quarta-feira, 16 de novembro de 2011

John Lennon - Milk and Honey

O que podemos dizer desse álbum? Em primeiro lugar ouvir esse disco nem sempre é uma experiência agradável pois se trata da obra inacabada de um gênio musical. Quando Lennon levou os tiros em frente ao edifício Dakota ele trazia consigo fitas gravadas no estúdio de canções que seriam justamente usadas para fazer parte desse álbum. Conforme o próprio John explicou em uma de suas últimas entrevistas seu plano era ter dois novos discos gravados, prontos e lançados no mercado, para só então cair na estrada, iniciar uma nova turnê mundial. O primeiro álbum foi “Double Fantasy” e o segundo seria justamente esse que não chegou a ser terminado pois Lennon infelizmente foi morto covardemente por um lunático que o atingiu naquela noite fria em Nova Iorque. Por essa razão, como já escrevi, a audição desse trabalho é penoso. Claro que os fãs não iriam perder a chance de ouvir as últimas gravações feitas por John Lennon mas ainda hoje paro para pensar se isso foi de fato uma boa ideia. Será que Lennon gostaria mesmo que tais gravações chegassem ao mercado como estavam, ainda um tanto cruas?

A decisão porém cabia à viúva Yoko Ono e ela resolveu seguir em frente. Em muitas das faixas se nota nitidamente a postura de ensaio por parte de Lennon – ele está claramente tentando se encontrar nas canções ao lado de seus músicos. Por essa razão não são performances perfeitas ou impecáveis. É o que se chama de takes alternativos no jargão do mercado fonográfico. Mesmo assim foram lançadas, para o bem ou para o mal. Eu estou sempre com um pé atrás nesse tipo de lançamento póstumo. Muitas vezes são títulos oportunistas, sem o devido cuidado, feitos obviamente para faturar muito em torno da comoção pública. Basta lembrar do último CD de Michael Jackson que chegou ao mercado para entender bem o que digo. Dentre as faixas de “Milk and Honey” não há também nenhum grande sucesso, apenas "Nobody Told Me" conseguiu se destacar razoavelmente nas paradas. O resto das canções são bem esquecíveis para falar a verdade. Uma pena. Nenhuma faixa pode ser destacada entre os grandes momentos de John Lennon. Por fim fica também o aviso: várias músicas são cantadas por Yoko Ono, tal como aconteceu em “Double Fantasy”. A seleção do disco intercala canções cantadas por John e por Yoko, de forma sucessiva. Não sou fã de seu estilo de cantar mas de qualquer forma há quem a admire nos vocais. No final “Milk and Honey” se destaca mais por ser historicamente importante (afinal foi o último trabalho de Lennon) do que por seus méritos artísticos.

John Lennon – Milk and Honey (1984)
1. I'm Stepping Out
2. Sleepless Night
3. I Don't Wanna Face It
4. Don't Be Scared
5. Nobody Told Me
6. O' Sanity
7. Borrowed Time
8. Your Hands
9. (Forgive Me) My Little Flower Princess
10. Let Me Count the Ways
11. Grow Old with Me
12. You’re the One

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

John Lennon - Double Fantasy

Depois de ficar cinco anos em reclusão voluntária, ajudando a criar seu filho Sean, John Lennon anunciou que voltaria ao estúdio para gravar novas canções. Numa dessas entrevistas de retorno John explicou um fato curioso. Ele afirmou que ficou cinco anos com a "guitarra debaixo da cama", sem nenhuma vontade de tocar ou compor nada mas que certa manhã acordou muito inspirado e de uma só vez criou novos temas, novas composições, numa explosão de criatividade e empolgação. Para Lennon "Double Fantasy" significava antes de tudo um recomeço, como bem demonstra a primeira faixa do disco, chamada adequadamente de "(Just Like) Starting Over". Era a volta aos estúdios e como ele próprio explicou à estrada, algo que tencionava fazer após o lançamento de um segundo disco, que viria após "Double Fantasy". Lennon queria ter material suficiente para não precisar apresentar as velhas canções dos Beatles. Seu sentimento de independência para com a banda que o transformou em mito ainda era muito presente.

Infelizmente por uma dessas situações que não são facilmente explicáveis, o cantor e compositor acabou sendo brutalmente assassinado em frente ao edifício em que morava em Nova Iorque, colocando fim à sua carreira e à sua vida. Os planos de recomeçar de novo acabaram drasticamente naquele trágico dia. Sem dúvida uma perda enorme para a música mundial. Para os fãs e admiradores de Lennon só restou a música e "Double Fantasy", o tão planejado recomeço, acabou se transformando no canto de cisne do artista. Diante de tamanha responsabilidade resta perguntar: "Double Fantasy" é um disco digno de despedida de um nome como John Lennon? Embora não tenha sido concebido para tal o disco se sustenta como legado da genialidade de Lennon? A resposta a tais indagações certamente não são fáceis. Muitas pessoas, obviamente envolvidas pelo calor do momento, do impacto da morte de John, certamente diriam que sim, que o último disco de Lennon foi excepcional, acima das expectativas, à altura do grande mito que o ex líder dos Beatles foi.

