sábado, 10 de dezembro de 2022

O Gabinete de Curiosidades

Nova série de terror assinada pelo cineasta Guillermo Del Toro. E aqui temos o primeiro diferencial em relação a outras séries do gênero. Como todos sabemos, esse diretor prioriza muito a direção de arte. E capricha nesse aspecto em suas produções. Então espere por figurinos bem elaborados, criaturas bem estranhas e tudo o mais que os fãs já conhecem bem. A série não terá uma história que siga de episódio em episódio. Na realidade, os episódios trazem histórias independentes entre si. Então você pode assistir um episódio e depois de um tempo, assistir outro, sem maiores problemas. Não há continuidade narrativa. Um aspecto curioso é que a série traz de volta um estilo que foi muito popular no passado, tanto na televisão e até mesmo no cinema. Eu cheguei até mesmo a assistir um filme com Vincent Price que seguia esse modelo. Eram 3 histórias independentes. 

No primeiro episódio, temos um daqueles depósitos onde as pessoas guardam objetos e coisas pessoais. Na lei americana, se esses depósitos ficarem abandonados por um certo período de tempo, o dono do local onde as coisas são depositadas pode vender tudo em leilões. E um homem endividado, acaba arrematando um lote desses. Para seu azar, acaba comprando objetos amaldiçoados. Coisas que eram usadas em rituais de magia negra. É Claro que aí está o mote para esse episódio em si. Com uma mesa usada em magia negra e livros antigos que evocavam demônios, a coisa toda só poderia dar muito errado. O caos impera e o espectador se diverte.

O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro (Guillermo del Toro's Cabinet of Curiosities, Estados Unidos, 2022) Direção: Ana Lily Amirpour, Panos Cosmatos / Roteiro: Guillermo del Toro / Elenco: Lize Johnston, Kevin Keppy, F. Murray Abraham / Sinopse: Série de terror e suspense produzida e roteirizada pelo diretor Guillermo Del Toro. A zérie traz episódios com histórias macabras.

Pablo Aluísio.


O Gabinete de Curiosidades - Episódios Comentados:

O Gabinete de Curiosidades 1.02 - Graveyard Rats
Excelente e repelente episódio sobre um sujeito asqueroso dado a roubar os cadáveres e os caixões do cemitério onde ele mesmo trabalha. Um verdadeiro rato de cemitério. As coisas se complicam quando um militar, cheio de medalhas e uma espada valiosa é enterrado. E ele, obviamente, fica de olho, pensando em roubar os objetos. Mas durante a madrugada, ao tentar roubar o caixão, descobre que ratos enormes levaram o corpo para um buraco que parece não ter fim. E esse sujeito é tão absurdamente canalha que ele vai atrás, entrando no buraco com tudo. Episódio, que mistura surrealismo com muito humor negro. O resultado é excelente, tanto para quem gosta de horror como para quem quer dar algumas risadas nervosas. Claro, feito com muita coisa horrorosa. Em cenas realmente grotescamente divertidas. / O Gabinete de Curiosidades 1.02 - Graveyard Rats (Estados Unidos, 2022) Direção: Vincenzo Natali / Elenco: David Hewlett, Alexander Eling, Ish Morris.

O Gabinete de Curiosidades 1.03 - The Autopsy
Esse episódio é um dos mais bizarros da série. Pense em uma raça de extraterrestres que tenta dominar o planeta Terra. Que possuem corpos como os nossos, e são parasitas obrigatórios de outros seres. E assim tentam se espalhar dentro da sua sociedade. E isso tudo ocorre depois da queda de um meteoro. O excelente ator F. Murray Abraham interpreta o legista que vai lidar com um desses corpos que tem um dos extraterrestres parasitando o seu organismo. E tudo isso acaba desandando em um banho de sangue e gosma. Como não se via desde os clássicos filmes trash dos anos 50. O saldo final é um misto de nostalgia e riso incontido de um humor negro peculiar. / O Gabinete de Curiosidades 1.03 - The Autopsy (Estados Unidos, 2022) Direção: David Prior.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

