terça-feira, 11 de janeiro de 2005
Elvis Presley - Spinout (1966)
O disco pode ser dividido em duas partes bem distintas. O material do filme em si, que é caracterizado por uma certa irregularidade, e as chamadas "bonus songs", canções que não faziam parte do filme, mas que eram encaixadas nos discos para que eles não fossem muito curtos. A trilha sonora propriamente dita tem altos e baixos. Há canções medonhas de ruins como "Beach Shack", ao lado de músicas medianas ao estilo "All That I Am", além de pequenas preciosidades como a subestimada "I'll Be Back". O material foi composto por bons compositores como a dupla Sid Tepper e Roy C. Bennett, o sempre bom Joy Byers e até mesmo os excepcionais Doc Pomus e Mort Shuman, que infelizmente comparecem com apenas uma faixa. Graças aos deuses musicais os produtores resolveram colocar o trio calafrio Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye de lado e eles aparecem também com apenas uma canção, e pra variar a pior de todas, um verdadeiro lixo cultural.
Outro aspecto que merece menção é a falta de qualidade técnica das gravações. "Spinout" é considerado um dos discos mais mal equalizados da carreira de Elvis, talvez só superado por "Double Trouble" que parece ter sido gravado na garagem de alguém. Não dá para entender porque a RCA já não se importava mais com a qualidade das gravações daquele que havia sido seu maior nome até pouco tempo atrás. Ao que tudo indica os profissionais da gravadora simplesmente lavaram as mãos, deixando tudo para lá e como os discos já não vendiam mais tão bem, deixaram tudo para o "Deus dará"! Assim que se coloca o vinil original americano para tocar o ouvinte percebe a falta de capricho nas faixas. A banda já não soa tão afinada como antes e Elvis parece transparecer desleixo em seus vocais, algo impensável para quem vinha acompanhado Presley por longos anos, onde seus álbuns sempre se destacavam pelo bom gosto e cuidado nas gravações.
Alguns membros da Máfia de Memphis confirmam que Elvis ficou até mesmo abalado quando ouviu o disco pela primeira vez. Ele obviamente acusou Tom Parker de mandar mexer nas matrizes mas nada fez para parar essa interferência indevida. Chegou a dizer que ficava fisicamente doente quando descobria que um trabalho com seu nome saía mal feito, mal realizado. Some-se a isso os problemas no cinema e você terá uma ideia da imensa frustração profissional que ele vinha sentindo por essa época. A única salvação do disco vem mesmo das bonus songs, três belas canções em gravações impecáveis. "Tomorrow is a Long Time" de Bob Dylan, "Down in the Alley" de Jesse Stone e "I'll Remember You" de Kui Lee, são maravilhosas. Gravadas numa sessão em maio (e junho) de 66, estavam arquivadas, sem a RCA saber o que fazer com elas. Acabaram enfiando aqui para amenizar a má qualidade do material do filme.
Como o público já vinha ficando aborrecido com os rumos da carreira de Presley o disco ao ser lançado novamente se tornou uma decepção nas vendas, a tal ponto que pela primeira vez em sua carreira Elvis tinha sido deixado de lado pela filial brasileira da RCA Victor que simplesmente desistiu de lançar o álbum comercialmente por aqui por causa do fracasso de vendas nos Estados Unidos. E o mesmo aconteceu com vários países europeus, mostrando o grau de declínio que o antigo astro vinha passando em sua carreira, tanto no mundo do cinema como no mundo fonográfico. Como disse certa vez um articulista americano, se Elvis tivesse morrido em 1966 ou 1967, ele seria retratado como um dos maiores cantores de todos os tempos que havia desaparecido das paradas e se tornado um artista completamente irrelevante para a arte em geral. Como sabemos isso felizmente não aconteceu e em 1968 ele finalmente se levantaria do mundo dos mortos do show business para reviver novamente dias de glória na sua carreira.
Stop, Look and Listen (Joy Byers) - A canção que abre o álbum. Sempre gosto de afirmar que Joy Byers compôs algumas das melhores canções da carreira de Elvis nos anos 1960, período muito complicado para ele, que foi colocado para cantar algumas porcarias enlatadas impostas pelos estúdios de cinema. Assim Byers funcionava como um alívio, pois suas composições, se não eram geniais, pelo menos surgiam acima da média do que ele vinha gravando. Essa "Stop, Look and Listen" é uma tentativa de trazer algum conteúdo roqueiro aos discos de Elvis, que se notabilizavam mesmo por essa época pelas baladas e músicas pop. Não é de toda ruim, embora a ache mal equalizada, mal gravada (característica que pode ser atribuída aliás a todas as faixas da trilha sonora "Spinout", infelizmente).
Adam and Evil (Fred Wise / Randy Starr) - Outra canção mais agitadinha. No filme pelo menos Elvis surge em boa cena, com um figurino azul e preto em um quadro esteticamente muito interessante (muito embora o trash também esteja lá, quando um dos membros de sua banda dá uma de faquir seduzindo uma cobra de pano!). A versão apresentada no filme é ligeiramente diferente da do álbum, com mais solos de bateria. Em termos de letra esqueça, é uma tremenda bobagem.
All That I Am (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Uma das músicas mais celebradas da trilha sonora. Sid Tepper esclareceu nos anos 70 que a canção não havia sido composta especialmente para Elvis e nem para o filme. Só depois quando foi contactado pelo estúdio é que ele resolveu oferecer a canção para fazer parte do disco. Isso talvez explique porque ela é tão bem composta, com ótima melodia. O belo arranjo de violinos também soma muito em seu excelente resultado final. Um oásis de qualidade no meio do deserto de músicas fracas de "Spinout".
Never Say Yes (Doc Pomus / Mort Shuman) - Na volta de Elvis do serviço militar a dupla Doc Pomus e Mort Shuman logo se tornou a principal da carreira do cantor. Não é para menos, pois eles eram realmente ótimos, tanto nas letras como nas melodias. Infelizmente como era de se esperar foram colocados de lado por Tom Parker que começou a considerar a dupla cara demais para trabalhar com Presley. Assim eles foram empurrados sem muita cerimônia para a geladeira. Para surpresa de muitos ressurgiram timidamente aqui na trilha de "Spinout". A canção é fraca, parece que foi vendida pela dupla propositalmente assim. Algo no estilo "pelo preço que vocês querem pagar só podemos oferecer músicas desse nível".
Am I Ready (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Outra bela balada de Tepper e Bennett. Embora fossem contratados da Paramount Pictures, onde compuseram vasto e bom material para os filmes de Elvis, eles também vendiam suas criações por fora, como freelancers, principalmente após 1964, quando se desligaram oficialmente da Paramount. Essa música não chega a ser tão bela como "All That I Am" mas forma com essa a melhor parte da trilha sonora. Infelizmente o arranjo deixou a desejar, principalmente por não ter sido tão embelezada como a outra balada. De uma forma ou outra mantém o interesse e conta com belo trabalho vocal de Elvis Presley, relembrando seus melhores momentos por volta de 1960 e 1961, quando seu estilo de cantar era muito mais suave e terno.
Beach Shack (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - Um verdadeiro lixo! Muitos fãs de Elvis ficam irritados quando alguém afirma que Elvis gravou lixo cultural em sua carreira! Ora, isso é uma afirmação verdadeira! Ele só gravou lixo? Obviamente não, claro que não, mas ele gravou sim grandes porcarias, não há como negar. Pensem sob um contexto histórico. Quando Elvis gravou essa trilha sonora ele já era um homem com mais de 30 anos, não um adolescente boboca! Apenas um cantor teen, desses bem rasteiros, gravaria algo desse tipo. Triste momento para um dos grandes talentos da música mundial que via seu talento ser explorado e colocado a serviço de lixos como esse.
Spinout (Ben Weisman / Dolores Fuller / Sid Wayne) - Se o lado A do álbum "Spinout" não conseguia sair muito do lugar comum de suas últimas trilhas sonoras, o lado B trazia algumas preciosidades. Essa canção título do filme foi inexplicavelmente jogada para abrir o lado B do disco, algo que surpreendeu aos fãs pois a tradição nas trilhas de Elvis era a música título do filme abrir o disco. Era algo que vinha desde a primeira trilha sonora de Elvis ainda nos anos 50. Não considero essa música muito boa, para falar a verdade mostrou-se uma das mais fracas dos anos 60. Será que os produtores meio que a esconderam no lado B justamente por causa de suas poucas qualidades sonoras? É uma possibilidade.
Smörgåsbord (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Essa trilha sonora de Elvis enfrentou alguns problemas no mercado inglês. Isso porque algumas expressões simplesmente não faziam sentido aos ouvidos ingleses. A própria palavra "Spinout" soava ruim aos britânicos. Agora imagine essa palavra chamada "Smörgåsbord"! Os ingleses que sempre consideraram os americanos uns matutos sem sofisticação devem ter coçado a cabeça para entender o que diabos isso significava. Curiosidades linguísticas à parte até que essa canção não é de se jogar fora. Gosto de seu ritmo e refrão pegajoso. Ouviu uma vez, não esquece mais.
I'll Be Back (Ben Weisman / Sid Wayne) - Fechando a parte da trilha sonora do álbum temos essa "I'll Be Back". Já li muitos elogios para essa canção, mas sinceramente considero muitos deles exagerados. Não quero ser interpretado de forma equivocada, "I'll Be Back" é sem dúvida uma boa música, diria mesmo muito acima da média das demais presentes na trilha desse filme, porém não é tudo aquilo que dizem e escrevem sobre ela. Considero Ben Weisman um escritor competente que foi muito criticado em sua parceria com Elvis Presley e por isso deixarei o julgamento final a cada ouvinte. Ouça e tire suas próprias conclusões.
