sábado, 23 de abril de 2011

1808

Achei extremamente agradável a leitura desse livro intitulado "1808" de autoria de Laurentino Gomes. A leitura flui muito bem pois o autor procurou trazer o máximo de informações de uma maneira simples e direta, sem exageros acadêmicos (que acabam tornando qualquer livro uma chatice enfadonha). Como o próprio título sugere a proposta é resgatar os anos em que a família real portuguesa viveu no Brasil (como sabemos a dinastia Bragança na realidade estava fugindo do imperador Napoleão Bonaparte). Assim somos levados aos primórdios de nossa nação em capítulos curtos que procuram resgatar não apenas o lado mais histórico dessa estadia imperial na colônia, mas também os costumes e o modo de viver dos brasileiros e portugueses naquela época.

Um dos aspectos mais interessantes vem do choque cultural entre os nobres portugueses e a classe burguesa brasileira. Poucos sabem, mas o Reino de Portugal estava falido e a família imperial arruinada. A rainha, D. Maria, estava louca e o império acabou indo parar nas mãos de D. João VI, que nem estava na linha de sucessão pois só herdou o trono porque seu irmão mais velho morreu precocemente. D. João VI é uma figura tão tradicional como folclórica em nossa história. Ele era baixo, gordo e de temperamento medroso. Morria de medo de caranguejos (o que o fazia evitar tomar banhos de mar) e de tempestades (quando ouvia trovões se escondia debaixo de sua cama no Palácio real).

Como se pode perceber D. João VI não tinha a menor vocação para ser Rei porém teve inteligência suficiente para confiar em homens bem mais preparados do que ele, conselheiros que mantiveram a colônia unificada e segura. O autor lembra de um fato importante: embora Dom João VI seja retratado como um trapalhão e um abobado ele na realidade foi um dos poucos Reis europeus que não foram decapitados naqueles tempos revolucionários. Nesse ponto de vista histórico o velho e inepto D. João VI tão mais bem sucedido do que a formosa dinastia dos Bourbons da França, que terminaram na guilhotina dos revolucionários franceses.

E como não poderia faltar em um livro sobre a família real portuguesa no Brasil há todo um capítulo dedicado apenas à Carlota Joaquina. Curiosamente o autor aliviou um pouco a imagem de uma mulher escandalosa e promíscua como era retratada nas crônicas da época. Certamente Carlota era vil, traidora e escandalosa, mas em um nível menor. Não há como comprovar historicamente os inúmeros casos extraconjugais que foram atribuídos a ela. Nem tampouco que teria realmente conspirado tanto como foi dito a D. João VI que cansado de suas supostas conspirações a isolou de sua vida pessoal. Só se encontravam em eventos e mesmo assim de maneira protocolar.

Além dos personagens históricos o autor procura recriar o Rio de Janeiro do século XIX, com suas ruas cheias de escravos, sujeira e caos urbano. O interessante é que mesmo chocados com a realidade da colônia brasileira os nobres portugueses, apesar da pompa e elegância em seus trajes, estavam arruinados e precisavam do dinheiro dos burgueses brasileiros. Assim centenas e centenas de títulos de nobreza eram trocados por dinheiro, ouro ou propriedades, mostrando o quanto a corte lusa era corrupta já naqueles tempos. Vários traficantes de escravos foram honrados como nobres, duques e marqueses, mesmo que não soubessem sequer a ler. Tudo em troca do vil metal. Pelo visto a corrupção em nosso país certamente tem raízes históricas mais profundas do que realmente pensamos.

Pablo Aluísio.

Ascensão e queda das grandes potências

Esse é o livro que estou lendo atualmente: Ascensão e Queda das Grandes Potências de Paul Kennedy. É um longo e bem preparado estudo sobre as potências que já dominaram o mundo nos últimos cinco séculos. Para estudar o sobe e desce no tabuleiro mundial o autor analisa aspectos militares, econômicos, geográficos, históricos e sociais.

A capa da primeira edição era bem interessante. Nele víamos um inglês descendo um pódio, sendo superado por um americano (o Tio Sam) e logo atrás um japonês. O tempo passou, os Estados Unidos ainda seguem como a principal nação do mundo e o Japão ainda se mostra como o grande potencial.

