quinta-feira, 14 de julho de 2011

Paul McCartney - Give My Regards to Broad Street

Essa é a trilha sonora de um filme que Paul fez nos anos 80 e que acabou fracassando nas bilheterias. O ex-Beatle poderia ter ficado apenas no ótimo clip da música "No More Lonely Nights" que já estava de bom tamanho. A balada inclusive é maravilhosa e fez muito sucesso nas rádios na época. Eu me lembro muito bem disso. E o resto do disco? Vale a pena? Aí é que está o problema. Ao que tudo indica Paul não tinha material inédito suficiente para completar um álbum, então ele optou por ir para o caminho mais fácil: regravar clássicos dos Beatles!

E aí, claro, o mundo caiu na cabeça dele. Santa heresia, Batman! Regravar as músicas imortais dos Beatles com arranjos novos? Onde Paul estava com a cabeça? - essas foram perguntas que passaram pela cabeça dos Beatlemaníacos. Como nunca fui um radical não me importei nada com isso. Afinal Paul compôs todas essas músicas e se havia alguém que podia fazer esse tipo de coisa era ele mesmo. Algumas das versões até ficaram bonitas. Só que Paul errou ao colocar trechos falados, tirados do filme, no meio das músicas. Esse erro realmente estragou a audição do álbum em vários momentos. Ele deveria ter deixado apenas a beleza dessas canções eternas prevalecerem. Ficaria muito melhor.

Paul McCartney - Give My Regards to Broad Street (1984)
No More Lonely Nights
Good Day Sunshine
Corridor Music
Yesterday
Here, There and Everywhere
Wanderlust
Ballroom Dancing
Silly Love Songs
Silly Love Songs (Reprise)
Not Such A Bad Boy
No Values
No More Lonely Nights (Ballad / Reprise)
For No-One
Eleanor Rigby
Eleanor's Dream
The Long And Winding Road
No More Lonely Nights (Playout Version)

Pablo Aluísio.

Jane Asher

Jane Asher
Você tem curiosidade em saber quem foi a inspiração de muitas das músicas mais românticas dos Beatles? Ora veja só, a garota da foto foi essa musa inspiradora. Ela namorava Paul McCartney quando ele era um dos membros dos Beatles nos anos 60. Seu nome é Jane Asher. Ela era atriz, filha de uma família de intelectuais e artistas de Londres. Conheceu Paul em uma boate da cidade e depois disso ficaram longos anos juntos. E desse romance nasceu muitas das mais belas músicas de amor dos discos dos Beatles. Entre as mais famosas poderíamos citar "And I Love Her", "Here, There and Everywhere", entre tantas outras. Foi fonte de inspiração para dezenas de músicas maravilhosas.

Um fato interessante é que os demais Beatles (John, George e Ringo) acreditavam que Paul iria mesmo se casar com Jane, mas isso não aconteceu. Não se sabe bem qual foi o motivo do rompimento, mas Paul e Jane termiram o romance antes do final dos anos 60. E Paul acabaria se casando com Linda, em uma relacionamento muito rápido, bem mais curto do que havia tido com Jane. Outra surpresa. De qualquer forma as músicas que embalaram esse namoro ficaram aí, para a eternidade. Como diria o poeta brasileiro, "Que o amor seja eterno, enquanto dure".

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

The Beatles - You Know My Name (Look Up The Number)

John Lennon costumava dizer que as sessões de "Let It Be" eram puro lixo! Quem já ouviu as gravações cruas, feitas em estúdio, descobre logo que a preguiça, a displicência e as brigas estavam no auge. Os próprios membros do grupo sequer podiam se suportar mutuamente. Quando se dirigiam entre si geralmente o faziam em tom de crítica ou farpas. Dentro das centenas e centenas de horas gastas nessas sessões algumas "loucuras" foram gravadas pelos Beatles. A maior delas talvez seja a faixa "You Know My Name (Look Up The Number)".

Eu nem consigo chamar muito essa gravação de música, porque ela na verdade está mais para uma zoeira maluca promovida entre John e Paul. Uma insanidade. Tanto isso é verdade que a EMI Odeon resolveu tirar a gravação do álbum oficial "Let It Be", a colocando como lado B de um single. E só a encaixaram lá por pura insistência de John Lennon que amava uma bizarrice. A tal "composição" inclusive é uma criação de John e Paul que simplesmente começaram a brincar durante uma noite. John tirou a ideia de uma propaganda que viu em uma revista. Depois disso levou a ideia para que Paul a melhorasse. Isso foi em 1967. Durante os próximos anos os dois voltariam à ideia, colocando novas coisas e tirando outras.

Um fazia uma piada ou uma brincadeira bizarra e o outro corria atrás, tentando manter o pique. Para disfarçar um pouco sua essência o produtor George Martin (sempre ele!) resolveu acrescentar um pequeno arranjo melódico para que a faixa ao menos soasse como uma música e não apenas como um besteirol (que é o que ela realmente é). A coisa foi crescendo e acabou como quase cinco pedaços de canções em partes separadas. Até Brian Jones dos Rolling Stones deu uma canja. Ouça e veja até que ponto os Beatles podiam chegar quando não conseguiam se levar muito à sério.