James Stewart e o Western - Parte 1

James Stewart foi a prova que o homem comum também poderia se tornar um astro em Hollywood. Ele não tinha a altura e a beleza de um Rock Hudson, nem a coragem de um John Wayne, mesmo assim brilhou nas telas e teve uma filmografia tão ou mais rica do que esses dois mitos da era de ouro do cinema americano. Na verdade Stewart era um sujeito bem simples, comum, interiorano, que teve a rara sorte de trabalhar com alguns dos melhores cineastas de todos os tempos em filmes clássicos que jamais serão esquecidos. Provavelmente o diretor que o tornou imortal foi Frank Capra. Quando Stewart chegou em Hollywood, vindo do interior, sendo filho de um dono de lojas de ferragens, ele não encontrou as portas dos estúdios abertas para ele.

Na verdade Stewart amargou um bom tempo como figurante e depois como coadjuvante em filmes de pouca expressão. Sua sorte mudou quando Capra viu nele justamente aquela que era sua maior marca registrada: o jeito e a imagem do homem comum, do trabalhador operário de bom coração. Eram os tempos da grande depressão, a economia americana estava arruinada, com muito desemprego e pobreza. Para o otimista Capra a única forma de levantar a nação era levantando sua autoestima, sua moral. Por isso ele resolveu filmar uma série de roteiros que traziam mensagens positivas ao povo americano, sempre levando seu ânimo, trazendo uma carga única de esperança. Para interpretar seus protagonistas Capra não poderia ter encontrado ator mais ideal. Assim James Stewart começou a virar um astro com "Do Mundo Nada se Leva", uma verdadeira ode ao pensamento positivo. Depois vieram mais clássicos absolutos como "A Felicidade Não Se Compra" e "A Mulher Faz o Homem". Todos esses filmes são verdadeiras obras primas do cinema.

Em busca da mesma empatia outros mestres do cinema resolveram escalar James Stewart em seus filmes, especialmente o mestre do suspense Alfred Hitchcock. Sempre que surgia o personagem do cidadão comum, honesto e trabalhador, que se via numa situação excepcional, o velho Hitch telefonava ao ator sabendo se ele estava disponível. "Festim Diabólico", "Janela Indiscreta" (talvez a grande obra prima ao lado de Hitchcock), "O Homem que Sabia Demais" e "Um Corpo que Cai" são obras primas que por si só já valeriam a imortalidade de Stewart na sétima arte. Isso porém foi apenas uma parte de sua carreira, quando interpretava tipos urbanos em tramas de suspense que até hoje seguem insuperáveis.

Por fim, como se já não bastasse realizar tantos clássicos ao lado de Capra e Hitchcock, James Stewart também brilhou no mais americano de todos os gêneros cinematográficos: o Western. Ele foi um dos mais regulares atores do estilo, participando de inúmeras produções com destaque para os filmes que rodou ao lado de John Ford e Anthony Mann. Com esse último tinha uma relação de amizade e ódio. De todos os diretores com quem trabalhou foi o que mais gostou de atuar, segundo suas próprias palavras. Certamente ao lado de Mann ele não chegou ao ponto de estrelar filmes tão importantes como "O Homem que Matou o Facínora" (considerado um dos dez melhores faroestes de todos os tempos), mas rodou produções que ficaram na memória como "Winchester 73" e "Um Certo Capitão Lockhart". Foi realmente uma dupla inesquecível. Embora tenha concorrido por cinco vezes ao Oscar só foi premiado uma única vez, por "Núpcias do Escândalo". James Stewart faleceu em 1997 deixando uma filmografia realmente inigualável. Provavelmente tenha sido o ator que mais participou de obras primas do cinema ao longo da história. Nesse quesito ele realmente foi único. Nada mal para alguém que se dizia ser apenas um homem comum, com bons sentimentos.

