domingo, 13 de novembro de 2011

John Lennon - Mind Games

Em julho de 1973 Lennon voltou aos estúdios Record Plant para novas gravações. Desnecessário dizer que sua vida pessoal estava um verdadeiro caos na época. A briga judicial com o governo Nixon seguia em frente, com John tentando de todas as formas permanecer nos Estados Unidos. Seu relacionamento com Yoko estava desgastado. As pressões que havia sofrido por ter se casado com ela tinham atingido um grau simplesmente insustentável. Na realidade o casal estava prestes a entrar em um rompimento duradouro. Talvez por isso seu novo disco trazia uma capa no mínimo inusitada. Nela Lennon aparece minúsculo ao lado de um perfil enorme de sua esposa. Claramente se percebe que ele se distancia dela. Segundo alguns a capa mostrava exatamente o que sentia Lennon durante a produção do disco. Um homem comum ao lado de uma "montanha" de mulher. Para os cínicos porém tudo o que esse retrato representava era a eterna submissão do ex beatle à mulher que o dominava completamente, em todas as ocasiões. Ali estava aquele homenzinho ao lado de sua dama dominante, maior que a paisagem ao redor.

Mas vamos ao disco em si. Nele Lennon resolveu assumir todas as responsabilidades, assinando a produção, composição e arranjo do álbum. Convocou novos músicos aos estúdios e batizou a banda de The Plastico UFOno Band. A brincadeira tinha sua razão de ser. Poucas semanas antes da gravação ele afirmara que havia visto um disco voador da sacada de seu apartamento. Daí o uso da sigla UFO (o equivalente ao inglês do nosso OVNI, Objeto Voador Não Identificado). O evento jamais foi esclarecido. Não se sabe ao certo se o cantor realmente viu algo ou se estava simplesmente viajando em uma de suas viagens lisérgicas com LSD. De qualquer maneira ele resolveu que não queria deixar o fato passar em branco e por isso renomeou a banda com essa pequena referência ufológica. Musicalmente "Mind Games" não trazia grandes surpresas em relação ao outros discos da carreira solo de Lennon. Novamente o tema único de suas composições era seu relacionamento com Yoko, seus pensamentos mais pessoais em forma musical. Praticamente todas as faixas são ligadas a isso, de uma forma ou outra, direta ou indiretamente, com pequenas e esporádicas exceções. Yoko está em todas as músicas. Lennon se declara apaixonado, pede desculpas, a venera, a compara com as maravilhas da natureza e por aí vai. O fato é que realmente parecia que Lennon só tinha pensamentos para sua esposa e por isso o disco é recheado de citações à japonesa.

As letras continuavam feitas em primeira pessoa, bastante autorais. Esse fato aliado a uma produção que foi acusada na época de ser desleixada (o velho problema de arranjos da discografia solo de Lennon) fez com que apenas uma única faixa se destacasse nas paradas, justamente a canção titulo, "Mind Games" que foi excessivamente divulgada nas rádios por insistência da EMI. As demais músicas passaram em branco nas principais paradas musicais e com o tempo se tornaram as mais obscuras canções da discografia de John Lennon. Uma injustiça pois possuem melodias bonitas. Não são excepcionalmente bem arranjadas, mas possuem uma riqueza de melodia que era bem característico do cantor. Rocks são poucos, Lennon parecia muito empenhado em cantar seu romance com Yoko e por isso não sobrou muito para o estilo que o lançou ao estrelado. Apenas "Tigh As" e "Meat City" possuem algum vigor roqueiro mas é só isso. "Mind Games" é acima de tudo uma obra de um autor profundamente apaixonado pela mulher de sua vida. Se não é uma obra prima de Lennon, passa longe de ser banal, pois pelo menos traz um instantâneo de sua vida em um momento particularmente confuso. Só mesmo Lennon para ter inspiração para tantas músicas românticas enquanto queriam lhe expulsar dos Estados Unidos. Não deixa de ser um feito e tanto. Após ouvir o disco temos certeza de uma coisa: Ele realmente amava do fundo de seu coração essa mulher.

John Lennon - Mind Games
01. Mind Games
02. Tight A$
03. Aisumasen (I'm Sorry)
04. One Day (At a Time)
05. Bring on the Lucie (Freda Peeple)
06. Nutopian International Anthem"
07. Intuition
08. Out the Blue
09. Only People
10. I Know (I Know)
11. You Are Here
12. Meat City

Pablo Aluísio.