The Beatles - You Know My Name (Look Up The Number) (John Lennon / Paul McCartney) / Produção: George Martin / Arranjos: John Lennon e Paul McCartney / Local de gravação: Abbey Road Studios, Londres / Músicos: John Lennon (guitarra e vocais), Paul McCartney (piano e vocais), Brian Jones (Sax), George Harrison (guitarra e vibrafone), Ringo Starr (bateria), Mal Evans (efeitos).

Pablo Aluísio.

The Drifters - Save the Last Dance for Me

Considero o grupo negro The Drifters muito injustiçado na história da música americana. Eles eram ótimos em qualquer ponto de vista que os analise mas mesmo assim não conseguiram se perpetuar na memória da maioria dos admiradores da musicalidade daquela época. O curioso é que não raro suas gravações originais eram gravadas posteriormente por outros artistas (geralmente brancos) e eles conseguiam melhores resultados comerciais do que os próprios Drifters! Uma face mais sutil do racismo americano?

Penso que sim, já que nem sempre as regravações tinham a mesma qualidade do que o material originalmente produzido pelo grupo. Pois bem, dentro da vasta riqueza musical desse conjunto eu destacaria esse verdadeiro clássico romântico chamado "Save the Last Dance for Me" que foi lançado em single em 1960. Uma linda balada escrita pela ótima dupla Doc Pomus e Mort Shuman (os fãs de Elvis Presley reconhecerão imediatamente esses nomes). Assim que chegou nas lojas a música logo estourou em vendas, afinal era ótima para os bailinhos que tanto sucesso faziam naquela época. Chegou ao primeiro lugar tanto na parada Pop como na de R&B, mostrando a força de sua melodia.

Além do evidente talento de todos os membros dos Drifters outros detalhes fizeram que essa gravação se tornasse o grande sucesso que foi. Para começar ela foi produzida por outra grande dupla de compositores americanos, Jerry Leiber e Mike Stoller. Eles capricharam aqui, escrevendo um arranjo maravilhoso, inclusive com uso de violinos, algo que era completamente raro em gravações pop. Some-se a isso a suposta participação (nunca comprovada historicamente) de Phil Spector que se sensibilizou com a história da composição da canção. E que história foi essa? Doc Pomus tinha poliomielite que o impedia de andar e dançar como as demais pessoas.

No dia de seu casamento com Willi Burke, atriz e dançarina da Broadway, ele ficou sentando em sua mesa vendo sua linda esposa dançando com amigos e convidados da festa. Então diante daquela situação pediu caneta e papel ao garçom e resolveu escrever os primeiros versos de "Save the Last Dance for Me" (que em português pode ser traduzida como "Guarde a últma dança para mim"). Bonita história não é mesmo? Assim deixo a dica dessa linda balada, um momento muito romântico dos anos 60 que merece ser redescoberta pelos amantes das belas melodias de amor.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Nat King Cole - Unforgettable

Essa é uma daquelas músicas que fazem você se sentir feliz por estar vivo e ter a oportunidade de ouvi-la. Quando ouço melodias como essa fico muito entristecido de ver no que a música negra americana se tornou nos dias de hoje - um festival incrível de falta de talento, sensibilidade e romantismo. Aliás essas três qualidades fundamentais - talento, sensibilidade e romantismo - sobravam na pessoa de Nat King Cole! Que grande cantor! Aqui temos um exemplo do que talento aliado a fina técnica podem fazer por um artista. Cole cantava suavemente, delicadamente, o que lhe valeu o carinhoso apelido de "voz de veludo". Ao se ouvir gravações como essa quem pode discordar? Certamente muitos conhecem "Unforgettable" no dueto entre Cole e sua filha, algo que só foi possível graças às maravilhas da tecnologia moderna. Como sou um tradicionalista em termos musicais prefiro a versão crua, original, tal como chegou ao mercado em 1951. Aquilo senhoras e senhores é uma verdadeira obra prima em forma de notas musicais. Insuperável em todos os aspectos.

Também pudera, a canção foi produzida pelo gênio Nelson Riddle, que escreveu o arranjo com uma delicadeza ímpar. Para quem não se lembra ou não sabe, Riddle foi o grande parceiro musical de Frank Sinatra, estando por trás de todos os grandes álbuns da carreira do cantor. Era uma dupla perfeita, Sinatra no microfone e Nelson no controle, na sala de estúdio, lapidando tudo com uma sensibilidade fora do comum. A sofisticação e elegância que trazia para os discos do velho Blue Eyes, se repete aqui, em cada detalhe, em cada nuance da melodia. Irving Gordon, o famoso compositor nova iorquino negro, foi quem escreveu a música. Um veterano que chegou ao meio musical pelas mãos de ninguém menos do que Duke Ellington. Assim pare para analisar, temos aqui um trio de ouro por trás de "Unforgettable"! Com tantos talentos não poderia dar em outra coisa. Considero "Unforgettable", sem favor algum, uma das dez mais lindas canções da música norte-americana de todos os tempos. Simplesmente imortal!

Unforgettable (Irving Gordon) - Unforgettable, that's what you are / Unforgettable though near or far / Like a song of love that clings to me / How the thought of you does things to me / Never before has someone been more / Unforgettable in every way / And forever more, that's how you'll stay / That's why, darling, it's incredible / That someone so unforgettable /  Thinks that I am unforgettable too / Unforgettable in every way / And forever more, that's how you'll stay / That's why, darling, it's incredible / That someone so unforgettable / Thinks that I am unforgettable too.

