segunda-feira, 14 de junho de 2010

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 1

Elvis estava relaxando e se recuperando em seu camarim, durante o período que antecedia o midnight show em Las Vegas durante o mês de fevereiro de 1971, quando recebeu um telegrama da RCA Victor assinado pelo executivo Harry Jenkins informando-o que os estúdios em Nashville estavam prontos para recebê-lo entre os dias 15 a 20 do mês seguinte para uma nova maratona de gravações. Assim que terminasse sua agenda de shows em Vegas Elvis teria que voar imediatamente para Nashville para gravar novas canções de estúdio para seu novo álbum. O texto também informava que a direção da RCA havia decidido que Elvis deveria gravar um novo disco com músicas natalinas e que para isso lhe seria enviado uma série de demos e discos de demonstração com canções desse estilo, entre as quais ele poderia escolher suas preferidas para compor esse seu novo trabalho.

Elvis, sentado em sua cadeira em frente ao espelho do luxuoso camarim estendeu a mão e deu o telegrama para Joe Esposito ler: "Dê só uma olhada nisso, Joe!" – disse balançando a cabeça em sinal de desaprovação. O desânimo era visível no semblante do cantor. Joe leu o teor da mensagem e compreendeu o motivo do desapontamento por parte de Elvis. "Bem Elvis, talvez eles saibam o que estão fazendo!" – disse Joe tentando amenizar a situação. "Duvido muito Joe! Sempre quando esses caras da RCA interferem em minha música eu sofro as conseqüências, recebo todas as críticas negativas, no final sempre pago o preço desse tipo de coisa sozinho!", desabafou o cantor. No fundo Elvis sabia que o velho fantasma de suas trilhas sonoras ridículas e impostas pelos estúdios durante os anos 60 sempre iriam macular seu status de artista e interprete relevante e receava que tudo voltasse agora, com um novo projeto totalmente fabricado pelos executivos de Nova Iorque.

Pessoas que, segundo a visão de Elvis, não sabiam nada de música! Gravar todos aqueles discos de filmes tinha sido um tremendo erro em sua passado e agora ser levado novamente a embarcar em um projeto do qual não acreditava trazia imediatamente à sua lembrança aquele período negro de sua carreira. Gravar um novo disco de natal, justamente agora que ele procurava produzir bons álbuns e apresentar bom material e de qualidade era um tremendo retrocesso em sua visão. Naquele momento Elvis estava disposto a não embarcar nesse projeto, a rejeitar a idéia dos executivos da RCA (afinal ele nem tinha sido consultado sobre isso!) e comunicar sua decisão ao Coronel Parker após o show. Não foi preciso. Em poucos minutos Parker entrava nos camarins para verificar se tudo estava bem com sua "propriedade". Encontrou um Elvis abatido e cabisbaixo, sem o ânimo necessário para alguém que iria enfrentar um show em poucos minutos.

Parker mandou os membros da Máfia de Memphis saírem para deixá-lo a sós com o deprimido superstar. "O que está havendo Elvis?"- disparou Parker sabendo muito bem que o cantor não se encontrava em um bom estado emocional naquele momento. "A velha história se repete Coronel...Os caras da RCA querem que eu grave um novo disco de natal. Eu não quero gravar mais canções de natal, simplesmente não dá mais para gravar esse tipo de coisa. Por quê não editam novamente o disco dos anos 50?" – perguntou Elvis. Tom Parker sentou-se ao lado de Elvis e vendo que a situação poderia lhe fugir ao controle começou a expor seus argumentos ao seu pupilo: "Elvis, isso não é uma coisa tão séria assim para você se preocupar, sabe? Eles estão com a razão. Não há mais como relançar novamente o Elvis Christmas Album depois de todos esses anos.

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de junho de 2010

Elvis Presley - Double Features II

Spinout / Double Trouble é melhor, com não menos que 11 notáveis que se sobressaem das 18 músicas. Se "Stop, Look And Listen" é somente um fac-símile tolo de rock' n' roll, "Adam And Evil" é o puro rock. Já "All That I Am", a primeira canção que Elvis gravou com acompanhamento de violinos, é uma grande balada, um verdadeiro prazer sem culpas (e um grande hit na Europa). "Never Say Yes" é um lixo, mas "Am I Ready" é uma balada que provavelmente você nunca escutou antes, ou passou batido quando viu o filme. Escutá-la após estes anos todos, é sentir que ela está imaculada e bela. Mas, como este é um caso daquele tipo de arte com altos e baixos, a próxima faixa, "Beach Shack" é horrenda. "Spinout" a musica título é fraca, mas após tanta repetição, agora em 1995, me parece bem melhor.

A parte Spinout do disco termina com uma música, da qual simplesmente não consigo dizer o bastante sobre ela — K. D. Lang terminou sua grande tournée americana de 92 com "I 'll Be Back". Por mais que eu procurasse essa música não a encontrava, até agora. Escondida nesta colcha de retalhos musical, "I 'll Be Back" é como um original de Monet perdido numa pilha de reproduções. Sem discussão, é o melhor momento de Elvis num filme musical, pós-exército. Não consigo parar de tocá-la e depois da 20º audição, torna-se uma experiência religiosa. Estarei obcecado?

A porção Double Trouble do disco, mesmo sem conter nada nem remotamente similar a "I 'll Be Back", é surpreendentemente livre de chatices. Mostra as várias vozes de Elvis em múltiplas situações. A faixa-título "Double Trouble" é outro prazer sem culpas. "Baby lf You'll Give Me Ali Of Your Love" é um rock incendiário! As três seguintes: "Could I Fall ln Love" "Long Legged Girl (With The Short Dress On)" e "City By Night" provam que, não importa o quanto Elvis tenha se tornado irrelevante na época, ele ainda podia ser capaz de emocionar. Então, tudo cai por terra com a terrível "Old MacDonald". Engraçado, mas mesmo na mais mortificante das canções, Elvis permanece bem e dá tudo de si. Em seguida, a igualmente embaraçante marcha, "I Love Only One Girl", antes das 2 últimas faixas deixar tudo a salvo, satisfatoriamente. "There Is So Much World To See" e "It Won't Be Long" são o tipo de canções sexy de Las Vegas, que somente Elvis pode torná-las agradáveis.

O último Double Feature, na verdade, contém músicas de três filmes, Kissin' Cousins / Clambake / Stay Away Joe. Com suas 24 faixas durando 54:56, é o mais longo dos três, mas em compensação, apenas cinco delas mantém o interesse. O produtor Sam Katzman era conhecido em Hollywood como "O Rei da Rapidez". Foi quem conduziu a carreira fílmica de Elvis! E pensar que ele teve no seu currículo grandes performances cinematográficas, como em Love Me Tender, Jailhouse Rock e especialmente King Creole, onde provou que poderia ser James Dean por um dia, terminar fazendo Kissin' Cousins!? Que pena! De fato, estou convicto que Barbra Streisand poderia ter salvo a carreira de Elvis no cinema, quando ela foi nos bastidores naquela noite em Las Vegas e ofereceu a Elvis uma participação em A Star Is Bom ao seu lado, um papel no qual ele estaria muito bem, e que ele estava querendo fazer, até seu empresário Parker recusar.

