domingo, 2 de janeiro de 2011

Paul McCartney - Another Day

Primeiro single de Paul McCartney lançado em 1971. Os Beatles já não existiam mais e a carreira solo agora era uma realidade para valer. A faixa de trabalho havia sido gravada nas sessões do álbum "Ram", por essa razão se nota claramente a mesma musicalidade das demais canções do disco. Para muitos "Another Day" teria muito de outro clássico de Paul McCartney lançado na época dos Beatles, a canção "Eleanor Rigby". A letra de ambas tratava da vida complicada de uma mulher anônima no duro mundo em que vivemos.

Assim que a música começou a fazer sucesso muitos perguntaram quem seria a mulher da letra mas Paul, como já tinha explicado várias vezes em relação a outras de suas músicas, declarou que não se tratava de uma mulher real, mas sim "em tese", hipoteticamente falando. Linda também havia aconselhado a Paul a ir em direção a um caminho próprio, criando uma nova sonoridade que em nada deveria lembrar o som dos Beatles. Era algo importante criar algo singular, novo, sem olhar para trás. McCartney achou genial a sugestão da esposa e a levou para o estúdio para dar dicas e opiniões sobre as gravações. Em retribuição também creditou Linda como co-autora da música. Uma forma de agradecer por seu apoio.

"Another Day" foi gravada nos estúdios da Columbia em Nova Iorque. Paul ainda não havia reconstruído sua parceria com George Martin e procurou os estúdios americanos atrás de sua primazia técnica. E foi dentro do estúdio mesmo que Paul, ao lado do engenheiro de som Dixon Van Winkle, decidiu que essa seria sua primeira música a fazer parte de seu pioneiro single solo. A faixa foi gravada de forma muito singela, com apenas três músicos - quase a mesma formação dos Beatles. Além de Paul a gravação contou ainda com as participações de Dave Spinozza na guitarra elétrica e Denny Seiwell na bateria. Paul se encarregou do violão.

Tudo foi gravado dentro de uma singeleza fora do comum, praticamente em take único. Assim que chegaram na versão oficial Paul orgulhosamente declarou que aquela canção "tinha cheiro de hit". E tinha mesmo. Lançada em fevereiro logo caiu no gosto das rádios que a tocaram muito naquele mesmo mês. Na principal parada americana, a famosa Billboard Hot 100, o single alcançou uma ótima segunda posição. Na parada inglesa o mesmo sucesso, também chegando na vice liderança. Já na Irlanda, Suécia e Espanha foi ao topo, mostrando e provando que Paul McCartney certamente tinha cacife para fazer sucesso mesmo fora dos Beatles. Era o começo de uma nova era para o cantor.

Pablo Aluísio.

Rolling Stones - Rolling Stones (1964)

Muitos anos antes dos mega concertos e das mega turnês os Rolling Stones eram uma bandinha tentando conquistar seu lugar ao sol. Seu primeiro disco, intitulado apenas The Rolling Stones, demonstra bem como um grupo que se espalhava nos Beatles ainda demoraria para encontrar seu caminho musical. O disco deixa surpreendido qualquer ouvinte iniciante que só conheça a banda atual. As músicas são interessantes, porém simples, os arranjos beiram o amadorismo e as composições próprias praticamente não existem pois eles sequer se consideravam compositores na época. Assim somos surpreendidos por diversos covers que vão desde Rufus Thomas (Walking The Dog), Jimmy Red (Honest I Do) até Chuck Berry (numa versão nada memorável de Carol). A gravação deixa muito a desejar, o que nos leva a pensar que a gravadora Decca (a mesma que esnobou os Beatles no começo da carreira) não colocava muita fé nesses ingleses branquelos cantando músicas de blueseiros negros americanos.

A única composição da dupla Mick Jagger - Keith Richard é Tell Me, que passa anos luz da qualidade das músicas de Lennon - McCartney que na época estavam no auge da criatividade musical. Talvez por isso o grupo tenha até mesmo assinado inicialmente a canção por um pseudônimo. O disco, apesar de todos esses pontos contra, alcançou grande sucesso de vendas, chegando ao primeiro lugar britânico, o que fez até mesmo o LP ser lançado nos Estados Unidos, fato raro para uma banda estreante. Porém da mesma forma que acontecia com os primeiros discos dos Beatles os americanos acharam a seleção da edição britânica fraca e colocaram para abrir o LP Ianque outro cover de Buddy Holly, Not a Fade Away. Resumindo o disco em si deve ser descoberto pelos admiradores do rock britânico. Não é um excelente trabalho, de forma alguma, mas mostra como poucas obras como se começa uma longa caminhada com um simples passo. Esse foi o primeiro dos Rolling Stones.

