quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Independência do Brasil

Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I deu o famoso grito de independência do Brasil, "Independência ou Morte!". E de lá para cá tivemos uma longa história, de muitos altos e baixos. Hoje o Brasil passa por um momento importante, de luz na podridão da escuridão da corrupção que vem assolando nossa nação há tempos. É um momento muito peculiar. Obviamente que sempre existiu corrupção e roubo no Brasil, principalmente de sua classe política. Porém o povo não tinha realmente noção do tamanho da roubalheira. É de fato uma coisa impressionante. O bom de tudo isso é que do choque está nascendo uma nova mentalidade em nosso povo. Não mais acreditar em partidos de esquerda imundos, que apenas usaram de uma velha ideologia para literalmente roubar os cofres públicos da nação.

No fundo tudo se resume em mudar a própria mentalidade. O patriotismo, que sempre foi muito valorizado em outras nações, deve ser resgatado em nosso país. Não o usando de uma maneira boba e ufanista, mas sim como amor à terra onde nascemos. O Brasil deve ser valorizado pelo seu povo, para superar esse complexo de inferioridade que atinge grande parte da população. Claro que diante de tantas decepções com a classe política, dentro de uma democracia que até agora gerou muitos frutos podres, a sensação geral que se abate é de desânimo. Mas isso não deve ser encarado dessa maneira. Pelo contrário. Devemos aprender com os erros do passado para erguer a cabeça, valorizar e pensar melhor naqueles que iremos dar nossos votos nas próximas eleições e partir para um futuro melhor.

E assim voltamos a 1822. D. Pedro I não era um exemplo de herói virtuoso. Pelo contrário, ele tinha inúmeros defeitos. Falhou muitas vezes como pai, como marido e como político. Porém a importância de seu ato, de libertar o Brasil dos desmandos das cortes portuguesas, tem uma importância histórica inegável. Graças a D. Pedro I o Brasil não apenas alcançou sua independência, como também manteve-se unido, em um grande território unificado, com a mesma língua e as mesmas raízes culturais. A definição de nação é justamente essa. Dessa forma é fato histórico que D. Pedro I foi de fato o fundador da nação brasileira tal como a conhecemos.

Basta olharmos para nossas nação vizinhas - do antigo domínio espanhol - para entendermos bem isso. São vários países diferentes, não unificados, dispersos no mapa. Obviamente que hoje no Brasil temos inúmeras correntes políticas de pensamentos diferentes. Há os que pedem intervenção militar, os que querem a volta da monarquia, os republicanos arrependidos. Não quero criticar nenhuma forma de pensamento. Afinal vivemos numa democracia. Uma democracia machucada, explorada, expropriada. Porém como afirmou Churchill não existe opção melhor, mesmo que imperfeita. O momento assim é de reavaliação de nosso país. Que os corruptos paguem por seus crimes, que sejam presos, sem ares de seitas malucas (como acontece no caso do petismo). Olhar para a frente e partir para um futuro melhor. Afinal ser brasileiro é algo único. Não é fácil, mas a força do povo voltará a salvar nosso querido país.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O General Lee e a Supremacia Branca

Essa semana não houve notícia mais comentada do que o desfile dos supremacistas brancos na pequena cidade de Charlottesville, no estado sulista da Virgínia. A coisa toda começou quando algumas pessoas decidiram que era hora de colocar abaixo uma estátua do General Robert Lee, o herói confederado da guerra civil americana. Como gosto muito de história não deixei de prestar atenção em todos os acontecimentos. O mais curioso de tudo é saber que o velho general Lee foi, através do tempo, alçado a uma posição, se tornando símbolo de uma causa, que nem ele mesmo acreditava em vida.

O General Lee virou de certa forma um ícone desse movimento de supremacia branca nos Estados Unidos. O problema é que Lee não era um defensor da escravidão negra como muitos pensam. Ao contrário disso ele era um sujeito bem pragmático, um militar que mesmo tendo lutado ao lado dos confederados, sabia muito bem que não havia volta sobre a libertação dos escravos. A roda da história havia girado e não teria mais como manter a escravidão dos negros nas plantações de algodão das grandes fazendas do sul. O General Lee ia além e sabia até mesmo de antemão que seria impossível vencer a guerra. Homem experiente, general famoso do exército americano, ele tinha plena consciência de que as melhores tropas, os melhores armamentos e oficiais estavam do lado da União, dos ianques. Vencer aquela guerra civil era praticamente impossível.

Assim você pode se perguntar: Se Robert Lee não acreditava na escravidão e sabia que o Sul jamais venceria a guerra, por que afinal ele ficou do lado do exército confederado? A resposta sobre essa questão pode ser encontrada em qualquer biografia do militar americano. Ele sempre dizia que havia entrado para o lado rebelde simplesmente porque seu estado natal, a Virgínia, havia decidido lutar ao lado da Confederação. Ele dizia amar sua terra natal e assim foi para um exército que tinha poucas chances de vitória, lutando por uma causa que nem sequer acreditava. Ele nem era um racista, mas sim um homem do seu tempo, que sabia muito bem que a escravidão estava com os dias contados.

E a história também tem suas ironias. Com os anos Robert Lee virou esse símbolo dos supremacistas, dos neonazistas americanos do sul, mas a verdade é que ele não tinha essa visão que seus supostos seguidores ainda defendem. Já o presidente Abraham Lincoln, dito como o grande libertador, escreveu textos de cunho nitidamente racistas. Em um deles chegou a dizer que os negros jamais poderiam ser comparados aos brancos, que eram superiores. Mais do que isso, em determinado momento da guerra Lincoln estava disposto a abrir mão da abolição da escravidão em troca da paz, algo que pelo calor dos acontecimentos foi negado pelos sulistas. Assim o tempo muda as percepções. Nem Lincoln foi esse herói todo que muitos almejam, nem Robert Lee foi esse racista da supremacia branca que tantos o descrevem. A verdade histórica é bem mais complexa do que muitos imaginam.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Guerra Civil Americana - General Muralha Jackson

"Meu Deus, fui atingido por meus próprios homens!" - Foi com essas palavras que o general confederado Thomas Jonathan Jackson ou "Muralha" Jackson tomou consciência que havia sido baleado por suas próprias tropas na Batalha de Chancellorsville em 2 de maio de 1863, no auge da guerra civil americana. Jackson retornava ao front ao lado de seus homens após enfrentar fogo pesado dos ianques quando em maio aos arbustos os soldados rebeldes o confundiram com soldados da União e abriram fogo em direção a ele! "Muralha" Jackson levou três tiros, dois abaixo do abdômen e um que estraçalhou o osso de seu braço esquerdo.