Pablo Aluísio.

The McGuire Sisters - Sincerely

Esse single chegou ao topo da parada Billboard top 100 em fevereiro de 1955 e ficou lá por seis semanas! Perceba bem a época em que a música se tornou um hit. O rock estava chegando e tomaria de assalto todas as paradas musicais mas ainda havia espaço para canções ternamente românticas como essa. Outro fato interessante a se chamar a atenção é que hoje em dia vários grupos vocais femininos famosos daquela época, como esse, estão completamente esquecidos, de forma bem injusta é bom frisar. Esse tipo de som era muito popular nos anos 50 e por várias razões emplacavam sempre bem comercialmente. As jovens estudantes certamente se identificavam com esse tipo de sonoridade, até porque as letras sobre romances perdidos ou paixões não correspondidas faziam parte das próprias vidas das ouvintes. Some-se a isso a participação fundamental de Alan Freed na divulgação das canções. Freed foi um radialista pioneiro no surgimento do rock e acabou no ostracismo anos depois após se envolver em um escândalo de corrupção envolvendo jabá entre gravadoras e rádios. De qualquer maneira teve papel essencial nesse momento histórico, sendo responsável pela aparição de inúmeros artistas novos. Para promover alguns singles pedia que seu nome fosse incluído como co-autor, mesmo que não escrevesse uma linha sequer da canção (foi justamente o caso desse single).

E o que aconteceu as irmãs McGuire? Christine, Phyllis e Dorothy McGuire começaram suas carreiras em Anderson, Indiana. Como tinham lindas vozes elas ganhavam alguns trocados cantando em casamentos e festas na região até que foram descobertas por um caça-talentos da pequena gravadora Coral Records em 1952. O sujeito viu potencial nelas pois além de boas cantoras eram bonitas (em especial Phyllis McGuire, a caçula). Certamente ele poderia vender alguns discos daquelas garotas. Sua aposta foi certeira mesmo. Assim que "Sincerely" chegou nas rádios se tornou um sucesso absoluto de execuções. Depois vieram mais sucessos na mesma linha como "Picnic" e "Sugartime" que vendeu cinco milhões de cópias! Um estouro. Depois do sucesso nas rádios veio o êxito na TV. As jovens eram simpáticas e muito adequadas para os programas daquele tempo. Se apresentaram nos programas de Ed Sullivan, Dean Martin, Danny Kaye e Milton Berle, sempre com belo sucesso de audiência. Apesar da fama, do dinheiro e do reconhecimento, como era de se esperar, elas logo se apaixonaram por bons partidos e se casaram. Depois disso o trio se afastou. Claro que como irmãs continuaram próximas mas a carreira musical já não significava muito se comparada com uma vida de dona de casa, mãe e esposa. Hoje em dia fica complicado para as pessoas entenderam esse tipo de mentalidade mas nos anos 50 era bem assim a forma de pensar da grande maiorias das mulheres. A família vinha em primeiro lugar. Esporadicamente elas voltariam para pequenas apresentações nostálgicas mas a carreira musical já não era mais o foco principal de suas vidas. Não importa, o que vale a pena mesmo é realmente registrar o sucesso que "Sincerely" causou em seu lançamento. O mundo nunca mais seria tão inocente como naqueles anos dourados.

Sincerely (Harvey Fuqua - Alan Freed) - Sincerely, oh yes, sincerely / 'Cause I love you so dearly / Please say you'll be mine / Sincerely, oh you know how I love you / I'll do anything for you / Please say you'll be mine / Oh Lord, won't you tell me why / I love that fella so / He doesn't want me / But I'll never, never, never, never let him go / Sincerely, oh you know how I love you / I'll do anything for you / Please say you'll be mine / Oh Lord, won't you tell me why / I love that fella so / He doesn't want me / But I'll never, never, never, never let him go / Sincerely, oh you know how I love you / I'll do anything for you / Please say you'll be mine / Please say you'll be mine.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de julho de 2011

Glenn Miller - In the Mood

Há quem ainda hoje desmereça o grande bandleader Glenn Miller. Na era das grandes Big Bands ele era acusado de ser comercial demais, de se vender para os interesses das grandes gravadoras. Uma visão cheia de preconceito e esnobismo. Na realidade Miller foi genial ao popularizar o som das grandes orquestras americanas. Um exemplo disso temos nesse single imortal de "In the Mood". Pare para pensar um pouco, essa gravação realizada há mais de 70 anos ainda soa completamente jovial e empolgante. Até nos dias de hoje seus acordes são facilmente reconhecidos por quem entenda minimamente de música.

Além disso se tivéssemos que eleger uma sonoridade que representasse toda aquela época, sem dúvida "In the Mood" seria a escolhida. Glenn Miller havia assinado um contrato com a RCA Victor e estava disposto a ter seu primeiro grande hit nas paradas. Depois de muito procurar acabou encontrando essa composição antiga, cujos primórdios eram creditados ao músico de jazz Wingy Manone. Ao lado de Joe Garland e Andy Razaf, Glenn Miller escreveu um arranjo mais empolgante, para levantar os ânimos nos salões de festa por onde sua big band se apresentasse. Uma vez arranjada ele a gravou em 1939 e o sucesso foi enorme!