Eu procuro ser mais racional a esse respeito. Não resta dúvidas que "Double Fantasy" traz em sua seleção musical espasmos de bons momentos do talento de John Lennon, certamente, mas não vamos deixar a pura emoção nos envolver. O disco tem ótimas canções mas não é representativo a ponto de marcar a obra do cantor como um todo. O primeiro problema no meu ponto de vista é a divisão das músicas entre Lennon e sua esposa Yoko Ono. Essa é uma questão delicada mas por opção deixarei as canções da artista japonesa de lado, me focando apenas nas de Lennon. E o que nos sobra? De certa forma pouca coisa. "(Just Like) Starting Over" é ótima. Seu clima nostálgico invoca os anos 50, algo que Lennon propositalmente buscou. Quando perguntado sobre que tipo de arranjo desejava ele foi incisivo "Quero uma velha orquestra de rock´n´roll dos anos 50". E conseguiu. A vocalização nos remete imediatamente àquela década, ao estilo vocal de Gene Vincent ou Elvis Presley em seus anos de Sun Records.

Outra faixa digna de citação é "Watching The Wheels". A música foi composta por Lennon como uma grande resposta a todos que viviam se perguntando o que ele estaria fazendo durante todo o tempo em que se afastou da carreira? Lennon brinca com o fato numa letra simples mas inspirada, embalada numa bela melodia (que gruda na cabeça na primeira audição). O tom de nostalgia que é tão presente em "(Just Like) Starting Over" acaba voltando na mais bela canção do disco, "Woman". Perceba que Lennon estava mais autoral do que nunca. Todas as letras procuravam demonstrar fases de sua vida atual, coisas de seu cotidiano. Obviamente "Woman" se refere à mulher de sua vida, Yoko, mas sua letra também poderia se encaixar em relação a todas as mulheres do mundo. A melodia fala por si só, uma das mais belas e inspiradas de toda a carreira do cantor. As demais faixas já não seriam tão marcantes. "I´m Losing You" tem seus defensores mas a acho repetitiva e aborrecida. Menos fraca é a música que ele fez para Sean, "Beautifull Boy", com todo o lirismo inerente ao tema. Com efeitos sonoros que lembram um dia despreocupado na praia, a canção é marcante pelo simbolismo, por tudo que Lennon abdicou em nome de seu segundo filho.

Claro que com a morte de Lennon o disco explodiu em vendas. O mundo estava chocado e ninguém deixaria de comprar o último trabalho lançado em vida pelo famoso ex-beatle. É um disco de bons momentos, belas baladas e melodias, que buscava demonstrar um novo momento na vida de John Lennon que infelizmente foi o seu último mas não é algo que ficou tão marcado dentro da discografia de Lennon. Embora seja uma mera suposição, talvez se John não tivesse morrido da forma que todos sabemos, o disco teria sido lembrado nos anos seguintes apenas como o seu retorno à carreira, sem nada de muito especial nele.

Double Fantasy - John Lennon
(Just Like) Starting Over
Kiss Kiss Kiss"
Cleanup Time"
Give Me Something
I'm Losing You
I'm Moving On
Beautiful Boy (Darling Boy)
Watching the Wheels
Yes I'm Your Angel
Woman
Beautiful Boys
Dear Yoko
Every Man Has A Woman Who Loves Him
Hard Times Are Over

Pablo Aluísio.

John Lennon - Shaved Fish

Em 1975 John Lennon anunciou publicamente que iria se retirar da vida pública e artística para acompanhar a infância de seu segundo filho, Sean. O cantor sentia-se um pouco culpado pelo fato de mal ter acompanhado o crescimento de seu primeiro filho, Julian, pois na época ele estava vivendo o auge da popularidade dos Beatles e mal parava em casa, sendo que seu filho acabou virando um desconhecido para ele. De qualquer forma a decisão estava tomada e como ele já havia cumprido seu contrato com a gravadora EMI nada haveria que o impedisse de literalmente "jogar a guitarra para debaixo da cama", usando de uma expressão que ele próprio utilizou em entrevistas.

Assim nasceu Shaved Fish, a primeira (e única) coletânea em vida da carreira solo do ex-beatle. Uma das coisas que mais chamam atenção aqui é a extensão de hits que o artista conseguiu em um período relativamente curto de tempo. Em mais ou menos cinco anos, desde o fim do quarteto de Liverpool, Lennon conseguiu emplacar várias canções na lista dos mais vendidos. Embora muitos atribuam isso a uma pretensa rivalidade com seu ex-companheiro Paul McCartney, o fato é que atuando sozinho Lennon deu vazão ao seu lado mais pessoal nas suas composições, o que acabou criando um sentimento de intimidade com seu público. Via de regra John Lennon não escrevia suas músicas de forma abstrata, sobre situações não reais. John escrevia sobre si mesmo, geralmente em primeira pessoa e defendia a ideologia que entendia ser a correta. Assim nasceram hinos pacifistas como "Imagine", "Give Peace a Chance" e "Power of The People" e verdadeiros desabafos pessoais como "Mother".

Uma questão a se destacar aqui é interessante. Nos anos 50, 60 e 70 nem sempre os maiores sucessos faziam parte de algum álbum. Eram lançados como singles (compactos simples) com duas músicas que iam diretamente para as rádios. Eventualmente os hits entravam ou não na set list dos discos com 10 ou 12 canções geralmente. Por essa razão você não encontrará "She Loves You" em nenhum álbum oficial dos Beatles na época. Eram singles, feitos para vender muito e rapidamente (o que era natural uma vez que os compactos eram baratinhos e vendiam como água). Nos anos 70 esse sistema de mercado ainda era utilizado e essa coletânea demonstra bem isso pois a grande maioria de suas músicas nada mais são do que singles de sucesso da carreira solo de John Lennon. Assim se você estiver procurando por apenas um título para representar os primeiros anos de Lennon em sua carreira solo, "Shaved Fish" ainda é uma boa pedida, mesmo após todos esses anos.

John Lennon - Shaved Fish
Give Peace a Chance
Cold Turkey
Instant Karma
Power To The People
Mother
Woman Is The Nigger Of The World
Imagine
Whatever Gets You Thru The Night
Mind Games
9 Dream
Happy Xmas

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

John Lennon - Rock´n´Roll (1975)

Provavelmente um dos menos conhecidos trabalhos de John Lennon na carreira solo. O fato é que sendo um disco de covers, "Rock´n´Roll" não chamou tanta atenção assim da mídia na época e nos anos que viriam o álbum cairia em um injusto esquecimento. Existe também um certo preconceito contra o disco. Já li, por exemplo, várias resenhas afirmando que Lennon o gravou apenas para cumprir seu contrato com a gravadora e encerrar sua longa parceria com a Emi-Odeon. Acho esse tipo de atitude apressada. Não considero o álbum um "tapa buraco" na discografia solo de John Lennon, isso é de um simplismo absurdo. O fato é que John vinha vivendo uma fase conturbada na vida (havia se separado de Yoko Ono) e resolveu gravar um LP com as músicas que tinham feito sua cabeça na adolescência. Nada mais de acordo com uma pessoa que se considerava acima de tudo uma "velha orquestra de Rock´n´Roll".

Outros dizem que John apenas gravou "Rock´n´Roll" por uma questão legal. Acontece que após o lançamento da canção "Come Together" John sofreu um pesado processo judicial por plágio por aqueles que detinham os direitos autorais da canção "You Can´t Catch Me" de Chuck Berry. Para não ser condenado Lennon acabaria fazendo um acordo no tribunal. Ele não pagaria uma indenização pesada (algo em torno de alguns milhões de dólares) mas em compensação gravaria a música de Berry. Como ela era em si uma antiga música dos anos 50 ele teria tido a ideia de realizar um velho sonho gravando outras canções antigas, da época em que era apenas um jovem de Liverpool. O fato é que de uma maneira ou outra Lennon se decidiu e resolveu gravar seu disco revival.

O álbum na verdade pode ser dividido em duas partes. A primeira foi gravada com a produção de Phil Spector e a segunda pelo próprio John. Eu pessoalmente gosto muito mais da "parte Lennon" do disco. As músicas que foram produzidas por Phil Spector são mais "pesadas" em seus arranjos e produção, o que acaba prejudicando a própria essência das canções, que tinham arranjos bem mais simples e lúdicos. Spector produziu em excesso as canções, colocando uma quantidade fora do normal de metais e orquestração ao fundo, muitas vezes abafando a própria vocalização de Lennon. Já a segunda parte do disco é bem mais coesa, leve e divertida (como tinha que ser já que estamos lidando aqui com músicas que em sua maioria pertencem aos pioneiros do surgimento do Rock nos anos 50). Lennon suavizou os arranjos, maneirou nos excessos e trouxe vitalidade e leveza ao disco em si. Ainda bem.

Em um depoimento Mick Jagger afirmou que a seleção musical do disco contou com sua preciosa participação. Ele afirma que por essa época começou a sair mais com Lennon e esse o usou de forma deliberada para lembrar de velhos hits da juventude de ambos. Pode ser, já que separado da japonesa, John realmente se uniu a alguns amigos do passado e caiu na vida boa, se divertindo, arranjando confusões e até brigas em boates (esse período de sua vida ele chamava de "Fim de Semana Perdido"). Depois do disco John Lennon finalmente retornou para os braços de Yoko Ono e com o contrato cumprido anunciou que ficaria cinco anos parado, sem gravar nada em estúdio, promessa que cumpriu só voltando a gravar material novo em 1980 no álbum "Double Fantasy". De qualquer forma recomendo e muito a audição do disco, principalmente para quem só conhece o single "Stand By Me". John já não era apenas um jovem rebelde por essa época mas era suficientemente competente para gravar um belo revival do surgimento do Rock´n´Roll.

Três foram os motivos para John Lennon gravar esse álbum chamado "Rock 'n' Roll" que era composto basicamente por diversas versões covers dos clássicos do rock dos anos 50 e 60. O primeiro foi que Lennon tinha que cumprir seu contrato com a EMI / Capitol, a gravadora que lhe processaria em alguns milhões de dólares se ele pulasse fora do barco. Quando ainda era um Beatle ele assinou esse contrato de dez anos e agora tinha que cumprir o que havia se comprometido a fazer. Os Beatles se separaram e John ainda tinha cinco anos de contrato para cumprir! Esse disco foi exatamente o último LP a ser gravado por essa obrigação contratual. Uma forma de finalmente se ver livre da EMI e suas pressões. Pode-se dizer que John ficou muito aliviado de ter chegado ao fim das gravações desse disco. Foi sua liberdade reconquistada.

