sábado, 7 de maio de 2011

A Morte de John Lennon

Faz 38 anos que John Lennon morreu. Como o tempo voa, não é mesmo? O pior é saber que sua morte foi completamente estúpida. Um ato irracional de um sujeito que se dizia fã dos Beatles, mas que na verdade não passava de um psicopata com delírios de grandeza, que acreditava que John era algum tipo de traidor da causa ou algo parecido.

Outros dizem que o assassino de Lennon era na verdade um homem que queria de alguma forma ligar sua vida à história dos Beatles para sempre. Em sua mente doente ele acreditava que matando John Lennon seria sempre lembrado pelos fãs dos Beatles. Talvez por essa razão - aliás melhor dizendo, justamente por essa razão - seu nome é sempre omitido em publicações produzidas por fãs e admiradores dos Beatles. Ninguém está disposto a dar os holofotes que ele tanto queria quando cometeu aquele crime gratuito.

E o John Lennon foi morto numa fase feliz de sua vida. Ele havia se acertado de vez com Yoko Ono, tinha um filho com ela, um rapazinho que ele idolatrava e procurava viver uma vida comum em Nova Iorque. Isso significava ter a liberdade de andar pelas ruas como qualquer outra pessoa, sem seguranças por perto ou ataques de histeria por parte dos fãs - algo que John odiava. Ele queria ser novamente um cara comum. Chegou até mesmo a celebrar isso em uma entrevista, dizendo que os nova-iorquinos o encaravam como um vizinho normal, daqueles que se dão bom dia ao se encontrar pelas ruas.

Ele estava completamente certo em seus objetivos de vida. Só errou ao calcular de forma equivocada a enormidade da fama que ainda o acompanhava. Grande fama também traz inúmeros problemas, entre eles a obsessão que alguns fãs desenvolvem. Existe até mesmo um filme antigo com Robert De Niro que explorava justamente esse lado obsessivo dos fãs, daqueles que acabam perdendo a vida própria para se dedicar a idolatrar suas estrelas preferidas, sejam elas do cinema, da música ou dos esportes. John Lennon acabou sendo morto justamente por causa desse tipo de pensamento doentio e obsessivo. Foi uma vítima de sua própria fama sem limites.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A-ha - Hunting High and Low

Vindo da distante e fria Noruega, o A-ha conseguiu o improvável. Cantando em inglês o trio conseguiu se destacar nas paradas americanas, fato completamente raro para um grupo norueguês. A sorte desses rapazes começou a mudar quando eles finalmente conseguiram um contrato com a poderosa gravadora Warner que resolveu acreditar nas músicas do A-ha após dar uma chance ao grupo. O trio era formado por um talentoso cantor, Morten Harket, que tinha bom visual e conseguia alcançar notas impossíveis, algumas delas inalcançáveis para muitos interpretes de sua idade, por um compositor produtivo e cheio de idéias criativas, Pål Waaktaar, e finalmente por um tecladista que colaborava com arranjos inspirados, Magne Furuholmen.  O álbum traria uma fórmula que seria seguida pelos três discos seguintes do grupo. Geralmente havia uma grande balada dando nome ao álbum, seguida por músicas com forte vocação ao sucesso radiofônico (o A-ha se notabilizou pelos refrões pegajosos e de fácil assimilação).

O carro chefe do disco foi a dançante “Take On Me” que foi lançada também em single, ganhando ainda um clip que ficou famoso na MTV americana. Nele havia uma fusão de atores reais (Live Action) com animação. Junte-se a isso o estouro dos primeiros concertos do grupo nos EUA e você entenderá porque o disco vendeu tanto (10 milhões de cópias, uma das estréias mais bem sucedidas do ponto de vista comercial da história da música). Na época houve quem classificasse o A-ha como mais uma boy band como muitas que surgiam a cada mês mas a comparação era completamente descabida. O trio era formado por músicos de verdade e vinha para ficar como provaram seus álbuns posteriores. No final daquele ano eles foram indicados como uma das bandas mais promissoras do cenário musical. A critica também gostou de seu pop dançante e romântico. Para celebrar (e relembrar) tanto sucesso o grupo resolveu relançar recentemente em CD “Edição Deluxe” o seu disco de estréia. Com várias faixas bônus em 2 CDs e encarte de luxo “Hunting High and Low” voltava às lojas tantos anos depois de seu lançamento como um verdadeiro presente para os fãs do grupo norueguês. Um relançamento mais do que bem-vindo.

1. Take on Me (Waaktaar / Furuholmen / Harket) - Essa música é o marco zero da carreira do A-ha. Ela já havia sido gravada em forma de fita demo na Noruega quando o A-ha ainda nem era conhecido ou famoso. Só após o grupo fechar um contrato com a filial da Warner Bros em Londres é que as coisas começaram a realmente acontecer. O estúdio americano acreditou no sucesso da faixa e decidiu produzir um clip para a canção. Esse videoclip logo se tornou muito popular na TV americana, justamente por combinar cenas com atores reais e desenhos animados. Em plena era do nascimento da MTV, canal especializado em música, o video acabou se tornando um dos mais queridos pelo público jovem. "Take On Me" chegou ao primeiro lugar da mais prestigiada parada de música dos Estados Unidos, a Billboard Hot 100 e em diversos outros países. De fato o A-ha teve uma das estreias mais explosivas da década de 80. Nada parecia igual. E o sucesso continuou depois com a edição do LP "Hunting High and Low" que tinha justamente essa música como seu carro chefe. É curioso que o A-ha tenha tido um ótimo começo no mercado americano, mas depois, com o passar dos anos, tenha se afastado desse mesmo mercado fonográfico. Hoje em dia a banda é muito mais consumida na Europa (em especial Alemanha e países nórdicos) do que na América. O hit fulminante de sua estreia acabou não se consolidando com o tempo.

2. Train of Thought (Waaktaar) - Uma das faixas mais bem produzidas desse álbum se chama "Train of Thought". Se trata de uma composição solo do guitarrista Pål Waaktaar. Embora a música não tenha sido necessariamente um hit, um sucesso, pois sua melhor posição foi a oitava na parada britânica, temos que admitir que é sem dúvida um dos melhores momentos do disco, ganhando muitos pontos a favor no quesito arranjos e ambientação. A letra também é excepcionalmente bem escrita, diria até que tem uma linguagem realmente cinematográfica, com foco nos detalhes, nos cenários, nos objetos de cena. É quase um roteiro de um filme dos anos 80. Se tem dúvidas sobre isso, leia esses versões da primeira estrofe da música: "Ele gosta de ter no jornal da manhã / As palavras cruzadas resolvidas / Palavras sobem, palavras descem / Para a frente, para trás, de trás para frente / Ele pega uma pilha de cartas e uma pequena valise / Desaparece para dentro de um escritório / É mais um dia de trabalho". Certamente poderia ser um roteiro de cinema, tudo está nos versos, a cena inteira descrita.

3. Hunting High and Low (Waaktaar) - A música título do álbum iria inaugurar uma tradição na discografia do A-ha, a de sempre usar baladas como canções que davam nome aos discos que viriam a seguir. "Hunting High and Low" tinha os elementos certos naquela fase da carreira do grupo. Inicialmente o grupo gravou uma primeira versão com uso muito abusivo de sintetizadores. Coube ao produtor Alan Tarney mudar os arranjos,apostando na participação de um belo som orquestral. Isso melhorou muito a canção e fez com que ela hoje em dia não soasse datada. A letra era bem romântica e evocativa, mostrando um homem apaixonado não conformado com o fim de seu romance, dizendo que iria lutar por aquele amor, a procurando por todos os lugares, escalando as maiores montanhas em busca da amada. Ficou bonito, apenas um pouquinho sentimental demais, como se um poeta da segunda geração romântica a tivesse escrito. Mesmo assim com o som da orquestra e um belo vocal o resultado final não ficou menos do que excelente..

