se de uma OD (overdose de drogas). Como de praxe pedi para que fossem recolhidos e entregues todos os remédios para as autoridades, mas as caixas de remédios nunca foram parar nas mãos dos policiais que estiveram no banheiro em que Elvis morreu. Alguém sumiu com as evidências, com todas as provas que poderiam ajudar a auxiliar no esclarecimento do que realmente aconteceu!” finalizou Ulisses.

Embora Elvis tratasse todos esses potentes medicamentos como simples caixinhas coloridas, eles estavam na realidade o levando a um caminho sem volta. As drogas foram minando seu organismo de forma gradual. Conforme a dependência ia aumentando os efeitos iam se tornando menos eficazes. Para manter a mesma eficácia Elvis tinha que sempre aumentar a dosagem, chegando ao ponto em que ele começou a andar literalmente no fio da navalha. Imagine o stress: ao mesmo tempo em que manipulava suas autoridades médicas, Elvis tinha que levar adiante sua vida, se apresentar quase todos os dias e ainda manter tudo em segredo. Um dia essa rotina iria levar Elvis ao colapso nervoso. E não deu outra. Durante muitos anos o real estado de Elvis era um segredo mantido a sete chaves pela organização Presley. A imagem de Elvis estava intocada e para o público ele era um exemplo, tanto em sua vida profissional como em sua vida pessoal.

Mas as coisas começaram a ficar complicadas quando Elvis começou a transparecer todos os seus problemas nos palcos, durante suas apresentações ao vivo. Quando Elvis começou a tropeçar na frente do público a imprensa começou a ficar de olho nele pra valer! Embora tivesse uma constituição física de um touro, o organismo de Elvis começou a fraquejar, principalmente a partir de 1974. Seus abusos iriam agora cobrar seu preço e expor Elvis e seus problemas na frente de todos. O Rei estava nu! O cantor começou a esquecer sistematicamente as letras, a se mostrar totalmente sem energia e sem interesse pelas apresentações, a fazer monólogos confusos e sem graça, a criar atritos com membros da banda e a interromper os concertos para se recuperar nos bastidores.

Isso quando ele conseguia entrar no palco, pois em algumas ocasiões ele sequer tinha condições de sair do hotel em que estava hospedado para fazer os concertos. Em Baton Rouge, Louisiana, por exemplo, Elvis nem conseguiu se levantar da cama na hora do show, totalmente prostrado, em narcose profunda! Além disso ele nunca mais iria caminhar para uma renovação em seus concertos, fazendo shows muito semelhantes entre si ao longo dos anos, quase sempre com as mesmas canções habituais tocadas repetidamente, ad nauseam. Cada apresentação sofrível de Elvis fomentava cada vez mais boatos. As pessoas saíam perplexas de suas apresentações, se perguntando o que havia acontecido com ele! Por que Elvis estava tão obeso, tão confuso e tão desnorteado?

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 17

Já que o ser humano Elvis era totalmente preso ao Elvis mito então ele teria que tirar algum proveito dessa situação. Talvez a fama o ajudasse de alguma forma na busca da satisfação de suas necessidades químicas mais urgentes. O fato de ser uma celebridade iria certamente lhe abrir muitas portas! O que importava para Elvis nesse período nebuloso de sua vida era suprir seu vício! Ele não se importava mais, nessa altura dos acontecimentos, com o que as pessoas próximas a ele pensavam de tudo o que estava acontecendo. Enquanto houvesse medicação suficiente para sua satisfação pessoal e enquanto tudo estivesse encoberto de seus fãs e imprensa, para ele tudo estaria bem. Elvis nunca reconheceu para si mesmo que estava perdido, que precisava urgentemente de um tratamento de desintoxicação. Em sua forma de ver as coisas ele era apenas uma pessoa doente que precisava desses remédios para se curar. Ele não se considerava um viciado em drogas, mas sim uma pessoa enferma.

Infelizmente só ele pensava dessa forma. Era fácil perceber que ainda estava na fase de negação. Por essa razão, para continuar firme em sua jornada insana de hedonismo químico travestido de ciclo de auto destruição, Elvis precisaria de alguma ajuda externa e facilmente ele a teria. Para quem dependia de sua fama para viver seria fácil. Em relação e eles Elvis não teria com o que se preocupar. Mas havia também as pessoas que não eram subordinadas diretamente a ele. Para essas a antiga solução ao velho estilo "Tom Parker": muito dinheiro vivo, em cash! Segundo a peça de acusação que foi elaborada contra um dos médicos de Elvis, para contornar essa delicada situação ele simplesmente os comprava de forma indireta. Isso não era uma coisa feita de forma ostensiva, nada disso, era tudo muito bem simulado entre eles. Em troca de presentes caros como carros de alto luxo, por exemplo, os médicos receitavam as drogas que Elvis tanto queria.