Sob o selo da Bluebird, uma subsidiária da própria RCA, o disquinho 45RPM logo se tornou um dos primeiros da história da indústria fonográfica dos Estados Unidos a vender mais de um milhão de cópias, consolidando a banda de Glenn Miller como a mais popular da América. Depois disso o mundo ficou realmente pequeno e Miller e seus músicos tocaram pelos palcos internacionais, sucesso infelizmente interrompido pelo surgimento da Segunda Guerra Mundial na Europa. Por um desses caprichos trágicos do destino como todos sabemos a história de Glenn Miller não teve um final feliz. Mesmo já tendo passado da idade ele resolveu se alistar como homem patriótica que era.

Entrou para o esforço de guerra, tocando para os soldados americanos no exterior. Em uma dessas viagens de avião, no dia 15 de dezembro de 1944 sua aeronave sumiu dos radares e nunca mais foi encontrada. O desaparecimento de Miller e toda sua tripulação acabaram dando origem a estórias bizarras ao longo do tempo, como a que ele teria sido sequestrado por UFOs e coisas do tipo. De uma forma ou outra é de fato uma pena que um gênio da música como ele tenha saído de cena, tão cedo, com apenas 40 anos de idade. Sua música porém viverá eternamente nos corações daqueles que amam uma bela melodia.

Pablo Aluísio.

The Crickets - The “Chirping” Crickets

Esse foi o álbum de estréia dos Crickets, uma das mais influentes bandas de rock da história. Hoje em dia obviamente o líder dos Crickets, o genial Buddy Holly, é bem mais lembrado que seus companheiros. Sua morte foi muito triste, não apenas em relação a tragédia humana da perda da vida de um homem jovem, na flor da idade, que queria se casar com sua namoradinha de juventude para ir morar em Nova Iorque e respirar o cenário cultural da capital do mundo, como também pelo talentoso artista que se foi. Buddy começou a carreira cantando inocentes enredos de amor mas tinha grandes planos para o futuro. Queria compor canções mais bem trabalhadas, com ênfase se em ótimos arranjos orquestrais, algo que ainda teve tempo de fazer (para entender recomendo que se ouça suas últimas gravações para notar as mudanças que ele queria promover em sua musicalidade). Infelizmente ele morreu em um acidente de avião com dois outros artistas talentosos - entre eles o jovem Ritchie Valens de "La Bamba". A sua morte ficou conhecida como o dia em que o rock morreu.

Esse álbum foi lançado por Buddy em sua fase mais teen, vamos colocar assim, quando o que ele queria mesmo era chamar a atenção e fazer sucesso. Ao lado de seu grupo "Os Crickets" ele encarnava no palco o mesmo sentimento juvenil de seus fãs. O carinha de óculos, intelectual e boa pessoa, que só queria encontrar uma namoradinha para passear de mãos dadas com ela no cinema ou na lanchonete. O interessante é que Buddy se assumia como tal e passou para a história como o primeiro roqueiro a se apresentar de óculos, sem fazer concessões. Isso inspiraria John Lennon muitos anos depois a assumir seus problemas de visão, ao mandar a imagem pública de Beatle às favas, surgindo nas capas dos discos dos Beatles tal como ele era na vida real. Uma atitude que deixaria o velho Holly orgulhoso.

Os arranjos desse disco são, aliás, tão despojados quanto o próprio Holly foi em vida. Letra simples, que poderiam ter sido escritas por um colegial apaixonado e melodias com três ou apenas quatro notas no máximo, não mais do que isso, afinal estamos falando de um artista tipicamente da primeira geração do rock americano. Paul McCartney, que era fã de carteirinha de Holly, levaria muito de sua personalidade musical para os Beatles - eles inclusive gravaram a linda "Words of Love" no disco "Beatles For Sale". Os Crickets também apresentavam uma formação bem básica, com o baixista Joe Mauldin, o baterista Jerry Allison e na outra guitarra Niki Sullivan completando o quarteto. A seleção de repertório traz basicamente todas as grandes canções dessa fase de Buddy Holly que vivia um dos períodos mais criativos de sua (curta) vida. Enfim, precisa dizer mais alguma coisa? A sensibilidade de Buddy venceu o desafio do tempo e da sua própria morte, um roqueiro dos primórdios que certamente deixou muitas saudades em todos os fãs daquele tempo simplesmente mágico.

The Crickets - The “Chirping” Crickets (1957)
1. Oh, Boy!
2. Not Fade Away
3. You've Got Love
4. Maybe Baby
5. It's Too Late
6. Tell Me How
7. That'll Be the Day
8. I'm Looking for Someone to Love
9. An Empty Cup (And a Broken Date)
10. Send Me Some Lovin
11. Last Night
12. Rock Me My Baby

Pablo Aluísio.

Johnny Preston - Running Bear

Chegou ao topo de Billboard Hot 100 em janeiro de 1960. Foi o primeiro de cinco singles de sucesso do cantor a chegar no topo da parada inglesa, todas lançadas em 1960. A música foi composta por `Big Bopper`, famoso DJ do surgimento do rock americano que morreu em fevereiro de 1959 no mesmo acidente fatal que matou também os cantores Buddy Holly e Ritchie Valens. Esse é tipo de sucesso completamente fast food que hoje em dia soa completamente datado - principalmente pelo acompanhamento vocal que imita sons de tribos americanas nativas (pelo menos daquelas que surgiam nos filmes de faroeste da época!).