4. The Blue Sky (Waaktaar) - Na Inglaterra a canção Hunting High and Low foi lançada como single trazendo "The Blue Sky" como lado B. Essa segunda faixa, mais uma composição do talentoso Pål Waaktaar, tem um ritmo bonito, mas acredito que o excesso de uso de seu refrão a prejudicou um pouco. É uma composição que se encaixa perfeitamente como uma coadjuvante dentro do álbum, por isso não alcançou maior repercussão nas paradas e nem foi muito utilizada pelo grupo em seus shows ao vivo. É mesmo um autêntico lado B do A-ha.

5. Living a Boy's Adventure Tale (Waaktaar / Harket) - O quadro se repete um pouco em "Living a Boy's Adventure Tale". Aqui temos uma melodia bem bonita, valorizada ainda mais pelos belos vocais de Morten Harket. A canção é outra composição feita exclusivamente por Pål Waaktaar que por cortesia e cordialidade aceitou colocar o vocalista como co-autor por causa de algumas sugestões dadas por ele dentro do estúdio. A sonoridade leve e relaxante também bebeu da fonte do rock escocês dos anos 80 A influência fica bem clara no uso orquestral ao fundo, característica de muitas bandas de Edimburgo daquele período.

6. The Sun Always Shines on TV (Waaktaar) - "The Sun Always Shines on TV" foi outro grande sucesso desse álbum. Foi lançada também como single, o terceiro extraído desse disco. Sucesso nas rádios, consolidou ainda mais a fama do A-ha na Europa e nos Estados Unidos. Também deu origem a um excelente videoclip, bem no momento em que o mundo da música ia popularizando ainda mais esse tipo de vídeo promocional. Tempos de MTV em seu nascimento e auge. É um clássico do A-ha.

7. And You Tell Me (Waaktaar) - "And You Tell Me" é uma faixa mais secundária dentro do disco. Tem uma bela melodia, muito bonita, porém é inegável que seus arranjos com uso intenso de sintetizadores a datou bastante. Uma boa ideia para o grupo seria gravar uma nova versão dessa bela balada apenas no estilo acústico, voz e violão e quem sabe um bonito arranjo de quarteto de cordas ao fundo. Ficaria muito bonita de se ouvir realmente. Aqui temos mesmo que ignorar os arranjos dos anos 80 para se chegar no núcleo da canção, de suas notas. Nesse aspecto continua sendo uma maravilha.

8. Love is Reason (Furuholmen) - Outro hit do álbum, só que em menor escala, foi "Love is Reason", Voltando pela memória aos anos 80 me recordo bem que essa música foi bastante tocada nas rádios na época. Curiosamente não ficou datada, mantendo-se firme mesmo após tantos anos de seu lançamento original. A composição é do tecladista Magne Furuholmen. Durante toda a carreira do A-ha ele nunca foi o criador mais habitual das músicas, esse posto sempre coube ao guitarrista Paul Waaktaar. Mesmo assim se saiu muito bem nessa baladinha que até hoje empolga e faz o ouvinte querer estar numa pista de dança..

9. I Dream Myself Alive (Waaktaar / Furuholmen) - A canção "I Dream Myself Alive" é uma dobradinha entre Magne Furuholmen e Paul Waaktaar. Essa sempre foi um Lado B do A-ha pois nunca fez muito sucesso, não conseguindo se destacar nas paradas da época. Tem um refrão pegajoso que se repete várias vezes ao longo de sua audição. Não acho particularmente uma das melhores coisas do disco. Mereceu esse papel mais coadjuvante dentro do repertório do LP.

10. Here I Stand and Face the Rain (Waaktaar) - "Here I Stand and Face the Rain" é uma faixa forte do disco. Uma bela criação solo de Paul Waaktaar. Esse tipo de som me faz lembrar muito de seu trabalho no Savoy. Tem esse estilo mais clássico, diria até quase épica. Aqui não há o que criticar em termos de arranjos. A gravação ficou mesmo excelente, imune à passagem dos anos. Grande trabalho do grupo como um todo onde tudo está perfeitamente no lugar certo.

A-ha - A-ha - Hunting High and Low (1985) - Magne Furuholmen (teclados) / Morten Harket (vocal) / Pål Waaktaar (guitarra) / Compositores: Magne Furuholmen / Morten Harket / Pål Waaktaar / Data de Gravação: dezembro de 1984 / Gravadora: Warner Bros / Local de Gravação: Warner Studios, Londres / Produção: John Ratcliff Alan Tarney.

Pablo Aluísio.

The Doors - L.A. Woman

O disco final da banda The Doors, "L.A.Woman", foi gravado em oito canais entre dezembro de 1970 a fevereiro de 1971, no Doors Workshop (Hollywood, CA). Esse era um estúdio pequeno, improvisado no escritório do grupo. Logo no começo dos ensaios Jim percebeu que o som ficava ótimo dentro do banheiro e sugeriu que toda a banda fosse para dentro do sanitário! Com a recusa dos demais membros da banda, o Rei Lagarto não se fez de rogado, gravou todas as faixas sentado em um banquinho ao lado da privada... O disco foi lançado oficialmente nos EUA no final de abril de 1971. A produção ficou com Bruce Botnick e os próprios The Doors. Panelinha nativa.

Mesmo contendo três das canções mais famosas dos Doors (a faixa título, Love Her Madly e Riders on the Storm) e ter sido um dos discos mais vendidos da banda (fazendo deles o primeiro grupo de rock americano a receber sete discos de ouro consecutivos), "L.A. Woman" é uma obra que pode não ser rapidamente digerida pelos admiradores do grupo. Como Morrison Hotel já dava sinais, os Doors haviam se transformado mais do que nunca numa banda de blues, e esse último lançamento é basicamente todo dedicado a esse estilo. A diferença pode ter sido acentuada com a saída do produtor Paul Rothchild, que não gostou do que ouviu nos ensaios das novas canções e decidiu se afastar dos Doors.

Assim, resolveram produzir a si mesmos com o auxílio de Bruce Botnick, que havia sido o engenheiro de gravação dos outros discos, e prepararam o novo álbum em um estúdio improvisado no escritório da banda. Num ambiente calmo e familiar (os vocais eram feitos no banheiro, que possuía uma melhor acústica), prepararam as faixas no chamado "estúdio ao vivo", onde todos os instrumentos são tocados e gravados ao mesmo tempo, como num show. O resultado foi simples e excelente, uma grandiosa despedida de Jim Morrison. Curiosidade: o nome Mr. Mojo Risin', repetido diversas vezes durante a canção L.A. Woman, é um anagrama de Jim Morrison. Reordenando as letras é possível formar o nome do vocalista. Além disso é o nome de uma entidade de vodu, muito em voga na cidade de New Orleans, no sul dos EUA.

1. The Changeling (Jim Morrison) - Para muitos essa canção chamada "The Changeling' é um blues visceral. Para outros o único funk feito por brancos que valeu a pena ouvir (pelo amor de Deus, estamos falando aqui do funk americano verdadeiro, não daquelas coisas que são chamadas de funk no Rio de Janeiro e demais cidades pelo Brasil afora!). No final das contas não importa a exata classificação da música, o que importa mesmo aqui é a bela performance de Morrison (visivelmente "alto", dando gritos de empolgação) e sua banda. Curiosamente apesar de ser muito bem executada, com ótimo arranjo, a canção não deu muito trabalho aos Doors. Em poucos takes eles chegaram na versão definitiva. E pensar que esses ótimos solos de guitarra de Robby Krieger foram alcançados quase de primeira mão dentro do estúdio. Virtuosismo pouco é bobagem.

2. Love Her Madly (Robby Krieger) - "Love Her Madly" acabou sendo escolhida para ser uma das músicas de divulgação do álbum. Com ritmo nitidamente alegre e simpático, com a cara de Krieger, realmente parecia ser a ideal para virar um hit das rádios. A canção tem algumas paradinhas em sua melodia típicas para se ouvir nas praias californianas. Tudo muito soft e relax. Por ter essa característica tão comercial, digamos assim, não a colocaria entre as grandes faixas desse álbum. Dançante, com bom arranjo, mas em essência simplória demais para estar à altura das outras mensagens de Morrison e sua mente privilegiada. Jim aliás a achou "engraçadinha" demais da conta, mas como gostava de Krieger a gravou sem causar maiores problemas para seu amigo de banda.

