sábado, 17 de setembro de 2016
Um Estado de Liberdade
Depois da morte de seu sobrinho - que era apenas um garoto que infortunadamente fora atingido por fogo inimigo dos ianques - ele finalmente decide ir embora. Pega o corpo do garoto e segue o caminho de volta para a fazenda de sua família. Um ato de deserção punido com enforcamento. Depois de tudo isso, para não ser preso e sofrer a pena capital, Knight resolve fugir para os pântanos da região, onde acaba encontrando escravos fugitivos, se tornando amigo de todos eles, abraçando então a causa da libertação dos negros no sul dos Estados Unidos. O filme assim vai se desenvolvendo a partir dessa pequena comunidade de foragidos que, vivendo nos pântanos do sul, começa a se levantar contra as leis de submissão e de conteúdo racial do próprio Estado Confederado de que faziam parte.
"Free State of Jones" causou polêmica nos estados americanos do sul durante o seu lançamento. Isso porque o protagonista do filme, Newton Knight, foi um desertor do exército confederado. Além disso ousou se apaixonar e ter filhos com uma escrava negra, algo que até hoje causa perplexidade em certos setores sulistas (sim, o racismo assumido, essa chaga, não parece ter desaparecido em certos rincões daquele país). Um dos aspectos históricos mais absurdos que o filme revela é que havia leis até bem pouco tempo atrás que proibiam o casamento entre brancos e negros no sul. É justamente sobre isso que se desenvolve a segunda linha narrativa do filme. Enquanto a primeira conta a vida de Knight nos pântanos do sul, a segunda mostra um de seus descendentes lutando em um tribunal do Mississippi para se casar com uma mulher branca (a justiça entendeu que ele era na realidade um mestiço com sangue negro nas veias e que por essa razão jamais poderia desposar uma mulher sulista branca!).
Certamente é um bom filme. Porém apresenta alguns problemas em seu corte final. Embora a história seja importante e historicamente complexa (o filme explora vários anos na vida de Knight), a versão final que chegou aos cinemas americanos se revelou muito longa - chegando em alguns momentos a se tornar um pouco cansativa. Penso que um corte mais enxuto só traria melhoras ao filme. De resto tudo surge de primeira qualidade. A reconstituição de época é perfeita, a direção é segura e focada e todo o elenco está maravilhosamente bem. Até mesmo Matthew McConaughey me surpreendeu por ter deixado de lado alguns de seus cacoetes mais irritantes. Então é isso. O que temos aqui é uma bela história de um homem que estava muitos anos à frente de seu tempo. Embora fosse branco sentiu na pele todo o racismo da sociedade confederada do Sul, que chegou ao ponto de ir para uma das guerras mais sangrentas da história simplesmente para defender o direito de um homem ter outro homem como seu bem particular. A escravidão seria abolida, mas as marcas que ela deixou ainda hoje ressoam, infelizmente. Veja o filme e entenda melhor todo esse processo histórico que ainda não chegou ao seu término.
Um Estado de Liberdade (Free State of Jones, Estados Unidos, 2016) Direção: Gary Ross / Roteiro: Leonard Hartman, Gary Ross / Elenco: Matthew McConaughey, Gugu Mbatha-Raw, Mahershala Ali / Sinopse: O filme narra a história de um soldado do exército confederado durante a Guerra Civil americana que certo dia resolve abandonar o campo de batalha. Caçado como desertor ele foge para os pântanos do sul, onde acaba conhecendo escravos fugitivos de seus donos. Lá cria uma sentimento de irmandade com eles, lutando ao lado daqueles homens em busca de uma verdadeira liberdade.
Pablo Aluísio.