O segundo motivo foi também cumprir uma obrigação, mas dessa vez judicial. John havia perdido um processo por plágio movido por Chuck Berry. Na conciliação que se seguiu John se comprometeu a gravar algumas músicas de Berry, um artista que ele realmente adorava e respeitava. Bom, nem precisa pensar muito para entender que se iria gravar rocks de Chuck Berry, então era melhor gravar logo um disco inteiro de músicas do surgimento do Rock 'n' Roll nos Estados Unidos. Juntando o útil ao agradável e adotando uma sugestão de Mick Jagger, Lennon resolveu colocar a ideia do álbum em frente. O prazer de gravar tantas músicas imortais acabou sendo assim a terceira e última razão para gravar o disco. Era algo que ele queria fazer já há alguns anos, no final das contas seria um prazer para ele que sempre se considerou acima de tudo um roqueiro ao velho estilo, um verdadeiro cantor de rock.

As sessões só não foram melhores porque John enfrentava uma crise pessoal em sua vida. Poucas semanas antes de começar as gravações sua musa Yoko Ono resolveu dar um tempo no relacionamento que tinha com o ex-Beatle. Nem precisa dizer que isso o devastou emocionalmente. John ficou muito abatido e acabou chamando esse rompimento com Yoko de "o fim de semana perdido". Ele ficou literalmente perdido mesmo e começou a se envolver em confusões, principalmente nas boates de Nova Iorque. Sem Yoko de lado, John voltou a ser o valentão bêbado de seus dias de adolescência quando gostava de brigar nos bares de Liverpool. A diferença agora era que ele estava mais velho e já não tinha mais a energia de seus tempos de juventude. As brigas voltaram e John ficou mal, não apenas emocionalmente mal, mas fisicamente mal também. Passou a acordar todos os dias com uma ressaca infernal. Mal conseguia se levantar para trabalhar em estúdio.

Outro erro foi contratar o produtor Phil Spector para trabalhar ao seu lado. Spector estava vivendo uma fase de profundo vício em cocaína, que o impedia de prestar atenção nos takes, nas gravações. John ficou irritado e acabou demitindo o produtor, assumindo ele mesmo a produção do disco. John, que também estava usando drogas na época, era mais profissional. Ele nunca esqueceu suas origens em Liverpool. Tendo nascido na classe trabalhadora inglesa, onde todos levavam muito à sério o trabalho, John sabia separar o momento das farras do trabalho. Na hora de ir para as gravações para trabalhar John procurava sempre antes ficar sóbrio. No estúdio se mostrava um músico concentrado. Já Spector aparecia cheirado, completamente noiado e cheio de droga na cabeça. John obviamente ficou irritadíssimo com isso. Não demorou muito e Lennon o demitiu na frente de todos, bem no meio do Record Plant, o caro estúdio de Nova Iorque. Ele não precisava de Spector naquela situação deplorável em que ele se encontrava. Ele iria assumir tudo, se tornando o George Martin e também o Paul McCartney de seu novo disco. Iria produzir e fazer todos os arranjos sozinho. Não deixava de ser um desafio interessante para o bom e velho John Lennon. Ele queria se testar novamente.

John Lennon - Rock ´n´ Roll
01- Be Bop a Lula
02- Stand by me.
03- Medley: Rip it up / Ready Teddy.
04- You can't catch me.
05- Ain't That a Shame.
06- Do you want to dance?
07- Sweet little sixteen.
08- Slippin' and slidin'.
09- Peggy Sue.
10- Medley:
       Bring it on home to me / Send me some lovin'.
11- Bony Maronie.
12- Ya ya.
13- Just because.

Pablo Aluísio.

John Lennon - Walls and Bridges

Todo trabalho cultural reflete de uma forma ou outra aspectos da vida pessoal de seu criador. John Lennon e esse "Walls and Bridges" demonstram bem isso. Gravado em um período muito conturbado da vida do ex-beatle o LP traz para sua seleção musical essa confusão emocional da vida de Lennon na época. O disco é desconexo, sem fio condutor, tudo parecendo feito ao acaso, sem planejamento. Na ocasião de seu lançamento Lennon explicou a amigos e pessoas próximas que teria entrado em estúdio por obrigação contratual, sem ter nem ao menos uma faixa pronta. Assim, segundo ele próprio, tentou produzir algo, meio que na base do improviso, numa desordem completa. Parecia até estar se desculpando pelo disco que havia gravado. Não era para menos. John recuperou velhos manuscritos, ideias abandonadas de outras épocas e tentou terminar o que havia começado (algumas músicas não passavam de rabiscos de um ou dois estrofes, tudo em estado muito embrionário).

Diante dessa situação o resultado final não poderia ter saído diferente. A obra não tem uma ideia ligando as faixas, demonstrando realmente falta de critério, arranjos pobres e letras que em nada lembram o brilhantismo de outrora da carreira de John Lennon. O clima de reciclagem começa logo pela capa (um velho desenho feito por ele em seus tempos de escola). As diversas faces de Lennon podiam ser trocadas na contracapa (que funcionavam muito bem na capa grande de papel do vinil) mas que acabou se perdendo em sua edição de CD, o que é uma pena pois era uma das melhores coisas de "Walls and Bridges". Tirando essa bem bolada direção de arte o conteúdo musical deixou muito a desejar. Quando chegou nas lojas muitos críticos torceram o nariz. É um produto tipicamente produzido naquilo que John mesmo chamou de "fim de semana perdido". Separado de Yoko Ono o artista parece que literalmente perdeu o rumo: se envolveu em bebedeiras, brigas em bar e deu vexames públicos por aí. Além disso foi declarado "persona non grata" pelo governo americano por causa de seus problemas com drogas e protestos anti guerra. No meio de todo esse turbilhão ele tentou fazer algo musicalmente mas temos que convir que ficou apenas nas boas intenções. Com a vida em caos "Walls and Bridges" não poderia ser menos do que caótico.

