sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Amores Materialistas

Amores Materialistas
Que filme bom! Uma daquelas histórias que quando terminam nos deixa com um sorriso no rosto! Ouso dizer inclusive que esse pode ser considerado o melhor filme da carreira da atriz Dakota Johnson. Ela interpreta Lucy, uma agente de casamentos em Nova Iorque. Seu trabalho consiste basicamente em arranjar bons partidos para mulheres solteironas da cidade. Trabalho complicado, conforme logo vamos perceber. Quando ela acerta, tudo dá muito certo. A agência ganha muito dinheiro e suas clientes se casam. Seus critérios para escolher o homem ideal para sua exigente clientela são bem materialistas. O cara tem que ser rico, alta renda, de família milionária, alto, um partidão, como se dizia antigamente. 

Só que Lucy, em sua vida pessoal, não aplica os mesmos valores (ou a falta deles). Ela até conhece um sujeito com muito potencial, um homem rico, inteligente, que fica muito a fim dela. Interpretado por Pedro Pascal, esse é o tipo de homem que ela chama de "unicórnio", por ser um tipo desejado e raro na praça. E ele nem esconde que quer namorar com ela! Só que ao invés de seguir em frente nesse promissor novo romance, ela vai atrás mesmo de sua antiga paixão, um cara complicado, pobretão ao extremo. O personagem de Chris Evans ainda não acertou na vida. Sempre quis ser ator em Nova Iorque, mas nunca conseguiu dar certo. Para viver, trabalha como garçom. Imagine a Lucy (Dakota) nessa situação. Ela que classifica todos os solteiros de Manhattan de acordo com seus critérios puramente materiais e de grana, joga tudo isso fora na hora de escolher o homem de sua vida! O coração tem razões que a própria razão desconhece!

Não é uma comédia romântica, do tipo daquelas que assistíamos nos anos 90. Tem certo humor, mas bem contido. Está mais para um excelente filme romântico, mostrando que os critérios de escolha para um casamento feliz não podem ser simplesmente financeiros, mas acima de tudo, emocionais. O garçom de Chris Evans no fundo não tem nada a oferecer a ela em termos de grana e status social, mas a ama do fundo do coração! Quem precisa de algo a mais do que isso em um relacionamento para ser verdadeiramente feliz?

Amores Materialistas (Materialists, Estados Unidos, 2025) Direção: Celine Song / Roteiro: Celine Song / Elenco: Dakota Johnson, Chris Evans, Pedro Pascal / Sinopse: Agente de casamentos em Manhattan é extremamente exigente na escolha dos solteiros que irá apresentar para suas clientes. Eles precisam ser ricos, altos, com status social. Uma regra que ela não consegue levar para sua vida pessoal pois no fundo nunca conseguiu superar uma grande paixão que tem por seu antigo namorado, um pobretão! 

Pablo Aluísio. 

A Guerra dos Roses

Título no Brasil: A Guerra dos Roses
Título Original: The War of the Roses
Ano de Produção: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Danny DeVito
Roteiro: Warren Adler, Michael Leeson
Elenco: Michael Douglas, Kathleen Turner, Danny DeVito, Marianne Sägebrecht, Sean Astin, Heather Fairfield

Sinopse:
Oliver Rose (Michael Douglas) é casado com Barbara Rose (Kathleen Turner). Após muitos anos de casamento a vida em comum começa a se tornar insuportável. E aí que surge o advogado Gavin D'Amato (Danny DeVito) pronto para se colocar no meio da guerra que surge entre o casal.