Pablo Aluísio.

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 13

O faroeste "Terras Virgens" (The New Frontier) explorava em seu roteiro uma questão interessante na colonização do oeste. O governo dos Estados Unidos doava terras para colonização do homem branco. Quem chegasse primeiro nessas propriedades rurais e conseguisse se firmar, construindo uma casa de madeira, construindo currais para criação de gado, ganhava a propriedade definitiva dessas terras inexploradas. Uma forma de afastar os índios, assumindo a posse dessas regiões. A direção desse filme ficou a cargo de Carl Pierson.

O filme seguinte "País sem Leis" (Lawless Range) era outro western, só que nesse a linha ia mais para a investigação e o mistério. Um rancheiro desaparecia de sua propriedade rural sem deixar rastros. O que teria acontecido? John Wayne interpretava o homem da lei que iria investigar o caso, procurando por pistas, investigando o que provavelmente seria um assassinato. O motivo? Simples, tomar as terras do homem desaparecido. Esse foi outro western de matinê dirigido pelo velho Robert N. Bradbury, um dos diretores que mais trabalharam ao lado de Wayne nessa fase de sua carreira.

O primeiro filme de John Wayne em 1936 foi "O Regimento Sinistro" dirigido por Scott Pembroke na Republic Pictures (companhia cinematográfica que marcou época em Hollywood, mas que já não existe mais há muitas décadas). Aqui um capitão do exército americano interpretado por Wayne vai atrás do paradeiro de seu pai que havia desaparecido misteriosamente. Como se pode perceber há uma certa semelhança com o enredo do filme anterior. Na foto da postagem temos o poster do filme, um item raro nos dias de hoje, peça de colecionador. 

"Ordem a Bala" foi o filme seguinte de Wayne. Nesse filme John Wayne interpreta um agente federal que viaja até o território do Wyoming. Vai haver uma votação para transformar aquela região em um estado da União e as coisas andam tensas. Os que não querem isso planejam atos terroristas como a explosão de dinamite em pontos de votação. Quem dirigiu esse western foi Joseph Kane. Foi mais um filme produzido pela Republic Pictures.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Elizabeth Taylor - Hollywood Boulevard - Parte 1

Ao longo de sua carreira a atriz Elizabeth Taylor criou um carinho e amizades bem sólidas com inúmeros astros de Hollywood. Ela foi bem próxima de Rock Hudson, James Dean e Montgomery Clift. Sempre que identificava uma certa vulnerabilidade em torno de alguém que estava trabalhando ao seu lado, ela imediatamente se oferecia como amiga e apoio nos momentos complicados e difíceis de superar.

E em termos de vulnerabilidade poucos astros eram tão desprotegidos como Montgomery Clift. Ele teve uma educação refinada, nos melhores colégios, mas precisou mudar de vida quando sua família, outrora rica e abastada, perdeu quase tudo durante a quebra da bolsa de Nova Iorque. A partir daí Mont precisou trabalhar e achou na profissão de ator o caminho que tanto procurava na vida. Acabou sendo muito bem sucedido não apenas nos palcos de teatro como também nas telas de cinema. Era muito talentoso, ao ponto de ser reconhecido por ninguém menos que Marlon Brando como o "melhor ator de sua geração".

Ao lado do grande talento de ator havia também um ser humano inseguro, com problemas pessoais envolvendo alcoolismo. Uma identidade sexual incerta também colaborava bastante para seus traumas psicológicos. Assim Elizabeth Taylor se colocou ao seu lado, desde que o conheceu pela primeira vez. Ela o protegeu da imprensa - sempre em busca de escândalos sexuais envolvendo famosos - e se prontificou a sempre lhe ajudar. Quando dava jantares e festas em sua casa, Liz sempre convidava Clift. A razão é que ele tinha uma personalidade tímida e solitária e ela o ajudava a se socializar melhor.