3. Been Down So Long (Jim Morrison) - Depois começamos a ouvir os primeiros acordes de "Been Down So Long". Vamos aos fatos: Jim estava interessado mesmo em cantar blues nessas sessões. Embora isso de certa forma aborrecesse o batera Densmore, Morrison queria mesmo se entregar de corpo e alma ao ritmo. Essa "Been Down So Long" é o primeiro grande blues do disco. Morrison visivelmente entregue, se farta com uma canção extremamente bem arranjada, com os demais membros do Doors em momento inspirado. Curiosamente a ordem dos instrumentos foi levemente alterada para essa gravação. Não havia necessidade de órgão e nem piano e por essa razão Ray Manzarek trocou os teclados pela guitarra rítmica. Robby Krieger ficou responsável pelo Slide guitar e um terceiro guitarrista, o músico Marc Benno, ficou na base. Completando a equipe os Doors ainda contaram com Jerry Scheff, o baixista de Elvis Presley. Assim acabaram atendendo às velhas críticas que sempre afirmavam que os Doors precisavam urgentemente de um baixo em suas canções, algo que nunca havia se tornado um problema, mas que agora tinham resolvido suprir contratando o baixista da banda do Rei do Rock.

4. Cars Hiss by My Window (Jim Morrison) - Foi justamente a gravação dessa faixa "Cars Hiss by My Window" que irritou o baterista Densmore. Anos depois ele declararia numa entrevista: "Tudo bem para um vocalista pois aqueles blues eram ótimos nesse aspecto. Já para um batera como eu, era extremamente chato esse tipo de canção. Não há como inovar ou trazer coisas interessantes. A coisa toda vira um tédio. O ritmo se mantém o mesmo em praticamente todo o tempo". Se para Densmore tudo era tédio puro o mesmo não se pode dizer para o brilhante trabalho de guitarra do mestre Krieger. Ele praticamente sola da primeira a última estrofe, criando um duelo de melodia com a voz de Morrison, que aliás surge perfeita, dando a impressão de estar levemente embriagada - o que convenhamos casa perfeitamente com a proposta da gravação e da letra. Impossível ficar indiferente a esse belo momento dark etílico da carreira do grupo.

5. L.A. Woman (Jim Morrison) - "L.A. Woman" foi creditado a todo o grupo, ou seja, Morrison, Manzarek, Densmore e Krieger. Basicamente é uma declaração de amor de Morrison para a cidade de Los Angeles. Em uma de suas últimas entrevistas Jim Morrison explicou que L.A. o tinha acolhido em um momento particularmente complicado de sua vida, quando finalmente resolveu largar a universidade e viver como um vagabundo errante pelos arredores de Venice Beach, e que por essa razão era eternamente grato a ela. "Se disserem que nunca a amei certamente estarão mentindo" - decretou o cantor. Curiosamente em sua letra Morrison acaba humanizando a cidade, a identificando de forma surrealista com uma mulher, tudo sendo criado em um plano puramente subjetivo e poético, de sua maneira muito peculiar de enxergar a realidade. Os lugares da cidade por onde parece caminhar se misturam com os delicados devaneios do corpo de uma mulher amada, misteriosa e Inatingível. Em termos técnicos considero essa uma das melhores gravações da carreira dos Doors. A música tem uma melodia envolvente, que desfila em uma crescente euforia que também vai contagiando o ouvinte, tudo indo desembocar em um excesso de explosões emocionais. Certamente uma obra prima da carreira do grupo. Genial mesmo.

6. L'America (Jim Morrison) - "L'America" é outra composição de Jim Morrison com forte influência cinematográfica. É praticamente um road movie, como eram chamados os filmes de estrada, com enredos versando sobre pessoas que em determinada manhã simplesmente decidiam ligar o carro e pegar a estrada, rumo a lugar nenhum. Morrison assim vai narrando em forma sensorial essa trip, onde ele se coloca como aquele forasteiro que chega numa cidade onde não conhece ninguém. Os homens não gostam de sua chegada, mas as mulheres acabam ficando atraídas pela sua presença. A letra é até simples, com poucos versos, mas funciona muito bem, afinal Jim Morrison era um grande poeta e escritor.

7. Hyacinth House (Ray Manzarek / Jim Morrison) - "Hyacinth House" também servia de trilha sonora para essa via crucis do cantor pelos lugares menos glamourosos de Los Angeles. Aqui, em versos simples, Jim dava uma indireta até mesmo para os colegas de banda. Ele estava meio de saco cheio de viver ao lado de pessoas que só o criticavam. Isso justificava versos como: "Eu preciso de um novo amigo que não me incomode / Eu preciso de um novo amigo que não me atrapalhe / Eu preciso de alguém que não precise de mim". Essa última frase era uma resposta direta a John Densmore, o baterista dos Doors, que havia dito durante as gravações que o grupo poderia seguir em frente, mesmo sem Jim nos vocais. O clima entre eles, como se podia perceber, não era dos melhores.

8. Crawling King Snake (John Lee Hooker) - De todas as faixas uma das mais representativas é justamente essa "Crawling King Snake". Esse é um blues antigo, clássico, um verdadeiro standart. Presume-se (ninguém tem certeza) que a canção foi composta por cantores de blues de cabarés na década de 1920. Só depois vieram as primeiras gravações. Naquela época os compositores e cantores de blues eram considerados vagabundos, artistas que vendiam suas criações em troca de uma garrafa de whisky, as gravando em pequenos estúdios do tipo fundo de quintal. Assim as origens de músicas como essa acabavam se perdendo nas areias do tempo. A versão de Morrison bebe diretamente (sem trocadilhos infames, por favor!) da gravação de John Lee Hooker dos anos 1940. Em minha opinião essa versão dos Doors é inclusive superior às gravadas por Howlin' Wolf e Muddy Waters, Um registro excelente, com muita alma e espírito (provavelmente vindo diretamente das entidades que norteavam a mente do embriagado Morrison). Melhor do que isso, impossível.

9. The WASP (Texas Radio and the Big Beat) (Jim Morrison) - Outra excelente faixa desse álbum, tanto em termos de composição como gravação é a diferente "The WASP (Texas Radio and the Big Beat)". Essa canção soava como se você estivesse dirigindo por alguma estrada do Texas e sintonizasse uma rádio de blues no dial. A sigla WASP era uma referência aos brancos, aos protestantes, aos anglo-saxões, considerados "a nata" da sociedade americana. Essa sigla inclusive foi usada por organizações racistas para classificar o que era um "verdadeiro americano", pessoas bem acima do restante da escória, ou seja, dos negros, dos latinos, dos imigrantes e de todos aqueles que não se enquadrassem na visão racista e canalha da Klan. Jim obviamente usou o WASP como ironia, como crítica, como uma forma de debochar da mentalidade dessa gente. Jim incorpora um DJ na música e declama versos como esse: "Os negros brilhantemente enfeitados na selva / Estão dizendo "Esqueçam as noites" / Vivam conosco na floresta azulada / Aqui fora no perímetro não há estrelas / Aqui estamos petrificados - imaculados.". Morrison estava particularmente inspirado para escrever letras nesse disco.

10. Riders on the Storm (Jim Morrison / Ray Manzarek / Robby Krieger / John Densmore) - "Riders On The Storm" foi lançada em single, em junho de 1971. Foi o segundo compacto simples extraído deste disco. "Riders on the Storm" é uma canção visceral, excepcionalmente bem produzida e que mostra que em poucos anos o grupo atingiu uma maturidade precoce. A letra é bem emblemática e mostra como o cinema influenciou o trabalho poético de Jim, basta ler a letra e ver como tudo se desenrola como um verdadeiro roteiro de um filme, uma cena rápida, bem ao estilo de alguém que frequentou uma escola de cinema, um verdadeiro outsider cinematográfico. Bem, essa canção dispensa maiores comentários, nem vou relembrar o fato dela ter sido inspirada em um fato real ocorrido com Jim em sua infância, quem assistiu ao filme de Oliver Stone, sabe do que estou falando, por isso não vou me repetir aqui. Em suma, essa música é vital, essencial na história do Rock Mundial. No Lado B do single foi colocada "Changeling", um blues ao velho estilo. Todos concordam em um ponto, "L.A.Woman" é basicamente um trabalho de Blues. Jim poderia até mesmo ter chamado esse disco de "The Doors Blues Album" se quisesse. É uma faixa forte, recomendada para bluesmen inveterados.