Após cair do cavalo, ainda bastante ensanguentado, o general acabou sendo levado por seus homens para o hospital de campanha do batalhão. Lá descobriu-se que o estrago das balas em seu braço era extremamente sério e que ele deveria ser amputado o mais rapidamente possível. Jackson, como homem de fibra, militar linha dura, não vacilou e mandou arrancar o braço fora ainda naquela tarde. Quando Robert Lee, comandante supremo das forças confederadas, ficou sabendo do ocorrido abalou-se pois Jackson era sem dúvida seu melhor general. Após ser informado dos acontecimentos declarou uma frase que ficou famosa: "O General Jackson perdeu seu braço esquerdo e eu o meu direito". Não havia dúvidas que Jackson havia sido até aquele momento realmente o braço direito de Lee na guerra.

A preocupação de Lee tinha razão de ser. Durante a guerra seu mais inteligente general ganhou o apelido de Muralha Jackson por causa de sua capacidade de repelir ataques inimigos e manter posições conquistadas no front de batalha. Sua tenacidade de não recuar um palmo atrás acabou fazendo com que os ianques começassem a lhe chamar de Muralha, pois ele definitivamente não arredava pé das posições onde se encontrava. Ao longo de inúmeros combates Jackson também mostrou ser um estrategista capaz de antecipar os movimentos do inimigo, criando assim formações de defesa que se mostravam extremamente duras de serem rompidas. Para Muralha Jackson o mais importante em uma guerra era não recuar, ficar firme, aguentar fogo cruzado e quando possível avançar posições. Em meio a guerra sangrenta, onde o sul geralmente perdia suas batalhas por não possuir a mesma capacidade econômica do norte, Jackson acabou virando ídolo dos sulistas, o que fez a Confederação o eleger quase como um garoto propaganda de sua causa perante os Estados rebeldes.

Comandante do Exército da Virgínia do Norte ele ficou famoso não apenas no Sul como no Norte também. Quando Lincoln enviou um pomposo general para enfrentar Muralha Jackson ele se gabou dizendo que iria destruir Jackson ainda naquele fim de semana. Muito espirituoso Lincoln disse: "As galinhas é que são sábias, pois apenas cacarejam após colocarem seus ovos". O presidente brincava assim com a mania de seus generais cantarem vitória antes do tempo. Depois, quando veio a derrota para Jackson e os confederados tomaram posse de quase mil cavalos da União o presidente se saiu com outra tirada bem humorada sobre o acontecimento: "Disso lamento, já que posso fazer novos generais a cada dia, mas cavalos não!".

Mesmo com uma carreira brilhante Jackson pagou caro pelo mal posicionamento de seus homens de artilharia, que no final das contas lhe custaria a vida! Depois de sete dias, agonizando de dores por causa da amputação (imagine as condições da medicina da época), Muralha Jackson finalmente morreu. A causa foi considerada incerta por causa das primitivas técnicas medicinais da época. Para alguns ele teria morrido de uma infecção generalizada após perder seu braço, para outros a causa de sua morte foi pneumonia contraída enquanto estava se recuperando da amputação. De uma forma ou outra sua morte acabou sendo uma premonição do que viria a acontecer com os confederados na guerra civil americana.

Pablo Aluísio.

Nazismo: Posição da Ideologia

Resolvi escrever algumas linhas porque ultimamente no Brasil há um intenso debate entre as pessoas sobre a real dimensão em termos ideológicos do Nazismo. Seria uma ideologia de esquerda, alinhada aos movimentos socialistas ou bem ao contrário disso seria uma ideologia nascida de um pensamento de ultra-direita? A resposta a esse questionamento é bem simples. O Nazismo como ideologia é único, singular. Não é uma ideologia socialista e nem muito menos comunista. Quem leu o que Hitler escreveu e disse em seus discursos sabe muito bem disso. Para Hitler o Marxismo era um mal a se combater, tanto que rompeu um pacto de não agressão que mantinha com o ditador Stálin da União Soviética. O motivo desse rompimento foi puramente ideológico.

Tampouco o Nazismo pode ser visto como uma ideologia de direita. Hitler não estava completamente comprometido com nenhuma das bases que formam o pensamento mais capitalista e liberal que imperava em países como Inglaterra e Estados Unidos. Nessas nações se pregava uma atuação mínima do Estado. O cidadão deveria ter toda a liberdade para trabalhar e crescer como ser humano. O Estado só deveria intervir em setores básicos como segurança pública, mantendo um status político estável para que a iniciativa privada cuidasse do resto, da economia. No Nazismo não existia esse tipo de pensamento. Para Hitler o Estado Nacional deveria ser máximo, interferindo em todos os aspectos da vida dos cidadãos. E havia mais, não poderia existir liberdades individuais que estivessem acima da vontade desse Estado máximo. Ora, dentro do capitalismo os direitos fundamentais e a liberdade são pressupostos para o desenvolvimento de um sistema sadio, que se auto regula e conserta seus próprios problemas de funcionamento. Nem o Estado do Bem Estar Social, que é de certa forma bem mais presente na vida da sociedade, consegue ser semelhante ao Estado que Hitler pregava.

Assim o Nazismo não é socialista e nem muito menos capitalista. Não é de direita e nem de esquerda. O Nazismo é único, singular, sem paralelos com outras ideologias. A ideologia nazista nasceu de particularidades próprias que existiam na Alemanha no momento de seu surgimento. Havia o ódio racial - inexistente em outras ideologias - a ideia de uma raça superior e a tese do Estado vital para o desenvolvimento da grande pátria alemã. Até mesmo o nacionalismo exacerbado do Nazismo não pode ser comparado com outras ideologias, pois era fincado no ódio e no revanchismo pela derrota alemã na I Guerra Mundial. Havia até mesmo o sistema de escravidão de raças consideradas inferiores pelos nazistas! Quem já viu um sistema capitalista funcionando com escravos? E que socialismo seria esse que transformava trabalhadores em meros escravos? Então diante de tudo isso é bom parar com as especulações. Nazismo não é socialismo e nem capitalismo, Nazismo é simplesmente Nazismo, uma ideologia própria e única.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Rainha Cristina da Suécia

No século XVII a Europa foi varrida por uma série de guerras entre nações católicas e protestantes. O Rei da Suécia Gustalf I era um dos principais líderes políticos protestantes da época. Durante uma batalha ele foi morto. Na linha de sucessão estava sua filha Kristina ou Cristina, uma jovem com muitas ideias brilhantes para sua nação. A nova Rainha achava um absurdo promover uma guerra por questões religiosas. Assim ela queria antes de qualquer coisa assinar um tratado de paz com os católicos da Europa. Na questão interna Cristina estava disposta a promover uma grande reforma educacional na Suécia, que para ela era apenas uma nação com um povo sem cultura, sem estudo, sem ciência.