Era uma simulação muito bem orquestrada, uma peça de teatro macabra! O cantor simulava estar seriamente doente e os médicos fingiam que ele realmente precisava de uma quantidade absurda de medicamentos e os receitava. Claro que Elvis sofria de alguns problemas de saúde, como glaucoma, lesões no cólon e no aparelho digestivo e depressão, muitos deles agravados inclusive pelo uso abusivo de remédios, mas nada poderia justificar um abuso tão grande de drogas por uma só pessoa! Elvis podia até estar doente, mas não em proporções tão alarmantes que justificassem o uso constante de enormes doses de drogas tão diferentes entre si. A verdade pura e simples é que Elvis havia perdido totalmente o controle da situação, principalmente em meados dos anos 70. As coisas ficaram mais claras em 1981, quando a justiça norte americana provou que só um de seus médicos receitou mais de dezenove mil doses de narcóticos e barbitúricos diversos para Elvis em seus dois últimos anos e meio de vida.

Isso dava uma média de mais ou menos 25 ou 30 diferentes remédios por dia, entre pílulas e injeções! No seu receituário diário havia Quaalude (conhecida como "Wall Banger", que traduzindo significa "Bater a cabeça na parede"), Amytal, Dexedrine, Biphetamine, Percodan, Demerol, Valium, Codeína, Dilaudid, a preferida de Elvis, enfim... uma diversidade absurda e mortal. Foi com base nessas informações que o Dr. Nick, médico particular de Elvis, foi a julgamento no começo dos anos 80. Para os promotores do caso, mesmo correndo o risco de ser investigado um dos médicos não se fez de tímido e prescreveu uma quantidade mais do que excessiva para seu cliente famoso! Em troca Elvis comprou uma casa para ele no valor de 350 mil dólares, deu carros importados e financiou um centro clínico no valor de 5.5 milhões de dólares. Como se isso não bastasse, ainda investiu em negócios de seu médico particular, como a construção de um complexo esportivo!

Mas isso era apenas uma peça dentro do complexo mosaico de médicos fornecedores de que Elvis se utilizava. Não raro ele pegava seu avião e atravessava o país em busca de uma nova fonte de medicamentos, pois a anterior já havia se esgotado. Todos esses fatos só servem para termos uma idéia de como era grave o estado de Elvis Presley em seus últimos meses de vida! No final das contas, apesar da promotoria ter demonstrado com amplo material probatório a má fé do médico em receitar tantos remédios em troca de favores, um dos médicos foi inocentado na esfera penal alegando que as drogas eram consumidas por todo o pessoal envolvido nas turnês e não apenas por Elvis, fato que foi negado por vários membros da máfia de Memphis e da própria banda do cantor. Lamar Fike afirmou: "Eu nunca tomaria coisas como Demerol ou Quaalude na minha vida!" Já Red West foi mais incisivo e disse depois do julgamento: "Aquilo foi o médico que inventou uma história sem pé, nem cabeça! Eu não sou e nunca fui um usuário desse tipo de substância, se quiserem me submeto até a exames para provar o que digo!".

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 16

Ninguém queria se indispor com alguém que, no fim das contas, era o único meio de renda e sobrevivência deles. Vernon vivia às custas de Elvis há muitos anos e por isso não tinha a independência necessária para confrontá-lo. Parker era um sanguessuga astuto que vivera toda a vida explorando ao máximo o talento de Elvis. Que moral tinham essas pessoas para confrontar Elvis? Com seus amigos e amores a coisa era bem pior. Os caras da Máfia de Memphis eram uns inúteis que ganhavam apenas para serem “amigos” de Elvis. Como Parker bem resumiu, a vida deles se limitava a simplesmente puxar o saco do cantor e nada mais. E as garotas que Elvis se relacionava na época eram, na maioria das vezes, bonecas vazias de beleza. A última mulher com inteligência que passou na sua vida, aquela que poderia exercer alguma força, Linda, estava fora do jogo.