Carnage Park
Título Original: Carnage Park
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Diablo Entertainment
Direção: Mickey Keating
Roteiro: Mickey Keating
Elenco: Ashley Bell, Pat Healy, Alan Ruck, James Landry Hébert, Michael Villar, Bob Bancroft
Sinopse:
Após um roubo a banco, dois criminosos tentam fugir à toda velocidade pelas estradas empoeiradas de um deserto da Califórnia. Um deles, alvejado durante a fuga, logo morre no banco de trás do carro. O outro precisa então se livrar de seu corpo o mais rapidamente possível. Com a ajuda de uma refém (que estava no porta-malas) ele dirige até uma propriedade remota, onde deixa seu parceiro do crime. O que o criminoso não sabe é que o lugar pertence a um sujeito psicopata, que pensa estar em um verdadeiro campo de batalha. Agora ele irá caçar o bandido, ao mesmo tempo em que leva sua refém para o verdadeiro inferno na Terra.
Comentários:
Temos aqui um novo thriller de terror que se destaca não pelo roteiro (pois é dos mais simples), nem pela produção em si (que é até modesta) e muito menos pelo elenco (a maioria dos atores é esforçado, mas desconhecido). O destaque de "Carnage Park" vem da forma como o jovem diretor Mickey Keating conta sua estória sangrenta. Ele se utiliza de vários tipos de linguagem cinematográfica ao longo do filme. Além de uma fotografia saturada temos uma edição ágil, rápida, que não perde tempo com bobagens ou sutilezas desnecessárias. Obviamente se trata de um filme violento, com cenas inclusive bem ao estilo gore, não recomendado para os mais sensíveis, mas isso definitivamente é o de menos. Mesmo em pequenos detalhes acabamos descobrindo que esse diretor sabe bem muito o que está fazendo com sua câmera. A trilha sonora, por exemplo, é composta por músicas e diálogos fora de rotação, como se estivéssemos ouvindo um velho vinil sendo tocado em uma vitrola quebrada! O elenco é bom, embora nenhum dos atores seja mais conhecido. O único nome que vai despertar alguma lembrança no público em geral é a do ator Alan Ruck (para quem não se lembra ele foi o amigo esquisito de Matthew Broderick no clássico juvenil "Curtindo a Vida Adoidado"). Bem diferente nos dias atuais, ele interpreta um xerife que precisa descobrir o que está acontecendo de errado na propriedade de seu irmão, o alucinado Wyatt Moss (Pat Healy). A trama também explora um tipo que anda bem mais comum nos dias de hoje, principalmente nos Estados Unidos, a do psicopata com delírios de militar que da noite para o dia se arma até os dentes e começa a fazer de outros seres humanos seus alvos ambulantes. Sim, é algo bem trágico, mas infelizmente cada vez mais comum. Nesse ponto o diretor Mickey também acertou seu próprio alvo, colocando em destaque a loucura bélica que reina dentro da doentia sociedade americana. Salve-se quem puder.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
O Mestre das Ilusões
Título Original: Lord of Illusions
Ano de Produção: 1995
País: Estados Unidos
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Clive Barker
Roteiro: Clive Barker
Elenco: Scott Bakula, Kevin J. O'Connor, Joseph Latimore, Sheila Tousey, Susan Traylor, Ashley Tesoro
Sinopse:
O detetive particular Harry D'Amour (Scott Bakula) é contratado para descobrir o que estaria por trás das inúmeras tentativas de assassinato de um famoso mágico da cidade, Phillip Swann (Kevin J. O'Connor). Seguindo as pistas deixadas pela esposa do ilusionista, o investigador acaba descobrindo uma ligação com o passado de uma seita de adoradores de Satã. No meio de seu caminho surgem tentativas de realização de um sacrifício humano. Para Harry agora o mais importante é descobrir a verdadeira identidade de todos os membros daquela sociedade satanista. Filme vencedor do Fangoria Chainsaw Awards na categoria de Melhor Trilha Sonora e do International Horror Guild na categoria de Melhor Filme de Suspense.