Cristina adorava os livros e as artes. Durante todo o seu reinado ela promoveu a construção de escolas e bibliotecas, além de ser extremamente tolerante com todas as demais religiões. Isso enfureceu os líderes protestantes de seu país. Os evangélicos achavam que a única sabedoria vinha da Bíblia e tudo o mais seria apenas heresia. Eram fundamentalistas fanáticos! Os protestantes também eram contra qualquer tipo de reforma visando uma ampla alfabetização e educação do povo sueco. Os pastores igualmente abominavam a ideia de ter paz com as nações católicas da Europa. Os diversos grupos de protestantes da Suécia acreditavam que os católicos deveriam ser mortos. Os Luteranos eram os mais empenhados em promover uma guerra de matança continental contra todos os católicos europeus. A Rainha porém abominava uma visão tão absurda como aquela. Não é à toa que começou a se criar contra ela um grande movimento de oposição aos seus planos de Estado.

A Rainha estava consternada com a corrupção religiosa dos pastores suecos. Eles dilapidavam os cofres públicos e roubavam as pessoas pobres, das comunidades mais humildes do interior. A ira e o fanatismo dos protestantes contra qualquer outra forma de religiosidade também impressionaram a Rainha. Diante de tanta corrupção, roubo e abusos, a Rainha aos poucos foi se aproximando dos católicos. O Papa enviou um grupo de jesuítas para mostrar a doutrina católica para a Rainha. Ela ficou impressionada com o verdadeiro catolicismo e não apenas com aquilo que ela pensava ser a doutrina católica. Logo a Rainha pensou em se converter ao catolicismo romano, se aproximando cada vez mais do Papa Alexandre VII.

Também se tornou muito amiga do filosofo católico René Descartes, de quem era grande admiradora. O pensador mostrou para a Rainha seus pensamentos, sua filosofia. Ela ficou grandemente inspirada. Os protestantes porém odiavam Descartes e sua forma de pensar livre e libertadora. Depois de muito lutar contra os protestantes obtusos e atrasados da Suécia, Cristina resolveu abdicar em favor de seu primo. Ela entregou o trono e foi morar em Roma, no berço cultural do mundo da época. A rainha se converteu ao catolicismo e começou a aproveitar sua vida, livre da opressão insuportável dos protestantes. Ela se tornou protegida do Papa e viveu seus últimos anos entre artistas, pensadores, escritores e dramaturgos. Quando morreu a Rainha teve a honra de ser enterrada ao lado dos Papas, algo inimaginável para outras mulheres do século XVII. O fato justificador é que a Rainha havia se tornado um símbolo poderoso da força da doutrina católica.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de abril de 2011

Ricardo Coração de Leão e a Terceira Cruzada

Richard I ou Ricardo Coração de Leão segue sendo um dos monarcas mais amados e admirados da história inglesa. Ele subiu ao trono em julho de 1189 e se notabilizou por ter liderado a Terceira Cruzada em direção a Jerusalém. Naquela época a cidade estava sob dominação dos muçulmanos. Ele havia participado da Primeira Cruzada, mas retornou reclamando que ela havia sido desorganizada e sem planejamento. Para essa terceira expedição rumo à Terra Santa, Ricardo Coração de Leão fez um planejamento minucioso, além de ter angariado um verdadeiro tesouro entre seus súditos e vassalos para que nada faltasse durante a longa jornada em direção ao Oriente Médio.

Para fortalecer ainda mais a Cruzada, Ricardo contou com o apoio de outro monarca, o Rei Filipe II da França. Embora existissem várias diferenças políticas entre eles, que quase o levaram à guerra no passado, o fato de marcharem juntos agora selava uma poderosa aliança entre os reinos da França e Inglaterra. A causa comum que os unia era justamente a cruzada intercontinental. A cruzada se organizou na França e os dois monarcas começaram a viagem, passando por cidades italianas, chegando finalmente aos principais portos do Mar Mediterrâneo. Em Chipre o rei bizantino local achou que todos aqueles exércitos significavam uma ameaça, iniciando-se uma das primeiras batalhas da cruzada. Ricardo sagrou-se vencedor e tornou Chipre uma província do seu império.

Ricardo Coração de Leão chegou na Terra Santa bem no meio do calor do conflito. As forças de Saladino, líder muçulmano, massacravam o povo de Jerusalém. Qualquer cristão capturado tinha sua cabeça decapitada pelos seguidores do islã. As tropas de Ricardo chegaram no meio de uma grande batalha campal entre cristãos e islâmicos e conseguiu arrancar uma grande vitória no front. Os principais generais de Saladino foram aprisionados e executados. Grande parte de seus guerreiros abaixaram as espadas e se renderam. Quando a notícia chegou na Inglaterra o Rei Ricardo foi saudado como um herói da fé cristã e católica. Um monarca que deixou tudo para trás em nome da libertação da Terra Santa.

Infelizmente Ricardo teve que retornar para a Inglaterra menos de um ano depois sem conseguir seu grande objetivo: a tomada definitiva de Jerusalém. Ele teve que retornar para deter uma conspiração de nobres que ameaçavam sua coroa. Havia também disputas por territórios que contrariavam os interesses de seu reinado. Na viagem de retorno Ricardo foi capturado por outro monarca cristão, Leopoldo da Áustria, que tinha uma velha rixa com o Rei inglês. Feito prisioneiro, Ricardo foi enviado para uma prisão controlada por Henrique VI do Sacro Império Romano Germânico. Só após o pagamento de um valioso resgate ele foi libertado. Tudo isso atrapalhou e muito os objetivos de Ricardo de voltar um dia para Jerusalém para terminar o que havia começado com a Terceira Cruzada. Em abril de 1199 o Rei Ricardo Coração de Leão levou uma flechada mortal no abdômen. Ele foi ao campo de batalha sem armadura, um erro que lhe custou a vida. Ricardo tinha planos de pacificar as fronteiras dominadas pelo império inglês para só então retomar para a Terra Santa, mas não houve tempo. Ele morreria antes de concretizar seus sonhos e seus objetivos.

