Rock Hudson foi um dos atores mais populares de Hollywood durante as décadas de 1950 e 1960. Galã à moda antiga foi lapidado na Universal que o preparou para se tornar uma estrela campeã de bilheteria - fato que se confirmou anos depois. Durante longa carreira mesclou trabalhos no cinema, teatro e TV. Nos anos 80 se tornou a primeira celebridade mundial a assumir que tinha AIDS, fato que chocou a todos pois poucos sabiam de sua homossexualidade. Sua filmografia é muito interessante pois ao longo da carreira trabalhou com o que de melhor Hollywood tinha a oferecer (diretores, roteiristas, elenco, etc). Aqui vai alguns comentários sobre seus principais filmes.
Almas Maculadas
Jornalista (Rock Hudson) resolve escrever uma matéria sobre um veterano da II Guerra Mundial, piloto condecorado (Robert Stack) que para sobreviver no pós guerra tem que se apresentar em parques de diversões em exibições aéreas onde faz acrobacias e disputa acirradas corridas com outros aviadores. "Almas Maculadas" é baseado em famoso livro do consagrado William Faulkner. Quem conhece a obra desse famoso escritor sabe o que encontrará em suas estórias: personagens marginais, à margem dos ricos e bem sucedidos, tentando sobreviver dentro do selvagem capitalismo americano. São seres que vivem um dia após o outro, sem grandes esperanças de que algo realmente vá melhorar em suas vidas. Isso se repete na trupe que vive ao lado do veterano aviador, sua esposa, a sensual e bonita LaVern Shummann (interpretada pela linda Dorothy Malone) e o fiel mecânico Jiggs (feito pelo bom ator Jack Carson). A produção é estrelada por Rock Hudson, naquela altura já com status de super astro (tinha feito há pouco o grande sucesso "Assim Caminha a Humanidade"). Ele comparece com sua habitual boa presença em cena mas aos poucos vê seu personagem perdendo espaço para LaVern, a esposa do piloto veterano. Curioso mas a estrutura do livro foi realmente criada em torno dessa mulher, seus dramas, sua paixão não correspondida e a luta pela sobrevivência no dia a dia. Robert Stack que havia estado tão bem em "Palavras ao Vento" aqui perde espaço até porque seu personagem é antipático e nada carismático. A direção do grande Douglas Sirk se revela novamente bem sucedida ao lado de seu galã preferido, Rock Hudson. Aliás esse filme seria o último ao lado de Rock, o que realmente é de se lamentar. No saldo final adorei o resultado pois a melancolia e a desesperanças que vemos em cena é bastante fiel ao texto de Faulkner. Em suma, ótimo drama que merece ser redescoberto.
Seminole
Tenente do exército americano Lance Caldwelll (Rock Hudson) chega em distante forte militar situado nos pântanos da Flórida. Sua guarnição tem a missão de pacificar o local, destruindo e capturando um bando de índios renegados da tribo Seminole liderados pelo rebelde chefe Osceola (Anthony Quinn). O argumento do filme é baseado em fatos reais. A tribo Seminole realmente lutou contra o exército americano na Flórida. O grande chefe Osceola também é um personagem real. Já o tenente Lance Cadwell (Rock Hudson) é totalmente fictício. O desfecho do filme também não condiz com a realidade dos fatos - O chefe Osceola não morreu conforme vemos na tela. Apesar disso e do fato de existir outros erros históricos não há como negar que "Seminole" é um western muito bom. Seus méritos surgem logo no começo do filme com uma curiosa inversão de valores - algo realmente raro na década de 50. Aqui os índios não são vilões carniceiros e nem os soldados americanos são heróis virtuosos. Pelo contrário, o que vemos no roteiro é uma civilização tentando manter seus hábitos e costumes, seu estilo de vida, em vista da invasão do homem branco. Outra questão importante: o mais alto oficial americano na estória é simplesmente um imbecil completo. Em um grande trabalho de caracterização o ator Richard Carlson compõe um major totalmente fora de controle, megalomaníaco e psicótico. Assistindo ao filme, vendo as tropas atoladas no pântano da Flórida, me lembrei daquela frase que diz: "Não existe situação mais grave do que a de ser comandado por um idiota". É isso o que vemos aqui - uma tropa liderada por um completo inepto. Outro aspecto curioso do filme é o fato dele se passar na Flórida, no meio pantanoso, bem diferente dos faroestes que estamos acostumados a assistir, em longas planícies do deserto. Enfim, gostei bastante de "Seminole", um filme com pequenos erros históricos certamente, mas socialmente muito consciente. Um parente distante de produções como "Dança com Lobos" onde a questão do nativo americano foi tratada com respeito e seriedade.