Alguns dizem que ele não queria deixar seu garoto interpretar um derrotado. Outros dizem que a questão foi dinheiro. Outros ainda afirmam que Parker não permitiu que Elvis recebesse menos que Streisand. Qualquer que seja a razão, Kris Kristofferson ganhou o papel e Elvis se afundou na sua mistura de pílulas, mulheres, música ruim e misticismo religioso da nova era, que o fascinou até a morte. Não há muita música para se comentar nesta hora opaca. Mais marchas ruins, mais uma dose de country-music de mau-gosto ("Barefoot Ballad"), que, sem conseguir, tentou reacender um pouco das glórias passadas. Mas tem as cinco canções já mencionadas. "Once Is Enough" é abrilhantada por um vocal perfeito de Elvis. Pelo menos, a letra não é estúpida e tem até uma melodia discernivel! "Kissin' Cousins" é assumidamente burra, mas não posso evitar gostar de seu fraseado tipo pára-e-continua e sua intensa alegria. "You Dont Know" já foi cantada por diversos intérpretes mais notadamente por Ray Charles e Eddy Arnold — mas ouvi-la com Elvis, é uma completa emoção. "The Girl I Never Loved" é uma canção forte, com versos fortes e cantada convincentemente. "How Can You Lose What You Never Had" tem um balanço macho, que é tanto blues quanto rock! Mas, é isto ai.

Rock in Portfólio.

Elvis Presley - Double Features I

O relançamento remasterizado de 7 trilhas sonoras de Presley em 3 discos — intitulados Elvis Double Features pela primeira vez em CD, podem fazer os fãs vibrarem com o som superior e gemas ocasionais (como "I ll Be Back" de Spinout), ou se angustiar com o que deve ter sido artisticamente frustrante para o próprio cantor. Pense. Aqui está Elvis, que colocou o mundo em chamas nos anos 50, posto para cantar "Old MacDonald Had A Farm" nos anos 60, em filmes estúpidos, enquanto que grupos como Beatles e Rolling Stones admitindo que Elvis era o maior — estabeleciam novos padrões musicais. Preso aos contratos de seu empresário Tom Parker, por milhões de dólares, Elvis foi ficando mais rico a cada filme, enquanto morria artisticamente.

O primeiro Elvis Double Feature, com Frankie And Johnny / Paradise Hawaiian Style, é um CD com 49:07 e 22 faixas que mostram o abismo onde o grande artista caiu. Existem 5 preciosidades absolutas embutidas: a faixa título, "Frankie And Johnny", abrasiva com seu som Dixieland. Rodado em New Orleans, é lamentável que as 12 canções deste filme não tenham absorvido mais a cena musical local. Elvis lamenta! Cada verso é construído com intensidade e nos seus escassos 2:23, as numerosas repetições ecoam uma magia mais ampla. Idem para a seguinte, "Come Along", 1:52 de puro prazer. Então, vem o desastre. Será "Petunia, The Gardener's Daughter" a pior música que Elvis já cantou? Provavelmente não, porque ela foi salva pelo balanço de New Orleans. "Chesay" é bem pior e "What Every Woman Lives For" não é apenas terrível, mas francamente insultuosa. Com melancólica misogenia, diz que a mulher é realmente boa se "for para dar seu amor a um homem". "Look Out Broadway" é igualmente ruim. Melosa e maliciosa chega a perguntar: "se ele lhe der um diamante, o que você dará a ele?"

Perceba que a voz de Presley era um instrumento tão quente e expressivo, que escutá-la pode ser o jeito de se descobrir sobre como ele se sentia na época, e estas faixas, mesmo ruins como são, para um fanático por Elvis, são fascinantes. "Begginer's Luck" é a terceira gema. Lembrando trilhas sonoras melhores como G.I. Blues ou Blue Hawaii, esta terna balada tem fluidez. Infelizmente, ela precede uma marcha. Uma marcha! Como aficionado a Elvis por 35 anos, posso dizer sem hesitação que entre todos os gêneros musicais do universo — com exceção do já mencionado "G.I. Blues" — Elvis soava mais desconfortável cantando marchas. E algum estúpido decidiu fazer uma marcha, misturando "Down By The Riverside" com "When The Saints Go Marching In" — atirando Elvis numa horrível estrutura rítmica, salva no fim, quando muda para ragtime. "Shout It Out" é um exemplo, de como aqueles lacaios de Hollywood, tentaram substituir seu grito rebelde de rock' n' roll original, por uma batida pegajosa e sem valor, supervalorizando os efeitos percussivos, ainda que Elvis a cante corretamente.

Acho que ele sabia, assim como nós, que sempre existirão aquelas poucas gemas, onde valerá a pena enfiar a cara, como na que se segue: "Hard Luck" é um blues pesado, no qual ele se entrega com uma paixão que não se ouve em qualquer lugar. A metade Frankie & Johnny do disco, termina numa levada "para cima" em ritmo de ragtime. A psicologia de bastidores que transformou o Rei do Rock' n' Roll numa marionete de compositores, argumentistas, diretores e produtores, é um enigma da cultura pop que talvez jamais seja solucionado. E fácil apontar para Tom Parker, o homem que ajudou Elvis a alcançar o superestrelato. Parker, na sua visão limitada, optou todas as vezes pelo dinheiro rápido. Presley quase o despediu em uma ocasião, mas em última análise, ele era tão leal quanto um velho perdigueiro.

Minha teoria é que Elvis racionalizou a sua ascenção: "Odeio esta droga, mas até que não tem sido tão ruim assim. Faço filmes em Hollywood. Tenho meus amigos de Memphis comigo o tempo todo. Tenho garotas a cada noite da semana. Recebo minha 'medicação' para me fazer sentir bem. Então, se devo cantar estas músicas horríveis, e dai? É um trabalho para se viver." A porção Paradise Hawaiian Style do disco é ainda pior. Enquanto Frankie & Johnny tem 5 faixas fortes em 12, Paradise... não tem nenhuma em 9. Na faixa-titulo, Elvis canta um verso estúpido, "puxa, é bom estar no 50º estado". Procedido por um material havaiano tão falso, banal e embaraçoso, que Elvis deve ter se entupido de medicação para poder gravá-lo. O divertido é que ele sabia o quanto era ruim. Há uma versão engraçada de "Datin" numa caixa editada em 1980, onde depois de dezenas de tomadas de gravação, ele ainda não consegue cantá-la sem rir do que estava fazendo. Apenas não conseguia parar de rir! Claro, seu senso de humor é lendário, mas aqui é contagiante. O ouvinte não consegue evitar de rir junto com ele. Pena que a versão escolhida pela RCA para este Double Feature, é uma que ele consegue cantar do começo ao fim. O resto do material sequer é digno de menção.

Rock in Portfólio.

sábado, 12 de junho de 2010

Elvis Presley - Minhas Três Noivas

Em 1966 Elvis Presley completou dez anos de carreira em Hollywood. Os executivos da MGM então resolveram elaborar um intenso projeto de marketing para celebrar a data com muito material promocional, posters, álbuns, comerciais, folders etc. No centro das comemorações estava a realização de mais um filme de Elvis na produtora: Spinout (Minhas três noivas, no Brasil). As filmagens começaram em fevereiro de 1966 e duraram dois meses. Para contracenar com Elvis foram chamadas três beldades da época: Shelley Fabares (que já havia atuado ao lado de Elvis), Debora Walley (que chegou a ter um casinho com Elvis no set de filmagem) e Diana McBaine. Na direção o "pau-pra-toda-obra" dos estúdios Norman Taurog.

Infelizmente os executivos da MGM não quiseram se arriscar e resolveram apostar na velha fórmula dos filmes anteriores de Elvis, que já estavam bastante desgastados pela crítica e até mesmo pelos fãs, que vinham exigindo atráves do fanzine "Elvis Monthly" mudanças na carreira de Elvis. Ou seja, muitos fãs estavam mais lamentando esse "aniversário" do que comemorando tal data. A falta de inovação da carreira de Elvis o levou a um impasse: ele tinha que mudar o rumo que vinha tomando há tempos ou afundaria de vez e se tornaria apenas uma "lenda viva" sem relevância artística. Os primeiros sinais já tinham aparecido no ano anterior com as más bilheterias de seus últimos filmes. O público estava cansado dos mesmos roteiros, das mesmas estórias e o pior de tudo: da má qualidade do material musical apresentado nesses filmes. E Elvis tinha consciência disso, porém preso a muitos contratos cinematográficos desde a primeira metade dos anos 60 o cantor se viu amordaçado não só aos grandes estúdios como também à sua própria gravadora que lançava todas as trilhas sonoras - e que por sua vez também estava presa à obrigações com os estúdios de cinema.