A letra também não ajudava muito pois era uma grande bobagem. Mesmo assim caiu nas graças do público! O Johnny Preston, para falar a verdade, era mais um daquela enorme lista de artistas que surgiram no vácuo deixado por Elvis Presley quando foi servir o exército. As gravadoras na época entenderam (de forma equivocada aliás) que tudo o que era necessário para se criar um superstar como Elvis era encontrar um jovem boa pinta, com uma boa voz, para estourar nas paradas. Tudo bem que em certos momentos o "plano" deu certo mas o fato é que esses astros fabricados desapareciam tão rapidamente quanto surgiam.

Basta ver o caso desse texano John Preston Courville! Ele foi encontrado meio ao acaso. "Running Bear" foi um estouro de vendas, rompendo a incrível marca de mais de um milhão de singles vendidos mas depois disso sua estrela foi aos poucos se apagando. No final de 1960, mesmo tendo alcançado cinco bons sucessos na parada, ele literalmente sumiu do mapa! Quando morreu em 2011 (com mais de setenta anos) já estava literalmente esquecido. Uma prova que a indústria fonográfica sempre foi descartável, usando e depois jogando fora um incrível número de artistas, cantores, grupos e compositores. Bastava um single não vender muito bem, para que o "futuro astro do amanhã" fosse descartado sem maiores problemas.

Assim as gravadoras iam atrás do próximo "Rei" e depois de um tempo repetiam a mesma estratégia. Quando a primeira geração do rock americano foi dispersa esse processo se acentuou bastante, principalmente na virada das décadas de 1950 e 1960. Por isso a década de 80 não fez tanto jus assim ao título de "a década das bandas de um sucesso só". Essa coisa de rotatividade no mundo da música já vinha de muito tempo atrás.

Pablo Aluísio.

Bill Haley & His Comets - Rockin' the Oldies

Mais um álbum do assim chamado "Glenn Miller do Rock". Gosto bastante desse disco, principalmente pela proposta de Haley de fazer releituras de antigas canções, em um processo que lembrava inclusive seus hits mais recentes como "Shake, Rattle and Roll" e "See You Later Alligator". Seria o primeiro de três lançamentos de Bill Haley que procuravam seguir temas ou conceitos na seleção musical. Seria uma espécie de predecessor dos famosos álbuns conceituais da década de 1960? Olhando sob um ponto de vista bem imparcial essa seria uma afirmação positiva, sim, Bill Haley foi o primeiro roqueiro da história a "amarrar" várias músicas sob um plano, um conceito de trabalho, podemos dizer assim. Curiosamente, apesar da temática inteligente e da ousadia do artista e do produtor (o ótimo Milt Gabler) o lançamento não foi muito bem acolhido pelo público. Também pudera, os garotos roqueiros da época, um monte de teddy boys, provavelmente não estavam interessados em canções antigas, mesmo que viessem sob um rótulo completamente novo e inovador.

Bobagem dos jovens, o disco é tão dançante como qualquer outro de Haley. A faixa que abre o disco, uma versão de um antigo clássico do  bandleader Larry Clinton chamada "The Dipsy Doodle", tem um balanço irresistível, com ótimo arranjo. As paradinhas e os ótimos solos de guitarra e sax são até hoje muito atuais e empolgantes. Rock ´n` Roll de primeira qualidade. "You Can't Stop Me From Dreaming" vai pelo mesmo caminho. Outra que usa e abusa das paradinhas típicas da primeira geração do rock americano. O piano se mostra mais presente, forte até! Grande arranjo em uma versão saborosa. Em "Apple Blossom Time" o destaque vai para o contrabaixo ao velho estilo (aqueles mesmo que você está pensando, enormes, pesadões, que tomavam quase todo o palco). A melodia é tão simpática que o ouvinte não pode deixar de se encantar. A fórmula "letra - solos de sax e guitarra - refrão pegajoso - e clímax para cima" se repete, o que não deixa de ser algo saborosamente nostálgico. O disco segue nesse esquema musical até se encerrar com a ótima "I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter", muito embora aqui já sintamos um certo cansaço na interpretação do cantor. Se a intenção do velho Bill era demonstrar que o novo gênero chamado Rock ´n´ Roll poderia ser adaptado para qualquer tipo de standart da música americana, ele certamente comprovou seu ponto de vista.

