Sempre que se escreve sobre esse álbum se chama a atenção para a música "Life". Realmente, se formos analisar sua letra veremos que dentro da longa e vasta discografia de Elvis Presley nunca se viu nada parecido com isso. S. Milete, que escreveu a letra, começa falando no surgimento da vida, nos primeiros seres vivos, em um universo ainda em formação! Versos como "Em algum lugar no espaço vazio / Muito antes da raça humana / Alguma coisa esquentava / Uma vasta e atemporal fonte se iniciou!" soam bem estranhos. A letra é grande, complicada de memorizar e totalmente fora dos padrões da média do que Elvis seguia em sua carreira na época. O autor, tipicamente uma pessoa influenciada pelo movimento hippie, flower power e derivados, parece ter exagerado um pouco na dose, criando algo até mesmo surreal. Pelo visto ele andou tomando alguma coisa meio esquisita quando compôs essa música!
O que levou Elvis a gravar uma faixa como essa ainda é um mistério. Provavelmente ele estava inspirado por causa de suas leituras místicas, religiosas e procurou por algo que se relacionasse a esse tipo de literatura para gravar. Curiosamente a letra, apesar de ser completamente sui generis, misturava visões científicas, religiosas e sentimentos de amor, tudo em um só pacote! O produtor Felton Jarvis procurou melhorar bastante a gravação, acrescentando um background musical que poderia ser qualificado como "esotérico", com uso de flautas e instrumentos adicionais que praticamente nunca eram usados nas gravações de Elvis. Enfim, se existe uma música diferente dentro da discografia de Elvis durante os anos 70 essa é certamente "Life" e sua singular mensagem.
"Cindy, Cindy" era bem mais dentro do padrão. Um country rock muito bom, que deveria ter sido usado como música de trabalho do álbum. Curiosamente a música foi composta pelo trio Kaye, Weisman e Fuller. Esse pessoal compôs muitas canções para os filmes de Elvis durante os anos 60. Revê-los aqui, na contracapa de um álbum de Elvis dos anos 70, também soa ao seu modo bem estranho. Houve uma certa ruptura com o trabalho desses autores depois que Elvis deixou Hollywood. Voltar para gravar músicas deles era algo inesperado. De qualquer maneira é uma boa canção, inclusive contando com aquela certa inocência das músicas dos filmes da década anterior. Ela é salva no final das contas pelo alto astral e boa performance de Elvis e banda! O guitarrista James Burton inclusive contou com um belo solo para mostrar sua habilidade. No geral é um momento bem agradável do disco, embora se formos comparar com outras faixas como "Life" a letra pareça bem pueril e bobinha.
E se você gosta de country music de raiz certamente vai apreciar "It Ain't Big Thing (But is Crowing)". O vocal de Elvis e o arranjo são bem caipiras, parecendo até mesmo uma banda das montanhas do Kentucky. Essa gravação aliás ficaria muito bem nos tempos da Sun Records e dos Blue Moon Boys. Muitos especulam porque ela não foi acrescentada no repertório do álbum "Elvis Country". De fato seria mais do que adequada. A letra é simples, romântica, levemente melancólica. Nada de surpresas ou esquisitices. Para temas country nada melhor do que letras que evocam os sentimentos românticos da forma mais direta e emocional possível. Tudo aliado a uma boa gravação. Sem dúvida outro bom momento desse álbum que merece inclusive ser redescoberto pelos fãs.
Pablo Aluísio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário