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quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Na Natureza Selvagem

O excelente filme dirigido por Sean Penn me despertou curiosidade sobre essa história. Assim comprei um exemplar do livro escrito por Jon Krakauer. O roteiro do filme foi devidamente inspirado nessas páginas. No livro o autor procura seguir os passos do jovem Chris McCandless. Nos anos 90, após terminar seu colegial, ele pegou uma mochila, colocou poucas roupas dentro e quase sem dinheiro, ganhou a estrada. Seu sonho era chegar no gelado Alaska de carona, vivendo como poucos, fugindo do mundo que conhecia, para se encontrar dentro da natureza selvagem. Bom, se você viu o filme já sabe que não é uma história com final feliz. O Alaska é uma das regiões mais hostis do mundo, com temperaturas congelantes, ursos famintos e pouca comida para quem tiver a coragem de se aventurar em suas terras selvagens.

O autor assim vai contando a história do "Supertramp". Ele ouviu familiares e pessoas que encontraram com McCandless enquanto ele cruzava os Estados Unidos. Todos, sem exceção, dão sua visão sobre a aventura desse rapaz. O curioso é que todos eles deixam claro que para entrar mesmo em uma viagem como essa, deve-se ter acima de tudo um preparo especial, um treinamento e conhecimento dos desafios que se vai enfrentar. Esse foi o erro fatal de McCandless. Ele viu essa jornada de uma forma muito sonhadora, sem se debruçar sobre os desafios reais que teria que enfrentar. Ao subestimar a força da natureza acabou sendo destruída por ela.

O livro em si me agradou. Há um pequeno deslize de seu autor que em determinado momento esquece que está escrevendo um livro sobre McCandless e passa a falar de si mesmo, de suas viagens, algumas bem parecidas com a do protagonista. Esse aspecto é falho em meu ponto de vista. O leitor está atrás de informações sobre o principal personagem do livro e não seu autor. Porém fora esse tropeço o resto do livro é muito bom, cheio de detalhes e informações preciosas. Quem gostou muito do filme certamente também vai apreciar esse livro. No final de tudo, quando lemos sobre os últimos momentos do jovem idealista, um certo ar de melancolia e tristeza nos abate um pouco. Afinal foi uma vida desperdiçada. Ele era um bom rapaz, só não tinha os instrumentos ideais e a racionalidade exigida para sobreviver a algo assim.

Na Natureza Selvagem
Editora: Companhia das Letras
Autor:  Jon Krakauer

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Sinatra - Anthony Summers

Essa é uma biografia muito boa do cantor Frank Sinatra. Eu já havia gostado de uma biografia escrita pelo mesmo autor, sobre a Marilyn Monroe. Sim, é aquela chamada "A Deusa", um dos melhores trabalhos que já li sobre a atriz. Aqui Summers volta seu foco para Sinatra. Antes de mais nada é um alívio para o escritor o fato de que Sinatra já morreu. Acontece que enquanto era vivo, ele colecionou processos contra escritores que ousassem escrever sua biografia. Mal um livro era anunciado e Frank acionava sua equipe de advogados de Nova Iorque para processar em alguns milhões de dólares os que ultrapassavam essa barreira. Ele costumava dizer que apenas Frank Sinatra poderia escrever um livro sobre Frank Sinatra. Todos os demais escritores sofriam processo por isso.

Pois bem, com Frank morto e enterrado, Summers teve total liberdade para ir atrás de todas as informações. Conversou com amigos próximos do cantor e até parentes. As pessoas foram mais cooperativas, algo que não acontecia enquanto Sinatra estava por aí, ameaçando todo mundo. Assim o escritor pode escrever sobre tudo. Até mesmo sobre as ligações do artista com a máfia italiana. É interessante porque Sinatra costumava partir para cima de qualquer jornalista que escrevesse sobre essas ligações, porém ao mesmo tempo parecia ter orgulho de ser amigo de chefões de Nova Iorque. Ele chegou até mesmo a dirigir uma associação que lutava para melhorar a imagem dos imigrantes italianos nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que frequentava o subterrâneo da Cosa Nostra. Era um sujeito contraditório.