Tudo o que o Céu Permite
Muito bom esse drama que foca no preconceito que existe na sociedade sobre classes sociais diferentes. Após assistir cheguei na conclusão que certas convenções dentro da sociedade não mudaram nada desde que o filme foi feito. Aqui temos um casal formado por uma senhora viúva rica (Jane Wyman) e um jovem e pobre rapaz jardineiro (Rock Hudson). Claro que mesmo apaixonados ambos vão sofrer todo tipo de preconceito da sociedade por causa dessa situação. O filme é muito bem desenvolvido, sutil e inteligente. Joga com a situação e faz o público torcer pelo casal (isso na sociedade americana dos anos 50, com todos os seus pudores e valores morais ultrapassados). O filme é visualmente muito bonito, aproveitando tudo o que é possível da bela paisagem do local onde o personagem de Rock Hudson vive (um moinho antigo, com uma casa de campo e bambis passeando pelo quintal - mais bucólico impossível). O clima de nostalgia impera e traz muito para o resultado final. "Tudo o que o Céu Permite" foi produzido por causa do grande sucesso de "Sublime Obsessão". Praticamente toda a equipe foi reunida novamente para esse filme (Rock Hudson, Jane Wyman, o diretor Douglas Sirk e o produtor Ross Hunter). Rock tinha especial veneração por esse diretor pois foi o primeiro que deu uma chance de verdade a ele no cinema, quando era um simples iniciante. Também tinha grande amizade por Jane Wyman que bem mais veterana do que ele nas telas lhe deu apoio incondicional nesses dois filmes, sendo paciente e prestativa no set de filmagem. O curioso é que após o sucesso de "Tudo o que o Céu Permite" o aclamado diretor George Stevens fez tudo o que era possível para pedir Rock de empréstimo da Universal para rodar com ele na Warner o grande clássico "Assim Caminha a Humanidade". Certamente percebeu que Rock não era mais apenas uma promessa mas sim um grande astro. Enfim, recomendo bastante o filme, principalmente para o público feminino, que certamente terá muito mais sensibilidade para se envolver no excelente enredo.
Adeus às Armas
Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) se tornando perdidamente apaixonado por ela. Em suas memórias Rock Hudson se lembra com pesar da adaptação do famoso livro "A Farewell to Arms" de Ernst Heningway. Na ocasião o estúdio havia lhe oferecido três projetos: o primeiro era "Ben-Hur", o segundo "Sayonara" e por fim essa adaptação que seria dirigida pelo grande diretor John Huston. Rock escolheu "Adeus às Armas" pois segundo sua opinião "não havia como dar errado, tudo se encaixava muito bem, seria um grande sucesso certamente". Pois bem, as previsões de Hudson não se confirmaram. Logo após começarem as filmagens o diretor John Huston brigou com o produtor do filme, David O. Selznick. Às pressas foi convocado o diretor Charles Vidor que não conseguiu adaptar o romance literário com sucesso. Some-se a isso as dificuldades das filmagens que foram realizadas nos alpes italianos que não tinham estrutura para receber um filme daquele porte. No final das contas tanto "Ben-Hur" como "Sayonara" se tornaram grandes sucessos de bilheteria bem ao contrário de "Adeus às Armas" que não agradou nem ao público e nem à crítica. O que deu errado? Assistindo ao filme percebemos vários problemas na produção. O primeiro deles é que o roteiro não conseguiu encontrar um tom ideal para contar a estória. Tudo ficou excessivamente melodramático. A obra de Hemingway foi de certa forma alterada, tudo com o objetivo de explorar o lado galã de Hudson. Além disso exageraram no rorte final, tornando "Adeus ás Armas" muito longo e cansativo. Embora não seja interessante apenas especular penso que se John Huston tivesse se mantido na direção teríamos um filme mais fluente, leve, com belas cenas do conflito em que o personagem principal se envolve. O próprio Rock Hudson não gostou de sua atuação no filme, achou tudo muito superficial, sem emoção. Curiosamente o ator durante as filmagens concorreu ao Oscar por "Assim Caminha a Humanidade". Impossibilitado de ir aos EUA para a cerimônia foi homenageado na pequenina cidade italiana onde o filme estava sendo feito. Os moradores locais ergueram uma imensa estátua de gelo no formato do Oscar e a colocaram na frente do hotel onde Rock estava hospedado. A intenção era fazer uma enorme festa caso o ator ganhasse o prêmio. Infelizmente como não ganhou o Oscar, Rock teve que no dia seguinte se contentar em ver a imensa obra gelada se derretendo pelo calor do sol - o que não deixou de ser uma metáfora de ver seu sonho de vencer a cobiçada estatueta da Academia indo por água abaixo. De qualquer forma o filme merece uma revisão hoje em dia. Vale a pena conhecer, mesmo que não esteja à altura da obra do grande escritor.