John Lennon - Sometime In New York City

"Sometime in New York City" é o álbum mais político de toda a carreira de John Lennon. Vários de suas faixas possuem nítida posição política e social de eventos que aconteciam ao redor da vida do ex beatle em Nova Iorque. Em toda a sua vida Lennon nunca foi um homem de ficar em cima do muro, sendo que na maioria das ocasiões tomava partido pelo que entendia correto, muitas vezes agindo mais com a emoção do que propriamente com a razão, adotando em diversos momentos certas posições que hoje podem ser consideradas radicais. Esse disco é um exemplo perfeito disso. Além dos vários problemas envolvendo a presença de Lennon nos EUA, suas divergências com o governo Nixon, o álbum ainda traz a tentativa de Lennon em defender certas causas, como por exemplo a legalização da maconha, a denúncia da brutalidade policial e repressiva contra detentos do presídio de Attica e a delicada situação envolvendo a Irlanda e a Inglaterra.

A primeira posição pode ser encontrada na música "John Sinclair". Os jovens hoje podem se perguntar quem é o cidadão citado no título da música. John Sinclair foi um poeta americano que foi preso por porte de maconha nos anos 70. Sua prisão causou indignação em certos setores que defendiam a legalização da cannabis sativa. Lennon acabou abraçando a causa, protestando contra sua prisão. O fato que chocou a todos na época foi que a simples posse de dois cigarros de maconha havia rendido ao poeta a pena de dez anos de prisão. Obviamente uma punição desproporcional. Lennon imediatamente protestou através de entrevistas, textos e finalmente incluindo a faixa no disco. Outra posição bem nítida de Lennon em Sometime foi a inclusão da canção "Attica State", um panfleto contra o massacre ocorrido na prisão de Attica onde quase quarenta prisioneiros foram mortos após uma violenta rebelião. Lennon sentiu-se incomodado com a situação e escreveu a canção em forma de protesto. Ironicamente anos depois seu próprio assassino, Mark Chapman, viria a cumprir pena no mesmo sistema penitenciário! Ironia do destino? Pode ser. Os irlandeses também não foram esquecidos e Lennon fez questão de se posicionar sobre o conflito, ficando curiosamente ao lado da Irlanda, indo em confronto direto contra a própria política repressiva de seu país de origem, a Inglaterra. Uma posição política que estava correta, como foi comprovado depois ao longo dos anos.

Deixando todas essas questões de lado o importante sobre o LP é também avaliar suas qualidades musicais. Eu particularmente considero "Sometime in New York City," apesar de todas as suas boas intenções, um trabalho pouco coeso do ex beatle. O disco não conseguiu se destacar bem nas paradas (talvez por ser político demais, em excesso) e tampouco conseguiu produzir grandes hits na carreira solo do cantor e compositor. De fato, apenas "Woman Is the Nigger Of The World" conseguiu maior projeção e mesmo assim porque contou com a máquina promocional de sua gravadora à todo vapor. O resto das faixas caíram em um incrível estado de limbo, inclusive algumas de forma bastante injusta como o bom rock "New York City" que trazia pela primeira vez em muitos anos um bom gancho roqueiro por parte de Lennon (que após a separação dos Beatles havia nitidamente escolhido investir mais em boas baladas do que em bons rocks de seu passado glorioso ao lado do grupo inglês). Em conclusão pode se assim afirmar que "Sometime in New York City" contribuiu muito mais para a faceta política de Lennon do que sua faceta musical e artística. Essa, sem a menor sombra de dúvidas, ficou em segundo plano aqui nessa obra.

John Lennon - Sometime In New York City

Woman Is the Nigger Of The World
Sisters O Sisters
Attica State
Born In A Prison
New York City
Sunday Bloody Sunday
The Luck Of The Irish
John Sinclair
Angela
We're All Water
Cold Turkey
Don't Worry Kyoko
Well (Baby Please Don't Go)

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de novembro de 2011

John Lennon - Imagine

Algumas músicas definem toda a carreira de um artista. De certa forma é justamente isso que acontece com "Imagine", a música símbolo de John Lennon. De estrutura bem elaborada, a letra transmite com bastante êxito um resumo (diria até mesmo didático) do pensamento do ex beatle. Obviamente a mensagem do cantor e compositor pode soar simplista demais frente aos problemas da sociedade, porém temos que levar em conta que se trata da filosofia de um poeta, que não era (e para falar nem devia) tentar solucionar os conflitos da humanidade de forma analítica e pormenorizada.