Comentários:
Danny DeVito dirigiu e atuou nesse filme e chamou para participar seu amigo de longa data Michael Douglas. Era uma comédia no fundo, indo para um lado mais de humor negro, mas que funcionou muito bem. Na realidade o roteiro é um longo "estudo" sobre os motivos e as razões que podem levar ao fim de um casamento. O marasmo, o tédio, o dia a dia massacrante que destrói todo tipo de paixão e amor que um dia havia existido no relacionamento do casal. O curioso é que o roteiro tem também espaço para momentos bem pastelão como pratos voando, socos, gente caindo pela escada. A trilha sonora apela para o vintage, para o clássico, com destaque para a música "Only You" do grupo The Platters, só que aqui sendo usada não em seu efeito romântico, mas como uma ironia do que poderia ser um grande amor, mas que termina em desastre completo. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Atriz (Kathleen Turner) e Melhor Ator (Michael Douglas).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Abaixo da Superfície

Abaixo da Superfície
Filmes sobre submarinos podem se tornar bem chatos se não tiverem o roteiro certo, com boas atuações do elenco. Isso acontece por uma razão bem simples de entender, esses filmes se passam todos em ambientes confinados (os próprios submarinos), com os marinheiros todos concentrados em um ambiente pequeno e por demais sufocante. O que salvou esse novo filme de submarinos é seu contexto histórico. Se trata de uma história real, de um submarino da Marinha de guerra da Polônia, cuja tripulação foi reconhecida por sua bravura contra a Alemanha Nazista. Essa aliás era a maior frota de submarinos da guerra, até porque todas as suas táticas navais eram baseadas basicamente nesse tipo de equipamento bélico. 

Pois bem, esse filme apresenta, além de uma boa carga de tensão, quando o submarino é atacado por navios de guerra de Hitler, uma outra cena que me chamou a atenção. Acontece quando o submarino polonês sobe para consertos. Ali, na superfície do oceano, ele se torna visível dos navios inimigos. Então uma intensa troca de tiros acontece entre o submarino da Polônia e um navio de guerra da Alemanha. Ótima cena, muito bem editada e com excelentes efeitos especiais. Em meu ponto de vista a melhor cena de todo o filme que, dentro de seu nicho, ainda pode ser considerado um boa produção cinematográfica sobre o tema. 

Abaixo da Superfície (Orzel. Ostatni patrol, Polônia, 2022) Direção: Jacek Blawut / Roteiro: Jacek Blawut / Elenco: Tomasz Zietek, Mateusz Kosciukiewicz, Antoni Pawlicki / Sinopse: Durante a II Guerra Mundial, um submarino polonês enfrenta, no Mar do Norte, uma esquadra de navios de guerra da Alemanha Nazista. 

Pablo Aluísio. 

K-19: The Widowmaker

K-19: The Widowmaker
Apesar de não ter dirigido o filme esse foi um dos projetos mais pessoais de Harrison Ford. Ele entrou depois que o estúdio já havia começado a pré-produção do filme mas assim que aceitou participar do elenco começou também a exigir mudanças. As primeiras foram no roteiro que não agradavam a Ford. O texto original era baseado em um fato real ocorrido com um submarino nuclear soviético perto da costa dos Estados Unidos. Um fato histórico que quase levou as duas nações a um conflito armado. Ford porém não gostou desse enfoque e pediu que alterações fossem feitas. Nessa modificação certamente “K-19” perdeu em realidade e fidelidade histórica mas também ganhou em aventura e agilidade. Outro problema surgiu quando Harrison Ford decidiu que interpretaria seu personagem, um oficial da marinha vermelha, com forte sotaque russo! O estúdio não concordava com a decisão pois isso poderia prejudicar o filme comercialmente, mas Ford não deu ouvidos.

No meio de tantas intervenções do astro principal no filme (ele chegou até mesmo a implicar com o material promocional do filme), o estúdio não teve outra alternativa a não ser aceitar tudo de forma passiva. Afinal Harrison Ford era um dos maiores campeões de bilheteria da história do cinema americano e tinha certamente força para fazer impor sua vontade. Quando o filme finalmente foi lançado porém as expectativas logo se transformaram em decepções. O público não comprou a idéia do filme e “K-19”, assim como o submarino que retratava em seu enredo, afundou de forma desastrosa nas bilheterias. A verdade é que o filme não empolga, não convence. Ford está especialmente ruim em sua caracterização mais parecendo um lunático do que um oficial graduado das forças armadas soviéticas. Junte-se a isso os problemas de ritmo e as forçadas de barra do roteiro. “K-19” também foi alvo de criticas por parte dos familiares dos marinheiros mortos no evento real e dos veteranos da marinha que acharam tudo um grande desrespeito. Definitivamente foi uma película de guerra que não deu muito certo.