Bill Haley & His Comets - Rockin' the Oldies (1957)
The Dipsy Doodle
You Can't Stop Me from Dreaming
Apple Blossom Time
Moon Over Miami
Is it True What They Say About Dixie?
Carolina in the Morning
Miss You
Please Don't Talk About Me When I'm Gone
Ain't Misbehavin'
One Sweet Letter from You
I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter
Somebody Else is Taking My Place

Pablo Aluísio e Erick Steve.

sábado, 9 de julho de 2011

Gene Vincent And The Blue Caps - Hound Dog / Be-Bop-A-Lula

O Gene Vincent foi uma das figuras mais curiosas da história do rock americano. Era um autêntico Teddy Boy, sem preocupação nenhuma em parecer mais inteligente do que era. Não fazia média, não posava de intelectual e não estava nem aí para o que pensavam dele. Também não estava lá muito preocupado em ser original demais. Seu grande sucesso, "Be-Bop-A-Lula", era praticamente uma paródia do estilo de cantar de Elvis Presley (até a mãe do próprio Elvis o confundiu quando ouviu pela primeira vez a música no rádio). Ao lado dos Blue Caps (agora entendeu de onde vem o nome "Renato e Seus Blue Caps"?), o jovem cantor se tornou um grande sucesso no momento mais febril do nascimento do rock nos Estados Unidos. Suas perfomances também eram bem agitadas, sem regras, antecipando de certa forma a atitude que seria copiada anos depois pelo movimento punk na Inglaterra (aliás é bom salientar que os roqueiros americanos dos anos 50 eram ídolos da garotada punk que iria tentar ressuscitar o velho espírito rocker daquela época nos anos 70).

O que temos aqui nesse EP é um registro ao vivo de Gene Vincent se apresentando no programa de rádio do DJ Alan Freed em agosto de 1956. O que se ouve é um som sujo mesmo, praticamente trash, bem ao gosto dos roqueiros mais rebeldes e insanos dos anos 50. Gene Vincent ao lado de seus Blue Caps apresentam duas canções. A primeira, para surpresa geral, é o grande sucesso de Elvis Presley, a conhecida "Hound Dog". Escrita por Leiber e Stoller e imortalizada pelo Rei do Rock, aqui temos um som bem mais cru e visceral. Gene e seu grupo mais parece uma banda de garagem para falar a verdade (e isso não é nada mal, vamos esclarecer). Depois, no lado B, ele volta ao palco para estraçalhar com seu maior hit, a imortal "Be-Bop-A-Lula" que seria regravada por praticamente todos os grandes nomes do rock mundial nos anos que viriam (era inclusive uma das preferidas de John Lennon). Gene parece chutar algo no meio da faixa, provavelmente o microfone, só para você ter uma ideia do caos completo que eram seus shows! Mais punk rocker do que isso, impossível!

Pablo Aluísio.

Eddie Cochran

Eddie Cochran é outro herói esquecido entre os pioneiros do rock americano. O cantor e compositor foi responsável (e muito) pela bela e diferenciada sonoridade que o rock iria sofrer a partir dos anos 1960. Suas músicas eram particularmente apreciadas por causa das ótimas melodias que Eddie incorporava em seus rocks. Excelente guitarrista, ele procurava não apenas pelo som mais cru do rock ´n´ roll da época mas também trazer algo a mais, como riffs inspirados e solos bem trabalhados em suas gravações. Isso faria toda a diferença do mundo e o imortalizariam nos anos que viriam. Tragicamente Eddie não teve tempo de desfrutar de sua própria influência no mundo musical pois morreu muito jovem, em um acidente de trânsito em Londres. Na ocasião estava ao lado do amigo Gene Vincent e de sua namorada, a também escritora de canções, Sharon Sheeley. Ambos sobreviveram ao desastre mas Eddie não. Ele só tinha 22 anos de idade ao morrer.

Eddie Cochran - Summertime Blues
Se formos fazer um balanço das gravações que Eddie Cochram nos deixou chegaremos facilmente a mais de uma dezena de faixas clássicas, entre elas "Twenty-Flight Rock", "Weekend", "Nervous Breakdown", "C'mon Everybody", "Somethin' Else", "My Way", "Weekend" e "Three Steps to Heaven". Seu grande momento porém veio mesmo com "Summertime Blues", até hoje lembrada como uma das maiores canções de rock de todos os tempos. Lançada em 1958 virou um sucesso instantâneo. Composta apenas por Eddie (que deu uma parceria simbólica para seu empresário, Jerry Capehart), a canção era de fato muito marcante. Com ecos que nos lembram de Elvis Presley na Sun Records e solos de guitarra à la Chuck Berry, é de fato um rockabilly fenomenal. A letra soava também incrivelmente interessante para uma época em que os rocks primitivos não primavam muito por esse aspecto. Era uma crônica bem humorada sobre as dificuldades de um adolescente nos anos 50, que queria sair com a namoradinha mas encontrava um monte de problemas, com o patrão, e até com o seu próprio pai! Sobrava até mesmo críticas ao sistema eleitoral americano na última estrofe. Anos depois da morte de Eddie Cochran, o co-autor da canção explicaria sua essência ao dizer:  "Havia um monte de músicas sobre o verão, mas nenhum sobre as dificuldades do verão." Temos que convir que em sua singeleza ele foi simplesmente perfeito e definitivo.

Eddie Cochran - Somethin' else

O roqueiro Eddie Cochran teve uma vida breve, mas deixou grandes gravações. Na verdade ele ainda hoje é considerado um dos mais importantes nomes da primeira geração do rock. Essa gravação Somethin' else nem é tão lembrada, mas ela foi importante por causa do Skiffle inglês. Para muitos essa foi a primeira do novo gênero que iria se tornar extremamente popular entre os jovens britânicos nos anos 50 (até John Lennon e Paul McCartney tiveram sua própria banda de Skiffle chamada The Quarrymen!). A ideia de Eddie foi simples. Aqui temos um rock bem cru, com instrumentos básicos, dando um sabor de música de garagem para a gravação. Era exatamente o que os jovens "Teddy Boys" ingleses procuravam. A identidade foi imediata. Eddie era realmente um jovem gênio em sua música.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Chubby Checker - The Twist

Fala-se muito hoje em dia que os cantores e grupos musicais atuais não consegue fazer mais de um ou dois sucessos. Bom, para os críticos de plantão é bom informar que nos anos 50 e 60 também era assim. Tirando os grandes nomes o que existia era uma infinidade de artistas que não conseguia se consolidar na carreira, fazendo sucesso com poucas canções para depois desaparecerem do mapa. Com Chubby Checker foi exatamente assim.