De forma sutil Lennon investe contra os Estados (e sua inerente necessidade de lutar pelas fronteiras nacionais), a religião (e seus eternos conflitos ideológicos e dogmáticos) e propõe uma espécie de sociedade livre de preconceitos e divisões. Escapismo poético vazio? Pode até ser, mas até que funciona bem, até mesmo nos dias atuais. Interessante notar que o arranjo funciona muito bem pois a canção foi gravada tal como composta (basicamente voz e piano - com o uso de bateria acrescida posteriormente, além de uma singela e discreta orquestração ao fundo que foi muito bem colocada não tirando a atenção do ouvinte da simplicidade da canção e arranjo). Sem dúvida um bom trabalho do produtor Phil Spector (curiosamente Yoko Ono também foi creditada como "produtora" do LP).

Embora "Imagine" tenha entrado para a cultura popular de forma definitiva o resto do disco não parece ter alcançado o mesmo alcance. "Imagine" é aquele tipo de álbum com uma faixa de trabalho extremamente superiora ao resto do conjunto. Um ícone pop seguido por coadjuvantes sem grande brilho próprio. Analisando friamente o resto do disco chegamos facilmente na conclusão que apenas "Jealous Guy" conseguiu se sobressair nas paradas e ser conhecida do grande público (embora hoje em bem menor escala). O resto das músicas não conseguiu abrir seu próprio espaço caindo em um (até injusto) esquecimento musical. O incrível é que o LP ficou muitos anos em catálogo (até mesmo no Brasil) mas isso definitivamente não ajudou na popularização das demais canções. Só a título de comparação podemos citar "Plastic Ono Band", um álbum bem menos popular, que conseguiu no mínimo destacar 3 faixas fortes (Mother, God e Working Class Hero) enquanto "Imagine", em seu conjunto, só conseguiu mesmo se sobressair em duas delas.

Dentre as faixas remanescentes podemos destacar algumas boas canções e outras nem tanto. Entre as ruins temos "I Don´t Wanna Be a Soldier" cuja letra tem sua importância mas que é infelizmente embalada por uma melodia enjoativa e derivativa que não leva à canção a lugar nenhum. Lennon aqui entra em um redemoinho melódico, se perdendo completamente dentro dele, não conseguindo sair mais. Por isso essa é certamente uma das músicas menos inspiradas do ex beatle em sua carreira solo. As baladas são bem melhores. "Oh My Love" é sinceramente bem conduzida e tem uma melodia linda, tudo resultando em um belo momento do disco. Um pouco menos relevante está "How?" que em certos momentos parece entrar numa encruzilhada melódica, embora felizmente tenha sido salva por causa de seu bom refrão.

Yoko Ono também ganha sua música de homenagem, o countryzinho "Oh Yoko", simples mas agradável em sua pegada despretensiosa de contagiante felicidade. Nesse conjunto de coadjuvantes o grande erro de Lennon realmente é a faixa "How do You Sleep?", uma música feita exclusivamente para provocar e ofender seu ex colega de banda, Paul McCartney. Além de feia (e mal produzida) a música destoa completamente do tema proposto da faixa título, pois ao mesmo tempo em que prega a paz em "Imagine" Lennon solta farpas em relação ao ex parceiro nessa letra cheia de ressentimentos. Como conciliar tamanha contradição? Bom, entender isso é como tentar entender a personalidade de Lennon, algo nem sempre fácil de decifrar.

Imagine (1971)
Imagine
Crippled Inside
Jealous Guy
Its So Hard
I Dont Wanna Be a Soldier
Gimme Some Truth
Oh My Love
How Do You Sleep?
How?
Oh Yoko

Pablo Aluísio.