E em Hollywood comparecer em eventos sociais era vital para a carreira de qualquer ator. Eram nessas festas que contratos com produtores eram fechados, elencos formados. Em mais de uma ocasião, Liz colocou como condição de sua participação em filmes a contratação também de Montgomery Clift aos estúdios. Era uma forma não apenas de arranjar trabalho para ele como também de ocupar seu tempo, evitando que sua personalidade auto destrutiva se impusesse em sua vida. Foram amigos até o fim, porém nada e nem ninguém pode salvar alguém de si mesmo. Montgomery Clift morreu jovem e arruinado pela bebida, apesar de todos os esforços de sua grande amiga Liz Taylor.

Pablo Aluísio.

Shirley MacLaine - Minha Doce Gueixa

Algumas considerações sobre o filme "Minha Doce Gueixa" que assisti nesses dias. Queria chamar atenção sobre alguns aspectos curiosos da produção. Já escrevi uma resenha, mas alguns detalhes a mais merecem menção. O que mais chama atenção, é óbvio, é a maquiagem maravilhosa que foi feita em Shirley MacLaine. Ela ficou mesmo parecendo uma perfeita japonesa tradicional. Não diria que seria irreconhecível pelo próprio marido, como o roteiro propõe, mas seguramente enganaria muita gente. Perfeita a caracterização. Talvez pela transformação impressionante a Shirley MacLaine acabou sendo capa da revista Time, o que trouxe uma grande publicidade extra para o filme. Foi a primeira e única vez que a atriz teve esse privilégio.

Outro fato curioso acontece quando é mostrado um escritório do suposto estúdio cinematográfico que está produzindo uma nova versão de "Madame Butterfly"  Lá atrás de uma caricatura de executivo de cinema - dando gritos e ordens histéricas para todo mundo - surgem posters de filmes de sucesso da Paramount na época. Entre eles um de "Saudades de um Pracinha", o filme da volta de Elvis Presley aos Estados Unidos, quando ele interpretou um soldado americano se apaixonando na noite alemã, onde cantava no palco de um nightclub de Frankfurt. Foi bem curioso ver como a Paramount aproveitava seus filmes para se auto promover. Afinal cinema é um grande negócio. Metalinguagem em prol de publicidade grátis e fácil.

O filme também teve sua trilha sonora lançada, algo que não era comum na época. Afinal "My Geisha" não era propriamente um musical, mas sim uma comédia romântica com leves toques sutis de melodrama. A RCA Victor porém resolveu apostar lançando um álbum com a música do filme, incluindo aí algumas árias que foram dubladas por Shirley MacLaine.

Pelo visto a RCA estava animada com o lançamento das trilhas sonoras de Elvis Presley e tentou repetir o mesmo sucesso, mas sem obviamente o mesmo êxito comercial, afinal de contas Shirley MacLaine não era cantora e tampouco a música oriental fazia sucesso nas lojas de discos dos Estados Unidos. De uma forma ou outra o LP original hoje é uma raridade, cobiçado pelos colecionadores de vinil ao redor do mundo. Nada mal para um álbum que quase nem existiu.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Elvis Presley - A Mulher Que Eu Amo

Deke Rivers (Elvis Presley) é um jovem trabalhador comum que ganha uma grande chance em sua vida quando uma experiente empresária do circuito country, Glenda Markle (Lizabeth Scott), começa a acreditar e investir em seu talento musical. Após ser despedido de seu emprego, Rivers acaba aceitando a oferta para trabalhar na companhia musical de Glenda. Ela então o escala nos shows que promove em pequenas cidades pelo Sul. Entre um concerto e outro Deke começa a chamar a atenção por suas performances. Ele é um ótimo cantor que acaba enlouquecendo o público feminino por onde passa. Não tarda a se tornar a principal estrela do show, causando ciúmes em Walter 'Tex' Warner (Wendell Corey), um veterano cantor com muitos anos de estrada, que até aquele momento era o principal nome da companhia. No meio de seu sucesso crescente Deke começa a se apaixonar pela doce e jovem cantora Susan (Dolores Hart), uma garota do interior que também almeja fazer sucesso em sua iniciante carreira. Ambos assim tentam encontrar seus próprios caminhos no concorrido circuito musical country.