Isso porém não importa. Considero um excelente trabalho e também uma leitura bem agradável, nada pesada ou enfadonha. Destaco, entre tantos aspectos extremamente interessantes, o jogo de poder entre França e Inglaterra durante a chamada Idade moderna. Uma rivalidade ferrenha que colocou as duas maiores nações europeias em choques sucessivos ao longo dos séculos. Quem venceu essa queda de braço? Ora, deixo a dica da leitura para você. Não deixe de conhecer.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nazismo: O Mal Absoluto

Hoje se celebra os 70 anos de libertação do complexo Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração nazista. Muitas pessoas não acreditam que exista um mal absoluto no meio da humanidade, mas isso é um erro. A história dos campos de concentração do Terceiro Reich estão aí para nos lembrar que o mal absoluto existe e em condições ideais aflora de maneira monstruosa e incontrolável. Apenas as leis e uma forte e presente consciência coletiva fará com que esse mal não mais se repita. É preciso sempre educar as novas gerações, ensinar-lhes o que aconteceu e não deixar esse holocausto da alma humana se perder nas neblinas da história. O que aconteceu durante esse período talvez nunca seja completamente explicado. O que levou uma nação civilizada, culta e educada como a Alemanha a cometer atos de tamanha barbárie é em minha visão algo que sempre será um mistério completo. Por mais que a Alemanha tenha sido humilhada após a Primeira Guerra Mundial, abrindo assim o caminho para patifes como Adolf Hitler subir ao poder, nunca conseguirei compreender completamente as engrenagens dessa verdadeira indústria da morte que foi instaurada no período mais nebuloso da história humana.

Talvez a força de uma ideologia explique muita coisa. Ideologias sempre são perigosas. Quando se acreditam nelas cegamente a coisa pode tomar rumos inesperados. E isso não se refere apenas ao nazismo, mas a outras ideologias semelhantes também, como o fascismo e o comunismo. Essa última sempre me preocupou pois em países de periferia mundial como os latino-americanos a ideologia socialista ainda persiste. É trágico, mas infelizmente o Brasil hoje passa por uma profunda doutrinação socialista em escolas e universidades. Esquecem de ensinar porém que o comunismo matou mais pessoas ao longo da história do que o próprio nazismo. Se a Alemanha nazista assassinou estimados 5.5 milhões de judeus nesses campos de concentração, o famigerado líder soviético Stálin teria sido responsável pela morte de 60 milhões de soviéticos, em uma das ditaduras socialistas mais insanas e sanguinárias da história. E na Rússia comunista também havia campos de concentração e crimes contra a humanidade. Houve um holocausto vermelho. Isso porém pouco é relembrado em nosso país, o que é duplamente trágico. A perplexidade causada pelos horrores do holocausto nazista era para ser ao menos semelhante aos crimes do comunismo, mas em nosso país pouco se fala sobre isso, algumas vezes de forma tímida e acanhada. Uma tragédia educacional toma forma em nosso país de maneira silenciosa.

Os nazistas tinham uma visão deturpada do mundo. Eles se consideravam arianos puros, loiros de olhos azuis e por isso especiais. As demais raças eram ditas como inferiores e algumas deveriam ser eliminadas sumariamente. Em relação aos judeus havia esse ódio implantado por Hitler em sua obra "Mein Kampf", onde ele culpava o povo judeu pela destruição da economia alemã. Essa ideologia de ódio aos judeus porém não foi criada por ele, já existia de forma latente dentro da sociedade alemã, tanto que ele apenas a abraçou de forma fanática, resolvendo colocar em prática o que antes era apenas despeito e raiva incontidas pelo sucesso dos judeus no comércio, na indústria e nas finanças. O problema das ideologias é essa: muitas vezes elas nascem do puro ressentimento e depois tentam ganhar ares de pseudo explicação econômica, social ou científica. O próprio Karl Marx tinha esse ressentimento bem profundo em seu modo de pensar. Para ele uma pessoa bem sucedida financeiramente não poderia ter chegado lá por seus próprios méritos, mas sim por explorar os demais. Ressentimento e rancor parecem ser sempre o cimento que une os tijolos desses sistemas ideológicos. Algo na linha: "Eu sou pobre, você é rico, devo arranjar uma forma de lhe eliminar". As ideologias crescem no meio desse tipo de sentimento. Para piorar tornam cegos todos os seus seguidores. Geralmente se fecham os olhos para os crimes horrendos de seus líderes ideológicos. Aconteceu durante o nazismo e segue acontecendo também nas ideologias de esquerda que continuam a prosperar.