Tomorrow is a Long Time (Bob Dylan) - Essa é a primeira bonus song do álbum e o primeiro grande momento do disco. Durante anos as pessoas ficaram sem entender porque Elvis Presley gravava tanta bobagem, sendo que na mesma época os grandes compositores americanos imploravam para que ele gravasse suas músicas. Dylan foi um deles. Considerado um dos maiores nomes da música daquele período, tinha esse velho sonho de um dia Elvis vir a gravar algumas de suas canções. O sonho se tornou realidade com essa faixa, "Tomorrow is a Long Time". Bob Dylan a gravou inicialmente em 1963, em um disco ao vivo. A música chegou a Elvis através de seu músico e amigo Charlie McCoy, que inclusive já havia trabalhado ao lado de Dylan antes. Assim que ouviu a faixa Elvis decidiu que a gravaria. Isso foi em maio de 1966 e inicialmente a RCA pensou em lançar a gravação em um single, o que teria sido uma grande ideia. Pena que mudaram de opinião e a resolveram encaixar aqui no lado B de "Spinout" onde acabou ficando obscurecida, não tendo a devida atenção que merecia. Esqueça esse erro histórico e não deixe de ouvir a faixa, considerada nos dias de hoje uma preciosidade, um dos melhores momentos de Elvis no estúdio durante os anos 1960.
Down in the Alley (Jesse Stone) - Outra jóia perdida da discografia de Elvis Presley. "Down in the Alley" é mais um blues que criminosamente foi jogado para escanteio pelos produtores de Elvis. Uma canção relevante, lindamente gravada, com ótimo entrosamento vocal que foi desperdiçada completamente dentro de sua discografia. Não merecia surgir no mercado como mera bonus song de "Spinout". De qualquer maneira Elvis adorava a música, tanto que a tentou promover até mesmo anos depois, já em Las Vegas, numa forma de resgatar esse ótimo momento obscuro de sua vida nos estúdios.
I'll Remember You (Kui Lee) - "I'll Remember You" foi muito importante para Elvis em 1973. Foi uma das faixas mais promovidas e divulgadas em seu "Aloha From Hawaii", justamente porque seu autor, Kui Lee, deu nome a uma fundação que seria ajudada com os lucros do famoso show via satélite de Elvis. Todos certamente conhecem a versão ao vivo de Presley naquele momento tão importante de sua carreira. Curiosamente poucos conhecem a versão de estúdio, essa aqui mesmo que foi lançada como última bonus song de "Spinout". Bela gravação com Elvis em pleno domínio vocal e ao contrário das faixas da trilha sonora, lindamente gravada, sem máculas, em um registro perfeito.
Elvis Presley - Spinout (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore (guitarra) / Tommy Tedesco (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Charlie Hodge (piano) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Data de gravação: fevereiro de 1966 exceto "Tomorrow is a Long Time" e "Down in the Alley", gravadas em maio de 1966 e "I'll Remember You" gravada em junho de 1966 / Data de lançamento: outubro de 1966 / Melhor Posição nas Paradas: #17 (Reino Unido) #18 (Estados Unidos).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Paradise, Hawaiian Style (1966)
Nessa época parece que Elvis estava mesmo em uma espécie de coma criativo, engolindo tudo o que lhe era enfiado goela abaixo. Sua incrível intuição artística parecia morta e enterrada e o astro havia se transformado em um mero boneco na mão de diretores, produtores e roteiristas! Mas as más notícias não parariam por aí. Se não bastasse o filme ser extremamente ruim e inconsistente o "Rei" ainda seria jogado em um lamaçal de músicas ruins. "Paradise" é sem sombra de dúvida uma das piores trilhas sonoras de sua carreira (se não for a pior!). A faixa título é muito ruim, com péssima letra (com um verso pra lá de estúpido: "Puxa! Como é bom estar no 50º Estado!") E a partir daí é uma ladeira abaixo, com canções de mal gosto (Scratch My Back), infantis e maçantes (Datin) constrangedoras (A Dogs Life) e mal produzidas (Stop Where You Are). Nem This Is My Heaven consegue manter a dignidade. A única e honrosa exceção no meio desse pântano de músicas ruins e baratas é mesmo, como já foi dito, a bela canção Sand Castles. E por incrível que pareça ela foi a única cortada do filme! Como pôde acontecer uma coisa dessas? Realmente Paradise, Hawaiian Style é impressionante, pois até nisso eles se equivocaram. Não há muito o que comentar nesse momento opaco, depois dessa é melhor esquecer que nosso querido ídolo se envolveu em tamanho abacaxi, literalmente!
Paradise, Hawaiian Style (Giant / Baum / Kaye) - Realmente essa faixa tema é ruim demais. Se existisse um prêmio "framboesa de ouro" na categoria de "pior música tema de um filme de Elvis" essa levaria o prêmio fácil, fácil. Até o vocal de Elvis está estranho, muito contido e cantando extremamente mal, como se a master original estivesse fora da rotação normal. O ritmo é muito equivocado mas a letra é insuperável! "Como é bom estar no 50º Estado"!. Que bobagem é essa? Esse triozinho de compositores quando erravam a mão erravam mesmo pra valer! Terra arrasada mesmo! Péssimo em todos os aspectos!
Queenie Wahine's Papaya (Giant / Baum / Kaye) - Outra pérola trash! No filme Elvis divide os vocais com a garotinha pentelho Donna Buttersworth, que é engraçadinha, talentosa e bonitinha, mas que em nenhum momento do filme deixa de ser pentelhinha. Falando sério, vamos ser sinceros: colocar Elvis Presley, o Rei do Rock, numa cena abacaxi dessas, batendo em panelas já é demais! Alguém deveria ter tirado Elvis à força dos sets de filmagens desse filme! Nada contra Elvis dividir o microfone com uma criança, mas se pelo menos ela soubesse cantar! Seria pedir demais?!
Scratch My Back (Giant / Baum / Kaye) - Outra música que faz jus à total e absoluta falta de talento desse trio assustador que escreveu algumas músicas desse filme. A cena é ainda pior, pois Elvis tem que se abaixar de perfil ao se esfregar em algumas - minhas sinceras desculpas Fernanda Montenegro - "atrizes"! E nesse momento, como ele estava bem fora de forma, sua pancinha se sobressai de forma constrangedora. Complicado superar tamanha besteira! Sério, ninguém viu isso não? Nem vou escrever sobre a canção...
Drums of The Islands (Polynesium Cultural Center / S. Tepper / R.C. Bennett) - Bem, alguém deve ter pensado: Precisamos colocar alguma dignidade nessa trilha sonora, vamos escrever alguma coisa que preste! Então chamaram os compositores dos filmes "G.I. Blues" e "Blue Hawaii" para comporem e adaptarem um tema típico havaiano. Quase conseguiram, a bola bateu na trave. Se não é um primor, pelo menos traz Elvis em boa vocalização com uma boa equipe vocal o apoiando. Uma pequena pausa na mediocridade reinante.
Datin (J. Wise / R. Starr) - "Datin" é um caso interessante. Se você não se importar com a infantilidade do tema pode até mesmo se divertir com o ritmo alegre e sem pretensão nenhuma. Diversão pela diversão. Escapismo total mesmo. É um dos bons momentos da trilha, mesmo que seja bobinha, mesmo que a letra seja ingênua e pueril. No filme novamente a atriz mirim estraga a canção, mas felizmente a versão presente no disco só conta com a vocalização de Elvis. Pelo menos dessa vez o bom senso prevaleceu!
Pablo Aluísio. A Dog's Life (Ben Weisman / S. Wayne) - E pensar que Elvis, que cantou "Hound Dog" iria acabar gravando "A Dog's Life"! A pior música do filme que já é ruim de doer! Na cena no Helicóptero de papelão Elvis divide a "atuação" com um monte de amigos caninos! Acho que não poderia ser pior! O fim da picada!
House of Sand (Giant / Baum / Kaye) - Quando pensávamos que estávamos livres do trio calafrio eles reaparecem com mais uma "bomba"! Eita musiquinha ruim essa hein! Elvis transparece todo seu tédio (que deve ter sido enorme ao gravar esse material) e apenas interpreta a pobreza lírica com desdém nítido. Ruindade pouca é bobagem.
Stop Where You Are (Giant / Baum / Kaye) - Outra porcaria assinada por Giant, Baum e Kaye. Esses caras eram realmente imbatíveis, não me surpreende o fato deles terem sido os pais dos maiores abacaxis da carreira de Elvis como "Kissin Cousins" e "Harum Scarum". Mas aonde diabos afinal o Coronel Parker achou esses caras? Com tantos compositores talentosos nos anos 60 implorando para que Elvis gravasse suas músicas, o Coronel resolveu escolher logo os mais ineptos e idiotas disponíveis no mercado? Como perdoar uma coisa dessas? Provavelmente eles cobravam uma merreca para comporem temas para Elvis. Pelo qualidade da mercadoria entregue sem dúvida o Coronel não gastou muito.
This Is My Haven (Giant / Baum / Kaye) - Adivinhe só quem compôs essa canção? Leva um abacaxi quem ganhar! Eles mesmos: Giant, Baum e Kaye! Dessa vez eles tentaram diminuir um pouco a mediocridade e escreveram pelo menos uma melodia agradável. Mas depois de escreverem tantos temas ruins será que tem salvação? A música é menos constrangedora do que as demais, mas mesmo assim não empolga e nem decola. Fico no lenga lenga e termina logo (graças a Deus!)
Sand Castles (H Guldeberg / D. Hess) - Você chega no finalzinho da trilha sonora e pensa que perdeu minutos preciosos de sua vida com nada e de repente começa "Sand Castles". Você dá um salto e fica com o queixo caído! Essa canção é mesmo de "Paradise, Hawaiian Style"? Eu não acredito! Essa música é simplesmente LINDA! Como é que ela foi parar aqui, no fim, desprezada e esquecida? É um dos maiores vocais de Elvis em toda a sua discografia (e isso meu caro não é pouca coisa!). Acompanhamento lindo e ritmo relaxante, "Sand Castles" evita que joguemos o disco na lata de lixo! Simplesmente adoro essa canção e sempre a ouço (tente ouvi-la a dois!). Fantástica e completamente destoante do restante da trilha sonora. Ah! se o disco fosse composto de dez versões dessa mesma canção! Seria muito mais relevante do que a trilha inteira! Nota 10 com louvores!
Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Barney Kessel (guitarra) / Charlie McCoy (guitarra) / Ray Siegel (baixo) / Keith Mitchell (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Milton Holland (bateria) / Larry Muhoberac (piano) / Bernal Lewis (steel guitar) / Al Hendricksson (guitarra) / Howard Roberts (guitarra) / Victor Feldman: (bateria) / The Mello Men: Bill Lee, Max Smith, Bill Cole e Gene Merlino (vocais) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker (vocais) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de gravação: 26 e 27 de julho e 2,3 e 4 de agosto de 1965 / Produzido por Thorne Nogar / Data de lançamento: maio de 1966 / Melhor posição nas charts: #15 (USA) e #7 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Frankie and Johnny (1966)
1. Frankie and Johnny (Alex Gottlieb / Fred Karger / Ben Weisman) - Logo na faixa título o ouvinte terá a certeza que essa trilha não tem uma sonoridade comum. O arranjo de metais, tentando reviver o clima de New Orleans, já chega forte nos primeiros segundos da audição. Particularmente gosto muito desse tipo de instrumentação, não apenas por se tratar de algo que fuja do convencional e habitual, mas também por ser algo reverencial a um tempo passado, fruto, é claro, do enredo do próprio filme que é de época. Uma boa faixa, muito bem arranjada e executada.
2. Come Along (David Hess) - Outro prazer sem culpas. Aqui o destaque vai para o trabalho primoroso dos vocais. As pessoas ouvem esse tipo de gravação é podem até mesmo pensar que é fácil encontrar um entrosamento como esse, onde em um ritmo rápido todos os vocalistas (Elvis e seu grupo de apoio) surgem perfeitamente sincronizados. Não se engane, não é nada fácil realizar algo assim, principalmente nas notas finais do fim dos versos que são bem incisivos. Belo trabalho de Presley e os Jordanaires.
3. Petunia, The Gardener's Daughter (Roy C. Bennett / Sid Tepper) - Bom, como se trata de um trilha sonora de Elvis nos anos 60 não escaparemos de ouvir algumas bobagens. Essa é a primeira delas. Depois de duas boas faixas, fortes, gravadas e cantadas com convicção, surge essa que tem uma letra de amargar. Também é de se admirar que essa boa dupla de compositores tenha criada essa musiquinha medíocre. Se você estiver ouvindo um vinil pode levantar a agulha e ir para a próxima sem receios. Se for um CD melhor programar para ela ser ignorada na seleção de faixas. Não fará diferença.
4. Chesay (Ben Weisman / Fred Karger / Sid Wayne) - Ben Weisman foi o compositor mais produtivo durante esse período da carreira de Elvis. No total deve ter composto mais de 50 faixas para o garoto de Memphis. Essa é mais uma delas. O destaque vem de um ótimo trabalho vocal. Gosto bastante do entrosamento que Elvis e os Jordanaires tiveram nessas sessões. Perceba que ao contrário dos outros álbuns de Elvis na época, esse contou com a entrada de vários músicos contratados para reproduzir a sonoridade típica das canções para esse filme. Assim ao lado de Elvis havia mais de 15 músicos dentro do estúdio naquela ocasião. Imagine o trabalho que deu colocar toda essa gente em fina sintonia. "Chesay" prova que todos estavam muito bem entrosados.
5. What Every Woman Lives For (Doc Pomus / Mort Shuman) - Depois de um começo promissor ao lado de Elvis no começo dos anos 60 a dupla Pomus e Shuman foi desaparecendo dos discos do cantor. Tinham ficado caros demais na opinião de Tom Parker. Aqui ressurgem ainda timidamente na sua única composição para a trilha sonora. O curioso é que para muitos não foi uma grande volta. Muitos implicam com a letra dessa canção. Dizem que ela vai além do mau gosto em termos de arranjo e letra, que não é apenas machista, mas cafajeste também. Coloca as mulheres na condição de interesseiras, materialistas e loucas apenas pelo dinheiro dos homens. Eu acho que há um grande erro de interpretação no que os autores quiseram passar com a letra, pois no fundo é uma mensagem de amor sobre o que realmente engrandece a vida de uma mulher, que é, repita-se, o amor que ela pode dar ao seu companheiro e não bens materiais como muita gente entendeu, de forma bem errada aliás. As feministas muitas vezes exageram na dose.
6. Look Out Broadway (Fred Wise / Randy Starr) - Se erraram no que a canção anterior dizia, o que falar dessa em que um dos trechos da letra pergunta: "Se ele lhe der um diamante, o que você dará a ele?". Meio grosseirão não é mesmo? Mas não se engane, mesmo em termos de letra essa se salva. É no fundo uma ode à busca pelo sucesso nos palcos da vida, em especial da Broadway em Nova Iorque, o sonho de praticamente todo aspirante à ator nos Estados Unidos. Assim posso dizer que até gosto do resultado, tanto do ponto de vista da letra como da música, mesmo com a pergunta maliciosa que está inserida nela.
7. Beginner's Luck (Roy C. Bennett / Sid Tepper) - Mais uma composição da dupla que compôs o maior sucesso de Elvis em Hollywood, a trilha sonora de "Blue Hawaii". Essa é uma canção sobre se ter sorte de principiante ao se apaixonar pela primeira vez por uma mulher realmente maravilhosa! Quem, em sã consciência, não gostaria de ter essa sorte na vida? Até porque o primeiro amor ninguém esquece, sempre é o mais forte e também o mais idealizado - e talvez por isso seja realmente inesquecível. Essa é uma boa música que apresenta uma bela melodia onde Elvis parece se entregar completamente. Um bom momento do disco, que volto a dizer, tem seus méritos, não restam dúvidas sobre isso.
8. Down by the Riverside / When the Saints Go Marching In (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Muitos não gostam desse medley com músicas tradicionais. Eu penso de forma diferente, acho de uma alegria contagiante, inclusive por parte de Elvis Presley, que parece estar se divertindo como nunca! Além da animada performance temos que dar o braço a torcer pelas próprias canções, que são maravilhosas. Embora tenham sido creditadas a esse trio no disco, eles nada mais fizeram do que apenas adaptar as canções para Elvis e o filme. "Down by the Riverside", por exemplo, era dos tempos da guerra civil e "When the Saints Go Marching In" é uma canção católica composta originalmente em tempos imemoriais.
9. Shout It Out (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - Outra boa canção da trilha sonora. No filme Elvis surge apresentando a música com uma roupa escura no velho estilo do sul, que em um bom exercício de imaginação, até mesmo antecipa algumas de suas mais famosas jumpsuits dos anos 70.
10. Hard Luck (Ben Weisman / Sid Wayne) - Mais uma composição do Ben Weisman. O ritmo é de blues, com Elvis a cantando ao lado de um garoto negro do filme, mandando ver em sua gaita de bolsa (na verdade dublando o talento de Charlie McCoy). Apesar de sempre ser um prazer renovado ouvir Elvis cantando blues essa faixa é prejudicada por ser Hollywoodiana demais. A letra pelo menos é até bem escrita, fugindo de maiores banalidades. No geral podemos dizer que é apenas mediana, além de curta demais.
11. Please Don't Stop Loving Me (Joy Byers) - Joy Byers durante essa fase da carreira de Elvis foi responsável por alguns dos melhores momentos das cambaleantes trilhas sonoras do cantor. Aqui está de volta, só que ao invés de escrever algum pop mais agitado optou por uma balada romântica. Considero um dos momentos mais fracos da trilha por apelar demais para clichês - tanto do ponto de vista de arranjos como de letra. A cena do filme é fraca, pois Elvis a canta de uma janela do barco (o cenário aliás não é muito convincente, mostrando toda a falta de capricho na produção do filme, que sendo bem sincero é B demais para que nos importemos com ele).
12. Everybody Come Aboard (Bernie Baum / Bill Giant / Florence Kaye) - A trilha sonora se encerra com essa boa "Everybody Come Aboard", com muitos metais e arranjo ao velho estilo de New Orleans. Sem acompanhamento vocal marcante, contando praticamente apenas com Elvis nos vocais é uma boa despedida para "Frankie and Johnny". Bem melhor do que muitas canções ruins que ele teve que enfrentar por essa época.
Frankie and Johnny (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Eileen Wilson (vocais) / George Worth (trumpete) / Richard Noel (trombone) / John Johnson (tuba) / Gus Bivona (saxophone) / Scotty Moore (guiarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Charlie McCoy (harmonica) / Larry Muhoberac (piano) / Bob Moore (baixo) / D. J. Fontana, Buddy Harman (baixo) / Data de Gravação: maio de 1965 / Data de Lançamento: março de 1966 / Melhor Posição nas paradas: # 20 (EUA) # 11 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Harum Scarum (1965)
Harem Holiday (Peter Andreoli - Vince Poncia) - A canção tema do filme deveria se chamar obviamente "Harum Scarum" mas essa era uma expressão sem nenhuma sonoridade, além de não fazer sentido para os ingleses. Ora, se nem eles que falam inglês iriam compreender o nome original do filme, o que dirá dos demais países? Assim em um raro momento de bom senso nesse projeto resolveu-se escrever um tema chamado "Harem Holiday", expressão que daria inclusive nome ao filme na Inglaterra. É um pop animadinho e bem gravado, nada demais, mas que serve para animar um pouquinho as coisas tanto no filme, como na trilha em si.
My Desert Serenade (Stanley J. Gelber) - A primeira boa canção da trilha. Elvis está particularmente bem e a melodia sem dúvida agrada. Consigo ver aqui lampejos melódicos até mesmo da nossa Bossa Nova! Essas sessões de gravação contaram com três novos músicos, que não eram habituais em discos de Elvis e que estavam lá para ajudar na sonoridade do Oriente Médio. Além do próprio diretor do filme, Gene Nelson na percussão, o novo trio contava ainda com Ralph Strobel no oboé e Rufus Long na flauta!
