Vamos agora dar prosseguimento nas análises da discografia de Elvis Presley. Esse álbum foi literalmente uma benção para Elvis Presley. Perceba que em 1967 ele estava de fato no fundo do poço. Seus discos - em sua enorme maioria trilhas sonoras - já não faziam sucesso e Elvis deixou de ser considerado um artista relevante, daqueles que se deve prestar atenção. No lugar sobrou apenas o triste fato de ser ignorado pela imprensa, pelos críticos e o pior de tudo, pelo público. Assim foi muito mais do que bem-vindo ter entrado em estúdio para gravar um disco completamente gospel, apenas com canções religiosas. O curioso é que a carreira de Elvis dentro do setor gospel do mercado americano sempre foi muito deixada de lado pela maioria dos fãs, inclusive brasileiros. O que poucos sabem é que foi justamente nesse tipo de estilo musical que ele ganhou algumas de suas maiores glórias, como por exemplo ser premiado pelo prestigiado prêmio Grammy, não apenas uma vez, nem duas, mas três vezes! Isso se torna ainda mais importante quando descobrimos que ele nunca ganhou um Grammy fora da categoria Gospel - incrível não é mesmo?
Pois bem. É sabido de todos que Elvis levava muito à sério sua fé. Embora tenha sido muito eclético em suas escolhas o fato é que Presley sempre prezou pelas canções evangélicas que aprendeu desde muito cedo nos cultos da Igreja Assembléia de Deus. Abro um parêntese aqui para uma informação importante. Ao contrário do que muitos dizem a família Presley em seus primórdios era uma família bem comum nesse aspecto. Aos domingos Gladys, Vernon e Elvis frequentavam os cultos da Igreja local, mas nunca foram também muito atuantes dentro de sua paróquia. Eram frequentadores normais e passavam longe de serem considerados fanáticos ou algo do tipo, como muitas biografias mais desinformadas costumam publicar. Sim, Elvis adorava música gospel, sim ele e seus pais eram frequentadores dominicais dos cultos, mas isso não significa que eram diferentes ou mais empenhados do que outras famílias daquela época. Ficavam na média, assistiam as celebrações, mas depois iam para a casa desfrutar o resto do domingo ouvindo rádio pelas estações de Memphis.
No final das contas o que Elvis pegou de bom do ambiente gospel foi mesmo a empolgação dos pastores, que corriam pra lá e pra cá, contorciam o corpo e gritavam aleluia com todo o fervor. Elvis desde muito criança descobriu que para mexer um público você tinha que entrar mesmo na dança, empolgar, rolar no chão se fosse preciso, mostrar que se importava e sentia aquilo que cantava. Toda essa performance o jovem Elvis soube muito bem usar em seus primeiros concertos, só que ao invés de passar uma mensagem religiosa no palco ele desfilava um modo de ser sexy e provocante, visando atingir diretamente seu público alvo, as adolescentes americanas na faixa entre 14 e 17 anos de idade. Isso porém foi em 1955, 56, agora lá estava Elvis em 1967, reencontrando sua velha paixão, a gospel music, para tentar levantar novamente sua carreira. Foi mesmo uma sábia decisão se afastar, ainda que por um breve período de tempo, do material de Hollywood. Aquele tipo de coisa já estava saturada e os fãs ansiavam por algo diferente, novo e se possível menos adolescente.
O disco logo se tornou um sucesso de público e crítica nos Estados Unidos e vizinho Canadá, mas infelizmente toda essa badalação ficou restrita ao mercado norte-americano. No Brasil o disco sequer chegou a ser editado e lançado. A razão? Muito simples de explicar. A RCA Brasil que já não vinha lançando os discos das trilhas sonoras de Elvis em nosso mercado não viu qualquer razão para investir em um disco religioso. Para eles seria um tremendo fracasso comercial. Além do próprio Elvis estar em baixa, o álbum era visto como "um disco para crentes" e como os evangélicos estavam em franca minoria em nosso país, ninguém se interessou em colocar o disco em nossas lojas. Uma pena porque sem dúvida foi o primeiro trabalho de grande qualidade musical do cantor em anos. Foi um trabalho primoroso, extremamente bem gravado, com Elvis em belo momento vocal. Uma verdadeira obra prima de sua discografia. Assim os fãs brasileiros mais fiéis tiveram que importar o disco, muitas vezes pagando verdadeiras fortunas para ter o privilégio de ouvir seu rei enaltecendo o mais puro espírito cristão.
1. How Great Thou Art (Stuart K. Hine) - Essa é uma canção bem antiga, escrita ainda no século XIX por um pastor chamado Carl Boberg. Só muitos anos depois foi que surgiu a primeira versão em inglês, dessa vez nas palavras escritas por Stuart K. Hine cujos créditos foram dados na contracapa do disco. Elvis tinha grande apreço por essa canção e a levou inúmeras vezes ao palco durante os anos 70. Curiosamente temos aqui um caso em que as versões ao vivo são bem melhores do que a gravada em estúdio. Durante muitos anos especialistas afirmaram (com plena razão) que há problemas de equalização na master original. O vocal de Elvis também está bem mais soturno do que nas versões gravadas em shows, onde há sem dúvida maior fluidez em seu desenvolvimento. As melhores versões são da primeira metade dos anos 70 pois sempre notei que a partir de determinado momento Elvis passou a exagerar em certos trechos da música, algumas vezes até mesmo gritando seu refrão a plenos pulmões para causar impacto no público. Funcionava, mas para falar a verdade aquilo tinha pouca coisa a ver com musicalidade verdadeira.
2. In The Garden (C.Austin Miles) - Outra canção religiosa bem antiga, datada do começo do século XX. A letra é muito bonita e inspiradora, mas segundo a própria neta do autor ela não foi composta em um belo jardim, como supõe o ouvinte, mas sim em um porão frio, úmido e cheio de vazamentos, onde Miles passou por maus bocados quando chegou em New Jersey pela primeira vez na década de 1930, desempregado e com família para sustentar. Ele era farmacêutico e estava na pior. Depois que compôs a música levou para um amigo que trabalhava numa editora musical de Nova Iorque e assim sua vida começou a melhorar. Foram várias gravações ao longo do tempo - o que trouxe uma certa estabilidade financeira para o compositor e sua família - e ao que tudo indica a principal referência para Elvis foi uma versão gravada em 1958 por Perry Como, um de seus cantores preferidos. Provavelmente Elvis já a conhecia de muitos anos, inclusive a mais bem sucedida versão comercial assinado por Tennessee Ernie Ford em 1956. Pelos arranjos e vocal porém tudo indica que Elvis usou mesmo o trabalho de Perry Como como norte para sua própria versão que foi finalmente finalizada no dia 27 de maio de 1967 após apenas três tentativas.
3. Somebody Bigger Than You And I (Johnny Lange / Walter Heath - Joseph Burke) - A mais inspirada versão dessa canção veio em 1960 com a grande Mahalia Jackson. Na ocasião Elvis até cogitou gravá-la durante as sessões de seu primeiro disco religioso, "His Hand in Mine", mas desistiu em cima da hora por achar que a gravação seria ofuscada pela de Jackson, que ainda era muito recente e estava fazendo muito sucesso nas paradas. Elvis assim a deixou de lado. Em casa porém, nos momentos de descanso quando cantava e tocava gospel ao lado de amigos, ela sempre surgia, mostrando que Elvis a adorava. Ao longo dos anos sempre aspirou gravar sua própria interpretação para a música e assim quando pintou na noite de 27 de maio no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee, nem pensou duas vezes. Curiosamente a canção acabou se revelando mais complicada de se gravar do que Elvis pensava. Como ele a vinha cantando por tantos anos pensou que seria relativamente fácil chegar no take ideal. Ledo engano, "Somebody Bigger Than You And I" precisou de 16 takes para ficar pronta. Quem tiver curiosidade em acompanhar o processo de se chegar no take ideal da música eu aconselho o CD "Stand by Me" que trouxe vários takes encontrados nos arquivos da RCA.
4. Farther Along (W.B.Stone) - Essa não precisa ir muito longe para entender de onde Elvis a conhecia. Ela fez parte do repertório do cantor e compositor Bill Monroe, um dos preferidos de Elvis, autor de "Blue Moon of Kentucky". Ela também foi gravada pelo grupo Stamps Quartet, um dos mais apreciados por Presley e que mais tarde o iria acompanhar em futuras gravações. Aqui o processo foi bem mais simples do que "Somebody Bigger Than You And I", com Elvis chegando no take master em apenas três tentativas. Para sorte dos fãs de Elvis todos os takes sobreviveram ao tempo e podem ser conferidos em CDs como "Stand by Me vol. 2".
5. Stand By Me (Charles Tindley) - Elvis tinha a discografia completa do grupo vocal The Harmonizing Four. Em sua opinião esse tinha sido o melhor grupo harmônico de todos os tempos. Ora, desnecessário concluir que dentro dessa opinião havia uma grande dose de subjetividade típica de um fã - e Elvis Presley era justamente isso em relação ao Harmonizing Four, um grande fã. A música original foi composta pelo pastor metodista Charles Alfred Tindley. Sua história é bem importante pois ele foi um dos primeiros pastores negros de Maryland e hoje em dia é considerado um dos pais da música gospel negra americana. Falecido em 1933 (dois anos antes do nascimento de Elvis) suas canções se tornaram muito populares em comunidades evangélicas do sul, onde Elvis certamente veio as conhecer, ainda garoto. Quando o The Harmonizing Four gravou a música em um pequeno acetato, Elvis obviamente adorou, pois era a reunião de uma velha canção de seus tempos de infância com as vozes de seu grupo preferido. Depois dessa união, mais cedo ou mais tarde, ele também faria sua versão, algo que se concretizou justamente aqui nesse premiado e belo álbum gospel de sua carreira.
6. Without Him (Myron LeFreve) - O autor Myron LeFreve escreveu essa canção quando tinha apenas 17 anos. Embora fosse membro de uma tradicional família religiosa, era bem conhecido também em sua adolescência por ser um sujeito rebelde e dono de opiniões bem próprias. Depois que escreveu a música resolveu que a iria apresentar numa convenção de jovens compositores em Memphis. Entre o público havia um ouvinte bem atento em sua apresentação: ele mesmo, Elvis Presley, que dono de intuição musical à flor da pele decidiu ali mesmo que um dia a gravaria. Após o show o próprio Elvis foi aos bastidores conhecer LeFreve que prontamente aceitou seu pedido de gravação. Esse fato é bem interessante pois revela um lado de Elvis que poucos chegaram a conhecer, a do descobridor de novos talentos. Esporadicamente Presley ouvia alguma composição que o atraía e ele próprio não tardava a levar para o estúdio, sem se importar se era um grande compositor consagrado ou um novato talentoso. Para Elvis rótulos como esses tinham pouca importância - o que importava mesmo era a melodia da música lhe tocar de forma bem particular.
7. So High (Tradicional, Elvis Presley) - Como era de se esperar algumas músicas religiosas não trazem o nome de seus autores originais. Isso porque ninguém sabe ao certo suas origens, elas apenas surgem dentro das comunidades evangélicas e de lá ganham o gosto de outras paróquias na mesma região. Pressume-se que "So High" tenha sido criada em meados do século 18, em pequenas capelas de comunidades evangélicas negras no Mississippi. Alguns historiadores americanos dizem que seus primeiros registros surgiram em uma pequena igreja batista localizada no condado de Franklin. De qualquer maneira o nome exato de seu compositor (ou compositora) se perdeu no tempo. Como fazia parte do repertório das igrejas daquela região (não podemos nos esquecer que Elvis nasceu em Tupelo, no Mississippi) fica bem claro que Presley a conhecia desde seus tempos de garoto. Nascida no meio dos fiéis, a música só chegou dentro da indústria fonográfica nos anos 1940, inicialmente na voz de Rosetta Tharp e depois em um belo registro vocal de LaVern Backer em 1959. Como Elvis foi creditado como arranjador desse álbum, seu nome constou como criador no selo original do disco "How Great Thou Art" quando esse chegou nas lojas em 1967.
8. Where Could I Go But The Lord (James B. Coats) - O autor dessa música, James Buchanan Coats, nasceu no mesmo estado natal de Elvis, o Mississippi. Ao contrário de outros compositores de canções desse álbum, ele não era negro e nem pastor religioso. Na verdade Coats era um professor branco de música, que ensinou por muitos anos em escolas públicas da região de Summerland, Mississippi. Como era um estudioso de música popular e religiosa, ele começou a escrever canções que tinham como base a mesma estrutura musical e melódica das que conhecia em sua cidade natal. Desse verdadeiro experimento acadêmico nasceram várias canções, entre elas essa popular "Where Could I Go But The Lord". J. B. Coats escrevia suas músicas pensando em quartetos negros de gospel music, por isso há uma riqueza de detalhes muito presente nas notas vocais que criava. Ideal para um cantor como Elvis e seu grupo de apoio na época. Infelizmente o autor da música não chegou a conhecer a versão de Elvis Presley, que de certa forma imortalizaria sua obra, pois infelizmente morreu em 1961, bem antes de Elvis gravar esse álbum religioso.
9. By and By (Charles B. Tindley) - Canção antiguíssima! Para certos autores a música teria sido composta no século XIX durante a Guerra Civil Americana. As partituras originais porém se perderam no tempo. O que chegou até nós foi essa versão escrita pelo pastor metodista Charles Albert Tindley. Aqui chamo a atenção para um fato importante: Tindley era um ministro negro cujo pai tinha sido escravo, ou seja, ele fazia parte da primeira geração a ganhar o direito de ser livre nos Estados Unidos. Obviamente que por sua experiência pessoal havia muito clamor e emoção em suas palavras. Talvez por essa razão a canção tenha essa puxada para cima, um sentimento efervescente de quem deseja recomeçar de novo, ir adiante e vencer. Impossível ficar parado ouvindo esse hino gospel. Elvis provavelmente a conheceu através da gravação de Bill Monroe, um cantor e compositor que ele aprendeu a adorar desde muito cedo em sua vida.
10. If The Lord Wasn´t Walking By My Side (Henry Slaughter) - O autor Slaughter nasceu em uma fazenda de tabaco perto de Roxboro, Carolina do Norte. Ele provavelmente teria trilhado o mesmo destino de miséria e privações de muitos que nasceram nessas regiões rurais atrasadas do sul dos Estados Unidos se não fosse salvo pela música. Depois de servir o exército americano ele decidiu que iria dedicar sua vida compondo canções religiosas. Além de ser bom escritor de letras era também excelente cantando, por isso fez parte de vários quartetos gospel ao longo da vida, entre eles os mais famosos foram o Selo-Ozark Quartet, seguido do The Weatherford Quartet (1958-1961), finalmente integrando o The Imperials (1964-1966), que era um dos preferidos de Elvis Presley.
11. Run On (Tradicional) - Outra cujas origens se perderam no tempo. Era um dos hinos religiosos mais populares em igrejas negras no começo do século XX. Dito isso é importante salientar que "How Great Thou Art" é isso mesmo que você está pensando, praticamente um disco gospel negro, para surpresa de muitos. Como isso aconteceu? Ora, Elvis provavelmente não frequentava as igrejas de comunidades negras em Tupelo e nem no Tennessee pois a sociedade ainda era fortemente segregada naquela época. Elvis certamente tomou conhecimento desse tipo de som ouvindo rádio, mais especificadamente estações direcionadas ao povo negro de Memphis. Como ele era apenas um garoto não havia em sua mente esse estado de coisas, essa separação entre brancos e negros. Para ele o que importava era que se tratava de uma música ótima, que mexia com ele. Como bem resumiria Sam Phillips muitos anos depois: "Para Elvis não havia música negra ou música branca, havia simplesmente música!".
12. Where No One Stands Alone (Mosie Lister) - Você sabe quem foi Mosie Lister? Thomas Mosie Lister nasceu na pequenina cidade sulista de Cochran, Georgia em 1921. Desde cedo se mostrou um garoto muito religioso e por isso sonhava um dia se tornar pastor protestante. Já adulto entrou no ministério se tornando ministro Batista na década de 1940. Embora fosse branco ele logo compreendeu que a ginga e o barulho do gospel negro poderia se tornar uma ótima ferramenta de evangelização. Como tinha excelente voz começou a cantar nos cultos e depois de dois anos sentiu-se suficientemente seguro para apresentar suas próprias composições no altar. Escreveu grandes sucessos, entre eles “Till the Storm Passes By”, “Then I Met the Master” e “How Long Has It Been?”. Ao longo de sua vida fez parte também de vários grupos vocais entre eles Melody Masters Quartet, porém acabou se consagrando mesmo alguns anos depois no maravilhoso Statesmen Quartet, outro grupo que Elvis amava e que não perdia nenhum lançamento. Presley levou sua paixão para seus próprios discos pois além de "Where No One Stands Alone" ainda gravou "He Knows Just What I Need" e "His Hand in Mine", do mesmo autor. Maior prova de sua admiração não poderia existir.
13. Crying In The Chapel (Artie Glenn) - Essa canção foi incluída no álbum por sugestão de Tom Parker. Na verdade era uma gravação antiga de Elvis Presley gravada sete anos antes e que seguia inédita em LPs do cantor. Só havia sido lançada em single em 1965 com "I Believe in the Man in the Sky" no Lado B. Como havia sido muito bem sucedida Parker entendeu que seria uma adição importante ao disco pois seria uma faixa conhecida que poderia puxar as vendas do álbum como um todo. O compositor Artie Glenn escreveu a música em 1953 com a intenção de ser gravada por seu próprio irmão, o cantor Darrell Glenn. Curiosamente as editoras musicais não acreditaram muito na canção. Os editores da Hill and Range Songs e da Acuff-Rose Music recusaram a música, afirmando que não tinha chances de virar um sucesso nas rádios. Mal sabiam o erro que estavam cometendo. A música logo se tornou uma campeã de vendas, sendo depois sucessivamente gravada por grandes nomes como Rex Allen, Ella Fitzgerald, June Valli e The Wailers. Assim quando Elvis a gravou ela já era considerada um standard da história da música norte-americana. Sob a voz de Presley "Crying In The Chapel" chegou no disco de platina vendendo mais de um milhão de cópias, um dos grandes êxitos comerciais de sua discografia.
How Great Thou Art - Elvis Presley (1967) - Elvis Presley (vocal, piano e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Henry Strzelecky (baixo) / Charlie McCoy (baixo e gaita) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria e timba) / Floyd Cramer (piano) / Henry Slaugter (piano) / David Briggs (orgão) / Pete Drake (steel guitar) / Boots Randolph (sax) / Rufus Long (sax) / Ray Stevens (piston) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham, June Page, Dolores Edgin & Sandy Posey (vocais) / The Imperials (vocais) / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis & Elvis Presley / Local de gravação: RCA Studios B, Nashville / Data de gravação: 25 a 28 de maio de 1966 / Lançado em fevereiro de 1967 / Melhor posição nas charts: #18 (EUA) e #11 (UK).
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2005
Elvis Presley - Double Trouble (1967)
Logo no começo de junho de 1966 Elvis viajou para Nashville para passar o mês inteiro se dedicando a sessões de gravação. No dia 10 começou a maratona. Elvis entrou no RCA Studio B para uma sessão de gravação de músicas avulsas. A RCA queria material para lançamento em singles e bonus songs em trilhas sonoras. Elvis queria acima de tudo gravar material de qualidade, longe dos pacotes vindos de Hollywood. Acabou gravando apenas três faixas, todas ótimas. "Indescribably Blue", "I'll Remember You" e "If Every Day Was Like Christmas" demonstravam que o talento do cantor continuava intacto, sem máculas. O que faltava mesmo era repertório de valor. A intenção de Elvis inicialmente era ficar em Nashville para aproveitar o embalo e gravar sua nova trilha sonora nos estúdios da cidade, onde se sentia à vontade ao lado de sua banda habitual.
A MGM porém não pensava assim. Os executivos consideraram bem caro gravar nos estúdios da RCA em Nashville e procurando ter controle completo sobre os trabalhos enviaram um telegrama a Elvis para que ele fosse imediatamente para a costa oeste para gravar as músicas do novo filme em West Hollywood no bem equipado Radio Recorders. Aqui Elvis gravaria quatro das músicas da futura trilha, curiosamente algumas delas consideradas das melhores do filme. "City by Night", "Could I Fall in Love?" e "There Is So Much World to See" ficaram praticamente prontas. A MGM porém não estava satisfeita e transferiu Elvis e banda mais uma vez de estúdio. Visando cortar ainda mais os custos todos foram enviados para o M.G.M. Sound Stage 1 em Culver City. Não era um lugar apropriado, pois geralmente era usado para dublagens em animações e filmes da empresa. O som certamente ficaria ruim, abaixo do que era considerado aceitável pelos fãs de Elvis.
Foram programadas três noites de gravação, mas todos sabiam que Elvis poderia finalizar a trilha sonora em apenas uma noite se estivesse particularmente produtivo. Logo na primeira sessão Presley confirmou as expectativas. Em pouco tempo ele já tinha chegado nas versões definitivas de "Double Trouble", "Baby, if You'll Give Me All of Your Love", "I Love Only One Girl", "Old MacDonald" e "Long Legged Girl". Em pouco menos de 50 minutos de sessão Elvis já tinha gravado praticamente a metade do disco, um feito que deixou o produtor Jeff Alexander surpreso! Na noite seguinte Elvis foi ainda mais rápido, terminando os trabalhos da trilha sonora em menos de 40 minutos. Muitos podem achar que isso era um retrato da falta de capricho das trilhas sonoras - de fato algumas canções não levaram mais do que quatro ou cinco takes para ficarem prontas, mas esse tipo de rapidez era uma característica de Elvis desde os seus primeiros anos na RCA Victor.