Em relação ao nazismo é muito complicado de entender o que de fato aconteceu, mesmo com esse tipo de tentativa de entendimento. Certamente a ideologia exerceu grande e forte influência, porém como justificar as mortes de mulheres, idosos e crianças em câmaras de gás em ritmo industrial? Qualquer pessoa com um mínimo de humanidade se recusaria a participar de algo assim, mas lá estavam os oficiais SS, muitos deles do sexo feminino, tendo até mesmo um certo sentimento de prazer sádico em matar toda aquela gente. Teria a Alemanha tido a triste sina de ver o surgimento de uma geração de psicopatas? Muitas daquelas pessoas que trabalhavam em Auschwitz-Birkenau viam aquilo como um emprego normal ou uma função que tinham que desempenhar em seu expediente normal de trabalho. Após passar o dia enviando pessoas inocentes para a morte eles trocavam de roupa e iam para casa, normalmente, jantar com suas famílias e não pareciam ter qualquer tipo de sentimento de culpa ou remorso. Sinceramente falando a mente humana pode ser um lugar escuro e sombrio em determinados momentos da história. A grande lição histórica porém de tudo o que aconteceu pode ser resumida numa frase bem singela: tenha muito cuidado com as ideologias, elas matam e desumanizam o ser humano, geralmente em ritmo industrial.

Pablo Aluísio.

O Pensamento Conservador

Como o pensamento conservador tem atraído muito a atenção dos brasileiros, principalmente dos jovens, vou aqui numa série de textos escrever sobre o conservadorismo e seus principais escritores, livros e ideias. Infelizmente o pensamento conservador é praticamente desconhecido do povo brasileiro. A Academia, as escolas e as universidades brasileiras foram fundadas em cima de um pensamento de esquerda. O conservadorismo é visto como um monstro, um bicho papão ideológico, o símbolo de tudo o que há de ruim no mundo. Um pensamento fruto da doutrinação ideológica de esquerda. Enquanto nos grandes centros de saber do mundo os autores conservadores são lidos e estudados, no Brasil eles são desconhecidos. Só há espaço mesmo para o chamado Marxismo cultural, que sempre foi muito pródigo em gerar frutos podres nas nações por onde se alastrou.

Pois bem, há certos mitos absurdos sobre o pensamento conservador que merecem ser esclarecidos. Outro dia vi um sujeito de formação marxista no Youtube afirmando que o conservadorismo se resumia numa ideologia política que visava manter a riqueza dos mais ricos e a pobreza dos mais pobres. Que pensamento grotesco! Alguns dos países mais conservadores do mundo são aqueles em que há a melhor distribuição de renda. Um exemplo simples? O Reino Unido. A Inglaterra é uma nação conservadora, de pilares conservadores. Seu sistema político é plenamente conservador em todos os detalhes e instituições. Há uma monarquia constitucional instalada. Esse sistema é o mesmo há centenas de anos. E como vive a classe trabalhadora inglesa? Muito bem, obrigado. Todo trabalhador britânico tem sua casa, seu carro próprio, dinheiro para sustentar sua família, saúde pública de alto nível, gratuita para todos os cidadãos e uma economia que gera empregos. Não vejo no caso inglês nenhum sinal de uma elite conservadora rica massacrando o povo trabalhador.

Enquanto isso o que vemos em nações que dizem se alinhar com o pensamento de esquerda? Muita pobreza, péssima distribuição de renda, desemprego massivo e uma classe política que monopoliza o poder, usando ao seu bel prazer, para implantar um sistema de corrupção institucional. Fora as degenerações políticas dentro do próprio sistema dito socialista. Vejam o caso de Cuba em que o poder político é exclusivo de uma família. Morreu Fidel Castro e o poder foi passado para seu irmão. Esse já afirmou que se afastará e o poder será passado para seu sobrinho. Cuba caminha para ser um feudo comunista dos Castros em poucos meses. E o povo cubano? Na mais profunda miséria, assim como o povo venezuelano. Pergunte a um trabalhador inglês se ele deseja ir morar em Cuba! Depois pergunte a um trabalhador cubano se ele gostaria de morar na Inglaterra! Não precisa ser um expert político para responder a esse tipo de pergunta.