Go East - Young Man (Baum - Giant - Kaye) - A primeira composição do conhecido trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. O que dizer? Eles já demonstram aqui que certamente não serão tão grotescos como foram na maioria das canções de "Kissin Cousins". Outra boa melodia que se não tem boa letra, pelo menos agrada por seu ritmo leve e relaxante.
Mirage (Joy Byers) - Quem diria que Joy Byers assinaria algo assim? Para quem escreveu algumas das melhores canções pop de Elvis em Hollywood aqui surge com algo completamente diferenciado. Não é das minhas preferidas e a cena do filme em que ela é apresentada é outra coisa sem imaginação alguma. Elvis com um figurino estranho cantando para mais uma daquelas atrizinhas canastronas que contracenava com ela na época. Passe para a próxima.
Kismet (Sid Tepper - Roy C. Bennett) - Essa dupla escreveu alguns dos mais populares hits de Elvis nos anos 60, inclusive conseguiram o mérito de levar uma trilha sonora do cantor (G.I. Blues) a ser indicado ao Grammy!!! Certamente eram talentosos mas acabaram caindo nas garras de Tom Parker que os considerava "caros demais". Por isso suas composições foram rareando cada vez mais nos novos álbuns do astro em Hollywood. Essa, por exemplo, é a única deles nesse filme. Elvis a canta ao lado de um pequeno lago no filme, uma das poucas cenas externas de todo o filme, que foi praticamente todo rodado dentro dos estúdios para economizar ao máximo nos custos de produção. É uma boa baladinha que fica na média do que se ouve no resto da trilha sonora.
Shake That Tambourine (Baum - Giant - Kaye) - No vinil original essa canção fechava o lado A do disco. É a primeira grande bobagem da trilha. Elvis no filme surge numa cena muito fraquinha, com horrorosas calças verdes e um figurino de matar (no sentido ruim da palavra mesmo). As três moças que apresentam a cena ao lado dele não acertam um passo certo na coreografia. Enfim, um horror mesmo. Esqueça.
Hey Little Girl (Baum - Giant - Kaye) - O lado B do disco original era todo composto por esse trio. Para não ficar muito na cara a RCA enfiou lá no meio uma outra composição de Joy Byers, "So Close, Yet So Far (From Paradise)". Mesmo assim é aquela coisa toda de corte de custos e economia ao máximo que deixava uma sensação ruim no ouvinte. "Hey Little Girl" é outro popzinho bem descartável dessa trilha sonora. Letra bobinha e ritmo clichê! Quem diria que o Rei do Rock gravaria algo assim?
Golden Coins (Baum - Giant - Kaye) - As baladas salvam essa trilha sonora da mediocridade total. "Golden Coins" é uma delas. No filme infelizmente ela surge em outro momento sem noção. Elvis a canta dentro de um poço! Enquanto isso a atrizinha vai fazendo caras e bocas românticas. Momento mais trash de todo o filme!
So Close, Yet So Far (From Paradise) (Joy Byers) - Outra baladinha muito boa, na verdade a melhor do disco em minha opinião. Para quem não se lembra do filme Elvis a canta da janela de uma prisão. Enquanto isso os demais prisioneiros da masmorra fitam o horizonte pensativos! Bom, não é para menos que "Harum Scarum" é considerado o pior filme da carreira de Elvis no cinema! Mesmo assim a música é tão boa que consegue sobreviver a mais esse momento ruim do cantor em cena.
Animal Instinct (Baum - Giant - Kaye) - Mais uma do trio calafrio. É um pop que até tem uma boa pegada, chegou até mesmo a virar mix na época em que isso havia virado uma modinha com as músicas de Elvis. Um fato digno de nota é que Elvis chega até mesmo a nos relembrar de seus bons momentos do passado quando era um artista relevante. Para dar saudades do roqueiro Elvis dos anos 50.
Wisdom of the Ages (Baum - Giant - Kaye) - A canção que encerro o disco. "Harum Scarum" conseguiu a duras penas ficar em oitavo lugar entre os mais vendidos da Billboard. O detalhe importante é que seria a última trilha sonora de Elvis Presley a se classificar no Top 10. Depois disso Elvis iria amargar cinco anos de péssimas colocações de suas canções de filmes em Hollywood, um claro sinal que o público definitivamente havia se cansado de tanto material medíocre e sem expressão. O fracasso comercial começava a bater as portas de seus discos e de sua carreira.
Harum Scarum (1965) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Rufus Long (flauta) / Ralph Strobel (oboé) / Scotty Moore, Grady Martin, Charlie McCoy (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Henry Strzelecki (baixo) / D. J. Fontana, Kenny Buttrey (bateria) / Hoyt Hawkins (tamborins) / Gene Nelson (congas) / Fred Karger, Gene Nelson (direção musical) / Data de gravação: 24 a 26 de fevereiro de 1965 / Melhor posição na Billboard: #8 (EUA) #12 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Elvis For Everyone (1965)
Nessa verdadeira "colcha de retalhos" musical valeu de tudo, misturar música country dos anos 50 com restos de trilhas sonoras de Hollywood, mesclar com algumas gravações avulsas deixadas por Elvis em 1963 e mais uma ou outra canção para fazer volume. O resultado de toda essa mistura é apenas regular, não chegando a ser ruim. Na verdade foi uma espécie de alívio para os fãs do cantor Elvis Presley (em momento quase desligado do ator Elvis Presley). A capa coloca Elvis como um típico comerciante do sul em sua loja de secos e molhados, colocando suas canções à venda pelo melhor preço, com direção de arte até bonita e bem bolada. E por mais interessante que aquela capa pudesse soar era justamente isso mesmo que estava acontecendo. Elvis tentando achar um pouco de variação em sua desgastada imagem na época, voltando ao mercado musical para tentar alcançar algum êxito comercial. Dito isso vamos tecer alguns comentários sobre as primeiras canções do disco (as que fizeram parte do Lado A do antigo vinil):
Your Cheatin Heart (Hank Williams) - Esse clássico de Hank Williams foi gravado por Elvis antes dele seguir para a Alemanha. O produtor não gostou do resultado, achou que o registro ficou com pouca qualidade sonora (o que é verdade) e por isso a canção foi arquivada pela RCA. Além disso foi um country deslocado das demais músicas daquela maratona de gravação - a última grande sessão roqueira da carreira de Elvis segundo muitos especialistas. Só lembraram dela mesmo muitos anos depois, justamente nesse "Elvis For Everyone" e o curioso é que ela continuou deslocada aqui, pois não consegue fazer par com nenhuma outra música desse álbum.
Finders Keepers, Losers Weepers (Dory Jone / Ollie Jones) - Gosto bastante dessa faixa, não por ser muito relevante dentro da discografia de Elvis mas sim por puxar para um ritmo bem gostoso de se ouvir. É um popzinho muito simpático e bem executado no final das contas. A letra usa uma expressão muito popular nos Estados Unidos, "Finders Keepers, Losers Weepers" que poderia ser substituído pelo nosso velho e conhecido ditado "Achado Não é Roubado". Elvis em grande forma em uma faixa menor, mas não ruim de sua discografia.
In My Way (F. Wise / B. Weisman) - É curioso que em um disco que foi lançado para atender aos pedidos dos fãs para darem um tempo em tantas trilhas sonoras tenha usado justamente de faixas de filmes para tapar os buracos. De certo modo não houve outro jeito para a RCA Victor. Isso mostra como a carreira musical de Elvis estava voltada completamente para as canções Made in Hollywood. Essa "In My Way" fez parte da trilha do filme "Coração Rebelde" (Wild In The Country) e como as demais músicas dessa trilha temos um arranjo bem básico, praticamente voz e violão. A letra só tem dois estrofes e é bem derivativa, uma singela declaração de amor. A performance de Elvis é boa de maneira em geral, mas não consegue sair muito do que era produzido na média daquela época. Não vá confundir com "My Way", essa sim uma música inesquecível e maravilhosa.
Tomorrow Night (S. Coslow / W. Gross) - Para os fãs da época essa faixa era o grande atrativo do álbum, afinal de contas era uma antiga gravação de Elvis ainda ao lado dos Blue Moon Boys! E era inédita! O problema é que o produtor Chet Atkins achou a versão original muito crua e por isso resolveu reconstruir a faixa em estúdio. Formou uma banda de apoio e refizeram toda a parte dos arranjos. Atkins era um mestre e seu trabalho ficou bonito só que o fã de Elvis estava mais interessado em ouvir a faixa tal como havia sido gravado na Sun Records e por isso houve um certo desapontamento de quem comprou o disco. Essa "Tomorrow Night" recauchutada porém ficou muito boa e merece ser conhecida (claro, sem deixar de lado a versão "raw" da Sun Records).
Memphis, Tennessee (Chuck Berry) - Muita gente boa não gosta dessa versão de Elvis Presley para esse clássico de Chuck Berry. Eu porém penso diferente. Acho uma bela gravação, com arranjos que inclusive poderiam ser classificados de bem modernos. Claro que o principal motivo que levou Elvis a gravar a música foi a homenagem que Berry fez para sua querida Memphis. Essa obviamente não passaria em branco para Presley, ele certamente a gravaria mais cedo ou mais tarde. E como acontecia com praticamente todas as composições de Chuck Berry essa aqui também tem uma narrativa praticamente cinematográfica em sua letra. Um belo momento que mostrava que o talento de Elvis ainda estava lá, intacto. O que faltava mesmo era bom material para ele gravar, uma pena.
Summer Kisses, Winters Tears (Wise / Weisman / Loyd) - Reprise que já havia sido lançada antes em um EP com parte da trilha sonora do faroeste "Estrela de Fogo". Essa música nunca me agradou, acho sua estrutura pouco atraente, além de não simpatizar com o refrão. A letra também não me agrada já que soa pueril demais para um filme com roteiro tão forte e relevante. Elvis está no controle remoto. Para falar a verdade ele nem queria gravar músicas para esse filme. Talvez sua má vontade tenha se refletido aqui de forma indireta. Enfim, poderia ter sido dispensada sem maiores problemas, talvez a RCA a tenha incluído apenas para ocupar espaço no vinil e nada mais. Uma lástima.