Um Favor Muito Especial
Quantas vezes um ator pode repetir o mesmo papel em filmes diferentes? Bom, Rock Hudson provou que muitas vezes. Esse "Um Favor Muito Especial" é praticamente um remake de seu maior sucesso, "Confidências à Meia Noite". O argumento é basicamente o mesmo: Playboy mulherengo tenta conquistar uma mulher bem sucedida profissionalmente que não se importa em se casar ou ter filhos. Para isso ele finge ser uma outra pessoa para ganhar sua simpatia e confiança. Aqui no caso Rock finge ser um paciente pois o seu alvo é uma psicóloga (interpretada pela fraca atriz Leslie Caron). O único diferencial desse para "Pillow Talk" é que aqui o romance conta com o incentivo do pai da senhorita, vivido pelo veterano ator francês Charles Boyer (sem muito o que fazer em cena). O filme não foi bem nas bilheterias, também pudera, era mais do mesmo, sendo que bem menos engraçado do que os filmes que Rock Hudson fez ao lado de Doris Day. O público provavelmente cansou de ver o mesmo filme - só que com outro título. Em decorrência Rock deixaria a Universal um ano depois após seu contrato ter acabado e o estúdio não mostrar mais interesse em tê-lo sob exclusividade. Então é isso, "Um Favor Muito Especial" nada mais é do que um prato requentado só que com muito menos sabor.
Sangue Sobre a Terra
Extremamente interessante esse drama passado no Quênia durante um levante da população negra contra os fazendeiros colonizadores brancos. No meio da luta dois jovens que foram criados juntos (Rock Hudson e Sidney Poitier) ficam em lados opostos do conflito. A priori era de se supor que em um filme feito nos anos 50, estrelado pelo galã Hudson o roteiro fosse tomar parte dos brancos, colocando os negros como selvagens sanguinários com facão na mão. Felizmente e para minha surpresa isso não acontece em momento algum. O roteiro baseado em um famoso livro que tratou sobre a questão racial no Quênia não toma partido. Em cena somos apresentados aos lados positivos e negativos de ambos os lados em conflito. O racismo dos brancos não é jogado para debaixo do tapete e as atrocidades cometidas pelos negros também são expostas de maneira visceral. Os dois lados são mostrados da forma mais imparcial possível. O impacto do filme só é quebrado para mostrar o azedo romance entre Rock e a starlet Dana Wynter mas ele não decola nunca. O ponto forte fica mesmo com as lutas e as questões raciais que são tratadas com o devido respeito e seriedade. O diretor Richard Brooks era acima da média pois já havia dirigido o cult do surgimento do rock "Sementes da Violência" e depois realizaria alguns clássicos como "Gata em Teto de Zinco Quente". "A Sangue Frio" e "Doce Pássaro da Juventude", ou seja, era realmente um craque na direção. Enfim, "Sangue Sobre a Terra" é inteligente, humano e trata a questão dos direitos das populações negras africanas com muita sensibilidade. Altamente recomendado para quem se interessa pelo tema.
O Esporte Favorito dos Homens
Na década de 1960 Rock Hudson descobriu um novo filão de sucesso: as comédias românticas. Para um ator que foi descoberto nos dramas de Douglas Sirk era uma mudança e tanto estrelar tantas produções cômicas como essa. A fórmula se mostrou muito bem sucedida nos três filmes que rodou ao lado de Doris Day e em alguns outros filmes esporádicos como por exemplo “Quando Setembro Vier”. O fato porém é que com o tempo as coisas foram se repetindo e o público lentamente foi perdendo o interesse. O desgaste foi natural. Esse “O Esporte Favorito dos Homens” é um exemplo disso. Dirigido pelo grande Howard Hawks o filme simplesmente não emplaca. As situações não são particularmente engraçadas e até mesmo Rock Hudson aparece apático, em um personagem completamente desinteressante. Para piorar sua atuação também deixa a desejar pois ele surge travado em cena, o que contrasta e muito com seus trabalhos ao lado da maravilhosas Doris Day. Aqui ele sequer consegue apresentar seu tão conhecido timing para humor. Talvez a culpa seja de sua parceira em cena, Paul Prentiss, que certamente não tem o talento de Doris e nem sua simpatia pessoal. Para falar a verdade ela sequer parece estar interessada em disponibilizar uma boa atuação. Não me admira em nada que não tenha conseguido fazer longa carreira em Hollywood, desaparecendo tão rapidamente como surgiu. Esse é o tipo de filme que o cinéfilo acaba criando uma certa expectativa, até mesmo pelo pelos nomes envolvidos. Howard Hawks marcou a história do cinema americano, sendo um dos cineastas mais ecléticos que já passaram pelos grandes estúdios. Basta consultar sua filmografia para ver como ele conseguia realizar filmes de ótimo nível, seja nos gêneros aventura, western ou comédia. Aqui porém a magia não funcionou. A culpa muito provavelmente seja do roteiro que procura tirar humor em cima de um esporte muito popular nos EUA, a pesca com anzol. Algumas cenas são simples gags em cima dessa modalidade esportiva. O problema é que assim como o beisebol isso é algo muito americano, que não desperta o menor interesse do público de outros países. Desse modo cenas com Rock pescando, pisando em baldes de iscas e outras coisas semelhantes não consegue criar muita afinidade. Sem identificação com as situações a coisa simplesmente não funciona. Outro problema bem visível é que o filme foi totalmente rodado dentro dos estúdios e isso é um erro em se tratando de um tema como esse que certamente exigiam tomadas externas, de muitos rios e natureza em geral. As florestas falsas recriadas que surgem nas cenas simplesmente não convencem. A Universal parece ter previsto que o filme não seria bem sucedido pois o arquivou por longos dois anos antes de lança-lo nos cinemas americanos. No final a fita não conseguiu agradar nem à crítica e nem ao público se revelando apenas um grande desperdício de talento e dinheiro.