Singles extraídos desse álbum:

Love her madly / Don't go no farther - Em março de 1971 os Doors lançaram seu penúltimo single. O interessante deste compacto simples foi a escolha de uma das canções do disco como lado principal. "Love Her Madly" não tem a importância de "Riders on the Storm" ou ainda "L.A.Woman", mas foi ela a eleita para figurar como música "carro chefe" do disco. Não a considero uma canção altamente relevante dentro da discografia da banda, mas me parece que ela foi escolhida por ser a mais comercial, a mais fácil de ser digerida pelas rádios americanas. No lado B desse single temos uma música que hoje em dia é considerada uma verdadeira raridade. Se você já ouviu "Don't go no farther" por aí se considere privilegiado pois essa faixa sumiu da discografia da banda após seu lançamento nesse single.

Riders on the storm / Changeling - Em junho de 1971 o grupo lançou o segundo single extraído deste disco. "Riders on the Storm" é uma canção visceral, excepcionalmente bem produzida e que mostra que em poucos anos o grupo atingiu uma maturidade precoce. A letra é bem emblemática e mostra como o cinema influenciou o trabalho poético de Jim, basta ler a letra e ver como tudo se desenrola como um verdadeiro roteiro de um filme, uma cena rápida, bem ao estilo de alguém que frequentou uma escola de cinema, um verdadeiro outsider cinematográfico. Bem, essa canção dispensa maiores comentários, nem vou relembrar o fato dela ter sido inspirada em um fato real ocorrido com Jim em sua infância, quem assistiu ao filme de Oliver Stone, sabe do que estou falando, por isso não vou me repetir aqui. Em suma, essa música é vital, essencial na história do Rock Mundial. No Lado B do single foi colocada "Changeling", um blues ao velho estilo. Todos concordam em um ponto, "L.A.Woman" é basicamente um trabalho de Blues. Jim poderia até mesmo ter chamado esse disco de "The Doors Blues Album" se quisesse. É uma faixa forte, recomendada para bluesman inveterados.

The Doors - L.A. Woman (1971): Jim Morrison (vocais) / Ray Manzarek (piano, órgão) / Robby Krieger (guitarra) / John Densmore (bateria) / Jerry Scheff (baixo) / Marc Benno (guitarra) / Produzido por Bruce Botnick, Joey Levins e The Doors / Selo: Elektra Records / Local de gravação: The Doors' Workshop, Santa Monica Boulevard, Los Angeles / Data de gravação: Dezembro de 1970 - Janeiro de 1971 / Data de lançamento: Abril de 1971.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

The Beatles - Ain't She Sweet

The Beatles - Ain't She Sweet
Grupo: The Beatles
Música: Ain't She Sweet
Compositores: Milton Ager e Jack Yellen
Álbum: Anthology 1
Selo: EMI Odeon / Apple
Data de Gravação: 22 de junho de 1961
Produção: Bert Kaempfert
Local de Gravação: Hamburgo, Alemanha

Músicos: John Lennon (guitarra base, vocais), Paul McCartney (baixo, vocais), George Harrison (guitarra solo, vocais), Pete Best (bateria)

Comentários:
Essa música era um velho hit, um sucesso antigo gravado por inúmeros artistas ao longo das décadas. Os Beatles a utilizavam desde os primeiros shows em Hamburgo, na Alemanha, quando ainda eram pouco conhecidos, praticamente um grupo de jovens que tocavam em night-clubs da cidade. Com roupas de couro e ainda contando com Pete Best na bateria, eles tiveram a oportunidade de gravá-la enquanto estavam atuando apenas como a banda de apoio do cantor Tony Sheridan. A versão do grupo, apesar de ainda serem inexperientes em estúdio, ficou excelente, nisso todos os especialistas nos Beatles concordam. Ou seja, eles já estavam prontos já naquela época bem remota de sua carreira.

A canção foi escolhida especialmente por John Lennon. Ele gostava bastante da canção, a ponto de a ensaiar bastante com os Beatles. Dentre tantas versões da música qual foi a que inspirou Lennon? Para o autor Mark Lewisohn muito provavelmente John tenha se inspirado e se baseado na versão de Gene Vincent, um cantor dos primórdios do rock americano, um roqueiro que tinha um som rockabilly que Lennon particularmente apreciava muito. De uma forma ou outra a primeira edição da gravação a chegar no mercado surgiu apenas em 1964, em um pequeno single com o selo da gravadora Polydor. Só anos depois a EMI Odeon / Apple oficializou a música dentro da discografia dos Beatles, a incluindo entre as faixas do CD "Anthology 1".

Pablo Aluísio.

Paul McCartney e os Wings - Parte 6

Conforme o tempo foi passando, Paul McCartney percebeu que não queria mais ter problemas com os demais membros de uma banda. Já bastava o que ele havia passado nos Beatles. Por isso decidiu que apenas ele, sua esposa Linda e o guitarrista Denny Laine seriam fixos dentro da formação dos Wings. Um trio que ao redor seriam incorporados os demais músicos para gravações, shows ao vivo, etc. Esses seriam apenas contratados, sem fazer parte da banda. O próprio Paul usou a expressão "fluido" para designar esse tipo de formação musical. Nada de fazer parte fixa do novo conjunto.

Enquanto Paul ia organizando seu grupo, a imprensa passava a especular sobre uma possível volta dos Beatles. O próprio John Lennon tinha declarado a um jornal americano que a volta, um dia, seria possível. Ele chegou até mesmo a dizer que os Beatles poderiam voltar em 1976, ja que o contrato deles com a EMI terminaria um ano antes. A ideia de John era recomeçar, mas em uma nova gravadora, sem a pressão do passado. Ele até mesmo passou a divulgar a ideia entre outros músicos mais próximos. Para Art Garfunkel chegou a dizer que os Beatles poderiam se reunir novamente "apenas para fazer boa música"!

Nessa mesma época Paul foi até New Orleans gravar algumas músicas novas para seu álbum e ligou para John o convidando para participar das gravações em estúdio. Lennon disse que iria pensar Talvez o maior empecilho para a volta dos Beatles fosse a posição inflexível de George Harrison. Ele chegou a dizer para um jornal inglês: "Eu toparia fazer parte de um grupo de rock com John Lennon novamente, mas não com Paul McCartney!". Isso colocava um ponto final na história de que um dia os Beatles iriam voltar.

Enquanto os Beatles não voltavam, John decidiu que iria até New Orleans gravar alguma coisa com Paul, mas no meio do caminho acabou voltando atrás. Segundo May Pang quem convenceu John a não iri gravar com Paul foi Yoko Ono. Não se sabe o que ela lhe disse, mas sabe-se que depois de um jantar ao seu lado Lennon decidiu que não iria participar do novo álbum de Paul McCartney, que ficou duplamente decepcionado. Primeiro por não contar com John Lennon em seu disco, o que iria trazer um grande interesse nos antigos fãs dos Beatles e segundo porque ele próprio queria voltar a tocar com seu velho amigo. Um sonho que parecia cada vez mais distante. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Paul McCartney e os Wings - Parte 4

Quando Paul formou os Wings ele decidiu que iria levar o grupo recém formado para os Estados Unidos. Ele escolheu a cidade de Nashville para os primeiros ensaios, um lugar para todos se conhecerem melhor e aprimorar o som. Paul alugou o rancho de um compositor, C. Putman, autor do clássico "Green, Green Grass of Home" e lá se instalou com sua nova banda e todos os familiares.

Não foi uma boa ideia. Logo ficou claro que não havia amizade entre os membros dos Wings. Eram pessoas diferentes, de origens diversas que não eram amigos pessoais. Como disse um observador na época, se Paul queria reviver a amizade que existia entre os Beatles acabou se dando mal. Ali havia músicos talentosos, mas não amigos.