Forget Me Never (F. Wise / B. Weisman) - Outra canção do filme "Coração Rebelde". As músicas desse filme, como já salientei, possuem arranjos bem simples, na maioria das vezes puro violão e voz. A simplicidade das gravações são também acompanhadas pelas letras bem derivativas e sem novidades. Embora o material seja pouco marcante a voz de Elvis está bonita, capturando ele em um bom momento na carreira. De qualquer maneira a trilha sonora foi logo esquecida acompanhando o pouco sucesso do filme. Para quem curte baladinhas pode até ser uma boa pedida.
Sound Advice (Giant / Baum / Kaye) - Acho simpática, apesar de muitos considerarem a letra bem estúpida. Aqui o que vale é a marchinha alegre e alto astral, acima de tudo. Concordo que a letra não é nenhuma maravilha, aliás muito pelo contrário, mas é aquele tipo de música que pede por uma certa cumplicidade do ouvinte. Sua inclusão nesse álbum porém não agradou, uma vez que os fãs queriam ouvir canções normais de estúdio e não faixas de trilhas sonoras e como "Sound Advice" vinha diretamente da trilha sonora de "Follow That Dream" certamente não era bem-vinda nessa seleção musical. Outra que poderia ser dispensada, apesar de sua inegável simpatia e alegria.
Santa Lucia (Elvis Presley) - Embora creditada a Elvis no disco essa canção é uma tradicional melodia italiana, de teor religioso (na versão original). Ela fez parte da trilha sonora do filme "Viva Las Vegas" mas na época de lançamento do musical ficou bem ofuscada, sendo usada timidamente em cena. No mercado fonográfico foi ainda pior, passando completamente despercebida e em branco. Elvis mais uma vez aproveita para exercitar seus dotes de Mario Lanza. Sua vocalização é forte, poderosa e chega a lembrar de outros hits italianos de sua discografia como "It´s Now Or Never", mas no geral não marca muito. Também pudera, a faixa é curtinha demais para marcar maior presença.
I Meet Her Today (Don Robertson / H. Blair) - Das baladas do álbum considero essa a mais bonita. Ótima melodia, com letra inspirada e Elvis em grande momento. Essa música foi gravada na mesma sessão de "For The Milionth and The Last Time" e tal como a outra também estava completamente esquecida, arquivada há quatro anos em Nova Iorque. Como se vê há um bom tempo pegava poeira nos estúdios da RCA. Poderia ter feito parte de um single com sua irmã, mas a RCA mais uma vez errou, a usando como tapa buraco nesse disco sem maiores atrativos. Uma pena, a faixa é muito boa de fato. Se passou despercebida para você também, dê uma segunda chance.
When It Rains, It Really Pours (W.R. Emerson) - Um blues de estirpe que havia sido gravado por Elvis nos anos 50. Essa é dos tempos da Sun Records, afinal Elvis estava sempre tentando gravar um take que atendesse seus exigentes padrões musicais. É o tipo de gravação que fez Elvis Presley se tornar quem ele foi. Pena que registros assim andavam longe dos últimos discos do cantor nos anos 60, com suas trilhas sonoras recheadas de tolices. "When It Rains, It Really Pours" porém mostrava que ninguém poderia subestimar Elvis, pois era um cantor realmente especial que conseguia se sair bem em praticamente todos os ritmos americanos. A lamentar apenas o pouco número de canções de blues que cantou ao longo da carreira.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2005
Elvis Presley - Roustabout (1964)
Elvis Presley - Kissin' Cousins (1964)
Mas você é fã e torce para que essa trilha seja competitiva e se torne uma reação do grande Elvis contra a invasão Beatles mas... quando chega em casa e coloca a agulha no vinil vem a decepção! O material é uma droga! Elvis cantando sobre caipiras, dedões do pé descalços e gente que come gambá no jantar! É demais da conta não é mesmo? E no dia seguinte chega o jornal com a opinião dos críticos sobre o disco: um festival de chacotas e piadas com o material que o (ex) Rei do Rock lançava no mercado. Não deve ter sido fácil ser fã de Elvis Presley nos anos 60 em pleno auge da Beatlemania. As fãs dos Beatles inclusive levantavam cartazes dizendo: "Viva os Beatles! Elvis já morreu!". Bom, não há como negar que artisticamente ele realmente estava mortinho da silva por essa época.
Olhando para trás, mesmo sendo a trilha sonora de um filme medíocre do ponto de vista cinematográfico, "Kissin' Cousins" poderia trazer um material de qualidade. Pense bem, se o tema do filme era sobre caipiras porque não encaixar canções country de qualidade? Afinal de contas de country obviamente Elvis entendia e muito! Mas canções de qualidade custavam caro e os produtores de "Kissin' Cousins" já tinham decretado que todos os custos deveriam ser cortados ao máximo possível. Quer entender a situação melhor? O filme e a trilha juntos custaram menos de 800 mil dólares para serem produzidos. O filme anterior de Elvis, "Roustabout" na Paramount, tinha custado mais de três milhões de dólares. Os produtores do filme tinham plena consciência que os fãs de Elvis iriam comprar o disco e depois veriam o filme, mesmo que fossem verdadeiras porcarias baratas. Afinal o que importava era o lucro fácil.
Quase toda a trilha sonora foi composta pelo trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. Nem os culpo muito. A coisa funcionava mais ou menos assim. O roteirista percebia que havia uma cena em que Elvis e sua tropa subiriam a montanha para encontrar a caipirada. Então sentia que uma canção poderia ser encaixada lá. Ligava para o trio em Nova Iorque, dizia como era a cena e eles tinham que se virar para compor uma nova canção praticamente da noite para o dia. Pode uma coisa dessas ter realmente qualidade? No geral o material todo é bem fraco mas os anos passados me fizeram ter uma opinião um pouco melhor do que ouvimos. As canções, é óbvio, continuam bem bobinhas e derivativas mas se você conseguir esquecer que ali está um dos maiores talentos musicais de todos os tempos poderá até mesmo se divertir pelo menos.
Como acontecia com praticamente todas as suas trilhas sonoras aqui também não existe o bravo rock ´n´ roll. São canções pop açucaradas bem ao gosto de Hollywood dos 60´s. As letras chegam a ser preconceituosas contra caipiras em geral. Pense, ao invés de trazer música caipira de qualidade (o que seria bem-vindo) o que acabamos ouvindo é música fake californiana satirizando sulistas em geral. É como se cariocas fizessem músicas de forró satirizando os nordestinos! Sente o drama? A questão porém é que a trilha sonora de "Kissin' Cousins" é tão estupidamente burra e idiota que no final das contas você acaba se divertindo com o resultado. As letras em geral são horríveis mas elas são as responsáveis pelos momentos realmente divertidos do disco.
"Barefoot Ballad", por exemplo, é um clássico da ruindade dentro da discografia de Elvis Presley. Ela chegou a ser gravada até por Raul Seixas, que sendo um grande gozador e fã de Elvis, resolveu tirar uma onda. "Once Is Enough" ficou infame por causa da cena do filme em que um casal tropeça, cai no chão e a cena continua. O exemplo máximo da pobreza artística do filme que foi rodado em menos de duas semanas, tudo em take único, para economizar grana na produção. Elvis percebeu a picaretagem e dizem ficou de cara feia nos bastidores durante toda a filmagem. Ele deveria era dar dado no pé de uma coisa dessas. Mas nada presta? Bom, tem alguns momentos que valem um pouquinho a pena. Gosto das baladas "Tender Feeling" e "Echoes of Love" (embora essa última seja uma bonus song). O mesmo vale para a boa "(It's a) Long Lonely Highway" que seria usada mais uma vez em outro filme trash de Elvis.
As duas versões de "Kissin' Cousins" possuem melodias até bonitinhas mas como sempre as letras são bobas demais para ganharem qualquer tipo de elogio. "Catchin' On Fast" não é tão ruim mas os assovios de "Smokey Mountain Boy" são puras banalidades. "One Boy, Two Little Girls" tem até uma boa vocalização de Elvis mas no geral é outra bobagem pop sem qualidade. Ao final da audição você realmente se chateia pelo fato de Elvis ter sido colocado para cantar canções tão sem expressão. O incrível é que seu talento e sua fama ainda fizeram um feito e tanto colocando o disco na oitava posição entre os mais vendidos - mas bem longe dos números dos Beatles que reinavam absolutos e nem viam sinais de Elvis pelo retrovisor nos primeiros lugares que ocupavam. Afinal ele era Elvis mas não era mágico, como alçar aquele tipo de coisa ao topo? Aquelas músicas fraquinhas tinham um limite e Elvis as levou ao máximo do que se podia fazer com elas.
Elvis Presley - Kissin' Cousins (1964)
Kissin' Cousins (Number 2)
Smokey Mountain Boy
There's Gold in the Mountains
One Boy, Two Little Girls
Catchin' On Fast
Tender Feeling
Anyone (Could Fall in Love with You)
Barefoot Ballad
Once Is Enough
Kissin' Cousins
Echoes of Love
(It's a) Long Lonely Highway
Pablo Aluísio.
domingo, 9 de janeiro de 2005
Elvis Presley - Blue Hawaii (1961)
O interessante é que pelo menos três canções o agradaram dentro daquele repertório (com excesso de músicas, para alguns). Ele particularmente apreciava a linda canção romântica "Can't Help Falling in Love", tanto que passou a usá-la para encerrar seus shows na década de 70. Ele parecia curtir também "Hawaiian Wedding Song", que inclusive chegou a cantar para Priscilla em sua lua de mel, como ela mesma confessou em sua biografia. Por fim Elvis parecia ter apreço igualmente pela italiana "No More". Por outro lado achava uma verdadeira palhaçada faixas como "Ito Eats", que só funcionava no contexto do filme e ficava péssima ao se ouvir no disco ou então de "Rock-a-hula Baby", que chegou a ser usada em single, mas que nunca convenceu ninguém. Uma música fraca. O sucesso absurdo tanto do filme como de sua trilha sonora fizeram com que Elvis se retraísse em suas opiniões pessoais. Ele ficou calado. Chegou a ponto de dizer numa entrevista que não deveria se mexer em um sucesso desses. Se as pessoas gostavam, então era isso mesmo, era o caminho. Esse pensamento o fez ficar em Hollywood por dez anos, gravando trilhas para filmes.
