O Rei e o Presidente
Elvis Presley e Richard Nixon - A carreira policial de Elvis Presley foi tão espetacular quanto sua carreira musical. Em pouco mais de um ano, ele passou de auxiliar de xerife de um condado do Tennessee a agente federal de uma das mais glamorosas forças de combate ao crime: o FBI. Muito mais expressivo é que, na primeira vez ele foi nomeado pelo xerife local, mas na última, quem o nomeou foi o próprio presidente dos EUA, Richard Nixon. Essa história é muito interessante e para entendê-la melhor precisamos voltar a 1970, um pouco antes do natal.
Nessa ocasião Elvis deu à sua família em Graceland uma exibição inesquecível de como um agente policial age na sombra. Naquele dia Elvis brigou com Vernon e Priscilla por causa de suas compras de natal. Vernon ficou chocado ao receber as contas de Los Angeles. Em armas Elvis havia gasto 19.972 mil dólares. Mas isso não era nada comparado com as notas das revendedoras de automóveis. Elvis havia comprado dez Mercedes Benz, que planejava presentear como se fossem bicicletas!
Elvis não tolerava qualquer crítica aos seus gastos. Mas Vernon e Priscilla eram tão mão-fechadas quanto Elvis era gastador e eles sempre estavam em pé de guerra por causa de dinheiro. Esse dia não teria sido muito diferente dos outros se Elvis não tivesse tido a idéia de punir seu pai e sua mulher e ao mesmo tempo curtir uma rara emoção. Correndo para seu quarto, Elvis vestiu um de seus ternos mais extravagantes, colocou uma colt 45 no coldre sob o ombro e uma Deringer na bota. Assim preparado, entrou no seu carro e foi para o aeroporto onde comprou uma passagem e embarcou para Washington. Na capital americana se hospedou num hotel próximo à Casa Branca com o nome de coronel Jon Burrows.
Ah, aquilo foi demais! E quando ele estava no taxi, então? O motorista crioulo não parava de olhar para suas jóias e ele teve que abrir um pouco o paletó para que o cara desse uma olhada na sua 45. Mas agora lá estava ele, o homem mais famoso do mundo, sentado num quarto de hotel olhando para a TV, completamente sozinho numa cidade estranha. No mesmo vôo que levou Elvis a Washington estava o senador George Murphy e logo o famoso cantor estava de prosa com o velho político, explicando que estava indo a Washington para oferecer seus préstimos na guerra contra os tóxicos.
O senador disse que ia ajudá-lo e que iria arranjar-lhe uma visita ao FBI e ao Bureau de narcóticos. Encorajado, Elvis teve uma idéia brilhante: porque não tentar ser recebido pelo presidente Nixon? Como não havia tempo para arrumar uma audiência pelos canais competentes, Elvis resolveu solicitar ele mesmo um encontro com o presidente dos EUA.
No avião mesmo, ele escreveu uma carta para Nixon, explicando os perigos que o país enfrentava, com os Beatles e Jane Fonda incutindo idéias radicais no pensamento da juventude americana, incentivando o uso de drogas. Para contrabalançar Elvis se oferecia para ficar do outro prato da balança. Terminou pedindo uma audiência imediata e informou que poderia ser encontrado no Washington Hotel, onde estava hospedado com o nome de coronel Jon Burrows. Assim que chegou em Washington Elvis foi direto para a Casa Branca onde se apresentou ao atônico guarda de plantão e lhe entregou a carta.
Quando Elvis voltou ao hotel duas horas depois recebeu uma notícia eletrizante: o secretário do presidente havia acabado de ligar: "O Presidente vai receber Mr. Presley" - foi isso que ele disse! sacou? Nixon havia arranjado tempo para receber o Rei do Rock naquele mesmo dia!
Elvis encontra Nixon - Porque Nixon estava com tanta pressa de se encontrar com Elvis? Bem, naquele momento ele estava para lançar uma monumental cruzada contra as drogas, e de repente aparece o Rei do Rock com a mesma idéia! Para Nixon "as drogas eram o problema número 1 da América" e ele ia transformar a Drug Enforcemente Agency (DEA) numa super agência de combate aos tóxicos no estilo da CIA e do FBI. Para se ter uma idéia o orçamento dessa polícia secreta de Nixon subiu de 69 milhões de dólares em 1969 para 719 milhões em 1973.