Havia várias garotas que eram rainhas da beleza ao seu redor mas era só. Segundo algumas pessoas mais próximas a Elvis elas nunca gostaram de Elvis de verdade. Não raras vezes, quando Elvis afundava em torpor químico, muitas simplesmente se levantavam e iam embora, dormir em suas casas. No fundo as garotas apenas queriam ganhar seu naco do tesouro real e quem sabe garantir seu futuro. Para muitos as beldades nunca demonstraram carinho verdadeiro por Elvis, que na época era, em resumo, apenas um homem muito mais velho do que elas, com sérios problemas pessoais e de saúde. Elvis percebeu a situação e tentou ganhar (ou melhor comprar) seus afetos mas nunca conseguiu. Tudo soava falso.

De vez em quando Elvis as presenteava com um anel de diamantes. A beldade aceitava, mas não mudava sua conduta em relação a ele. Ficava esperando por outro mimo. Um dos membros da Máfia de Memphis resumiu tudo: “Nenhuma daquelas jovens garotas amava Elvis de verdade, isso era até óbvio para todos. Em seu estado elas não queriam ficar ao lado dele, na verdade ninguém queria, ninguém queria presenciar aquele tipo de situação, era muito triste!”. O próprio Elvis também não aceitava qualquer sugestão de que estaria precisando de ajuda. Ele encarava os remédios apenas como um meio de superar problemas de saúde que ele imaginava ter. Não se pode negar que de fato Elvis sofria de vários problemas e que eles foram indiretamente os responsáveis por seu vício, mas o fato é que a partir do momento em que se percebe que há um problema de dependência química é hora de procurar por ajuda médica e psicológica urgentemente. Elvis porém se recusava a pensar dessa forma e agia com extrema raiva com quem sugerisse algo nesse sentido.

Nesse quadro tenebroso Elvis ficou sozinho. De um lado seus fãs mais abobados que simplesmente o endeusavam e esqueciam (ou preferiam ignorar) que ele era antes de tudo um ser humano com um sério problema particular. Ficar aplaudindo com os olhos arregalados e o sorriso escancarado não iria lhe ajudar em nada! Do outro lado a coisa era bem pior, pois a imprensa marrom estava sempre massacrando Elvis. As manchetes, principalmente dos jornais das grandes cidades, praticamente versavam sobre os mesmos assuntos quando queriam atacar o cantor: "Elvis aos 40, apavorado por ter perdido seu sex appeal!", "A misteriosa doença de Elvis Presley!", "Elvis: lenda decadente em sua própria era?", "Um Elvis sem inspiração satisfaz Vegas!" ou então "Elvis, gorducho e preguiçoso, se apresenta no Los Angeles Forum". Em sua vida reclusa Elvis se recusava a ler críticas negativas, mas algumas escapavam e ele tomava conhecimento. Nesses momentos tinha acessos de fúria, dando tiros para o alto!

Nesse jogo de empurra empurra não havia sobrado ninguém para tirar Elvis dessa situação deprimente, nenhum amigo, nenhuma amante, nenhum parente que lhe dissesse numa conversa franca: "Elvis, você está totalmente dependente de seu vício em drogas, chegou a hora de lhe ajudar, vamos internar você em uma clínica para que você se recupere dessa fase em que entrou. Vamos lhe ajudar!" Como essa mão amiga nunca surgiu porque todos resolveram lavar mesmo suas próprias mãos, Elvis simplesmente foi afundando cada vez mais... sozinho em seu drama pessoal...

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 15

Como todas essas drogas não eram vendidas em farmácias normais Elvis começou a pesquisar em livros e guias médicos algum tipo de substância que poderia servir como substituta daquelas que eram privativas do exército americano. Foi assim que começou um de seus maiores hobbies: ler e pesquisar sobre remédios novos no mercado. Durante anos Elvis brincou de tomar drogas, muitas vezes se auto medicando, usando um guia de remédios disponíveis no mercado escrito para leigos em medicina. Este livro acabou se tornando sua leitura preferida depois da Bíblia. Elvis estava sempre querendo conhecer as novas drogas, experimentá-las e sentir seus efeitos. Muitos desses medicamentos eram produtos químicos fortíssimos que causavam forte dependência, quando não receitadas de forma adequada por médicos ou usado para combater doenças para as quais eram prescritos. Muitos deles também só podiam ser comprados por receita médica, o que fazia com que Elvis sempre procurasse travar amizade com o maior número de médicos que pudesse. Até porque ninguém saberia ao certo quando ele precisaria deles. Por essa época Elvis começou a incluir em sua lista de assalariados vários doutores de Memphis e de outras regiões. Nunca se sabia ao certo quando ele precisaria da próxima dose. Precavido, Elvis começou a prezar da companhia desses profissionais e de vez em quando jogava um carro zero KM nas mãos deles.