Na última noite programada Elvis não apareceu - e nem precisava já que tinha terminado sua parte nas gravações. Apenas alguns músicos foram ao estúdio para gravar linhas de seus instrumentos para serem usados nas gravações caso o produtor assim desejasse. Infelizmente o álbum era mais uma daquelas trilhas sonoras fracas de Hollywood. Geralmente Elvis recebia uma semana antes das gravações as fitas de demonstração das canções gravadas em Nova Iorque. Esse material era enviado para que Presley pudesse memorizar as músicas. Ele obviamente odiou a maioria do material, mas teve que se calar sobre isso pois tinha que cumprir os contratos que havia assinado. Durante as sessões Elvis não se mostrou empolgado, pelo contrário, ficou claro que ele estava ali por puro profissionalismo. Não havia qualquer sentimento de satisfação por gravar todas aquelas canções plastificadas.
Double Trouble (D. Pomus / M. Shuman) - Uma decepção! Claro que a partir de 1965 as trilhas sonoras de Elvis vinham descendo ladeira abaixo em termos de qualidade e por essa razão estavam sendo ignoradas pelo público e destruídas pela crítica, mas todos os fãs esperavam pelo menos por uma boa canção título do filme, ainda mais depois que foi divulgado que seria escrita pela excelente dupla de compositores Doc Pomus e Mort Shuman. Infelizmente o que se nota é que eles não se empenharam muito em dessa vez escrever algo melhor. Alguns especialistas creditam isso ao fato do Coronel Parker ter estipulado um teto máximo para o valor das canções que eram vendidas a Elvis. Como não era algo expressivo os compositores, inclusive os bons, já não se esforçavam muito para escrever algo melhor. Uma atitude do tipo "Para o preço que você está pagando essa música já está de bom tamanho". Uma pena porque realmente não é uma grande canção e para piorar sua gravação deixa bastante a desejar.
Baby If You Give All Or Your Love (Joy Byers) - Joy Byers foi responsável por salvar algumas das piores trilhas sonoras da carreira de Elvis. Até não podiam ser consideradas grandes músicas, mas eram divertidas e contavam com Elvis, quase sempre, empolgado em disponibilizar uma grande performance. Curiosamente todas as músicas que recebiam essa assinatura foram na verdade compostas por Bob Johnston, que era o marido de Byers na época. Ele usou o nome da esposa para escapar de um contrato com cláusula de exclusividade que tinha com outra editora musical. Nos anos 1980, após o fim do casamento, Joy e Bob acabaram tendo problemas judiciais sobre direitos autorais dessas canções gravadas por Elvis Presley por essa razão. Em entrevista ela declarou: "Foi uma honra ter meu nome nos discos de Elvis! Imagine, eu era uma típica dona de casa dos anos 60. Isso me enche de orgulho até hoje!".
Could I Fall In Love (Randy Starr) - Nas trilhas sonoras de Elvis dos anos 60 não podiam faltar baladas românticas. Era uma necessidade imposta pelos próprios roteiros de Hollywood, afinal sempre haveria cenas em que Elvis cortejaria a mocinha. O próprio Elvis brincava sobre isso ao dizer que em seus filmes sempre tinham dois tipos de cenas básicas que se repetiam todas as vezes, quando ele cantava para alguma garota ou quando socava algum desafeto. Nessa cena em particular Elvis coloca um single para tocar para a atriz Annete Day (uma estrelinha sem expressão). No final ele acaba dublando a si mesmo (no papel de Guy Lambert).
Long Legged Girl (J.L. Mc Farland / W. Scotty) - Essa foi a canção de trabalho do filme, ou seja, a música que a RCA Victor trabalhou para divulgar em rádios na época. Também foi lançado em um single que no final das contas não fez qualquer barulho nas paradas. As razões do fracasso comercial são facilmente perceptíveis. Curta demais, com letra adolescente e mal gravada, não era para fazer sucesso mesmo. Muitos criticaram a má equalização da canção, com uma guitarra fora de tom, estridente e irritante. Era mais um sinal de que as gravações de Elvis continuavam a não ter o tratamento sonoro adequado por parte de sua gravadora. Um sinal de que as trilhas sonoras já tinham dado tudo o que podiam dar e que mais cedo ou mais tarde deveriam ser deixadas de lado definitivamente.
City By Night (Giant / Baum / Kaye) - A pior tragédia para um artista que começa a ser ignorado por público e crítica é que em determinado momento de sua carreira, mesmo que ele venha a produzir algo de bom novamente, ninguém mais prestará atenção. Esse é o caso dessa gravação. No meio de uma trilha sonora realmente fraca temos essa boa faixa que acabou passando em branco até pelos fãs. "City By Night" tem um ritmo que nos remete a um jazz mais tradicional. Possui bons arranjos e uma melodia inspirada. Infelizmente como fazia parte do pacote "Double Trouble" ninguém parou para prestar atenção. Curiosamente a canção foi composta pelo trio Giant, Baum e Kaye que já tinham escrito grandes bobagens em filmes anteriores de Elvis, o que acabou afastando ainda mais qualquer possibilidade da música vir a ter algum destaque.
Old MacDonald (Randy Starr) - É como ter Elvis Presley cantando "Atirei o Pau no Gato!" em um disco. Não dá. Esse tipo de gravação acabou destruindo a imagem de cantor sério de Elvis. Tudo bem que as crianças podem até vir a se divertir, isso apesar de Elvis a cantar pessimamente mal (em determinado momento ele quase cai na gargalhada), Nada porém justifica uma bobagem desse tamanho em um dos seus discos. Apenas a saturação completa de seu repertório justificaria tal gravação. A cena no filme também é igualmente ruim e constrangedora, com Elvis soltando a voz na parte de trás de um caminhão cheio de animais. Uma lástima sem conserto.
I Love Only One Girl (S. Tepper / R.C. Bennett) - Segue a sina da canção anterior, ou seja, é bobinha, maçante e chatinha demais para ser levada à sério. Perceba que por essa época havia gente como Bob Dylan (isso mesmo, Bob Dylan!) implorando para que Elvis gravasse suas músicas e o que os responsáveis pela carreira de Elvis faziam? Não apenas recusavam sua oferta como o colocavam para cantar musiquinhas bobas como essa! Eu sinceramente até hoje não sei como a carreira musical de Elvis não acabou de vez depois dele ter gravado tanto material sem qualidade por anos e anos. Elvis era tão talentoso e carismático que conseguiu sobreviver até mesmo ao Coronel Parker, à RCA e à MGM, que pareciam estar juntos, firmes no objetivo de acabarem com seu prestígio artístico.
There´s Too Much World To See (Randy Starr) - Mais uma composição de Randy Starr. Na verdade ele era dentista! Isso mesmo que você leu. Nas horas vagas esse dentista de Nova Iorque resolveu que iria compor algumas músicas. Ao se associar a uma editora musical jamais pensaria que iria ter Elvis Presley, o maior ídolo musical de sua época, gravando suas "obras primas"! E qual era o segredo para Starr ter tido mais de vinte composições gravadas por Elvis? Simples, eram todas canções bem baratas, muito abaixo do que era cobrado pelos compositores mais caros e talentosos. Assim você entende porque Elvis chegou ao fundo do poço em sua carreira musical. Para Tom Parker o importante era economizar e lucrar ainda mais, mesmo com material sem qualidade.
It Won´t Be Long (Ben Weisman - Sid Wayne) - Quando você pensa que a trilha sonora de "Double Trouble" já não terá mais nenhuma surpresa digna de nota surge em seus ouvidos os primeiros acordes dessa excelente canção! O que é isso?! - e a primeira fase que surge em sua mente. De repente você se pega prestando atenção no disco novamente! Realmente meus amigos, as trilhas sonoras de Elvis dos anos 60 deixavam bastante a desejar, porém como nos microfones estava um gênio da música era mesmo de se supor que pequenas gotas de seu talento iriam despontar aqui e acolá! Sempre gostei dessa faixa, que acredito deveria ter ido até mesmo para os palcos em Las Vegas nos anos 70. Ótima gravação, sem fazer favor algum. Nem parece uma composição de Ben Weisman, considerado por alguns como o mais burocrático de todos os compositores da carreira de Elvis Presley. Dessa vez ele teve um surto de criatividade, quem diria...
Never Ending (Buddy Kaye / Phil Springer) - Nunca achei uma maravilha, mas no meio de um material tão mediano e fraco não é de surpreender que ganhe algum destaque. A partir da música anterior o álbum "Double Trouble" realmente melhora de qualidade e, pasmem, isso ocorre simplesmente porque acabam as músicas do filme e entram uma série de músicas bônus colocadas lá na RCA para o vinil não ficar muito curto e sem material mais relevante. São as famosas Bonus Songs, faixas que eram encaixadas nas trilhas sonoras, mas que não faziam parte do filme. Essa "Never Ending" não era nenhuma novidade pois já tinha sido aproveitada em um single com "Such a Night" em 1964. Depois disso foi arquivada e colocada aqui, não sei se por engano ou desconhecimento por parte dos produtores da RCA. De uma maneira ou outra acabou sendo uma boa adição. No Brasil ficou anos e anos inédita porque a partir de 1964 os discos e singles de Elvis foram rareando em nosso país, por causa das baixas vendas no exterior. Quando um disco vendia mal nos Estados e Europa ele não chegava a ser lançado no Brasil. Infelizmente foi o que aconteceu com a trilha sonora de "Double Trouble".
Blue River (Paul Evans / Fred Tapias) - O que escrevi para "Never Ending" vale também para essa canção. Está no álbum como tapa-buracos, sem qualquer ligação com o filme ou sua trilha sonora. Também havia sido arquivada e depois lançada sem qualquer promoção em um single promocional. A falta de divulgação também havia se tornado um problema. A RCA Victor, gravadora de Elvis, não se preocupava mais em trabalhar bem no marketing de lançamento dos singles e álbuns. Assim muitas faixas inéditas de Elvis foram completamente ignoradas pelo público, mostrando como andava mal administrada e gerida sua carreira na época.
What Now, What Next, Where To (Don Robertson / Hal Blair) - O álbum se encerra com essa bonus song final. Uma boa composição escrita por Don Robertson, um dos meus compositores preferidos. Pianista de mão cheia Don conseguiu escrever ternas e belas baladas para Elvis Presley nessa fase de sua carreira. Como uma andorinha só não faz verão não houve como salvar o álbum inteiro do fracasso comercial. O disco, lançado em meados de 1967 foi muito mal nas paradas, vendendo pouco e sendo praticamente todo ignorado. Um sinal de que tudo estava errado e deveria haver mudanças na carreira de Elvis Presley.
Elvis Presley - Double Trouble (1967) - Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harmon (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Pete Drake (Steel Guitar) / Charlie McCoy (Harmonica) / Boots Randolph (sax) / Richard Noel (Trombone) / The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / City By Night: Michael Deasy (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Toxey French (bateria) / Michael Anderson (Sax) / Butch Parker (sax) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California exceto "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas no RCA Studio B, Nashville / Data de gravação: 28 e 29 de junho de 1966, exceto "City By Night" gravada em 14 de julho de 1966 e "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas em maio de 1963 / Produzido e arranjado por Felton Jarvis e Jeff Alexander / Data de lançamento: junho de 1967 / Melhor posição nas charts: #47 (USA) e #34 (UK).
Pablo Aluísio.
A MGM porém não pensava assim. Os executivos consideraram bem caro gravar nos estúdios da RCA em Nashville e procurando ter controle completo sobre os trabalhos enviaram um telegrama a Elvis para que ele fosse imediatamente para a costa oeste para gravar as músicas do novo filme em West Hollywood no bem equipado Radio Recorders. Aqui Elvis gravaria quatro das músicas da futura trilha, curiosamente algumas delas consideradas das melhores do filme. "City by Night", "Could I Fall in Love?" e "There Is So Much World to See" ficaram praticamente prontas. A MGM porém não estava satisfeita e transferiu Elvis e banda mais uma vez de estúdio. Visando cortar ainda mais os custos todos foram enviados para o M.G.M. Sound Stage 1 em Culver City. Não era um lugar apropriado, pois geralmente era usado para dublagens em animações e filmes da empresa. O som certamente ficaria ruim, abaixo do que era considerado aceitável pelos fãs de Elvis.
Foram programadas três noites de gravação, mas todos sabiam que Elvis poderia finalizar a trilha sonora em apenas uma noite se estivesse particularmente produtivo. Logo na primeira sessão Presley confirmou as expectativas. Em pouco tempo ele já tinha chegado nas versões definitivas de "Double Trouble", "Baby, if You'll Give Me All of Your Love", "I Love Only One Girl", "Old MacDonald" e "Long Legged Girl". Em pouco menos de 50 minutos de sessão Elvis já tinha gravado praticamente a metade do disco, um feito que deixou o produtor Jeff Alexander surpreso! Na noite seguinte Elvis foi ainda mais rápido, terminando os trabalhos da trilha sonora em menos de 40 minutos. Muitos podem achar que isso era um retrato da falta de capricho das trilhas sonoras - de fato algumas canções não levaram mais do que quatro ou cinco takes para ficarem prontas, mas esse tipo de rapidez era uma característica de Elvis desde os seus primeiros anos na RCA Victor.
Na última noite programada Elvis não apareceu - e nem precisava já que tinha terminado sua parte nas gravações. Apenas alguns músicos foram ao estúdio para gravar linhas de seus instrumentos para serem usados nas gravações caso o produtor assim desejasse. Infelizmente o álbum era mais uma daquelas trilhas sonoras fracas de Hollywood. Geralmente Elvis recebia uma semana antes das gravações as fitas de demonstração das canções gravadas em Nova Iorque. Esse material era enviado para que Presley pudesse memorizar as músicas. Ele obviamente odiou a maioria do material, mas teve que se calar sobre isso pois tinha que cumprir os contratos que havia assinado. Durante as sessões Elvis não se mostrou empolgado, pelo contrário, ficou claro que ele estava ali por puro profissionalismo. Não havia qualquer sentimento de satisfação por gravar todas aquelas canções plastificadas.
Baby If You Give All Or Your Love (Joy Byers) - Joy Byers foi responsável por salvar algumas das piores trilhas sonoras da carreira de Elvis. Até não podiam ser consideradas grandes músicas, mas eram divertidas e contavam com Elvis, quase sempre, empolgado em disponibilizar uma grande performance. Curiosamente todas as músicas que recebiam essa assinatura foram na verdade compostas por Bob Johnston, que era o marido de Byers na época. Ele usou o nome da esposa para escapar de um contrato com cláusula de exclusividade que tinha com outra editora musical. Nos anos 1980, após o fim do casamento, Joy e Bob acabaram tendo problemas judiciais sobre direitos autorais dessas canções gravadas por Elvis Presley por essa razão. Em entrevista ela declarou: "Foi uma honra ter meu nome nos discos de Elvis! Imagine, eu era uma típica dona de casa dos anos 60. Isso me enche de orgulho até hoje!".
Could I Fall In Love (Randy Starr) - Nas trilhas sonoras de Elvis dos anos 60 não podiam faltar baladas românticas. Era uma necessidade imposta pelos próprios roteiros de Hollywood, afinal sempre haveria cenas em que Elvis cortejaria a mocinha. O próprio Elvis brincava sobre isso ao dizer que em seus filmes sempre tinham dois tipos de cenas básicas que se repetiam todas as vezes, quando ele cantava para alguma garota ou quando socava algum desafeto. Nessa cena em particular Elvis coloca um single para tocar para a atriz Annete Day (uma estrelinha sem expressão). No final ele acaba dublando a si mesmo (no papel de Guy Lambert).
Long Legged Girl (J.L. Mc Farland / W. Scotty) - Essa foi a canção de trabalho do filme, ou seja, a música que a RCA Victor trabalhou para divulgar em rádios na época. Também foi lançado em um single que no final das contas não fez qualquer barulho nas paradas. As razões do fracasso comercial são facilmente perceptíveis. Curta demais, com letra adolescente e mal gravada, não era para fazer sucesso mesmo. Muitos criticaram a má equalização da canção, com uma guitarra fora de tom, estridente e irritante. Era mais um sinal de que as gravações de Elvis continuavam a não ter o tratamento sonoro adequado por parte de sua gravadora. Um sinal de que as trilhas sonoras já tinham dado tudo o que podiam dar e que mais cedo ou mais tarde deveriam ser deixadas de lado definitivamente.
City By Night (Giant / Baum / Kaye) - A pior tragédia para um artista que começa a ser ignorado por público e crítica é que em determinado momento de sua carreira, mesmo que ele venha a produzir algo de bom novamente, ninguém mais prestará atenção. Esse é o caso dessa gravação. No meio de uma trilha sonora realmente fraca temos essa boa faixa que acabou passando em branco até pelos fãs. "City By Night" tem um ritmo que nos remete a um jazz mais tradicional. Possui bons arranjos e uma melodia inspirada. Infelizmente como fazia parte do pacote "Double Trouble" ninguém parou para prestar atenção. Curiosamente a canção foi composta pelo trio Giant, Baum e Kaye que já tinham escrito grandes bobagens em filmes anteriores de Elvis, o que acabou afastando ainda mais qualquer possibilidade da música vir a ter algum destaque.
Old MacDonald (Randy Starr) - É como ter Elvis Presley cantando "Atirei o Pau no Gato!" em um disco. Não dá. Esse tipo de gravação acabou destruindo a imagem de cantor sério de Elvis. Tudo bem que as crianças podem até vir a se divertir, isso apesar de Elvis a cantar pessimamente mal (em determinado momento ele quase cai na gargalhada), Nada porém justifica uma bobagem desse tamanho em um dos seus discos. Apenas a saturação completa de seu repertório justificaria tal gravação. A cena no filme também é igualmente ruim e constrangedora, com Elvis soltando a voz na parte de trás de um caminhão cheio de animais. Uma lástima sem conserto.
I Love Only One Girl (S. Tepper / R.C. Bennett) - Segue a sina da canção anterior, ou seja, é bobinha, maçante e chatinha demais para ser levada à sério. Perceba que por essa época havia gente como Bob Dylan (isso mesmo, Bob Dylan!) implorando para que Elvis gravasse suas músicas e o que os responsáveis pela carreira de Elvis faziam? Não apenas recusavam sua oferta como o colocavam para cantar musiquinhas bobas como essa! Eu sinceramente até hoje não sei como a carreira musical de Elvis não acabou de vez depois dele ter gravado tanto material sem qualidade por anos e anos. Elvis era tão talentoso e carismático que conseguiu sobreviver até mesmo ao Coronel Parker, à RCA e à MGM, que pareciam estar juntos, firmes no objetivo de acabarem com seu prestígio artístico.
There´s Too Much World To See (Randy Starr) - Mais uma composição de Randy Starr. Na verdade ele era dentista! Isso mesmo que você leu. Nas horas vagas esse dentista de Nova Iorque resolveu que iria compor algumas músicas. Ao se associar a uma editora musical jamais pensaria que iria ter Elvis Presley, o maior ídolo musical de sua época, gravando suas "obras primas"! E qual era o segredo para Starr ter tido mais de vinte composições gravadas por Elvis? Simples, eram todas canções bem baratas, muito abaixo do que era cobrado pelos compositores mais caros e talentosos. Assim você entende porque Elvis chegou ao fundo do poço em sua carreira musical. Para Tom Parker o importante era economizar e lucrar ainda mais, mesmo com material sem qualidade.
Never Ending (Buddy Kaye / Phil Springer) - Nunca achei uma maravilha, mas no meio de um material tão mediano e fraco não é de surpreender que ganhe algum destaque. A partir da música anterior o álbum "Double Trouble" realmente melhora de qualidade e, pasmem, isso ocorre simplesmente porque acabam as músicas do filme e entram uma série de músicas bônus colocadas lá na RCA para o vinil não ficar muito curto e sem material mais relevante. São as famosas Bonus Songs, faixas que eram encaixadas nas trilhas sonoras, mas que não faziam parte do filme. Essa "Never Ending" não era nenhuma novidade pois já tinha sido aproveitada em um single com "Such a Night" em 1964. Depois disso foi arquivada e colocada aqui, não sei se por engano ou desconhecimento por parte dos produtores da RCA. De uma maneira ou outra acabou sendo uma boa adição. No Brasil ficou anos e anos inédita porque a partir de 1964 os discos e singles de Elvis foram rareando em nosso país, por causa das baixas vendas no exterior. Quando um disco vendia mal nos Estados e Europa ele não chegava a ser lançado no Brasil. Infelizmente foi o que aconteceu com a trilha sonora de "Double Trouble".
Blue River (Paul Evans / Fred Tapias) - O que escrevi para "Never Ending" vale também para essa canção. Está no álbum como tapa-buracos, sem qualquer ligação com o filme ou sua trilha sonora. Também havia sido arquivada e depois lançada sem qualquer promoção em um single promocional. A falta de divulgação também havia se tornado um problema. A RCA Victor, gravadora de Elvis, não se preocupava mais em trabalhar bem no marketing de lançamento dos singles e álbuns. Assim muitas faixas inéditas de Elvis foram completamente ignoradas pelo público, mostrando como andava mal administrada e gerida sua carreira na época.
What Now, What Next, Where To (Don Robertson / Hal Blair) - O álbum se encerra com essa bonus song final. Uma boa composição escrita por Don Robertson, um dos meus compositores preferidos. Pianista de mão cheia Don conseguiu escrever ternas e belas baladas para Elvis Presley nessa fase de sua carreira. Como uma andorinha só não faz verão não houve como salvar o álbum inteiro do fracasso comercial. O disco, lançado em meados de 1967 foi muito mal nas paradas, vendendo pouco e sendo praticamente todo ignorado. Um sinal de que tudo estava errado e deveria haver mudanças na carreira de Elvis Presley.
Elvis Presley - Double Trouble (1967) - Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harmon (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Pete Drake (Steel Guitar) / Charlie McCoy (Harmonica) / Boots Randolph (sax) / Richard Noel (Trombone) / The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / City By Night: Michael Deasy (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Toxey French (bateria) / Michael Anderson (Sax) / Butch Parker (sax) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California exceto "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas no RCA Studio B, Nashville / Data de gravação: 28 e 29 de junho de 1966, exceto "City By Night" gravada em 14 de julho de 1966 e "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas em maio de 1963 / Produzido e arranjado por Felton Jarvis e Jeff Alexander / Data de lançamento: junho de 1967 / Melhor posição nas charts: #47 (USA) e #34 (UK).