Quando Elvis, Jerry Schilling e Sonny West (que chegou bem a tempo!) foram introduzidos na Casa Branca, foram recebidos por Egil Krogh, o braço direito de Nixon em sua cruzada anti drogas. Ele disse a Elvis que os caras teriam que ficar esperando num prédio anexo (o Federal Bureau) porque, caso mais de uma pessoa visitasse o presidente ao mesmo tempo, seriam necessárias medidas especiais de segurança. Jerry e Sonny ficaram desapontados, pois Elvis havia prometido que eles também conheceriam o presidente.
Quando Elvis entrou no salão oval estava devidamente preparado para esse grande evento. Ao bater os olhos em Elvis, Nixon não se conteve: "Você usa roupas bem extravagantes, heim?" Sem perder o pique Elvis devolveu: "Presidente, o senhor dirige o seu show que eu dirijo o meu!". Depois o papo começou com Elvis dizendo que era "a prova viva de que a América era a terra das oportunidades", Da noite para o dia, ele passou de simples motorista de caminhão a superstar, provando a realidade do sonho americano. Mas agora ele estava preocupado com a juventude de seu país, seduzida pelo mundo das drogas.
O rei contou ao presidente que estava dedicando todo o seu tempo livre em reuniões com grupos de jovens rebeldes, usando sua autoridade para ajudá-los no caminho do bem e superar seus problemas com tóxicos. Enquanto Elvis falava, Nixon deve ter se sentido gratificado. Nixon sabia do poder de Elvis sobre a juventude americana e chegou a dizer-lhe que, se quisesse, ele poderia trocar o show business por uma carreira política de sucesso. Alguns artistas como o senador George Murphy e Ronald Reagan (então governador da Califórnia) já haviam inclusive mostrado o poder do show business na arena política. Mas quem eram eles em comparação com Elvis Presley, o Rei do Rock? Só havia uma coisa que jamais poderia ser esquecida, aconselhou Nixon: "Nunca perca sua credibilidade".
Ah, foi uma grande reunião, um grande casamento de idéias. O que Nixon tão poeticamente chamava de "Maioria silenciosa" havia enfim encontrado sua voz em Elvis Presley. Finalmente chegou a hora de Elvis fazer seu grande pedido: já que iria ajudar na cruzada contra as drogas, nada mais justo do que ter uma insígnia de agente federal do FBI. Nixon sorriu: "Não tenho muito poder por aqui, você sabe. Mas conseguir um distintivo de agente federal para você é uma das coisas que posso fazer". Elvis agradeceu e fez mais um pedido, será que o presidente poderia receber seus guarda-costas? Nixon concordou e deu ordens pelo telefone para que Jerry Schiling e Sonny West fossem trazidos a sua presença. Nixon desculpou-se com Elvis e foi assinar alguns documentos. Elvis ficou passeando pelo salão oval, observando o presidente com o canto dos olhos. Imagine seu assombro quando Nixon, depois de assinar os papéis, virou-se para o assessor que estava ao seu lado e perguntou: "O que foi que acabei de assinar?". Elvis iria contar essa história para o resto de sua vida.
Assim que Sonny e Jerry entraram, Nixon deu um soco amigável no ombro de Sonny e comentou: "Rapaz, você tem uma bela dupla de grandalhões! Acho que eles sabem cuidar muito bem de você!" - "Yes, Sir", confirmou Elvis. O fotógrafo da Casa Branca tirou retratos de todos juntos e Nixon deu a cada um dos guarda-costas um par de abotoaduras com o selo presidencial. De sua parte, Elvis deu a Nixon um colt 45 comemorativo da 2º Grande Guerra Mundial. O histórico encontro entre o Rei do Rock'n'Roll e o presidente dos Estados Unidos havia terminado.
O FBI libera o dossiê Elvis: 663 páginas de loucuras!
O FBI guardou uma grande ficha sobre Elvis Presley por mais de 20 anos - em setembro de 1956, quando Elvis pela primeira vez subiu ao palco do Ed Sullivan Show e entrou dentro dos corações de milhões de americanos, até sua morte em agosto de 1977. Os federais relataram tudo sobre Elvis: suas roupas, suas gingas no palco, sua vida e amores fora do palco - e as hostes de escroques e loucos que tentaram fazer dinheiro com sua incrível fama. O FBI liberou o dossiê Elvis devido a lei sobre liberdade de informação (Freedom of Information Act). As queixas contra Elvis começaram a chegar ao FBI nos anos 50. Entre as revelações do dossiê podemos encontrar histórias interessantes sobre a vida e a carreira de Elvis. A ficha, que não contém nada que desmereça a imagem de Presley começa com queixas sobre seus giros sexuais e progride através de ameaças de morte e extorsão - e sentimentos de Presley sobre outros astros.