The Rolling Stones (1964)

Lado A
1. Route 66
2. I Just Want to Make Love to You
3. Honest I Do
4. Mona (I Need You Baby)
5. Now I've Got a Witness (Like Uncle Phil and Uncle Gene)
6. Little by Little

Lado B
1. I'm a King Bee
2. Carol
3. Tell Me (You're Coming Back)
4. Can I Get a Witness
5. You Can Make It If You Try
6. Walking the Dog

Pablo Aluísio

sábado, 1 de janeiro de 2011

Back to the Future - Soundtrack

Título Original: Back to the Future - Soundtrack
Artista: Vários
Ano de Produção: 1985
País: Estados Unidos
Estúdio / Selo: Warner Bros
Produção: Alan Silvestri
Formato Original: Vinil
Músicos: Huey Lewis and the News, Lindsey Buckingham, The Outatime Orchestra, Eric Clapton, Etta James, Marvin Berry and the Starlighters.

Faixas: The Power of Love / Time Bomb Town / Back to the Future / Heaven Is One Step Away / Back in Time / Back to the Future Overture / The Wallflower  / Night Train / Earth Angel / Johnny B. Goode.

Comentários:
Fechando esse revival de álbuns de sucesso dos anos 80 deixaremos aqui a dica dessa trilha sonora do filme "De Volta Para o Futuro". Sem dúvida uma das mais saborosas e divertidas ficções da história do cinema. O enredo que levava o protagonista de volta aos anos 50 (o berço do rock) certamente abriria espaço para uma seleção musical de primeira. E é justamente o que temos aqui, ótimas canções e faixas realmente inspiradas. Claro que muitos vão classificar o disco como mero lixo musical, mas não é bem por aí. Trilhas Sonoras sempre sofreram de um certo tipo de preconceito no mundo musical, principalmente se soarem como meras coletâneas ao estilo FM (o que de certa forma acontece em parte nesse álbum).

Obviamente o disco tem sua cota de bobagens, mas também tem momentos excepcionais com Eric Clapton (Heaven Is One Step Away) e Chuck Berry (Johnny B. Goode, aqui em ótima versão da banda do personagem principal, Marty McFly e os Starlighters). Pena que três clássicos que aparecem no filme ("Mr. Sandman" do Four Aces, "The Ballad of Davy Crockett" de Fess Parker e "Pledging My Love" de Johnny Ace) tenham ficado de fora. De qualquer maneira para compensar um pouquinho tem o Huey Lewis and the News cantando a inesquecível "The Power of Love" - quem viveu os anos 80 vai entender!

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra 100 Anos

O mundo inteiro está celebrando hoje o centenário do cantor Frank Sinatra. Uma data para se recordar, que não poderia passar em branco. Sinatra foi certamente um dos cinco maiores cantores de todos os tempos. Ele marcou inegavelmente o mundo da música do século XX de uma forma profunda e impactante. Vários biografias e livros estão chegando nessa data e assim os fãs e admiradores poderão conhecer ainda mais o homem por trás do mito que foi criado em torno de seu talento.

Para muita gente que nunca chegou a lhe conhecer profundamente anda surgindo um sentimento de perplexidade e surpresa com alguns fatos de sua vida que estão sendo revelados (não pela primeira vez)  nesses livros. A verdade é que Frank Sinatra não foi e nunca quis ser o cara bonzinho dos filmes românticos daquela época que chegou inclusive a estrelar algumas vezes. Sinatra era outro tipo de homem, um cara forjado dentro do contexto histórico em que nasceu.

Ele tinha sim ligações com o submundo, com chefões do crime organizado, com a máfia italiana. Era turrão e brigão, chegando a agredir desafetos publicamente. Bebia, fumava e não raro tratava mal as mulheres com quem se relacionava. Recentemente inclusive surgiu uma história terrível que teria promovido um estupro coletivo em Marilyn Monroe, que de tão drogada e bêbada não conseguia entender o que acontecia numa das "festinhas" de Sinatra em seu barco. Nos dias de hoje ele poderia ser facilmente qualificado como um cafajeste e até um canalha sem escrúpulos.

Se o homem deixava muito a desejar, o cantor Frank Sinatra era acima de qualquer crítica. Poucos cantores americanos tinham o domínio que ele ostentava em um microfone. Perfeccionista no estúdio não admitia erros de seus músicos, o que legou para a história alguns dos álbuns mais bem gravados da história da indústria fonográfica. Dominou o cenário musical durante mais de uma década até a chegada do rock em meados dos anos 1950, quando finalmente passou a enfrentar concorrência pesada nas paradas partindo de artistas como Elvis Presley, Bill Haley e Chuck Berry. Não era por outra razão que Sinatra detestava o ritmo, o desmerecendo, dizendo que era coisa de marginal e delinquente juvenil. Tudo isso porém é deixado de lado por causa de sua obra. Sinatra com tantos defeitos pessoais foi salvo pela sua música, essa certamente maravilhosa e eterna.