K-19: The Widowmaker (Idem, Estados Unidos, 2002) Direção: Kathryn Bigelow / Roteiro: Louis Nowra, Christopher Kyle / Elenco: Harrison Ford,  Liam Neeson, Sam Spruell, Peter Stebbings, Christian Camargo / Sinopse: Submarino das forças armadas russas é levado a uma missão onde testará todos os seus limites, colocando EUA e o império vermelho em rota de colisão. Baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Frankenstein e o Monstro do Inferno

Frankenstein e o Monstro do Inferno
O ator Peter Cushing, nas décadas de 1960 e 1970, fez muitos filmes na Hammer interpretando o Barão Victor Frankenstein. Esse é mais um deles. Embora possa ser assistido de forma independente, essa produção é na verdade uma continuação do filme anterior chamado "Frankenstein Tem que Ser Destruído". No final do filme anterior o Barão é enviado para a prisão. Quando esse filme começa ele já está perfeitamente à vontade no sistema prisional. De intelecto superior, manda e desmanda em todo mundo lá dentro, até mesmo no diretor da prisão! Então, após ser condenado, chega um jovem médico para lhe fazer companhia. Ele conhece o Barão pois sua fama o precede. O que o jovem médico jamais desconfiaria é que o Barão Frankenstein criou, ali mesmo, atrás das grades, o seu próprio laboratório para avançar em suas pesquisas. 

O ambiente da prisão lhe dá muita matéria prima para suas pesquisas. Os corpos dos prisioneiros mortos em suas celas vira o seu insumo para a criação de novos monstros. Assim o Barão e seu novo assistente criam uma nova criatura, unindo a mente de um senhor que há muitos anos estava preso, mas que era sensível ao ponto de tocar violino, com o corpo brutalizado de um assassino em série! Imagine o quão explosivo isso poderia se tornar. O novo monstro não tem o design clássico da criatura dos antigos filmes. Parece mais um gorilão insano, mas ainda assim satisfaz o que pedia o roteiro do filme. A história é boa e o filme bem produzido, ou seja, duas marcas registradas da Hammer. E o Peter Cushing novamente faz a festa dos filmes do terror clássico. Assim, tudo está em seus devidos eixos, até mesmo os olhos arrancados das vítimas do terrível Barão Frankenstein!

Frankenstein e o Monstro do Inferno (Frankenstein and the Monster from Hell, Reino Unido, 1974) Direção: Terence Fisher / Roteiro: Anthony Hinds, baseado na obra de Mary Shelley / Elenco: Peter Cushing, Shane Briant, Madeline Smith / Sinopse: Mesmo preso, o Barão Frankenstein segue cometendo seus crimes! Agora, com a entrada de um novo prisioneiro, ele terá chance de colocar seus planos em frente! 

Pablo Aluísio. 

Mortos que Matam

Grande filme. Provavelmente Vincent Price nunca esteve melhor do que aqui nessa fita de terror diferente. Ele interpreta literalmente o último homem sobre a Terra. Um vírus se espalhou pela humanidade, infectando praticamente todas as pessoas. As que não morreram imediatamente se tornaram zumbis, embora ecos de vampirismo também estejam presentes. O cientista Dr. Robert Morgan (Price) parece ter sido o último a ficar sadio, sem sinais de contaminação. Em um flashback ficamos sabendo que ele era um homem feliz, com esposa e filha adoráveis. Depois da disseminação da praga tudo acabou. Ele agora vive sozinho numa casa. Durante o dia ainda consegue andar pela cidade em busca de mantimentos, combustível e objetos necessários para sua sobrevivência. Porém ao anoitecer isso se torna impossível pois os infectados ganham as ruas, rastejando em busca de seres humanos e animais indefesos. Apenas uma estaca enfiada no coração consegue aniquilar essas criaturas. A luta pela sobrevivência é travada dia após dia, sem esperanças.