Pablo Aluísio.
terça-feira, 11 de janeiro de 2005
Elvis Presley - Spinout (1966)
Em 1966 chegou nas lojas o álbum, ou melhor dizendo, a trilha sonora que celebrava os dez anos de Elvis Presley em Hollywood. Nem é preciso dizer que foi uma festa bem sem graça. Os fãs reclamavam há anos e pediam a volta de Elvis aos palcos, a gravação de bons discos de estúdio e mudanças em sua carreira, mas as organizações Presley se recusavam a mudar. Todo ano a mesma coisa, três filmes, três trilhas sonoras, vendas ruins e críticas negativas para todos os lados. O álbum "Spinout", apesar da recepção com muita má vontade, nem era tão ruim como os anteriores. O filme era um genérico de "Viva Las Vegas", com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. As músicas, por outro lado, se mostravam superiores ao que vinha sendo lançado com Elvis, muito embora acompanhada novamente daquele lote de bobagens que todos os fãs de Presley já estavam acostumados.
O disco pode ser dividido em duas partes bem distintas. O material do filme em si, que é caracterizado por uma certa irregularidade, e as chamadas "bonus songs", canções que não faziam parte do filme, mas que eram encaixadas nos discos para que eles não fossem muito curtos. A trilha sonora propriamente dita tem altos e baixos. Há canções medonhas de ruins como "Beach Shack", ao lado de músicas medianas ao estilo "All That I Am", além de pequenas preciosidades como a subestimada "I'll Be Back". O material foi composto por bons compositores como a dupla Sid Tepper e Roy C. Bennett, o sempre bom Joy Byers e até mesmo os excepcionais Doc Pomus e Mort Shuman, que infelizmente comparecem com apenas uma faixa. Graças aos deuses musicais os produtores resolveram colocar o trio calafrio Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye de lado e eles aparecem também com apenas uma canção, e pra variar a pior de todas, um verdadeiro lixo cultural.
Outro aspecto que merece menção é a falta de qualidade técnica das gravações. "Spinout" é considerado um dos discos mais mal equalizados da carreira de Elvis, talvez só superado por "Double Trouble" que parece ter sido gravado na garagem de alguém. Não dá para entender porque a RCA já não se importava mais com a qualidade das gravações daquele que havia sido seu maior nome até pouco tempo atrás. Ao que tudo indica os profissionais da gravadora simplesmente lavaram as mãos, deixando tudo para lá e como os discos já não vendiam mais tão bem, deixaram tudo para o "Deus dará"! Assim que se coloca o vinil original americano para tocar o ouvinte percebe a falta de capricho nas faixas. A banda já não soa tão afinada como antes e Elvis parece transparecer desleixo em seus vocais, algo impensável para quem vinha acompanhado Presley por longos anos, onde seus álbuns sempre se destacavam pelo bom gosto e cuidado nas gravações.
Alguns membros da Máfia de Memphis confirmam que Elvis ficou até mesmo abalado quando ouviu o disco pela primeira vez. Ele obviamente acusou Tom Parker de mandar mexer nas matrizes mas nada fez para parar essa interferência indevida. Chegou a dizer que ficava fisicamente doente quando descobria que um trabalho com seu nome saía mal feito, mal realizado. Some-se a isso os problemas no cinema e você terá uma ideia da imensa frustração profissional que ele vinha sentindo por essa época. A única salvação do disco vem mesmo das bonus songs, três belas canções em gravações impecáveis. "Tomorrow is a Long Time" de Bob Dylan, "Down in the Alley" de Jesse Stone e "I'll Remember You" de Kui Lee, são maravilhosas. Gravadas numa sessão em maio (e junho) de 66, estavam arquivadas, sem a RCA saber o que fazer com elas. Acabaram enfiando aqui para amenizar a má qualidade do material do filme.
Como o público já vinha ficando aborrecido com os rumos da carreira de Presley o disco ao ser lançado novamente se tornou uma decepção nas vendas, a tal ponto que pela primeira vez em sua carreira Elvis tinha sido deixado de lado pela filial brasileira da RCA Victor que simplesmente desistiu de lançar o álbum comercialmente por aqui por causa do fracasso de vendas nos Estados Unidos. E o mesmo aconteceu com vários países europeus, mostrando o grau de declínio que o antigo astro vinha passando em sua carreira, tanto no mundo do cinema como no mundo fonográfico. Como disse certa vez um articulista americano, se Elvis tivesse morrido em 1966 ou 1967, ele seria retratado como um dos maiores cantores de todos os tempos que havia desaparecido das paradas e se tornado um artista completamente irrelevante para a arte em geral. Como sabemos isso felizmente não aconteceu e em 1968 ele finalmente se levantaria do mundo dos mortos do show business para reviver novamente dias de glória na sua carreira.
Stop, Look and Listen (Joy Byers) - A canção que abre o álbum. Sempre gosto de afirmar que Joy Byers compôs algumas das melhores canções da carreira de Elvis nos anos 1960, período muito complicado para ele, que foi colocado para cantar algumas porcarias enlatadas impostas pelos estúdios de cinema. Assim Byers funcionava como um alívio, pois suas composições, se não eram geniais, pelo menos surgiam acima da média do que ele vinha gravando. Essa "Stop, Look and Listen" é uma tentativa de trazer algum conteúdo roqueiro aos discos de Elvis, que se notabilizavam mesmo por essa época pelas baladas e músicas pop. Não é de toda ruim, embora a ache mal equalizada, mal gravada (característica que pode ser atribuída aliás a todas as faixas da trilha sonora "Spinout", infelizmente).
Adam and Evil (Fred Wise / Randy Starr) - Outra canção mais agitadinha. No filme pelo menos Elvis surge em boa cena, com um figurino azul e preto em um quadro esteticamente muito interessante (muito embora o trash também esteja lá, quando um dos membros de sua banda dá uma de faquir seduzindo uma cobra de pano!). A versão apresentada no filme é ligeiramente diferente da do álbum, com mais solos de bateria. Em termos de letra esqueça, é uma tremenda bobagem.
All That I Am (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Uma das músicas mais celebradas da trilha sonora. Sid Tepper esclareceu nos anos 70 que a canção não havia sido composta especialmente para Elvis e nem para o filme. Só depois quando foi contactado pelo estúdio é que ele resolveu oferecer a canção para fazer parte do disco. Isso talvez explique porque ela é tão bem composta, com ótima melodia. O belo arranjo de violinos também soma muito em seu excelente resultado final. Um oásis de qualidade no meio do deserto de músicas fracas de "Spinout".
Never Say Yes (Doc Pomus / Mort Shuman) - Na volta de Elvis do serviço militar a dupla Doc Pomus e Mort Shuman logo se tornou a principal da carreira do cantor. Não é para menos, pois eles eram realmente ótimos, tanto nas letras como nas melodias. Infelizmente como era de se esperar foram colocados de lado por Tom Parker que começou a considerar a dupla cara demais para trabalhar com Presley. Assim eles foram empurrados sem muita cerimônia para a geladeira. Para surpresa de muitos ressurgiram timidamente aqui na trilha de "Spinout". A canção é fraca, parece que foi vendida pela dupla propositalmente assim. Algo no estilo "pelo preço que vocês querem pagar só podemos oferecer músicas desse nível".
Am I Ready (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Outra bela balada de Tepper e Bennett. Embora fossem contratados da Paramount Pictures, onde compuseram vasto e bom material para os filmes de Elvis, eles também vendiam suas criações por fora, como freelancers, principalmente após 1964, quando se desligaram oficialmente da Paramount. Essa música não chega a ser tão bela como "All That I Am" mas forma com essa a melhor parte da trilha sonora. Infelizmente o arranjo deixou a desejar, principalmente por não ter sido tão embelezada como a outra balada. De uma forma ou outra mantém o interesse e conta com belo trabalho vocal de Elvis Presley, relembrando seus melhores momentos por volta de 1960 e 1961, quando seu estilo de cantar era muito mais suave e terno.
Beach Shack (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - Um verdadeiro lixo! Muitos fãs de Elvis ficam irritados quando alguém afirma que Elvis gravou lixo cultural em sua carreira! Ora, isso é uma afirmação verdadeira! Ele só gravou lixo? Obviamente não, claro que não, mas ele gravou sim grandes porcarias, não há como negar. Pensem sob um contexto histórico. Quando Elvis gravou essa trilha sonora ele já era um homem com mais de 30 anos, não um adolescente boboca! Apenas um cantor teen, desses bem rasteiros, gravaria algo desse tipo. Triste momento para um dos grandes talentos da música mundial que via seu talento ser explorado e colocado a serviço de lixos como esse.
Spinout (Ben Weisman / Dolores Fuller / Sid Wayne) - Se o lado A do álbum "Spinout" não conseguia sair muito do lugar comum de suas últimas trilhas sonoras, o lado B trazia algumas preciosidades. Essa canção título do filme foi inexplicavelmente jogada para abrir o lado B do disco, algo que surpreendeu aos fãs pois a tradição nas trilhas de Elvis era a música título do filme abrir o disco. Era algo que vinha desde a primeira trilha sonora de Elvis ainda nos anos 50. Não considero essa música muito boa, para falar a verdade mostrou-se uma das mais fracas dos anos 60. Será que os produtores meio que a esconderam no lado B justamente por causa de suas poucas qualidades sonoras? É uma possibilidade.
Smörgåsbord (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Essa trilha sonora de Elvis enfrentou alguns problemas no mercado inglês. Isso porque algumas expressões simplesmente não faziam sentido aos ouvidos ingleses. A própria palavra "Spinout" soava ruim aos britânicos. Agora imagine essa palavra chamada "Smörgåsbord"! Os ingleses que sempre consideraram os americanos uns matutos sem sofisticação devem ter coçado a cabeça para entender o que diabos isso significava. Curiosidades linguísticas à parte até que essa canção não é de se jogar fora. Gosto de seu ritmo e refrão pegajoso. Ouviu uma vez, não esquece mais.
I'll Be Back (Ben Weisman / Sid Wayne) - Fechando a parte da trilha sonora do álbum temos essa "I'll Be Back". Já li muitos elogios para essa canção, mas sinceramente considero muitos deles exagerados. Não quero ser interpretado de forma equivocada, "I'll Be Back" é sem dúvida uma boa música, diria mesmo muito acima da média das demais presentes na trilha desse filme, porém não é tudo aquilo que dizem e escrevem sobre ela. Considero Ben Weisman um escritor competente que foi muito criticado em sua parceria com Elvis Presley e por isso deixarei o julgamento final a cada ouvinte. Ouça e tire suas próprias conclusões.
Tomorrow is a Long Time (Bob Dylan) - Essa é a primeira bonus song do álbum e o primeiro grande momento do disco. Durante anos as pessoas ficaram sem entender porque Elvis Presley gravava tanta bobagem, sendo que na mesma época os grandes compositores americanos imploravam para que ele gravasse suas músicas. Dylan foi um deles. Considerado um dos maiores nomes da música daquele período, tinha esse velho sonho de um dia Elvis vir a gravar algumas de suas canções. O sonho se tornou realidade com essa faixa, "Tomorrow is a Long Time". Bob Dylan a gravou inicialmente em 1963, em um disco ao vivo. A música chegou a Elvis através de seu músico e amigo Charlie McCoy, que inclusive já havia trabalhado ao lado de Dylan antes. Assim que ouviu a faixa Elvis decidiu que a gravaria. Isso foi em maio de 1966 e inicialmente a RCA pensou em lançar a gravação em um single, o que teria sido uma grande ideia. Pena que mudaram de opinião e a resolveram encaixar aqui no lado B de "Spinout" onde acabou ficando obscurecida, não tendo a devida atenção que merecia. Esqueça esse erro histórico e não deixe de ouvir a faixa, considerada nos dias de hoje uma preciosidade, um dos melhores momentos de Elvis no estúdio durante os anos 1960.
Down in the Alley (Jesse Stone) - Outra jóia perdida da discografia de Elvis Presley. "Down in the Alley" é mais um blues que criminosamente foi jogado para escanteio pelos produtores de Elvis. Uma canção relevante, lindamente gravada, com ótimo entrosamento vocal que foi desperdiçada completamente dentro de sua discografia. Não merecia surgir no mercado como mera bonus song de "Spinout". De qualquer maneira Elvis adorava a música, tanto que a tentou promover até mesmo anos depois, já em Las Vegas, numa forma de resgatar esse ótimo momento obscuro de sua vida nos estúdios.
I'll Remember You (Kui Lee) - "I'll Remember You" foi muito importante para Elvis em 1973. Foi uma das faixas mais promovidas e divulgadas em seu "Aloha From Hawaii", justamente porque seu autor, Kui Lee, deu nome a uma fundação que seria ajudada com os lucros do famoso show via satélite de Elvis. Todos certamente conhecem a versão ao vivo de Presley naquele momento tão importante de sua carreira. Curiosamente poucos conhecem a versão de estúdio, essa aqui mesmo que foi lançada como última bonus song de "Spinout". Bela gravação com Elvis em pleno domínio vocal e ao contrário das faixas da trilha sonora, lindamente gravada, sem máculas, em um registro perfeito.
Elvis Presley - Spinout (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore (guitarra) / Tommy Tedesco (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Charlie Hodge (piano) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Data de gravação: fevereiro de 1966 exceto "Tomorrow is a Long Time" e "Down in the Alley", gravadas em maio de 1966 e "I'll Remember You" gravada em junho de 1966 / Data de lançamento: outubro de 1966 / Melhor Posição nas Paradas: #17 (Reino Unido) #18 (Estados Unidos).
Pablo Aluísio.
O disco pode ser dividido em duas partes bem distintas. O material do filme em si, que é caracterizado por uma certa irregularidade, e as chamadas "bonus songs", canções que não faziam parte do filme, mas que eram encaixadas nos discos para que eles não fossem muito curtos. A trilha sonora propriamente dita tem altos e baixos. Há canções medonhas de ruins como "Beach Shack", ao lado de músicas medianas ao estilo "All That I Am", além de pequenas preciosidades como a subestimada "I'll Be Back". O material foi composto por bons compositores como a dupla Sid Tepper e Roy C. Bennett, o sempre bom Joy Byers e até mesmo os excepcionais Doc Pomus e Mort Shuman, que infelizmente comparecem com apenas uma faixa. Graças aos deuses musicais os produtores resolveram colocar o trio calafrio Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye de lado e eles aparecem também com apenas uma canção, e pra variar a pior de todas, um verdadeiro lixo cultural.
Outro aspecto que merece menção é a falta de qualidade técnica das gravações. "Spinout" é considerado um dos discos mais mal equalizados da carreira de Elvis, talvez só superado por "Double Trouble" que parece ter sido gravado na garagem de alguém. Não dá para entender porque a RCA já não se importava mais com a qualidade das gravações daquele que havia sido seu maior nome até pouco tempo atrás. Ao que tudo indica os profissionais da gravadora simplesmente lavaram as mãos, deixando tudo para lá e como os discos já não vendiam mais tão bem, deixaram tudo para o "Deus dará"! Assim que se coloca o vinil original americano para tocar o ouvinte percebe a falta de capricho nas faixas. A banda já não soa tão afinada como antes e Elvis parece transparecer desleixo em seus vocais, algo impensável para quem vinha acompanhado Presley por longos anos, onde seus álbuns sempre se destacavam pelo bom gosto e cuidado nas gravações.
Alguns membros da Máfia de Memphis confirmam que Elvis ficou até mesmo abalado quando ouviu o disco pela primeira vez. Ele obviamente acusou Tom Parker de mandar mexer nas matrizes mas nada fez para parar essa interferência indevida. Chegou a dizer que ficava fisicamente doente quando descobria que um trabalho com seu nome saía mal feito, mal realizado. Some-se a isso os problemas no cinema e você terá uma ideia da imensa frustração profissional que ele vinha sentindo por essa época. A única salvação do disco vem mesmo das bonus songs, três belas canções em gravações impecáveis. "Tomorrow is a Long Time" de Bob Dylan, "Down in the Alley" de Jesse Stone e "I'll Remember You" de Kui Lee, são maravilhosas. Gravadas numa sessão em maio (e junho) de 66, estavam arquivadas, sem a RCA saber o que fazer com elas. Acabaram enfiando aqui para amenizar a má qualidade do material do filme.
Como o público já vinha ficando aborrecido com os rumos da carreira de Presley o disco ao ser lançado novamente se tornou uma decepção nas vendas, a tal ponto que pela primeira vez em sua carreira Elvis tinha sido deixado de lado pela filial brasileira da RCA Victor que simplesmente desistiu de lançar o álbum comercialmente por aqui por causa do fracasso de vendas nos Estados Unidos. E o mesmo aconteceu com vários países europeus, mostrando o grau de declínio que o antigo astro vinha passando em sua carreira, tanto no mundo do cinema como no mundo fonográfico. Como disse certa vez um articulista americano, se Elvis tivesse morrido em 1966 ou 1967, ele seria retratado como um dos maiores cantores de todos os tempos que havia desaparecido das paradas e se tornado um artista completamente irrelevante para a arte em geral. Como sabemos isso felizmente não aconteceu e em 1968 ele finalmente se levantaria do mundo dos mortos do show business para reviver novamente dias de glória na sua carreira.
Stop, Look and Listen (Joy Byers) - A canção que abre o álbum. Sempre gosto de afirmar que Joy Byers compôs algumas das melhores canções da carreira de Elvis nos anos 1960, período muito complicado para ele, que foi colocado para cantar algumas porcarias enlatadas impostas pelos estúdios de cinema. Assim Byers funcionava como um alívio, pois suas composições, se não eram geniais, pelo menos surgiam acima da média do que ele vinha gravando. Essa "Stop, Look and Listen" é uma tentativa de trazer algum conteúdo roqueiro aos discos de Elvis, que se notabilizavam mesmo por essa época pelas baladas e músicas pop. Não é de toda ruim, embora a ache mal equalizada, mal gravada (característica que pode ser atribuída aliás a todas as faixas da trilha sonora "Spinout", infelizmente).
Adam and Evil (Fred Wise / Randy Starr) - Outra canção mais agitadinha. No filme pelo menos Elvis surge em boa cena, com um figurino azul e preto em um quadro esteticamente muito interessante (muito embora o trash também esteja lá, quando um dos membros de sua banda dá uma de faquir seduzindo uma cobra de pano!). A versão apresentada no filme é ligeiramente diferente da do álbum, com mais solos de bateria. Em termos de letra esqueça, é uma tremenda bobagem.
All That I Am (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Uma das músicas mais celebradas da trilha sonora. Sid Tepper esclareceu nos anos 70 que a canção não havia sido composta especialmente para Elvis e nem para o filme. Só depois quando foi contactado pelo estúdio é que ele resolveu oferecer a canção para fazer parte do disco. Isso talvez explique porque ela é tão bem composta, com ótima melodia. O belo arranjo de violinos também soma muito em seu excelente resultado final. Um oásis de qualidade no meio do deserto de músicas fracas de "Spinout".
Never Say Yes (Doc Pomus / Mort Shuman) - Na volta de Elvis do serviço militar a dupla Doc Pomus e Mort Shuman logo se tornou a principal da carreira do cantor. Não é para menos, pois eles eram realmente ótimos, tanto nas letras como nas melodias. Infelizmente como era de se esperar foram colocados de lado por Tom Parker que começou a considerar a dupla cara demais para trabalhar com Presley. Assim eles foram empurrados sem muita cerimônia para a geladeira. Para surpresa de muitos ressurgiram timidamente aqui na trilha de "Spinout". A canção é fraca, parece que foi vendida pela dupla propositalmente assim. Algo no estilo "pelo preço que vocês querem pagar só podemos oferecer músicas desse nível".
Am I Ready (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Outra bela balada de Tepper e Bennett. Embora fossem contratados da Paramount Pictures, onde compuseram vasto e bom material para os filmes de Elvis, eles também vendiam suas criações por fora, como freelancers, principalmente após 1964, quando se desligaram oficialmente da Paramount. Essa música não chega a ser tão bela como "All That I Am" mas forma com essa a melhor parte da trilha sonora. Infelizmente o arranjo deixou a desejar, principalmente por não ter sido tão embelezada como a outra balada. De uma forma ou outra mantém o interesse e conta com belo trabalho vocal de Elvis Presley, relembrando seus melhores momentos por volta de 1960 e 1961, quando seu estilo de cantar era muito mais suave e terno.
Beach Shack (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - Um verdadeiro lixo! Muitos fãs de Elvis ficam irritados quando alguém afirma que Elvis gravou lixo cultural em sua carreira! Ora, isso é uma afirmação verdadeira! Ele só gravou lixo? Obviamente não, claro que não, mas ele gravou sim grandes porcarias, não há como negar. Pensem sob um contexto histórico. Quando Elvis gravou essa trilha sonora ele já era um homem com mais de 30 anos, não um adolescente boboca! Apenas um cantor teen, desses bem rasteiros, gravaria algo desse tipo. Triste momento para um dos grandes talentos da música mundial que via seu talento ser explorado e colocado a serviço de lixos como esse.
Spinout (Ben Weisman / Dolores Fuller / Sid Wayne) - Se o lado A do álbum "Spinout" não conseguia sair muito do lugar comum de suas últimas trilhas sonoras, o lado B trazia algumas preciosidades. Essa canção título do filme foi inexplicavelmente jogada para abrir o lado B do disco, algo que surpreendeu aos fãs pois a tradição nas trilhas de Elvis era a música título do filme abrir o disco. Era algo que vinha desde a primeira trilha sonora de Elvis ainda nos anos 50. Não considero essa música muito boa, para falar a verdade mostrou-se uma das mais fracas dos anos 60. Será que os produtores meio que a esconderam no lado B justamente por causa de suas poucas qualidades sonoras? É uma possibilidade.