"Loving You" foi o primeiro filme estrelado por Elvis Presley. Hal Wallis, o produtor, acreditou no jovem cantor que naquela época estava no auge de seu sucesso. Não é de se admirar que tenha logo contratado o rockstar Elvis, afinal ele era jovem, bonito, talentoso, famoso e tal como seu personagem no filme enlouquecia as garotas. Só lhe faltava mesmo virar estrela de cinema, algo que sempre sonhara. Wallis então lhe deu sua grande chance e Elvis não decepcionou. Ele não era ator, mas conseguia ter uma boa presença de cena.  O filme foi obviamente um tremendo sucesso de bilheteria. Presley era o maior ídolo jovem em 1957 e todo esse sucesso se refletiu no êxito do filme. Toda adolescente da América queria ver Elvis no cinema. O sucesso era realmente garantido.

Algumas coisas porém devem ser levadas em conta em relação a esse filme. Durante muitos anos se disse que era uma adaptação da própria vida de Elvis para o cinema. Não é inteiramente verdade. O roteiro já existia há anos. Muito provavelmente foi escrito usando Hank Williams como modelo. O enredo se passa todo no circuito country das pequenas cidadezinhas pelo sul dos EUA. Assim o roteirista Herbert Baker apenas pincelou alguns aspectos da carreira de Elvis em seu texto. A polêmica envolvendo o Rock ´n´ Roll, por exemplo. Do argumento original sobrou a parte mais dramática da estória de Deke Rivers, como o fato dele ter se tornado órfão após a morte de seus pais em um incêndio e a revelação de sua verdadeira identidade em um cemitério abandonado.

Em termos de atuação quem predomina mesmo é Lizabeth Scott, atriz veterana e protegida do produtor Wallis. Elvis ainda era muito jovem e inexperiente, mas dentro de suas possibilidades não sai se mal. Mesmo nos momentos mais cruciais, como a já citada cena do cemitério, Elvis não derrapa e nem faz feio. Claro que sua atuação não pode ser comparada ao dos grandes atores da época. Elvis era na verdade um amador que conseguia a proeza de convencer mesmo nas cenas mais complicadas. Menos afortunada se sai Dolores Hart já que seu papel é bem secundário. De fato ela tem apenas uma boa cena ao lado de Elvis, aquela que se passa na fazenda. Fora isso ela fica mesmo em segundo plano. Mesmo assim é bom deixar registrado que ela impressiona por sua beleza, que lembrava muito Grace Kelly, e por uma dicção perfeita nos diálogos, de se admirar mesmo. No mais o diretor Hal Kanter, em sua única parceria ao lado de Elvis, não quis inventar muito. Entregou um excelente meio de promoção para Elvis, tudo de acordo com as especificações da Paramount. Em suma, Loving You tem um pouquinho de tudo, romance, drama e o mais importante de tudo, sua música, essa realmente imortal. É seguramente um dos filmes mais agradáveis de toda a filmografia de Elvis Presley.

A Mulher Que Eu Amo (Loving You, Estados Unidos, 1957) Direção: Hal Kanter / Roteiro: Herbert Baker, Hal Kanter baseados na obra original de Mary Agnes Thompson / Elenco: Elvis Presley, Lizabeth Scott, Wendell Corey, Dolores Hart, James Gleason / Sinopse: Após ver o jovem Deke Rivers (Elvis Presley) cantando em uma apresentação, a empresária Glenda (Lizabeth Scott) resolve investir no talento do rapaz. Inicialmente o escala como ponte entre as principais estrelas de sua pequena companhia musical, mas depois que ele começa a fazer cada vez mais sucesso decide tomar a importante decisão de o levar para se apresentar na TV no Texas. O problema é que Deke tem um passado traumático que o faz esconder muitos segredos pessoais, inclusive sobre sua verdadeira identidade. Estaria ele realmente preparado para a fama e o sucesso?

Pablo Aluísio. 

The Beatles - Please Please Me - Parte 3

Então chegamos em "Misery", outra composição da dupla Lennon e McCartney. Durante um certo tempo o grupo pensou em colocar "Besame Mucho" nesse disco, mas a ideia foi afastada por Paul pois em suas próprias palavras isso o retratava como um "músico de cabaret". De uma forma ou outra a sugestão foi colocada de lado, até porque os Beatles já a tinham gravado em outra ocasião, com um resultado abaixo do esperado (falaremos mais sobre isso em outra ocasião). "Misery" foi composta face a face entre Paul e John, porém Lennon a considerava uma criação mais dele do que de Paul. A letra com sabor até mesmo country, já trazia alguns aspectos sombrios e pessimistas que iriam caracterizar bastante a obra de John Lennon nos anos seguintes. Ele aliás costumava brincar dizendo que Paul sempre surgia com otimismo e pensamentos positivos, enquanto ele gostava de adotar posturas mais pessimistas, isso quando não era completamente sarcástico e mordaz.

Sempre gostei bastante da balada "Anna" (Go to Him). Esse foi o primeiro cover dos Beatles no disco. Essa canção gravada originalmente pelo próprio autor Arthur Alexander no selo Dot Records era apenas uma das dezenas de canções românticas que os Beatles usavam em seus shows. É nitidamente uma balada de bailinho, para se dançar com o rosto colado. Numa época em que o quarteto fazia longas apresentações na Alemanha, algumas delas durante quase quatro horas, era necessário fazer e lançar mão de praticamente tudo que estivesse nas paradas. Como eles tinham tocado muito a música nessas ocasiões resolveram encaixar no álbum, já que seria facilmente gravada - afinal eles já estavam mais do que afiados na execução da canção. Um belo momento romântico do disco que acabou fazendo um considerável sucesso no Brasil já que a canção se chamava "Anna", um nome comum em nosso país.

Outro cover do disco é "Chains" da dupla de compositores Goffin e King.  Outra que segue a lógica da gravação anterior. Era mais uma balada que os Beatles já estavam calejados de tanto que a tocaram ao vivo. Para mudar um pouco deram parte da vocalização principal para George Harrison que nessa época ainda não compunha, se limitando a ser apenas o talentoso guitarrista solo do grupo. Também conviver com a enorme sombra de Paul e John não deveria ser muito fácil. Para piorar Lennon o considerava quase como apenas um pupilo, já que a diferença de idade entre eles sempre pesou muito na relação. Mais tímido do que os demais membros do grupo, se assumindo como um Teddy Boy consumado, sem pretensão de bancar o intelectual, Harrison levaria ainda alguns anos para se firmar como mais um elo criativo dentro dos Beatles.

Para levantar o disco, dar agitação e trazer rock ao álbum os Beatles chegam logo a seguir com "Boys". Ringo Starr nunca foi o melhor cantor do mundo. Na verdade ele destruiu algumas canções dos Beatles, como por exemplo, "Good Night" do White Album, que exigia uma voz mais suave e melódica. Lá infelizmente Ringo não tinha o timbre adequado. Na verdade seus talentos como cantor se enquadravam bem em música country e rocks mais agitados. Em "Boys" deu certo. A música, um rock com muita vibração, caiu como uma luva para sua voz rústica da classe operária de Liverpool. Curiosamente, por causa da pressa em que o álbum foi gravado (afinal tempo era dinheiro para a EMI), "Boys" ficou pronta em apenas um take, gravado ali, ao vivo, com todos tocando juntos. Por isso muitos qualificam esse primeiro disco dos Beatles como um "disco ao vivo gravado em estúdio" (por mais contraditória que essa expressão possa parecer). 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

10 Curiosidades - O Homem Que Matou o Facínora

1. Dirigido por John Ford, o filme é considerado um patrimônio cultural nos Estados Unidos, tendo sua cópia original preservada pela Biblioteca Oficial do Congresso Nacional em Washington.