Comentários:
Pouca gente vai se lembrar desse filme. A principal referência obviamente vem do fato de ter sido dirigido por Clive Barker. O cineasta inglês (nascido em Liverpool, a mesma cidade natal dos Beatles) tinha se consagrado por causa do clássico de horror "Hellraiser - Renascido do Inferno". Depois de ter sido bastante elogiado pela crítica - e prestigiado pelo público mais antenado com filmes de terror - ele então lançou seu segundo filme, o mal sucedido "Raça das Trevas". Assim esse terceiro filme, "Lord of Illusions" vinha justamente para provar que ele tinha ainda potencial para o sucesso de bilheteria. Não foi bem como era esperado. Esse filme foi lançado em poucas salas de cinema nos Estados Unidos e Inglaterra e no Brasil foi lançado diretamente em vídeo (ainda nos tempos do mercado de fitas VHS). Na época em que o assisti pela primeira vez (por volta de janeiro de 1998) o filme realmente não me impressionou muito. De certa maneira foi um pouco decepcionante por causa justamente de "Hellraiser". Depois daquele filme sempre que o nome de Clive Barker surgia nos créditos ficava aquela expectativa maior, aquela sensação de que se iria assistir a algo fora do comum, surpreendente e inovador. Pois bem, "O Mestre das Ilusões" passa longe disso. Mesmo assim é um bom filme, bem feito, com uma ideia que se não chega a lhe deixar o espectador de queixo caído pelo menos tenta ser um pouco mais original. No geral o filme fica apenas na média do que era realizado em meados dos anos 90. Bem longe da genialidade de "Hellraiser" conseguiu pelo menos chamar alguma atenção por causa do nome de seu diretor, naqueles tempos considerado um verdadeiro mestre do gênero, um autor cult do horror moderno.
Pablo Aluísio.
Velocidade Máxima 2
Título Original: Speed 2 - Cruise Control
Ano de Produção: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Sony Pictures Studios
Direção: Jan de Bont
Roteiro: Graham Yost, Jan de Bont
Elenco: Sandra Bullock, Jason Patric, Willem Dafoe, Brian McCardie, Temuera Morrison, Christine Firkins, Colleen Camp
Sinopse:
Annie (Sandra Bullock) e Alex Shaw (Jason Patric) resolvem fazer um cruzeiro no Caribe. Ela ainda está se recuperando pelo que passou recentemente em Los Angeles, quando quase morreu em um ônibus desenfreado (no primeiro filme). Ele é um agente da SWAT que apenas quer curtir suas férias ao lado de sua namorada Annie. O que eles não poderiam imaginar é que o transatlântico em que estão viajando iria virar alvo do terrorista cibernético John Geiger (Willem Dafoe). Agora todos vão lutar para sobreviver a um desastre iminente!
Comentários:
O primeiro filme "Velocidade Máxima" foi certamente um dos melhores filmes de ação dos anos 90. Com roteiro bem escrito, se apoiando única e exclusivamente em apenas uma situação (a do ônibus sem freios), o filme foi um sucesso de público e crítica. Claro que uma sequência não tardaria. Infelizmente o que era original e bem bolado no filme original não voltou a se repetir. Esse "Speed 2: Cruise Control" é uma das piores continuações da história do cinema americano - sem exagero algum! Talvez prevendo o fiasco o ator Keanu Reeves resolveu cair fora da sequência. Anos depois ele mesmo explicaria em uma entrevista que ao ler o roteiro desse segundo filme viu claramente que não daria certo. O enredo se passava todo em um grande navio de cruzeiro e a pergunta que ele mesmo se fez foi básica: onde estaria a tal velocidade nesse tipo de situação? Acertou em cheio. Esse péssimo ponto de partida seria a principal causa do desastre dessa produção. Com roteiro ruim, mas boa produção (cheia de efeitos digitais inovadores), o filme afundou nas bilheterias (com total merecimento é bom frisar). Sandra Bullock nunca esteve tão ruim (e olha que pelas bombas que fez na carreira isso não era algo fácil de atingir). Jason Patric tentou compensar a ausência de Reeves, mas foi em vão. Até mesmo o ótimo ator Willem Dafoe saiu chamuscado de ter participado de um abacaxi desses! Enfim, fracasso completo de crítica e público, o filme hoje só serve para nos lembrar que muitas vezes a ganância dos estúdios vai um pouco longe demais.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
Outono de Paixões
Título Original: August
Ano de Produção: 1996
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Anthony Hopkins
Roteiro: Julian Mitchell
Elenco: Anthony Hopkins, Leslie Phillips, Kate Burton, Gawn Grainger, Rhian Morgan, Rhian Morgan, Rhoda Lewis
Sinopse:
O filme é uma adaptação da peça teatral Tio Vânia, baseado na obra de Anton Tchecov. A estória se passa em uma bucólica pequena vila na costa do país de Gales. Ieuan Davies (Anthony Hopkins) é um velho professor que no outono de sua vida redescobre o amor e o prazer nas pequenas coisas da vida. Filme vencedor do BAFTA Awards na categoria de Melhor Filme - Drama (em língua inglesa).