Smörgåsbord (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Essa trilha sonora de Elvis enfrentou alguns problemas no mercado inglês. Isso porque algumas expressões simplesmente não faziam sentido aos ouvidos ingleses. A própria palavra "Spinout" soava ruim aos britânicos. Agora imagine essa palavra chamada "Smörgåsbord"! Os ingleses que sempre consideraram os americanos uns matutos sem sofisticação devem ter coçado a cabeça para entender o que diabos isso significava. Curiosidades linguísticas à parte até que essa canção não é de se jogar fora. Gosto de seu ritmo e refrão pegajoso. Ouviu uma vez, não esquece mais.
I'll Be Back (Ben Weisman / Sid Wayne) - Fechando a parte da trilha sonora do álbum temos essa "I'll Be Back". Já li muitos elogios para essa canção, mas sinceramente considero muitos deles exagerados. Não quero ser interpretado de forma equivocada, "I'll Be Back" é sem dúvida uma boa música, diria mesmo muito acima da média das demais presentes na trilha desse filme, porém não é tudo aquilo que dizem e escrevem sobre ela. Considero Ben Weisman um escritor competente que foi muito criticado em sua parceria com Elvis Presley e por isso deixarei o julgamento final a cada ouvinte. Ouça e tire suas próprias conclusões.
Tomorrow is a Long Time (Bob Dylan) - Essa é a primeira bonus song do álbum e o primeiro grande momento do disco. Durante anos as pessoas ficaram sem entender porque Elvis Presley gravava tanta bobagem, sendo que na mesma época os grandes compositores americanos imploravam para que ele gravasse suas músicas. Dylan foi um deles. Considerado um dos maiores nomes da música daquele período, tinha esse velho sonho de um dia Elvis vir a gravar algumas de suas canções. O sonho se tornou realidade com essa faixa, "Tomorrow is a Long Time". Bob Dylan a gravou inicialmente em 1963, em um disco ao vivo. A música chegou a Elvis através de seu músico e amigo Charlie McCoy, que inclusive já havia trabalhado ao lado de Dylan antes. Assim que ouviu a faixa Elvis decidiu que a gravaria. Isso foi em maio de 1966 e inicialmente a RCA pensou em lançar a gravação em um single, o que teria sido uma grande ideia. Pena que mudaram de opinião e a resolveram encaixar aqui no lado B de "Spinout" onde acabou ficando obscurecida, não tendo a devida atenção que merecia. Esqueça esse erro histórico e não deixe de ouvir a faixa, considerada nos dias de hoje uma preciosidade, um dos melhores momentos de Elvis no estúdio durante os anos 1960.
Down in the Alley (Jesse Stone) - Outra jóia perdida da discografia de Elvis Presley. "Down in the Alley" é mais um blues que criminosamente foi jogado para escanteio pelos produtores de Elvis. Uma canção relevante, lindamente gravada, com ótimo entrosamento vocal que foi desperdiçada completamente dentro de sua discografia. Não merecia surgir no mercado como mera bonus song de "Spinout". De qualquer maneira Elvis adorava a música, tanto que a tentou promover até mesmo anos depois, já em Las Vegas, numa forma de resgatar esse ótimo momento obscuro de sua vida nos estúdios.
I'll Remember You (Kui Lee) - "I'll Remember You" foi muito importante para Elvis em 1973. Foi uma das faixas mais promovidas e divulgadas em seu "Aloha From Hawaii", justamente porque seu autor, Kui Lee, deu nome a uma fundação que seria ajudada com os lucros do famoso show via satélite de Elvis. Todos certamente conhecem a versão ao vivo de Presley naquele momento tão importante de sua carreira. Curiosamente poucos conhecem a versão de estúdio, essa aqui mesmo que foi lançada como última bonus song de "Spinout". Bela gravação com Elvis em pleno domínio vocal e ao contrário das faixas da trilha sonora, lindamente gravada, sem máculas, em um registro perfeito.
Elvis Presley - Spinout (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore (guitarra) / Tommy Tedesco (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Charlie Hodge (piano) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Data de gravação: fevereiro de 1966 exceto "Tomorrow is a Long Time" e "Down in the Alley", gravadas em maio de 1966 e "I'll Remember You" gravada em junho de 1966 / Data de lançamento: outubro de 1966 / Melhor Posição nas Paradas: #17 (Reino Unido) #18 (Estados Unidos).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Paradise, Hawaiian Style (1966)
Agosto de 1966, o filme "Paradise, Hawaiian Style" (No Paraíso do Havaí, no Brasil) é lançado nos cinemas americanos. O filme foi filmado em locação nas ilhas havaianas de Oahu, Kauai e Mauí. Com direção de D. Michael Moore e produção de Hall Wallis pela Paramount, o filme tentava repetir o sucesso de fitas anteriores de Elvis nas ilhas do pacífico, mas o tiro saiu pela culatra e os resultados financeiros não atingiram as expectativas. Isso sem dúvida refletia todo o desgaste da carreira do cantor em Hollywood. O que escrever sobre "Paradise, Hawaiian Style"? Esse é um material tão inconsistente e falso que fica até difícil começar a apontar seus defeitos. Em primeiro lugar é um projeto que tenta imitar descaradamente Blue Hawaii (Feitiço Havaiano, 1961), aliás com a metade dos dólares gastos no filme anterior (ordens do Coronel). Elvis nem se importou muito em atuar bem e está visivelmente fora de forma. O filme, como muitos outros desse período foi realizado às pressas - em pouco mais de 2 semanas todas as cenas já estavam prontas e a equipe de filmagem de volta aos Estados Unidos. Tudo foi filmado praticamente de primeira, sem ensaio, sem cuidado, sem primor.
Nessa época parece que Elvis estava mesmo em uma espécie de coma criativo, engolindo tudo o que lhe era enfiado goela abaixo. Sua incrível intuição artística parecia morta e enterrada e o astro havia se transformado em um mero boneco na mão de diretores, produtores e roteiristas! Mas as más notícias não parariam por aí. Se não bastasse o filme ser extremamente ruim e inconsistente o "Rei" ainda seria jogado em um lamaçal de músicas ruins. "Paradise" é sem sombra de dúvida uma das piores trilhas sonoras de sua carreira (se não for a pior!). A faixa título é muito ruim, com péssima letra (com um verso pra lá de estúpido: "Puxa! Como é bom estar no 50º Estado!") E a partir daí é uma ladeira abaixo, com canções de mal gosto (Scratch My Back), infantis e maçantes (Datin) constrangedoras (A Dogs Life) e mal produzidas (Stop Where You Are). Nem This Is My Heaven consegue manter a dignidade. A única e honrosa exceção no meio desse pântano de músicas ruins e baratas é mesmo, como já foi dito, a bela canção Sand Castles. E por incrível que pareça ela foi a única cortada do filme! Como pôde acontecer uma coisa dessas? Realmente Paradise, Hawaiian Style é impressionante, pois até nisso eles se equivocaram. Não há muito o que comentar nesse momento opaco, depois dessa é melhor esquecer que nosso querido ídolo se envolveu em tamanho abacaxi, literalmente!
Paradise, Hawaiian Style (Giant / Baum / Kaye) - Realmente essa faixa tema é ruim demais. Se existisse um prêmio "framboesa de ouro" na categoria de "pior música tema de um filme de Elvis" essa levaria o prêmio fácil, fácil. Até o vocal de Elvis está estranho, muito contido e cantando extremamente mal, como se a master original estivesse fora da rotação normal. O ritmo é muito equivocado mas a letra é insuperável! "Como é bom estar no 50º Estado"!. Que bobagem é essa? Esse triozinho de compositores quando erravam a mão erravam mesmo pra valer! Terra arrasada mesmo! Péssimo em todos os aspectos!
Queenie Wahine's Papaya (Giant / Baum / Kaye) - Outra pérola trash! No filme Elvis divide os vocais com a garotinha pentelho Donna Buttersworth, que é engraçadinha, talentosa e bonitinha, mas que em nenhum momento do filme deixa de ser pentelhinha. Falando sério, vamos ser sinceros: colocar Elvis Presley, o Rei do Rock, numa cena abacaxi dessas, batendo em panelas já é demais! Alguém deveria ter tirado Elvis à força dos sets de filmagens desse filme! Nada contra Elvis dividir o microfone com uma criança, mas se pelo menos ela soubesse cantar! Seria pedir demais?!
Scratch My Back (Giant / Baum / Kaye) - Outra música que faz jus à total e absoluta falta de talento desse trio assustador que escreveu algumas músicas desse filme. A cena é ainda pior, pois Elvis tem que se abaixar de perfil ao se esfregar em algumas - minhas sinceras desculpas Fernanda Montenegro - "atrizes"! E nesse momento, como ele estava bem fora de forma, sua pancinha se sobressai de forma constrangedora. Complicado superar tamanha besteira! Sério, ninguém viu isso não? Nem vou escrever sobre a canção...
Drums of The Islands (Polynesium Cultural Center / S. Tepper / R.C. Bennett) - Bem, alguém deve ter pensado: Precisamos colocar alguma dignidade nessa trilha sonora, vamos escrever alguma coisa que preste! Então chamaram os compositores dos filmes "G.I. Blues" e "Blue Hawaii" para comporem e adaptarem um tema típico havaiano. Quase conseguiram, a bola bateu na trave. Se não é um primor, pelo menos traz Elvis em boa vocalização com uma boa equipe vocal o apoiando. Uma pequena pausa na mediocridade reinante.
Datin (J. Wise / R. Starr) - "Datin" é um caso interessante. Se você não se importar com a infantilidade do tema pode até mesmo se divertir com o ritmo alegre e sem pretensão nenhuma. Diversão pela diversão. Escapismo total mesmo. É um dos bons momentos da trilha, mesmo que seja bobinha, mesmo que a letra seja ingênua e pueril. No filme novamente a atriz mirim estraga a canção, mas felizmente a versão presente no disco só conta com a vocalização de Elvis. Pelo menos dessa vez o bom senso prevaleceu!
Pablo Aluísio. A Dog's Life (Ben Weisman / S. Wayne) - E pensar que Elvis, que cantou "Hound Dog" iria acabar gravando "A Dog's Life"! A pior música do filme que já é ruim de doer! Na cena no Helicóptero de papelão Elvis divide a "atuação" com um monte de amigos caninos! Acho que não poderia ser pior! O fim da picada!
House of Sand (Giant / Baum / Kaye) - Quando pensávamos que estávamos livres do trio calafrio eles reaparecem com mais uma "bomba"! Eita musiquinha ruim essa hein! Elvis transparece todo seu tédio (que deve ter sido enorme ao gravar esse material) e apenas interpreta a pobreza lírica com desdém nítido. Ruindade pouca é bobagem.
Stop Where You Are (Giant / Baum / Kaye) - Outra porcaria assinada por Giant, Baum e Kaye. Esses caras eram realmente imbatíveis, não me surpreende o fato deles terem sido os pais dos maiores abacaxis da carreira de Elvis como "Kissin Cousins" e "Harum Scarum". Mas aonde diabos afinal o Coronel Parker achou esses caras? Com tantos compositores talentosos nos anos 60 implorando para que Elvis gravasse suas músicas, o Coronel resolveu escolher logo os mais ineptos e idiotas disponíveis no mercado? Como perdoar uma coisa dessas? Provavelmente eles cobravam uma merreca para comporem temas para Elvis. Pelo qualidade da mercadoria entregue sem dúvida o Coronel não gastou muito.
This Is My Haven (Giant / Baum / Kaye) - Adivinhe só quem compôs essa canção? Leva um abacaxi quem ganhar! Eles mesmos: Giant, Baum e Kaye! Dessa vez eles tentaram diminuir um pouco a mediocridade e escreveram pelo menos uma melodia agradável. Mas depois de escreverem tantos temas ruins será que tem salvação? A música é menos constrangedora do que as demais, mas mesmo assim não empolga e nem decola. Fico no lenga lenga e termina logo (graças a Deus!)
Sand Castles (H Guldeberg / D. Hess) - Você chega no finalzinho da trilha sonora e pensa que perdeu minutos preciosos de sua vida com nada e de repente começa "Sand Castles". Você dá um salto e fica com o queixo caído! Essa canção é mesmo de "Paradise, Hawaiian Style"? Eu não acredito! Essa música é simplesmente LINDA! Como é que ela foi parar aqui, no fim, desprezada e esquecida? É um dos maiores vocais de Elvis em toda a sua discografia (e isso meu caro não é pouca coisa!). Acompanhamento lindo e ritmo relaxante, "Sand Castles" evita que joguemos o disco na lata de lixo! Simplesmente adoro essa canção e sempre a ouço (tente ouvi-la a dois!). Fantástica e completamente destoante do restante da trilha sonora. Ah! se o disco fosse composto de dez versões dessa mesma canção! Seria muito mais relevante do que a trilha inteira! Nota 10 com louvores!
Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Barney Kessel (guitarra) / Charlie McCoy (guitarra) / Ray Siegel (baixo) / Keith Mitchell (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Milton Holland (bateria) / Larry Muhoberac (piano) / Bernal Lewis (steel guitar) / Al Hendricksson (guitarra) / Howard Roberts (guitarra) / Victor Feldman: (bateria) / The Mello Men: Bill Lee, Max Smith, Bill Cole e Gene Merlino (vocais) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker (vocais) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de gravação: 26 e 27 de julho e 2,3 e 4 de agosto de 1965 / Produzido por Thorne Nogar / Data de lançamento: maio de 1966 / Melhor posição nas charts: #15 (USA) e #7 (UK).
Pablo Aluísio.
Nessa época parece que Elvis estava mesmo em uma espécie de coma criativo, engolindo tudo o que lhe era enfiado goela abaixo. Sua incrível intuição artística parecia morta e enterrada e o astro havia se transformado em um mero boneco na mão de diretores, produtores e roteiristas! Mas as más notícias não parariam por aí. Se não bastasse o filme ser extremamente ruim e inconsistente o "Rei" ainda seria jogado em um lamaçal de músicas ruins. "Paradise" é sem sombra de dúvida uma das piores trilhas sonoras de sua carreira (se não for a pior!). A faixa título é muito ruim, com péssima letra (com um verso pra lá de estúpido: "Puxa! Como é bom estar no 50º Estado!") E a partir daí é uma ladeira abaixo, com canções de mal gosto (Scratch My Back), infantis e maçantes (Datin) constrangedoras (A Dogs Life) e mal produzidas (Stop Where You Are). Nem This Is My Heaven consegue manter a dignidade. A única e honrosa exceção no meio desse pântano de músicas ruins e baratas é mesmo, como já foi dito, a bela canção Sand Castles. E por incrível que pareça ela foi a única cortada do filme! Como pôde acontecer uma coisa dessas? Realmente Paradise, Hawaiian Style é impressionante, pois até nisso eles se equivocaram. Não há muito o que comentar nesse momento opaco, depois dessa é melhor esquecer que nosso querido ídolo se envolveu em tamanho abacaxi, literalmente!
Paradise, Hawaiian Style (Giant / Baum / Kaye) - Realmente essa faixa tema é ruim demais. Se existisse um prêmio "framboesa de ouro" na categoria de "pior música tema de um filme de Elvis" essa levaria o prêmio fácil, fácil. Até o vocal de Elvis está estranho, muito contido e cantando extremamente mal, como se a master original estivesse fora da rotação normal. O ritmo é muito equivocado mas a letra é insuperável! "Como é bom estar no 50º Estado"!. Que bobagem é essa? Esse triozinho de compositores quando erravam a mão erravam mesmo pra valer! Terra arrasada mesmo! Péssimo em todos os aspectos!
Queenie Wahine's Papaya (Giant / Baum / Kaye) - Outra pérola trash! No filme Elvis divide os vocais com a garotinha pentelho Donna Buttersworth, que é engraçadinha, talentosa e bonitinha, mas que em nenhum momento do filme deixa de ser pentelhinha. Falando sério, vamos ser sinceros: colocar Elvis Presley, o Rei do Rock, numa cena abacaxi dessas, batendo em panelas já é demais! Alguém deveria ter tirado Elvis à força dos sets de filmagens desse filme! Nada contra Elvis dividir o microfone com uma criança, mas se pelo menos ela soubesse cantar! Seria pedir demais?!
Scratch My Back (Giant / Baum / Kaye) - Outra música que faz jus à total e absoluta falta de talento desse trio assustador que escreveu algumas músicas desse filme. A cena é ainda pior, pois Elvis tem que se abaixar de perfil ao se esfregar em algumas - minhas sinceras desculpas Fernanda Montenegro - "atrizes"! E nesse momento, como ele estava bem fora de forma, sua pancinha se sobressai de forma constrangedora. Complicado superar tamanha besteira! Sério, ninguém viu isso não? Nem vou escrever sobre a canção...
Drums of The Islands (Polynesium Cultural Center / S. Tepper / R.C. Bennett) - Bem, alguém deve ter pensado: Precisamos colocar alguma dignidade nessa trilha sonora, vamos escrever alguma coisa que preste! Então chamaram os compositores dos filmes "G.I. Blues" e "Blue Hawaii" para comporem e adaptarem um tema típico havaiano. Quase conseguiram, a bola bateu na trave. Se não é um primor, pelo menos traz Elvis em boa vocalização com uma boa equipe vocal o apoiando. Uma pequena pausa na mediocridade reinante.
Datin (J. Wise / R. Starr) - "Datin" é um caso interessante. Se você não se importar com a infantilidade do tema pode até mesmo se divertir com o ritmo alegre e sem pretensão nenhuma. Diversão pela diversão. Escapismo total mesmo. É um dos bons momentos da trilha, mesmo que seja bobinha, mesmo que a letra seja ingênua e pueril. No filme novamente a atriz mirim estraga a canção, mas felizmente a versão presente no disco só conta com a vocalização de Elvis. Pelo menos dessa vez o bom senso prevaleceu!
Pablo Aluísio. A Dog's Life (Ben Weisman / S. Wayne) - E pensar que Elvis, que cantou "Hound Dog" iria acabar gravando "A Dog's Life"! A pior música do filme que já é ruim de doer! Na cena no Helicóptero de papelão Elvis divide a "atuação" com um monte de amigos caninos! Acho que não poderia ser pior! O fim da picada!
House of Sand (Giant / Baum / Kaye) - Quando pensávamos que estávamos livres do trio calafrio eles reaparecem com mais uma "bomba"! Eita musiquinha ruim essa hein! Elvis transparece todo seu tédio (que deve ter sido enorme ao gravar esse material) e apenas interpreta a pobreza lírica com desdém nítido. Ruindade pouca é bobagem.
Stop Where You Are (Giant / Baum / Kaye) - Outra porcaria assinada por Giant, Baum e Kaye. Esses caras eram realmente imbatíveis, não me surpreende o fato deles terem sido os pais dos maiores abacaxis da carreira de Elvis como "Kissin Cousins" e "Harum Scarum". Mas aonde diabos afinal o Coronel Parker achou esses caras? Com tantos compositores talentosos nos anos 60 implorando para que Elvis gravasse suas músicas, o Coronel resolveu escolher logo os mais ineptos e idiotas disponíveis no mercado? Como perdoar uma coisa dessas? Provavelmente eles cobravam uma merreca para comporem temas para Elvis. Pelo qualidade da mercadoria entregue sem dúvida o Coronel não gastou muito.
This Is My Haven (Giant / Baum / Kaye) - Adivinhe só quem compôs essa canção? Leva um abacaxi quem ganhar! Eles mesmos: Giant, Baum e Kaye! Dessa vez eles tentaram diminuir um pouco a mediocridade e escreveram pelo menos uma melodia agradável. Mas depois de escreverem tantos temas ruins será que tem salvação? A música é menos constrangedora do que as demais, mas mesmo assim não empolga e nem decola. Fico no lenga lenga e termina logo (graças a Deus!)
Sand Castles (H Guldeberg / D. Hess) - Você chega no finalzinho da trilha sonora e pensa que perdeu minutos preciosos de sua vida com nada e de repente começa "Sand Castles". Você dá um salto e fica com o queixo caído! Essa canção é mesmo de "Paradise, Hawaiian Style"? Eu não acredito! Essa música é simplesmente LINDA! Como é que ela foi parar aqui, no fim, desprezada e esquecida? É um dos maiores vocais de Elvis em toda a sua discografia (e isso meu caro não é pouca coisa!). Acompanhamento lindo e ritmo relaxante, "Sand Castles" evita que joguemos o disco na lata de lixo! Simplesmente adoro essa canção e sempre a ouço (tente ouvi-la a dois!). Fantástica e completamente destoante do restante da trilha sonora. Ah! se o disco fosse composto de dez versões dessa mesma canção! Seria muito mais relevante do que a trilha inteira! Nota 10 com louvores!
Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Barney Kessel (guitarra) / Charlie McCoy (guitarra) / Ray Siegel (baixo) / Keith Mitchell (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Milton Holland (bateria) / Larry Muhoberac (piano) / Bernal Lewis (steel guitar) / Al Hendricksson (guitarra) / Howard Roberts (guitarra) / Victor Feldman: (bateria) / The Mello Men: Bill Lee, Max Smith, Bill Cole e Gene Merlino (vocais) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker (vocais) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de gravação: 26 e 27 de julho e 2,3 e 4 de agosto de 1965 / Produzido por Thorne Nogar / Data de lançamento: maio de 1966 / Melhor posição nas charts: #15 (USA) e #7 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Frankie and Johnny (1966)
Assim como aconteceu com "Harum Scarum" temos aqui uma boa trilha sonora de um filme ruim. Muitas pessoas dizem que Elvis só gravou coisa ruim em seus anos de Hollywood, principalmente após 1965 mas acredito que essa seja uma visão muito simplista. Alguns de seus álbuns sofreram e foram descartados sumariamente simplesmente por serem trilhas sonoras de filmes fracos, de produções que deixavam a desejar. Já pensei quase desse modo no passado, mas ouvindo novamente algumas dessas canções que ficaram perdidas nas areias do tempo, posso dizer sem receios que muitas delas são boas e, para surpresa de muitos, com talentosas performances por parte de Elvis e banda. A trilha de "Frankie and Johnny" está inserida justamente nessa categoria. Certamente tem bobagens e claramente apresenta momentos que nunca seriam dignos de um artista como Elvis Presley, mas no meio de tudo também se esconde pequenas preciosidades esquecidas. Duvida? Que tal ouvir o disco novamente para tirar as dúvidas. Vamos dar um passeio pelo álbum? Convite aceito, vamos lá...