John Lennon - Plastic Ono Band

Esse pode ser considerado o primeiro disco solo da carreira de John Lennon. Embora ele tenha lançado alguns discos antes e após a dissolução dos Beatles, Plastic Ono Band é o seu primeiro trabalho de estúdio trazendo canções inéditas. O trabalho desenvolvido por Lennon aqui é bem autoral, sendo a maioria das músicas compostas em primeira pessoa, demonstrando que ele não tinha o menor problema em expor sua vida e seus problemas pessoais de forma aberta e sem artifícios. A própria canção que abre o disco demonstra isso de forma bem clara, pois Mother, composta em homenagem à sua mãe falecida, é uma declaração sem receios dos sentimentos que nutria em relação à Julia, morta de forma estúpida por um motorista embriagado.

Com produção de Phil Spector, o mesmo produtor designado por Lennon para dar um jeito nas gravações do último disco a ser lançado pelos Beatles, Let it Be, e contando com um equipe de feras no estúdio, John Lennon reuniu uma excelente coleção de músicas compostas na época em que era um Beatle, mas que não tinham encontrado espaço nos discos do grupo. Curioso notar a presença de Eric Clapton e Billy Preston no disco. Os dois foram cogitados pelo próprio Lennon para integrarem os Beatles em seus momentos finais. Aqui ele certamente desenvolveu o trabalho que queria fazer antes, mas que fora vedado por Paul McCartney e cia.

John Lennon / Plastic Ono Band na verdade é apenas um lado do projeto desenvolvido por Lennon ao lado de sua esposa. A continuidade do projeto se deu com outro disco, intitulado Yoko Ono / Plastic Ono Band. Tudo era baseado na terapia do grupo primal no qual ambos estavam intimamente envolvidos. O disco de Yoko Ono, completamente cantada por ela, é pouco conhecido nos dias de hoje, até porque sua voz e seu talento musical nunca foram unanimidade nem entre os fãs mais ardorosos do ex-beatle.

De qualquer forma o disco de John deve certamente ser conhecido pois apresenta grandes momentos, embora é bom reconhecer, no lado puramente musical o disco não tenha a riqueza dos trabalhos que foram feitos enquanto ele fazia parte dos Beatles. Ótimo letrista, John não era um grande arranjador, sendo essa parte coberta de forma riquíssima por seu colega, Paul McCartney. Esse disco demonstra bem isso. A voz de Lennon está lá, assim como suas letras inteligentes, engajadas e polêmicas, mas falta maior riqueza sonora, falta sonoridade e harmonia. Um exemplo claro disso é a faixa Remember, muito pobre em termos de acompanhamento e desenvolvimento. Em faixas como Love isso até soa a favor, pois a música é ternamente simples e direta, porém em outras como Working Class Hero fica sempre a sensação de que algo está faltando. De qualquer maneira o disco cumpriu sua função e mostrou a Lennon que havia vida após a morte dos Beatles. Nos anos que seguiriam ele iria melhorar e muito em certas deficiências de sua carreira solo e iria compor hinos eternos como Imagine, mas essa é uma outra história...

John Lennon / Plastic Ono Band (1970)
01. Mother
02. Hold On
03. I Found Out
04. Working Class Hero
05. Isolation
06. Remember
07. Love
08. Well Well Well
09. Look at Me
10. God
11. My Mummy's Dead

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

John Lennon - Unfinished Music No. 2: Life with the Lions

Segundo álbum de sons experimentais de John Lennon e Yoko Ono. Esse disco nasceu de uma fase bem conturbada na vida do casal. Eles queriam ter um filho para concretizar de vez seu relacionamento mas para Yoko isso estava cada vez mais se tornando distante, principalmente por causa de sua idade. Qualquer gravidez seria de risco por causa disso. Após várias tentativas finalmente Yoko ficou grávida, o que gerou um grande entusiasmo em John.

Infelizmente depois de algumas semanas de gestação ela foi internada às pressas em um hospital de Nova Iorque com problemas sérios que acabaram a levando a um aborto. Lennon obviamente ficou bastante arrasado com o fato mas como sempre acontecia resolveu levar sua dor para sua obra. Ao saber que seu filho teria poucas horas de vida, John pediu à equipe de cirurgiões do hospital que gravassem os últimos batimentos cardíacos dele antes de falecer. Essa gravação ele acabou usando justamente aqui nesse disco “Unfinished Music No. 2: Life with the Lions”.

