Esse filme resgata a figura do roteirista americano Dalton Trumbo. O roteiro, baseado na biografia escrita por Bruce Cook, tenta desvendar a trajetória desse escritor que acabou virando um símbolo da paranoia da perseguição do Macartismo durante as décadas de 1940 e 1950 nos Estados Unidos. Trumbo foi um dos mais talentosos roteiristas de Hollywood em sua fase de ouro, mas acabou vendo sua carreira ruir após ser acusado de ser comunista (o que era verdade, já que ele era membro do Partido Comunista daquele país). A questão é que depois disso e de ter se recusado a responder as perguntas do Congresso ele foi preso por desacato, ficando alguns anos na prisão.
Após voltar para a liberdade viu todas as portas dos grandes estúdios fechadas para ele. Sem emprego, estigmatizado e perseguido politicamente, Trumbo precisou fazer o que era preciso para sobreviver, escrevendo seus roteiros com pseudônimos, trabalhando para pequenos estúdios especializados em filmes ruins, fazendo o que estava à mão para sobreviver. Um dos aspectos mais interessantes que o cinéfilo vai encontrar nesse filme é a presença de grandes astros do passado que passaram pela vida de Trumbo. Estão lá o conservador John Wayne, o delator Edward G. Robinson e o corajoso Kirk Douglas, que resolveu enfrentar a todos, contratando Trumbo para trabalhar no grande épico "Spartacus". Sob esse ponto de vista o filme é uma delícia para os que gostam de cinema clássico, pois vemos os bastidores daquela época de uma forma ímpar.
Pelo que vemos no filme, Dalton Trumbo era um daqueles comunistas românticos (e bastante inocentes) que lutavam por uma ideologia sem saber muito bem o que ela significava. Enquanto tentava angariar simpatizantes para sua causa nos Estados Unidos, ele parecia ignorar os genocídios que Stálin promovia na União Soviética. Era de certa maneira um ingênuo e pagou um preço caro por isso. O filme não entra muito a fundo sobre esse ponto, sobre a essência do pensamento de Trumbo sobre a esquerda mundial e suas ditaduras sanguinárias, porém dá pistas importantes quando, por exemplo, ele reencontra o ator Edward G. Robinson e confessa que eles não tinham qualquer ligação com movimentos comunistas no exterior, provando que eram apenas boas pessoas ingênuas iludidas por uma ideologia realmente danosa.
Já sobre o filme em si não podemos deixar de elogiar o grande (e essa expressão não está sendo usada em vão) Bryan Cranston. Recentemente assisti um filme em que ele interpretava o presidente americano Lyndon Johnson e escrevi que Bryan havia conseguido desaparecer em seu personagem, algo que apenas os grandes atores conseguem fazer. O mesmo se repete aqui. Provavelmente Bryan Cranston seja um dos grandes atores de sua geração, pena que só veio se revelar ao grande público com a série "Breaking Bad". Não faz mal, mesmo tardiamente ele tem se revelado um maravilhoso ator. Então é isso. "Trumbo - Lista Negra" é de fato um ótimo filme, valorizado pela lição histórica que passa. Um retorno a um passado realmente sombrio da história americana. Certamente merece ser visto.
Trumbo - Lista Negra (Trumbo, Estados Unidos, 2015) Direção: Jay Roach / Roteiro: John McNamara, baseado no livro escrito por Bruce Cook / Elenco: Bryan Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, Elle Fanning, Michael Stuhlbarg / Sinopse: Durante os anos 1940 o roteirista de Hollywood Dalton Trumbo é acusado de ser um comunista. Preso, perseguido e impedido de trabalhar novamente ele faz de tudo para sobreviver em um clima de profunda paranoia política. Filme baseado em fatos reais. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator (Bryan Cranston).
Pablo Aluísio.
Avaliação:
ResponderExcluirDireção: ★★★★
Elenco: ★★★★★
Produção: ★★★★
Roteiro: ★★★★
Cotação Geral: ★★★★
Nota Geral: 8.8
Cotações:
★★★★★ Excelente
★★★★ Muito Bom
★★★ Bom
★★ Regular
★ Ruim
Pena que o Bryan Cranston foi descoberto a pouco tempo é já com certa idade.
ResponderExcluirComunista é um tipo estranho: ou é canalha, ou inocente útil.
Exatamente isso. O Bryan Cranston só foi descoberto bem mais tarde... Um ator desses nunca ter encontrado o reconhecimento e o sucesso antes é um absurdo...
ResponderExcluirE no caso do Trumbo ele realmente se encaixava no segundo tipo.... a do inocente útil.
Kirk Douglas era tão amigo de Trumbo que em seu período de ostracismo, ajudou-o financeiramente. Se não me engano já escrevi sobre Trumbo. Só não sei se foi aqui no Blog do Pablo, ou em outro lugar.
ResponderExcluirSim, Telmo. Kirk Douglas foi uma pessoa central na vida do Trumbo. Em relação ao seu texto ele foi publicado em nosso blog de cinema clássico.
ResponderExcluirCaramba Pablo. Quando vi esta publicação, lembrei que tinha feito um texto parecido só não me lembrava para quem tinha enviado, já que alguns amigos me pedem texto de filmes. Obrigado pela lembrança, Pablo, seu texto ficou ótimo.
ResponderExcluirPois é Telmo..,
ResponderExcluirNaquele texto, se me recordo bem, você não escrevia necessariamente sobre esse filme, mas sim sobre o roteirista, aspectos de sua vida e carreira...
Sim, Pablo, agora eu lembro. Foi um texto biográfico.
ResponderExcluirSim, Pablo, agora eu lembro. Foi um texto biográfico.
ResponderExcluirIsso mesmo, até porque se fosse sobre esse filme (que foi produzido recentemente) não teria sido publicado no blog de cinema clássico.
ResponderExcluirSem dúvida
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