Todos esses profissionais de saúde sabiam que estavam na presença de uma pessoa com sérios problemas com drogas e que todos os presentes dados por Elvis só tinha um objetivo: facilitar o acesso, o caminho para a aquisição dessas substâncias. Com uma receita prescrita nas mãos, Elvis teria sinal verde para saciar seu vício, que agora o estava consumindo totalmente, dia e noite. Conforme a dependência de Elvis ia atingindo níveis absurdos, os próprios médicos começaram a temer pela excessiva quantidade de comprimidos receitados. Para driblar uma possível investigação policial, os médicos de Elvis começaram a receitar as drogas em nomes de terceiros, para algum membro da máfia de Memphis ou então até mesmo para parentes dele. Não era raro haver um frasco de remédios no criado mudo de Elvis, com os nomes de Red e Sonny West ou até mesmo de Lisa Marie na caixa de drogas. Nos frascos era possível se ler: “Droga rigorosamente controlada, seguindo normas federais de saúde, com venda permitida apenas sob prescrição médica” e abaixo: “Droga prescrita para Lisa Marie Presley”.

Apesar dos nomes diversos, toda o estoque químico era consumido apenas por uma só pessoa: Elvis. Os demais, citados nas embalagens, muitas vezes, até ignoravam a existência desses remédios. Era uma farsa macabra. Os médicos sabiam que Elvis tinha problemas de dependência, mas faziam vista grossa, principalmente se estivessem com uma Mercedes recém dada de presente por ele, estacionada na entrada de seus consultórios. Qualquer estudante de medicina do 1º ano de curso sabe reconhecer um dependente: olhos vermelhos e lacrimejantes, olhar vidrado, conversação desconexa, desinteresse pela vida pessoal, confusão mental. Para um viciado tudo o que importa é a próxima dose. Nem a família, nem o trabalho, nem questões particulares, nada mais lhe despertava interesse. Aos poucos os seus freios morais e éticos foram sendo perdidos no labirinto químico em que se afundara. Elvis sabia que as pessoas ao seu redor conheciam o seu real estado de forte dependência química. Mas para superar e abafar tudo, ele se utilizava de dois artifícios: a sua autoridade pessoal e o seu poder financeiro.

Muitos hoje afirmam que Elvis teria que sofrer uma interdição pessoal, uma intervenção da família para, de forma forçada, se internar em uma clínica de recuperação. Com isso teriam salvado sua vida. Para os defensores dessa teoria Elvis morreu também por omissão de seus parentes e amigos, que nada fizeram para reverter seu quadro lastimável. Mas isso era muito improvável nos anos 1970. Na época isso nem era comum e ninguém tinha força moral para liderar uma coisa dessas! Para aqueles que viviam às suas custas, era muito complicado iniciar qualquer forma de censura ou interdição pessoal em relação a Elvis Presley. Mesmo as pessoas mais influentes na vida dele, como o seu pai Vernon e o Coronel Parker, só conseguiam ir até um certo limite.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 14

Elvis à Venda Sob Prescrição Médica - O homem Elvis era agora mais do que nunca prisioneiro do Elvis mito. Sem oportunidade de crescer e evoluir como um ser humano normal, Elvis se via no meio de um cabo de guerra entre a imprensa e seus fãs mais exaltados. A primeira sempre estava aumentando consideravelmente qualquer deslize ou acontecimento negativo em sua vida e os fãs também pecavam, mas pelo lado oposto, pois estavam convencidos de que Elvis não seria capaz de fazer nenhum ato condenável ou censurável. Afinal, onde estava o tal falado equilíbrio que Elvis tanto tinha procurado em suas leituras de religiões orientais? O cantor nem mais sabia quem era de verdade, um ser humano real ou a capa de seu último disco? A perda de contato com a realidade foi o primeiro sinal de que Elvis estava entrando de vez num labirinto de verdades e mentiras do qual não conseguiria mais sair. Nem queria ser massacrado e nem muito menos ser endeusado por fãs que não tinham o menor conhecimento do que ele passava em sua vida íntima. Toda aquela história de rei pra lá, rei pra cá, já tinha lhe esgotado a paciência. Em um dos shows Elvis já havia inclusive chegado a se indispor pessoalmente com um grupo de fãs que havia estendido uma grande faixa o chamando de Rei. Elvis parou a música, olhou para aquilo e disse em tom de censura: “O único Rei que conheço é Jesus Cristo!”. As fãs ficaram tão sem graça que recolheram a faixa no mesmo minuto. Todos queriam que ele fosse perfeito e Elvis sabia que não era nada disso!