Pablo Aluísio.

Os Nazistas na TV

Eu vou chamar a atenção para um fato que tenho notado ultimamente na TV a cabo, principalmente em canais que abortam temas históricos como The History Channell e até mesmo National Geographic. A questão é o alto número de programas enfocando os nazistas, suas histórias, suas doutrinas, armas, arquitetura e é claro seu ícone máximo, Hitler. O que me deixou muitas vezes surpreso é que vejo poucos programas mostrando a vida dos vencedores da II Guerra Mundial. Para cada 1 programa mostrando a vida do primeiro ministro Winston Churchill deve haver pelo menos uns dez sobre Hitler. E o grande presidente Roosevelt? Não me lembro de ter assistido nada sobre ele. Já sobre Hitler, Himmler e demais líderes nazistas existem às dezenas.

Porque isso acontece? Eu estive pensando esses dias justamente sobre isso. A primeira hipótese que analisei foi o fato de que muitas desses canais de TV pertencem a grupos de judeus. Provavelmente não deixando cair no esquecimento o nazismo essas empresas queiram alertar às novas gerações sobre o perigo de ideologias como essa. Pode até fazer sentido. O problema é que muitos programas não possuem - pelo menos eu não consegui perceber isso - essa mensagem de denúncia tão óbvia. Afinal que denúncia haveria em mostrar os foguetes, navios e armas das forças do III Reich? Esse teor de alerta surge mais em programas sobre o holocausto. Nos demais não vejo algo tão incisivo assim.

Outra tese seria a de que os acontecimentos ocorridos durante o auge do nazismo foram tão absurdos que acabaram criando um conteúdo sensacionalista irresistível para o grande público. Seria a versão histórica dos programas sensacionalistas policiais que infestam as TVs abertas. Há sentido nesse tipo de afirmação? Em termos. Os nazistas se celebrizaram por não possuírem qualquer tipo de limite ético e humano. Eles realmente cometeram crimes e barbaridades inomináveis. Esse tipo de coisa sempre desperta o lado da curiosidade mórbida em cada espectador. Daí a audiência conquistada por esse tipo de programa.

Por fim e pegando um gancho com essa última hipótese é possível que o mal absoluto exerça uma atração profunda na alma humana. O próprio Hitler costumava dizer que apenas o ódio iria atrair as atenções para ele. Por isso foi um propagador de ideias de ódio, racismo e violência. Provavelmente se tivesse pregado a tolerância, a bondade e a conciliação nunca deixasse de ser um político medíocre do interior da Alemanha. Já com seus discursos de puro ódio virou um líder nacional. Por essas e outras que termino esse breve artigo dizendo que é chegado a hora também de valorizar a história dos grandes estadistas que venceram o nazismo. Há de haver um equilíbrio maior na programação desses canais.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de abril de 2011

1808

Achei extremamente agradável a leitura desse livro intitulado "1808" de autoria de Laurentino Gomes. A leitura flui muito bem pois o autor procurou trazer o máximo de informações de uma maneira simples e direta, sem exageros acadêmicos (que acabam tornando qualquer livro uma chatice enfadonha). Como o próprio título sugere a proposta é resgatar os anos em que a família real portuguesa viveu no Brasil (como sabemos a dinastia Bragança na realidade estava fugindo do imperador Napoleão Bonaparte). Assim somos levados aos primórdios de nossa nação em capítulos curtos que procuram resgatar não apenas o lado mais histórico dessa estadia imperial na colônia, mas também os costumes e o modo de viver dos brasileiros e portugueses naquela época.

Um dos aspectos mais interessantes vem do choque cultural entre os nobres portugueses e a classe burguesa brasileira. Poucos sabem, mas o Reino de Portugal estava falido e a família imperial arruinada. A rainha, D. Maria, estava louca e o império acabou indo parar nas mãos de D. João VI, que nem estava na linha de sucessão pois só herdou o trono porque seu irmão mais velho morreu precocemente. D. João VI é uma figura tão tradicional como folclórica em nossa história. Ele era baixo, gordo e de temperamento medroso. Morria de medo de caranguejos (o que o fazia evitar tomar banhos de mar) e de tempestades (quando ouvia trovões se escondia debaixo de sua cama no Palácio real).

Como se pode perceber D. João VI não tinha a menor vocação para ser Rei porém teve inteligência suficiente para confiar em homens bem mais preparados do que ele, conselheiros que mantiveram a colônia unificada e segura. O autor lembra de um fato importante: embora Dom João VI seja retratado como um trapalhão e um abobado ele na realidade foi um dos poucos Reis europeus que não foram decapitados naqueles tempos revolucionários. Nesse ponto de vista histórico o velho e inepto D. João VI tão mais bem sucedido do que a formosa dinastia dos Bourbons da França, que terminaram na guilhotina dos revolucionários franceses.

E como não poderia faltar em um livro sobre a família real portuguesa no Brasil há todo um capítulo dedicado apenas à Carlota Joaquina. Curiosamente o autor aliviou um pouco a imagem de uma mulher escandalosa e promíscua como era retratada nas crônicas da época. Certamente Carlota era vil, traidora e escandalosa, mas em um nível menor. Não há como comprovar historicamente os inúmeros casos extraconjugais que foram atribuídos a ela. Nem tampouco que teria realmente conspirado tanto como foi dito a D. João VI que cansado de suas supostas conspirações a isolou de sua vida pessoal. Só se encontravam em eventos e mesmo assim de maneira protocolar.

Além dos personagens históricos o autor procura recriar o Rio de Janeiro do século XIX, com suas ruas cheias de escravos, sujeira e caos urbano. O interessante é que mesmo chocados com a realidade da colônia brasileira os nobres portugueses, apesar da pompa e elegância em seus trajes, estavam arruinados e precisavam do dinheiro dos burgueses brasileiros. Assim centenas e centenas de títulos de nobreza eram trocados por dinheiro, ouro ou propriedades, mostrando o quanto a corte lusa era corrupta já naqueles tempos. Vários traficantes de escravos foram honrados como nobres, duques e marqueses, mesmo que não soubessem sequer a ler. Tudo em troca do vil metal. Pelo visto a corrupção em nosso país certamente tem raízes históricas mais profundas do que realmente pensamos.

Pablo Aluísio.

Ascensão e queda das grandes potências

Esse é o livro que estou lendo atualmente: Ascensão e Queda das Grandes Potências de Paul Kennedy. É um longo e bem preparado estudo sobre as potências que já dominaram o mundo nos últimos cinco séculos. Para estudar o sobe e desce no tabuleiro mundial o autor analisa aspectos militares, econômicos, geográficos, históricos e sociais.

A capa da primeira edição era bem interessante. Nele víamos um inglês descendo um pódio, sendo superado por um americano (o Tio Sam) e logo atrás um japonês. O tempo passou, os Estados Unidos ainda seguem como a principal nação do mundo e o Japão ainda se mostra como o grande potencial.

Isso porém não importa. Considero um excelente trabalho e também uma leitura bem agradável, nada pesada ou enfadonha. Destaco, entre tantos aspectos extremamente interessantes, o jogo de poder entre França e Inglaterra durante a chamada Idade moderna. Uma rivalidade ferrenha que colocou as duas maiores nações europeias em choques sucessivos ao longo dos séculos. Quem venceu essa queda de braço? Ora, deixo a dica da leitura para você. Não deixe de conhecer.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nazismo: O Mal Absoluto

Hoje se celebra os 70 anos de libertação do complexo Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração nazista. Muitas pessoas não acreditam que exista um mal absoluto no meio da humanidade, mas isso é um erro. A história dos campos de concentração do Terceiro Reich estão aí para nos lembrar que o mal absoluto existe e em condições ideais aflora de maneira monstruosa e incontrolável. Apenas as leis e uma forte e presente consciência coletiva fará com que esse mal não mais se repita. É preciso sempre educar as novas gerações, ensinar-lhes o que aconteceu e não deixar esse holocausto da alma humana se perder nas neblinas da história. O que aconteceu durante esse período talvez nunca seja completamente explicado. O que levou uma nação civilizada, culta e educada como a Alemanha a cometer atos de tamanha barbárie é em minha visão algo que sempre será um mistério completo. Por mais que a Alemanha tenha sido humilhada após a Primeira Guerra Mundial, abrindo assim o caminho para patifes como Adolf Hitler subir ao poder, nunca conseguirei compreender completamente as engrenagens dessa verdadeira indústria da morte que foi instaurada no período mais nebuloso da história humana.

Talvez a força de uma ideologia explique muita coisa. Ideologias sempre são perigosas. Quando se acreditam nelas cegamente a coisa pode tomar rumos inesperados. E isso não se refere apenas ao nazismo, mas a outras ideologias semelhantes também, como o fascismo e o comunismo. Essa última sempre me preocupou pois em países de periferia mundial como os latino-americanos a ideologia socialista ainda persiste. É trágico, mas infelizmente o Brasil hoje passa por uma profunda doutrinação socialista em escolas e universidades. Esquecem de ensinar porém que o comunismo matou mais pessoas ao longo da história do que o próprio nazismo. Se a Alemanha nazista assassinou estimados 5.5 milhões de judeus nesses campos de concentração, o famigerado líder soviético Stálin teria sido responsável pela morte de 60 milhões de soviéticos, em uma das ditaduras socialistas mais insanas e sanguinárias da história. E na Rússia comunista também havia campos de concentração e crimes contra a humanidade. Houve um holocausto vermelho. Isso porém pouco é relembrado em nosso país, o que é duplamente trágico. A perplexidade causada pelos horrores do holocausto nazista era para ser ao menos semelhante aos crimes do comunismo, mas em nosso país pouco se fala sobre isso, algumas vezes de forma tímida e acanhada. Uma tragédia educacional toma forma em nosso país de maneira silenciosa.

Os nazistas tinham uma visão deturpada do mundo. Eles se consideravam arianos puros, loiros de olhos azuis e por isso especiais. As demais raças eram ditas como inferiores e algumas deveriam ser eliminadas sumariamente. Em relação aos judeus havia esse ódio implantado por Hitler em sua obra "Mein Kampf", onde ele culpava o povo judeu pela destruição da economia alemã. Essa ideologia de ódio aos judeus porém não foi criada por ele, já existia de forma latente dentro da sociedade alemã, tanto que ele apenas a abraçou de forma fanática, resolvendo colocar em prática o que antes era apenas despeito e raiva incontidas pelo sucesso dos judeus no comércio, na indústria e nas finanças. O problema das ideologias é essa: muitas vezes elas nascem do puro ressentimento e depois tentam ganhar ares de pseudo explicação econômica, social ou científica. O próprio Karl Marx tinha esse ressentimento bem profundo em seu modo de pensar. Para ele uma pessoa bem sucedida financeiramente não poderia ter chegado lá por seus próprios méritos, mas sim por explorar os demais. Ressentimento e rancor parecem ser sempre o cimento que une os tijolos desses sistemas ideológicos. Algo na linha: "Eu sou pobre, você é rico, devo arranjar uma forma de lhe eliminar". As ideologias crescem no meio desse tipo de sentimento. Para piorar tornam cegos todos os seus seguidores. Geralmente se fecham os olhos para os crimes horrendos de seus líderes ideológicos. Aconteceu durante o nazismo e segue acontecendo também nas ideologias de esquerda que continuam a prosperar.

Em relação ao nazismo é muito complicado de entender o que de fato aconteceu, mesmo com esse tipo de tentativa de entendimento. Certamente a ideologia exerceu grande e forte influência, porém como justificar as mortes de mulheres, idosos e crianças em câmaras de gás em ritmo industrial? Qualquer pessoa com um mínimo de humanidade se recusaria a participar de algo assim, mas lá estavam os oficiais SS, muitos deles do sexo feminino, tendo até mesmo um certo sentimento de prazer sádico em matar toda aquela gente. Teria a Alemanha tido a triste sina de ver o surgimento de uma geração de psicopatas? Muitas daquelas pessoas que trabalhavam em Auschwitz-Birkenau viam aquilo como um emprego normal ou uma função que tinham que desempenhar em seu expediente normal de trabalho. Após passar o dia enviando pessoas inocentes para a morte eles trocavam de roupa e iam para casa, normalmente, jantar com suas famílias e não pareciam ter qualquer tipo de sentimento de culpa ou remorso. Sinceramente falando a mente humana pode ser um lugar escuro e sombrio em determinados momentos da história. A grande lição histórica porém de tudo o que aconteceu pode ser resumida numa frase bem singela: tenha muito cuidado com as ideologias, elas matam e desumanizam o ser humano, geralmente em ritmo industrial.

Pablo Aluísio.

O Pensamento Conservador

Como o pensamento conservador tem atraído muito a atenção dos brasileiros, principalmente dos jovens, vou aqui numa série de textos escrever sobre o conservadorismo e seus principais escritores, livros e ideias. Infelizmente o pensamento conservador é praticamente desconhecido do povo brasileiro. A Academia, as escolas e as universidades brasileiras foram fundadas em cima de um pensamento de esquerda. O conservadorismo é visto como um monstro, um bicho papão ideológico, o símbolo de tudo o que há de ruim no mundo. Um pensamento fruto da doutrinação ideológica de esquerda. Enquanto nos grandes centros de saber do mundo os autores conservadores são lidos e estudados, no Brasil eles são desconhecidos. Só há espaço mesmo para o chamado Marxismo cultural, que sempre foi muito pródigo em gerar frutos podres nas nações por onde se alastrou.

Pois bem, há certos mitos absurdos sobre o pensamento conservador que merecem ser esclarecidos. Outro dia vi um sujeito de formação marxista no Youtube afirmando que o conservadorismo se resumia numa ideologia política que visava manter a riqueza dos mais ricos e a pobreza dos mais pobres. Que pensamento grotesco! Alguns dos países mais conservadores do mundo são aqueles em que há a melhor distribuição de renda. Um exemplo simples? O Reino Unido. A Inglaterra é uma nação conservadora, de pilares conservadores. Seu sistema político é plenamente conservador em todos os detalhes e instituições. Há uma monarquia constitucional instalada. Esse sistema é o mesmo há centenas de anos. E como vive a classe trabalhadora inglesa? Muito bem, obrigado. Todo trabalhador britânico tem sua casa, seu carro próprio, dinheiro para sustentar sua família, saúde pública de alto nível, gratuita para todos os cidadãos e uma economia que gera empregos. Não vejo no caso inglês nenhum sinal de uma elite conservadora rica massacrando o povo trabalhador.

Enquanto isso o que vemos em nações que dizem se alinhar com o pensamento de esquerda? Muita pobreza, péssima distribuição de renda, desemprego massivo e uma classe política que monopoliza o poder, usando ao seu bel prazer, para implantar um sistema de corrupção institucional. Fora as degenerações políticas dentro do próprio sistema dito socialista. Vejam o caso de Cuba em que o poder político é exclusivo de uma família. Morreu Fidel Castro e o poder foi passado para seu irmão. Esse já afirmou que se afastará e o poder será passado para seu sobrinho. Cuba caminha para ser um feudo comunista dos Castros em poucos meses. E o povo cubano? Na mais profunda miséria, assim como o povo venezuelano. Pergunte a um trabalhador inglês se ele deseja ir morar em Cuba! Depois pergunte a um trabalhador cubano se ele gostaria de morar na Inglaterra! Não precisa ser um expert político para responder a esse tipo de pergunta.

O pensamento conservador vai muito bem nas nações que o abraçaram. O povo vive bem, os índices de violência são baixíssimos e as crianças são educadas desde cedo para respeitar os mestres, seus professores. O pensamento de esquerda ao contrário forma ativistas de luta frontal contra a autoridade. Por isso vemos tantos casos de alunos agredindo professores no Brasil. E o curioso é que muitas vezes a culpa é dos próprios professores que doutrinando seus alunos os ensinam que a autoridade e a hierarquia devem ser combatidas, agredidas e abatidas. O veneno voltou-se contra eles. A esquerda sempre forma ativistas violentos, não tem jeito! Pois bem, no próximo texto irei trazer o grande pensador conservador Edmund Burke (ilustração), um dos pilares do conservadorismo britânico. Certa vez ele disse: "As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados.“ Uma frase brilhante e genuinamente conservadora.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Maria Antonieta

Maria Antonieta foi a última rainha da França. Ela e seu marido, o rei Luís XVI, foram decapitados pelos líderes da revolução francesa. Tudo embasado em um julgamento claramente parcial e injusto, que tinha como objetivo apenas matar os monarcas do antigo regime. Maria Antonieta, em seu últimos momentos, se agarrou em sua fé católica e escreveu uma carta de despedida para sua irmã, onde reafirmava sua crença na religião católica, naquele momento final de extrema tragédia. Nesse texto ele pede perdão a Deus pelas coisas erradas que teria feito em vida e pedia ao seus filhos que não se vingassem dos revolucionários pois apenas a Deus caberia a justiça.

Ela foi muito difamada e caluniada, crimes horríveis lhe foram atribuídos, sem nenhuma prova, mostrando que o novo regime que nascia poderia ser tão fanático e radical como os antigos detentores do poder que eles criticavam. Maria Antonieta foi assim transformada em um bode expiatório da revolução francesa, um momento muito cruel para a religião católica pois muitos membros do clero foram assassinados brutalmente, de forma sumária, pelos revolucionários. O chamado "Terror" levou quase todo o clero francês para a guilhotina. Houve certamente uma perseguição religiosa brutal contra a fé e o cristianismo naquele momento trágico. Vários padres, bispos, monges, freiras e religiosos em geral eram colocados em carroças, sendo levados para a guilhotina em longas procissões onde o povo enfurecido lhes diziam ofensas, calúnias e injúrias.

O grau de fanatismo louco da revolução francesa foi tamanho que chegou-se a acusar a rainha até mesmo de incesto, algo que era uma grande mentira. O pior de tudo é que todos sabiam que era uma mentira, mesmo assim condenaram a rainha Maria Antonieta para ser executada, onde ela seria decapitada de forma cruel. A rainha porém mostrou-se muito lúcida em seus momentos finais, não blasfemando, não devolvendo as ofensas, mesmo tendo sofrido todos os tipos de violências físicas e psicológicas. Seus filhos haviam sido tirados dela, seu filho, o herdeiro da coroa, morreria logo após. Era uma criança apenas, mas os revolucionário o jogaram em um calabouço imundo.

Hoje em dia a figura de Maria Antonieta é muito associada ao luxo, à moda, aos exageros do palácio de Versalhes. A rainha foi realmente exuberante, já que isso era uma característica da época, porém ela também foi esposa e mãe, que sofreu muito ao ver sua família ser dizimada por loucos revolucionários com sede de sangue. Mesmo que a dinastia Bourbon fosse destronada era no mínimo civilizado deixaram Maria Antonieta e sua família irem embora para a Áustria, sua terra natal (ela era filha da imperatriz Maria Tereza). Matá-los, inclusive seus filhos pequenos, que eram apenas crianças quando a monarquia foi deposta, só mostrava mais uma faceta violenta de uma revolução que a despeito de usar o slogan da "Liberté, Egalité, Fraternité" (Liberdade, igualdade, fraternidade) certamente cometeu muito crimes contra católicos e pessoas religiosas em geral. Sob o ponto de vista religioso a revolução francesa foi sanguinária, injusta e bárbara. 

Na última noite de vida a Rainha escreveu para a irmã e encerrou sua carta de despedida com as seguintes palavras: "Morro na religião Católica Apostólica Romana, que foi a de meus pais, que me trouxe a vida e que sempre professei. Não havendo nenhum consolo espiritual para procurar, e nem ao menos sabendo se existem nesse lugar padres dessa religião (realmente o lugar onde estou os exporia a perigo demais), eu sinceramente imploro o perdão de Deus por todos os pecados que eu possa ter cometido durante a minha vida. Confio que, em Sua bondade, Ele irá aceitar minhas últimas preces com misericórdia, tal como aquelas que eu tenho endereçado a Ele faz tempo, e que irá receber minha alma dentro de Sua piedade."

Pablo Aluísio. 

Catarina II

Na escola você aprende que o reinado de Catarina II, a Grande, foi um dos maiores exemplos daquele tipo de monarca que foi chamado pelos historiadores de "déspota esclarecido", ou seja, membros de uma monarquia que já conhecia os ideais do iluminismo, das transformações da iriam desembocar na Revolução Francesa, mas que continuavam em essência absolutistas. Apenas para não vivenciassem a tomada de poder por essas forças liberais, faziam pequenas concessões para o povo em geral. Era uma maneira de se manterem no trono. Continuavam absolutistas, déspotas, mas já estavam esclarecidos sobre os novos valores que começavam a se espalhar por todo o continente europeu.

Catarina II não era uma Romanov de nascimento. Ela apenas se casou com um Romanov e depois ajudou os opositores a se livrarem dele, que era o legítimo sucessor por tradição. Era uma mulher culta, inteligente, muito vocacionada para a ciência política. Por isso conseguia sempre superar as inúmeras intrigas políticas da corte, vencendo e superando todos os adversários que atravessavam seu caminho. Acabou assim se tornando a grande imperatriz da história russa. Seu marido, Pedro III, era um tipo contrário a essas qualidades, um despreparado que foi logo colocado de lado. Dentro da corte russa valia mais sua astúcia e perspicaz política do que propriamente um direito de nascimento. Apenas os mais fortes sobreviviam. Esse Czar russo, Pedro III, tentou tirar parte dos direitos tradicionais da nobreza, além disso era um bobo apaixonado pela Prússia e Frederico, algo que soava praticamente como um traição ao nacionalismo russo, eterno inimigo dos prussianos. Não demorou muito e caiu em desgraça perante a nobreza e o povo.

Assim depois de um golpe de Estado apoiado pela nobreza, Pedro III foi afastado do poder, sendo assassinado logo depois. Catarina assumiu as rédeas do Estado e sendo uma mulher preparada intelectualmente se saiu muito bem na direção daquele império continental. Os primeiros anos de Catarina II no poder foram gloriosos. Ela implantou reformas administrativas no império, reformulou o exército, conquistou territórios que até mesmo Pedro, o Grande, não havia conseguido dominar e transformou a Rússia em um dos mais poderosos impérios do mundo. Além disso é interessante notar que conseguiu se manter no trono até sua morte, isso em uma época em que os ideais que iriam causar a Revolução Francesa colocavam dinastias seculares na berlinda. Catarina foi hábil o suficiente para sobreviver e fortalecer um sistema político que estava em franca decadência em sua época.

Embora o reinado de Catarina II seja sempre lembrado com louvor pelos historiadores russos, houve também problemas enquanto esteve no poder. Catarina muitas vezes misturou assuntos pessoais com assuntos do Estado. Uma mulher muito ativa sexualmente, geralmente colocava seus amantes em postos chaves do império. Sua conduta sexual fora dos padrões para a época também mancharam sua reputação. A Imperatriz Maria Teresa da Áustria, por exemplo, outra mulher de imenso poder na época de Catarina, a considerava uma degenerada e uma promíscua. Muito provavelmente Catarina tenha sido apenas uma mulher à frente de seu tempo nesse aspecto, pois se recusava a se enquadrar no antigo estereótipo da mulher e mãe que imperava no século XVII. Ela quis e foi mais do que isso, usando os homens de acordo com seus propósitos políticos e não sendo usada por eles como era tão comum. Após reinar por 34 anos ela teve um AVC fatal em sua palácio imperial. Catarina não queria que seu filho Paulo se tornasse imperador, mas seu neto Alexandre. Considerava Paulo um desequilibrado cruel. Ela estava pronta para mudar sua sucessão ao trono, mas antes disso faleceu, deixando para Paulo um império como os russos jamais tinham visto antes.

Paulo I assumiu o poder na Rússia imperial após a morte de sua mãe, Catarina II. Ela não queria que ele assumisse como czar e tinha até mesmo feito planos para tirá-lo da sucessão, mas antes disso sofreu um derrame e morreu aos 68 anos de idade. Paulo não gostava da mãe a quem acusava de ter se envolvido na morte de seu pai, Pedro III. Para se vingar dela mandou exumar os restos mortais dele, para que fosse enterrado no mesmo ritual fúnebre de sua mãe.

Catarina II tinha razões para não gostar do próprio filho. Ele era um sujeito bem cretino, que estava mais interessado em vestir roupas espalhafatosas, inspiradas no exército prussiano, do que em administrar o império russo. Também era cruel, aplicando punições físicas e torturas em seus subordinados pelos menores deslizes. Tinha uma personalidade pusilânime, mostrando-se duro e autoritário para o povo russo ao mesmo tempo em que era manipulado e mandado por sua amante, uma mulher sem origens nobres que ele havia conhecido em um bordel. Quando assumiu o poder absoluto os russos descobriram alarmados que uma das pessoas mais influentes da corte era o barbeiro de Paulo, um ex-escravo dado de presente por sua mãe e que se tornaria seu amigo ao longo dos anos. De uma forma ou outra Paulo jamais conseguiu superar sua mãe, pelo contrário, foi uma grande decepção para o povo russo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pepino, o Breve

Começo hoje a tratar sobre os grandes Reis da França. O primeiro será Pepino, o Breve, o primeiro Rei da Dinastia Carolíngia. Pepino III subiu ao trono em uma época ainda marcada pela fragmentação do Império Romano do Ocidente. Desde que Roma caiu começou a existir um grande vácuo de poder por toda a Europa. Esses primeiros monarcas francos tinham o sonho de restaurar a soberania que havia existido nos tempos clássicos, da Roma Imperial. Esse sonho seria inclusive passado para o filho de Pepino, o grande Carlos Magno e seu Sacro Império Romano Germânico.