1. Frankie and Johnny (Alex Gottlieb / Fred Karger / Ben Weisman) - Logo na faixa título o ouvinte terá a certeza que essa trilha não tem uma sonoridade comum. O arranjo de metais, tentando reviver o clima de New Orleans, já chega forte nos primeiros segundos da audição. Particularmente gosto muito desse tipo de instrumentação, não apenas por se tratar de algo que fuja do convencional e habitual, mas também por ser algo reverencial a um tempo passado, fruto, é claro, do enredo do próprio filme que é de época. Uma boa faixa, muito bem arranjada e executada.
2. Come Along (David Hess) - Outro prazer sem culpas. Aqui o destaque vai para o trabalho primoroso dos vocais. As pessoas ouvem esse tipo de gravação é podem até mesmo pensar que é fácil encontrar um entrosamento como esse, onde em um ritmo rápido todos os vocalistas (Elvis e seu grupo de apoio) surgem perfeitamente sincronizados. Não se engane, não é nada fácil realizar algo assim, principalmente nas notas finais do fim dos versos que são bem incisivos. Belo trabalho de Presley e os Jordanaires.
3. Petunia, The Gardener's Daughter (Roy C. Bennett / Sid Tepper) - Bom, como se trata de um trilha sonora de Elvis nos anos 60 não escaparemos de ouvir algumas bobagens. Essa é a primeira delas. Depois de duas boas faixas, fortes, gravadas e cantadas com convicção, surge essa que tem uma letra de amargar. Também é de se admirar que essa boa dupla de compositores tenha criada essa musiquinha medíocre. Se você estiver ouvindo um vinil pode levantar a agulha e ir para a próxima sem receios. Se for um CD melhor programar para ela ser ignorada na seleção de faixas. Não fará diferença.
4. Chesay (Ben Weisman / Fred Karger / Sid Wayne) - Ben Weisman foi o compositor mais produtivo durante esse período da carreira de Elvis. No total deve ter composto mais de 50 faixas para o garoto de Memphis. Essa é mais uma delas. O destaque vem de um ótimo trabalho vocal. Gosto bastante do entrosamento que Elvis e os Jordanaires tiveram nessas sessões. Perceba que ao contrário dos outros álbuns de Elvis na época, esse contou com a entrada de vários músicos contratados para reproduzir a sonoridade típica das canções para esse filme. Assim ao lado de Elvis havia mais de 15 músicos dentro do estúdio naquela ocasião. Imagine o trabalho que deu colocar toda essa gente em fina sintonia. "Chesay" prova que todos estavam muito bem entrosados.
5. What Every Woman Lives For (Doc Pomus / Mort Shuman) - Depois de um começo promissor ao lado de Elvis no começo dos anos 60 a dupla Pomus e Shuman foi desaparecendo dos discos do cantor. Tinham ficado caros demais na opinião de Tom Parker. Aqui ressurgem ainda timidamente na sua única composição para a trilha sonora. O curioso é que para muitos não foi uma grande volta. Muitos implicam com a letra dessa canção. Dizem que ela vai além do mau gosto em termos de arranjo e letra, que não é apenas machista, mas cafajeste também. Coloca as mulheres na condição de interesseiras, materialistas e loucas apenas pelo dinheiro dos homens. Eu acho que há um grande erro de interpretação no que os autores quiseram passar com a letra, pois no fundo é uma mensagem de amor sobre o que realmente engrandece a vida de uma mulher, que é, repita-se, o amor que ela pode dar ao seu companheiro e não bens materiais como muita gente entendeu, de forma bem errada aliás. As feministas muitas vezes exageram na dose.
6. Look Out Broadway (Fred Wise / Randy Starr) - Se erraram no que a canção anterior dizia, o que falar dessa em que um dos trechos da letra pergunta: "Se ele lhe der um diamante, o que você dará a ele?". Meio grosseirão não é mesmo? Mas não se engane, mesmo em termos de letra essa se salva. É no fundo uma ode à busca pelo sucesso nos palcos da vida, em especial da Broadway em Nova Iorque, o sonho de praticamente todo aspirante à ator nos Estados Unidos. Assim posso dizer que até gosto do resultado, tanto do ponto de vista da letra como da música, mesmo com a pergunta maliciosa que está inserida nela.
7. Beginner's Luck (Roy C. Bennett / Sid Tepper) - Mais uma composição da dupla que compôs o maior sucesso de Elvis em Hollywood, a trilha sonora de "Blue Hawaii". Essa é uma canção sobre se ter sorte de principiante ao se apaixonar pela primeira vez por uma mulher realmente maravilhosa! Quem, em sã consciência, não gostaria de ter essa sorte na vida? Até porque o primeiro amor ninguém esquece, sempre é o mais forte e também o mais idealizado - e talvez por isso seja realmente inesquecível. Essa é uma boa música que apresenta uma bela melodia onde Elvis parece se entregar completamente. Um bom momento do disco, que volto a dizer, tem seus méritos, não restam dúvidas sobre isso.
8. Down by the Riverside / When the Saints Go Marching In (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Muitos não gostam desse medley com músicas tradicionais. Eu penso de forma diferente, acho de uma alegria contagiante, inclusive por parte de Elvis Presley, que parece estar se divertindo como nunca! Além da animada performance temos que dar o braço a torcer pelas próprias canções, que são maravilhosas. Embora tenham sido creditadas a esse trio no disco, eles nada mais fizeram do que apenas adaptar as canções para Elvis e o filme. "Down by the Riverside", por exemplo, era dos tempos da guerra civil e "When the Saints Go Marching In" é uma canção católica composta originalmente em tempos imemoriais.
9. Shout It Out (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Outra boa canção da trilha sonora. No filme Elvis surge apresentando a música com uma roupa escura no velho estilo do sul, que em um bom exercício de imaginação, até mesmo antecipa algumas de suas mais famosas jumpsuits dos anos 70.
10. Hard Luck (Ben Weisman / Sid Wayne) - Mais uma composição do Ben Weisman. O ritmo é de blues, com Elvis a cantando ao lado de um garoto negro do filme, mandando ver em sua gaita de bolsa (na verdade dublando o talento de Charlie McCoy). Apesar de sempre ser um prazer renovado ouvir Elvis cantando blues essa faixa é prejudicada por ser Hollywoodiana demais. A letra pelo menos é até bem escrita, fugindo de maiores banalidades. No geral podemos dizer que é apenas mediana, além de curta demais.
11. Please Don't Stop Loving Me (Joy Byers) - Joy Byers durante essa fase da carreira de Elvis foi responsável por alguns dos melhores momentos das cambaleantes trilhas sonoras do cantor. Aqui está de volta, só que ao invés de escrever algum pop mais agitado optou por uma balada romântica. Considero um dos momentos mais fracos da trilha por apelar demais para clichês - tanto do ponto de vista de arranjos como de letra. A cena do filme é fraca, pois Elvis a canta de uma janela do barco (o cenário aliás não é muito convincente, mostrando toda a falta de capricho na produção do filme, que sendo bem sincero é B demais para que nos importemos com ele).
12. Everybody Come Aboard (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - A trilha sonora se encerra com essa boa "Everybody Come Aboard", com muitos metais e arranjo ao velho estilo de New Orleans. Sem acompanhamento vocal marcante, contando praticamente apenas com Elvis nos vocais é uma boa despedida para "Frankie and Johnny". Bem melhor do que muitas canções ruins que ele teve que enfrentar por essa época.
Frankie and Johnny (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Eileen Wilson (vocais) / George Worth (trumpete) / Richard Noel (trombone) / John Johnson (tuba) / Gus Bivona (saxophone) / Scotty Moore (guiarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Charlie McCoy (harmonica) / Larry Muhoberac (piano) / Bob Moore (baixo) / D. J. Fontana, Buddy Harman (baixo) / Data de Gravação: maio de 1965 / Data de Lançamento: março de 1966 / Melhor Posição nas paradas: # 20 (EUA) # 11 (UK).
Pablo Aluísio.
1. Frankie and Johnny (Alex Gottlieb / Fred Karger / Ben Weisman) - Logo na faixa título o ouvinte terá a certeza que essa trilha não tem uma sonoridade comum. O arranjo de metais, tentando reviver o clima de New Orleans, já chega forte nos primeiros segundos da audição. Particularmente gosto muito desse tipo de instrumentação, não apenas por se tratar de algo que fuja do convencional e habitual, mas também por ser algo reverencial a um tempo passado, fruto, é claro, do enredo do próprio filme que é de época. Uma boa faixa, muito bem arranjada e executada.
2. Come Along (David Hess) - Outro prazer sem culpas. Aqui o destaque vai para o trabalho primoroso dos vocais. As pessoas ouvem esse tipo de gravação é podem até mesmo pensar que é fácil encontrar um entrosamento como esse, onde em um ritmo rápido todos os vocalistas (Elvis e seu grupo de apoio) surgem perfeitamente sincronizados. Não se engane, não é nada fácil realizar algo assim, principalmente nas notas finais do fim dos versos que são bem incisivos. Belo trabalho de Presley e os Jordanaires.
3. Petunia, The Gardener's Daughter (Roy C. Bennett / Sid Tepper) - Bom, como se trata de um trilha sonora de Elvis nos anos 60 não escaparemos de ouvir algumas bobagens. Essa é a primeira delas. Depois de duas boas faixas, fortes, gravadas e cantadas com convicção, surge essa que tem uma letra de amargar. Também é de se admirar que essa boa dupla de compositores tenha criada essa musiquinha medíocre. Se você estiver ouvindo um vinil pode levantar a agulha e ir para a próxima sem receios. Se for um CD melhor programar para ela ser ignorada na seleção de faixas. Não fará diferença.
4. Chesay (Ben Weisman / Fred Karger / Sid Wayne) - Ben Weisman foi o compositor mais produtivo durante esse período da carreira de Elvis. No total deve ter composto mais de 50 faixas para o garoto de Memphis. Essa é mais uma delas. O destaque vem de um ótimo trabalho vocal. Gosto bastante do entrosamento que Elvis e os Jordanaires tiveram nessas sessões. Perceba que ao contrário dos outros álbuns de Elvis na época, esse contou com a entrada de vários músicos contratados para reproduzir a sonoridade típica das canções para esse filme. Assim ao lado de Elvis havia mais de 15 músicos dentro do estúdio naquela ocasião. Imagine o trabalho que deu colocar toda essa gente em fina sintonia. "Chesay" prova que todos estavam muito bem entrosados.
5. What Every Woman Lives For (Doc Pomus / Mort Shuman) - Depois de um começo promissor ao lado de Elvis no começo dos anos 60 a dupla Pomus e Shuman foi desaparecendo dos discos do cantor. Tinham ficado caros demais na opinião de Tom Parker. Aqui ressurgem ainda timidamente na sua única composição para a trilha sonora. O curioso é que para muitos não foi uma grande volta. Muitos implicam com a letra dessa canção. Dizem que ela vai além do mau gosto em termos de arranjo e letra, que não é apenas machista, mas cafajeste também. Coloca as mulheres na condição de interesseiras, materialistas e loucas apenas pelo dinheiro dos homens. Eu acho que há um grande erro de interpretação no que os autores quiseram passar com a letra, pois no fundo é uma mensagem de amor sobre o que realmente engrandece a vida de uma mulher, que é, repita-se, o amor que ela pode dar ao seu companheiro e não bens materiais como muita gente entendeu, de forma bem errada aliás. As feministas muitas vezes exageram na dose.
6. Look Out Broadway (Fred Wise / Randy Starr) - Se erraram no que a canção anterior dizia, o que falar dessa em que um dos trechos da letra pergunta: "Se ele lhe der um diamante, o que você dará a ele?". Meio grosseirão não é mesmo? Mas não se engane, mesmo em termos de letra essa se salva. É no fundo uma ode à busca pelo sucesso nos palcos da vida, em especial da Broadway em Nova Iorque, o sonho de praticamente todo aspirante à ator nos Estados Unidos. Assim posso dizer que até gosto do resultado, tanto do ponto de vista da letra como da música, mesmo com a pergunta maliciosa que está inserida nela.
7. Beginner's Luck (Roy C. Bennett / Sid Tepper) - Mais uma composição da dupla que compôs o maior sucesso de Elvis em Hollywood, a trilha sonora de "Blue Hawaii". Essa é uma canção sobre se ter sorte de principiante ao se apaixonar pela primeira vez por uma mulher realmente maravilhosa! Quem, em sã consciência, não gostaria de ter essa sorte na vida? Até porque o primeiro amor ninguém esquece, sempre é o mais forte e também o mais idealizado - e talvez por isso seja realmente inesquecível. Essa é uma boa música que apresenta uma bela melodia onde Elvis parece se entregar completamente. Um bom momento do disco, que volto a dizer, tem seus méritos, não restam dúvidas sobre isso.
8. Down by the Riverside / When the Saints Go Marching In (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Muitos não gostam desse medley com músicas tradicionais. Eu penso de forma diferente, acho de uma alegria contagiante, inclusive por parte de Elvis Presley, que parece estar se divertindo como nunca! Além da animada performance temos que dar o braço a torcer pelas próprias canções, que são maravilhosas. Embora tenham sido creditadas a esse trio no disco, eles nada mais fizeram do que apenas adaptar as canções para Elvis e o filme. "Down by the Riverside", por exemplo, era dos tempos da guerra civil e "When the Saints Go Marching In" é uma canção católica composta originalmente em tempos imemoriais.
9. Shout It Out (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Outra boa canção da trilha sonora. No filme Elvis surge apresentando a música com uma roupa escura no velho estilo do sul, que em um bom exercício de imaginação, até mesmo antecipa algumas de suas mais famosas jumpsuits dos anos 70.
10. Hard Luck (Ben Weisman / Sid Wayne) - Mais uma composição do Ben Weisman. O ritmo é de blues, com Elvis a cantando ao lado de um garoto negro do filme, mandando ver em sua gaita de bolsa (na verdade dublando o talento de Charlie McCoy). Apesar de sempre ser um prazer renovado ouvir Elvis cantando blues essa faixa é prejudicada por ser Hollywoodiana demais. A letra pelo menos é até bem escrita, fugindo de maiores banalidades. No geral podemos dizer que é apenas mediana, além de curta demais.
11. Please Don't Stop Loving Me (Joy Byers) - Joy Byers durante essa fase da carreira de Elvis foi responsável por alguns dos melhores momentos das cambaleantes trilhas sonoras do cantor. Aqui está de volta, só que ao invés de escrever algum pop mais agitado optou por uma balada romântica. Considero um dos momentos mais fracos da trilha por apelar demais para clichês - tanto do ponto de vista de arranjos como de letra. A cena do filme é fraca, pois Elvis a canta de uma janela do barco (o cenário aliás não é muito convincente, mostrando toda a falta de capricho na produção do filme, que sendo bem sincero é B demais para que nos importemos com ele).
12. Everybody Come Aboard (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - A trilha sonora se encerra com essa boa "Everybody Come Aboard", com muitos metais e arranjo ao velho estilo de New Orleans. Sem acompanhamento vocal marcante, contando praticamente apenas com Elvis nos vocais é uma boa despedida para "Frankie and Johnny". Bem melhor do que muitas canções ruins que ele teve que enfrentar por essa época.
Frankie and Johnny (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Eileen Wilson (vocais) / George Worth (trumpete) / Richard Noel (trombone) / John Johnson (tuba) / Gus Bivona (saxophone) / Scotty Moore (guiarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Charlie McCoy (harmonica) / Larry Muhoberac (piano) / Bob Moore (baixo) / D. J. Fontana, Buddy Harman (baixo) / Data de Gravação: maio de 1965 / Data de Lançamento: março de 1966 / Melhor Posição nas paradas: # 20 (EUA) # 11 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Harum Scarum (1965)
Como já tive a oportunidade de escrever antes, até simpatizo com essa trilha sonora. Perceba que o filme é realmente horrendo, de péssima qualidade, algo que qualquer pessoa que entenda minimamente de cinema verá, mas a trilha sonora é até bem digna e razoável. Isso é até fácil de explicar. As trilhas eram gravadas antes das filmagens e Elvis estava particularmente empolgado em participar desse filme. Ele, em sua inocência, pensava que estaria prestes a fazer algo relevante, e ao lembrar de Rodolfo Valentino em "O Sheik", Presley pensou que estaria prestes a começar a produção que iria mudar sua sorte no cinema! Por isso se esforçou tanto para dar o melhor de si na gravação das canções para a trilha. Claro que depois, com o tempo, ele foi entendendo que estava entrando numa fria, mas aí o álbum já estava gravado e não haveria mais volta. O importante para o fã de Elvis é que seu trabalho de vocalização e até mesmo os arranjos das músicas são muito bons, surpreendentes até! Quase todas as composições são do trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. O Coronel Parker não queria mais compositores caros escrevendo para Elvis então eles viraram uma opção para os álbuns do cantor. Se em "Kissin Cousins" escreveram várias bobagens, aqui pelo menos se mostraram um pouco mais inspirados. Vamos às músicas?
Harem Holiday (Peter Andreoli - Vince Poncia) - A canção tema do filme deveria se chamar obviamente "Harum Scarum" mas essa era uma expressão sem nenhuma sonoridade, além de não fazer sentido para os ingleses. Ora, se nem eles que falam inglês iriam compreender o nome original do filme, o que dirá dos demais países? Assim em um raro momento de bom senso nesse projeto resolveu-se escrever um tema chamado "Harem Holiday", expressão que daria inclusive nome ao filme na Inglaterra. É um pop animadinho e bem gravado, nada demais, mas que serve para animar um pouquinho as coisas tanto no filme, como na trilha em si.
My Desert Serenade (Stanley J. Gelber) - A primeira boa canção da trilha. Elvis está particularmente bem e a melodia sem dúvida agrada. Consigo ver aqui lampejos melódicos até mesmo da nossa Bossa Nova! Essas sessões de gravação contaram com três novos músicos, que não eram habituais em discos de Elvis e que estavam lá para ajudar na sonoridade do Oriente Médio. Além do próprio diretor do filme, Gene Nelson na percussão, o novo trio contava ainda com Ralph Strobel no oboé e Rufus Long na flauta!
Go East - Young Man (Baum - Giant - Kaye) - A primeira composição do conhecido trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. O que dizer? Eles já demonstram aqui que certamente não serão tão grotescos como foram na maioria das canções de "Kissin Cousins". Outra boa melodia que se não tem boa letra, pelo menos agrada por seu ritmo leve e relaxante.
Mirage (Joy Byers) - Quem diria que Joy Byers assinaria algo assim? Para quem escreveu algumas das melhores canções pop de Elvis em Hollywood aqui surge com algo completamente diferenciado. Não é das minhas preferidas e a cena do filme em que ela é apresentada é outra coisa sem imaginação alguma. Elvis com um figurino estranho cantando para mais uma daquelas atrizinhas canastronas que contracenava com ela na época. Passe para a próxima.
Kismet (Sid Tepper - Roy C. Bennett) - Essa dupla escreveu alguns dos mais populares hits de Elvis nos anos 60, inclusive conseguiram o mérito de levar uma trilha sonora do cantor (G.I. Blues) a ser indicado ao Grammy!!! Certamente eram talentosos mas acabaram caindo nas garras de Tom Parker que os considerava "caros demais". Por isso suas composições foram rareando cada vez mais nos novos álbuns do astro em Hollywood. Essa, por exemplo, é a única deles nesse filme. Elvis a canta ao lado de um pequeno lago no filme, uma das poucas cenas externas de todo o filme, que foi praticamente todo rodado dentro dos estúdios para economizar ao máximo nos custos de produção. É uma boa baladinha que fica na média do que se ouve no resto da trilha sonora.
Shake That Tambourine (Baum - Giant - Kaye) - No vinil original essa canção fechava o lado A do disco. É a primeira grande bobagem da trilha. Elvis no filme surge numa cena muito fraquinha, com horrorosas calças verdes e um figurino de matar (no sentido ruim da palavra mesmo). As três moças que apresentam a cena ao lado dele não acertam um passo certo na coreografia. Enfim, um horror mesmo. Esqueça.
Hey Little Girl (Baum - Giant - Kaye) - O lado B do disco original era todo composto por esse trio. Para não ficar muito na cara a RCA enfiou lá no meio uma outra composição de Joy Byers, "So Close, Yet So Far (From Paradise)". Mesmo assim é aquela coisa toda de corte de custos e economia ao máximo que deixava uma sensação ruim no ouvinte. "Hey Little Girl" é outro popzinho bem descartável dessa trilha sonora. Letra bobinha e ritmo clichê! Quem diria que o Rei do Rock gravaria algo assim?
Golden Coins (Baum - Giant - Kaye) - As baladas salvam essa trilha sonora da mediocridade total. "Golden Coins" é uma delas. No filme infelizmente ela surge em outro momento sem noção. Elvis a canta dentro de um poço! Enquanto isso a atrizinha vai fazendo caras e bocas românticas. Momento mais trash de todo o filme!
So Close, Yet So Far (From Paradise) (Joy Byers) - Outra baladinha muito boa, na verdade a melhor do disco em minha opinião. Para quem não se lembra do filme Elvis a canta da janela de uma prisão. Enquanto isso os demais prisioneiros da masmorra fitam o horizonte pensativos! Bom, não é para menos que "Harum Scarum" é considerado o pior filme da carreira de Elvis no cinema! Mesmo assim a música é tão boa que consegue sobreviver a mais esse momento ruim do cantor em cena.
Animal Instinct (Baum - Giant - Kaye) - Mais uma do trio calafrio. É um pop que até tem uma boa pegada, chegou até mesmo a virar mix na época em que isso havia virado uma modinha com as músicas de Elvis. Um fato digno de nota é que Elvis chega até mesmo a nos relembrar de seus bons momentos do passado quando era um artista relevante. Para dar saudades do roqueiro Elvis dos anos 50.