Vamos tecer algumas considerações sobre as músicas da trilha sonora desse filme "Feitiço Havaiano". A primeira música gravada por Elvis para esse disco foi "Hawaiian Sunset". Considero uma das boas músicas românticas do álbum, embora a RCA tenha colocado ela no final do Lado B do vinil original, mostrando que a gravadora não colocava muita fé em seu sucesso. De qualquer maneira é um bom momento, valorizado ainda mais pelo coro dos Jordanaires, cantando junto a Elvis - cuja voz foi colocado bem à frente, em destaque, como queria o Coronel Parker. Depois dela Elvis gravou a também romântica "Ku-u-i-po". Se formos comparar as duas músicas a melodia dessa é bem mais bonita. Tem um belo arranjo de violão solando ao fundo, além, é claro do Steel Guitar que permeia por praticamente todas as faixas do disco. Quem estava tocando esse som peculiar foi o especialista Alvino Rey, trabalhando pela primeira vez ao lado de Elvis em estúdio, até porque esse tipo de sonoridade era novidade nos discos do cantor. Tudo arranjado para que o ouvinte se sentisse no próprio Havaí, curtindo uma de suas maravilhosas praias ao sol.
E então, depois de gravar as duas havaianas faixas já citadas, Elvis se preparou para fazer uma boa gravação de "No More" que não fazia parte da cultura musical do Havaí, mas sim da doce Itália. Elvis, é bom lembrar, era admirador da música italiana, tanto que de tempos em tempos fazia suas próprias versões da musicalidade tão forte da rica cultura daquele país. E ele se saiu muito bem, em apenas 9 takes a faixa estava pronta, mostrando que Elvis a conhecia muito bem. Estava na ponta da língua, afiada para gravar rapidamente. Elvis em mais um momento Mario Lanza de sua discografia. E para encerrar os trabalhos naquele dia 21 de março Elvis fechou a noite gravando a versão definitiva de "Slicin' Sand". O take escolhido pelo produtor Joseph Lilley para ser a versão oficial do disco foi o de número 4. Boa escolha. É uma boa faixa do LP, mas não vá chamar isso de rock. Não é! É uma pop music que tem seus pontos positivos, embora no geral fique na média do resto da trilha sonora. Destaque para o bom solo de guitarra de Hank Garland.
A música tema do filme, "Blue Hawaii", tem um arranjo estranho em seu começo. Particularmente nunca gostei de seu início, parece algo sem ritmo, se arrastando. Depois melhora e vira uma balada agradável. Elvis não foi o primeiro a gravar essa música. Existe inclusive uma versão mais antiga gravada por Frank Sinatra, com menos efeitos típicos da música havaiana. Inclusive sempre fiquei surpreso por poucos conhecerem essa versão antiga do Sinatra. A música, pelo visto, não fez qualquer sucesso em sua voz. "Ito Eats" é a música mais fraca da trilha sonora. Nada é tão ruim como essa faixa. Eu poderia inclusive dizer, sem medo de ser injusto, de que essa canção é uma verdadeira porcaria. E no filme fica ainda pior quando mostra o tal do Ito, um sujeito gordinho que come sem parar. Penso que essa deveria ter sido descartada da trilha. Deixassem apenas no filme, como um número curto. Também não ficaria nada mal se o diretor tivesse jogado fora essa sequência que até tenta ser divertida, mas é sem graça demais.
"Hawaiian Wedding Song" é a música havaiano de casamento. A própria Priscilla Presley confidenciou que Elvis cantou um trechinho dessa música quando a levou para o quarto, na Lua de Mel do casal em Las Vegas. Uma palhinha apenas. A versão de estúdio ficou muito boa. A cena final do filme é com ela, com Elvis todo vestido de branco. Uma bela cena do filme, ficou bem bonita, sem dúvida. Em termos de palco Elvis chegou a cantá-la algumas vezes ao vivo nos anos 70. Uma versão Live inclusive chegou a ser lançada pela RCA em sua discografia oficial, no álbum póstumo "Elvis in Concert". "Island of Love" também é uma bonita música, mas bem mais fraca que a anterior. Tem um parte puramente instrumental que ficou bem legal. Ainda assim é bem esquecível também. No vinil original de 1961 ela foi colocada como penúltima música, lá no finalzinho do Lado B. Os ouvintes meio que deram de ombros, não se importando muito com essa "Ilha do Amor". No final das contas fica na média das demais baladas. É agradável de ouvir, apenas isso.
A música "Steppin' Out of Line" foi gravada para a trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano" mas acabou ficando fora do disco! O que aconteceu? Até hoje não há uma resposta sobre isso. A faixa foi bem gravada, era uma boa música, muito boa por sinal, mas ficou mesmo fora da trilha sonora. Alguns dizem que foi por pura falta de espaço, já que havia músicas demais para colocar no álbum. Se foi isso por que não tiraram músicas mais fracas? Eis a questão. De qualquer maneira ela não ficaria fora da discografia de Elvis, surgindo algum tempo depois no disco "Pot Luck". Por outro lado "Almost Always True ' é uma das boas canções da trilha. No disco original em vinil era segunda música do lado A, logo depois da música título do filme. Uma boa faixa, com ótima participação do saxofonista Homer "Boots" Randolph que costumava melhorar muito as músicas de Elvis nos anos 60 com seus solos instrumentais. Não chega a ser um rock, mas sim uma música pop das mais agradáveis de se ouvir. E não tem aquele monte de Steel Guitar e nem de Ukulele que aparecem nos arranjos das outras músicas desse álbum.
Podem dizer o que quiserem, mas eu pessoalmente gosto muito de "Moonlight Swim". O que mais curto nessa canção é seu arranjo, principalmente vocal, que nos remete a músicas bem mais antigas, inclusive da década de 1920. Aliás esse tipo de acompanhamento vocal feminino deveria ter sido mais presente nos discos de Elvis dos anos 60. Aqui destaco o excelente trabalho das cantoras. Ficou muito bom! "Aloha Oe" é até bonita, contando inclusive com uma introdução remetendo aos antigos cantos tradicionais havaianos. Entretanto depois de ouvir tantas músicas com guitarras havaianas tudo fica meio cansativo. Melhor é esperar a longa introdução terminar para ouvir a bela voz de Elvis quase cantando em estilo tradicional. É uma faixa pequenina. Funciona melhor em cena. No disco, ouvindo, não acrescenta muito.
Bom, não precisa saber muito sobre Elvis Presley e seus discos para entender que "Can't Help Falling in Love" foi o maior sucesso da trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". Aqui temos realmente um grande hit e uma das faixas que sobreviveram até mesmo ao sucesso do filme. Afinal "Blue Hawaii" como cinema passou, mas essa balada romântica ficou, entrou definitivamente no repertório atemporal da música internacional. O interessante é que a gravação ficou realmente genial. Elvis gravou três versões diferentes, uma para ser usada em cena, no filme, outra para compor o disco oficial da trilha e uma menor, a ser usada no material de promoção nas rádios. O curioso é que as fãs da época pensavam que a faixa (que havia chegado a elas em single antes do lançamento do filme nos cinemas) iria embalar alguma cena bem romântica no filme, mas isso não aconteceu. Elvis a canta para uma senhora. Pois bem, como a música virou um hino praticamente, Elvis a resgatou em 1969 para ser usada em seus shows em Las Vegas. Nunca mais deixou de cantá-la, sendo usada como a música de despedida de praticamente todos os concertos que realizaria até o final de sua vida.
"Beach Boy Blues" já não era tão especial. Na realidade até considero uma faixa que tinha muito potencial, mas que de certa forma foi estragada por aquelas produções plastificadas de Hollywood. É incrível como os estúdios de cinema muitas vezes estragavam os ritmos musicais mais tradicionais. Ao invés de gravar um blues de grande qualidade, os escritores apareciam com meras imitações para o gosto do público médio dos Estados Unidos. Esse é um caso bem representativo disso. A cena do filme, com Elvis em cana, também não acrescenta muito. Acho a canção fraca. E fraca também pode ser considerada a última canção que Elvis gravou para esse disco. Estou me referindo a "Rock-a-hula Baby". Ei, misturar Havaí, ou sua sonoridade, com o Rock bravio, dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, realmente não parecia uma boa ideia. E não era mesmo! Foi escolhida para ser o lado B do single ""Can't Help Falling in Love". Por essa razão até ficou bem conhecida na época, afinal o compacto vendeu milhares de cópias. Só que tudo isso foi de certa forma em vão. A música era bem fraca mesmo e não resistia a ouvidos mais atentos. Depois de algumas audições logo se tornava bem enjoativa.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Something For Everybody (1961)
Ótimo momento da discografia de Elvis Presley nos anos 60. Este disco quando foi lançado em maio de 1961 alcançou rapidamente o primeiro lugar da parada musical da Revista Billboard ocupando esta posição durante três semanas consecutivas, tirando Frank Sinatra do topo da parada. "Something For Everybody" foi gravado em apenas duas sessões de gravação em Nashville! Elvis entrou nos estúdios às 10 da noite do dia 12 de março e finalizou tudo um dia depois. Em pouco mais de algumas horas de gravação o cantor já havia terminado sua parte deixando todas as músicas prontas para a RCA. Neste caso a pressa não foi inimiga da perfeição, pois este fato demonstra o alto poder de trabalho de Elvis e também o qualifica como o mais rápido "hitmaker" da história. O que aconteceu realmente era que a banda já estava devidamente ensaiada ao entrar em estúdio, então foi apenas uma questão de se chegar ao take adequado. No mesmo mês que este disco foi lançado o single "I Feel So Bad / Wild in the Country" chegava ao quinto lugar na parada americana e ao primeiro na parada britânica. O lado B deste single promovia o lançamento de mais um filme de Elvis "Wild in the Country" (coração rebelde, 1961). Este filme marca a tentativa de Elvis em estrelar filmes de maior qualidade com roteiros melhores e papéis dramáticos, porém seu objetivo não foi alcançado pois seus maiores sucessos cinematográficos iriam ser as comédias musicais românticas como "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961). De qualquer forma a música "I Sleeped, I Stumbled, I Feel" foi incluída no disco para promover o lançamento do filme. O álbum também se destaca por ser um dos poucos gravados em estúdio sem qualquer relação com trilhas sonoras. Como se sabe por essa época Elvis estava decidido em se tornar um grande ator, então até mesmo sua carreira musical seria deixada um pouco de lado. Os discos a partir de então passariam a ser meros veículos para os filmes de Elvis, algo que com o tempo se mostraria saturado, tanto em termos artísticos como comerciais. Agora vamos analisar faixa por faixa as gravações de "Something For Everybody (LSP 2370):
There´s Always Me (Don Robertson) - Maravilhosa canção romântica escrita pelo ótimo compositor Don Robertson. Robertson inclusive compareceu ao estúdio de gravação e trocou algumas ideias com Elvis. Depois se tornou amigo do cantor, a ponto inclusive de visitar várias vezes sua casa na Perugia Way em Bel Air. É sem sombra de dúvida uma das mais belas músicas interpretadas pelo Rei do Rock, que nos presenteia com um momento mágico. Além de contar com a voz de Elvis em um de seus melhores momentos, esta traz ainda a participação muito especial da vocalista Millie Kirkham. Simplesmente ouça e se emocione.