Comentários:
Ao longo de sua bem sucedida carreira como ator, Anthony Hopkins só se aventurou três vezes na direção. A primeira foi no pequeno e alternativo "Dylan Thomas: Return Journey", um filme independente pouco conhecido pelo público em geral. A segunda incursão do ator na direção porém foi bem mais pretensiosa. Esse "August" é uma adaptação da peça teatral do dramaturgo Anton Chekhov. Como se trata de uma adaptação teatral o público já sabe mais ou menos de antemão o que encontrará pela frente: um texto essencialmente indicado para quem aprecia bons diálogos (especialmente declamados) e boas atuações, tudo em ambientações que muitas vezes nos lembram do teatro. Hopkins realizou uma obra discreta, elegante e refinada, que apresenta excelente fotografia - valorizada pela beleza natural do País de Gales - onde o ator e diretor nasceu. Em termos de enredo o argumento desenvolve uma temática bem introspectiva, valorizando as crises existenciais decorrente da passagem do tempo. Um bela filme, daqueles que trazem tomadas de cena que mais parecem pinturas renascentistas. Da carreira na direção de Anthony Hopkins esse é certamente seu filme mais bem acabado, mais bem elaborado, mais bem escrito. Um belo retrato da velhice e dos sentimentos que afloram nessa fase de nossas vidas.
Pablo Aluísio.
O Abominável Dr. Phibes
Título Original: The Abominable Dr. Phibes
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos
Estúdio: American International Pictures (AIP)
Direção: Robert Fuest
Roteiro: James Whiton, William Goldstein
Elenco: Vincent Price, Joseph Cotten, Hugh Griffith
Sinopse:
O Dr. Anton Phibes (Vincent Price) é um cientista renomado e prestigiado que vê sua vida sair dos trilhos após um grave acidente. O carro em que viajava sai da estrada e ele fica desfigurado com a batida. Pior do que isso, sua amada esposa morre. Inconformado com os rumos do destino e sofrendo de alucinações o antes equilibrado e racional homem da ciência começa um plano de vingança contra todos aqueles que ele culpa pela tragédia.