A foto da capa também registrava esse terrível momento com Lennon sentado no chão ao lado de Yoko na cama do hospital. No meio da emergência da situação não havia uma cama para Lennon no leito de Yoko mas ele nem se importou, ficou no chão mesmo, esperando ela se recuperar da cirurgia. Em uma entrevista recordou depois: “Não havia uma cama para o beatle John. Afinal de contas quem precisa de um beatle?”. Esse é um trabalho que segue a filosofia do disco anterior, ou seja, é um tipo muito especifico de proposta que provavelmente só vai interessar mesmo os mais fanáticos fãs de John Lennon e Yoko Ono.

Não tem nada a ver com os discos comerciais de John ao lado dos Beatles. Analisando bem esse tipo de gravação sempre teve muito mais a ver com a arte de Yoko do que a de John. São apenas sons experimentais, sonoridades ao acaso, unidas sem que necessariamente façam algum sentido. Não deixa de ser interessante, temos que reconhecer, mas dificilmente convida o ouvinte a mais de uma audição. O fã de Lennon conhece esse tipo de álbum mais para matar a curiosidade do que por qualquer outra coisa. Tudo soa como alternativo ao extremo. De qualquer maneira fica aqui o registro para os admiradores do membro mais radical dos Beatles. 

John Lennon - Unfinished Music No. 2: Life with the Lions (1969)
Cambridge 1969
No Bed for Beatle John
Baby's Heartbeat
Two Minutes Silence
Radio Play

Pablo Aluísio.

John Lennon – Unfinished Music No. 1: Two Virgins

O primeiro álbum solo da carreira de John Lennon também foi um dos mais polêmicos. Há tempos ele vinha ao lado de Yoko Ono procurando por outro tipo de sonoridade que não tivesse necessariamente a ver com música ou notas musicais. Lennon chamou essas experiências de “sons experimentais”. Esse tipo de gravação já havia aparecido na discografia dos Beatles, na faixa “Revolution 9”, mas Lennon queria ir além. Nada de melodia, nada de letras, apenas sons ao acaso, colhidos do ambiente, gritos, risadas, sons distorcidos, loucura, êxtase, clímax. Assim que apareceu com seu novo projeto para a gravadora EMI ouviu um sonoro “Não” dos executivos! Aquilo nunca foi a proposta da gravadora, não tinha nada a ver com os Beatles e tudo soava estranho demais.

Lennon não desistiu e nem recuou. Pelo contrário radicalizou o projeto e quis que na capa ele e Yoko Ono surgissem nus, um ao lado do outro. Na contracapa a mesma coisa, só que o casal surgiria de costas para a câmera. Completamente pelados! Lennon queria testar os limites, saber até onde poderia ir antes de sofrer censura ou repressão. A cultura hippie estava no auge, a peça "Hair" com o elenco completamente nu era um sucesso e Lennon queria trazer aquele tipo de postura para sua discografia! O fato do casal estar nu causou um problema e tanto nas lojas de discos. Alguns donos mandaram colocar uma tarja preta nos órgãos sexuais de John e Yoko, outros embrulharam o disco em uma capa de papelão só aparecendo o rosto dos pombinhos. O departamento de justiça inglês proibiu a venda para menores de 18 anos e o disco foi considerado obsceno em vários países. No Brasil, em plena ditadura, nunca foi lançado. Circulou apenas entre os fãs mais obcecados pelos Beatles.

Por motivos contratuais o álbum só seria lançado com o aval dos demais Beatles (o grupo ainda existia e John só poderia lançar algo com a autorização dos demais integrantes da banda). Ringo Starr foi um dos que mais se incomodou com tudo. “Não importa que fosse apenas o John e a Yoko, pois todos nós (os Beatles) teríamos que responder por aquilo”. Paul McCartney também achou radical demais mas ao mesmo tempo entendeu que aquilo tinha a ver com a arte de Yoko Ono e seu modo de pensar e não queria se meter em assuntos do casal. Já George Harrison achou tudo uma grande palhaçada de John mas autorizou o lançamento do disco. Para demonstrar que estava à vontade com tudo aquilo Paul McCartney, a pedido de Lennon, escreveu uma frase para colocar na capa do álbum que dizia: “Quando dois santos se encontram, a experiência nos torna mais humildes. A longa batalha irá provar que ele era um santo”.