2. John Ford inicialmente queria rodar o filme em cores, mas a Paramount só liberou orçamento para a realização de um filme em preto e branco. Anos depois Ford comentaria a decisão afirmando que ela acabou sendo a correta já que esconderia melhor a verdadeira idade de James Stewart que tinha que interpretar um jovem advogado idealista.

3. O primeiro ator contratado por John Ford foi John Wayne, quando o roteiro nem ainda estava pronto. Foi Wayne que sugeriu a Ford que contratasse James Stewart e Lee Marvin, com quem já tinha trabalhado. Depois de pensar alguns dias John Ford acabou aceitando ambas as sugestões.

4. Apesar de ter sido aclamado por público e crítica, o diretor John Ford, mesmo contente com os resultados, afirmou que jamais voltaria a filmar em preto e branco, uma vez que o sistema de cores já era padrão no cinema americano. Na visão de Ford o filme poderia ter sido mais bem sucedido nas bilheterias caso fosse lançado em cores.

5. Logo no começo das filmagens John Ford deixou claro para todo o elenco que ele era o diretor e por essa razão não admitiria intervenções em nenhum aspecto do filme. Virando-se para o ator Lee Marvin, Ford falou: "Eu sei que você foi dirigido por John Wayne recentemente no filme "Os Comancheros", porém saiba que ele aqui não manda em absolutamente nada!". Ao ouvir aquilo Wayne caiu na gargalhada.

6. A advertência de que ele, John Ford, era o diretor e senhor absoluto do filme, parece não ter surtido efeitos em John Wayne. Ele começou a querer mudar determinadas cenas, reescrevendo parte dos diálogos, o que acabou criando uma grande tensão entre eles. Chegaram a discutir com vigor perante toda a equipe técnica e elenco. Depois de uma briga séria Ford saiu anunciando: "Jamais voltarei a trabalhar com John Wayne em minha carreira!"

7. Com John Wayne e John Ford trocando farpas no set de filmagens, o ator James Stewart acabou se tornando um poço de tranquilidade, para onde todos iam durante as brigas entre o ator e diretor. Quando era perguntado sobre o que acontecia Stewart simplesmente ria dizendo: "Eu não tenho nada a ver com isso!"

8. Para os jornalistas que visitavam o set, o diretor John Ford explicava: "Filmar em preto e branco é uma arte. A direção tem que ser mais cuidadosa, mais carinhosa. Você tem que fazer tudo com extremo cuidado, sabendo jogar com luzes e sombras de uma forma única!"

9. Durante uma cena de diligência o ator James Stewart foi incentivado por John Ford para fazer ele mesmo a perigosa cena. No alto falante gritou: "Vá lá James, pule, mostre que você não é um covarde, não é um covarde!"

10. John Ford avisou ao seu elenco que queria realizar poucos takes de cada cena. Ele queria que os atores improvisassem até um certo limite, trazendo espontaneidade para cada momento. Dito isso virou para John Wayne e disparou: "Todos podem improvisar, menos John Wayne!". Todos riram.

Pablo Aluísio.

Duelo no Oeste

Título no Brasil: Duelo no Oeste
Título Original: Johnny Reno
Ano de Lançamento: 1966
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Studios
Direção: R.G. Springsteen
Roteiro: Steve Fisher, Andrew Craddock
Elenco: Dana Andrews, Jane Russell, Lon Chaney Jr, John Agar, Lyle Bettger, Tom Drake

Sinopse:
Johnny Reno (Dana Andrews), um xerife do velho oeste, captura um pistoleiro no deserto. Leva o criminoso para a cidade mais próxima e acaba sendo hostilizado. O bandido é acusado do assassinato de um indígena. Os moradores temem uma invasão dos índios na cidade. E tudo leva a crer que o prefeito esteja envolvido com o crime.