A leitura é agradável e o estilo do escritor é leve, algo que torna o livro bem interessante. Após ler o livro chegamos em algumas conclusões. Uma delas é que Sinatra amou perdidamente a atriz Ava Gardner. De todas as mulheres com quem se relacionou, ele nunca superou o fim de seu casamento com ela. Também descobrimos que de forma em geral ele agia como um cafajeste com as outras garotas com quem saía. Fazia parte da mentalidade da época tratar mal as mulheres, era um machismo aceito pela sociedade. Frank bebia muito e tinha um grupo de fiéis amigos e puxa-sacos que orbitavam ao seu redor. O Rat Pack moldou sua vida pessoal e profissional por muitos anos, até o dia em que Dean Martin se encheu de Sinatra e foi embora para nunca mais retornar.

Frank também parecia mudar bastante suas opiniões. Ele foi membro do Partido democrata por anos, mas no final de sua vida deu uma banana para eles e abraçou o extremo oposto, o Partido republicano. Era frio e briguento com algumas pessoas e um doce para outras. Sinatra podia ter atitudes completamente antagônicas, como ameaçar alguém de morte e no dia seguinte fazer grandes doações para a caridade. Se aposentou algumas vezes, mas sempre retornava aos palcos. No final da vida encontrou alguma estabilidade com Barbara, sua última esposa, mesmo que ela fosse odiada por suas filhas do primeiro casamento com Nancy Sinatra. Foi envelhecendo, perdendo a voz magnífica, mas mesmo assim continuou a cumprir extensas agendas de shows. Enfim, antes de qualquer coisa ele foi um homem de seu tempo, com qualidades e defeitos em ambos os lados da balança. Se você deseja conhecer mais esse grande artista, em seu lado mais pessoal, então a biografia escrita por Summers é de fato uma ótima opção de leitura.

Sinatra
Autor: Anthonny Summers e Robbyn Swan
Editora: Novo Século.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Rock Hudson, História de sua vida

Fim de ano é sempre uma boa oportunidade para colocar a leitura em dia. Nesse período de festas resolvi me dedicar a ler as biografias de dois mitos de Hollywood do passado: Marilyn Monroe e Rock Hudson. Sobre o livro 'A Deusa", que mostra detalhes da vida de Marilyn, ainda tecerei comentários futuramente aqui mesmo no blog. Agora quero falar um pouco sobre a autobiografia de Rock Hudson intitulada "História de sua vida". Em um texto muito bom somos apresentados a uma das trajetórias mais marcantes dos anos dourados do cinema americano. A ascensão e a queda de um dos grandes ídolos do passado são desvendados sem o glamour que tanto conhecemos. Rock desvenda sem pudores os grandes segredos dos estúdios, as intrigas e o star system. Logo no começo do livro o ator deixa bem claro que não devemos acreditar em nada do que nos é repassado pelos grandes estúdios. Tudo não passava de uma grande mentira.

A própria vida de Rock Hudson foi de certa forma construída em cima de uma mentira. Após passar alguns anos na Marinha, Roy Fitzgerald Scherer (seu verdadeiro nome) foi para Hollywood tentar a carreira de ator. Boa pinta, com mais de 1.90 de altura, Roy sabia que poderia encontrar uma boa oportunidade na terra do cinema. Lá começou os primeiros passos rumo ao estrelado. Através de bons contatos profissionais o ator conseguiu ser aceito na "fábrica de atores" da Universal e começou a aparecer numa série de pequenos filmes do estúdio. Era o chamado Star System. As companhias de cinema treinavam, ensinavam como se comportar em eventos sociais e promoviam determinados atores para depois os transformarem em grandes astros. Até mesmo seus nomes eram mudados e transformados, tudo num rígido e bem pensado sistema de promoção à prova de falhas. E foi assim que nasceu "Rock Hudson", um verdadeiro galã americano que em poucos meses já havia se transformado no sonho de todas as mulheres daquele tempo. Rock era considerado o "homem ideal" e o "marido perfeito" e assim foi construído todo o seu mito. Durante mais de uma década foi o ator mais popular de Hollywood, conquistando um sucesso de bilheteria atrás do outro. Era definitivamente a personificação do Sonho Americano. Só havia um pequeno detalhe nessa história de sucesso que era guardado a sete chaves pela Universal: Rock era gay!