Lennon defendeu o disco em várias entrevistas afirmando que "não existem problemas em um casal ficar nu na frente das pessoas". Também disse que os tais "sons experimentais" seriam o futuro da música. Em sua forma de pensar as pessoas no futuro estariam ouvindo os gritos de Yoko Ono e não música clássica ou algo parecido! “Two Virgins” não é um disco fácil. Há muitos sons, assovios, batidas, frases desconexas, violões desafinados, conversações sem sentido, distorções, miados de Yoko, palmas, muita gritaria e nenhuma música. O material todo soa como um grande delírio sob efeitos de drogas. A LSD é obviamente uma experiência que influenciou esse tipo de coisa. Apenas os fãs mais radicais de Lennon vão apreciar. Para os demais fica apenas a curiosidade de conhecer uma das maiores excentricidades da vida de John Lennon, um sujeito que poderia ser muitas coisas mas não um cara muito normal!

John Lennon – Unfinished Music No. 1: Two Virgins (1968)
Two Virgins, Side One
Two Virgins Side Two
Remember Love

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

The Beatles - Os Reis do Ié, Ié, Ié

Se Elvis Presley podia estrelar um filme atrás do outro porque os Beatles não? Nos anos 60 apenas grandes nomes da música conseguiam estrelar seus próprios filmes. O filão foi aberto com os musicais de Elvis e quando os Beatles estouraram nas paradas de sucesso logo ganharam também sua série de filmes. O primeiro filme do quarteto foi justamente esse A Hard Day´s Night, que basicamente era uma sucessão de clips das músicas do conjunto. O filme não tem basicamente um roteiro, apenas cenas isoladas, algumas engraçadas, outras nem tanto, que tentam mostrar como seria a vida dos Beatles em um só dia.

Anos depois John Lennon diria que nunca foi a intenção dos Beatles se tornarem atores ou algo do tipo. O filme serviu apenas como meio promocional de suas canções, que estavam no auge da popularidade, liderando a chamada "invasão britânica". A trilha sonora vendeu horrores e foi totalmente composta pela dupla Lennon / McCartney. O filme serviu também para que o grupo fosse ainda mais promovido nos EUA, onde fariam uma turnê de excepcional sucesso ainda naquele ano.

Os Beatles ainda fariam Help (um filme sem pé nem cabeça, totalmente nonsense), Magical Mystery Tour (telefilme psicodélico), Yellow Submarine (consagrada animação) e finalmente se despediriam do cinema com Let It Be (documentário mostrando os ensaios e gravações do disco de mesmo nome). Ao contrário de Elvis, que se fartou de Hollywood, os Beatles tiveram uma despedida de gala da capital do cinema, vencendo o Oscar de melhor documentário por seu último filme. Nada mal para quem considerava Hollywood apenas um meio de divulgar suas músicas.

Os Reis do Ié, Ié, Ié (A Hard Day´s Night, Inglaterra, 1964) Direção: Richard Lester / Com John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr / Sinopse: A Hard Day's Night ou Os Reis do Iê, Iê, Iê como é conhecido no Brasil, é o nome do filme realizado pelo grupo de rock inglês The Beatles em 1964. Foi o primeiro filme realizado pelos Beatles e junto ao filme foi lançado um álbum com o mesmo nome. O cinema na época era grande divulgador de estrelas do rock. Inspirados em Elvis Presley, os Beatles viram no cinema mais uma maneira de promover sua música.

Pablo Aluísio.

The Beatles ‎- The Very Best Of The Beatles 1962-'64

Ficou muito bonita essa edição em vinil dos Beatles. O LP (sim, meus caros, o bom e velho Long Playing) traz uma seleção de alguns dos maiores sucessos dos Beatles bem no auge da Beatlemania, entre os anos de 1962 a 1964. O disco foi lançado em novembro do ano passado e segundo consta apenas 500 cópias foram prensadas para o mercado norte-americano. Pessoalmente tenho minhas dúvidas. Será que foram apenas essas poucas cópias? Se for verdade é realmente algo a se lamentar.