Wisdom of the Ages (Baum - Giant - Kaye) - A canção que encerro o disco. "Harum Scarum" conseguiu a duras penas ficar em oitavo lugar entre os mais vendidos da Billboard. O detalhe importante é que seria a última trilha sonora de Elvis Presley a se classificar no Top 10. Depois disso Elvis iria amargar cinco anos de péssimas colocações de suas canções de filmes em Hollywood, um claro sinal que o público definitivamente havia se cansado de tanto material medíocre e sem expressão. O fracasso comercial começava a bater as portas de seus discos e de sua carreira.
Harum Scarum (1965) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Rufus Long (flauta) / Ralph Strobel (oboé) / Scotty Moore, Grady Martin, Charlie McCoy (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Henry Strzelecki (baixo) / D. J. Fontana, Kenny Buttrey (bateria) / Hoyt Hawkins (tamborins) / Gene Nelson (congas) / Fred Karger, Gene Nelson (direção musical) / Data de gravação: 24 a 26 de fevereiro de 1965 / Melhor posição na Billboard: #8 (EUA) #12 (UK).
Pablo Aluísio.
Harem Holiday (Peter Andreoli - Vince Poncia) - A canção tema do filme deveria se chamar obviamente "Harum Scarum" mas essa era uma expressão sem nenhuma sonoridade, além de não fazer sentido para os ingleses. Ora, se nem eles que falam inglês iriam compreender o nome original do filme, o que dirá dos demais países? Assim em um raro momento de bom senso nesse projeto resolveu-se escrever um tema chamado "Harem Holiday", expressão que daria inclusive nome ao filme na Inglaterra. É um pop animadinho e bem gravado, nada demais, mas que serve para animar um pouquinho as coisas tanto no filme, como na trilha em si.
My Desert Serenade (Stanley J. Gelber) - A primeira boa canção da trilha. Elvis está particularmente bem e a melodia sem dúvida agrada. Consigo ver aqui lampejos melódicos até mesmo da nossa Bossa Nova! Essas sessões de gravação contaram com três novos músicos, que não eram habituais em discos de Elvis e que estavam lá para ajudar na sonoridade do Oriente Médio. Além do próprio diretor do filme, Gene Nelson na percussão, o novo trio contava ainda com Ralph Strobel no oboé e Rufus Long na flauta!
Go East - Young Man (Baum - Giant - Kaye) - A primeira composição do conhecido trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. O que dizer? Eles já demonstram aqui que certamente não serão tão grotescos como foram na maioria das canções de "Kissin Cousins". Outra boa melodia que se não tem boa letra, pelo menos agrada por seu ritmo leve e relaxante.
Mirage (Joy Byers) - Quem diria que Joy Byers assinaria algo assim? Para quem escreveu algumas das melhores canções pop de Elvis em Hollywood aqui surge com algo completamente diferenciado. Não é das minhas preferidas e a cena do filme em que ela é apresentada é outra coisa sem imaginação alguma. Elvis com um figurino estranho cantando para mais uma daquelas atrizinhas canastronas que contracenava com ela na época. Passe para a próxima.
Kismet (Sid Tepper - Roy C. Bennett) - Essa dupla escreveu alguns dos mais populares hits de Elvis nos anos 60, inclusive conseguiram o mérito de levar uma trilha sonora do cantor (G.I. Blues) a ser indicado ao Grammy!!! Certamente eram talentosos mas acabaram caindo nas garras de Tom Parker que os considerava "caros demais". Por isso suas composições foram rareando cada vez mais nos novos álbuns do astro em Hollywood. Essa, por exemplo, é a única deles nesse filme. Elvis a canta ao lado de um pequeno lago no filme, uma das poucas cenas externas de todo o filme, que foi praticamente todo rodado dentro dos estúdios para economizar ao máximo nos custos de produção. É uma boa baladinha que fica na média do que se ouve no resto da trilha sonora.
Shake That Tambourine (Baum - Giant - Kaye) - No vinil original essa canção fechava o lado A do disco. É a primeira grande bobagem da trilha. Elvis no filme surge numa cena muito fraquinha, com horrorosas calças verdes e um figurino de matar (no sentido ruim da palavra mesmo). As três moças que apresentam a cena ao lado dele não acertam um passo certo na coreografia. Enfim, um horror mesmo. Esqueça.
Hey Little Girl (Baum - Giant - Kaye) - O lado B do disco original era todo composto por esse trio. Para não ficar muito na cara a RCA enfiou lá no meio uma outra composição de Joy Byers, "So Close, Yet So Far (From Paradise)". Mesmo assim é aquela coisa toda de corte de custos e economia ao máximo que deixava uma sensação ruim no ouvinte. "Hey Little Girl" é outro popzinho bem descartável dessa trilha sonora. Letra bobinha e ritmo clichê! Quem diria que o Rei do Rock gravaria algo assim?
Golden Coins (Baum - Giant - Kaye) - As baladas salvam essa trilha sonora da mediocridade total. "Golden Coins" é uma delas. No filme infelizmente ela surge em outro momento sem noção. Elvis a canta dentro de um poço! Enquanto isso a atrizinha vai fazendo caras e bocas românticas. Momento mais trash de todo o filme!
So Close, Yet So Far (From Paradise) (Joy Byers) - Outra baladinha muito boa, na verdade a melhor do disco em minha opinião. Para quem não se lembra do filme Elvis a canta da janela de uma prisão. Enquanto isso os demais prisioneiros da masmorra fitam o horizonte pensativos! Bom, não é para menos que "Harum Scarum" é considerado o pior filme da carreira de Elvis no cinema! Mesmo assim a música é tão boa que consegue sobreviver a mais esse momento ruim do cantor em cena.
Animal Instinct (Baum - Giant - Kaye) - Mais uma do trio calafrio. É um pop que até tem uma boa pegada, chegou até mesmo a virar mix na época em que isso havia virado uma modinha com as músicas de Elvis. Um fato digno de nota é que Elvis chega até mesmo a nos relembrar de seus bons momentos do passado quando era um artista relevante. Para dar saudades do roqueiro Elvis dos anos 50.
Wisdom of the Ages (Baum - Giant - Kaye) - A canção que encerro o disco. "Harum Scarum" conseguiu a duras penas ficar em oitavo lugar entre os mais vendidos da Billboard. O detalhe importante é que seria a última trilha sonora de Elvis Presley a se classificar no Top 10. Depois disso Elvis iria amargar cinco anos de péssimas colocações de suas canções de filmes em Hollywood, um claro sinal que o público definitivamente havia se cansado de tanto material medíocre e sem expressão. O fracasso comercial começava a bater as portas de seus discos e de sua carreira.
Harum Scarum (1965) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Rufus Long (flauta) / Ralph Strobel (oboé) / Scotty Moore, Grady Martin, Charlie McCoy (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Henry Strzelecki (baixo) / D. J. Fontana, Kenny Buttrey (bateria) / Hoyt Hawkins (tamborins) / Gene Nelson (congas) / Fred Karger, Gene Nelson (direção musical) / Data de gravação: 24 a 26 de fevereiro de 1965 / Melhor posição na Billboard: #8 (EUA) #12 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Elvis For Everyone (1965)
Esse disco é uma tentativa da RCA Victor em lançar algo diferente dentro da discografia de Elvis Presley nos anos 1960. A questão é que os fãs estavam ficando cansados das trilhas sonoras dos filmes. Todos estavam aguardando por algum álbum de estúdio convencional, com músicas livres de quaisquer amarras vindas de Hollywood. Havia um senso comum que a qualidade das trilhas decaia a cada novo lançamento, então os fãs pediam por mudanças. O problema é que a RCA não tinha material suficiente para compor um álbum, então a saída foi revirar os arquivos da gravadora em busca de faixas perdidas, muitas delas há muito gravadas por Presley mas que nunca tinham ganhado o mercado antes.
Nessa verdadeira "colcha de retalhos" musical valeu de tudo, misturar música country dos anos 50 com restos de trilhas sonoras de Hollywood, mesclar com algumas gravações avulsas deixadas por Elvis em 1963 e mais uma ou outra canção para fazer volume. O resultado de toda essa mistura é apenas regular, não chegando a ser ruim. Na verdade foi uma espécie de alívio para os fãs do cantor Elvis Presley (em momento quase desligado do ator Elvis Presley). A capa coloca Elvis como um típico comerciante do sul em sua loja de secos e molhados, colocando suas canções à venda pelo melhor preço, com direção de arte até bonita e bem bolada. E por mais interessante que aquela capa pudesse soar era justamente isso mesmo que estava acontecendo. Elvis tentando achar um pouco de variação em sua desgastada imagem na época, voltando ao mercado musical para tentar alcançar algum êxito comercial. Dito isso vamos tecer alguns comentários sobre as primeiras canções do disco (as que fizeram parte do Lado A do antigo vinil):
Your Cheatin Heart (Hank Williams) - Esse clássico de Hank Williams foi gravado por Elvis antes dele seguir para a Alemanha. O produtor não gostou do resultado, achou que o registro ficou com pouca qualidade sonora (o que é verdade) e por isso a canção foi arquivada pela RCA. Além disso foi um country deslocado das demais músicas daquela maratona de gravação - a última grande sessão roqueira da carreira de Elvis segundo muitos especialistas. Só lembraram dela mesmo muitos anos depois, justamente nesse "Elvis For Everyone" e o curioso é que ela continuou deslocada aqui, pois não consegue fazer par com nenhuma outra música desse álbum.
Finders Keepers, Losers Weepers (Dory Jone / Ollie Jones) - Gosto bastante dessa faixa, não por ser muito relevante dentro da discografia de Elvis mas sim por puxar para um ritmo bem gostoso de se ouvir. É um popzinho muito simpático e bem executado no final das contas. A letra usa uma expressão muito popular nos Estados Unidos, "Finders Keepers, Losers Weepers" que poderia ser substituído pelo nosso velho e conhecido ditado "Achado Não é Roubado". Elvis em grande forma em uma faixa menor, mas não ruim de sua discografia.
In My Way (F. Wise / B. Weisman) - É curioso que em um disco que foi lançado para atender aos pedidos dos fãs para darem um tempo em tantas trilhas sonoras tenha usado justamente de faixas de filmes para tapar os buracos. De certo modo não houve outro jeito para a RCA Victor. Isso mostra como a carreira musical de Elvis estava voltada completamente para as canções Made in Hollywood. Essa "In My Way" fez parte da trilha do filme "Coração Rebelde" (Wild In The Country) e como as demais músicas dessa trilha temos um arranjo bem básico, praticamente voz e violão. A letra só tem dois estrofes e é bem derivativa, uma singela declaração de amor. A performance de Elvis é boa de maneira em geral, mas não consegue sair muito do que era produzido na média daquela época. Não vá confundir com "My Way", essa sim uma música inesquecível e maravilhosa.
Tomorrow Night (S. Coslow / W. Gross) - Para os fãs da época essa faixa era o grande atrativo do álbum, afinal de contas era uma antiga gravação de Elvis ainda ao lado dos Blue Moon Boys! E era inédita! O problema é que o produtor Chet Atkins achou a versão original muito crua e por isso resolveu reconstruir a faixa em estúdio. Formou uma banda de apoio e refizeram toda a parte dos arranjos. Atkins era um mestre e seu trabalho ficou bonito só que o fã de Elvis estava mais interessado em ouvir a faixa tal como havia sido gravado na Sun Records e por isso houve um certo desapontamento de quem comprou o disco. Essa "Tomorrow Night" recauchutada porém ficou muito boa e merece ser conhecida (claro, sem deixar de lado a versão "raw" da Sun Records).
Memphis, Tennessee (Chuck Berry) - Muita gente boa não gosta dessa versão de Elvis Presley para esse clássico de Chuck Berry. Eu porém penso diferente. Acho uma bela gravação, com arranjos que inclusive poderiam ser classificados de bem modernos. Claro que o principal motivo que levou Elvis a gravar a música foi a homenagem que Berry fez para sua querida Memphis. Essa obviamente não passaria em branco para Presley, ele certamente a gravaria mais cedo ou mais tarde. E como acontecia com praticamente todas as composições de Chuck Berry essa aqui também tem uma narrativa praticamente cinematográfica em sua letra. Um belo momento que mostrava que o talento de Elvis ainda estava lá, intacto. O que faltava mesmo era bom material para ele gravar, uma pena.
For The Milionth and The Last Time (R. Bennett / S. Tepper) - Boa balada gravada em outubro de 1961 em Nashville. Essa foi uma pequena sessão que Elvis participou entre as gravações das trilhas sonoras de "Follow That Dream" e "Kid Galahad". Na ocasião apenas cinco faixas foram gravadas e tirando o hit "Good Luck Charm" nenhuma delas teve grande repercussão nas paradas. A verdade pura e simples é que entre tantos filmes sobrava pouco tempo para gravar canções convencionais. Essa poderia até trazer algum retorno para Elvis caso tivesse sido bem lançada. Como lado B desse álbum porém não obteve qualquer reconhecimento, sendo rapidamente esquecida. Mesmo assim não há como negar que temos aqui uma melodia agradável aliada a uma boa perfomance de Elvis.
Summer Kisses, Winters Tears (Wise / Weisman / Loyd) - Reprise que já havia sido lançada antes em um EP com parte da trilha sonora do faroeste "Estrela de Fogo". Essa música nunca me agradou, acho sua estrutura pouco atraente, além de não simpatizar com o refrão. A letra também não me agrada já que soa pueril demais para um filme com roteiro tão forte e relevante. Elvis está no controle remoto. Para falar a verdade ele nem queria gravar músicas para esse filme. Talvez sua má vontade tenha se refletido aqui de forma indireta. Enfim, poderia ter sido dispensada sem maiores problemas, talvez a RCA a tenha incluído apenas para ocupar espaço no vinil e nada mais. Uma lástima.
Forget Me Never (F. Wise / B. Weisman) - Outra canção do filme "Coração Rebelde". As músicas desse filme, como já salientei, possuem arranjos bem simples, na maioria das vezes puro violão e voz. A simplicidade das gravações são também acompanhadas pelas letras bem derivativas e sem novidades. Embora o material seja pouco marcante a voz de Elvis está bonita, capturando ele em um bom momento na carreira. De qualquer maneira a trilha sonora foi logo esquecida acompanhando o pouco sucesso do filme. Para quem curte baladinhas pode até ser uma boa pedida.
Sound Advice (Giant / Baum / Kaye) - Acho simpática, apesar de muitos considerarem a letra bem estúpida. Aqui o que vale é a marchinha alegre e alto astral, acima de tudo. Concordo que a letra não é nenhuma maravilha, aliás muito pelo contrário, mas é aquele tipo de música que pede por uma certa cumplicidade do ouvinte. Sua inclusão nesse álbum porém não agradou, uma vez que os fãs queriam ouvir canções normais de estúdio e não faixas de trilhas sonoras e como "Sound Advice" vinha diretamente da trilha sonora de "Follow That Dream" certamente não era bem-vinda nessa seleção musical. Outra que poderia ser dispensada, apesar de sua inegável simpatia e alegria.
Santa Lucia (Elvis Presley) - Embora creditada a Elvis no disco essa canção é uma tradicional melodia italiana, de teor religioso (na versão original). Ela fez parte da trilha sonora do filme "Viva Las Vegas" mas na época de lançamento do musical ficou bem ofuscada, sendo usada timidamente em cena. No mercado fonográfico foi ainda pior, passando completamente despercebida e em branco. Elvis mais uma vez aproveita para exercitar seus dotes de Mario Lanza. Sua vocalização é forte, poderosa e chega a lembrar de outros hits italianos de sua discografia como "It´s Now Or Never", mas no geral não marca muito. Também pudera, a faixa é curtinha demais para marcar maior presença.
I Meet Her Today (Don Robertson / H. Blair) - Das baladas do álbum considero essa a mais bonita. Ótima melodia, com letra inspirada e Elvis em grande momento. Essa música foi gravada na mesma sessão de "For The Milionth and The Last Time" e tal como a outra também estava completamente esquecida, arquivada há quatro anos em Nova Iorque. Como se vê há um bom tempo pegava poeira nos estúdios da RCA. Poderia ter feito parte de um single com sua irmã, mas a RCA mais uma vez errou, a usando como tapa buraco nesse disco sem maiores atrativos. Uma pena, a faixa é muito boa de fato. Se passou despercebida para você também, dê uma segunda chance.
When It Rains, It Really Pours (W.R. Emerson) - Um blues de estirpe que havia sido gravado por Elvis nos anos 50. Essa é dos tempos da Sun Records, afinal Elvis estava sempre tentando gravar um take que atendesse seus exigentes padrões musicais. É o tipo de gravação que fez Elvis Presley se tornar quem ele foi. Pena que registros assim andavam longe dos últimos discos do cantor nos anos 60, com suas trilhas sonoras recheadas de tolices. "When It Rains, It Really Pours" porém mostrava que ninguém poderia subestimar Elvis, pois era um cantor realmente especial que conseguia se sair bem em praticamente todos os ritmos americanos. A lamentar apenas o pouco número de canções de blues que cantou ao longo da carreira.
Pablo Aluísio.
Nessa verdadeira "colcha de retalhos" musical valeu de tudo, misturar música country dos anos 50 com restos de trilhas sonoras de Hollywood, mesclar com algumas gravações avulsas deixadas por Elvis em 1963 e mais uma ou outra canção para fazer volume. O resultado de toda essa mistura é apenas regular, não chegando a ser ruim. Na verdade foi uma espécie de alívio para os fãs do cantor Elvis Presley (em momento quase desligado do ator Elvis Presley). A capa coloca Elvis como um típico comerciante do sul em sua loja de secos e molhados, colocando suas canções à venda pelo melhor preço, com direção de arte até bonita e bem bolada. E por mais interessante que aquela capa pudesse soar era justamente isso mesmo que estava acontecendo. Elvis tentando achar um pouco de variação em sua desgastada imagem na época, voltando ao mercado musical para tentar alcançar algum êxito comercial. Dito isso vamos tecer alguns comentários sobre as primeiras canções do disco (as que fizeram parte do Lado A do antigo vinil):
Your Cheatin Heart (Hank Williams) - Esse clássico de Hank Williams foi gravado por Elvis antes dele seguir para a Alemanha. O produtor não gostou do resultado, achou que o registro ficou com pouca qualidade sonora (o que é verdade) e por isso a canção foi arquivada pela RCA. Além disso foi um country deslocado das demais músicas daquela maratona de gravação - a última grande sessão roqueira da carreira de Elvis segundo muitos especialistas. Só lembraram dela mesmo muitos anos depois, justamente nesse "Elvis For Everyone" e o curioso é que ela continuou deslocada aqui, pois não consegue fazer par com nenhuma outra música desse álbum.
Finders Keepers, Losers Weepers (Dory Jone / Ollie Jones) - Gosto bastante dessa faixa, não por ser muito relevante dentro da discografia de Elvis mas sim por puxar para um ritmo bem gostoso de se ouvir. É um popzinho muito simpático e bem executado no final das contas. A letra usa uma expressão muito popular nos Estados Unidos, "Finders Keepers, Losers Weepers" que poderia ser substituído pelo nosso velho e conhecido ditado "Achado Não é Roubado". Elvis em grande forma em uma faixa menor, mas não ruim de sua discografia.
In My Way (F. Wise / B. Weisman) - É curioso que em um disco que foi lançado para atender aos pedidos dos fãs para darem um tempo em tantas trilhas sonoras tenha usado justamente de faixas de filmes para tapar os buracos. De certo modo não houve outro jeito para a RCA Victor. Isso mostra como a carreira musical de Elvis estava voltada completamente para as canções Made in Hollywood. Essa "In My Way" fez parte da trilha do filme "Coração Rebelde" (Wild In The Country) e como as demais músicas dessa trilha temos um arranjo bem básico, praticamente voz e violão. A letra só tem dois estrofes e é bem derivativa, uma singela declaração de amor. A performance de Elvis é boa de maneira em geral, mas não consegue sair muito do que era produzido na média daquela época. Não vá confundir com "My Way", essa sim uma música inesquecível e maravilhosa.
Tomorrow Night (S. Coslow / W. Gross) - Para os fãs da época essa faixa era o grande atrativo do álbum, afinal de contas era uma antiga gravação de Elvis ainda ao lado dos Blue Moon Boys! E era inédita! O problema é que o produtor Chet Atkins achou a versão original muito crua e por isso resolveu reconstruir a faixa em estúdio. Formou uma banda de apoio e refizeram toda a parte dos arranjos. Atkins era um mestre e seu trabalho ficou bonito só que o fã de Elvis estava mais interessado em ouvir a faixa tal como havia sido gravado na Sun Records e por isso houve um certo desapontamento de quem comprou o disco. Essa "Tomorrow Night" recauchutada porém ficou muito boa e merece ser conhecida (claro, sem deixar de lado a versão "raw" da Sun Records).
Memphis, Tennessee (Chuck Berry) - Muita gente boa não gosta dessa versão de Elvis Presley para esse clássico de Chuck Berry. Eu porém penso diferente. Acho uma bela gravação, com arranjos que inclusive poderiam ser classificados de bem modernos. Claro que o principal motivo que levou Elvis a gravar a música foi a homenagem que Berry fez para sua querida Memphis. Essa obviamente não passaria em branco para Presley, ele certamente a gravaria mais cedo ou mais tarde. E como acontecia com praticamente todas as composições de Chuck Berry essa aqui também tem uma narrativa praticamente cinematográfica em sua letra. Um belo momento que mostrava que o talento de Elvis ainda estava lá, intacto. O que faltava mesmo era bom material para ele gravar, uma pena.
Summer Kisses, Winters Tears (Wise / Weisman / Loyd) - Reprise que já havia sido lançada antes em um EP com parte da trilha sonora do faroeste "Estrela de Fogo". Essa música nunca me agradou, acho sua estrutura pouco atraente, além de não simpatizar com o refrão. A letra também não me agrada já que soa pueril demais para um filme com roteiro tão forte e relevante. Elvis está no controle remoto. Para falar a verdade ele nem queria gravar músicas para esse filme. Talvez sua má vontade tenha se refletido aqui de forma indireta. Enfim, poderia ter sido dispensada sem maiores problemas, talvez a RCA a tenha incluído apenas para ocupar espaço no vinil e nada mais. Uma lástima.