Realmente após ouvir todo o disco chegamos na desanimadora conclusão de que temos aqui apenas duas faixas fortes. A primeira é a conhecida "Whatever Gets your Thru The Night" Fruto da parceria entre Lennon e Elton John a canção bebe diretamente da fonte da moda "disco" que imperava na época. A faixa por suas características acabou criando identidade própria e se destacou mais como single do que pela sua inclusão na seleção do LP. A segunda boa canção de "Walls and Bridges" é a muito bem arranjada "#9 Dream" em que o capricho do arranjo destoa completamente do restante das músicas (todas pobremente arranjadas, aliás velho problema da discografia solo de Lennon). O resto da audição não traz maiores surpresas ou bons momentos. Fora essas duas canções o restante das faixas não consegue trazer nada que nem ao menos lembre dos grandes momentos de Lennon em estúdio. Algumas são inclusive embaraçosas como "Bless You" em que John literalmente se coloca numa situação meio estranha ao abençoar o recente romance de Yoko com o guitarrista David Spinozza. Outra que chama atenção é "Jeff Berky" única música puramente instrumental da carreira do ex-beatle. O que poderia ser interessante desaba em uma sucessão de riffs e momentos clichês. Depois dessas músicas nada mais se destaca ou chama a atenção. As demais faixas não são dignas de nota. Algumas gravações são visivelmente mal feitas, demonstrando terem sido compostas ao acaso, na pressa, nada memoráveis (como o tempo provaria pois realmente caíram no esquecimento completo pois hoje em dia ninguém mais parece se lembrar delas). "Walls and Bridges" é quase um desastre completo. Por fim fica a pergunta: "Walls and Bridges" é o pior disco da carreira de John Lennon? Complicado afirmar, de qualquer forma uma coisa é certa: é um dos mais mal produzidos e confusos, igual ao tal "fim de semana perdido" de seu autor.

John Lennon - Walls and Bridges
Going Down on Love
Whatever Gets You thru the Night
Old Dirt RoadWhat You Got
Bless You
Scared
#9 Dream
Surprise, Surprise (Sweet Bird of Paradox)
Steel and Glass
Beef Jerky
Nobody Loves You (When You're Down and Out)
Ya Ya

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de novembro de 2011

John Lennon - Mind Games

Em julho de 1973 Lennon voltou aos estúdios Record Plant para novas gravações. Desnecessário dizer que sua vida pessoal estava um verdadeiro caos na época. A briga judicial com o governo Nixon seguia em frente, com John tentando de todas as formas permanecer nos Estados Unidos. Seu relacionamento com Yoko estava desgastado. As pressões que havia sofrido por ter se casado com ela tinham atingido um grau simplesmente insustentável. Na realidade o casal estava prestes a entrar em um rompimento duradouro. Talvez por isso seu novo disco trazia uma capa no mínimo inusitada. Nela Lennon aparece minúsculo ao lado de um perfil enorme de sua esposa. Claramente se percebe que ele se distancia dela. Segundo alguns a capa mostrava exatamente o que sentia Lennon durante a produção do disco. Um homem comum ao lado de uma "montanha" de mulher. Para os cínicos porém tudo o que esse retrato representava era a eterna submissão do ex beatle à mulher que o dominava completamente, em todas as ocasiões. Ali estava aquele homenzinho ao lado de sua dama dominante, maior que a paisagem ao redor.

Mas vamos ao disco em si. Nele Lennon resolveu assumir todas as responsabilidades, assinando a produção, composição e arranjo do álbum. Convocou novos músicos aos estúdios e batizou a banda de The Plastico UFOno Band. A brincadeira tinha sua razão de ser. Poucas semanas antes da gravação ele afirmara que havia visto um disco voador da sacada de seu apartamento. Daí o uso da sigla UFO (o equivalente ao inglês do nosso OVNI, Objeto Voador Não Identificado). O evento jamais foi esclarecido. Não se sabe ao certo se o cantor realmente viu algo ou se estava simplesmente viajando em uma de suas viagens lisérgicas com LSD. De qualquer maneira ele resolveu que não queria deixar o fato passar em branco e por isso renomeou a banda com essa pequena referência ufológica. Musicalmente "Mind Games" não trazia grandes surpresas em relação ao outros discos da carreira solo de Lennon. Novamente o tema único de suas composições era seu relacionamento com Yoko, seus pensamentos mais pessoais em forma musical. Praticamente todas as faixas são ligadas a isso, de uma forma ou outra, direta ou indiretamente, com pequenas e esporádicas exceções. Yoko está em todas as músicas. Lennon se declara apaixonado, pede desculpas, a venera, a compara com as maravilhas da natureza e por aí vai. O fato é que realmente parecia que Lennon só tinha pensamentos para sua esposa e por isso o disco é recheado de citações à japonesa.