Pepino era filho do grande conquistador Carlos Martel. Seu apelido "O Breve" não se referia ao fato de ter reinado por pouco tempo, mas por causa de sua altura diminuta - sim, o primeiro Rei Franco da Dinastia Carolíngia era um baixinho! Quando seu pai morreu deixou toda a sua fortuna e suas terras a seus dois filhos, Pepino e Carlomano, seu primogênito. Estamos falando de um tempo ainda muito distante da história, onde havia o sistema feudal prevalecendo por toda a Europa. Assim não demorou muito para que Pepino e Carlomano começassem a disputar entre si os principais feudos e terras. Era algo inevitável.

Pepino então se uniu a bispos influentes, fazendo de tudo para que as tribos germânicas fossem evangelizadas. Isso lhe trouxe um apoio importante, a da Igreja Católica, considerada uma das mais fortes instituições daquela época. Curiosamente por esse mesmo tempo seu irmão Carlomano resolveu se dedicar à vida religiosa, se retirando para um mosteiro. Na Idade Média o sentimento religioso era muito presente e forte, por essa razão a conversão de Carlomano foi visto como algo natural. Sem o irmão o poder acabou se concentrando em Pepino que se tornou um dos mais ricos senhores feudais da Europa Medieval, com terras que iam da França à Alemanha, passando pela Itália. Rico e poderoso, acabou tendo seu primeiro filho, que seria o futuro imperador Carlos Magno.

Pepino assim tinha grande riqueza, apoio da Igreja e se tornara comandante de um grande e poderoso exército. Diante de tanto poder entendeu que chegara a hora de se coroar Rei dos Francos, algo que foi feito com pleno apoio da Igreja Católica. O Papa Zacarias o coroou pessoalmente, dando origem a um ritual que foi seguido por Reis Franceses durante séculos. Assim, para consolidar ainda mais sua autoridade, Pepino derrotou Childerico III, considerado o último Rei da Dinastia Merovíngia. Era o começo da Dinastia Carolíngia entre os Francos.

A aproximação de Pepino com o Papado foi o segredo de seu sucesso como monarca. Ele se colocou na posição de protetor da Roma católica, enfrentando qualquer inimigo que ousasse ameaçar os Papas. Com isso recebeu apoio do Papa Estevão II que o confirmou como o legítimo Rei dos Francos. Mais do que isso, Estevão chancelou Pepino como o principal monarca cristão da Europa medieval. Era a vontade de Deus. Quando os Lombardos ameaçaram invadir o Vaticano, Pepino enviou seus poderosos exércitos que destruíram os inimigos da fé cristã.

Em agradecimento à criação dos Estados Pontifícios, o Papa resolveu ir à Paris para abençoar não apenas Pepino, mas também seus dois filhos e sua esposa. A Igreja Católica tomava clara posição em favor da nova dinastia que nascia na frente do povo francês. Era algo muito importante para Pepino que até aquele momento era tratado quase como um usurpador do trono. Infelizmente seu Reinado foi também breve. Ele morreu poucos anos depois. Seu grande legado para a história da França foi manter o Reino Franco unido e coeso. Também aproximou a Igreja do Estado francês, algo importante naquele momento. Tirando lições do passado glorioso de Roma também incentivou a manutenção de um exército permanente e treinado, para defender o povo franco da invasão de bárbaros que viriam. Acima de tudo abriu portas e criou a estrutura que seu filho Carlos Magno iria usar para conquistar quase toda a Europa nos anos seguintes.

Pablo Aluísio. 

Muhammad Ali

Hoje o mundo amanheceu com a trista notícia da morte do boxeador Muhammad Ali. Ele foi um ícone do esporte, campeão mundial várias vezes e tudo mais, porém Ali é tão celebrado ainda hoje em dia por motivos que pouco tinham a ver com sua carreira como esportista. Na verdade Ali foi um homem bem à frente de seu tempo. Em uma época em que os negros americanos ainda lutavam por seus direitos civis, Ali foi uma figura central nessa luta. Ele teve grande impacto na mídia justamente por falar e defender aquilo que pensava, independente de ser politicamente correto ou não.

Durante a Guerra do Vietnã ele se posicionou contra a intervenção americana naquele distante país asiático. Como forma de retaliação o governo quis que ele se alistasse à força (na época o serviço militar dos EUA ainda era obrigatório) e enviado para o front, mas Ali resolveu reagir, rasgando e queimando sua carteira de reservista publicamente. Isso abriu um amplo debate dentro da sociedade não apenas em relação à obrigatoriedade de servir as forças armadas de forma compulsória, como também sobre o próprio sentido da guerra.

Depois, em outro gesto simbólico, resolveu trocar seu nome de batismo, Cassius Clay, pois entendia que esse era seu nome de escravo. Muitos negros americanos fizeram o mesmo. Para eles seus antepassados que tinham sido traficados da África negra durante a escravidão tinham seus nomes trocados por seus senhores escravocratas. Nomes ocidentalizados, que nada tinham a ver com seu nome real. Para Ali o abandono de Cassius Clay significava também o abandono das últimas correntes da escravidão negra na América.

Outro ato de Ali que causou grande repercussão foi sua conversão ao Islã. Ali entendia que o cristianismo havia contribuído para o sistema de escravidão de negros africanos e que deveria ser rejeitado por essa razão. Agora imaginem um homem como ele, negro, ativista e muçulmano numa América predominantemente branca e protestante durante os anos 60! Era realmente uma personalidade mais do que explosiva. Muitos dizem que a grande luta de Ali foi sua busca por uma vida melhor após ser diagnosticado com Mal de Parkinson. Penso diferente. A grande luta de Ali foi travada contra a própria sociedade americana, com seus preconceitos e ideologias dominantes.

Pablo Aluísio.