No mais vale uma informação adicional. O disco vem em vinil branco, muito bonito e de bom gosto. Essas edições novas de vinis sempre trazem esses mimos, como prensagem de cópias em cores alternativas, fugindo do preto padrão. Assim deixo o registro desse lançamento para os colecionadores brasileiros. É uma boa adição para qualquer coleção de discos dos Beatles. Em relação ao posicionamento do disco na discografia oficial dos Beatles eu diria que é um bootleg bem intencionado (será que isso seria possível?) trazendo mais uma leva de gravações do grupo na BBC, rádio de Londres. Aliás ao lado do projeto "Get Back" essas sessões dos Beatles na BBC foram as que mais disponibilizaram material para bootlegs em geral. Então é isso, ouça, divirta-se e bata palmas ao final da audição, afinal são os Beatles!

The Beatles ‎- The Very Best Of The Beatles 1962-'64 (2017)
Lado A:
1 - Love Me Do
2 - P.S. I Love You
3 - I Saw Her Standing There
4 - Misery
5 - Too Much Monkey Business
6 - I'm Talking About You
7 - Please Please Me
8 - Hippy Hippy Shake
9 - Twist And Shout

Lado B:
1 - A Hard Day's Night
2 - Things We Said Today
3 - You Can't Do That
4 - If I Fell
5 - Long Tall Sally
6 - From Me To You
7 - She Loves You
8 - I Want To Hold Your Hand
9 - Can't Buy Me Love.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

The Beatles - Live at the BBC

Eu gosto de afirmar que esse é o melhor material já lançado dos Beatles após sua separação. Esqueça o Anthology que nada mais era do que uma jogada de marketing, aqui sim temos os Beatles, no começo da carreira, joviais e com muita vontade de tocar e agradar aos ouvintes da prestigiosa emissora britânica BBC. Todas as faixas foram gravadas ao vivo em programas que os Beatles se apresentavam na emissora. Isso durou de 1963 até 1965 quando os Beatles se tornaram tão imensos que até mesmo a famosa rádio começou a parecer acanhada diante da grandiosidade que a banda havia alcançado.

Duas coisas logo chamam a atenção nesse material. O primeiro é o fato da BBC dar um programa especial para os Beatles. A emissora, considerada a principal da Inglaterra, sempre primou por uma programação bastante culta e sofisticada, preferindo a execução de música clássica, deixando canções do gênero pop e rock fora de sua grade de programação diária. Isso até os Beatles se tornarem tão populares a ponto da rádio mudar seus próprios conceitos para se adaptar aos novos tempos. Assim nasceram programas como Saturday Club, Pop Go The Beatles, Teenager's Turn, Here We Go, From Us to You entre outros, mostrando que até nesse aspecto os Beatles também foram pioneiros.

A segunda característica marcante de “Live at The BBC” é o próprio repertório dos Beatles nesses programas. Eles não se limitaram a tocar as canções de seus discos, pelo contrário, os Beatles de forma maravilhosa destilaram ao longo de todos aqueles anos tudo o que tinham ouvido e venerado em seus anos iniciais. Uma verdadeira aula do que havia de mais significativo em termos de Rock ´n´ Roll na época. Assim o ouvinte era presenteado com os Beatles tocando canções de Elvis Presley, Fats Domino, Carl Perkins, Buddy Holly, Chuck Berry, Little Richard e todos os cantores e grupos que na época faziam parte da galeria de ídolos do conjunto.

Algumas versões são simplesmente de arrepiar como por exemplo "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)" do primeiro álbum de Elvis pela RCA. Outras se destacam pela singeleza e harmonia que os Beatles deram a certas músicas como "Lonesome Tears in My Eyes" e "The Honeymoon Song", duas faixas que não foram obviamente escritas por Paul McCartney mas que eram a cara dele em tudo. No mundo dos bootlegs não oficiais o fã dos Beatles vai encontrar a íntegra de todas as músicas gravadas por eles na BBC mas isso é desnecessário. Esse CD duplo maravilhoso já traz o que de melhor havia da banda em seus anos na rádio inglesa. É um item charmoso, fino e que simplesmente não pode faltar em um coleção Beatle. Nota 10 com louvor!  