Hino de uma Consciência
Nesse fim de semana assisti a esse "Hino de Uma Consciência", um filme de guerra bem diferente. Embora o filme se passe em um centro de treinamento de pilotos americanos na guerra da Coreia, o foco do roteiro e argumento não se baseiam essencialmente nisso mas sim na crise existencial que se abate sobre o protagonista. Rock Hudson aqui interpreta esse jovem coronel da força aérea dos Estados Unidos que durante a II Guerra Mundial ataca por engano um orfanato de crianças no Japão. Corroído pela culpa ele resolve se tornar ministro religioso mas sem muito poder de oratória acaba fracassando, voltando mais uma vez ao front, dessa vez como instrutor na Coreia. O curioso é que sua redenção vem na forma de ajuda humanitária à população local - seja distribuindo alimentos, seja ajudando crianças sem lar da região. O tom do filme é melodramático, arriscando muitas vezes cair na pieguice, mas que se salva ao final principalmente pelas cenas de batalha entre os caças americanos e inimigos. Rock Hudson entrega uma interpretação não muito inspirada e tem como coadjuvante a indiana Anna Kashfi que consegue ser pior do que ele em cena. Para quem não se recorda essa atriz foi a segunda esposa de Marlon Brando, mãe de seu filho Christian que anos depois seria preso por assassinar o companheiro de sua irmã. Essa foi a primeira vez que a vi em cena e posso dizer que ela como atriz realmente era uma nulidade completa. Talvez só esteja no filme por nepotismo de Brando. De qualquer forma, aqui temos, como aconteceu em "Pilares do Céu", um filme com nítida tendência à religiosidade, tudo em meio a um conflito armado. Se essa for sua praia recomendo.
Winchester 73
Roteiro e argumento: Uma das melhores coisas de Winchester 73. Sem exagero posso dizer que o roteiro desse filme lembra muito os roteiros de Robert Altman. Várias histórias vão sendo mostradas e aos poucos todas convergem para o mesmo local. O roteiro na verdade segue o rifle Winchester 73 que vai passando de mão em mão ao longo do filme. Ganha por James Stewart em um concurso em Dodge City (onde até Wyatt Earp aparece como coadjuvante) o rifle acaba sendo roubado indo parar nas mãos de um grupo Sioux, da cavalaria, de um covarde etc. Tudo muito bem escrito, me deixou surpreso. / Produção: A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme (ele tinha rompido com seu estúdio anterior e tinha virado ator free lancer). Assim tendo em vista o potencial das bilheterias com sua presença a Universal investiu bem mais resultando numa produção caprichada. / Direção: Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. / Elenco: James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart lidera um elenco acima da média. O mais curioso aqui é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux (de peruca e pintado quase não reconheci Rock). Já Curtis, muito muito jovem faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indigena. Muito legal ver esses atores novatos tentando um lugar ao sol.
Palavras ao Vento
Muito interessante esse filme. Douglas Sirk tinha fama de dirigir seus filmes com a mão pesada, transformando muitos deles em tremendos dramalhões. Bem, isso não acontece tanto aqui - pelo menos não é dos seus trabalhos mais melodramáticos. O roteiro obviamente traz uma série de intrigas envolvendo traições, amores impossíveis e relações familiares escandalosas. Mesmo com tantos ingredientes pesados achei o resultado final muito bom, nada martirizante. Embora seja estrelado por Rock Hudson no auge de sua popularidade, é fácil constatar que aqui ele levou uma rasteira em cena. Isso porque ninguém consegue brilhar mais no filme do que o ator Robert Stack. Além de seu personagem ser muito bom (um playboy com problemas de alcoolismo e irresponsável), Stack dá show em todos os momentos em que aparece, ofuscando completamente a estrela de Hudson. Em segundos ele vai da fúria ao arrependimento, da infantilidade à maldade. Confesso que nunca tinha assistido nada dele nesse nível. Aliás o conhecia mais pelo papel de Eliot Ness no seriado televisivo "Os Intocáveis" (que passou há muitos anos nos domingos à noite na Globo). Aqui Stack mostra que realmente era ótimo em cena, pois seu personagem em nada lembra o famoso policial que o tornou famoso. Por fim mais uma coisa me fez gostar muito de "Palavras ao Vento": seu maravilhoso clima vintage. Filmado em plenos anos 50 (minha década preferida), o filme desfila em sua bela produção grandes carrões, ótimos figurinos e até jukeboxes que são a cara dos 50´s, tudo o que eu definitivamente adoro. Então é isso, para quem gosta de clássicos dramáticos "Palavras ao Vento" é uma ótima opção.