Ele tinha problemas e muitos! Seu maior problema agora era a forte dependência de medicamentos a que estava preso. Os primeiros remédios que tomou foram receitados ainda na adolescência para que ele superasse um velho mal que sempre o acompanhara ao longo da vida: a insônia contumaz. Os Presley eram caipiras e achavam que o fato de Elvis não dormir mais do que uma ou duas horas por noite era natural, seria uma característica normal que Elvis herdara de seus parentes paternos e que não haveria nada a fazer sobre isso. Ele teria que se acostumar com a situação e se adaptar a ela, segundo Gladys. Mas Elvis não agüentava mais ficar a noite em claro e passar o dia seguinte sentindo-se exausto e sem energia para nada. Foi por essa razão que numa manhã, antes das aulas começarem, ele próprio resolveu procurar o médico do colégio em que estudava para pedir ajuda, talvez o Doutor pudesse lhe receitar algo que o fizesse dormir melhor durante à noite. Depois desses primeiros comprimidos receitados e de seus efeitos mais do que satisfatórios, ele se convenceu que a solução de todos os seus problemas poderia ser encontrada numa simples pílula.

Pouco tempo depois Elvis foi ficando cada vez mais confortável com a situação de ele mesmo tomar as pílulas que achava que lhe seriam úteis e necessárias. O consumo desses remédios agora seria parte de sua vida até os seus últimos dias. Durante seus anos na estrada, nos anos 50, Elvis acabou sendo apresentado a outras drogas, principalmente aquelas que eram populares entre os músicos. Havia muitos estimulantes para esses profissionais segurarem o pique durante os shows e inibidores de apetite entre as excursões, pois essas eram as drogas populares entre os artistas que faziam as famosas turnês de Hank Snow. Durante uma dessas noites Elvis sentiu-se mal após tomar um milk shake estragado e ficou com receio de fazer a apresentação nessas circunstâncias, foi nesse momento que um músico da banda de Slim Whitman lhe deu um estimulante para que ele se apresentasse bem. O mal estar desapareceu rapidamente e logo após tomar o remédio Elvis sentiu-se ótimo, maravilhoso! Não tardou para ele resolver adotar o uso desse comprimido também, principalmente quando ficasse muito tempo longe de casa, na estrada, durante as jamborees.

Tomar esse tipo de droga para Elvis era complicado, pois ele não conseguia dormir direito nem se estivesse sem tomar nenhum estimulante, imagine com eles! Quando tomava esse tipo de droga Elvis ficava totalmente elétrico e não conseguia mais dormir depois dos shows de jeito nenhum! Para combater isso então ele tomava mais remédios para dormir e assim começava a roleta russa química que iria marcar toda sua vida. Nessa primeira fase de uso de drogas simples, não havia ainda o risco desses comprimidos trazerem maiores danos à saúde do cantor. O pior estava por vir. No exército Elvis foi estimulado pelo sargento de seu batalhão a ingerir uma nova geração de pílulas desenvolvidas exclusivamente para os soldados agüentarem a dura rotina de treinamentos no rigoroso inverno alemão. Aquele tipo de droga que Elvis tomava antes, nos anos 50, era brincadeira de criança perto do poder e dos efeitos dessas bolinhas do U.S. Army. Quando Elvis voltou aos Estados Unidos de seu serviço militar ele estava totalmente dependente e viciado nesse tipo de medicamento. Uma de suas maiores preocupações naquele momento era se ele teria como manter o uso dessas drogas após deixar o exército!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 13