O pensamento conservador vai muito bem nas nações que o abraçaram. O povo vive bem, os índices de violência são baixíssimos e as crianças são educadas desde cedo para respeitar os mestres, seus professores. O pensamento de esquerda ao contrário forma ativistas de luta frontal contra a autoridade. Por isso vemos tantos casos de alunos agredindo professores no Brasil. E o curioso é que muitas vezes a culpa é dos próprios professores que doutrinando seus alunos os ensinam que a autoridade e a hierarquia devem ser combatidas, agredidas e abatidas. O veneno voltou-se contra eles. A esquerda sempre forma ativistas violentos, não tem jeito! Pois bem, no próximo texto irei trazer o grande pensador conservador Edmund Burke (ilustração), um dos pilares do conservadorismo britânico. Certa vez ele disse: "As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados.“ Uma frase brilhante e genuinamente conservadora.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Maria Antonieta

Maria Antonieta foi a última rainha da França. Ela e seu marido, o rei Luís XVI, foram decapitados pelos líderes da revolução francesa. Tudo embasado em um julgamento claramente parcial e injusto, que tinha como objetivo apenas matar os monarcas do antigo regime. Maria Antonieta, em seu últimos momentos, se agarrou em sua fé católica e escreveu uma carta de despedida para sua irmã, onde reafirmava sua crença na religião católica, naquele momento final de extrema tragédia. Nesse texto ele pede perdão a Deus pelas coisas erradas que teria feito em vida e pedia ao seus filhos que não se vingassem dos revolucionários pois apenas a Deus caberia a justiça.

Ela foi muito difamada e caluniada, crimes horríveis lhe foram atribuídos, sem nenhuma prova, mostrando que o novo regime que nascia poderia ser tão fanático e radical como os antigos detentores do poder que eles criticavam. Maria Antonieta foi assim transformada em um bode expiatório da revolução francesa, um momento muito cruel para a religião católica pois muitos membros do clero foram assassinados brutalmente, de forma sumária, pelos revolucionários. O chamado "Terror" levou quase todo o clero francês para a guilhotina. Houve certamente uma perseguição religiosa brutal contra a fé e o cristianismo naquele momento trágico. Vários padres, bispos, monges, freiras e religiosos em geral eram colocados em carroças, sendo levados para a guilhotina em longas procissões onde o povo enfurecido lhes diziam ofensas, calúnias e injúrias.

O grau de fanatismo louco da revolução francesa foi tamanho que chegou-se a acusar a rainha até mesmo de incesto, algo que era uma grande mentira. O pior de tudo é que todos sabiam que era uma mentira, mesmo assim condenaram a rainha Maria Antonieta para ser executada, onde ela seria decapitada de forma cruel. A rainha porém mostrou-se muito lúcida em seus momentos finais, não blasfemando, não devolvendo as ofensas, mesmo tendo sofrido todos os tipos de violências físicas e psicológicas. Seus filhos haviam sido tirados dela, seu filho, o herdeiro da coroa, morreria logo após. Era uma criança apenas, mas os revolucionário o jogaram em um calabouço imundo.

Hoje em dia a figura de Maria Antonieta é muito associada ao luxo, à moda, aos exageros do palácio de Versalhes. A rainha foi realmente exuberante, já que isso era uma característica da época, porém ela também foi esposa e mãe, que sofreu muito ao ver sua família ser dizimada por loucos revolucionários com sede de sangue. Mesmo que a dinastia Bourbon fosse destronada era no mínimo civilizado deixaram Maria Antonieta e sua família irem embora para a Áustria, sua terra natal (ela era filha da imperatriz Maria Tereza). Matá-los, inclusive seus filhos pequenos, que eram apenas crianças quando a monarquia foi deposta, só mostrava mais uma faceta violenta de uma revolução que a despeito de usar o slogan da "Liberté, Egalité, Fraternité" (Liberdade, igualdade, fraternidade) certamente cometeu muito crimes contra católicos e pessoas religiosas em geral. Sob o ponto de vista religioso a revolução francesa foi sanguinária, injusta e bárbara. 

Na última noite de vida a Rainha escreveu para a irmã e encerrou sua carta de despedida com as seguintes palavras: "Morro na religião Católica Apostólica Romana, que foi a de meus pais, que me trouxe a vida e que sempre professei. Não havendo nenhum consolo espiritual para procurar, e nem ao menos sabendo se existem nesse lugar padres dessa religião (realmente o lugar onde estou os exporia a perigo demais), eu sinceramente imploro o perdão de Deus por todos os pecados que eu possa ter cometido durante a minha vida. Confio que, em Sua bondade, Ele irá aceitar minhas últimas preces com misericórdia, tal como aquelas que eu tenho endereçado a Ele faz tempo, e que irá receber minha alma dentro de Sua piedade."

Pablo Aluísio. 

Catarina II

Na escola você aprende que o reinado de Catarina II, a Grande, foi um dos maiores exemplos daquele tipo de monarca que foi chamado pelos historiadores de "déspota esclarecido", ou seja, membros de uma monarquia que já conhecia os ideais do iluminismo, das transformações da iriam desembocar na Revolução Francesa, mas que continuavam em essência absolutistas. Apenas para não vivenciassem a tomada de poder por essas forças liberais, faziam pequenas concessões para o povo em geral. Era uma maneira de se manterem no trono. Continuavam absolutistas, déspotas, mas já estavam esclarecidos sobre os novos valores que começavam a se espalhar por todo o continente europeu.

Catarina II não era uma Romanov de nascimento. Ela apenas se casou com um Romanov e depois ajudou os opositores a se livrarem dele, que era o legítimo sucessor por tradição. Era uma mulher culta, inteligente, muito vocacionada para a ciência política. Por isso conseguia sempre superar as inúmeras intrigas políticas da corte, vencendo e superando todos os adversários que atravessavam seu caminho. Acabou assim se tornando a grande imperatriz da história russa. Seu marido, Pedro III, era um tipo contrário a essas qualidades, um despreparado que foi logo colocado de lado. Dentro da corte russa valia mais sua astúcia e perspicaz política do que propriamente um direito de nascimento. Apenas os mais fortes sobreviviam. Esse Czar russo, Pedro III, tentou tirar parte dos direitos tradicionais da nobreza, além disso era um bobo apaixonado pela Prússia e Frederico, algo que soava praticamente como um traição ao nacionalismo russo, eterno inimigo dos prussianos. Não demorou muito e caiu em desgraça perante a nobreza e o povo.

Assim depois de um golpe de Estado apoiado pela nobreza, Pedro III foi afastado do poder, sendo assassinado logo depois. Catarina assumiu as rédeas do Estado e sendo uma mulher preparada intelectualmente se saiu muito bem na direção daquele império continental. Os primeiros anos de Catarina II no poder foram gloriosos. Ela implantou reformas administrativas no império, reformulou o exército, conquistou territórios que até mesmo Pedro, o Grande, não havia conseguido dominar e transformou a Rússia em um dos mais poderosos impérios do mundo. Além disso é interessante notar que conseguiu se manter no trono até sua morte, isso em uma época em que os ideais que iriam causar a Revolução Francesa colocavam dinastias seculares na berlinda. Catarina foi hábil o suficiente para sobreviver e fortalecer um sistema político que estava em franca decadência em sua época.

Embora o reinado de Catarina II seja sempre lembrado com louvor pelos historiadores russos, houve também problemas enquanto esteve no poder. Catarina muitas vezes misturou assuntos pessoais com assuntos do Estado. Uma mulher muito ativa sexualmente, geralmente colocava seus amantes em postos chaves do império. Sua conduta sexual fora dos padrões para a época também mancharam sua reputação. A Imperatriz Maria Teresa da Áustria, por exemplo, outra mulher de imenso poder na época de Catarina, a considerava uma degenerada e uma promíscua. Muito provavelmente Catarina tenha sido apenas uma mulher à frente de seu tempo nesse aspecto, pois se recusava a se enquadrar no antigo estereótipo da mulher e mãe que imperava no século XVII. Ela quis e foi mais do que isso, usando os homens de acordo com seus propósitos políticos e não sendo usada por eles como era tão comum. Após reinar por 34 anos ela teve um AVC fatal em sua palácio imperial. Catarina não queria que seu filho Paulo se tornasse imperador, mas seu neto Alexandre. Considerava Paulo um desequilibrado cruel. Ela estava pronta para mudar sua sucessão ao trono, mas antes disso faleceu, deixando para Paulo um império como os russos jamais tinham visto antes.

Paulo I assumiu o poder na Rússia imperial após a morte de sua mãe, Catarina II. Ela não queria que ele assumisse como czar e tinha até mesmo feito planos para tirá-lo da sucessão, mas antes disso sofreu um derrame e morreu aos 68 anos de idade. Paulo não gostava da mãe a quem acusava de ter se envolvido na morte de seu pai, Pedro III. Para se vingar dela mandou exumar os restos mortais dele, para que fosse enterrado no mesmo ritual fúnebre de sua mãe.