As letras continuavam feitas em primeira pessoa, bastante autorais. Esse fato aliado a uma produção que foi acusada na época de ser desleixada (o velho problema de arranjos da discografia solo de Lennon) fez com que apenas uma única faixa se destacasse nas paradas, justamente a canção titulo, "Mind Games" que foi excessivamente divulgada nas rádios por insistência da EMI. As demais músicas passaram em branco nas principais paradas musicais e com o tempo se tornaram as mais obscuras canções da discografia de John Lennon. Uma injustiça pois possuem melodias bonitas. Não são excepcionalmente bem arranjadas, mas possuem uma riqueza de melodia que era bem característico do cantor. Rocks são poucos, Lennon parecia muito empenhado em cantar seu romance com Yoko e por isso não sobrou muito para o estilo que o lançou ao estrelado. Apenas "Tigh As" e "Meat City" possuem algum vigor roqueiro mas é só isso. "Mind Games" é acima de tudo uma obra de um autor profundamente apaixonado pela mulher de sua vida. Se não é uma obra prima de Lennon, passa longe de ser banal, pois pelo menos traz um instantâneo de sua vida em um momento particularmente confuso. Só mesmo Lennon para ter inspiração para tantas músicas românticas enquanto queriam lhe expulsar dos Estados Unidos. Não deixa de ser um feito e tanto. Após ouvir o disco temos certeza de uma coisa: Ele realmente amava do fundo de seu coração essa mulher.

John Lennon - Mind Games
01. Mind Games
02. Tight A$
03. Aisumasen (I'm Sorry)
04. One Day (At a Time)
05. Bring on the Lucie (Freda Peeple)
06. Nutopian International Anthem"
07. Intuition
08. Out the Blue
09. Only People
10. I Know (I Know)
11. You Are Here
12. Meat City

Pablo Aluísio.

John Lennon - Sometime In New York City

"Sometime in New York City" é o álbum mais político de toda a carreira de John Lennon. Vários de suas faixas possuem nítida posição política e social de eventos que aconteciam ao redor da vida do ex beatle em Nova Iorque. Em toda a sua vida Lennon nunca foi um homem de ficar em cima do muro, sendo que na maioria das ocasiões tomava partido pelo que entendia correto, muitas vezes agindo mais com a emoção do que propriamente com a razão, adotando em diversos momentos certas posições que hoje podem ser consideradas radicais. Esse disco é um exemplo perfeito disso. Além dos vários problemas envolvendo a presença de Lennon nos EUA, suas divergências com o governo Nixon, o álbum ainda traz a tentativa de Lennon em defender certas causas, como por exemplo a legalização da maconha, a denúncia da brutalidade policial e repressiva contra detentos do presídio de Attica e a delicada situação envolvendo a Irlanda e a Inglaterra.

A primeira posição pode ser encontrada na música "John Sinclair". Os jovens hoje podem se perguntar quem é o cidadão citado no título da música. John Sinclair foi um poeta americano que foi preso por porte de maconha nos anos 70. Sua prisão causou indignação em certos setores que defendiam a legalização da cannabis sativa. Lennon acabou abraçando a causa, protestando contra sua prisão. O fato que chocou a todos na época foi que a simples posse de dois cigarros de maconha havia rendido ao poeta a pena de dez anos de prisão. Obviamente uma punição desproporcional. Lennon imediatamente protestou através de entrevistas, textos e finalmente incluindo a faixa no disco. Outra posição bem nítida de Lennon em Sometime foi a inclusão da canção "Attica State", um panfleto contra o massacre ocorrido na prisão de Attica onde quase quarenta prisioneiros foram mortos após uma violenta rebelião. Lennon sentiu-se incomodado com a situação e escreveu a canção em forma de protesto. Ironicamente anos depois seu próprio assassino, Mark Chapman, viria a cumprir pena no mesmo sistema penitenciário! Ironia do destino? Pode ser. Os irlandeses também não foram esquecidos e Lennon fez questão de se posicionar sobre o conflito, ficando curiosamente ao lado da Irlanda, indo em confronto direto contra a própria política repressiva de seu país de origem, a Inglaterra. Uma posição política que estava correta, como foi comprovado depois ao longo dos anos.

Deixando todas essas questões de lado o importante sobre o LP é também avaliar suas qualidades musicais. Eu particularmente considero "Sometime in New York City," apesar de todas as suas boas intenções, um trabalho pouco coeso do ex beatle. O disco não conseguiu se destacar bem nas paradas (talvez por ser político demais, em excesso) e tampouco conseguiu produzir grandes hits na carreira solo do cantor e compositor. De fato, apenas "Woman Is the Nigger Of The World" conseguiu maior projeção e mesmo assim porque contou com a máquina promocional de sua gravadora à todo vapor. O resto das faixas caíram em um incrível estado de limbo, inclusive algumas de forma bastante injusta como o bom rock "New York City" que trazia pela primeira vez em muitos anos um bom gancho roqueiro por parte de Lennon (que após a separação dos Beatles havia nitidamente escolhido investir mais em boas baladas do que em bons rocks de seu passado glorioso ao lado do grupo inglês). Em conclusão pode se assim afirmar que "Sometime in New York City" contribuiu muito mais para a faceta política de Lennon do que sua faceta musical e artística. Essa, sem a menor sombra de dúvidas, ficou em segundo plano aqui nessa obra.