Lá estava Elvis novamente, recém completados 41 anos, uma idade que lhe pesava muito nas costas, fazendo com que se sentisse um velho ídolo, pelo menos em sua visão pessoal, indo gravar mais um LP de rotina para a RCA. Naquela altura Elvis não conseguia mais se imaginar como um artista de seu tempo. O outrora símbolo da juventude vinha, desde que ultrapassou a barreira dos quarenta, se queixando a amigos e familiares de sua idade. Como encarar novamente o palco e os estúdios, agora que tudo lhe parecia cinzento e sem esperança? Certamente Elvis pensou que nem os mitos envelheciam, que ele ficaria para sempre com o sorriso encantador de seus primeiros discos. Quando finalmente o peso dos anos e dos excessos lhe bateram às portas, Elvis se sentiu mais do que nunca deprimido e abalado. Não raro perguntava aos seus amigos mais próximos: “Será que os fãs ainda vão gostar de mim?” Em outras ocasiões pedia aos amigos que se ajoelhassem com ele para rezar de mãos dadas. Com os olhos fechados, umedecidos pela dor lacrimejante em seu coração, Elvis exclamava a plenos pulmões: “Meu Deus, meu Deus, me ajude, não consigo continuar! Me Dê forças meu Senhor! Me Dê forças!”

Este certamente era o estado de espírito de Elvis naquele dia, quando mais vez se sentou para gravar novas canções. 20 anos depois de suas primeiras gravações na RCA, lá estava o cantor novamente em frente ao microfone, ao lado de seus músicos e escutando suas demos. Pouca coisa mudara no método de gravação, mas o homem que ali estava certamente fora muito machucado pelos anos, pelas decepções, pelas traições, pela vida. O mundo parecia estar em suas costas, todo o peso de uma existência um tanto quanto infeliz agora lhe pesava e muito em sua vida. Encarar aquele microfone a poucos centímetros de seu rosto marcado pelas amarguras da vida era algo penoso e mortificante. O Elvis de rocks embalantes e melodias alegres ficara no passado, O Elvis dos contratos cinematográficos, de músicas enlatadas também.

Ali estava apenas o homem que sofria e que estava disposto mais uma vez a cantar sua vida, suas decepções, sua melancolia. Isso está muito bem retratado no set list das músicas. São momentos que nos falam sobre solidão (Solitaire), despedidas (The Last Farewell), mágoa (Hurt), falta de esperança (Never again), desilusão (I’ll Never Falling in Love Again). Um Elvis que não sonha mais, que apenas tenta sobreviver à melancolia insuportável das horas, dos dias que nunca passam. Um Elvis que quer se retirar do mundo que tanto o magoou. Um Elvis trágico e a caminho de seu derradeiro tour, sua derradeira música, sua nota final. Não há mais nada a sonhar, a desejar, não há mais razão para viver. Se levantar da cama para quê? Lutar para alcançar o quê? Se tudo já foi cantado e gravado, se tudo já foi apresentado, alcançado e superado, por qual razão reviver toda essa mortificante situação? Da vida ficam apenas algumas poucas boas lembranças, como os momentos ao lado de sua inesquecível mãe, cujo rosto vai se apagando com o passar dos anos. Dos tempos de pobreza, quando era feliz e não sabia. Da namoradinha Dixie e dos suados 5 dólares para levá-la ao cinema aos sábados. Do vento no cabelo ao dirigir o caminhão em seu primeiro emprego. Do violão novo, comprado com sacrifício. Das tardes na varanda aprendendo e sonhando com seus ídolos de então, deuses, lindos, faiscantes estrelas da música country. Mas agora Elvis iria sonhar com o quê? Gravar novos discos? Ele já tinha feito isso a vida inteira. Sair em turnês? Ele já tinha rodado por todas as cidades desse mundão chamado United States. Elvis não tinha mais objetivos de vida. Quando chegamos a esse ponto, morremos.

Elvis ainda resistia, mas ao gravar suas últimas faixas, ele estava morrendo lentamente. Não havia mais montanhas a subir, picos a conquistar. Não sobrara mais nada. A sala das selvas é o inicio do fim. Se a lei da selva afirma que só os fortes sobrevivem, Elvis depois de lutar por todos esses anos e sobreviver a tudo e a todos, poderia certamente se considerar um vencedor. Mas até os vencedores um dia encontram seu destino. Ele certamente estava deixando o palco para sempre. As cortinas finalmente se fechavam ao velho ídolo. Sem pompa, sem festa, só o simples silêncio da luz se apagando, calma, leve, suave...como um sonho...um sonho que um dia se tornou realidade uma única vez para um pobre garoto de Tupelo chamado simplesmente Elvis...

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 12

Tudo parecia promissor para mais outra sessão de gravação bem sucedida mas a verdade é que Elvis ainda não se sente pronto para as gravações. Ele pede para que Jarvis rode para ele alguns demos, para assim escolher as canções que lhe agradassem. Com uma folha de papel na mão, que traz as letras na íntegra, Elvis vai acompanhando as canções, em tom inaudível - seus lábios se movem, porém nenhum som é emitido, pois o Rei quer poupar sua voz para as gravações definitivas.