Por incrível que isso possa parecer a melhor coisa a acontecer na carreira de Elvis nesse período era um grande fracasso no cinema! E o que todos de certa forma já previam finalmente aconteceu! Spinout foi lançado em novembro de 1966 e afundou nas bilheterias! Nem todo o marketing do mundo o salvou de ser um dos piores fracassos da carreira de Elvis! Até mesmo os fãs resolveram boicotar o lançamento e isso acabou sendo muito bom, pois acendeu de vez a luz vermelha nas organizações Presley - não dava mais para seguir essa velha linha "Trilha / Filme". Para se ter uma idéia do tamanho da bomba, basta afirmar que o filme não conseguiu ficar nem entre os 50 mais vistos do ano - logo Elvis que mesmo em suas bilheterias mais fracas conseguia ficar no top 10 ou até mesmo no top 20. O ano que viria apenas iria corroborar essa visão e tudo isso iria desbancar na realização do NBC TV Special de 68 que iria reviver a carreira de Elvis e o levar de uma vez por todas para longe de Hollywood, para o seu próprio bem e dos seus fãs, é claro!

Spinout (S.Wayne / B. Weisman / D. Fuller) - Ao contrário do filme, que é destituído de valor artístico, a parte musical de Spinout traz pela primeira vez em muitos anos de trilhas sonoras fracas, uma seleção bastante interessante de momentos e até mesmo algumas músicas excelentes da carreira de Elvis - "Down in the Alley", "I'll Remember You" e "Tomorrow is a long Time" de Bob Dylan. Isso se deveu a um fator que ocorreu nos bastidores da RCA Victor em 1966. Por motivos de saúde o produtor de Elvis, Chet Atkins, teve que se afastar dos estúdios. Isso abriu caminho para que os trabalhos musicais de Elvis fossem providenciados por um novo produtor: Felton Jarvis. Ao contrário de Atkins, que apesar de ser um produtor e músico talentoso estava muito acomodado, Jarvis chegava com muita vontade de mostrar serviço. Resolveu embelezar as músicas de Elvis com novos arranjos e lhes dar maior qualidade harmônica, mesmo que essas fossem apenas canções descartáveis de filmes. Enfim, finalmente havia um sopro de ar fresco pairando dentro dos estúdios da RCA Victor.

All That I Am - (S. Tepper / R.C. Bennett) - A prova viva de que Felton Jarvis vinha para ficar! Nesse caso o produtor pegou uma música despretensiosa que fazia parte da trilha e resolveu escrever um belíssimo arranjo de cordas em violino! A nova versão ficou tão bela que, com a concordância de Elvis, Jarvis resolveu lançá-la em single antes do filme. O resultado foi tão satisfatório que a música chegou ao Top 20 na Inglaterra, se tornando também bem conhecida no resto da Europa. Nesse compacto europeu ela foi lançada como lado A, ao contrário do single americano original que vinha com "Spinout" no lado principal e com "All That I am" no lado B. O disco com a trilha sonora se saiu melhor que o filme e conseguiu também ser Top 20 nos EUA (18º lugar entre os mais vendidos). Um excelente sinal de mudanças positivas nas combalidas trilhas sonoras de Elvis nesse período.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Coração Rebelde

Um ano após deixar o exército Elvis Presley deu seguimento ao seu plano de se tornar um ator respeitado em Hollywood. Depois de fazer concessões aos estúdios com G.I.Blues Elvis se sentia forte o suficiente para exigir certo controle artístico sobre sua carreira no cinema. O chefão da Fox, Darryl F. Zanuck, já havia dado carta branca a Elvis para ele escolher o roteiro que quisesse para seu próximo filme no estúdio. Então Elvis foi à caça de uma boa estória para ser filmada. Depois de ler pilhas de scripts e roteiros Elvis escolheu "Wild in The Country", uma adaptação de uma peça teatral que havia sido escrita para ser estrelada pelo ator Montgomery Clift. Infelizmente antes das filmagens programadas Clift sofreu um sério acidente de carro ao sair da casa de Elizabeth Taylor e teve o rosto completamente desfigurado pelo painel de seu carro.

Com isso o projeto do filme foi arquivado. Ao cair nas mãos de Elvis no verão de 1960 o rei do rock se entusiasmou pelo roteiro e pela chance de finalmente fazer um filme com conteúdo mais dramático. Para Elvis esse filme deveria ser filmado de forma fiel à adaptação da peça teatral. Com a aprovação de Darryl F. Zanuck o projeto começou a tomar forma com a contratação do conceituado diretor Phillp Dune e a escalação das atrizes Hope Lange, Tuesday Weld e Cristina Crawford. Tudo ia bem até o dia em que o coronel Parker resolveu ler o teor da estória do novo filme de Presley. Parker ficou chocado com o que leu!

Em primeiro lugar a estória era completamente dramática com final trágico - Elvis faria um personagem que se envolvia com uma mulher mais velha, não haveria músicas e o pior: Elvis se suicidaria no final! Uma coisa inaceitável na visão de Tom Parker, sempre preocupado com a imagem de seu principal (e único) cliente! Atuando pelas costas de Elvis o coronel começou a tomar as rédeas do projeto: o final foi mudado por um grupo de roteiristas contratados pelo empresário, o romance entre Elvis e uma mulher mais velha foi suavizado e foi encaixada diversas músicas dentro do filme (no roteiro original o personagem principal nem sabia cantar!). Elvis ficou completamente desapontado pois o filme agora se aproximava cada vez mais de sua comédias bobocas! Tudo em que havia apostado agora estava indo por água abaixo! Tentou vencer a queda de braço com Parker e Zanuck mas não conseguiu, principalmente depois que o diretor Phillip Dune resolveu ceder às pressões comerciais envolvidas na realização da película.

Assim Elvis se viu totalmente sozinho na defesa do roteiro original que havia lido. Finalmente o presidente da Fox se reuniu com Elvis e demonstrou que as mudanças seriam mais benéficas ao sucesso do filme. Elvis resolveu então tentar salvar o que restava do script mas não obteve êxito em um set completamente controlado pela mão forte do todo poderoso magnata Darryl F. Zanuck. Finalmente acabou cedendo as pressões, com um forte sentimento de frustração e decepção com a maneira de fazer filmes em Hollywood. E assim "Coração Rebelde" se tornou um filme sem identidade própria, um mistão indigesto que tentava colocar sob o mesmo teto conceitos teatrais complexos com romances inventados na última hora para suavizar a forte densidade melodramática da trama.

E também se tornou o adeus de Elvis às suas pretensões de exercer uma atividade de ator independente de sua carreira musical, principalmente depois do sucesso arrasa quarteirão do filme "Feitiço Havaiano", que chegou nas telas nesse mesmo ano. E a fusão desse dois fatores: o sucesso de "Feitiço Havaiano", comédia musical leve cheia de canções, e o relativo fracasso de "Coração Rebelde", filme com pretensões mais sérias, iria determinar como seria a futura carreira de Elvis no cinema, onde ele não iria mais sair do esquema imposto pelos grandes estúdios, das comédias musicais românticas. Era o fim do sonho de Elvis em se tornar um novo Marlon Brando ou James Dean. Será que se tivesse tido a oportunidade ideal, Elvis teria se tornado um grande ator? Nunca saberemos ao certo, infelizmente.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Elvis Presley - Spinout - Parte 3

7. Spinout
(Ben Weisman / Dolores Fuller / Sid Wayne) - Se o lado A do álbum "Spinout" não conseguia sair muito do lugar comum de suas últimas trilhas sonoras, o lado B trazia algumas preciosidades. Essa canção título do filme foi inexplicavelmente jogada para abrir o lado B do disco, algo que surpreendeu aos fãs pois a tradição nas trilhas de Elvis era a música título do filme abrir o disco. Era algo que vinha desde a primeira trilha sonora de Elvis ainda nos anos 50. Não considero essa música muito boa, para falar a verdade mostrou-se uma das mais fracas dos anos 60. Será que os produtores meio que a esconderam no lado B justamente por causa de suas poucas qualidades sonoras? É uma possibilidade.