Ele protagonizou o surgimento da dança mais popular da época - o Twist - e depois de mais um ou outro hit viu sua carreira se esvaziar. Na verdade o Twist era uma daquelas danças esquisitas dos 60´s que caiu no gosto do público. Obviamente era uma bobagem adolescente - como o bambolê - mas é a tal coisa, os anos acabam transformando até mesmo o fútil em clássico. A dança se chamava twist porque para se dançar bem o ritmo o sujeito tinha que se contorcer todo, imitando os movimentos de um tornado ou furação - imagine só que grande bobeirinha!

Depois que o single estourou em vendas Chubby Checker lançou o segundo single, uma outra variação da mesma canção e da mesma dança, chamada "Let's Twist Again". Apesar de também ter feito sucesso não conseguiu atingir o mesmo número de cópias vendidas do primeiro compacto. Há quem diga que essa segunda música é bem melhor que a primeira mas a verdade pura e simples é que ambas eram bobagens jovens sem grande relevância para o mundo da música. O Rock ´n´ Roll verdadeiro estava praticamente soterrado e isso abriu espaço para esse tipo de música, bem escapista em essência. E o Chubby Checker, o que aconteceu com ele? Bom, ele soube aproveitar seus dois minutos de fama.

Certamente nunca mais conseguiu chegar nem perto do seu grande sucesso comercial, mas conseguiu viver da música. Ao longo dos anos foi vivendo de apresentações nostálgicas, do tipo "saudades dos anos 60". Tentou inovar, procurando seguir os passos dos novos conjuntos britânicos como os Beatles mas não deu. Não era a praia dele e os jovens o consideravam apenas um tiozinho estranho tentando capitalizar em cima de regravações como "Back in the USSR" do álbum branco. Na verdade Chubby Checker pode se dar por satisfeito por ter feito uma canção tão popular! Para ele está certamente de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

Little Richard

Little Richard - Here´s Little Richard (1957)
Procurem conhecer bem a capa desse disco. Agora imaginem seu impacto na sociedade racista dos Estados Unidos da década de 1950. Um negro, nada discreto, com a boca escancarada, cheia de dentes, gritando de forma estridente! Mais “Little Richard” do que isso impossível! A capa de “Here´s Little Richard” é certamente uma das mais ousadas e provocadoras da história do Rock! E vai bem de acordo com a trajetória dessa figura fantástica da primeira geração de roqueiros americanos. Poucos artistas viveram de forma tão intensa o espírito do Rock quanto Little Richard. Ele por si só já era um poço de escândalos e contradições! Negro, desafiava a sociedade da época com roupas luxuosas, espalhafatosas e berrantes! Alucinado, gritava a plenos pulmões sua música despudorada, embora na época os negros fossem tão reprimidos que mal podiam abrir a boca sem autorização dos brancos. Profundamente religioso conseguia ser ao mesmo tempo um homossexual sem pudores, escandalizando a todos por onde passava. Cristão agia de forma pouco modesta e humilde, se auto intitulando o “maior roqueiro da América”!  No fundo Little Richard era mesmo uma figuraça!
  
Esse foi o primeiro álbum da carreira do roqueiro e só tem clássicos! É incrível mas basta ler a lista das músicas para se ter uma noção da quantidade de grandes clássicos da história do rock presentes aqui: “Tutti Frutti”, “Ready Teddy”,  "Slippin' and Slidin', Long Tall Sally", "Rip It Up", “Jenny, Jenny” entre outras. É muito standart para um álbum só! E o mais incrível de tudo é saber que a grande maioria dessas canções foram compostas pelo próprio Richard Penniman (o nome real do cantor). Realmente impressionante. Como não era dado a modéstias, Little Richard trabalhou ao lado de uma super banda com mais de 20 músicos ao longo de todos aqueles anos. O selo era pequeno, uma pequena gravadora especializada em música negra chamada Specialty Records, mas isso não impediu o disco de vender muito naquele mesmo ano. Claro que muitas das canções já tinham chegado antes no mercado no formato single mas isso não retira o impacto desse primeiro álbum de Little Richard. Era de certa forma uma apoteose de tudo o que ele vinha produzindo até então. Um retrato perfeito de um artista marcante que se tornou um ícone naqueles anos pioneiros do Rock americano. “Here´s Little Richard” é de fato um item obrigatório na coleção de qualquer roqueiro que se preze!

Little Richard - Here´s Little Richard (1957)
Tutti Frutti / True Fine Mama / Can't Believe You Wanna Leave / Ready Teddy    / Baby / Slippin' and Slidin' / Long Tall Sally / Miss Ann / Oh Why? / Rip It Up / Jenny, Jenny / She's Got It.