John Lennon - Sometime In New York City

Woman Is the Nigger Of The World
Sisters O Sisters
Attica State
Born In A Prison
New York City
Sunday Bloody Sunday
The Luck Of The Irish
John Sinclair
Angela
We're All Water
Cold Turkey
Don't Worry Kyoko
Well (Baby Please Don't Go)

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de novembro de 2011

John Lennon - Imagine

Algumas músicas definem toda a carreira de um artista. De certa forma é justamente isso que acontece com "Imagine", a música símbolo de John Lennon. De estrutura bem elaborada, a letra transmite com bastante êxito um resumo (diria até mesmo didático) do pensamento do ex beatle. Obviamente a mensagem do cantor e compositor pode soar simplista demais frente aos problemas da sociedade, porém temos que levar em conta que se trata da filosofia de um poeta, que não era (e para falar nem devia) tentar solucionar os conflitos da humanidade de forma analítica e pormenorizada.

De forma sutil Lennon investe contra os Estados (e sua inerente necessidade de lutar pelas fronteiras nacionais), a religião (e seus eternos conflitos ideológicos e dogmáticos) e propõe uma espécie de sociedade livre de preconceitos e divisões. Escapismo poético vazio? Pode até ser, mas até que funciona bem, até mesmo nos dias atuais. Interessante notar que o arranjo funciona muito bem pois a canção foi gravada tal como composta (basicamente voz e piano - com o uso de bateria acrescida posteriormente, além de uma singela e discreta orquestração ao fundo que foi muito bem colocada não tirando a atenção do ouvinte da simplicidade da canção e arranjo). Sem dúvida um bom trabalho do produtor Phil Spector (curiosamente Yoko Ono também foi creditada como "produtora" do LP).

Embora "Imagine" tenha entrado para a cultura popular de forma definitiva o resto do disco não parece ter alcançado o mesmo alcance. "Imagine" é aquele tipo de álbum com uma faixa de trabalho extremamente superiora ao resto do conjunto. Um ícone pop seguido por coadjuvantes sem grande brilho próprio. Analisando friamente o resto do disco chegamos facilmente na conclusão que apenas "Jealous Guy" conseguiu se sobressair nas paradas e ser conhecida do grande público (embora hoje em bem menor escala). O resto das músicas não conseguiu abrir seu próprio espaço caindo em um (até injusto) esquecimento musical. O incrível é que o LP ficou muitos anos em catálogo (até mesmo no Brasil) mas isso definitivamente não ajudou na popularização das demais canções. Só a título de comparação podemos citar "Plastic Ono Band", um álbum bem menos popular, que conseguiu no mínimo destacar 3 faixas fortes (Mother, God e Working Class Hero) enquanto "Imagine", em seu conjunto, só conseguiu mesmo se sobressair em duas delas.

Dentre as faixas remanescentes podemos destacar algumas boas canções e outras nem tanto. Entre as ruins temos "I Don´t Wanna Be a Soldier" cuja letra tem sua importância mas que é infelizmente embalada por uma melodia enjoativa e derivativa que não leva à canção a lugar nenhum. Lennon aqui entra em um redemoinho melódico, se perdendo completamente dentro dele, não conseguindo sair mais. Por isso essa é certamente uma das músicas menos inspiradas do ex beatle em sua carreira solo. As baladas são bem melhores. "Oh My Love" é sinceramente bem conduzida e tem uma melodia linda, tudo resultando em um belo momento do disco. Um pouco menos relevante está "How?" que em certos momentos parece entrar numa encruzilhada melódica, embora felizmente tenha sido salva por causa de seu bom refrão.

Yoko Ono também ganha sua música de homenagem, o countryzinho "Oh Yoko", simples mas agradável em sua pegada despretensiosa de contagiante felicidade. Nesse conjunto de coadjuvantes o grande erro de Lennon realmente é a faixa "How do You Sleep?", uma música feita exclusivamente para provocar e ofender seu ex colega de banda, Paul McCartney. Além de feia (e mal produzida) a música destoa completamente do tema proposto da faixa título, pois ao mesmo tempo em que prega a paz em "Imagine" Lennon solta farpas em relação ao ex parceiro nessa letra cheia de ressentimentos. Como conciliar tamanha contradição? Bom, entender isso é como tentar entender a personalidade de Lennon, algo nem sempre fácil de decifrar.

Imagine (1971)
Imagine
Crippled Inside
Jealous Guy
Its So Hard
I Dont Wanna Be a Soldier
Gimme Some Truth
Oh My Love
How Do You Sleep?
How?
Oh Yoko

Pablo Aluísio.

John Lennon - Plastic Ono Band

Esse pode ser considerado o primeiro disco solo da carreira de John Lennon. Embora ele tenha lançado alguns discos antes e após a dissolução dos Beatles, Plastic Ono Band é o seu primeiro trabalho de estúdio trazendo canções inéditas. O trabalho desenvolvido por Lennon aqui é bem autoral, sendo a maioria das músicas compostas em primeira pessoa, demonstrando que ele não tinha o menor problema em expor sua vida e seus problemas pessoais de forma aberta e sem artifícios. A própria canção que abre o disco demonstra isso de forma bem clara, pois Mother, composta em homenagem à sua mãe falecida, é uma declaração sem receios dos sentimentos que nutria em relação à Julia, morta de forma estúpida por um motorista embriagado.