Sublime Obsessão
O filme é um drama tipicamente dos anos 50. Achei tudo muito melodramático e pesado, sem nenhum traço de qualquer tipo de fina ironia ou algo do tipo. O argumento não suaviza para o espectador, assim se essa não for a sua praia é melhor nem assistir. "Sublime Obsessão" transformou o ator Rock Hudson em um astro. Fez grande sucesso de bilheteria e mostrou que ele tinha capacidade de atrair o público aos cinemas. O mais curioso é que ele só foi escalado porque a Universal estava com problemas financeiros e não tinha dinheiro para contratar um ator do primeiro time de Hollywood, assim teve que se contentar com a chamada "prata da casa" (Hudson era ator contratado da Universal, foi treinado e feito dentro do próprio estúdio, tudo ao estilo do antigo "Star System"). Devo confessar que a atuação de Rock no filme é apenas mediana. Ele, para falar a verdade, não era um grande ator mas simplesmente um galã, que se saía muito melhor em filmes mais leves como as comédias românticas que rodou ao lado de Doris Day. Aqui, principalmente nas cenas mais tensas, faltou um pouco mais de talento. Já a atriz Jane Wyman (primeira esposa do presidente Ronald Reagan) também não era lá essas coisas. Confesso que esperava mais de sua interpretação. Na maioria das cenas ela se limita a fazer o papel de "boazinha". Apesar da dupla central não estar à altura do que o roteiro exige, o filme não deixa de ser interessante. Para falar a verdade é bem didático assistir filmes antigos assim pois nos anos 50 ainda era possível realizar produções como essa, sem nenhum traço do cinismo que hoje impera na sociedade. Se você gosta da cultura vintage fique à vontade para curtir "Sublime Obsessão".
Confidências à Meia Noite
Bacana saber que a querida Doris Day vai lançar um disco agora na terceira idade. É isso aí - enquanto há vida, há esperança. Fiquei tão interessado (e contente) que resolvi criar esse tópico em homenagem a ela. "Pillow Talk" é certamente um dos melhores filmes de sua filmografia (se não for o melhor). A primeira parceria com Rock Hudson (faria mais dois filmes ao lado dele) rende ótimas cenas de humor. Considerado ousado e sofisticado demais para os anos 50 o filme fez um tremendo sucesso. Rock em sua biografia afirma que esse foi sem dúvida um dos trabalhos que mais gostou de fazer pois o clima no set era o melhor possível, muito descontraído e alegre. Além disso ele criou uma ótima química com Doris nas cenas. Hudson havia recentemente se separado da esposa e procurava por novos caminhos em sua carreira. Depois de estrelar faroestes e dramas com Douglas Sirk e George Stevens, Rock tinha dúvidas se poderia fazer bem um papel de playboy numa comédia romântica sofisticada como essa. Depois de pensar por um tempo resolveu arriscar. O interessante é que o sucesso de "Confidências à Meia Noite" acabou significando uma mudança completa nos rumos de sua filmografia. A partir daqui ele deixaria definitivamente os dramas pesados de lado para se dedicar a filmes leves, divertidos como "Volta meu Amor", "Não me Mandem Flores", "O Esporte Favorito do Homem" e "Quando Setembro Vier". Já Doris Day atribui ao filme à sua fama de "Virgem profissional" e diz não entender a razão. No filme sua personagem se recusa a ir para a cama com o conquistador barato vivido por Hudson. Isso criou e ajudou muito na imagem de "Sandy" dos anos 60, mas segundo Doris aqui ela não interpretava uma "virgem" mas sim uma mulher independente, inserida no mercado de trabalho, profissional, que pela primeira vez tinha o direito de escolher o homem com quem queria se casar - ou não casar, de acordo única e exclusivamente com sua consciência. O filme foi divisor de águas também porque acabou criando um dos filões mais usados em Hollywood - o da comédia romântica! Antes de Pillow Talk (Conversa de Travesseiro, seu título original) os estúdios não prestavam muito atenção nesse estilo. Com o sucesso do filme eles começaram a investir mais no gênero - que atingiria seu auge vinte anos depois, nos anos 80. Uma fórmula que até hoje não demonstra sinais de desgaste perante o público, principalmente feminino.