8. Smörgåsbord (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Essa trilha sonora de Elvis enfrentou alguns problemas no mercado inglês. Isso porque algumas expressões simplesmente não faziam sentido aos ouvidos ingleses. A própria palavra "Spinout" soava ruim aos britânicos. Agora imagine essa palavra chamada "Smörgåsbord"! Os ingleses que sempre consideraram os americanos uns matutos sem sofisticação devem ter coçado a cabeça para entender o que diabos isso significava. Curiosidades linguísticas à parte até que essa canção não é de se jogar fora. Gosto de seu ritmo e refrão pegajoso. Ouviu uma vez, não esquece mais.

9. I'll Be Back (Ben Weisman / Sid Wayne) - Fechando a parte da trilha sonora do álbum temos essa "I'll Be Back". Já li muitos elogios para essa canção, mas sinceramente considero muitos deles exagerados. Não quero ser interpretado de forma equivocada, "I'll Be Back" é sem dúvida uma boa música, diria mesmo muito acima da média das demais presentes na trilha desse filme, porém não é tudo aquilo que dizem e escrevem sobre ela. Considero Ben Weisman um escritor competente que foi muito criticado em sua parceria com Elvis Presley e por isso deixarei o julgamento final a cada ouvinte. Ouça e tire suas próprias conclusões. 

10. Tomorrow is a Long Time (Bob Dylan) - Essa é a primeira bonus song do álbum e o primeiro grande momento do disco. Durante anos as pessoas ficaram sem entender porque Elvis Presley gravava tanta bobagem, sendo que na mesma época os grandes compositores americanos imploravam para que ele gravasse suas músicas. Dylan foi um deles. Considerado um dos maiores nomes da música daquele período, tinha esse velho sonho de um dia Elvis vir a gravar algumas de suas canções. O sonho se tornou realidade com essa faixa, "Tomorrow is a Long Time". Bob Dylan a gravou inicialmente em 1963, em um disco ao vivo. A música chegou a Elvis através de seu músico e amigo Charlie McCoy, que inclusive já havia trabalhado ao lado de Dylan antes. Assim que ouviu a faixa Elvis decidiu que a gravaria. Isso foi em maio de 1966 e inicialmente a RCA pensou em lançar a gravação em um single, o que teria sido uma grande ideia. Pena que mudaram de opinião e a resolveram encaixar aqui no lado B de "Spinout" onde acabou ficando obscurecida, não tendo a devida atenção que merecia. Esqueça esse erro histórico e não deixe de ouvir a faixa, considerada nos dias de hoje uma preciosidade,  um dos melhores momentos de Elvis no estúdio durante os anos 1960.

11. Down in the Alley (Jesse Stone) - Outra jóia perdida da discografia de Elvis Presley. "Down in the Alley" é mais um blues que criminosamente foi jogado para escanteio pelos produtores de Elvis. Uma canção relevante, lindamente gravada, com ótimo entrosamento vocal que foi desperdiçada completamente dentro de sua discografia. Não merecia surgir no mercado como mera bonus song de "Spinout". De qualquer maneira Elvis adorava a música, tanto que a tentou promover até mesmo anos depois, já em Las Vegas, numa forma de resgatar esse ótimo momento obscuro de sua vida nos estúdios.

12. I'll Remember You (Kui Lee) - "I'll Remember You" foi muito importante para Elvis em 1973. Foi uma das faixas mais promovidas e divulgadas em seu "Aloha From Hawaii", justamente porque seu autor, Kui Lee, deu nome a uma fundação que seria ajudada com os lucros do famoso show via satélite de Elvis. Todos certamente conhecem a versão ao vivo de Presley naquele momento tão importante de sua carreira. Curiosamente poucos conhecem a versão de estúdio, essa aqui mesmo que foi lançada como última bonus song de "Spinout". Bela gravação com Elvis em pleno domínio vocal e ao contrário das faixas da trilha sonora, lindamente gravada, sem máculas, em um registro perfeito.

Elvis Presley - Spinout (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore (guitarra)  / Tommy Tedesco (guitarra)  / Tiny Timbrell (guitarra)  / Floyd Cramer (piano) / Charlie Hodge (piano) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Data de gravação: fevereiro de 1966 exceto "Tomorrow is a Long Time" e "Down in the Alley", gravadas em maio de 1966 e "I'll Remember You" gravada em junho de 1966 / Data de lançamento: outubro de 1966 / Melhor Posição nas Paradas: #17 (Reino Unido) #18 (Estados Unidos).

Pablo Aluísio e Erick Steve.

Elvis Presley - Spinout - Parte 2

Stop, Look and Listen
(Joy Byers) - A canção que abre o álbum. Sempre gosto de afirmar que Joy Byers compôs algumas das melhores canções da carreira de Elvis nos anos 1960, período muito complicado para ele, que foi colocado para cantar algumas porcarias enlatadas impostas pelos estúdios de cinema. Assim Byers funcionava como um alívio, pois suas composições, se não eram geniais, pelo menos surgiam acima da média do que ele vinha gravando. Essa "Stop, Look and Listen" é uma tentativa de trazer algum conteúdo roqueiro aos discos de Elvis, que se notabilizavam mesmo por essa época pelas baladas e músicas pop. Não é de toda ruim, embora a ache mal equalizada, mal gravada (característica que pode ser atribuída aliás a todas as faixas da trilha sonora "Spinout", infelizmente).

Adam and Evil (Fred Wise / Randy Starr) - Outra canção mais agitadinha. No filme pelo menos Elvis surge em boa cena, com um figurino azul e preto em um quadro esteticamente muito interessante (muito embora o trash também esteja lá, quando um dos membros de sua banda dá uma de faquir seduzindo uma cobra de pano!). A versão apresentada no filme é ligeiramente diferente da do álbum, com mais solos de bateria. Em termos de letra esqueça, é uma tremenda bobagem.

All That I Am (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Uma das músicas mais celebradas da trilha sonora. Sid Tepper esclareceu nos anos 70 que a canção não havia sido composta especialmente para Elvis e nem para o filme. Só depois quando foi contactado pelo estúdio é que ele resolveu oferecer a canção para fazer parte do disco. Isso talvez explique porque ela é tão bem composta, com ótima melodia. O belo arranjo de violinos também soma muito em seu excelente resultado final. Um oásis de qualidade no meio do deserto de músicas fracas de "Spinout".

Never Say Yes (Doc Pomus / Mort Shuman) - Na volta de Elvis do serviço militar a dupla Doc Pomus e Mort Shuman logo se tornou a principal da carreira do cantor. Não é para menos, pois eles eram realmente ótimos, tanto nas letras como nas melodias. Infelizmente como era de se esperar foram colocados de lado por Tom Parker que começou a considerar a dupla cara demais para trabalhar com Presley. Assim eles foram empurrados sem muita cerimônia para a geladeira. Para surpresa de muitos ressurgiram timidamente aqui na trilha de "Spinout". A canção é fraca, parece que foi vendida pela dupla propositalmente assim. Algo no estilo "pelo preço que vocês querem pagar só podemos oferecer músicas desse nível".