Comentários:
É curioso que na fase final de sua carreira o ídolo dos filmes de terror Vincent Price tenha estrelado o maior sucesso comercial de sua filmografia. Sim, "The Abominable Dr. Phibes" foi o maior sucesso de bilheteria de Vincent Price. Ele mal sabia que ao aceitar o convite para atuar como o insano Phibes iria se tornar mais popular do que nunca. Um veterano das telas que realmente merecia esse reconhecimento. Bem recebido por público e crítica em seu lançamento o status cult desse filme só cresceu com o passar dos anos. Para os especialistas essa fita tinha uma primorosa direção de arte (a ponto de alguns deles afirmarem que era o último suspiro da era dos filmes barrocos de terror), um roteiro muito bem escrito (baseado em uma velha peça teatral londrina) e, é claro, a sempre marcante atuação de Price, com sua voz maravilhosa, uma de suas maiores marcas registradas. O curioso é que o ator passa grande parte do filme escondido nas sombras ou sob pesada maquiagem, mas nem isso atrapalhou. Esse "O Abominável Dr. Phibes" é realmente um de seus momentos mais marcantes nas telas. Price inclusive foi homenageado na Espanha, durante o Sitges - Catalonian International Film Festival, recebendo o prêmio de melhor ator. Mais do que merecido, não apenas pelo conjunto da obra, mas também por seu carisma à prova de falhas.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
O Mestre dos Gênios
Título no Brasil: O Mestre dos Gênios
Título Original: Genius
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Riverstone Pictures
Direção: Michael Grandage
Roteiro: John Logan
Elenco: Colin Firth, Jude Law, Nicole Kidman, Guy Pearce, Laura Linney, Dominic West, Vanessa Kirby
Sinopse:
O filme narra a história real do editor de livros Maxwell Evarts Perkins (Colin Firth). Trabalhando em uma editora de Nova Iorque ele acaba trabalhando ao lado de alguns dos maiores escritores da história americana como F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Recebendo dezenas de textos novos todos os dias para analisar, ele acaba se interessando por um novo romance escrito por um jovem desconhecido chamado Thomas Wolfe (Jude Law). Com imenso talento para escrever, ele é um tipo explosivo, complicado de se lidar no dia a dia. Mesmo assim Maxwell resolve contratá-lo, iniciando a partir daí um relacionamento dos mais marcantes da história da literatura. Filme indicado ao Urso de Ouro do Berlin International Film Festival.
Comentários:
Esse é exatamente o tipo de filme que mais sinto falta nos dias atuais. Apostando em um roteiro mais sofisticado, inteligente e sutil, o texto aposta suas fichas no conturbado relacionamento profissional entre um famoso editor de livros e um jovem escritor, cheio de ideias inovadoras e com muita vontade de se consagrar no mundo da literatura. Certamente não é o tipo de produção que vai arrecadar milhões nas bilheterias, mas certamente será aquele tipo de filme que vai lhe trazer muito prazer em assistir, ainda mais se você faz do hábito da leitura um companheiro em suas horas vagas. E não estamos aqui falando de literatura de bolso de baixa qualidade ou importância, mas sim de alguns dos escritores mais importantes da literatura mundial em todos os tempos. O filme traz para a tela três deles: F. Scott Fitzgerald (em plena crise de criatividade, passando por um sério problema pessoal com o gradual processo de enlouquecimento de sua esposa), Ernest Hemingway (ainda expansivo como só ele sabia ser, prestes a escrever sua maior obra prima, "Por Quem os Sinos Dobram") e finalmente o novato do trio, o esfuziante Thomas Wolfe (chegando ao ponto de ser um figura constrangedora por causa de seu temperamento explosivo). O ponto de ligação de todos eles era justamente o veterano editor Maxwell Perkins (em contida interpretação do sempre correto Colin Firth).
O enredo se passa na década de 1940, em um tempo em que os lares sequer tinham televisão (e onde todos se reuniam ao redor do rádio para ouvir as notícias e as radionovelas). Há uma deliciosa narrativa explorando a vida (muitas vezes sofrida) de todos esses consagrados escritores, mostrando que ser um editor naqueles tempos pioneiros não era certamente algo fácil, pois além de trabalhar bastante nos próprios livros, esse ainda tinha que ser amigo pessoal, psicólogo e braço direito. Era realmente um tipo de relação muito próxima, que ultrapassava em muito a mera aproximação profissional. Todo o elenco está bem, porém o destaque mesmo vai para Jude Law. O seu Thomas Wolfe lhe abre as melhores oportunidades de declarar os mais bem escritos diálogos do filme. Já o mesmo não se pode falar da estrela Nicole Kidman. Ela interpreta uma mulher perturbada psicologicamente por ter se envolvido com Wolfe, chegando ao ponto inclusive de tentar suicídio na própria editora de seu amado! De qualquer forma, mesmo em papel reduzido, Kidman acrescenta sempre algo nos filmes em que trabalha. Então é isso. Essa é uma boa indicação para quem esteja procurando por um tipo de produção mais sofisticada, como escrevi. Um filme de muito bom gosto, ótima produção, excelente direção de arte e reconstituição de época, que seguramente vai satisfazer até mesmo o gosto dos cinéfilos mais exigentes. É sem dúvida um filme altamente recomendado.