Henry McCullough era um prodígio da guitarra, mas uma pessoa complicada de se lidar. Quando ficava bêbado se tornava violento e insuportável. Desde os 15 anos era admirado como excelente instrumentista, mas não se dava bem em banda nenhuma. Ele já tinha feito parte de quase 10 grupos de rock antes de entrar nos Wings. Em todos eles não havia passado mais de um ano. Ele sempre brigava ou arranjava confusões. Paul sabia de sua má fama, mas resolveu apostar. Não adiantou nada.

O baterista Geoff Britton não gostava de Henry. Os dois viviam brigando e tinham rixas pessoais com Denny Laine. Assim como projeto de amizade os Wings estavam fadados ao fracasso. Paul viu isso durante os dois meses em Nashville. Levar pessoas que não se suportavam entre si para uma fazenda havia sido uma má ideia de Paul. Era melhor que ele só reunisse um grupo para tocar ao vivo, na hora do show ou então nos estúdios para gravar novos discos. Nada de tentar forçar uma amizade. Melhor seria ainda se ele os tivesse apenas como músicos contratados. Paul ainda iludido pelo que havia vivido nos Beatles ainda não tinha a experiência necessária para entender isso.

Pablo Aluísio.

Paul McCartney e os Wings - Parte 5

Durante o período em que Paul levou os membros do Wings para os Estados Unidos as coisas só pioraram. Todos ficaram hospedados em um rancho nos arredores de Nashville para ensaios, antes que a banda finalmente saísse para realizar suas turnês. Só que os músicos não se deram bem, viviam brigando e criando atritos entre si. Não eram amigos e nem queriam ser.

Anos depois o baterista Geoff Britton relembraria aquela época: "Paul queria forçar uma amizade entre os músicos. Isso tornou as coisas piores. Eu não gostava do Henry McCullough que era um cara que bebia muito e usava drogas. Eu não usava drogas. Não queria. Me sentia bem tocando bateria para Paul, mas todo o resto era uma chateação".

Não satisfeito com essa situação ruim, Paul ainda piorou ainda mais tudo ao dizer que não queria assinar contratos com os músicos. Ele explicou que tudo teria que ser feito na camaradagem, na amizade. Paul disse que havia assinado contratos na época dos Beatles e isso só havia trazido problemas. Era uma visão infantil do que estava acontecendo. Aqueles eram músicos profissionais, pessoas que viviam de seu trabalho e que não estavam dispostos a trabalharem sem ter uma garantia. Henry McCullough foi o primeiro a dizer que iria embora. "Ganho mais trabalhando em estúdio na Inglaterra. E com contrato assinado" - disse o guitarrista a Paul em pleno ensaio.

Já havia outra briga instalada dentro dos Wings quando o próprio Henry teria dito durante uma jam session que Linda McCartney literalmente "Não tocava porcaria nenhuma!". Para Henry ter uma pessoa que não sabia tocar dentro da banda só a puxaria para baixo. Linda realmente não era tecladista ou pianista, Paul só havia ensinado a ela os acordes básicos. Quando o grupo se reunia para tocar ela sempre se perdia no meio das músicas, colocando tudo a perder.  Henry McCullough, um músico profissional e muito perfeccionista achou aquela situação uma palhaçada. Era complicado levar um trabalho à sério com Linda errando o tempo todo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de maio de 2011

The Doors - Morrison Hotel

Em 1970 Jim Morrison já tinha ultrapassado todos os limites. Ele já havia sido preso, processado e execrado pela mídia por causa de alguns concertos muito loucos que havia feito ao lado de sua banda. Não havia mais espaço para a inocência. Quando não estava sendo massacrado pela imprensa ou prestando depoimento em algum tribunal, Jim procurava relaxar. Seu lugar preferido para isso era o bar mais próximo. Quanto mais vagabundo fosse o boteco, melhor para Jim. Ele adorava passar horas e horas ouvindo blues, bebendo muito, nesse tipo de lugar. E foi em um desses bares que ele teve duas ideias que pareciam brilhantes: um disco mais visceral, cru, com muitos blues intitulado simplesmente "Morrison Hotel", justamente o mesmo nome de um dos botequins que Jim mais apreciava.

Os Doors estavam mesmo precisando cumprir seus contratos com a gravadora. Desde que Jim tinha se metido em apuros legais, ele não havia entrado mais em estúdio. A lata estava vazia! O problema para os produtores era conseguir levar Jim para trabalhar sem que ele estivesse completamente bêbado ou narcotizado. Como seu lema preferido dizia: "Os excessos levam aos palácios da sabedoria". Pelos excessos que tinha cometido certamente, naquela altura de sua vida, Jim já poderia se considerar um sábio!

De uma forma ou outra Jim prometeu cumprir o contrato, procurando beber menos durante a semana de gravações do novo álbum (algo que cumpriu apenas em parte pois em algumas faixas o ouvinte podia notar claramente que Jim estava embriagado!). Assim uma semana antes de entrar em estúdio Jim e os Doors se encontraram para os primeiros ensaios. Morrison havia escrito algumas letras, adaptado até mesmo velhos poemas de sua autoria. Como sempre o material era de primeira. Meio ao acaso, administrando o caos, então os Doors começaram a dar os primeiros acordes. O novo disco estava prestes a ser produzido.

1. Roadhouse Blues (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) - O álbum "Morrison Hotel" começa com aquele que considero o melhor blues dos Doors, "Roadhouse Blues"! Que grande gravação! Dentro dos estúdios, quando os Doors se entrosavam completamente, eles conseguiam o melhor em termos musicais. Essa faixa é certamente uma das melhores da discografia do grupo, porém uma ressalva é importante. Embora seja uma das melhores gravações dos Doors, a melhor versão de "Roadhouse Blues" não está nesse disco. Uma versão ao vivo, maravilhosa, foi descoberta anos depois. Quem adquiriu o CD com a trilha sonora do filme "The Doors" de Oliver Stone certamente saberá do que estou escrevendo. Essa "Live Version" é seguramente a melhor performance do grupo interpretando esse blues. Contando com o calor e reação do público presente no concerto, esse é seguramente o auge dos Doors em relação a essa música. A Warner Music (atual detentora dos direitos autorais dos Doors) bem poderia lançar uma versão Luxe de "Morrison Hotel" com essa faixa. Ficaria perfeito.

2. Waiting for The Sun (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) - Outra que também não fez parte das sessões originais do "Morrison Hotel" foi "Waiting for The Sun". Essa destoa muito das outras músicas desse álbum. Ela foi gravada originalmente em 1968 e sabe-se lá a razão ficou pegando poeira nos arquivos da gravadora em Nova Iorque por dois anos! É uma composição que foi creditada a todos os membros do grupo  (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek e Jim Morrison), embora saiba-se que os que mais contribuíram mesmo para sua elaboração tenham sido Manzarek, Krieger (nos arranjos) e Morrison (na letra e nos versos). Sinceramente falando não gosto muito dessa música porque ela quebra o ritmo de "Morrison Hotel", se mostrando bem fora de rota mesmo da linha dorsal melódica desse disco.

3. You Make Me Real (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) - A primeira vez que ouvi "You Make Me Real" eu pensei comigo mesmo que essa canção era alegre demais para ter saído da pena de Jim Morrison. Realmente, o verdadeiro autor desse momento pra cima era o guitarrista Robby Krieger. Ele a compôs após um encontro com uma garota que estava apaixonado há muitos anos. Por isso o tom para cima, contagiante, como se alguém realmente comemorasse aquela noite. Algum tempo depois Jim declarou: "Eu nunca escrevi nem uma linha para You Make Me Real. Acho que Robbie colocou meu nome na autoria da música por amizade ou misericórdia, ou ambos, quem sabe..."

4. Peace Frog (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) -
"Peace Frog" por outro lado traz uma das melhores melodias do disco. Puro swing. Essa é mais uma criação do guitarrista Robbie Krieger que a compôs com sua guitarra (nada de violão ou piano). Por isso se nota o intenso uso do instrumento durante toda a execução. Curiosamente a voz de Morrison foi gravada em dois canais diferentes, dando a impressão de que ele também realiza os vocais de apoio a ele mesmo! Há até espaço para Jim declamar um verso de um de seus poemas. Outro aspecto digno de nota é que a fita original de gravação apresentou um pequeno defeito, o que levou muitos a pensaram que a cópia de vinil que tinham comprado nas lojas estava com defeito de fabricação. Não era! Foi um problema do rolo de gravação dentro do estúdio mesmo. O grupo percebeu o problema técnico, mas o take havia ficado tão bom que foi lançado assim mesmo.