Forget Me Never (F. Wise / B. Weisman) - Outra canção do filme "Coração Rebelde". As músicas desse filme, como já salientei, possuem arranjos bem simples, na maioria das vezes puro violão e voz. A simplicidade das gravações são também acompanhadas pelas letras bem derivativas e sem novidades. Embora o material seja pouco marcante a voz de Elvis está bonita, capturando ele em um bom momento na carreira. De qualquer maneira a trilha sonora foi logo esquecida acompanhando o pouco sucesso do filme. Para quem curte baladinhas pode até ser uma boa pedida.
Sound Advice (Giant / Baum / Kaye) - Acho simpática, apesar de muitos considerarem a letra bem estúpida. Aqui o que vale é a marchinha alegre e alto astral, acima de tudo. Concordo que a letra não é nenhuma maravilha, aliás muito pelo contrário, mas é aquele tipo de música que pede por uma certa cumplicidade do ouvinte. Sua inclusão nesse álbum porém não agradou, uma vez que os fãs queriam ouvir canções normais de estúdio e não faixas de trilhas sonoras e como "Sound Advice" vinha diretamente da trilha sonora de "Follow That Dream" certamente não era bem-vinda nessa seleção musical. Outra que poderia ser dispensada, apesar de sua inegável simpatia e alegria.
Santa Lucia (Elvis Presley) - Embora creditada a Elvis no disco essa canção é uma tradicional melodia italiana, de teor religioso (na versão original). Ela fez parte da trilha sonora do filme "Viva Las Vegas" mas na época de lançamento do musical ficou bem ofuscada, sendo usada timidamente em cena. No mercado fonográfico foi ainda pior, passando completamente despercebida e em branco. Elvis mais uma vez aproveita para exercitar seus dotes de Mario Lanza. Sua vocalização é forte, poderosa e chega a lembrar de outros hits italianos de sua discografia como "It´s Now Or Never", mas no geral não marca muito. Também pudera, a faixa é curtinha demais para marcar maior presença.
I Meet Her Today (Don Robertson / H. Blair) - Das baladas do álbum considero essa a mais bonita. Ótima melodia, com letra inspirada e Elvis em grande momento. Essa música foi gravada na mesma sessão de "For The Milionth and The Last Time" e tal como a outra também estava completamente esquecida, arquivada há quatro anos em Nova Iorque. Como se vê há um bom tempo pegava poeira nos estúdios da RCA. Poderia ter feito parte de um single com sua irmã, mas a RCA mais uma vez errou, a usando como tapa buraco nesse disco sem maiores atrativos. Uma pena, a faixa é muito boa de fato. Se passou despercebida para você também, dê uma segunda chance.
When It Rains, It Really Pours (W.R. Emerson) - Um blues de estirpe que havia sido gravado por Elvis nos anos 50. Essa é dos tempos da Sun Records, afinal Elvis estava sempre tentando gravar um take que atendesse seus exigentes padrões musicais. É o tipo de gravação que fez Elvis Presley se tornar quem ele foi. Pena que registros assim andavam longe dos últimos discos do cantor nos anos 60, com suas trilhas sonoras recheadas de tolices. "When It Rains, It Really Pours" porém mostrava que ninguém poderia subestimar Elvis, pois era um cantor realmente especial que conseguia se sair bem em praticamente todos os ritmos americanos. A lamentar apenas o pouco número de canções de blues que cantou ao longo da carreira.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2005
Elvis Presley - Roustabout (1964)
1964 foi um bom ano para Elvis nos cinemas, dos seus três filmes que estrearam naquele ano, dois foram sucesso tanto de público como de crítica: "Viva Las Vegas" e "Roustabout". O terceiro porém, foi um dos mais fracos de sua carreira: "Kissin Cousins" (com caipira não se brinca, no Brasil). Esse foi sem dúvida uma bola fora, mas vamos deixar para falar dele em uma outra oportunidade. O que interessa nesse momento é analisar um dos bons momentos do rei em Hollywood, o filme "Carrossel de Emoções" (Roustabout). Antes de mais nada é fácil afirmar que esta película trouxe para a carreira de Elvis uma de suas boas trilhas sonoras. Claro que ela não foge à regra das trilhas de Elvis nos anos 60, obviamente que há músicas bobinhas e tudo mais, mas neste caso elas estão em menor número, felizmente. Todas as dez músicas do filme são boas ou no máximo medianas, algumas são até de excelente qualidade e apesar de Elvis as gravar sabendo que era mais um produto Made in Hollywood, ou seja, funcionavam bem mais dentro do roteiro do filme, os resultados foram bem acima da média.
O filme em si também é muito simpático, um verdadeiro "clássico" da antiga Sessão da Tarde, lá pelos idos dos anos 1970 e 1980. Ver Elvis em um casaco de couro negro, andando por aí de moto e interpretando um tipo ainda rebelde (um dos últimos de sua filmografia) é sempre um prazer sem culpas. O próprio deve ter gostado muito de fazer esse papel ao estilo "Marlon Brando Soft". Obviamente se você tem mais de trinta anos certamente o assistiu alguma vez na TV, principalmente porque ele se tornou um dos maiores clássicos "Sessão da Tarde" da carreira de Elvis ao lado de "Feitiço Havaiano" (esse campeão absoluto na categoria). Convenhamos, o filme ainda é um entretenimento satisfatório mesmo depois de décadas passadas de seu lançamento original. Essas são as canções da trilha sonora:
Roustabout (Giant / Baum / Kaye) - Canção título do filme. Essa é na realidade a versão "B", pois a primeira versão tema foi rejeitada por Hal Wallis que considerou sua letra ofensiva. Essa versão "A" chamada de "I'm Roustabout" só foi lançada em 2003 no disco "Elvis 2nd to none". Ela foi redescoberta por acaso por seu autor pegando poeira em seus arquivos. Então ele entrou em contato com Ernst Jorgensen e perguntou se ele estaria interessado em lançar uma gravação inédita de Elvis no mercado (Isso é lá pergunta que se faça?!). O produtor atual dos discos de Elvis ficou encantando com a versão descoberta e tratou logo de a colocar no CD. O resultado todos conhecem: primeiro lugar nos EUA e Inglaterra e milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. Pois é, mais vale um Elvis empoeirado do que milhares de artistas atuais tinindo de novo. Até mesmo porque qualidade não tem idade!
Little Egypt (Leiber / Stoller) - Esta canção acabou se tornando uma dor de cabeça para os produtores do filme. Tudo porque uma bailarina chamada "Little Egypt" resolveu processar todo mundo, afirmando que seu nome havia sido utilizado sem permissão no filme. E para completar ela pedia 3 milhões de dólares de indenização. Os advogados da Paramount conseguiram provar no tribunal que o filme se baseava em uma outra bailarina que usava o mesmo nome artístico, chamada Catherine Devine, que fez carreira em 1893 nos EUA. No fundo quem estava imitando e usando o nome de forma inadequada era a dançarina que processou o estúdio. Uma grande e desnecessária confusão jurídica. Já a canção em si é interessante, tem bom ritmo, embora o acompanhamento vocal feminino tenha ficado muito datado e fora de moda para os padrões atuais. Algo normal de acontecer.
Poison Ivy League (Giant / Baum / Kaye) - Mais uma canção do trio de compositores que passaram a ser bem presentes nas trilhas de Elvis nessa fase de sua carreira. Essa aqui tira uma onda com os universitários americanos que estudavam na Ivy League, grupo de universidades de ponta do sistema educacional americano onde só entram os riquinhos e filhinhos de papai de famílias tradicionais do país. Gosto de praticamente tudo aqui, da letra bem sarcástica, do bom ritmo e do vocal de Elvis - colocado bem "na frente" de seu grupo musical por ordens diretas do Coronel Tom Parker.
Hard Knocks (Byers) - Outro roquinho muito bom de autoria do J. Byers, o mesmo de "C´mon Everybody" do filme anterior, "Viva Las Vegas". A melodia tem pegada e as várias "paradinhas" da música ajudam a manter o interesse. Pena que é tão boa quanto curta!
It's A Wonderful World (Tepper / Bennett) - Como o enredo se passa praticamente todo em um parque de diversões era de se esperar que alguma canção lembrasse esse clima e ambiente. Assim os produtores contrataram mais uma vez a dupla Tepper e Bennett, especializados em canções temáticas, para compor essa canção com sabor de algodão doce. Não é à toa que eles foram responsáveis por quase todas as canções de "G.I. Blues", por exemplo. Essa música acho uma das mais fraquinhas da trilha, embora mantenha o nível.
Big Love Big Heartache (Fuller / Morris / Hendrix) - Uma das melhores músicas do disco, com ótima vocalização de Elvis, além de um arranjo primoroso. Ela seria lançada em single para tentar repetir o sucesso estrondoso de "Can't Help Falling in Love", mas como o LP vendeu muito bem e alcançou rapidamente o topo nos EUA (em pleno auge da Beatlemania) mudaram de ideia. Assim os produtores se contentaram com as vendas e cancelaram o lançamento do single. Momento acima da média dentro da trilha e do filme, pois a cena em que Elvis a canta foi realizada com bastante bom gosto.
One Track Heart (Giant / Baum / Kaye) - Começa com Elvis em uma pequeno solo vocal, depois entrando o grupo de apoio. Essa trilha tem algumas canções de curta duração para o personagem de Elvis cantar no parque, chamando os clientes em busca de diversões para entrar nas atrações. Fora do filme ficam meio sem sentido, mas essa pelo menos tem bom ritmo.
It's Carnival Time (Weisman / Wayne) - Um exemplo perfeito do tipo de música que citei no comentário anterior. Faz parte da seleção "algodão doce" da trilha sonora. Sem relevância quando tirada do contexto do filme, era uma canção típica para determinada cena e nada mais. Elvis está meio desanimado nos vocais, o que não chega a ser uma grande surpresa, pois o material infelizmente é bem fraco.
Carny Town (Wise / Starr) - Outra das mini-músicas ao estilo "algodão doce" de "Roustabout". Incrível como Elvis Presley conseguia trazer alguma relevância até mesmo às mais descartáveis músicas. É o tipo de gravação que Elvis jamais faria se não fizesse parte de algum filme. O final é bem esquisito e sem graça (aquilo é um erro de gravação ou foi escrita daquele jeito mesmo?).
There's a Brand New Day on the Horizon (J. Byers) - Eu particularmente gosto muito dessa música porque ela é antes de tudo uma canção alto astral que traz uma mensagem positiva (afinal de contas todos nós precisamos de um pouco disso, principalmente nos dias atuais). Ela fecha a seqüência final do filme. A trilha sonora desse filme foi gravada no Radio Recorders em Hollywood e foi lançada antes da estréia do filme, chegando ao primeiro lugar entre os mais vendidos. Além de "I'm Roustabout", duas outras gravações dessas sessões estão desaparecidas há anos: "I Never Had It So Good" e uma outra versão de "Poison Ivy League" com letra mudada. Em recente entrevista Ernst Jorgensen afirmou que não perdeu as esperanças de achá-las, vamos torcer para que algum dia ele consiga atingir esse objetivo. Milhões de fãs de Elvis ao redor do mundo torcem por ele.
Elvis Presley - Roustabout (1964) - Elvis Presley (vocal) / Tiny Timbrell (guitarra) / Billy Strange (guitarra) / Barney Kessel (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harmon (bateria) / D.J Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (Sax) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews Ray Walker (Backup Vocals) / Direção Musical: Joseph Lilley / Engenheiro de Som: Dave Weichman / Gravado nos estúdios Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 2 a 3 de março de 1964 / Data de lançamento: agosto de 1964 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #12 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Kissin' Cousins (1964)
Imagine-se em 1964. Nas rádios só tocam Beatles o dia inteiro. A Beatlemania está no ar. Só se fala nos quatro cabeludos ingleses. Eles estão na crista da onda. Seus álbuns vendem milhões e eles ocupam todas as primeiras posições de todas as listas de mais vendidos dos Estados Unidos. Ok, você é um fã de Elvis Presley e todos dizem que apenas ele, Elvis, poderia fazer frente a essa verdadeira invasão britânica nas paradas de sucesso. E então quando você vai na loja comprar seu novo disco encontra isso. A trilha sonora de um filme chamado "Primos Beijoqueiros"! Nada animador não é mesmo?
Mas você é fã e torce para que essa trilha seja competitiva e se torne uma reação do grande Elvis contra a invasão Beatles mas... quando chega em casa e coloca a agulha no vinil vem a decepção! O material é uma droga! Elvis cantando sobre caipiras, dedões do pé descalços e gente que come gambá no jantar! É demais da conta não é mesmo? E no dia seguinte chega o jornal com a opinião dos críticos sobre o disco: um festival de chacotas e piadas com o material que o (ex) Rei do Rock lançava no mercado. Não deve ter sido fácil ser fã de Elvis Presley nos anos 60 em pleno auge da Beatlemania. As fãs dos Beatles inclusive levantavam cartazes dizendo: "Viva os Beatles! Elvis já morreu!". Bom, não há como negar que artisticamente ele realmente estava mortinho da silva por essa época.
Olhando para trás, mesmo sendo a trilha sonora de um filme medíocre do ponto de vista cinematográfico, "Kissin' Cousins" poderia trazer um material de qualidade. Pense bem, se o tema do filme era sobre caipiras porque não encaixar canções country de qualidade? Afinal de contas de country obviamente Elvis entendia e muito! Mas canções de qualidade custavam caro e os produtores de "Kissin' Cousins" já tinham decretado que todos os custos deveriam ser cortados ao máximo possível. Quer entender a situação melhor? O filme e a trilha juntos custaram menos de 800 mil dólares para serem produzidos. O filme anterior de Elvis, "Roustabout" na Paramount, tinha custado mais de três milhões de dólares. Os produtores do filme tinham plena consciência que os fãs de Elvis iriam comprar o disco e depois veriam o filme, mesmo que fossem verdadeiras porcarias baratas. Afinal o que importava era o lucro fácil.
Quase toda a trilha sonora foi composta pelo trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. Nem os culpo muito. A coisa funcionava mais ou menos assim. O roteirista percebia que havia uma cena em que Elvis e sua tropa subiriam a montanha para encontrar a caipirada. Então sentia que uma canção poderia ser encaixada lá. Ligava para o trio em Nova Iorque, dizia como era a cena e eles tinham que se virar para compor uma nova canção praticamente da noite para o dia. Pode uma coisa dessas ter realmente qualidade? No geral o material todo é bem fraco mas os anos passados me fizeram ter uma opinião um pouco melhor do que ouvimos. As canções, é óbvio, continuam bem bobinhas e derivativas mas se você conseguir esquecer que ali está um dos maiores talentos musicais de todos os tempos poderá até mesmo se divertir pelo menos.
Como acontecia com praticamente todas as suas trilhas sonoras aqui também não existe o bravo rock ´n´ roll. São canções pop açucaradas bem ao gosto de Hollywood dos 60´s. As letras chegam a ser preconceituosas contra caipiras em geral. Pense, ao invés de trazer música caipira de qualidade (o que seria bem-vindo) o que acabamos ouvindo é música fake californiana satirizando sulistas em geral. É como se cariocas fizessem músicas de forró satirizando os nordestinos! Sente o drama? A questão porém é que a trilha sonora de "Kissin' Cousins" é tão estupidamente burra e idiota que no final das contas você acaba se divertindo com o resultado. As letras em geral são horríveis mas elas são as responsáveis pelos momentos realmente divertidos do disco.
"Barefoot Ballad", por exemplo, é um clássico da ruindade dentro da discografia de Elvis Presley. Ela chegou a ser gravada até por Raul Seixas, que sendo um grande gozador e fã de Elvis, resolveu tirar uma onda. "Once Is Enough" ficou infame por causa da cena do filme em que um casal tropeça, cai no chão e a cena continua. O exemplo máximo da pobreza artística do filme que foi rodado em menos de duas semanas, tudo em take único, para economizar grana na produção. Elvis percebeu a picaretagem e dizem ficou de cara feia nos bastidores durante toda a filmagem. Ele deveria era dar dado no pé de uma coisa dessas. Mas nada presta? Bom, tem alguns momentos que valem um pouquinho a pena. Gosto das baladas "Tender Feeling" e "Echoes of Love" (embora essa última seja uma bonus song). O mesmo vale para a boa "(It's a) Long Lonely Highway" que seria usada mais uma vez em outro filme trash de Elvis.
As duas versões de "Kissin' Cousins" possuem melodias até bonitinhas mas como sempre as letras são bobas demais para ganharem qualquer tipo de elogio. "Catchin' On Fast" não é tão ruim mas os assovios de "Smokey Mountain Boy" são puras banalidades. "One Boy, Two Little Girls" tem até uma boa vocalização de Elvis mas no geral é outra bobagem pop sem qualidade. Ao final da audição você realmente se chateia pelo fato de Elvis ter sido colocado para cantar canções tão sem expressão. O incrível é que seu talento e sua fama ainda fizeram um feito e tanto colocando o disco na oitava posição entre os mais vendidos - mas bem longe dos números dos Beatles que reinavam absolutos e nem viam sinais de Elvis pelo retrovisor nos primeiros lugares que ocupavam. Afinal ele era Elvis mas não era mágico, como alçar aquele tipo de coisa ao topo? Aquelas músicas fraquinhas tinham um limite e Elvis as levou ao máximo do que se podia fazer com elas.
Elvis Presley - Kissin' Cousins (1964)
Kissin' Cousins (Number 2)
Smokey Mountain Boy
There's Gold in the Mountains
One Boy, Two Little Girls
Catchin' On Fast
Tender Feeling
Anyone (Could Fall in Love with You)
Barefoot Ballad
Once Is Enough
Kissin' Cousins
Echoes of Love
(It's a) Long Lonely Highway
Pablo Aluísio.
Mas você é fã e torce para que essa trilha seja competitiva e se torne uma reação do grande Elvis contra a invasão Beatles mas... quando chega em casa e coloca a agulha no vinil vem a decepção! O material é uma droga! Elvis cantando sobre caipiras, dedões do pé descalços e gente que come gambá no jantar! É demais da conta não é mesmo? E no dia seguinte chega o jornal com a opinião dos críticos sobre o disco: um festival de chacotas e piadas com o material que o (ex) Rei do Rock lançava no mercado. Não deve ter sido fácil ser fã de Elvis Presley nos anos 60 em pleno auge da Beatlemania. As fãs dos Beatles inclusive levantavam cartazes dizendo: "Viva os Beatles! Elvis já morreu!". Bom, não há como negar que artisticamente ele realmente estava mortinho da silva por essa época.
Olhando para trás, mesmo sendo a trilha sonora de um filme medíocre do ponto de vista cinematográfico, "Kissin' Cousins" poderia trazer um material de qualidade. Pense bem, se o tema do filme era sobre caipiras porque não encaixar canções country de qualidade? Afinal de contas de country obviamente Elvis entendia e muito! Mas canções de qualidade custavam caro e os produtores de "Kissin' Cousins" já tinham decretado que todos os custos deveriam ser cortados ao máximo possível. Quer entender a situação melhor? O filme e a trilha juntos custaram menos de 800 mil dólares para serem produzidos. O filme anterior de Elvis, "Roustabout" na Paramount, tinha custado mais de três milhões de dólares. Os produtores do filme tinham plena consciência que os fãs de Elvis iriam comprar o disco e depois veriam o filme, mesmo que fossem verdadeiras porcarias baratas. Afinal o que importava era o lucro fácil.
Quase toda a trilha sonora foi composta pelo trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. Nem os culpo muito. A coisa funcionava mais ou menos assim. O roteirista percebia que havia uma cena em que Elvis e sua tropa subiriam a montanha para encontrar a caipirada. Então sentia que uma canção poderia ser encaixada lá. Ligava para o trio em Nova Iorque, dizia como era a cena e eles tinham que se virar para compor uma nova canção praticamente da noite para o dia. Pode uma coisa dessas ter realmente qualidade? No geral o material todo é bem fraco mas os anos passados me fizeram ter uma opinião um pouco melhor do que ouvimos. As canções, é óbvio, continuam bem bobinhas e derivativas mas se você conseguir esquecer que ali está um dos maiores talentos musicais de todos os tempos poderá até mesmo se divertir pelo menos.
Como acontecia com praticamente todas as suas trilhas sonoras aqui também não existe o bravo rock ´n´ roll. São canções pop açucaradas bem ao gosto de Hollywood dos 60´s. As letras chegam a ser preconceituosas contra caipiras em geral. Pense, ao invés de trazer música caipira de qualidade (o que seria bem-vindo) o que acabamos ouvindo é música fake californiana satirizando sulistas em geral. É como se cariocas fizessem músicas de forró satirizando os nordestinos! Sente o drama? A questão porém é que a trilha sonora de "Kissin' Cousins" é tão estupidamente burra e idiota que no final das contas você acaba se divertindo com o resultado. As letras em geral são horríveis mas elas são as responsáveis pelos momentos realmente divertidos do disco.
"Barefoot Ballad", por exemplo, é um clássico da ruindade dentro da discografia de Elvis Presley. Ela chegou a ser gravada até por Raul Seixas, que sendo um grande gozador e fã de Elvis, resolveu tirar uma onda. "Once Is Enough" ficou infame por causa da cena do filme em que um casal tropeça, cai no chão e a cena continua. O exemplo máximo da pobreza artística do filme que foi rodado em menos de duas semanas, tudo em take único, para economizar grana na produção. Elvis percebeu a picaretagem e dizem ficou de cara feia nos bastidores durante toda a filmagem. Ele deveria era dar dado no pé de uma coisa dessas. Mas nada presta? Bom, tem alguns momentos que valem um pouquinho a pena. Gosto das baladas "Tender Feeling" e "Echoes of Love" (embora essa última seja uma bonus song). O mesmo vale para a boa "(It's a) Long Lonely Highway" que seria usada mais uma vez em outro filme trash de Elvis.