O roteiro é muito bom. Jogando inclusive com o lado mais psicológico do protagonista. Quando o filme começa ele já está há três anos isolado, vivendo completamente sozinho. A mente começa assim a torturar seus pensamentos. O filme se desenvolve muito bem e tem um desfecho que achei bem surpreendente, na cena da igreja. Com ecos de terror e também sci-fi dos anos 50, esse "Mortos que Matam" conseguiu vencer a barreira do tempo por causa de seu enredo muito original e inteligente. E quando tinha um bom material em mãos, o mestre Vincent Price brilhava com todo o seu talento.

Mortos que Matam (The Last Man on Earth, Estados Unidos, 1964) Direção: Ubaldo Ragona, Sidney Salkow / Roteiro: William F. Leicester, Richard Matheson / Elenco: Vincent Price, Franca Bettoia, Emma Danieli / Sinopse: Vincent Price interpreta o último homem na Terra. Um cientista que após a morte da família e a destruição da civilização por um vírus mortal, tenta viver um dia de cada vez, enquanto é cada vez mais cercado por zumbis infectados pela estranha doença altamente contagiosa.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Consciências Mortas

Consciências Mortas
Baseado no livro de Walter Van Tilburg Clark, o diretor William Welman construiu uma pequena obra-prima. Um libelo poucas vêzes visto num filme de faroeste. Tudo nessa obra é fatalista e minimalista - desde a pequena duração da fita até o cenário da minúscula cidade e do Vale de Ox- Bow, que de tão pequeno beira o sufocante. A história se passa em 1885 quando dois forasteiros, Gil Carter (Henry Fonda) e Art Croft (Harry Morgan) chegam à pequena cidade de Bridger's Wells. Cansados, os dois vão para o saloon mais próximo, a fim de beber e jogar conversa fora. Porém eles sentem o ambiente carregado de desconfiança devido aos constantes roubos de gado na região. Logo depois chega a terrível notícia sobre um fazendeiro de nome Kinkaid que tinha sido roubado e assassinado. Bastou esta notícia estourar para que vários homens da cidade - incluindo Carter e Croft - se unissem numa verdadeira caçada humana liderados pelo ex-major Tetley (Frank Conroy). Depois de muita procura o grupo encontra uma carruagem onde os guardas informam que três homens estão no Vale de Ox-Bow com algumas vacas que pertenciam ao vaqueiro assassinado.

Impossível não lembrar do extraordinário clássico e com o mesmo Henry Fonda, "12 Homens e Uma Sentença" produzido 14 anos depois. O enredo impecável revela a mão pesada que faz mover a roda da estupidez humana. É o ódio cego que transforma homens em bestas; inocentes em mortalhas, fazendo brotar em cada um daqueles vaqueiros os piores sentimentos possíveis. É o grito surdo da covardia, da injustiça e da terrível justiça com as próprias mãos. O filme é tão bom, que pouco a pouco o pequeno Vale de Ox-Bow vai se moldando à imagem e semelhança daquela trupe insana que busca vingança a qualquer preço; é a sombra negra do gólgota que pulveriza a justiça, negando, aos três infelizes, um julgamento decente e humano - apesar dos constantes apelos do forasteiro Gil Carter. A horda insana transforma Ox-Bow numa distopia monumental regada a muita ira e muita injustiça. A categoria do triunvirato formado por Henry Fonda, Dana Andrews e Anthony Quinn, dá um toque especial a um roteiro espetacular, capitaneado por uma direção primorosa de Welman. O final é arrebatador, surpreendente e emocionante. Realmente, um dos faroestes mais marcantes já produzidos. Nota 10

Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident, EUA, 1943) Direção Willian Wellman / Roteiro: Lamar Trotti baseado na obra de Walter Van Tilburg Clark / Elenco: Henry Fonda, Dana Andrews, Mary Beth Hughes, Anthony Quinn, Willian Eythe, Harry Morgan, Jane Darwell, Frank Conroy / Sinopse: Neste western dois forasteiros tentam impedir o linchamento e enforcamento de três homens que provavelmente são inocentes na realidade.