Volta Meu Amor
Nenhum casal fez tanto sucesso nos cinemas durante os anos 1960 do que Rock Hudson e Doris Day. Juntos eles fizeram três comédias românticas que tiveram excelentes bilheterias para a época. A fórmula era infalível e com o sucesso de "Confidências à Meia Noite" a volta do casal era algo considerado certo pelos produtores. A própria Doris Day tinha adorado ter trabalhado ao lado de Rock e ao final das filmagens havia lhe dito que eles deveriam fazer outros filmes juntos. "Volta Meu Amor" foi o segundo filme de Rock e Doris. O roteiro segue basicamente a mesma estrutura do primeiro filme. Um playboy se faz passar por outro homem para conquistar o coração da personagem de Day. Falando sinceramente os dois filmes são praticamente iguais, não mudando quase nada, a não ser o nome e a profissão dos personagens principais. O roteiro é praticamente o mesmo também, a mesma ideia central que havia sido utilizada em "Confidências à Meia Noite". Nem por isso deixa de ser um bom passatempo, dos mais agradáveis, até mesmo nos dias de hoje. Apesar dos diálogos "ousados" para os anos 60 a produção era divertida, leve e recomendada para todos os públicos, mas principalmente casais. A sociedade americana passava por profundas mudanças sociais e de costumes na época em que esses filmes eram lançados nos cinemas. As mulheres finalmente tinham conquistado seu espaço no mercado de trabalho. Eram agora independentes, profissionais e não usavam mais o casamento como único meio de vida. Ter ou não um companheiro tinha se tornado apenas uma opção e não uma obrigação. Rock Hudson geralmente interpretava homens incorrigíveis, playboys e conquistadores inveterados. Já Doris Day trazia para as telas a nova mulher, dona de seu destino, com pleno controle de sua própria vida. O choque entre esses dois estilos de vida é que criava o fino humor para esse tipo de produção. Quando foi lançado "Volta Meu Amor" se tornou um sucesso de bilheteria ainda maior do que "Confidências à Meia Noite", o que deixou todos surpresos. Por causa do sucesso a dupla voltaria ainda a atuar junto pela terceira e última vez em "Não Me Mandem Flores" que no momento oportuno trataremos aqui em nosso espaço; De qualquer forma fica a dica para os fãs de Rock Hudson e Doris Day. "Volta Meu Amor" é uma delícia de filme. Não envelheceu e mesmo revisto nos dias de hoje ainda é uma ótima diversão.
Quando Setembro Vier
Na esteira de seus sucessos ao lado da atriz Doris Day, Rock Hudson se uniu à estrela italiana Gina Lollobrigida e a dois ídolos juvenis (o casal Sandra Dee e Bobby Darin) e estrelou esse divertido filme chamado "Quando Setembro Vier". Se você tem curiosidade para conhecer como eram as comédias românticas de antigamente eu recomendo essa super colorida produção. O filme é leve, divertido, com um elenco simpático e como nostalgia funciona muito bem. Aqui temos Rock Hudson como um milionário americano na Itália (uma derivação de seus papéis nos filmes que fez ao lado de Doris Day) que acaba se envolvendo romanticamente com uma típica italiana (Gina) ao mesmo tempo em que tem que lidar com um grupo de jovens que pensam erroneamente que sua mansão na verdade é um hotel de verão. Rock Hudson parece estar bem à vontade em seu papel, se divertindo como nunca. Ele até dança (de forma bem esquisita é verdade) numa das mais curiosas cenas de toda a sua carreira. O elenco de apoio também é muito bom, embora Gina Lollobrigida não saia do velho estereotipo da mulher italiana que fala alto e é dada a vexames públicos. Curiosamente Gina não conseguiu firmar carreira em Hollywood, muito provavelmente por causa de seu péssimo inglês (seu sotaque é ainda mais exagerado do que outra italiana famosa que tentava carreira em Hollywood na mesma época, Anna Magnani). No núcleo jovem se destacam Sandra Dee (muito popular com filmes de sucesso naquela ocasião) e Bobby Darin (que tentava emplacar uma carreira no cinema após ter alcançado algum sucesso nas paradas, encarnando uma espécie de versão jovem de Frank Sinatra). Aliás a titulo de curiosidade é interessante saber que eles se apaixonaram durante as filmagens e se casaram pouco tempo depois (fato bem mostrado no filme "Uma Vida Sem Limites" onde Kevin Spacey interpreta Bobby). O diretor do filme foi Robert Mulligan, que vinha da TV. Ele tinha acabado de dirigir Tony Curtis no não tão bem sucedido "The Great Impostor" e o estúdio estava apostando nele como um bom cineasta de produções mais leves. Curiosamente o diretor iria mesmo se consagrar no excelente "O Sol é Para Todos", um filme sério, que se tornou um marco na carreira de Gregory Peck e na luta dos direitos civis nos EUA.