Give Me The Right (Wise / Blagman) - Outra boa gravação original de Elvis. Por essa época o compositor Fred Wise compôs vários temas para o cantor, tanto para seus (poucos) discos de estúdio como também para suas (muitas) trilhas sonoras de filmes. As músicas eram geralmente pedidas por telefone para Wise que morava em Nova Iorque e sempre mantinha um time de compositores auxiliares para as rápidas composições encomendadas. Outro fato que chama atenção aqui é o fato do disco trazer uma curiosidade em relação a outros trabalhos de Elvis: um dos lados do antigo LP era composto exclusivamente com baladas românticas e o outro com músicas mais agitadas. Esta canção é um exemplo do primeiro tipo com ótimo acompanhamento dos músicos do cantor. Durante as sessões Elvis e seu produtor resolveram acrescentar novos instrumentos na música para melhorá-la.
It´s a Sin (Rose / Turner) - Primeiro cover de Elvis Presley no disco. Essa é uma velha canção gravada pelo famoso cantor Eddy Arnold em 1947. Na ocasião de seu lançamento a canção se destacou nas paradas Country & Western dos EUA. Embora creditada a dois compositores a música foi composta realmente apenas pelo guitarrista Zeb Turner que cedeu a metade dos direitos ao editor musical Fred Rose, um fato bastante comum na época. Depois que virou sucesso na década de 1940 a canção foi sendo sucessivamente regravada ao longo dos anos. As versões de maiores destaques vieram nas vozes de Bill Haley & His Comets (1957), Don Gibson (1962), George Jones (1965), Dottie West (1969), Del Wood (1980) e Willie Nelson (1995). Essa versão de Elvis, datada de 1961, mantém o alto padrão do cantor por essa época. Sua voz suave e muito melódica está perfeita para a proposta da composição, aqui em versão bem mais romântica e sofisticada.
Sentimental Me (Cassin / Moreheread) - Outro cover de Elvis para uma canção antiga, também da década de 1940. A música estourou na versão do grupo The Ames Brothers. Na Europa ela ganhou uma interpretação linda e muito inspirada de Jackie Brown and his Quartet. As duas entraram nas paradas logo no começo de 1950. A versão de Elvis segue a tendência desse disco, ou seja, voz suave e terna, adicionando muito romantismo à sua interpretação. Sua versão mais recente é a de 2005 quando o cantor country David Slater a regravou para seu album "Nice And Easy".
Starting Today (Don Robertson) - Outra canção muito inspirada do compositor e pianista Don Robertson. Canção leve, com belo arranjo que se encaixava perfeitamente no lado mais romântico deste disco. Essa composição faz parte das quatorze músicas que o autor fez especialmente para Elvis. Isso era algo bem interessante para Presley pois o estilo mais sofisticado de compor de Robertson vinha bem de encontro com o que ele andava procurando para gravar. Faixas suaves, românticas, onde ele pudesse praticamente sussurrar as letras. Além disso o arranjo de piano criava um lindo fundo instrumental para sua voz. Enfim, temos aqui um dos pontos altos do álbum.
Gently (Wizeth / Lisbona) - Mais uma versão original do disco. Canção romântica bem ao estilo acústico, o que de certa forma difere bastante das demais músicas de "Something For Everybody". Sem dúvida é um belo momento seu em estúdio. Fez parte também da última coletânea da discografia do cantor em vida, "Welcome to my World". Uma de suas características mais marcantes é seu arranjo em lindo dedilhado, criando um clima intimista, voz e violão muito agradável. Essa faixa encerrava o Lado A do antigo LP em vinil.
I´m Coming Home (Charlie Rich) - Canção que abria o Lado B do disco original. Aqui começa uma seleção de músicas mais animadas, agitadas. Essa faixa é aquele tipo de gravação que deixa uma certa frustração no fã de Elvis porque apesar de toda a sua ótima qualidade (de vocais, arranjos e execução) nunca foi destacada ou teve grande reconhecimento. A música foi composta pelo grande músico e compositor Charlie Rich (1932 - 1995). Rich se destacou em seus muitos anos de carreira como um dos mais talentosos nomes dos meios musicais em Nashville e Nova Iorque. A country music porém era apenas uma de suas facetas musicais pois ele também se destacou compondo vasto repertório nos gêneros rockabilly, jazz, blues e até gospel. Infelizmente como tinha grande renome também era considerado "caro demais" pelo Coronel Tom Parker, o que de certa forma encerrou prematuramente sua parceria ao lado de Elvis.
In Your Arms (Schroeder / Gold) - Outra versão original composta pela dupla Schroeder e Gold que iriam se tornar figuras constantes e assíduas nos discos de Elvis dessa época, inclusive nas trilhas sonoras onde escreveriam vários temas para o cantor. Aqui se nota a importância do conjunto vocal The Jordanaires no som de Elvis. Esta bela música conta com o acompanhamento impecável deste grupo. Aliás um fato curioso: o Jordanaires era o único grupo creditado nos discos de Elvis o que levava muitas pessoas a pensarem de forma equivocada que eles eram na verdade um grupo musical com guitarra, baixo, bateria, etc. O que não sabiam era que os Jordanaires nada mais eram do que um quarteto vocal, tipicamente de gravações gospel que Elvis levou para a RCA por admirar seu trabalho. Scotty Moore e banda não eram creditados nas antigas capas dos álbuns de Elvis, o que convenhamos foi uma grande injustiça cometida por muitos anos contra esses talentosos músicos.
Put Blame On Me (Wise / Twoney / Blagman) - Tem o mesmo título de uma música antiga cantada no cinema pela diva Rita Hayworth. Porém se trata de uma outra composição. Gravação original que anos depois, em 1965, seria utilizada como parte da trilha sonora do filme "Tickle-me" (O Cavaleiro Romântico" no Brasil). Este filme dirigido por Norman Taurog, sem sombra de dúvida é um dos piores que Elvis realizou em seus anos de Hollywood, uma vez que não se teve nem ao menos a preocupação de se gravar um trilha sonora própria para a produção. Lamentável. Todas as músicas de sua trilha já tinham sido lançadas antes em outros álbuns do cantor.
Judy (Teddy Redell) - Outro grande momento deste trabalho musical é representado por esta ótima balada de nome tão singelo: "Judy". Este era um truque dos primeiros compositores de Rock'n'Roll: utilizar nomes de pessoas ou cidades para sensibilizar os moradores destes mesmos lugares ou que tivessem o nome destas canções para que elas comprassem o disco! "Judy" foi ainda lado B de um single lançado em 1967, (seis anos depois!?) com "There's Always Me" no lado principal. Single fora de época que não fez qualquer sucesso nas paradas.
I Want You With Me (Woody Harris) - Canção pop de ritmo rápido. Elvis nos anos sessenta procurou sempre melhorar seus arranjos, inclusive incorporando diversos instrumentos novos em sua música o que lhe deu maior consistência musical. Isto iria se acentuar mais tarde quando Elvis trocaria de produtor, saindo Steve Sholes e entrando Chet Atkins. Este último era considerado um dos grandes nomes de Nashville e era conhecido pelo melhoramento e embelezamento que dava às gravações. Chet Atkins morreu em 2001, causando uma grande comoção no mundo artístico dos Estados Unidos.
I Sleeped, I Stumbled, I Feel (Wise / Weisman) - Única canção que faz parte da trilha sonora do filme "Wild in The Country" (Coração Rebelde, 1961) presente no disco. No enredo Elvis a canta enquanto dirige um caminhão ao lado de sua namoradinha. A letra, nada inspirada, soava totalmente fora de tom dentro da proposta do roteiro, pois "Coração Rebelde" se destacava mesmo por seu texto melodramático. Sua inclusão na seleção musical do álbum também acabou criando certa confusão entre os fãs. Na capa do disco vinha a inscrição "Trilha Sonora do filme Coração Rebelde". O problema é que esse texto estava mal colocado e posicionado, dando uma impressão errada ao consumidor. Claro que a indicação se referia apenas à essa música e não às demais. O público porém não entendeu direito e pensou que todo o álbum fazia parte da trilha sonora do filme. Imaginem a surpresa quando o filme começou e outras canções completamente diferentes surgiram na tela, enquanto que não havia o menor sinal das demais músicas desse álbum. A RCA reconheceu o erro e até soltou uma pequena nota pedindo desculpas depois.
Something For Everybody (1961): Elvis Presley (vocais) / Scotty Moore (guitarra) / Hank Garland (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (sax) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Gravado no RCA Studio B, Nashville / Data de Gravação: 12 e 13 de março de 1961 / Data de lançamento: maio de 1961 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #2 (UK).
Pablo Aluísio.
sábado, 8 de janeiro de 2005
Elvis Presley - His Hand in Mine (1960)
Assim Elvis cresceu ouvindo gospel. Fazia parte de sua formação musical e cultural. As faixas de "His Hand in Mine" foram selecionadas pelo próprio Elvis. Ele teve que engolir todas aquelas músicas de "G.I. Blues", sem ter poder de veto sobre elas, recebendo um pacote fechado do estúdio e da gravadora, para apenas colocar sua voz. Porém em se tratando desse álbum ele iria ter controle completo. Iria escolher as músicas, cantando aquilo que realmente desejasse cantar. Era um material que ele acreditava. Eu considero um belo trabalho da carreira de Elvis. Curiosamente não gosto muito da faixa título "His Hand in Mine" que tem uma introdução muito estranha, embora melhore muito depois, em sua melodia bonita. Essa é uma antiga canção religiosa, que apenas pessoas como Elvis conheciam. Sim, ele tinha um vasto conhecimento de gospel music. E também era um colecionador de discos religiosos desde muito jovem. Ao longo dos anos Elvis estava sempre comprando discos desse gênero musical. Também adorava assistir programas religiosos nas manhãs de domingo. Esse era um lado de Elvis que realmente poucos conheciam na época.
Elvis gravou esse álbum no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor escolhido pela gravadora para essas sessões foi o bom e velho Steve Sholes. O escolhido para ser o engenheiro de som foi Bill Porter. Esse disco mostrou bem como Elvis era "rápido no gatilho". Em praticamente apenas dois dias (30 e 31 de outubro de 1960) ele finalizou sua participação no álbum. Gravou todas as doze faixas previstas. Sem perda de tempo e dinheiro. Contribuiu para isso o fato de que Elvis conhecia a maioria das músicas desde a adolescência. Então foi apenas questão de acertar o take certo. A primeira música gravada foi "Milky White Way", que não por acaso também era uma das melhores canções do álbum. Aqui Elvis caprichou mesmo naquele estilo de voz de veludo que seria a característica mais lembrada dessa fase de sua carreira, ali no comecinho dos anos 60. Elvis adotou um estilo de cantar mais suave, mais terno, como bem foi definido por um crítico da época. O velho estilo musical mais áspero e rasgante, de seus anos de roqueiro, nos anos 50, pareciam distantes agora.
Depois de gravar a faixa título do disco, Elvis se concentrou em "I Believe in the Man in the Sky". Essa era uma velha conhecida de Elvis. Um gospel tradicional, muito utilizado nos cultos da Assembleia de Deus, que era a igreja frequentada pela família de Elvis quando ele era apenas um garotinho. Foi uma lembrança nostálgica de seus anos de convivência ao lado de sua mãe Gladys, ainda nos tempos duros de Tupelo. Interessante citar também que a RCA Victor iria utilizar esse mesma música em um single, mas somente alguns anos depois. Nessa mesma noite de inspiração nos estúdios da RCA, Elvis ainda emplacou sua versão de "He Knows Just What I Need". Esse gospel deu um pouco mais de trabalho para Elvis e seu grupo de apoio pois foi preciso gravar 10 takes para que Elvis se sentisse finalmente satisfeito. Depois que ela foi gravada Steve Sholes sugeriu que Elvis desse um tempo nas músicas religiosas para que eles gravassem a faixa título de seu novo single, "Surrender". Mais complicada de gravar do que era esperado, Elvis levou 17 takes para finalizá-la. Havia uma parte final que cobrou seu preço na voz de Elvis. Ele precisou se empenhar bastante para que ficasse realmente boa a gravação. Ficou excelente. Essa música iria se tornar um hit em sua carreira.
"Joshua Fit The Battle" foi baseada em um evento narrado no velho testamento quando Josuè (Joshua) derrubou os muros de Jericó durante uma batalha. Essa vitória foi creditada pelos antigos judeus ao seu Deus único. Essa canção tem ótimo ritmo, bem animada, poderia ser considerado até mesmo um bom rockabilly se não fosse sua letra religiosa. Elvis parece bem empolgado com sua vocalização. É uma das faixas que mais aprecio nesse álbum. Pura energia positiva. Outra que se destaca por seu excelente ritmo, bem pra cima, bem agitada, é a canção "Swing Down, Sweet Chariot". Um fato curioso é que essa faixa seria regravada por Elvis em 1969, para fazer parte da trilha sonora do filme "Lindas Encrencas, as Garotas" (The Trouble With Girls). No filme Elvis representava um personagem que gerenciava um daqueles parques itinerantes que viajavam de cidade em cidade com seu show.
Na época chegou-se a dizer que o enredo do filme era baseado na vida do Coronel Tom Parker antes dele encontrar Elvis, para se tornar seu empresário. De qualquer maneira entre as duas versões prefiro muito mais a desse disco do que a trilha sonora, que embora inferior também era muito boa. E a cena no filme também ficou excelente, com Elvis em seu terno branco e chapéu de cowboy, figurino inclusive que usa em praticamente todas as cenas do filme, que também considero bom, até acima da média do que ele vinha fazendo em Hollywood. Outra faixa que merece destaque nesse disco "His Hand in Mine" é "Working On The Building". Tem um excelente arranjo, mais voltado para o acústico. O violão é o grande destaque e muitos dizem que foi tocado pelo próprio Elvis no estúdio. Não seria uma surpresa. Se houve um álbum em que Elvis fez questão de se envolver nesse ano de 1960 foi justamente esse, que inclusive seria o seu último disco do ano a chegar nas lojas. Assim Elvis esperava fechar seu ano de retorno com belas mensagens cristãs. Nesse aspecto ele foi definitivamente bem sucedido em suas pretensões.
O gospel "I'm Gonna Walk Dem Golden Stairs" atualmente é bem associada a Elvis Presley, mas esse hino religioso, ou pelo menos seus primórdios, suas primeiras versões, são bem antigas. Segundo algumas pesquisas os pioneiros já cantavam versões rudimentares dessa música religiosa já por volta de 1750. Esse tipo de gospel vai mudando ao sabor dos tempos, afinal é uma música composta e criada para ser cantada em cultos. Conforme mudam as igrejas, novas versões vão surgindo. "Known Only To Him" é o que os americanos gostam de chamar de spiritual. E o que seria isso? É uma subdivisão da música gospel. Essa denominação de spiritual era usada para canções mais introspectivas, mais centradas em si mesmo, mais reflexivas, algo como se fosse uma oração interior, um diálogo bem pessoal com Deus. Geralmente esse tipo de song era mais lenta, melancólica até. Feita para se ouvir em grandes crises pessoais.
"Mansion Over The Hilltop" apresenta uma melodia bem mais agradável em meu ponto de vista. O arranjo apresenta uma bela combinação entre o violão (que os americanos gostam de chamar de "guitarra acústica") e o piano, aqui dando o tom de todo o gospel, do começo ao fim. Destaque também, como não poderia de ser, ao grupo vocal The Jordanaires. Aqui eles estavam em casa, em seu habitual, pois nasceram como quarteto gospel, desde seu surgimento. Cantar ao lado de Elvis música pop, rock e comercial, havia sido quase um acidente em sua carreira. Um aspecto que acho interessante em um álbum como esse é que não é segredo para ninguém o desejo que Elvis tinha, desde que era apenas um adolescente, em se tornar membro de um quarteto vocal gospel. E ao longo de sua carreira ele pareceu nunca desistir de um dia realizar esse tipo de sonho. Tanto que sempre foi acompanhado em suas gravações por grupos vocais que tinham surgido dentro do universo gospel americano. Não importava o tipo de música que gravava, sempre havia um grupo vocal desse estilo ao seu lado fazendo os vocais de apoio.
Elvis gostava muito dos discos de um pastor batista chamado Thomas Mosie Lister. Tinha em sua coleção particular de discos todos os álbuns e singles desse pregador. Tão admirador do gospel de Mosie Lister se tornou que gravou várias versões de músicas dele, muitas delas presentes nesse seu primeiro LP de músicas religiosas, "His Hand in Mine". Era até engraçado quando Elvis entrava em alguma loja de discos naquela época. Os vendedores pensavam que ele iria comprar discos de rock ou pop, mas Elvis ignorava completamente a seção desses discos. Ele ia direto para a sessão de gospel music. Inclusive passando os olhos sobre a lista de sua discoteca particular vemos que a grande maioria dos discos era de gospel e country, seus dois ritmos musicais preferidos. Quase não havia nada de rock, a não ser alguns discos dos Beatles.
"In My Father's House", que em tradução livre poderia ser traduzido em nossa língua portuguesa como "Na casa de Meu Pai" era mais uma das músicas religiosas preferidas de Elvis. Aqui, como não poderia deixar de ser, se destacava em relevo as vocalizações de seu grupo de apoio, os bons e velhos membros dos Jordanaires, que poucas pessoas sabem hoje em dia, mas que nasceram como quarteto gospel. E por falar em quartetos gospel, Elvis tinha verdadeira adoração por esse tipo de vocalização. Ele inclusive chegou a declarar em entrevistas que não havia nada no mundo da música mais belo de se ouvir do que quatro vozes masculinas, em perfeita harmonia, cantando gospel music. Isso talvez explique a inclusão da faixa "If We Never Meet Again" na seleção musical do álbum. Muito embora a versão de Elvis tenha sido adaptada ao seu estilo. Afinal os fãs queriam ouvir Elvis quando comprava um de seus discos oficiais e não um quarteto gospel ao velho estilo.
Pablo Aluísio.