Pablo Aluísio.
Tomorrowland
Título Original: Tomorrowland
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Studios
Direção: Brad Bird
Roteiro: Damon Lindelof, Brad Bird
Elenco: George Clooney, Britt Robertson, Hugh Laurie, Raffey Cassidy, Tim McGraw, Keegan-Michael Key
Sinopse:
Durante a feira mundial de 1964 o garoto Frank Walker (Thomas Robinson) acaba sendo levado para um mundo futurista, com naves e inventos maravilhosos. Os anos passam e agora é a vez da garota Casey Newton (Britt Robertson) de ser levada até Tomorrowland! Antes porém ela precisará ser salva do ataque de robôs do futuro enviados pelo maquiavélico governador Nix (Hugh Laurie). Filme indicado ao Teen Choice Awards e ao Visual Effects Society Awards.
Comentários:
Esse filme acabou se tornando um dos maiores fracassos comerciais da história da Disney. Com orçamento próximo de 200 milhões de dólares não conseguiu render nem um terço disso nas bilheterias. Um fracasso merecido. A questão é que temos aqui um dos roteiros mais mal escritos que já vi na minha vida. Só para se ter uma ideia de como ele soa confuso na tela: o espectador fica perdido, no ar, sem saber direito tudo o que está acontecendo, por aproximadamente 90 minutos! (isso em um filme com pouco mais de 110 minutos de duração!). Haja paciência! Pouca coisa é explicada e quando a trama finalmente é revelada se torna uma decepção enorme por ser boba, vazia e sem novidades. Até mesmo a cena final é cheia de clichês saturados. Basicamente é uma ficção ao estilo aventura infanto-juvenil (para usar de uma expressão bem antiga), baseada em um universo com duas dimensões paralelas, uma que seria a nossa realidade e a outra, futurista, com um mundo perfeito. Não adianta tentar encontrar algo a mais porque simplesmente não há! O projeto nasceu quando a Disney resolveu levar para as telas um brinquedo temático de um de seus parques de diversões (isso mesmo, um filme baseado em um brinquedo!). A que ponto se chegou na falta de originalidade não é mesmo?... Pois bem, para isso criaram um enredo tão descartável que não é preciso ir muito além para saber que o filme se resume a uma orgia visual de efeitos visuais com roteiro praticamente inexistente. Uma perda de tempo. Depois que o filme afundou comercialmente o ator George Clooney explicou que fez o filme por causa de sua mensagem ao estilo "Vamos salvar o planeta enquanto há tempo!". Isso é o que dá ser chatinho e politicamente correto além da conta não é mesmo Sr. Clooney? Francamente...
Pablo Aluísio.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
Atividade Paranormal
Título Original: Paranormal Activity
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Solana Films, Blumhouse Productions
Direção: Oren Peli
Roteiro: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Amber Armstrong, Ashley Palmer
Sinopse:
Um jovem casal se muda para uma nova casa no subúrbio. No começo tudo vai muito bem, eles estão apaixonados e felizes por estarem finalmente em sua casa própria. Os problemas porém não tardam e começam a surgir durante as madrugadas. Para registrar tudo o casal decide deixar câmeras filmando tudo, 24 horas por dia! O que estas imagens revelam deixam todos apavorados. Uma presença demoníaca ronda as noites escuras naquela casa. Filme indicado ao Fangoria Chainsaw Awards, ao Independent Spirit Awards e ao MTV Movie Awards.