Telmo Vilela Jr.

Rebelião de Bravos

Rebelião de Bravos
George Montgomery foi por longos anos o ator preferido dos estúdios para estrelar faroestes B. Esse "Rebelião de Bravos" é um exemplo. Um western B da Columbia com o ator encabeçando o elenco (sem nenhum nome de maior repercussão nele). Aqui somos levados ao Arizona, onde um grupo de índios Apaches revoltosos comandados por Gerônimo (Miguel Incian) promovem uma grande rebelião. Eles atacam mineradores e posseiros que entram em suas terras. Para pacificar o local é enviado o Capitão Chase McCloud (George Montgomery). Fazendo um pacto com Gerônimo ele garante que as terras da reserva indígena serão preservadas e em troca exige que o líder nativo deponha suas armas. O problema é que os demais brancos da região não querem abrir mão das minas dentro da reserva Apache pois estão abarrotadas de ouro em grande quantidade. Em pouco tempo Chase terá que lidar não apenas com os Apaches mas também com os mineradores que querem a todo custo explorar a região.

"Rebelião de Bravos" é um bang bang autêntico, ou seja, há muitos tiroteios, emboscadas, batalhas. O roteiro é levado para o lado da ação em detrimento de outros aspectos, como por exemplo, o desenvolvimento dos personagens. Esses obviamente são bem unilaterais, os mocinhos são virtuosos e os bandidos são o supra sumo da maldade. George Montgomery faz um Capitão de boas intenções que acaba tendo que sucumbir aos aspectos políticos de ter que defender os índios em desfavor dos brancos. No saldo final o filme, que é bem curtinho (pouco mais de 70 minutos) consegue entreter o fã de faroestes ao estilo bang bang, sem maiores pretensões do que apenas divertir com muitas lutas entre soldados e índios.

Rebelião de Bravos (Indian Uprising, EUA, 1952) Direção: Ray Nazarro / Roteiro: Keneth Gamet, Richard Schaver / Elenco: George Montgomery, Audrey Long, Carl Benton Reid, Miguel Incian / Sinopse: Brancos, Apaches e a cavalaria norte-americana entram em conflito pelas posses de terras com minas de ouro no Arizona do século XVIII. Para apaziguar a região é enviado o Capitão Chase McCloud (George Montgomery).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV

Dois monarcas europeus se tornaram símbolos máximos do absolutismo. O primeiro foi Henrique VIII da Inglaterra. O segundo foi Luís XIV da França. Esses reis governaram sem limites. Não havia divisão de poderes. A ordem desse tipo de monarca era a lei. E isso incluia seus caprichos, injustiças e violações de direitos humanos de toda ordem. E como não havia limites para seus poderes, toda a riqueza de suas nações lhes pertencia pessoalmente. Por isso também viviam em palácios luxuosos, com paredes folheadas a ouro, quadros pintados pelos maiores artistas. Luxo e riqueza absolutas, enquanto grande parte da população passava fome, pagando pesados impostos.

O filme "O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV" conta parte dessa história. Um belo filme assinado pelo talentoso cineasta Roberto Rossellini. No enredo Luís XIV, Rei absolutista da França, precisa lidar com as crises de seu governo, as intrigas palacianas e as paixões dentro da corte, enquanto organiza muito luxo e riqueza para ostentar de forma suntuosa nos corredores de seus palácios reluzentes. Não é para menos que o monarca passaria para a história conhecido como "O Rei Sol". É o cinema reconstruindo uma era de excessos, de exploração e também de muita injustiça. Uma palavra mal colocada na frente desse tipo de monarca poderia resultar em uma execução sumária.