Catarina II tinha razões para não gostar do próprio filho. Ele era um sujeito bem cretino, que estava mais interessado em vestir roupas espalhafatosas, inspiradas no exército prussiano, do que em administrar o império russo. Também era cruel, aplicando punições físicas e torturas em seus subordinados pelos menores deslizes. Tinha uma personalidade pusilânime, mostrando-se duro e autoritário para o povo russo ao mesmo tempo em que era manipulado e mandado por sua amante, uma mulher sem origens nobres que ele havia conhecido em um bordel. Quando assumiu o poder absoluto os russos descobriram alarmados que uma das pessoas mais influentes da corte era o barbeiro de Paulo, um ex-escravo dado de presente por sua mãe e que se tornaria seu amigo ao longo dos anos. De uma forma ou outra Paulo jamais conseguiu superar sua mãe, pelo contrário, foi uma grande decepção para o povo russo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pepino, o Breve

Começo hoje a tratar sobre os grandes Reis da França. O primeiro será Pepino, o Breve, o primeiro Rei da Dinastia Carolíngia. Pepino III subiu ao trono em uma época ainda marcada pela fragmentação do Império Romano do Ocidente. Desde que Roma caiu começou a existir um grande vácuo de poder por toda a Europa. Esses primeiros monarcas francos tinham o sonho de restaurar a soberania que havia existido nos tempos clássicos, da Roma Imperial. Esse sonho seria inclusive passado para o filho de Pepino, o grande Carlos Magno e seu Sacro Império Romano Germânico.

Pepino era filho do grande conquistador Carlos Martel. Seu apelido "O Breve" não se referia ao fato de ter reinado por pouco tempo, mas por causa de sua altura diminuta - sim, o primeiro Rei Franco da Dinastia Carolíngia era um baixinho! Quando seu pai morreu deixou toda a sua fortuna e suas terras a seus dois filhos, Pepino e Carlomano, seu primogênito. Estamos falando de um tempo ainda muito distante da história, onde havia o sistema feudal prevalecendo por toda a Europa. Assim não demorou muito para que Pepino e Carlomano começassem a disputar entre si os principais feudos e terras. Era algo inevitável.

Pepino então se uniu a bispos influentes, fazendo de tudo para que as tribos germânicas fossem evangelizadas. Isso lhe trouxe um apoio importante, a da Igreja Católica, considerada uma das mais fortes instituições daquela época. Curiosamente por esse mesmo tempo seu irmão Carlomano resolveu se dedicar à vida religiosa, se retirando para um mosteiro. Na Idade Média o sentimento religioso era muito presente e forte, por essa razão a conversão de Carlomano foi visto como algo natural. Sem o irmão o poder acabou se concentrando em Pepino que se tornou um dos mais ricos senhores feudais da Europa Medieval, com terras que iam da França à Alemanha, passando pela Itália. Rico e poderoso, acabou tendo seu primeiro filho, que seria o futuro imperador Carlos Magno.

Pepino assim tinha grande riqueza, apoio da Igreja e se tornara comandante de um grande e poderoso exército. Diante de tanto poder entendeu que chegara a hora de se coroar Rei dos Francos, algo que foi feito com pleno apoio da Igreja Católica. O Papa Zacarias o coroou pessoalmente, dando origem a um ritual que foi seguido por Reis Franceses durante séculos. Assim, para consolidar ainda mais sua autoridade, Pepino derrotou Childerico III, considerado o último Rei da Dinastia Merovíngia. Era o começo da Dinastia Carolíngia entre os Francos.

A aproximação de Pepino com o Papado foi o segredo de seu sucesso como monarca. Ele se colocou na posição de protetor da Roma católica, enfrentando qualquer inimigo que ousasse ameaçar os Papas. Com isso recebeu apoio do Papa Estevão II que o confirmou como o legítimo Rei dos Francos. Mais do que isso, Estevão chancelou Pepino como o principal monarca cristão da Europa medieval. Era a vontade de Deus. Quando os Lombardos ameaçaram invadir o Vaticano, Pepino enviou seus poderosos exércitos que destruíram os inimigos da fé cristã.