Am I Ready (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Outra bela balada de Tepper e Bennett. Embora fossem contratados da Paramount Pictures, onde compuseram vasto e bom material para os filmes de Elvis, eles também vendiam suas criações por fora, como freelancers, principalmente após 1964, quando se desligaram oficialmente da Paramount. Essa música não chega a ser tão bela como "All That I Am" mas forma com essa a melhor parte da trilha sonora. Infelizmente o arranjo deixou a desejar, principalmente por não ter sido tão embelezada como a outra balada. De uma forma ou outra mantém o interesse e conta com belo trabalho vocal de Elvis Presley, relembrando seus melhores momentos por volta de 1960 e 1961, quando seu estilo de cantar era muito mais suave e terno.

Beach Shack (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - Um verdadeiro lixo! Muitos fãs de Elvis ficam irritados quando alguém afirma que Elvis gravou lixo cultural em sua carreira! Ora, isso é uma afirmação verdadeira! Ele só gravou lixo? Obviamente não, claro que não, mas ele gravou sim grandes porcarias, não há como negar. Pensem sob um contexto histórico. Quando Elvis gravou essa trilha sonora ele já era um homem com mais de 30 anos, não um adolescente boboca! Apenas um cantor teen, desses bem rasteiros, gravaria algo desse tipo. Triste momento para um dos grandes talentos da música mundial que via seu talento ser explorado e colocado a serviço de lixos como esse.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Elvis Presley - Spinout - Parte 1

Em 1966 chegou nas lojas o álbum, ou melhor dizendo, a trilha sonora que celebrava os dez anos de Elvis Presley em Hollywood. Nem é preciso dizer que foi uma festa bem sem graça. Os fãs reclamavam há anos e pediam a volta de Elvis aos palcos, a gravação de bons discos de estúdio e mudanças em sua carreira, mas as organizações Presley se recusavam a mudar. Todo ano a mesma coisa, três filmes, três trilhas sonoras, vendas ruins e críticas negativas para todos os lados. O álbum "Spinout", apesar da recepção com muita má vontade, nem era tão ruim como os anteriores. O filme era um genérico de "Viva Las Vegas", com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. As músicas, por outro lado, se mostravam superiores ao que vinha sendo lançado com Elvis, muito embora acompanhada novamente daquele lote de bobagens que todos os fãs de Presley já estavam acostumados.

O disco pode ser dividido em duas partes bem distintas. O material do filme em si, que é caracterizado por uma certa irregularidade, e as chamadas "bonus songs", canções que não faziam parte do filme, mas que eram encaixadas nos discos para que eles não fossem muito curtos. A trilha sonora propriamente dita tem altos e baixos. Há canções medonhas de ruins como "Beach Shack", ao lado de músicas medianas ao estilo "All That I Am", além de pequenas preciosidades como a subestimada "I'll Be Back". O material foi composto por bons compositores como a dupla Sid Tepper e Roy C. Bennett, o sempre bom Joy Byers e até mesmo os excepcionais Doc Pomus e Mort Shuman, que infelizmente comparecem com apenas uma faixa. Graças aos deuses musicais os produtores resolveram colocar o trio calafrio Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye de lado e eles aparecem também com apenas uma canção, e pra variar a pior de todas, um verdadeiro lixo cultural.

Outro aspecto que merece menção é a falta de qualidade técnica das gravações. "Spinout" é considerado um dos discos mais mal equalizados da carreira de Elvis, talvez só superado por "Double Trouble" que parece ter sido gravado na garagem de alguém. Não dá para entender porque a RCA já não se importava mais com a qualidade das gravações daquele que havia sido seu maior nome até pouco tempo atrás. Ao que tudo indica os profissionais da gravadora simplesmente lavaram as mãos, deixando tudo para lá e como os discos já não vendiam mais tão bem, deixaram tudo para o "Deus dará"! Assim que se coloca o vinil original americano para tocar o ouvinte percebe a falta de capricho nas faixas. A banda já não soa tão afinada como antes e Elvis parece transparecer desleixo em seus vocais, algo impensável para quem vinha acompanhado Presley por longos anos, onde seus álbuns sempre se destacavam pelo bom gosto e cuidado nas gravações.

Alguns membros da Máfia de Memphis confirmam que Elvis ficou até mesmo abalado quando ouviu o disco pela primeira vez. Ele obviamente acusou Tom Parker de mandar mexer nas matrizes mas nada fez para parar essa interferência indevida. Chegou a dizer que ficava fisicamente doente quando descobria que um trabalho com seu nome saía mal feito, mal realizado. Some-se a isso os problemas no cinema e você terá uma ideia da imensa frustração profissional que ele vinha sentindo por essa época. A única salvação do disco vem mesmo das bonus songs, três belas canções em gravações impecáveis. "Tomorrow is a Long Time" de Bob Dylan, "Down in the Alley" de Jesse Stone e  "I'll Remember You" de Kui Lee, são maravilhosas. Gravadas numa sessão em maio (e junho) de 66, estavam arquivadas, sem a RCA saber o que fazer com elas. Acabaram enfiando aqui para amenizar a má qualidade do material do filme. 

Como o público já vinha ficando aborrecido com os rumos da carreira de Presley o disco ao ser lançado novamente se tornou uma decepção nas vendas, a tal ponto que pela primeira vez em sua carreira Elvis tinha sido deixado de lado pela filial brasileira da RCA Victor que simplesmente desistiu de lançar o álbum comercialmente por aqui por causa do fracasso de vendas nos Estados Unidos. E o mesmo aconteceu com vários países europeus, mostrando o grau de declínio que o antigo astro vinha passando em sua carreira, tanto no mundo do cinema como no mundo fonográfico. Como disse certa vez um articulista americano, se Elvis tivesse morrido em 1966 ou 1967, ele seria retratado como um dos maiores cantores de todos os tempos que havia desaparecido das paradas e se tornado um artista completamente irrelevante para a arte em geral. Como sabemos isso felizmente não aconteceu e em 1968 ele finalmente se levantaria do mundo dos mortos do show business para reviver novamente dias de glória na sua carreira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Clambake - Parte 1

No começo de janeiro de 1967 o Coronel Parker recebeu um telefonema desesperado. Era Vernon. Ela ligou ao empresário de Elvis com um pedido: que ele arranjasse logo um novo filme para Elvis estrelar porque ele vinha numa orgia de gastanças que estava destruindo todas as suas economias. Vernon era um notório pão duro e ficou horrorizado ao receber as últimas contas de seu filho. Elvis, que sempre foi um conhecido mão-aberta andava exagerando realmente. Ele tinha um novo hobby, um rancho nos arredores de Memphis e estava gastando furiosamente em cavalos, materiais, automóveis e acessórios em geral para o lugar. Era algo sem freios. Para se ter uma ideia Elvis colocou na cabeça que cada membro da Máfia de Memphis teria que ter tudo o que ele tinha naquela rancho. Assim se Elvis tinha um cavalo, todos deveriam ter também seus próprios cavalos. Se Elvis tinha um trailer equipado, todos também deveriam ter um veículo como aquele. Se Elvis tinha um traje completo de cowboy, próprio para o lugar, todos também deveriam estar devidamente equipados. Tudo, claro, pago pelo próprio bolso de Elvis.