The Beatles - Live at the BBC (1994)
CD 1: Beatle Greetings / From Us to You / Riding on a Bus / I Got a Woman / Too Much Monkey Business / Keep Your Hands Off My Baby / I'll Be on My Way / Young Blood / A Shot of Rhythm and Blues / Sure to Fall (In Love with You / Some Other Guy / Thank You Girl / Sha La La La La! / Baby It's You / That's All Right, Mama / Carol / Soldier of Love (Lay Down Your Arms) / A Little Rhyme / Clarabella / I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You) / Crying, Waiting, Hoping / Dear Wack! / You've Really Got a Hold on Me / To Know Her Is to Love Her / A Taste of Honey / Long Tall Sally / I Saw Her Standing There / The Honeymoon Song / Johnny B. Goode / Memphis, Tennessee / Lucille / Can't Buy Me Love / From Fluff to You / Till There Was You

CD 2: Crinsk Dee Night / A Hard Day's Night / Have a Banana! / I Wanna Be Your Man / Just a Rumour / Roll Over Beethoven / All My Loving / Things We Said Today / She's a Woman / Sweet Little Sixteen / 1822! / Lonesome Tears in My Eyes / Nothin' Shakin / The Hippy Hippy Shake / Glad All Over / I Just Don't Understand / So How Come (No One Loves Me) / I Feel Fine / I'm a Loser / Everybody's Trying to Be My Baby / Rock and Roll Music / Ticket to Ride / Dizzy Miss Lizzy / Kansas City/Hey-Hey-Hey-Hey! / Set Fire to That Lot! / Matchbox / I Forgot to Remember to Forget / Love These Goon Shows! / I Got to Find My Baby / Ooh! My Soul / Ooh! My Arms / Don't Ever Change / Slow Down / Honey Don't / Love Me Do

Pablo Aluísio

The Beatles - Love Songs

Coleção das melhores músicas românticas dos Beatles. Eu conheço esse álbum de muitos anos. Ele na realidade foi lançado ainda na época do vinil e nunca foi considerado um disco da discografia oficial do grupo, que se encerrou, como todos sabemos, em 1970 com "Let It Be". Curiosamente na época dos discos de vinil eu nunca tive interesse em comprá-lo, isso porque como já tinha todos os discos oficiais do grupo sua aquisição realmente não era necessário, afinal de contas é apenas uma coletânea, com ótima capa e encartes, mas era apenas isso mesmo, um coletânea e como sempre fui muito reticente com esse tipo de lançamento simplesmente deixei de lado.

Os anos passaram, o vinil morreu industrialmente, e voltei a esbarrar no disco, agora em CD numa loja de produtos populares. Como estava em promoção resolvi adquirir finalmente. É a tal coisa, muitas vezes o lado fã fala mais alto do que a do estudioso da história musical. No final das contas não me arrependi. Em termos históricos o disco é bem bagunçado, misturando faixas de épocas diversas sem muito critério. A seleção musical porém é de arrasar. Ao ouvir esse álbum me lembrei de uma das últimas entrevistas de John Lennon. Em 1980 ele declarou: "Olhando para trás e ouvindo os discos dos Beatles fiquei com a impressão que Paul sempre fazia belas músicas de amor enquanto eu só surgia nos discos cantando rocks estridentes".

É bem por aí meu caro Lennon! Paul McCartney foi realmente o grande compositor das canções românticas dos Beatles - basta ouvir esse disco para bem entender isso. Interessante notar que quando o grupo acabou, Lennon acabou adotando uma postura bem mais apaixonada em suas criações, compondo ele próprio belas baladas de amor - todos dedicadas a Yoko Ono, claro. Ao que me consta John Lennon, ainda tomado por uma postura juvenil de "Eu sou roqueiro", sempre procurava inserir rocks nos discos dos Beatles para contrabalancear o romantismo de Paul. De uma maneira ou outra, "Love Songs" prova que nesse campo eles foram realmente excepcionais.

The Beatles - Love Songs (1977)
Yesterday
I'll Follow the Sun
I Need You
Girl
In My Life
Words of Love
Here, There and Everywhere
Something
And I Love Her
If I Fell
I'll Be Back
Tell Me What You See
Yes It Is
Michelle
It's Only Love
You're Going to Lose That Girl
Every Little Thing
For No One
She's Leaving Home
The Long and Winding Road
This Boy
Norwegian Wood (This Bird Has Flown)
You've Got to Hide Your Love Away
I Will
P. S. I Love You

Pablo Aluísio.