Em agradecimento à criação dos Estados Pontifícios, o Papa resolveu ir à Paris para abençoar não apenas Pepino, mas também seus dois filhos e sua esposa. A Igreja Católica tomava clara posição em favor da nova dinastia que nascia na frente do povo francês. Era algo muito importante para Pepino que até aquele momento era tratado quase como um usurpador do trono. Infelizmente seu Reinado foi também breve. Ele morreu poucos anos depois. Seu grande legado para a história da França foi manter o Reino Franco unido e coeso. Também aproximou a Igreja do Estado francês, algo importante naquele momento. Tirando lições do passado glorioso de Roma também incentivou a manutenção de um exército permanente e treinado, para defender o povo franco da invasão de bárbaros que viriam. Acima de tudo abriu portas e criou a estrutura que seu filho Carlos Magno iria usar para conquistar quase toda a Europa nos anos seguintes.

Pablo Aluísio. 

Muhammad Ali

Hoje o mundo amanheceu com a trista notícia da morte do boxeador Muhammad Ali. Ele foi um ícone do esporte, campeão mundial várias vezes e tudo mais, porém Ali é tão celebrado ainda hoje em dia por motivos que pouco tinham a ver com sua carreira como esportista. Na verdade Ali foi um homem bem à frente de seu tempo. Em uma época em que os negros americanos ainda lutavam por seus direitos civis, Ali foi uma figura central nessa luta. Ele teve grande impacto na mídia justamente por falar e defender aquilo que pensava, independente de ser politicamente correto ou não.

Durante a Guerra do Vietnã ele se posicionou contra a intervenção americana naquele distante país asiático. Como forma de retaliação o governo quis que ele se alistasse à força (na época o serviço militar dos EUA ainda era obrigatório) e enviado para o front, mas Ali resolveu reagir, rasgando e queimando sua carteira de reservista publicamente. Isso abriu um amplo debate dentro da sociedade não apenas em relação à obrigatoriedade de servir as forças armadas de forma compulsória, como também sobre o próprio sentido da guerra.

Depois, em outro gesto simbólico, resolveu trocar seu nome de batismo, Cassius Clay, pois entendia que esse era seu nome de escravo. Muitos negros americanos fizeram o mesmo. Para eles seus antepassados que tinham sido traficados da África negra durante a escravidão tinham seus nomes trocados por seus senhores escravocratas. Nomes ocidentalizados, que nada tinham a ver com seu nome real. Para Ali o abandono de Cassius Clay significava também o abandono das últimas correntes da escravidão negra na América.

Outro ato de Ali que causou grande repercussão foi sua conversão ao Islã. Ali entendia que o cristianismo havia contribuído para o sistema de escravidão de negros africanos e que deveria ser rejeitado por essa razão. Agora imaginem um homem como ele, negro, ativista e muçulmano numa América predominantemente branca e protestante durante os anos 60! Era realmente uma personalidade mais do que explosiva. Muitos dizem que a grande luta de Ali foi sua busca por uma vida melhor após ser diagnosticado com Mal de Parkinson. Penso diferente. A grande luta de Ali foi travada contra a própria sociedade americana, com seus preconceitos e ideologias dominantes.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Napoleão Bonaparte - Verdades e Mentiras

Ele foi um dos principais líderes políticos e militares da história. Isso é um fato. O que poucos sabem é que Napoleão Bonaparte também tinha seu lado ridículo. Como era um ser humano e não um Deus, Napoleão também tinha defeitos - e muitos! Aqui vão algumas perguntas sobre o homem Napoleão Bonaparte.

1. Qual era a altura de Napoleão Bonaparte?
O imperador francês era extremamente baixinho. Embora muitos autores afirmem que ele tinha 1.69 de altura, a verdade é que o general não chegava nem a 1.63. A diferença se deve às botas do militar. Ele tinha complexo de sua falta de estatura e por isso mandava confeccionar enormes saltos que lhe desse alguns centímetros a mais. Afinal um general baixinho corria o risco de virar uma piada entre seus subordinados.

2. Napoleão Bonaparte era impotente?
Sim. Embora posasse de conquistador de mulheres, principalmente depois que se tornou imperador, o fato é que Napoleão tinha problemas sexuais. A explicação sobre sua impotência passa por vários motivos, desde a estafa natural de quem vivia em campos de batalha, passando pelo stress constante que o atormentava 24 horas por dia. O imperador era nervoso, dado a ataques de raiva e fúria. No meio de tanta tensão não sobrava muito para se dedicar aos prazeres da carne e do sexo.