O problema é que a carreira de Elvis derrapava. Seus discos já não vendiam bem, as bilheterias de seus filmes decaíam a cada ano e ele não mais realizava shows ao vivo. Não havia mais tanta grana como antes. Elvis porém se indignava quando Priscilla ou Vernon reclamava de seu estilo de vida perdulário. Elvis respondia que o dinheiro era dele e ele gastaria do jeito que bem entendesse. Por essa época Priscilla também começou a se aborrecer pelo fato de Elvis viver sempre ao lado de sua turma, como se fosse um garoto no colegial. Ela tinha esperanças de ter uma vida de casal ao seu lado, para que eles pudessem viver momentos românticos a dois, de mãos dadas pelos campos. Elvis porém enchia seu rancho de gente e estava sempre ao lado dos caras da Máfia de Memphis, que na verdade eram uns caipiras que pouco ligavam para seu romance ao lado da namorada. Elvis também não parecia se preocupar com isso. Os membros da Máfia de Memphis contavam piadas sujas e isso destruía qualquer possibilidade de criar um clima romântico entre eles. Por essa razão Priscilla foi ficando cada vez mais decepcionada com seu comportamento. Ela tinha razão em querer passar mais tempo com Elvis a sós e não ao lado de um bando de caras como aqueles.

De uma forma ou outra o Coronel Parker acabou arranjando um filme para Elvis na United Artists. O roteiro, escrito às pressas por Arthur Browne Jr, não trazia novidades. Era uma derivação de outros filmes passados de Elvis, com muitas garotas, praias e bikinis. Assim que leu o script Elvis deixou claro que havia odiado tudo - as cenas estúpidas, a falta de conteúdo e a precariedade de argumento. De fato era mais uma bobagem adolescente que para um homem como ele, que já havia ultrapassado os trinta anos de idade, soava como algo completamente imbecil e inoportuno. Pressionado pelos gastos porém Elvis cedeu. Ele odiava o fato de ter que voltar para Hollywood para fazer algo assim, ter que gravar mais uma daquelas horrorosas trilhas sonoras cheias de canções ruins. A necessidade porém de colocar as suas contas em dia o fez engolir suas próprias opiniões e Elvis então rumou em direção à costa oeste. Vernon ficou aliviado pois assim ele deixaria o rancho de lado, pelo menos temporariamente.

Antes de entrar no set de filmagem porém Elvis tinha que gravar a trilha sonora. Em fevereiro daquele mesmo ano ele chegou desanimado e cabisbaixo no RCA Studio B em Nashville, Tennessee. Ele havia passado a semana anterior conhecendo o material que gravaria através de gravações demos enviadas pela gravadora e ficara desolado. O material era muito, muito ruim. Um punhado de canções mal escritas, mal feitas, sem melodia decente. Ele ficou tão furioso com o que ouviu que chegou a jogar o disco de demonstração contra a parede, o fazendo em pedaços. Depois reclamou para Priscilla afirmando que aquilo era "um grande monte de m...". Por isso quando entrou em estúdio e cumprimentou Jeff Alexander e Felton Jarvis, Elvis parecia estar com cara de poucos amigos. Resignado, sentado no meio do estúdio Elvis simplesmente sentenciou: "Ok, vamos começar logo para acabar com tudo isso..."

Pablo Aluísio e Erick Steve.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 1

Nunca passou pela cabeça dos executivos da RCA Victor o lançamento de um disco apenas com músicas de blues gravadas por Elvis ao longo de sua carreira. Durante toda a sua discografia oficial que se encerrou em 1977 com sua morte, nada chegou ao mercado nesse sentido. Só em 1985 é que chegou no mercado essa coletânea blues de suas melhores faixas no gênero. Foi um resgate histórico tardio, mas muito bem-vindo. Afinal Elvis sempre foi um admirador da cultura negra dos Estados Unidos. O blues para ele era tão familiar e natural como havia sido o gospel, o country e, é claro, o rock.

Esse álbum adquiri ainda na era do vinil, em 1985 mesmo. Foi um disco que chegou a ser lançado no Brasil. A capa e a contracapa seguiram o padrão americano, o que foi muito bem-vindo para os fãs. A filial brasileira da RCA inclusive manteve o texto original que vinha na contracapa em inglês. Isso deu uma certa sensação aos fãs na época de que o disco era importado, embora fosse realmente uma edição nacional, bem caprichada. A capa já chamava a atenção por trazer uma foto rebuscada de Elvis, tirada de forma amadora, com seu terno de listas que ele chegou a usar em algumas apresentações. O clima anos 50 era de fato bem adequado para esse tipo de lançamento.

A seleção também era bem elaborada. Em meados dos anos 80 as coisas tinham melhorado na major americana da RCA Victor. Os discos eram bem mais selecionados, contando com especialistas na discografia de Elvis Presley. Nada parecido com a bagunça que se tornou os lançamentos do cantor após sua morte em 1977. Nada de coletâneas de músicas infantis e outras bobagens. A intenção agora era de fato resgatar o melhor em termos de qualidade musical por parte de Elvis e seu legado. Assim os fãs acabaram sendo presenteados com um disco que tinha além de uma direção de arte muito bonita, também uma seleção digna de um nome como Elvis Presley.

A música principal do disco também lhe dava o título. "Reconsider Baby" é até hoje considerada a melhor música de blues gravada por Elvis. Ela fez parte inicialmente do sublime disco "Elvis is Back!" que foi gravado assim que Elvis retornou aos Estados Unidos da Alemanha, onde tinha ido cumprir seu serviço militar. Depois de ficar dois anos longe dos estúdios e dos microfones, Elvis parecia com muita disposição para gravar. O repertório desse disco foi simplesmente genial, uma maravilhosa sessão de canções que para muitos formaram o melhor trabalho do cantor nos anos 60. Certos exageros à parte, não há muito equívoco nesse tipo de opinião. "Reconsider Baby" estava aí para provar esse tipo de ponto de vista. Era mesmo uma obra prima do blues, divinamente cantada por Elvis Presley. Um daqueles momentos únicos que definiram toda a carreira de um artista como ele.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 2

"Tomorrow Night" foi gravada por Elvis Presley ainda nos tempos da Sun Records. Até hoje não se sabe com exatidão em que ano ela foi gravada, se 1954 ou 1955. Quando o passe de Elvis foi comprado pela RCA Victor a gravadora levou todos os takes e músicas gravadas por Elvis na Sun Records. Essa foi uma delas. Ficou arquivada anos e anos e depois relançada com novo arranjo no álbum "Elvis For Everyone" de 1965. Ela ganhou uma roupagem musical nova com a assinatura do grande músico e produtor Chet Atkins. Os executivos da RCA achavam que não dava para lança-la tal como gravada na Sun, pois a consideravam muito simples, muito sem sofisticação. Atkins foi então designado para dar uma sonoridade mais moderna e bonita.

A versão que temos nesse álbum é a crua, tal como foi gravada pelos Blue Moon Boys (Elvis, Scotty Moore e Bill Black). Embora a versão embelezada dos anos 60 seja de fato muito bonita, com uma bela guitarra tocada pelo próprio Chet Atkins atravessando toda a faixa, aqui a ouvimos tal como foi registrada por Elvis e banda em seus primórdios. É de fato a versão definitiva de Mr. Presley. Já a música original é bem mais antiga e foi lançada pelo cantor e compositor Lonnie Johnson. Hoje em dia essa composição é considerada uma das mais importantes da história do blues norte-americano. Evocativa e muito bem escrita, realmente é um ponto alto da discografia de Elvis Presley. Um momento que não foi bem aproveitado na época de sua gravação.

A versão de "So Glad You're Mine” que ouvimos nesse álbum é a mesma do disco "Elvis" de 1956, sem maiores novidades. Apenas a RCA Victor trabalhou um pouco mais na master original para recuperá-la adequadamente. Alguns fãs e críticos dizem que ela tem uma leve aceleração em seu ritmo normal. De fato, se ouvirmos o disco de vinil lançado em 56, vamos notar mesmo uma pequena variação em sua duração. Esse porém é um detalhe tão absurdamente minucioso que para o ouvinte comum não fará muita diferença. No mais esse blues é outro grande clássico, criado e composto por Arhur "Big Boy" Crudup, um artista de blues pelo qual Elvis tinha especial admiração. Não podemos nos esquecer que a primeira gravação profissional de Elvis se deu com uma outra composição de Big Boy, a hoje clássica "That´s All Right (Mama)".