Em 1956 um cartão postal enviado a Elvis dizia: "Se você não parar com isso, nós vamos te matar". Elvis imediatamente contactou o FBI que abriu uma investigação para saber quem era o autor do cartão. O agente do FBI encarregado do caso definiu o alto e o rotapé do cartão como "Obscenos" Essa seria apenas a primeira ameaça de morte sofrida por Elvis, ao longo dos anos ele receberia várias mensagens iguais, ameaçando sua vida e de sua família.
Elvis acendeu as iras da Biblebelt (área de maior influência biblica da América), motivando uma carta ao editor de um jornal religioso de Wisconsin, que dizia: "Presley é um perigo definitivo a segurança dos Estados Unidos". O artigo ainda dizia: "Testemunhas oculares disseram-me que atos e gestos de Elvis são capazes de despertar as paixões sexuais da juventude americana adolescente...Presley assinou autógrafos na barriga de uma garota...fãs clubs que se degeneram em orgias sexuais...eu poderia jurar que se trata de um viciado em drogas e de um pervertido sexual". O conservador Elvis, quem diria...
O cantor Jerry Lee Lewis tentou invadir a mansão Graceland: O agente do FBI relata um caso envolvendo Elvis e o cantor Jerry Lee Lewis. No final dos anos 70 esse cantor, antigo ídolo jovem nos anos 50, tentou invadir a propriedade de Mr. Presley totalmente embriagado e ainda por cima armado. Elvis se recusou a recebê-lo nesse estado e chamou o FBI que o prendeu. Jerry Lee Lewis depois interrogado afirmou que "seu plano era achar, libertar e seqüestrar o Rei Elvis". O Rei do Rock nunca mais quis receber Lewis, nem para receber desculpas pelo ocorrido. E avisou que nunca mais o procurasse...
A revelação mais bizarra é que Elvis caiu vítima de uma corja de trapaceiros e desclassificados que pagou por seu avião Jet Star com cheques sem fundos, hipotecou o aparelho por um milhão de dólares e fez Elvis pagar 400 mil dólares extras por reparos nunca feitos. A gangue que se auto denominava "a fraternidade" foi descrita pelo FBI como "30 a 40 dos maiores vigaristas do mundo". Foram apanhados e alguns condenados, mas Elvis morreu antes que o avião fosse devolvido a Graceland, sua propriedade em Memphis. O então advogado de Elvis, Dr Beecher Smith, diz: "O avião voltou e recuperamos parte do dinheiro. Havia rumores de que alguns dos advogados de defesa tinham conexões com a máfia"
O Mesmo avião está agora exposto em Graceland. O então piloto de Elvis também estava envolvido de acordo com os relatórios do FBI, confirmados por Smith. A perda do avião deve ter sido a última e mais bem sucedida tentativa de roubar seu dinheiro, mas os registros do FBI mostram mais tentativas de extorsão e ameaças de morte desde os primeiros dias de sucesso de Presley até suas últimas apresentações pelos Estados Unidos.
As fichas também registram o não realizado sonho de Elvis em conhecer o diretor do FBI, J. Edgar Hoover. Nem uma carta de apresentação do senador George Murphy ajudou. Um auxiliar de Hoover escreveu contra um encontro com Elvis, juntando uma foto de Presley com a roupa que usou no seu encontro com o presidente Richard Nixon. Num relatório de 1970, o agente M.A. Jones observou: "Não obstante a sinceridade e as boas intenções de Mr. Presley, ele não é certamente o tipo de indivíduo que o diretor gostaria de conhecer. É notório que no momento está com os cabelos abaixo dos ombros e concorda em vestir toda espécie de roupas exóticas". O diretor Hoover estava convenientemente "fora da cidade" quando Elvis veio para a visita e depois escreveu a Presley: "Lamento que não tenha sido possível receber você durante sua visita ao FBI. Entretanto, espero que você tenha gostado da viagem e de nossas instalações"
Ironicamente Elvis iria entrar para o FBI nos anos 70 como agente federal nomeado pelo presidente Nixon. O mais engraçado de tudo isso foi o fato de uma pessoa considerada pelo Bureau como uma "ameaça à nação" acabar entrando para seus quadros uma década depois. Assim Elvis se tornaria o mais "exótico" agente federal que J. Edgar Hoover jamais sonhou em ter um dia...
Artigo publicado na revista People - "O Dossiê Elvis"
Artigo escrito por Lu Gomes - "Elvis e Nixon".