Little Richard - Little Richard (1958)
Segundo álbum da carreira de Richard Penniman (Little Richard para os mais chegados). Sem favor algum eu considero esse um dos melhores discos de Rock ´n´ Roll de todos os tempos. Basta passar os olhos na seleção musical - só clássicos, de ponta a ponta! O disco abre com a maravilhosa "Keep A Knockin'" que consegue em seus poucos minutos de duração resumir tudo o que significava a música de Richard naqueles loucos anos. Sua vocalização não encontrava similar em nenhum outro artista da época e seu jeito abusado e fora dos padrões combinava perfeitamente com o espírito rebelde do novo estilo musical que nascia. "Good Golly, Miss Molly" é outro hino, sempre presente em qualquer coletânea de rock da primeira geração. Uma composição com força, energia e muita vibração. A letra é um barato! O arranjo é simplesmente sensacional e Richard destrói no piano, literalmente "martelando" seu instrumento. Curiosamente ele também tinha a mania de tocar com os pés (Jerry Lee Lewis, outro pioneiro dessa geração, também tinha esse maneirismo). "The Girl Can't Help It" também é uma das minhas preferidas. Essa foi usada no cinema, como tema principal do filme "Sabes o Que Quero", uma comédia musical dos anos 50 que até hoje mantém seu charme intacto.

Já "Hey-Hey-Hey-Hey" foi gravada por ninguém menos do que os Beatles - Paul McCartney era um fã incondicional de Little Richard, a ponto inclusive de levar seu ídolo para a Inglaterra para participar de sua turnê em 1965. Por fim, fechando com chave de ouro temos nada mais, nada menos do que "Lucille"!!! Fala sério... nunca mais Little Richard faria um disco com tantos sucessos imortais como esse aqui. É uma verdade aula do verdadeiro rock ´n´ roll. Infelizmente esse foi o auge do cantor e também seu último grande momento. Ele tinha um conflito muito grande entre sua música profana e seu sentimento religioso. Adorava cantar seus rocks estridentes mas também sentia que aquele tipo de ritmo não combinava bem com sua fé evangélica. Assim em pouco tempo Richard deixaria o bravo rock de lado para abraçar de vez uma vida religiosa, se limitando a tocar música gospel na igreja onde pregava - sim, ele virou um pastor e dos bons! Não tem problema, cada um sabe o que é melhor para si, além do mais vamos convir que após gravar um disco como esse Little Richard já tinha garantido seu lugar, não no céu, mas sim no panteão dos grandes roqueiros de todos os tempos. Amém!

Little Richard - Little Richard (1958)
Keep A Knockin / By the Light of the Silvery Moon / Send Me Some Lovin' / I'll Never Let You Go (Boo Hoo Hoo Hoo) / Heeby-Jeebies / All Around the World / Good Golly, Miss Molly / Baby Face / Hey-Hey-Hey-Hey / Ooh! My Soul / The Girl Can't Help It / Lucille.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Ray Charles - Hit The Road Jack

Ray Charles era cego mas não era bobo! Ao longo de sua vida colecionou uma infinidade de namoradas, amantes, esposas e aventuras. Se a mulher bobeasse caía na conversa do Ray. Não era raro ele ter mais de um caso com suas próprias vocalistas, algumas vezes com mais de uma, e tudo debaixo do nariz da própria esposa. Para um sujeito tão galinha não era de se admirar que de vez em quando ele levasse um toco de algumas de suas garotas que ficavam fartas de suas lorotas sem fim! E foi justamente numa ocasião dessas, quando uma delas cansada da galinhagem de Ray lhe disse a gíria "Hit The Road Jack" (algo como "Caia fora Jack!") que Ray teve a brilhante ideia de gravar essa irresistível canção de autoria do bluesman Percy Mayfield. Ele acrescentou mais pimenta no caldeirão e criou uma obra prima. Embora tenha uma origem pouco nobre, o fato é que "Hit The Road Jack" é um dos maiores clássicos gravados por Charles - um sucesso estrondoso que até hoje toca nas rádios e todo mundo conhece de cor e salteado.

A letra é das mais simples, basicamente uma mulher literalmente mandando seu amante embora para nunca mais voltar e ele respondendo com cinismo e irreverência singulares - "Agora, amor, ouça, amor, não me trate assim". O mais divertido de tudo é que quando Ray Charles foi apresentar a música pela primeira vez na TV americana ele estava tendo um caso com duas de suas vocalistas e o clima de "cachorrada" na apresentação ficou mais do que claro para quem assistiu. Ray aliás se segura para não cair na gargalhada, tal o clima de nonsense que se instala. Nesse mesmo dia nos bastidores o clima esquentou e o barraco se instalou completamente nos camarins do cantor! Imagine a baixaria! Para a gravadora ABC por outro lado isso não tinha a menor importância. Eles não estavam interessados em histórias de alcova mas em lucros! Lançado em single em outubro de 1961 a canção estourou nas paradas chegando ao primeiro lugar da cobiçada lista Billboard Hot 100, a principal da indústria fonográfica americana. No lado B a também interessante "The Danger Zone". Em suma, o que temos aqui é um sucesso memorável de um dos maiores nomes da música americana. E agora, pode cair fora Jack...

Pablo Aluísio