3. Napoleão Bonaparte era racista?
O imperador era completamente racista. Ele considerava os negros uma sub-raça, algo que os deixavam mais próximos a animais do que a seres humanos. Seus atos racistas ficaram notórios, principalmente quando proibiu a entrada de negros em Paris. O general não queria que eles "sujassem" as belas ruas da capital francesa. Ele também tinha extremo desprezo por eslavos e russos, mas isso não o poupou de ser derrotado pelos mesmos povos que desprezava no campo de batalha.

4. Napoleão Bonaparte tinha hemorroidas?
Sim. A vida toda Napoleão passou montado em cima de um cavalo, nas inúmeras campanhas que participou ao longo da vida. Isso acabou lhe valendo doloridas hemorroidas. Na última grande batalha de sua vida, a de Waterloo, Napoleão se atrasou para ir ao campo de batalha pois estava com uma séria crise de hemorroidas que deixaram suas calças brancas completamente vermelhas de sangue. A alimentação e a obesidade também não ajudavam. Napoleão comia comidas extremamente apimentadas, gordurosas e nada sadias. Isso piorava ainda mais sua situação de saúde.

5. Por que Napoleão Bonaparte colocava sua mão dentro de seu uniforme?
A posição mais famosa de Napoleão Bonaparte em quadros e desenhos de época é aquela em que o imperador aparecia com as mãos dentro de seu casaco militar. Há duas explicações para essa pose. Alguns historiadores dizem que o imperador sofria de úlcera. As fortes dores estomacais o fazia pressionar o local da dor. Por isso ele estaria sempre com a mão sobre a dor. Outra explicação seria que Napoleão sofria de Mal de Parkinson e para esconder isso de seus soldados colocava a mão que apresentava tremores dentro de seu casaco militar.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

George Orwell

George Orwell foi um famoso escritor e jornalista inglês, conhecido por alguns dos mais populares e discutidos livros da literatura do século 20 como 'Animal Farm" e" Nineteen Eighty-Four'. Orwell nasceu Eric Arthur Blair em 25 de junho de 1903 no leste da Índia, filho de um funcionário colonial britânico. Ele foi educado na Inglaterra e, depois que ele deixou Eton, entrou para a Polícia Imperial Indiana, na Birmânia, então uma colônia britânica. Demitiu-se em 1927 e decidiu tornar-se um escritor. Em 1928, mudou-se para Paris, onde a falta de sucesso como escritor obrigou-o a trabalhar em uma série de trabalhos braçais. Ele descreveu suas experiências em seu primeiro livro, "Down and Out in Paris and Londres", publicado em 1933, onde finalmente adotou o nome de George Orwell, pouco antes de sua publicação. Isto foi seguido por seu primeiro romance, 'Birmaneses Days', em 1934.

Tornou-se um anarquista no final de 1920, e na década de 1930 começou a considerar-se um socialista. Em 1936 foi contratado para escrever um relato da pobreza entre os mineiros desempregados no norte da Inglaterra, o que resultou no livro "The Road to Wigan Pier" (1937). Mais tarde, em 1936, Orwell viajou para a Espanha para lutar pelos republicanos contra nacionalistas de Franco. Ele foi forçado a fugir do país após se decepcionar com o movimento comunista mundial, pois presenciou grupos socialistas apoiados pela União Soviética reprimindo e massacrando socialistas utópicos. A experiência o transformou em um anti-stalinista ao longo da vida. Entre 1941 e 1943, Orwell trabalhou no setor de publicidade e propaganda para a BBC. Em 1943, tornou-se editor literário do Tribune, uma revista semanal de esquerda. Tornou-se um jornalista prolífico, escrevendo artigos, resenhas e livros.

Em 1945, o livro 'Animal Farm' foi publicado. Se tratava de uma fábula política usando uma fazenda como metáfora da própria sociedade, com base na traição da Revolução Russa pelo ditador Stalin. O livro fez bastante sucesso, tornando Orwell um escritor conhecido e famoso, garantindo-lhe uma vida  financeiramente confortável, pela primeira vez em sua vida. "Nineteen Eighty-Four" foi publicado quatro anos depois. Situado em um futuro totalitário imaginário, o livro causou uma profunda impressão, com o seu título e muitas frases - como 'Big Brother está vigiando você', 'novilíngua' e 'duplipensar' - entrando no uso popular do povo inglês. Após mais esse êxito comercial e de crítica sua saúde começou a se deteriorar. Morreria alguns meses depois de tuberculose em 21 de janeiro de 1950.

Pablo Aluísio.