5. Blue Sunday (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) - A baladinha "Blue Sunday" não acrescenta muito. Jim, com a voz encharcada de álcool (e outras coisinhas mais) canta a canção com convicção, mas sem maior envolvimento. A letra é um tanto banal, o que nos leva a pensar que foi composta exclusivamente por Krieger, já que Jim não era adepto de letras pueris e banais em excesso. Ele sempre preferia o excesso, até mesmo o barroco em seus textos. Afinal era exatamente isso que o levava aos pilares da sabedoria!

6. Ship of Fools (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) - O bom e velho Jim Morrison só retorna mesmo em "Ship of Fools", um blues acelerado que ele pensou enquanto estava em uma mesa de bar da periferia de Los Angeles. No meio dos seus delírios alcoólicos ele escreveu as primeiras linhas. Depois como era de hábito enviou o esboço com cheiro de vodka e maconha para o tecladista Ray Manzarek. Morrison, como todos os fãs sabem, era um grande letrista e poeta, porém não entendia nada de notas musicais ou harmonia. Seu método de trabalho era justamente esse, escrevendo a poesia da música para que depois Manzarek e os demais Doors se virassem para compor arranjos e melodia. O curioso é que como foi provado esse tipo de  parceria sempre funcionava bem.

7. Land Ho! (Robby Krieger, Jim Morrison) - "Land Ho!" foi uma parceria entre Jim Morrison e o guitarrista Robby Krieger. Dentro dos Doors eles tinham uma amizade especial. Krieger sempre foi um cara na dele, introspectivo, até mesmo tímido. Morrison gostava muito dele. Ao contrário de sua relação ruim com o baterista John Densmore, Jim apreciava a companhia e a presença de Krieger ao seu lado. Desses encontros, geralmente no apartamento de Morrison, surgiram composições como essa. "Land Ho!" é uma expressão que significa "Terra à Vista!", sempre dita por marinheiros quando encontravam terra firme. A letra é uma referência indireta ao próprio pai de Jim, que era da Marinha dos Estados Unidos. Claro que para disfarçar um pouco Jim diz na letra que seu avô era um baleeiro, em um universo de ficção, porém fica óbvio desde os primeiros versos a associação com o velho pai. Eles sempre tiveram uma relação muito complicada, a ponto de certa vez Jim mentir durante uma entrevista dizendo que ele estava morto!

8. The Spy (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) - "The Spy" por sua vez tem uma carga erótica muito grande, embora quase ninguém tenha percebido isso ao ouvir a canção pela primeira vez. Jim Morrison tinha grande habilidade nas letras, conseguindo transmitir mensagens em linguagem cifrada que poucos conseguiam compreender de imediato. Versos como "Eu sou um espião na casa do amor" não eram tão inocentes como inicialmente poderiam soar. Para pessoas próximas Jim explicou que a letra havia sido escrita após uma aventura sexual pelas noites de Los Angeles (provavelmente com uma prostituta). Para que Pamela, a garota de Jim, não pirasse, ele resolveu colocar tudo sob um véu de metáforas, algumas parecendo simples banalidades românticas. Ficou bonita, com melodia envolvente.

9. Queen of the Highway (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) - "Queen of the Highway" é uma homenagem de Jim às mulheres que conhecia pelas noites de Los Angeles. Diretamente ele não assumia isso por causa de seu relacionamento com Pamela, mas todos sabiam que a rainha da Highway era um protótipo ou uma imagem das milhares de prostitutas que ficavam nas pistas de alta velocidade da cidade para arranjar seus clientes. Jim achava muito interessante o estilo e modo de vida daquelas moças. Durante uma conversa de bar ele chegou a dizer que havia feito a música em homenagem a todas essas mulheres que lutavam por sua sobrevivência nas noites da cidade. Jim as admirava e as respeitava, acima de tudo.

10. Indian Summer (Robby Krieger, Jim Morrison) - "Indian Summer" não foi gravada nas mesmas sessões das outras canções desse álbum "Morrison Hotel". Na verdade essa era uma faixa que estava arquivada na Elektra Records desde o ano anterior. Deveria ter saído como single, mas ficou perdida, no limbo, sem espaço na discografia oficial da banda. Antes que surgisse na praça em algum disco pirata acabou sendo encaixada aqui no disco. Não é um blues como as demais canções. É uma bela balada escrita por Robby Krieger que mais uma vez foi generoso, colocando Jim como parceiro na composição.

11. Maggie M'Gill (John Densmore, Robby Krieger, Ray Manzarek, Jim Morrison) -
Outra canção que também falava sobre as ditas "garotas de vida fácil" era "Maggie M'Gill". Essa segunda música sobre prostitutas já era mais complicada de disfarçar pois Jim resolveu homenagear a Maggie, uma garota que fazia ponto perto do bar onde ele bebia todos os dias. A letra é direta. Maggie contou a Jim que era uma garota do interior que apanhava do pai alcoólatra. Assim resolveu deixar seu passado para trás e foi para as ruas de Los Angeles ganhar sua vida. Jim ouviu tudo atentamente e disse a Maggie: "Farei uma canção em sua homenagem no meu próximo disco!". Promessa que aliás cumpriu justamente aqui nesse álbum, "Morrison Hotel".

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

John Lennon - Imagine (Single)

Esse é o single original lançado por John Lennon em outubro de 1971. Como se trata de um dos maiores sucessos de sua carreira solo (provavelmente o maior), o single acabou sendo relançado inúmeras vezes ao longo dos anos, geralmente com capas melhores, mais bem trabalhadas. O fã porém deve priorizar o disco lançado pelo cantor em vida e não as reedições plastificadas, manipuladas pela indústria fonográfica.

É interessante que o single vendeu mais do que o álbum. Penso que isso refletia uma certa fragilidade artística no LP. Nele temos uma música forte, marcante, que é a própria "Imagine", irretocável em sua mensagem pacifista. Porém depois dela não havia nada de seu nível. As demais músicas do álbum eram apenas razoáveis, nada maravilhosas. Também não fizeram sucesso, não tocaram nas rádios, não se tornaram conhecidas do público em geral. Só circulou mesmo entre os fãs de John e dos Beatles.

Assim para o fã médio, o consumidor comum que entrava numa loja de discos na época bastava mesmo ter o single, o compacto simples, ou como muitos diziam, o disquinho com apenas duas canções, uma no lado A e outra no lado B. Nada mais, estava de bom tamanho. Abaixo você pode conferir uma nova reedição do single, já com a moderna direção de arte dos tempos atuais. Na minha opinião a versão original era bem mais charmosa, além do fator nostalgia que sempre conta muito.

Pablo Aluísio.

The Beatles - 12-Bar Original

The Beatles - 12-Bar Original
Grupo: The Beatles
Música: 12-Bar Original
Compositores: Lennon / McCartney / Harrison / Starkey
Álbum: Anthology 2
Selo: EMI Odeon
Data de Gravação: 4 de novembro de 1965
Produção: George Martin
Local de Gravação: Abbey Road, Londres

Músicos: John Lennon (guitarra), Paul McCartney (baixo), George Harrison (guitarra), Ringo Starr (bateria), George Martin (harmonium).

Comentários:
Essa canção foi gravada em novembro de 1965, mas só chegou ao grande público em um álbum original dos Beatles em março de 1996, pois a gravação (o Take 2) foi escolhido para fazer parte do CD dupls "Anthology 2". Como se sabe é uma canção solo, instrumental, creditado aos quatro Beatles, algo que era bem raro de acontecer (apenas algumas pequenas faixas de discos como Abbey Road tiveram esse tipo de compartilhamento de composição entre todos os membros da banda).