Com produção de Phil Spector, o mesmo produtor designado por Lennon para dar um jeito nas gravações do último disco a ser lançado pelos Beatles, Let it Be, e contando com um equipe de feras no estúdio, John Lennon reuniu uma excelente coleção de músicas compostas na época em que era um Beatle, mas que não tinham encontrado espaço nos discos do grupo. Curioso notar a presença de Eric Clapton e Billy Preston no disco. Os dois foram cogitados pelo próprio Lennon para integrarem os Beatles em seus momentos finais. Aqui ele certamente desenvolveu o trabalho que queria fazer antes, mas que fora vedado por Paul McCartney e cia.

John Lennon / Plastic Ono Band na verdade é apenas um lado do projeto desenvolvido por Lennon ao lado de sua esposa. A continuidade do projeto se deu com outro disco, intitulado Yoko Ono / Plastic Ono Band. Tudo era baseado na terapia do grupo primal no qual ambos estavam intimamente envolvidos. O disco de Yoko Ono, completamente cantada por ela, é pouco conhecido nos dias de hoje, até porque sua voz e seu talento musical nunca foram unanimidade nem entre os fãs mais ardorosos do ex-beatle.

De qualquer forma o disco de John deve certamente ser conhecido pois apresenta grandes momentos, embora é bom reconhecer, no lado puramente musical o disco não tenha a riqueza dos trabalhos que foram feitos enquanto ele fazia parte dos Beatles. Ótimo letrista, John não era um grande arranjador, sendo essa parte coberta de forma riquíssima por seu colega, Paul McCartney. Esse disco demonstra bem isso. A voz de Lennon está lá, assim como suas letras inteligentes, engajadas e polêmicas, mas falta maior riqueza sonora, falta sonoridade e harmonia. Um exemplo claro disso é a faixa Remember, muito pobre em termos de acompanhamento e desenvolvimento. Em faixas como Love isso até soa a favor, pois a música é ternamente simples e direta, porém em outras como Working Class Hero fica sempre a sensação de que algo está faltando. De qualquer maneira o disco cumpriu sua função e mostrou a Lennon que havia vida após a morte dos Beatles. Nos anos que seguiriam ele iria melhorar e muito em certas deficiências de sua carreira solo e iria compor hinos eternos como Imagine, mas essa é uma outra história...

John Lennon / Plastic Ono Band (1970)
01. Mother
02. Hold On
03. I Found Out
04. Working Class Hero
05. Isolation
06. Remember
07. Love
08. Well Well Well
09. Look at Me
10. God
11. My Mummy's Dead

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

John Lennon - Unfinished Music No. 2: Life with the Lions

Segundo álbum de sons experimentais de John Lennon e Yoko Ono. Esse disco nasceu de uma fase bem conturbada na vida do casal. Eles queriam ter um filho para concretizar de vez seu relacionamento mas para Yoko isso estava cada vez mais se tornando distante, principalmente por causa de sua idade. Qualquer gravidez seria de risco por causa disso. Após várias tentativas finalmente Yoko ficou grávida, o que gerou um grande entusiasmo em John.

Infelizmente depois de algumas semanas de gestação ela foi internada às pressas em um hospital de Nova Iorque com problemas sérios que acabaram a levando a um aborto. Lennon obviamente ficou bastante arrasado com o fato mas como sempre acontecia resolveu levar sua dor para sua obra. Ao saber que seu filho teria poucas horas de vida, John pediu à equipe de cirurgiões do hospital que gravassem os últimos batimentos cardíacos dele antes de falecer. Essa gravação ele acabou usando justamente aqui nesse disco “Unfinished Music No. 2: Life with the Lions”.

A foto da capa também registrava esse terrível momento com Lennon sentado no chão ao lado de Yoko na cama do hospital. No meio da emergência da situação não havia uma cama para Lennon no leito de Yoko mas ele nem se importou, ficou no chão mesmo, esperando ela se recuperar da cirurgia. Em uma entrevista recordou depois: “Não havia uma cama para o beatle John. Afinal de contas quem precisa de um beatle?”. Esse é um trabalho que segue a filosofia do disco anterior, ou seja, é um tipo muito especifico de proposta que provavelmente só vai interessar mesmo os mais fanáticos fãs de John Lennon e Yoko Ono.

Não tem nada a ver com os discos comerciais de John ao lado dos Beatles. Analisando bem esse tipo de gravação sempre teve muito mais a ver com a arte de Yoko do que a de John. São apenas sons experimentais, sonoridades ao acaso, unidas sem que necessariamente façam algum sentido. Não deixa de ser interessante, temos que reconhecer, mas dificilmente convida o ouvinte a mais de uma audição. O fã de Lennon conhece esse tipo de álbum mais para matar a curiosidade do que por qualquer outra coisa. Tudo soa como alternativo ao extremo. De qualquer maneira fica aqui o registro para os admiradores do membro mais radical dos Beatles. 

John Lennon - Unfinished Music No. 2: Life with the Lions (1969)
Cambridge 1969
No Bed for Beatle John
Baby's Heartbeat
Two Minutes Silence
Radio Play

Pablo Aluísio.