As duas versões de "Kissin' Cousins" possuem melodias até bonitinhas mas como sempre as letras são bobas demais para ganharem qualquer tipo de elogio. "Catchin' On Fast" não é tão ruim mas os assovios de "Smokey Mountain Boy" são puras banalidades. "One Boy, Two Little Girls" tem até uma boa vocalização de Elvis mas no geral é outra bobagem pop sem qualidade. Ao final da audição você realmente se chateia pelo fato de Elvis ter sido colocado para cantar canções tão sem expressão. O incrível é que seu talento e sua fama ainda fizeram um feito e tanto colocando o disco na oitava posição entre os mais vendidos - mas bem longe dos números dos Beatles que reinavam absolutos e nem viam sinais de Elvis pelo retrovisor nos primeiros lugares que ocupavam. Afinal ele era Elvis mas não era mágico, como alçar aquele tipo de coisa ao topo? Aquelas músicas fraquinhas tinham um limite e Elvis as levou ao máximo do que se podia fazer com elas.
Elvis Presley - Kissin' Cousins (1964)
Kissin' Cousins (Number 2)
Smokey Mountain Boy
There's Gold in the Mountains
One Boy, Two Little Girls
Catchin' On Fast
Tender Feeling
Anyone (Could Fall in Love with You)
Barefoot Ballad
Once Is Enough
Kissin' Cousins
Echoes of Love
(It's a) Long Lonely Highway
Pablo Aluísio.
domingo, 9 de janeiro de 2005
Elvis Presley - Blue Hawaii (1961)
Responda rápido: qual foi o disco mais vendido da carreira de Elvis enquanto ele esteve vivo? Sim, foi essa trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". O disco vendeu milhões de cópias ao redor do mundo, chegando ao topo das paradas dos mais vendidos em diversos países. O Coronel Parker ficou vibrando com o resultado e em uma entrevista chegou a dizer que esse era "O Produto Perfeito"! Um álbum com músicas havaianas que agradava a diversos públicos, pessoas mais velhas, jovens, crianças, adultos, etc. Todo mundo tinha um sonho de ir passar férias no Havaí. Então foi de fato um produto de puro entretenimento que caiu no gosto popular. Se o público adorou, a crítica especializada não gostou muito do que ouviu. Era algo muito plastificado, meio kitsch, soando como uma falsa sonoridade da música do Havaí. Uma visão distorcida de Hollywood em relação àquela cultura daquelas ilhas distantes. O que Elvis pensou desse conjunto de músicas? Se formos levar em conta o que ele havia achado de outras trilhas sonoras, como "Saudades de um Pracinha", ele deve ter tido suas reservas. Entretando, como sempre profissional, foi lá e gravou as faixas da trilha sonora, mesmo não gostando muito.
O interessante é que pelo menos três canções o agradaram dentro daquele repertório (com excesso de músicas, para alguns). Ele particularmente apreciava a linda canção romântica "Can't Help Falling in Love", tanto que passou a usá-la para encerrar seus shows na década de 70. Ele parecia curtir também "Hawaiian Wedding Song", que inclusive chegou a cantar para Priscilla em sua lua de mel, como ela mesma confessou em sua biografia. Por fim Elvis parecia ter apreço igualmente pela italiana "No More". Por outro lado achava uma verdadeira palhaçada faixas como "Ito Eats", que só funcionava no contexto do filme e ficava péssima ao se ouvir no disco ou então de "Rock-a-hula Baby", que chegou a ser usada em single, mas que nunca convenceu ninguém. Uma música fraca. O sucesso absurdo tanto do filme como de sua trilha sonora fizeram com que Elvis se retraísse em suas opiniões pessoais. Ele ficou calado. Chegou a ponto de dizer numa entrevista que não deveria se mexer em um sucesso desses. Se as pessoas gostavam, então era isso mesmo, era o caminho. Esse pensamento o fez ficar em Hollywood por dez anos, gravando trilhas para filmes.
Vamos tecer algumas considerações sobre as músicas da trilha sonora desse filme "Feitiço Havaiano". A primeira música gravada por Elvis para esse disco foi "Hawaiian Sunset". Considero uma das boas músicas românticas do álbum, embora a RCA tenha colocado ela no final do Lado B do vinil original, mostrando que a gravadora não colocava muita fé em seu sucesso. De qualquer maneira é um bom momento, valorizado ainda mais pelo coro dos Jordanaires, cantando junto a Elvis - cuja voz foi colocado bem à frente, em destaque, como queria o Coronel Parker. Depois dela Elvis gravou a também romântica "Ku-u-i-po". Se formos comparar as duas músicas a melodia dessa é bem mais bonita. Tem um belo arranjo de violão solando ao fundo, além, é claro do Steel Guitar que permeia por praticamente todas as faixas do disco. Quem estava tocando esse som peculiar foi o especialista Alvino Rey, trabalhando pela primeira vez ao lado de Elvis em estúdio, até porque esse tipo de sonoridade era novidade nos discos do cantor. Tudo arranjado para que o ouvinte se sentisse no próprio Havaí, curtindo uma de suas maravilhosas praias ao sol.
E então, depois de gravar as duas havaianas faixas já citadas, Elvis se preparou para fazer uma boa gravação de "No More" que não fazia parte da cultura musical do Havaí, mas sim da doce Itália. Elvis, é bom lembrar, era admirador da música italiana, tanto que de tempos em tempos fazia suas próprias versões da musicalidade tão forte da rica cultura daquele país. E ele se saiu muito bem, em apenas 9 takes a faixa estava pronta, mostrando que Elvis a conhecia muito bem. Estava na ponta da língua, afiada para gravar rapidamente. Elvis em mais um momento Mario Lanza de sua discografia. E para encerrar os trabalhos naquele dia 21 de março Elvis fechou a noite gravando a versão definitiva de "Slicin' Sand". O take escolhido pelo produtor Joseph Lilley para ser a versão oficial do disco foi o de número 4. Boa escolha. É uma boa faixa do LP, mas não vá chamar isso de rock. Não é! É uma pop music que tem seus pontos positivos, embora no geral fique na média do resto da trilha sonora. Destaque para o bom solo de guitarra de Hank Garland.
A música tema do filme, "Blue Hawaii", tem um arranjo estranho em seu começo. Particularmente nunca gostei de seu início, parece algo sem ritmo, se arrastando. Depois melhora e vira uma balada agradável. Elvis não foi o primeiro a gravar essa música. Existe inclusive uma versão mais antiga gravada por Frank Sinatra, com menos efeitos típicos da música havaiana. Inclusive sempre fiquei surpreso por poucos conhecerem essa versão antiga do Sinatra. A música, pelo visto, não fez qualquer sucesso em sua voz. "Ito Eats" é a música mais fraca da trilha sonora. Nada é tão ruim como essa faixa. Eu poderia inclusive dizer, sem medo de ser injusto, de que essa canção é uma verdadeira porcaria. E no filme fica ainda pior quando mostra o tal do Ito, um sujeito gordinho que come sem parar. Penso que essa deveria ter sido descartada da trilha. Deixassem apenas no filme, como um número curto. Também não ficaria nada mal se o diretor tivesse jogado fora essa sequência que até tenta ser divertida, mas é sem graça demais.
"Hawaiian Wedding Song" é a música havaiano de casamento. A própria Priscilla Presley confidenciou que Elvis cantou um trechinho dessa música quando a levou para o quarto, na Lua de Mel do casal em Las Vegas. Uma palhinha apenas. A versão de estúdio ficou muito boa. A cena final do filme é com ela, com Elvis todo vestido de branco. Uma bela cena do filme, ficou bem bonita, sem dúvida. Em termos de palco Elvis chegou a cantá-la algumas vezes ao vivo nos anos 70. Uma versão Live inclusive chegou a ser lançada pela RCA em sua discografia oficial, no álbum póstumo "Elvis in Concert". "Island of Love" também é uma bonita música, mas bem mais fraca que a anterior. Tem um parte puramente instrumental que ficou bem legal. Ainda assim é bem esquecível também. No vinil original de 1961 ela foi colocada como penúltima música, lá no finalzinho do Lado B. Os ouvintes meio que deram de ombros, não se importando muito com essa "Ilha do Amor". No final das contas fica na média das demais baladas. É agradável de ouvir, apenas isso.
A música "Steppin' Out of Line" foi gravada para a trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano" mas acabou ficando fora do disco! O que aconteceu? Até hoje não há uma resposta sobre isso. A faixa foi bem gravada, era uma boa música, muito boa por sinal, mas ficou mesmo fora da trilha sonora. Alguns dizem que foi por pura falta de espaço, já que havia músicas demais para colocar no álbum. Se foi isso por que não tiraram músicas mais fracas? Eis a questão. De qualquer maneira ela não ficaria fora da discografia de Elvis, surgindo algum tempo depois no disco "Pot Luck". Por outro lado "Almost Always True ' é uma das boas canções da trilha. No disco original em vinil era segunda música do lado A, logo depois da música título do filme. Uma boa faixa, com ótima participação do saxofonista Homer "Boots" Randolph que costumava melhorar muito as músicas de Elvis nos anos 60 com seus solos instrumentais. Não chega a ser um rock, mas sim uma música pop das mais agradáveis de se ouvir. E não tem aquele monte de Steel Guitar e nem de Ukulele que aparecem nos arranjos das outras músicas desse álbum.
Podem dizer o que quiserem, mas eu pessoalmente gosto muito de "Moonlight Swim". O que mais curto nessa canção é seu arranjo, principalmente vocal, que nos remete a músicas bem mais antigas, inclusive da década de 1920. Aliás esse tipo de acompanhamento vocal feminino deveria ter sido mais presente nos discos de Elvis dos anos 60. Aqui destaco o excelente trabalho das cantoras. Ficou muito bom! "Aloha Oe" é até bonita, contando inclusive com uma introdução remetendo aos antigos cantos tradicionais havaianos. Entretanto depois de ouvir tantas músicas com guitarras havaianas tudo fica meio cansativo. Melhor é esperar a longa introdução terminar para ouvir a bela voz de Elvis quase cantando em estilo tradicional. É uma faixa pequenina. Funciona melhor em cena. No disco, ouvindo, não acrescenta muito.
Bom, não precisa saber muito sobre Elvis Presley e seus discos para entender que "Can't Help Falling in Love" foi o maior sucesso da trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". Aqui temos realmente um grande hit e uma das faixas que sobreviveram até mesmo ao sucesso do filme. Afinal "Blue Hawaii" como cinema passou, mas essa balada romântica ficou, entrou definitivamente no repertório atemporal da música internacional. O interessante é que a gravação ficou realmente genial. Elvis gravou três versões diferentes, uma para ser usada em cena, no filme, outra para compor o disco oficial da trilha e uma menor, a ser usada no material de promoção nas rádios. O curioso é que as fãs da época pensavam que a faixa (que havia chegado a elas em single antes do lançamento do filme nos cinemas) iria embalar alguma cena bem romântica no filme, mas isso não aconteceu. Elvis a canta para uma senhora. Pois bem, como a música virou um hino praticamente, Elvis a resgatou em 1969 para ser usada em seus shows em Las Vegas. Nunca mais deixou de cantá-la, sendo usada como a música de despedida de praticamente todos os concertos que realizaria até o final de sua vida.
"Beach Boy Blues" já não era tão especial. Na realidade até considero uma faixa que tinha muito potencial, mas que de certa forma foi estragada por aquelas produções plastificadas de Hollywood. É incrível como os estúdios de cinema muitas vezes estragavam os ritmos musicais mais tradicionais. Ao invés de gravar um blues de grande qualidade, os escritores apareciam com meras imitações para o gosto do público médio dos Estados Unidos. Esse é um caso bem representativo disso. A cena do filme, com Elvis em cana, também não acrescenta muito. Acho a canção fraca. E fraca também pode ser considerada a última canção que Elvis gravou para esse disco. Estou me referindo a "Rock-a-hula Baby". Ei, misturar Havaí, ou sua sonoridade, com o Rock bravio, dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, realmente não parecia uma boa ideia. E não era mesmo! Foi escolhida para ser o lado B do single ""Can't Help Falling in Love". Por essa razão até ficou bem conhecida na época, afinal o compacto vendeu milhares de cópias. Só que tudo isso foi de certa forma em vão. A música era bem fraca mesmo e não resistia a ouvidos mais atentos. Depois de algumas audições logo se tornava bem enjoativa.
Pablo Aluísio.
O interessante é que pelo menos três canções o agradaram dentro daquele repertório (com excesso de músicas, para alguns). Ele particularmente apreciava a linda canção romântica "Can't Help Falling in Love", tanto que passou a usá-la para encerrar seus shows na década de 70. Ele parecia curtir também "Hawaiian Wedding Song", que inclusive chegou a cantar para Priscilla em sua lua de mel, como ela mesma confessou em sua biografia. Por fim Elvis parecia ter apreço igualmente pela italiana "No More". Por outro lado achava uma verdadeira palhaçada faixas como "Ito Eats", que só funcionava no contexto do filme e ficava péssima ao se ouvir no disco ou então de "Rock-a-hula Baby", que chegou a ser usada em single, mas que nunca convenceu ninguém. Uma música fraca. O sucesso absurdo tanto do filme como de sua trilha sonora fizeram com que Elvis se retraísse em suas opiniões pessoais. Ele ficou calado. Chegou a ponto de dizer numa entrevista que não deveria se mexer em um sucesso desses. Se as pessoas gostavam, então era isso mesmo, era o caminho. Esse pensamento o fez ficar em Hollywood por dez anos, gravando trilhas para filmes.
Vamos tecer algumas considerações sobre as músicas da trilha sonora desse filme "Feitiço Havaiano". A primeira música gravada por Elvis para esse disco foi "Hawaiian Sunset". Considero uma das boas músicas românticas do álbum, embora a RCA tenha colocado ela no final do Lado B do vinil original, mostrando que a gravadora não colocava muita fé em seu sucesso. De qualquer maneira é um bom momento, valorizado ainda mais pelo coro dos Jordanaires, cantando junto a Elvis - cuja voz foi colocado bem à frente, em destaque, como queria o Coronel Parker. Depois dela Elvis gravou a também romântica "Ku-u-i-po". Se formos comparar as duas músicas a melodia dessa é bem mais bonita. Tem um belo arranjo de violão solando ao fundo, além, é claro do Steel Guitar que permeia por praticamente todas as faixas do disco. Quem estava tocando esse som peculiar foi o especialista Alvino Rey, trabalhando pela primeira vez ao lado de Elvis em estúdio, até porque esse tipo de sonoridade era novidade nos discos do cantor. Tudo arranjado para que o ouvinte se sentisse no próprio Havaí, curtindo uma de suas maravilhosas praias ao sol.
E então, depois de gravar as duas havaianas faixas já citadas, Elvis se preparou para fazer uma boa gravação de "No More" que não fazia parte da cultura musical do Havaí, mas sim da doce Itália. Elvis, é bom lembrar, era admirador da música italiana, tanto que de tempos em tempos fazia suas próprias versões da musicalidade tão forte da rica cultura daquele país. E ele se saiu muito bem, em apenas 9 takes a faixa estava pronta, mostrando que Elvis a conhecia muito bem. Estava na ponta da língua, afiada para gravar rapidamente. Elvis em mais um momento Mario Lanza de sua discografia. E para encerrar os trabalhos naquele dia 21 de março Elvis fechou a noite gravando a versão definitiva de "Slicin' Sand". O take escolhido pelo produtor Joseph Lilley para ser a versão oficial do disco foi o de número 4. Boa escolha. É uma boa faixa do LP, mas não vá chamar isso de rock. Não é! É uma pop music que tem seus pontos positivos, embora no geral fique na média do resto da trilha sonora. Destaque para o bom solo de guitarra de Hank Garland.
A música tema do filme, "Blue Hawaii", tem um arranjo estranho em seu começo. Particularmente nunca gostei de seu início, parece algo sem ritmo, se arrastando. Depois melhora e vira uma balada agradável. Elvis não foi o primeiro a gravar essa música. Existe inclusive uma versão mais antiga gravada por Frank Sinatra, com menos efeitos típicos da música havaiana. Inclusive sempre fiquei surpreso por poucos conhecerem essa versão antiga do Sinatra. A música, pelo visto, não fez qualquer sucesso em sua voz. "Ito Eats" é a música mais fraca da trilha sonora. Nada é tão ruim como essa faixa. Eu poderia inclusive dizer, sem medo de ser injusto, de que essa canção é uma verdadeira porcaria. E no filme fica ainda pior quando mostra o tal do Ito, um sujeito gordinho que come sem parar. Penso que essa deveria ter sido descartada da trilha. Deixassem apenas no filme, como um número curto. Também não ficaria nada mal se o diretor tivesse jogado fora essa sequência que até tenta ser divertida, mas é sem graça demais.
"Hawaiian Wedding Song" é a música havaiano de casamento. A própria Priscilla Presley confidenciou que Elvis cantou um trechinho dessa música quando a levou para o quarto, na Lua de Mel do casal em Las Vegas. Uma palhinha apenas. A versão de estúdio ficou muito boa. A cena final do filme é com ela, com Elvis todo vestido de branco. Uma bela cena do filme, ficou bem bonita, sem dúvida. Em termos de palco Elvis chegou a cantá-la algumas vezes ao vivo nos anos 70. Uma versão Live inclusive chegou a ser lançada pela RCA em sua discografia oficial, no álbum póstumo "Elvis in Concert". "Island of Love" também é uma bonita música, mas bem mais fraca que a anterior. Tem um parte puramente instrumental que ficou bem legal. Ainda assim é bem esquecível também. No vinil original de 1961 ela foi colocada como penúltima música, lá no finalzinho do Lado B. Os ouvintes meio que deram de ombros, não se importando muito com essa "Ilha do Amor". No final das contas fica na média das demais baladas. É agradável de ouvir, apenas isso.
A música "Steppin' Out of Line" foi gravada para a trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano" mas acabou ficando fora do disco! O que aconteceu? Até hoje não há uma resposta sobre isso. A faixa foi bem gravada, era uma boa música, muito boa por sinal, mas ficou mesmo fora da trilha sonora. Alguns dizem que foi por pura falta de espaço, já que havia músicas demais para colocar no álbum. Se foi isso por que não tiraram músicas mais fracas? Eis a questão. De qualquer maneira ela não ficaria fora da discografia de Elvis, surgindo algum tempo depois no disco "Pot Luck". Por outro lado "Almost Always True ' é uma das boas canções da trilha. No disco original em vinil era segunda música do lado A, logo depois da música título do filme. Uma boa faixa, com ótima participação do saxofonista Homer "Boots" Randolph que costumava melhorar muito as músicas de Elvis nos anos 60 com seus solos instrumentais. Não chega a ser um rock, mas sim uma música pop das mais agradáveis de se ouvir. E não tem aquele monte de Steel Guitar e nem de Ukulele que aparecem nos arranjos das outras músicas desse álbum.
Podem dizer o que quiserem, mas eu pessoalmente gosto muito de "Moonlight Swim". O que mais curto nessa canção é seu arranjo, principalmente vocal, que nos remete a músicas bem mais antigas, inclusive da década de 1920. Aliás esse tipo de acompanhamento vocal feminino deveria ter sido mais presente nos discos de Elvis dos anos 60. Aqui destaco o excelente trabalho das cantoras. Ficou muito bom! "Aloha Oe" é até bonita, contando inclusive com uma introdução remetendo aos antigos cantos tradicionais havaianos. Entretanto depois de ouvir tantas músicas com guitarras havaianas tudo fica meio cansativo. Melhor é esperar a longa introdução terminar para ouvir a bela voz de Elvis quase cantando em estilo tradicional. É uma faixa pequenina. Funciona melhor em cena. No disco, ouvindo, não acrescenta muito.
Bom, não precisa saber muito sobre Elvis Presley e seus discos para entender que "Can't Help Falling in Love" foi o maior sucesso da trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". Aqui temos realmente um grande hit e uma das faixas que sobreviveram até mesmo ao sucesso do filme. Afinal "Blue Hawaii" como cinema passou, mas essa balada romântica ficou, entrou definitivamente no repertório atemporal da música internacional. O interessante é que a gravação ficou realmente genial. Elvis gravou três versões diferentes, uma para ser usada em cena, no filme, outra para compor o disco oficial da trilha e uma menor, a ser usada no material de promoção nas rádios. O curioso é que as fãs da época pensavam que a faixa (que havia chegado a elas em single antes do lançamento do filme nos cinemas) iria embalar alguma cena bem romântica no filme, mas isso não aconteceu. Elvis a canta para uma senhora. Pois bem, como a música virou um hino praticamente, Elvis a resgatou em 1969 para ser usada em seus shows em Las Vegas. Nunca mais deixou de cantá-la, sendo usada como a música de despedida de praticamente todos os concertos que realizaria até o final de sua vida.
"Beach Boy Blues" já não era tão especial. Na realidade até considero uma faixa que tinha muito potencial, mas que de certa forma foi estragada por aquelas produções plastificadas de Hollywood. É incrível como os estúdios de cinema muitas vezes estragavam os ritmos musicais mais tradicionais. Ao invés de gravar um blues de grande qualidade, os escritores apareciam com meras imitações para o gosto do público médio dos Estados Unidos. Esse é um caso bem representativo disso. A cena do filme, com Elvis em cana, também não acrescenta muito. Acho a canção fraca. E fraca também pode ser considerada a última canção que Elvis gravou para esse disco. Estou me referindo a "Rock-a-hula Baby". Ei, misturar Havaí, ou sua sonoridade, com o Rock bravio, dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, realmente não parecia uma boa ideia. E não era mesmo! Foi escolhida para ser o lado B do single ""Can't Help Falling in Love". Por essa razão até ficou bem conhecida na época, afinal o compacto vendeu milhares de cópias. Só que tudo isso foi de certa forma em vão. A música era bem fraca mesmo e não resistia a ouvidos mais atentos. Depois de algumas audições logo se tornava bem enjoativa.
Pablo Aluísio.
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