Conforme as execuções são feitas, Elvis vai elegendo suas preferidas e circulando-as com um pequeno traço de aprovação. As que não passam pelo seu crivo pessoal logo são descartadas. Esse método de gravação vinha acompanhando Elvis desde seus primeiros anos na RCA Victor. Ele foi utilizado pela primeira vez em Nova Iorque por Steve Sholes, velho produtor da gigante fonográfica, que logo percebeu em Elvis uma grande capacidade de memorização. Sem dúvida, Elvis podia facilmente ouvir uma demo pela primeira vez no estúdio e em poucos minutos gravar as masters definitivas. Em seus primeiros dias, na principal gravadora norte americana, havia uma grande quantidade de canções à sua disposição e tudo era decidido ali mesmo no estúdio ao lado de seu produtor. Foi assim que Elvis gravou praticamente todos os seus discos, com exceção das trilhas sonoras, pois estas já chegavam prontas e compostas e não poderiam ser desmembradas. De Hollywood o material já chegava coeso e fechado e Elvis tinha que gravar as músicas em bloco. Talvez por essa razão ele tenha se sentido tão frustrado em seus anos como ator de cinema. Sua liberdade na hora de escolher o material era totalmente cerceada. Mas isso eram águas passadas e como dizia o velho ditado: “Águas passadas não movem moinhos”.

Certamente olhar para trás era a única coisa que Elvis não queria naquele momento. Aliás esse talvez fosse um dos grandes problemas de Elvis Presley em seus últimos anos: ele estava de saco cheio de tudo! Nada mais o empolgava. Elvis já havia gravado tantos discos, feito tantos shows, que tudo agora lhe parecia repetitivo, tedioso e monótono. Tudo agora o deixava mortalmente entediado. Por isso ele mostrava tanta má vontade em gravar material novo em estúdio. Por isso havia quase sempre um certo desinteresse de sua parte na escolha das músicas que iriam estar em seu novo disco. Elvis não demonstrava mais paciência em conhecer a musicalidade dos anos 70 ou enfrentar novos desafios. Para ele tudo se resumia numa questão muito simples: cumprir seus contratos com a RCA Victor e se livrar logo de mais uma obrigação contratual. Infelizmente era isso aí. Elvis estava muito mais interessado em outros aspectos de sua vida particular do que em sua carreira musical. Se estava ali, era simplesmente por livre e espontânea pressão, tal como um burocrata que cumpre sua jornada de trabalho rotineiramente, da maneira mais maçante possível. Elvis estava ali para marcar o ponto e dar no pé o quando antes, o mais rápido possível.

De certa forma ele até mesmo tinha razão. Seu empresário nunca o deixou alcançar maiores vôos em sua trajetória. Nunca deixou Elvis correr maiores riscos. Todos os seus passos foram milimetricamente calculados. Nada mais de inovações. Com isso veio o inevitável: a estagnação artística. Até suas ambições mais simples, como um velho sonho de gravar um disco com músicas de quartetos gospel, que ele tanto gostava desde a infância, eram barrados por Parker. Preso em sua gaiola de ouro, Elvis foi ficando cada vez mais desiludido e estagnado. Não é de se espantar que tudo agora lhe parecia chato, cansado e rotineiro. Esse disco que Elvis iria gravar praticamente já tinha sido gravado várias e várias vezes nos anos anteriores. Era justamente isso que pensava. Não havia novidade nenhuma nas canções escolhidas, nos arranjos produzidos, nada. Como era bastante intuitivo Elvis sabia de tudo isso. Para ele aquilo tudo era só um filme que ele teria que assistir pela milionésima vez! Que chato, que tédio! Não condeno Elvis nesse ponto. O tempo passou e ele ficou tristemente estacionado em um só ponto. Seu potencial e seu talento, de certa forma, estavam novamente sendo desperdiçados, como inclusive já havia acontecido tantas vezes antes em sua carreira. Agora ele sentia que, por causa de sua idade, não teria mais forças para enfrentar Tom Parker e sua máquina. O jogo estava perto do fim.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 11