Jamais Foram Vencidos
Que tal reunir em um mesmo filme John Wayne e Rock Hudson? Os dois tinham sido os maiores recordistas de bilheteria durante os anos 50 e 60 e agora reuniam forças no western "Jamais Foram Vencidos". O filme pode ser considerado um faroeste temporão, já que foi realizado no final dos anos 60, quando a juventude não mais se importava muito com esse gênero cinematográfico. Embora Wayne ainda mantivesse seu prestígio inabalado, Hudson vinha passando por dificuldades na carreira. Como era um galã acima de tudo, os papéis iam cada vez mais rareando com a chegada da idade e ele próprio representava naquela altura um tipo de ator que definitivamente estava saindo de moda. Ao invés do galã de visual impecável, o cinema americano agora adotava atores com grande talento mas com aparência de homens comuns, como Al Pacino, Dustin Hoffman e Robert De Niro. Atores que não tinham a estampa dos velhos ídolos como Rock Hudson. Em sua autobiografia o próprio Hudson comenta a chegada dessa nova geração de "monstrinhos" como ele apelidou os novos atores em ascensão. Realmente era bem complicado unir duas gerações tão diferentes em um mesmo filme. Por isso o convite de estrelar um western ao lado do mito John Wayne veio bem a calhar naquele momento de sua vida. O filme em si era interessante e mostrava um oficial confederado (Hudson) que não aceitava a derrota de seu amado sul durante a guerra civil americana. Tão transtornado ficara com a perda da guerra que em um ato de profunda indignação resolve queimar sua propriedade, juntar tudo o que tinha e rumar para o México com a esperança de começar uma nova vida. Impossível não fazer uma analogia sutil com a própria carreira de Rock Hudson. Tal como o personagem de seu filme ele naquele momento era coisa do passado e deveria rumar para um novo destino. E tal como o sulista ferido ele realmente em pouco tempo deixaria o seu passado para trás (o cinema) e trilharia um novo caminho na carreira ao estrelar uma série de TV, em busca de um novo recomeço. Nunca o ditado "A Vida Imita a Arte" foi tão bem aplicado como nesse caso.
O Segundo Rosto
Ser galã pode se tornar um fardo. Que o diga Rock Hudson nos anos 60. O ator liderava todas as listas de popularidade e estrelava um sucesso após o outro. Ele estava no auge da popularidade em sua carreira no cinema. Foi então que em 1966 ele topou protagonizar um estranho roteiro de um filme mais estranho ainda dirigido por John Frankenheimer. Na verdade era a velha estória do galã tentando ser reconhecido como bom ator. O resultado foi o filme "O Segundo Rosto", um verdadeiro delírio cinematográfico que causou muita perplexidade na época de seu lançamento nos cinemas. O argumento é até simples: um homem de meia idade se cansa da mediocridade de sua vida e resolve mudar tudo, forjar sua morte, fazer uma cirurgia plástica e começar uma nova vida longe da anterior, tudo com a ajuda de uma estranha corporação. Rock interpreta o personagem após a mudança de sua identidade. Embora possa soar banal a estrutura dramática do filme o que realmente se sobressai é a maneira que o diretor escolheu para contar essa estória. Imagens distorcidas, sonhos se mesclando à realidade, devaneios e muita metalinguagem psicodélica marcam de forma muito surreal o resultado que assistimos. Na verdade essa película é uma verdadeira ET dentro da filmografia de Hudson, que sempre procurou trilhar o mainstream, evitando correr maiores riscos. Até é claro aceitar fazer esse alucinado roteiro. No meio da esquisitice dois momentos são marcantes: A atuação de Rock numa longa sequência de uma festa (onde ele estava realmente embriagado para parecer mais convincente no filme) e uma celebração onde várias pessoas aparecem nuas num grande tonel de fabricação caseira de vinhos. Essa cena inclusive é muito ousada, principalmente para os padrões morais do cinema americano dos anos 60. 'O Segundo Rosto' foi lançado oficialmente em Cannes. Rock e o diretor esperavam uma grande recepção, uma consagração total na França mas o resultado final não agradou e no final da exibição o filme foi vaiado pelo público. Rock que tinha comparecido na premiere ficou visivelmente constrangido pela reação negativa da plateia. Ele inclusive diria mais tarde que ficou completamente transtornado pois tinha grandes esperanças em seu êxito, falando inclusive em uma potencial palma de ouro. A realidade porém se mostrou implacável. A péssima acolhida em Cannes acabou repercutindo nos Estados Unidos e lá o filme acabou se tornando também um dos maiores fracassos do ano. Talvez o público ainda não estivesse pronto para um filme tão inovador. Anos depois Rock defenderia "O Segundo Rosto", tanto que chegaria tardiamente a receber alguns prêmios por sua atuação. De certo modo ele tinha razão em considerar esse um de seus grandes trabalhos. O tempo lhe deu toda a razão. Hoje o filme tem status de "cult", é debatido em escolas de cinema e tem o reconhecimento (tardio) da crítica especializada. Também é uma boa pedida para quem quiser conhecer o lado mais fora do comum da cinematografia sessentista. Quem assistir verá que o filme pode até não agradar a alguns, nem entusiasmar a outros mas certamente não irá deixar ninguém indiferente a ele.