"One Night" foi lançada como single em 1957. Chamou muito atenção em seu lançamento original pois a música foi considerada quase pornográfica para aquela sociedade muito conservadora e puritana dos anos 50. E isso porque o produtor Steve Sholes optou pelo lançamento de uma versão mais leve, não totalmente provocante que ficou conhecida dentro do estúdio como "One Night Of Sin". Pois foi justamente um dos takes da versão envenenada que foi selecionado para esse disco. Como não existia mais a preocupação em não chocar ou não escandalizar, a RCA resolveu restaurar os takes originais, sendo que esse ótimo momento chegou pela primeira vez no mercado justamente nesse título "Reconsider Baby", quase quarenta anos depois de sua gravação original! Como diz o ditado, antes tarde do que nunca...

Pablo Aluísio.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 3

"My Baby Left Me" é uma antiga gravação de Elvis que foi lançada pela primeira vez em álbum no LP "For LP Fans Only". Nem precisa dizer que essa foi uma coletânea da RCA nos tempos em que Elvis estava servindo o exército na Alemanha. Um mero caça-níqueis? Em termos, havia boa coisa ali, além disso preservou para a posteridade grandes momentos da carreira de Elvis, inclusive sua primeira gravação profissional, a excelente "That´s All Right (Mama)", gravada nos tempos em que Elvis pertencia ao selo Sun Records. Bom, diante de tudo isso é interessante notar que a versão de "My Baby Left Me" que foi incluída nesse disco é a oficial, master, sem novidades.

"When It Rains, It Really Pours" é bem mais interessante. Um velho blues gravado por Elvis que ficou anos e anos arquivado, sem que a gravadora do cantor a colocasse no mercado. Quem lembra do disco "Elvis For Everyone" de 1965? Pois é, era um álbum bem estranho, não sendo nem um disco oficial de inéditas gravado em estúdio e nem uma coletânea tradicional. Ficando no meio termo entre as duas classificações, acabou chamando pouca atenção dos fãs. Essa música também já havia sido lançada no álbum "Elvis: A Legendary Performer Volume 4" e aqui ganha nova roupagem. Está bem mais trabalhada, com visível melhoria na qualidade sonora.

Já tive oportunidade de escrever várias vezes isso e repito mais uma vez: a versão de "Ain't That Loving You Baby" que você encontra nesse disco de Elvis é a melhor de todas as que já ouvi! Muito superior inclusive ao master oficial que sem ritmo, sem pegada, fracassou nas paradas quando foi lançada tardiamente em single durante os anos 60. Aqui há uma batida inigualável! De todas as músicas que Elvis gravou em sua carreira essa ocupa um lugar de destaque pelos motivos errados. Como é possível ignorarem esse take, escolhendo um bem mais inferior para lançar oficialmente? Um verdadeiro desperdício. O mais estranho é que essa versão ficou anos e anos fora do mercado. Enfim, se você precisa de apenas uma razão para comprar esse disco "Reconsider Baby" essa é a inclusão desse take maravilhoso na seleção musical. Um pedaço de genialidade de Elvis que foi injustamente jogado de lado pela RCA Victor.

"I Feel So Bad" também é outro momento muito bom do disco. Elvis a gravou em 1961 em uma época em que ele estava ficando mais centrado apenas nas trilhas sonoras de filmes. É uma faixa que nos faz lembrar o quão Elvis poderia ter sido interessante nos anos 60 se não tivesse sido literalmente engolido pelos estúdios de Hollywood. É a tal coisa, a música ficou em segundo plano, enquanto o Elvis ator não conseguia ir muito além do lugar comum. Uma pena. Mal lançada, sem promoção, esse blues ainda conseguiu chegar na décima quinta posição da Billboard, mostrando que a música de qualidade de Elvis sobrevivia a tudo mesmo, até mesmo ao péssimo gerenciamento de seus lançamentos pela RCA.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 4-5

O vinil vai passando e então soam os primeiros acordes de "Hi-Heel Sneakers". Esse é um blues das antigas, gravado pela primeira vez por Tommy Tucker, cantor negro de blues, excelente pianista e compositor de mão cheia. É dele uma das mais bonitas e lindas músicas de todos os tempos, "My Girl". Pois bem, aqui Tucker foi direto no fonte, mesclando o blues mais tradicional com uma sonoridade que ele pensava ser atrativa para as rádios. No fundo ele queria fazer sucesso, óbvio. E de fato ele acertou em cheio pois a canção conseguiu chegar na décima primeira posição da concorrida parada Billboard Hot 100. Para um blues era algo excepcional.

Elvis sempre ligado no que estava acontecendo ficou realmente atraído por aquele som. Elvis cresceu com uma excelente formação musical, ouvindo muito blues, country, gospel, enfim, as sonoridades que eram tocadas nas rádios comerciais de sua cidade. A música estava no ar e Elvis obviamente sabia quando ouvia um blues de qualidade.

O problema é que por essa época ele já estava preso aos contratos das companhias cinematográficas. Os pacotes das trilhas sonoras chegavam fechados, sem possibilidade de Elvis discutir o que iria ou não gravar. Mesmo assim, com as mãos amarradas, ele decidiu que iria fazer sua versão. Algo que ficou maravilhoso em sua voz. Ouvindo faixas como essas podemos ter uma noção de como Elvis perdeu tempo gravando todo aquele material de Hollywood. Se ele tivesse se dedicado apenas a bons materiais nessa fase de sua vida teríamos algo bem melhor para ouvir hoje em dia.

Outro blues fantástico é "Merry Christmas Baby". Para muitos foi a única obra prima gravada por Elvis durante as sessões que deram origem ao disco "Elvis Sings the Wonderful World of Christmas". Aquele mesmo álbum de 1971 só com músicas de natal, que o próprio Elvis nem queria gravar, mas que acabou cedendo aos desejos e caprichos da RCA Victor e do Coronel Parker. Originalmente essa canção saiu como lado B de um single pouco conhecido durante o pós-guerra. Era o ano de 1947 e a indústria fonográfica ainda engatinhava. Elvis com apenas 12 anos de idade teve contato com a versão original? Não sabemos, mas é possível, afinal ele foi uma pessoa que cresceu ao lado do rádio ouvindo tudo o que era tocado. Muitos creditam a inspiração de Elvis a outra gravação, de Chuck Berry, em 1958, quando ele estava começando o serviço militar. Isso também é possível, porém essa é aquele tipo de pergunta que só poderia ser respondida pelo próprio Presley. De uma forma ou outra o que temos certeza é que a gravação do cantor é absurdamente bem realizada. Puro blues, puro blues.

"Down in the Alley" é outra gravação resgatada dos anos 60, mais um excelente momento de Elvis no gênero blues. Outra que nunca foi aproveitada de forma adequada na discografia de Elvis. Outra que foi usada como bonus songs de uma trilha sonora menor, "Spinout". No lado B desse álbum, que vendeu pouco e foi ignorado, a música, apesar de sua grande qualidade, foi deixada de lado, esquecida completamente, Curiosamente Elvis parecia acreditar nela, a tal ponto que chegou a usá-la ao vivo nos anos 70. Ele a resgatou do esquecimento com o objetivo de variar um pouco seu repertório de palco, mas a recepção do público, que mal a conhecia, foi fria e indiferente. Com isso Elvis a jogou de novo na gaveta do esquecimento. Provavelmente se tivesse sido bem recebida Elvis teria um mudado um pouco a lista das canções que sempre apresentava em seus concertos. Como o público porém queria mesmo ouvir "Love Me Tender" e "Suspicious Minds" Elvis foi ficando dentro de uma zona de conforto, cantando basicamente as mesmas músicas, ano após ano. Uma pena.