O interessante é que o roteiro enfoca basicamente os primeiros anos do reinado do "Rei Sol", Luís XIV (1643-1715), o maior monarca absolutista da França. É sem dúvida um belo filme que se concentra nos detalhes de cotidiano da corte do afetado monarca francês. Apreciei a reconstituição histórica e a rica produção desse filme. Mostra acima de tudo que debaixo das perucas e dos babados, o Rei era um homem também extremamente inteligente e ciente do que ocorria em seu país e não apenas o alienado fútil e alheio ao mundo ao redor que geralmente emerge das páginas de alguns livros de história.

Outro aspecto que deve ser considerado é que no cinema europeu, de uma forma geral, temos um outro ritmo, um tipo diferente de dramaturgia. Nada de licenças poéticas e invencionices, tão comuns em filmes americanos. Roberto Rossellini procura ser o mais realista possível, sem arroubos insanos ou espaço para coisas desnecessárias. No final de tudo o que temos é de fato um filme realmente excepcional, muito recomendado e bem fiel aos fatos históricos reais. É uma lição histórica importante, mostrando inclusive o contexto em que iria surgir as primeiras obras iluministas, que iriam denunciar justamente as injustiças desse tipo de poder absoluto.

O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV (La Prise de Pouvoir Par Louis XIV, França, 1966) Estúdio: ORTF / Direção: Roberto Rossellini / Roteiro: Philippe Erlanger, Jean Gruault / Elenco: Jean-Marie Patte, Raymond Jourdan, Silvagni / Sinopse: O filme "O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV" é uma superprodução histórica do mestre Roberto Rossellini e conta a história do rei francês que se tornou símbolo de uma era em que a mera vontade dos monarcas não tinha limites, era a lei absoluta. Filme indicado no Cahiers du Cinéma como melhor filme do ano.

Pablo Aluísio.

Tarzan na Terra Selvagem

Título no Brasil: Tarzan na Terra Selvagem
Título Original: Tarzan's Peril
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Byron Haskin
Roteiro: Samuel Newman
Elenco: Lex Barker, Virginia Huston, George Macready, Douglas Fowley, Glenn Anders, Dorothy Dandridge

Sinopse:
O famoso personagem Tarzan, criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs, surge em uma nova aventura onde precisa enfrentar um grupo de traficantes de armas na África selvagem, enquanto busca pacificar tribos rivais da região, pois estão em uma guerra brutal e violenta. 

Comentários:
O ator Lex Barker (1919 -1973) foi um dos muitos que tentaram seguir em frente com o personagem Tarzan após a aposentadoria de Johnny Weissmuller no papel, numa grande série de filmes de sucesso. Não foi uma tarefa fácil. Barker não era tão carismático e nem tinha tanto apoio assim dos fãs de Tarzan na época. Ele vinha de uma série de aventuras de pequeno orçamento, filmes B. Ele tinha atuado em coisas como "Dick Tracy Contra o Monstro". Seu primeiro filme como Tarzan foi "Tarzan e a Montanha Secreta", seguido de "Tarzan e a Escrava", "Tarzan e a Fúria Selvagem", terminando com "Tarzan e a Mulher Diabo" em 1953. Nenhum desses filmes chegou a ser um grande sucesso de bilheteria. Apenas mantinham o personagem Tarzan em cartaz nos cinemas. Como se pode perceber Lex Barker não ficou muitos anos interpretando o herói das selvas, mas até que fez bastante filmes nesse período. De uma forma ou outra esse filme aqui ficou bem na média das produções na época. O estúdio RKO já não tinha mais tanto dinheiro para financiar filmes de Tarzan, por isso as produções eram bem mais modestas. Porém no quesito diversão e aventura os filmes ainda mantinham um certo padrão de qualidade, para a felicidade da garotada dos anos 50.

Pablo Aluísio.