Comentários:
Bom filme de western americano dos anos 60. Dana Andrews foi um bom ator, um veterano com muitos filmes em sua vasta e variada filmografia. Aqui repete seu costumeiro bom desempenho. Seu personagem é o de um xerife honesto e íntegro, como era comum em filmes de velho Oeste dessa época. Um aspecto curioso é que esse xerife tem um interesse romântico na cidade, aonde chega com seu prisioneiro. A atriz Jane Russell interpreta essa mulher independente que trabalha em um saloon. Naquelas terras distantes era necessário ter coragem para sobreviver. E o xerife é o único homem honesto e íntegro no meio de um bando de facínoras da pior espécie. Acaba sendo abandonado a própria sorte pelos moradores da cidade. Uma situação que lembra o roteiro de outro clássico do faroeste, o filme Matar ou Morrer, com Gary Cooper. A diferença básica é que esse filme não tem tanta preocupação em desenvolver psicologicamente a situação. É um filme de faroeste mais convencional, mas ainda assim bom, satisfatório. Para quem está interessado, é bom saber que esse filme está na grade de programação do canal Telecine Cult, então temos um filme antigo de faroeste, mas atualmente bem acessível ao público que esteja interessado em assisti lo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 20

James Dean não dava muita bola para a religião. Na realidade, ele nem se considerava um cristão no sentido tradicional dessa palavra. Era um assunto que só o interessava quando estava envolvido com alguma peça de teatro ou filme em que ele iria atuar. Foi justamente isso que o levou a ler a parte inicial do velho testamento pela primeira vez, pois a primeira grande chance que ele teve no cinema veio justamente numa adaptação do livro do Gênesis. Baseada no livro escrito por John Steinbeck, essa história era, na verdade, uma alegoria da história de Caim e Abel. Aqueles dois irmãos trágicos, onde um matou o outro logo nas primeiras páginas da bíblia. Obviamente que Dean acabou sendo cotado para interpretar o irmão mau. 

Vidas Amargas seria dirigido por Elia Kazan. Isso levou James Dean a procurar um velho amigo, o sacerdote que trabalhava na cidade onde ele foi criado, em Indiana. O religioso havia sido um veterano da guerra e agora tentava salvar almas no meio Oeste dos Estados Unidos. Embora Dean nunca tenha sido religioso em nenhum momento de sua vida, ele se tornou amigo desse homem da igreja. O que uniu os dois em amizade era o amor pelo teatro. Na realidade, o velho sacerdote havia ensinado as primeiras lições rudimentares de atuação para um jovem James Dean.

Um aspecto curioso é que esse padre era homossexual. Muitos homossexuais se refugiavam numa vida religiosa para esconder justamente esse lado. Eles ficavam no armário enquanto tentavam esconder sua própria orientação sexual em uma época em que havia grande e violento preconceito dentro da sociedade. É claro que Dean sabia da verdade, mas nunca o confrontou sobre isso, respeitando-o como pessoa e como indivíduo. A religião condenava a homossexualidade, mas Dean nesse aspecto, achava tudo uma grande besteira. Ninguém poderia se pautar por um livro escrito por escribas que viveram há 2500 anos em um outro mundo que já não existia mais. Nesse aspecto, ele estava coberto de razão. 

Vidas amargas foi um momento de virada na vida do jovem ator. Antes, ele havia aparecido em 3 filmes, mas em nenhum deles teve nenhum destaque. Na maioria das vezes tinha apenas uma linha de diálogo para falar ou apenas uma figuração sem importância. Com Vidas Amargas a coisa mudou totalmente. Ele seria o principal ator do filme em uma produção cara que recriava a sociedade americana na década de 1910. Era certamente uma grande responsabilidade para Dean, mas ele aceitou o desafio com incrível pragmatismo. E acabou atuando muitíssimo bem, recebendo elogios por parte de toda a crítica dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.