No dia 2 de fevereiro de 1976 Elvis finalmente desceu as escadas que levavam ao seu quarto, eterno refúgio e abrigo, para gravar o tão esperado álbum novo para a RCA Victor. Ele entrou no estúdio em silêncio e calmamente, olhou de lado e sentou-se no centro do desarrumado “estúdio improvisado”, como sempre fazia desde seus primeiros tempos na Sun Records. Elvis sentia-se melhor com a banda bem próxima, com seus músicos ao redor e seus vocalistas virados contra ele, pois segundo ele próprio, “podia sentir melhor a música”. Na sua frente um pequeno móvel para colocar suas letras, seus óculos e demais acessórios; ao seu lado o violão, disposto e pronto com sua afinação preferida, caso quisesse utilizá-lo. Um copo d’água, algumas toalhas para enxugar o rosto durante as sessões e nada mais. Elvis também pedia para que fosse colocada uma iluminação suave no ambiente. O cantor estava sofrendo de problemas oculares nessa época, pois sua retina já havia sido bastante prejudicada pelas imensas luzes de palco.

De tempos em tempos Elvis tinha que se submeter a algum tratamento nesse sentido. Outra exigência não escrita: Elvis não admitia mais em suas sessões o uso de máquinas fotográficas ou câmeras de filmagens. No estúdio o cantor queria antes de tudo privacidade e tranqüilidade. Ele só admitia abrir alguma exceção se fosse uma situação expressa em seu contrato, se fosse determinante para fazer parte de algum filme como no "Elvis On Tour", por exemplo. Fora isso, nada de registrar seus momentos de trabalho dentro dos estúdios. No máximo ele topava tirar uma foto com todos os músicos que gravaram ao seu lado, como quase sempre fazia em suas primeiras sessões de 1969 e no começo dos anos 70, mas era só isso. Nada de maiores concessões.

Quanto mais relaxado e calmo o ambiente para ele, melhor. Nesse ponto ele poderia ficar tranqüilo, pois além de acolhedora a sala das Selvas era afinal de contas a sua casa. Não haveria lugar no mundo melhor para ele do que em Graceland. Nesse ponto ele estava totalmente à vontade. Isso era tudo o que Elvis necessitava para começar a produzir sua arte, nem mais, nem menos do que isso. A entrada de Elvis no estúdio sempre era um momento de tensão para os demais músicos. Todos tinham que esperar as primeiras reações dele para começar a expressar alguma atitude, para saber como se comportar dali para frente. Elvis poderia aparecer de bom humor e rindo e nesse caso todos deveriam acompanhá-lo em seu ânimo festivo e soltar boas vibrações sobre ele, mas também poderia acontecer de Elvis aparecer com péssimo humor e se essa fosse a situação todo cuidado era pouco, pois qualquer piada fora do lugar poderia despertar a fúria do Rei, que tinha péssimo gênio.

Todos ainda se lembravam de um fato acontecido que demonstrava nitidamente como Elvis poderia ser uma pessoa difícil dentro dos estúdios, quando estava num mal dia: durante uma das sessões em Nashville, anos atrás, um vocalista pegou Elvis em um desses dias infernais. O sujeito não conseguia acertar o tom certo que Elvis queria e começou a rir da situação. Elvis certamente pensou que ele estava de alguma foram rindo dele ou fazendo algum tipo de piada! Depois de repetir a mesma música várias vezes Elvis explodiu e jogou o microfone no chão gritando: "Eu já cantei essa merda de música mil vezes e você ainda não sabe sua parte!?" O pior aconteceu depois quando os caras da máfia de Memphis partiram para cima do pobre músico, que só não foi espancado violentamente por Red e Sonny por causa de Felton Jarvis que tomou à frente deles e ficou entre os truculentos guarda costas e o músico, que à esta altura estava totalmente aterrorizado!

Esse ato de coragem por parte do produtor evitou que uma barbaridade fosse cometida dentro do estúdio de gravação! Depois desse incidente todo cuidado era pouco! Por isso a partir desse dia, ninguém diz nada, nem fala nada antes de Elvis revelar seu humor. Ninguém se atreve a correr o sério risco de cometer um crime de lesa majestade. Mas ao que tudo indica, finalmente depois de tantas confusões, parece que nesse primeiro dia de gravações na sala das selvas o Rei do Rock está sereno. Aos poucos seus músicos chegam para cumprimentá-lo, a começar pelo seu amigo Charlie Hodge, seguido do produtor Felton Jarvis que logo percebe que Elvis está em um bom dia. “Vamos lá pessoal, vamos ensaiar algo e depois registramos, ok?” grita em tom de empolgação o velho maestro.

Pablo Aluísio.