"Stranger In My Own Home Town" ganhou um destaque melhor na discografia de Mr. Presley. Essa fez parte da histórica sessão de gravação de Elvis no American Studios em 1969. Lançada no álbum "From Memphis to Vegas – From Vegas to Memphis"e relançada logo depois no "Back in Memphis", esse blues sempre ganhou elogios da crítica em geral. Não fez sucesso nas rádios e nem se tornou um hit, mas trouxe prestígio a Elvis em um momento de virada em sua carreira. Depois de anos de trilhas sonoras massacradas pela crítica, Elvis finalmente ganhou reconhecimento pelo belo trabalho que produziu no American em Memphis. Afinal ele estava em casa e tinha que honrar seu lugar entre os grandes intérpretes e cantores da história da música norte-americana.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Elvis Presley - Moody Blue - Parte 1

Esse foi o último disco lançado por Elvis. Era 1977 e o cantor já caminhava para seu trágico fim. Por isso quando ele morreu, em agosto daquele ano, os que foram nas lojas de discos para comprar algo dele, encontraram justamente esse álbum nas prateleiras. Por essa razão o sucesso foi enorme. Ao lado de "Elvis in Concert" e "Aloha From Hawaii" acabou se tornando um dos LPs mais vendidos do cantor naqueles distantes anos 1970. E isso acabou sendo muito bom. Eu considero um álbum de boa qualidade, com uma precisa seleção de faixas, todas no geral bem gravadas. O fã ou admirador eventual que levou esse vinil para casa em 1977 não ficou decepcionado. Pelo contrário.

São apenas dez faixas. Por essa época a RCA Victor raramente lançava discos de Elvis com mais de dez músicas. O tempo dos LPs com doze ou até quatorze canções tinha ficado no passado distante. Acontece que Elvis já não tinha mais o mesmo número de músicas gravadas em estúdio esperando por lançamento. Com a raridade de material a gravadora foi dosando melhor o número de músicas em cada vinil novo lançado.

A linda "Unchained Melody" abria o disco. Não poderia haver melhor apresentação. Era uma música gravada ao vivo, em 24 de abril de 1977 , A cena foi gravada para o especial "Elvis in Concert" e se tornou um dos melhores momentos daquele especial de TV. Elvis, sentado ao piano, fazia uma performance memorável desse clássico. O interessante é que o cantor já estava com um visual modificado pelos problemas que ele vinha enfrentando. Isso chocou algumas pessoas na época. Porém nada disso tirou o brilho desse momento especial. Um fato curioso é que desde os anos 1960 a RCA vinha sugerindo a gravação desse sucesso, mas Elvis sempre a deixava de lado. E de fato ele nunca a gravou em estúdio, preferindo trazer sua versão inédita diretamente no palco. Ficou especial, um momento realmente memorável de sua carreira.

"Little Darlin'" era outro clássico. Outra que foi gravada ao vivo e nunca em estúdio. Ao contrário de "Unchained Melody" que exigia uma concentração fora do comum para Elvis, aqui tudo soava bem relaxante e divertido. O próprio Elvis nunca levou essa música muito à sério, preferindo deixá-la mais no modo "puro relaxamento". Curiosamente ela foi gravada no mesmo concerto em que Elvis sentou ao piano para cantar "Unchained Melody", no dia 24 de abril de 1977. Ele parecia bem inspirado nesse dia. A RCA então aproveitou para gravar material para seus discos, uma vez que Elvis já não entrava mais em estúdio como antigamente. Aquelas maratonas de gravações, quando Elvis conseguia gravar vinte, trinta músicas em poucos dias, jã não existiam mais. A realidade de Elvis tinha mudado, para algo completamente diferente. Assim não era raro agora a RCA gravar seus shows, para aproveitar alguns momentos. Afinal a máquina de lucros em torno do cantor não poderia parar nunca!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Moody Blue - Parte 2

Eu considero esse álbum de Elvis bem mais para cima do que o anterior. Aqui há um considerável número de músicas mais alegres e movimentadas. O resultado desse conjunto se traduz em um disco mais agradável de se ouvir, sem ter a melancolia do "Elvis Presley From Boulevard", considerado por muitos como um disco pesado, de complicada audição. Um bom exemplo de que "Moody Blue" tem um astral melhor vem de músicas como "Way Down". Gravada em Graceland, essa música tem uma linha de baixo bem marcante. É um country rock de qualidade. A RCA Victor viu potencial e lançou a canção em single, com destaque. Acabou chegando em primeiro lugar na parada country, um ótimo retorno comercial para a carreira de Elvis.

E por falar em country music... "If You Love Me (Let Me Know)" era a melhore representante do estilo dentro do disco. Essa faixa foi gravada ao vivo no show do dia 26 de abril de 1977. Inicialmente a gravadora não pensou em utilizar a faixa em um álbum oficial de Elvis, mas pesquisando no material gravado pela RCA que estava arquivado em Nashville, material obtido nas turnês de Elvis, o produtor Felton Jarvis resolveu selecionar esse momento para compor o disco "Moody Blue", até porque o LP necessitava de dez a doze faixas e Jarvis não tinha material suficiente de estúdio para isso. Em razão dessa escassez, o álbum acabou saindo misto, com músicas gravadas em estúdio (entenda-se a sala das selvas em Graceland) e músicas gravadas ao vivo. Antes a RCA priorizava a separação das duas coisas. Ou o disco vinha apenas com gravações de estúdio ou totalmente Live, ao vivo. Na falta de maior número de faixas disponíveis, o jeito foi apelar para uma fórmula mais diversificada, o que resultou nesse disco em que se misturava as duas opções de gravação.

E a falta de material novo era tão grande que a RCA resolveu usar a mesma versão de "Let Me Be There" que já tinha sido lançada antes no disco ao vivo "Elvis Recorded Live on Stage in Memphis". Isso nunca tinha acontecido antes dentro de um disco oficial de Elvis! E o mais curioso de tudo é que a RCA Victor promoveu o álbum como o "novo disco de inéditas de Elvis Presley". Bom, como se pode perceber, nem todas as faixas eram realmente inéditas. Essa aqui, por exemplo, já era bem conhecida dos colecionadores. Gravada em Memphis no concerto que o cantor realizou em 20 de março de 1974, já era bem conhecida dos fãs. A boa performance de Elvis, por outro lado, até justificava uma nova audição. Apenas penso que a RCA poderia ter pincelado algo realmente inédito pois a gravadora havia gravado pelo menos dois concertos em Memphis. Por que não trouxeram alguma gravação do outro show? Complicado entender.

A faixa título do disco, a boa ""Moody Blue", foi gravada em Graceland no dia 4 de fevereiro. Essa foi a sessão que Elvis interrompeu quando chegou algumas motos novas que ele tinha comprado. É a tal coisa, gravar em casa, apesar de todo o esforço do produtor Felton Jarvis em fazer tudo da forma mais profissional possível, tinha seus problemas. Uma delas era a distração por parte de Elvis. Ele sempre estava interrompendo as gravações por um motivo ou outro. Quando as motos novas chegaram em Graceland Elvis perdeu o interesse pelas músicas que estava gravando. Ele preferiu ir conferir suas novas máquinas. E como ele adorava motos, a coisa só piorou. De qualquer maneira essa canção até que foi bem gravada. Com ritmo agradável, alegre, tem um sabor de nostalgia dos anos 1970. Repare bem no arranjo das guitarras. Poucas coisas poderiam ser mais característicos daquela época do que isso. Um bom momento de um disco que foi gravado com muitas distrações por parte do cantor, mas que no final até que funcionou bem. 

Pablo Aluísio.