Até hoje não se sabe com certeza qual teria sido a finalidade dos Beatles em gravá-la. Seria lançar como parte do disco "Mystery Magical Tour"? Faria parte do repertório de algum outro disco dos Beatles? Seria lançada como Lado B de alguma grande composição do conjunto? Várias são as hipóteses levantadas. O que podemos notar com certeza é que a canção foi excepcionalmente bem gravada, dando a entender que "12-Bar Original" foi gravada mesmo para fazer parte de algum lançamento oficial do grupo, só que acabou sendo arquivada, mesmo estando pronta para o mercado.

Muitos também dizem que seria uma faixa tipicamente de Paul McCartney, por causa de seu estio mais antigo, tipo som de blues dos anos 20 ou 30. É possível que tenha sido originalmente composta por Paul, só que também contando com contribuições importantes também de John, Ringo e George. Nos instrumentos houve a formação original, ou seja, Paul no baixo, Ringo na percussão, George Harrison e John Lennon em suas respectivas guitarras. Na pior das hipóteses perdeu-se a chance de aproveitá-la em sua discografia original, na melhor fomos presenteados, mesmo que tardiamente, com essa bela canção instrumental.

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de maio de 2011

The Beatles - Act Naturally

The Beatles - Act Naturally
Grupo: The Beatles
Música: Act Naturally
Compositores: Johnny Russell, Voni Morrison
Álbum: Help!
Selo: EMI Odeon / Parlophone
Data de Gravação: 17 de junho de 1965
Produção: George Martin
Local de Gravação: Abbey Road, EMI Studios

Músicos: John Lennon (guitarra), Paul McCartney (baixo), George Harrison (violão e guitarra), Ringo Starr (bateria e vocal).

Comentários:
Esse foi um cover que os Beatles gravaram para ser lançado no álbum "Help!". Como se sabe todos os discos dos Beatles traziam pelo menos uma faixa para ser cantada pelo baterista Ringo Starr. Geralmente, como explicou anos depois John Lennon, eram as músicas mais simples para se cantar. A gravação original foi lançada em 1963 na gravação do grupo Buck Owens and the Buckaroos pelo selo Capitol. O estilo country foi o que mais atraiu Ringo para a música, pois era um dos seus gêneros musicais preferidos.

Antes das gravação os Beatles já tinham apresentado a música ao vivo, principalmente no programa Ed Sullivan Show. O interessante é que os Beatles a colocaram para abrir o lado B do disco trazendo a trilha sonora do filme "Help!", a promovendo também como lado B do single "Yesterday", ou seja, apesar de ser uma canção secundária dentro do repertório dos Beatles na época o grupo a divulgou bastante, obviamente valorizando a figura de seu simpático baterista. Em 1989, muitos anos após o fim dos Beatles, Ringo voltou a interpretar a canção na turnê de sua banda Ringo Starr & His All-Starr Band.

Pablo Aluísio.

The Beatles - Across the Universe

The Beatles - Across the Universe
Grupo: The Beatles
Música: Across the Universe
Compositores: Lennon / McCartney
Álbum: Let It Be
Selo: EMI Odeon / Apple
Data de Gravação: 4 Fevereiro de 1968
Produção: Phil Spector
Local de Gravação: Abbey Road, Londres

Músicos: John Lennon (vocal, violão), Paul McCartney (baixo), George Harrison (violão e guitarra), Ringo Starr (maracas), Phil Spector (coro e cordas).

Comentários:
É uma das mais lindas composições de John Lennon, composta e criada quando ele estava meditando na Índia com o guru Maharishi Mahesh Yogi. Como se sabe, algum tempo depois John se decepcionou completamente com ele e chegou na conclusão que era uma fraude, mas antes disso pelo menos ele criou essa bela balada com toques psicodélicos e letra bem mística. Sem dúvida é uma criação solo de Lennon, sem a participação de Paul McCartney. Talvez por essa razão John tenha se ressentido pela gravação da música que ele criticaria anos depois. Ele havia criado uma opinião de que os Beatles se esforçavam muito nas composições de Paul, mas quando chegavam nas suas criações pintava um certo clima de preguiça e má vontade dentro do estúdio!

Ouvindo essa faixa do álbum "Let It Be" ouso discordar da opinião de John Lennon. A música, ao contrário do que ele disse, está muito bem gravada, com todos os arranjos bem feitos, tudo no lugar certo. Essa versão oficial de "Across the Universe" é uma das poucas que pode ser considerada irretocável. isso em um disco dos Beatles que sempre foi alvo de críticas, muitas delas partindo dos próprios ex-membros do grupo, como Paul por exemplo, que nunca gostou do trabalho de produção feito por Phil Spector. Enfim, "Across The Universe" é um dos maiores clássicos da discografia dos Beatles. Uma verdadeira obra prima.

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de abril de 2011

Maria Antonieta - Verdades e Mentiras

Maria Antonieta realmente disse a frase: "Se não tem pão, que comam brioches"? Não. Hoje em dia os historiadores concordam que a Rainha francesa nunca disse essa frase. Um dos aspectos que mais reforçam isso é o fato de que essa mesma frase foi atribuída a outras rainhas da França no passado, como Ana da Áustria. O que realmente ocorreu foi uma mentira inventada pela máquina de propaganda dos revolucionários franceses, sem base na realidade.

Qual era o problema sexual do Rei Louis XVI? Marie Antoinette foi uma linda arquiduquesa austríaca cuja principal função ao se casar com o Rei Luís XVI era gerar filhos para a dinastia Bourbon. Só que o tempo passou após seu casamento e nada de ficar grávida. O jovem rei francês não era impotente e nem homossexual como se chegou a dizer na época, mas apenas tímido em excesso e portador de fimose, o que lhe dificultava imensamente na hora de cumprir suas obrigações sexuais com sua esposa. Suas dificuldades de alcova levaram a boatos, de que os filhos de Maria Antonieta fossem mesmo de seu grande amor, o Conde Hans Axel von Fersen.

Maria Antonieta e o Conde Fersen realmente tiveram um romance? Outro ponto sempre debatido sobre a história da rainha. Alguns historiadores afirmam que sobre isso não restam dúvidas. Inclusive cartas foram descobertas em que Maria Antonieta escreveu: "Eu te amo loucamente e não há um momento sequer em que eu não vos adore”. Tudo bem, a Rainha seria mesmo apaixonada pelo Conde, já que o rei não era bem um exemplo de paixão romântica (ela se casou em um casamento de conveniência entre as cortes francesas e austríacas). A questão principal é: foi um amor puramente platônico ou chegou às vias de fato. Para alguns autores pelo menos um dos filhos da Rainha era filho de Fersen. Como a moralidade era flexível em Versalhes não seria de toda surpresa que a Rainha tivesse mesmo traído o Rei Luís XVI.

Marie Antoinette era parente da Imperatriz Leopoldina? Sim, ambas vinham da mesma dinastia familiar, a Casa de Habsbourg-Lorraine da Áustria. A rainha francesa era sua tia-avó. O curioso é que a Imperatriz do Brasil (casada com D. Pedro I) tinha muito receio de que lhe acontecesse a mesma coisa, que alguma revolução a tirasse do trono. Por essa razão ela sempre resistia aos avanços liberais do Imperador. A dinastia Habsbourg foi por nove séculos um símbolo máximo do absolutismo europeu.

Maria Antonieta foi tão culpada como quis fazer a Revolução Francesa? Uma injustiça foi cometida contra a Rainha quando os revolucionários a culparam de diversos crimes cometidos durante o reinado de Luís XVI. As rainhas francesas tinham pouco poder político na chefia dos assuntos de Estado. Por essa razão a maioria dos crimes atribuídos a Maria Antonieta não são verdadeiros. O que existiu foi um ato de vingança e não de justiça contra ela e sua família. Inclusive a Rainha foi acusada de coisas absurdas, como ter relações com seus próprios filhos! A única coisa que parece ter sido comprovada foi a suposta conspiração de Maria Antonieta contra o Reino da França ao pedir aos seus parentes austríacos que a salvassem da morte. Isso na época era considerada alta traição. Fora isso nada a mais foi comprovado por historiadores que estudaram seu processo.