Comentários:
Esse foi o primeiro filme da franquia "Paranormal Activity". Quem é fã de terror sabe muito bem que esse filme, para o bem ou para o mal, acabou sendo um dos mais influentes dos últimos anos. Isso se deve ao fato de que a estética que é utilizada nessa produção acabou virando uma febre entre filmes de terror mais recentes. A fórmula realmente é muito tentadora pois é muito barata, fácil de se produzir, contando com uma falsa realidade para assustar o público. É o estilo Mockumentary, mais conhecido entre nós como "falso documentário", ou seja, uma obra cinematográfica que tenta reproduzir filmagens amadoras, feitas por qualquer pessoa, captando eventos extraordinários. Tudo é colocado para o público como se fossem registros amadores verdadeiros e não pura ficção. Isso acaba criando uma identificação que ajuda bastante na construção do medo e do terror. Esse tipo de filme começou a virar recorrente com o sucesso de "A Bruxa de Blair" que tentou convencer o público de que tudo o que se via na tela era a mais pura (e assustadora) verdade. Com "Atividade Paranormal" a ideia vai além. O foco é aquela típica família suburbana americana sendo assustada por eventos paranormais que simplesmente não se pode explicar. Nos cinemas o trailer valorizava mais a reação do público do que o filme em si, mostrando as reais intenções dos realizadores desse tipo de filme. Deu certo. Com orçamento extremamente enxuto e econômico a fita rendeu uma excelente bilheteria que justificaria uma infinidade de sequências, cada vez mais fracas e ruins. Não importa, em Hollywood como diz o ditado "money talks", ou seja, o dinheiro manda. Enquanto houver público para esse tipo de filme certamente haverá continuações, ano após ano.
Pablo Aluísio.
O Chacal
Título Original: The Jackal
Ano de Produção: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Michael Caton-Jones
Roteiro: Kenneth Ross, Chuck Pfarrer
Elenco: Bruce Willis, Richard Gere, Sidney Poitier, Diane Venora, Mathilda May, J.K. Simmons, Jack Black
Sinopse:
Durante anos um assassino profissional conhecido apenas como "O Chacal" cometeu crimes em vários países do mundo. Agora ele está nos Estados Unidos, pronto para cumprir um contrato de setenta milhões de dólares para eliminar um influente político americano. O FBI e a CIA precisam descobrir seu paradeiro antes que o crime seja cometido, porém poucos conhecem o rosto do Chacal. Uma dessas pessoas é um ex-terrorista do grupo irlândes IRA. Assim o condenado Declan Mulqueen (Gere) aceita colaborar na caça do Chacal em troca de certos benefícios para si próprio.
Comentários:
A ideia original era até muito boa. Uma nova adaptação para o famoso livro "O Dia do Chacal", um dos mais consagrados livros de ficção dos últimos anos. O filme original de 1973, dirigido por Fred Zinnemann, é sem dúvida um dos maiores clássicos modernos do cinema. O problema é que logo que começou a adaptação o estúdio resolveu ir por outro caminho. Ao invés de adaptar o enredo original procurou-se criar uma nova trama, com outros rumos. Aí a coisa toda desandou. O filme virou uma fita de ação genérica (embora competente) que muito pouco utilizava do romance original. O grande atrativo assim saia das páginas da literatura para o puro cinema. Entre eles o fato do filme contar com um excelente elenco, com direito a presença do veterano Sidney Poitier. O diretor Michael Caton-Jones sem dúvida criou um filme muito ágil, com excelente sequências de ação, porém algo se perdeu nesse processo. Bruce Willis como o assassino profissional Chacal não convence muito, porque está de certo modo preguiçoso em cena. Melhor se sai, quem diria, Richard Gere. Com um modo de interpretação mais sofisticado, menos brutamontes, ele acabou roubando grande parte do filme para si. No geral é isso. uma fita competente de ação, mas que fica longe, bem longe, do clássico "O Dia do Chacal", aquele sim um dos melhores da história do cinema.
Pablo Aluísio.