A autobiografia de Rock foi escrita quando o ator estava em seu leito de morte, corroído pela AIDS. Com receio de sua história ser distorcida por outros, Rock contratou uma escritora profissional (Sara Davidson) e resolveu contar o seu lado da história. Mesmo debilitado resolveu abrir o jogo sobre a verdade obscura atrás da cortinas douradas de Hollywood. O retrato descrito por ele é demolidor. Rock conta vários segredos de bastidores que deixariam qualquer um de seu fãs dos tempos áureos de queixo caído. Em pouco mais de 400 páginas o ator fala sobre o mecanismo de fabricação de ídolos e revela fatos até então nunca revelados. Entre eles admite que só conseguiu o grande papel de sua carreira, no filme Assim Caminha a Humanidade, após dormir com um dos principais executivos da Universal. O sujeito, casado e pai da família, depois encontraria Rock em um jantar social e sussurraria em seu ouvido que "ainda o amava"!

O homossexualismo de Rock é mostrado sem rodeios. Os vários amantes e companheiros de sua vida são nomeados e descritos sem qualquer problema. Não poderia ser diferente, como Rock morreu antes da conclusão da autobiografia ele pediu aos seus amores do passado que contassem toda a verdade sobre os anos que viveram juntos. Essa parte do livro pode incomodar algumas pessoas pela franqueza. As várias tentativas de encobrir sua vida pessoal também são mostradas em detalhes. Entre elas a maior de todas: o casamento de fachada entre ele e uma secretária de um dos seus agentes. Rock se casou com ela justamente quando os boatos de que era gay ganhavam maior destaque na mídia. Apesar de sempre haver dúvidas Rock conseguiu, a duras penas, manter sua fama de "homem ideal" por várias décadas, tanto que o mundo recebeu com grande surpresa em 1985 a notícia de que estava com AIDS por ser homossexual.

Outro aspecto interessante do livro é mostrar a nítida transição que o cinema sofreu no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Rock descreve a dificuldade de se manter trabalhando nesse período, quando os filmes passaram a retratar uma realidade concreta da vida e não apenas uma realidade idealizada dos grandes filmes do passado. Foi a época em que uma nova geração de atores surgiu, como Al Pacino, Robert De Niro e outros. Astros com cara de gente comum, pessoas do povo, bem distante da imagem de galã impecável do qual Rock era o símbolo maior. Sem trabalho Rock teve que se contentar em fazer TV (que odiava) e Teatro (que amava). Enfim, o livro é um excelente retrato de uma período que marcou a história do cinema. Rock é mostrado não apenas como um grande ator desse tempo mas também como uma pessoa muito humana que tentou sobreviver em Hollywood da melhor maneira que podia. Sua coragem no final de sua vida ao revelar todos os seus segredos diz muito sobre sua personalidade. Com sua morte Rock chamou a atenção da grande mídia para a AIDS, que naquele momento ainda era uma doença relativamente desconhecida do grande público. No final da vida soube utilizar bem o maior segredo de sua vida para algo definitivamente positivo, pois despertou o mundo para os perigos que a nova doença trazia. Seu livro é um testemunho de vida e deve ser conhecido por todos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A Deusa: As Vidas Secretas de Marilyn Monroe