O que aconteceu com o corpo de Maria Antonieta após sua execução na guilhotina? O ódio dos revolucionários franceses contra a monarquia era tão grande que sequer deram um enterro digno à Rainha após sua morte na guilhotina. Seu corpo foi simplesmente jogado numa cova coletiva e coberta de cal. Sua cabeça por sua vez foi comprada pelo famosa Madame Tussauds para a confecção de um rosto preciso a ser usado em seu museu de cera. A peça ficou anos em exposição. Depois que a Dinastia Bourbon retomou o poder o corpo de Maria Antonieta foi resgatado dessa cova e colocado em um belo mausoléu na Basílica de Saint-Denis onde praticamente todos os Reis Franceses da história foram sepultados. Ela está até hoje sepultada nesse monumento.

Os móveis e utensílios do Palácio de Versalhes são originais? O Palácio de Versalhes é um dos pontos turísticos mais famosos da França. Lá o visitante pode ver a cama real de Maria Antonieta, seus móveis e pertences. Tudo muito bonito e luxuoso, só que não são verdadeiros, mas sim réplicas. Os revolucionários franceses roubaram praticamente tudo o que havia dentro do palácio. Apenas alguns quadros (gigantes demais para se roubar) ficaram intactos. Depois da loucura da revolução o governo francês entendeu a importância histórica desse lugar e passou a reconstruir tudo. Alguns itens originais até foram recuperados, em leilões por toda a Europa, mas o estrago da turba revolucionária foi realmente imenso.

Qual é a importância do Petit Trianon na história de Maria Antonieta? Esse pequeno palacete, próximo de Versalhes, é um dos melhores lugares para se visitar caso você queira reencontrar lugares importantes na história de Maria Antonieta. Quando era Rainha da França ela o reformou, remodelou e foi lá morar, viver em paz, longe da corte de Versalhes que era composta basicamente por víboras. Foi uma forma que Maria Antonieta encontrou de ter um pouco de paz, privacidade e sossego, longe das conspirações políticas da corte.

O que aconteceu com o Conde Fersen e a Madame Du Barry? O Conde sueco Hans Axel von Fersen, o grande amor de Maria Antonieta, teve um destino trágico. Ele foi morto por uma multidão em fúria, bem em frente ao palácio real da corte da Suécia. Esse foi outro momento de extrema violência, ocorrida durante os ares revolucionários que varreram a Europa. Já a Madame Du Barry, amante do Rei Luís XV, também foi guilhotinada como muitos outros nobres absolutistas que foram mortos de forma violenta pela Revolução Francesa. O mesmo destino teve o Rei Luís XVI, colocando fim na monarquia original Bourbon.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Anne Frank

Anne Frank era uma mocinha cheia de sonhos, que tragicamente viveu dentro de um dos maiores pesadelos da história da humanidade, a invasão de seu país (a Holanda) por tropas nazistas durante a II Guerra Mundial. Como era de família judia ela e seus pais precisaram se esconder da barbárie racista do nazismo. Eles foram para um sótão secreto e lá viveram por alguns anos, completamente confinados, muitas vezes em silêncio absoluto, para que ninguém desconfiasse de nada.

Para suportar o tédio e aquela vida absurdamente opressora para uma garotinha de sua idade, a Anne Frank começou a escrever seus pensamentos em um diário, igual a muitos outros de meninas de sua idade. Esse diário sobreviveu ao horror do nazismo e se tornou um dos livros mais importantes da história, porque deu voz e rosto para uma vítima do holocausto. Uma coisa é afirmar que seis milhões de judeus foram mortos em campos de concentração. Outra completamente diferente é mostrar essa adolescente, cheia de esperanças no futuro, ser morta de forma tão covarde e desumana como foi.

Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas a família Frank acabou sendo descoberta pelos nazistas. Historiadores dizem que muito provavelmente eles foram denunciados aos nazistas por alguém que sabia de tudo - onde eles se escondiam. Um empregado? Um amigo da família? Quem foi o traidor? Não há como dizer. Porém é fato que os Frank foram descobertos, presos e enviados para um campo de concentração. Anne Frank foi enviada para o complexo da morte de Bergen-Belsen, Alemanha.

É muito complicado saber com exatidão como ela morreu. Até a data de sua morte é incerta, mas presume-se que ela morreu doente (e não executada na câmara de gás) em fevereiro ou março de 1945. Uma dupla tragédia já que a guerra não iria durar muito mais do que isso. Em poucos meses os aliados iriam destruir a máquina de guerra do III Reich e os nazistas iriam se render incondicionalmente. Se tivesse sobrevivido por mais algum tempo naquele inferno, Anne Frank, a menina cheia de sonhos, teria ficado viva. Ela foi transferida de campo em campo durante um certo tempo, trabalhando como mão de obra escrava, até ficar doente com sarna.

Já em Bergen-Belsen contraiu tifo e essa doença foi fatal. Muitos sobreviventes dizem ter encontrado Anne nos campos de concentração. Uma amiga disse que ela estava pálida, tremendo e com fome. Outros que ela sofreu muito em seu isolamento nas celas, chorando muito. A uma conhecida disse que seus pais estavam mortos e que não queria mais viver. De uma forma ou outra ela não resistiu e morreu. Seu pai achou o diário no chão do esconderijo da família e resolveu publicá-lo, até como uma homenagem à curta vida da filha. Tornado best-seller "O Diário de Anne Frank" é leitura obrigatória para quem deseja entender a tragédia humana que se abateu sobre o mundo durante o horror nazista.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

D. Pedro II

D. Pedro II
Nossa história não foi feita apenas de homens execráveis e inescrupulosos, muito pelo contrário. Também tivemos bons homens em momentos chaves. Um deles foi o segundo e último imperador do Brasil, Dom Pedro II. Ao contrário de seu pai que muitas vezes podia ser temperamental e rude, Pedro II era um homem elegante, educado, muito solícito e ponderado. Ele herdou todas essas características de temperamento de sua mãe, a bondosa Imperatriz Leopoldina. Ao longo de todo o seu duradouro reinado D. Pedro II jamais se envolveu em algum escândalo envolvendo corrupção ou desvio de dinheiro público. O Imperador era muito respeitado por sua honestidade e bom caráter.

Isso ficou bem claro quando foi proclamada a República. Geralmente em outros países os monarcas eram depostos com extrema violência e até assassinato. Nenhum republicano brasileiro da época levantou a hipótese de sequer tocar no Imperador e sua família, como tristemente aconteceu com o último Czar da Rússia. Ao invés disso ele foi convidado a ir para o exílio na França, mas tudo feito com o devido respeito a ele e seus familiares. A filha de D. Pedro II, Princesa Isabel, aboliu a escravidão sob sua bênção. Aliás verdade seja dita, a Princesa deveria ser a verdadeira madrinha dos movimentos negros no Brasil, pois lhes deu a liberdade há tanto desejada. Ao invés disso resolveram dar tal prestigio a Zumbi, que tinha escravos negros em seu quilombo. E isso tudo só pelo fato dele ser negro, mas enfim.

D. Pedro II também foi um exemplo de bom governante. Durante o II Reinado ele exercia um poder denominado pela constituição de Poder Moderador. Ele estava acima dos demais poderes (judiciário, executivo e legislativo), sempre permanecendo numa distância prudente de todos eles, só intervindo em situações excepcionais, quando era realmente necessária sua presença. Respeitava todas as posições políticas e sociais, ouvindo liberais, conservadores e reformistas com a mesma paciência e atenção. Um homem polido, diplomata e muito íntegro.

D. Pedro II também se notabilizou por ser um amante das artes e da ciência. Sempre procurava se inteirar das novas descobertas cientificas e não raro procurava dar apoio a cientistas inteligentes, geniais, mas pobres demais para colocar em prática suas ideias. Foi com sua intervenção direta que a máquina fotográfica chegou ao Brasil. Ele era um amante das ciências naturais e amava a natureza. Tinha um grande carinho e amor pelo Brasil e no final da vida não lamentou a perda de seu poder, mas sim o fato de não poder passar seus últimos dias em seu país querido. Não resta dúvidas que o maior legado de D. Pedro II foi sua bondade. Ele foi um homem bom.

Pablo Aluísio.