A Espada de Damasco
Aventura das mil e uma noites produzida pelos estúdios Universal. Aqui não há grande segredo. A Universal realizava esse tipo de filme para as matinês, para um público jovem que frequentava o cinema no período matutino. Os filmes eram produções B, de baixo orçamento, com excesso de princesas, lutas de capa e espada e muita fantasia. Tudo isso se pode encontrar em "A Espada de Damasco". Na estória Rock Hudson interpreta um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível. Não há como negar que esse tipo de produção soa totalmente datada nos dias de hoje. Nada é muito bem cuidado em termos de cenário, figurino, roteiro e diálogos. Tudo aparenta ser bem falso, filmado com pouco dinheiro no quintal dos estúdios Universal. É um tipo de aventura ligeira que hoje em dia aparente ser por demais inocente e até sem muito nexo. Em um produção infanto-juvenil como esse "A Espada de Damasco" pouco coisa é ainda relevante nos dias de hoje mas gostaria de destacar o trabalho da simpática atriz Piper Laurie que empresta muito carisma ao resultado final. Fazendo uma princesa pouco convencional ela mantém o mínimo interesse em um argumento de teatro infantil. Em suma "A Espada de Damasco" não se sustenta nos dias de hoje, envelheceu e se tornou obsoleto. Só vale mesmo pela curiosidade de conhecer como eram os filmes das "Mil e Uma Noites" da Universal na década de 1950. Aqui realmente apenas a nostalgia e o saudosismo salvam o filme em uma revisão atual. O resto está ultrapassado pelo tempo.
Não Me Mande Flores
George (Rock Hudson) é um sujeito completamente hipocondríaco. Casado com a simpática Judy (Doris Day) ele vive criando doenças novas que só existem em sua cabeça. As coisas pioram quando visita seu médico particular e acaba se confundindo com um exame de outro paciente. Convencido que está com os dias contados e que tem poucas semanas de vida, George ao lado de seu vizinho e amigo Arnold (Tony Randall) decidem arranjar um novo marido para a esposa para que ela não passe pelo trauma de sua morte sozinha. “Não me Manda Flores” foi o terceiro e último filme da dupla Rock Hudson / Doris Day. Eles emplacaram grandes sucessos nos anteriores “Confidências à Meia Noite” e “Volta Meu Amor” e assim era natural que voltassem a atuar juntos. O filme é baseado numa peça de teatro escrita por Norman Barasch e Carroll Moore. O ritmo é ágil, hilariante e o roteiro muito bem escrito. Obviamente como a estória foi criada para ser encenado no teatro o filme se concentra bastante dentro da própria residência do casal, em três atos bem delimitados, com poucos cenários. Rock e Doris tinham uma química perfeita, eram grandes amigos. Esse tipo especial de entrosamento entre eles acabou passando para a tela. Curiosamente aqui Doris e Rock, pela primeira e única vez, contracenam como marido e mulher. Doris é a esposa perfeita da década de 60. Agüenta as esquisitices do marido e é em essência uma dona de casa que chega ao ponto de se espantar quando o marido lhe sugere que termine seus estudos para arranjar um emprego! Já o personagem de Rock é também um maridão típico daqueles anos, que vai todos os dias ao trabalho com o jornal da manhã debaixo do braço. O único diferencial é seu hipocondrismo sem limites. Tony Randall, interpretando o vizinho e amigo de George, passa o tempo todo embriagado, lamentando a morte precoce do colega, o que rende ótimas cenas de humor. “Não me Mande Flores” foi dirigido por Norman Jewison em começo de carreira. É curioso ver seu nome nos créditos pois Jewison criaria toda uma filmografia de filmes fortes nos anos seguintes, com temáticas instigantes e polêmicas, algo que destoa completamente dessa comédia romântica divertida e amena. De qualquer modo não há como negar que seu trabalho é muito bom, com ótimo timing entre as cenas, nunca deixando desandar para o chato ou tedioso. Só a lamentar o fato de que nunca mais Doris e Rock contracenariam juntos no cinema. De fato essa foi a despedida deles das telas. Melhor assim, se despediram com um bom filme que fechou com chave de ouro a trilogia que o casal rodou junto. “Não Me Mande Flores” foi um excelente final para essa carismática dupla que marcou época.
Pablo Aluísio.