A ótima biografia "A Deusa - As Vidas Secretas de Marilyn Monroe" de autoria de Anthony Summers é uma excelente dica de leitura para esse fim de ano. Temos aqui, em pouco mais de 500 páginas, um ótimo retrato de um dos maiores ícones da história do cinema americano. Marilyn aparece nas páginas desse livro sem retoques, com sua real faceta, mostrando como era uma pessoa atormentada, carente, complexa e confusa. Nascida sem uma estrutura familiar sólida (sua mãe enlouqueceu e foi internada em um asilo e seu pai sumiu) a pequena Norma Jean abriu caminho na vida de uma forma surpreendente, se tornando até hoje no maior símbolo sexual feminino que se tem notícia. Ao longo de capítulos curtos o autor vai revelando os detalhes da vida de Marilyn, fatos esses que foram coletados por inúmeras entrevistas que realizou ao longo de uma extenso período de pesquisa. Ele entrevistou atores, diretores, empregados e ex namorados da atriz para formar um mosaico de sua personalidade.

A Marilyn que emerge de suas páginas é uma mulher cheia de problemas pessoais, afetivos, psicológicos mas ao mesmo tempo dona de um raro talento para surpreender em cena. Embora fosse uma atriz extremamente problemática nos sets de filmagens, Marilyn sempre conseguia se superar em seus filmes, mostrando muita presença e glamour. As histórias de bastidores de seus filmes já valem por si só o valor da compra da biografia. A atriz era a antítese do profissionalismo. Sempre causava algum tipo de confusão durante as produções: nunca chegava no horário certo, brigava com outros atores e atrizes, infernizava a vida dos diretores e levava sempre uma professora de interpretação a tiracolo. Também tinha um pavor patológico de gravar suas cenas, causando atrasos e mais atrasos por causa de sua insegurança fora do normal. Não raro abandonava os estúdios e sumia por dias, sem ninguém saber ao certo seu paradeiro. Apesar disso, como bem recorda o grande ator Lawrence Olivier, quando o filme era finalmente exibido a grande presença na tela sempre era dela, de Marilyn, que roubava as cenas dos demais atores.

A vida pessoal também era bastante conturbada. Marilyn casou oficialmente três vezes, embora haja até hoje a suspeita de que tenha casado uma quarta vez no México, em uma noite de loucuras. Casou-se pela primeira vez aos 16 anos em um casamento arranjado por sua tutora que queria se livrar dela. Depois que o marido foi para a marinha, Marilyn tratou de correr atrás de seu sonho de virar atriz em Hollywood. Ao mesmo tempo em que começava a despontar como modelo e atriz seu casamento ia por água abaixo. O segundo casamento foi com o mito do beisebol americano Joe DiMaggio, um descendente de italianos, casca grossa, ciumento e truculento que chegou a bater nela, causando o inevitável divórcio. Por fim se uniu ao intelectual Arthur Miller em sua última tentativa de ser feliz no matrimônio. Foi um casamento marcado pela indiferença e frieza por parte dele e de infidelidade por parte dela.

Outro ponto interessante do livro é aquele que trata sobre o envolvimento de Marilyn com os irmãos Kennedy (John, o presidente e Bobby, o procurador geral). O autor analisa as diversas teorias de que Marilyn teria sido morta em uma conspiração envolvendo o alto escalão do governo americano no começo da década de 60. Embora não se possa chegar na verdade absoluta dessa questão o escritor faz uma análise bastante interessante dos eventos e mistérios que cercam a morte da atriz. O uso abusivo de drogas e os problemas mentais dela também são enfocados de uma maneira lúcida e coerente. A única conclusão que podemos tirar após ler essa biografia é que apesar de ter alcançado os picos da fama, ter conquistado dinheiro e poder dentro da indústria cinematográfica, Marilyn Monroe morreu solitária e infeliz. Como todo mito que se preze, Marilyn também foi sepultada em sua incrível fama.

Pablo Aluísio.