Frank Sinatra - Anos Finais
Com mais de 70 anos de idade, o velho e bom Frank Sinatra continuou a trabalhar. Sua esposa Barbara entendia que o trabalho lhe fazia bem. De fato ele cumpriu extensas e exaustivas agendas de shows nessa fase final de sua carreira. Só que sua saúde já não era mais a mesma. Ele começou a demonstrar nos palcos que a idade estava chegando.

Frank esquecia as letras, mesmo com dois monitores à sua frente, passando as mesmas. Ele também começou a mostrar que estava com sinais de algum tipo de distúrbio que o fazia esquecer de um passado recente. Ele podia, durante o mesmo concerto, contar duas ou mais vezes a mesma piada e apresentar sua orquestra também mais de uma vez.

Frank Sinatra também enfrentava problemas auditivos (ele estava ficando surdo) e visuais (Já não conseguia enxergar direito sua posição no palco). Isso criou muitos atritos entre as filhas de Sinatra e sua atual esposa. Tina Sinatra, por exemplo, tinha ódio de sua madrasta Barbara. Ela havia sido esposa de um dos irmãos Marx, aquela trupe famosa de comediantes, e ganhara o carinho e afeto do velho Sinatra em seus anos finais. Isso para desgosto completo das filhas que a odiavam.

Houve também uma série de mortes que destroçaram o coração do velho ídolo. Sua amada Ava Gardner sofreu um derrame, ficou com uma parte do corpo paralisada e isso devastou Frank. Ela tinha sido o grande amor de sua vida. Depois Sammy Davis Jr morreu, vítima dos excessos do passado. O fumo e a bebida acabaram com ele. Por fim Dean Martin entrou em profunda depressão após a morte de seu filho e nunca mais se recuperou. Ele foi morrendo lentamente depois disso. Com seus amigos e amores do passado morrendo Frank tomou consciência de sua própria mortalidade. Algo que ele definitivamente não queria encarar.

Pablo Aluísio.

The Doors - The Doors (1967)

O primeiro disco do grupo americano The Doors foi gravado em apenas seis dias o que não deixa de ser incrível diante de sua extrema qualidade técnica e sonora. Paul Rothchild, o conceituado produtor que realizou o disco ao lado do grupo, costumava dizer que o álbum era o exemplo de como se criar um grande sucesso em apenas uma semana. E foi isso mesmo. Assim que assinaram com a gravadora, no final de 66, os Doors logo entraram em estúdio e tudo foi finalizado em poucos dias (com um fim de semana de intervalo) . As músicas escolhidas já faziam parte do repertório que a banda vinha tocando em bares na Califórnia durante um ano inteiro, alternando-se entre composições de autoria própria (apesar de serem todas compostas por Morrison e Krieger, a banda inteira levava o crédito no encarte) e covers (Alabama Song, de Kurt Weill e Bertold Brecht, e Back Door Man, de Willie Dixon).

A sonoridade pode ser descrita como um blues urbano e sombrio, misturando influências da música negra e de elementos totalmente novos no mundo da música pop. Sucesso de público (transformou-se logo em disco de ouro) e muito elogiado pela crítica, o álbum se tornou um dos maiores clássicos da história do rock e colocou Jim Morrison e os Doors na ordem do dia. O normal é que todo disco de estreia de qualquer grupo seja pouco ousado, em que os músicos ainda estejam procurando seu próprio caminho, em suma o normal é que o disco de estreia seja produto de uma fase de experimentação, de inexperiência. Esqueça isso em relação aos Doors. Que banda de Rock coloca uma música como "The End" logo de cara em seu debut musical? O disco é uma tijolada no cenário rock da época. Um crítico disse que "Gosto dos demais grupos porque entendo o que eles dizem, com os Doors isso não acontece, quem pode entender o que Jim está querendo transmitir?" Pois é, sem dúvida Jim e banda era por demais avançado para a época. Eles surgiram no momento em que os Estados Unidos e o mundo já haviam perdido a inocência. A guerra do Vietnã estava no ar e os Doors eram ouvidos no sudeste asiático pelas tropas americanas aquarteladas no fim do mundo. "Os Doors foram a trilha sonora do Vietnã" disse depois o diretor Oliver Stone.

Alguns dos maiores clássicos do grupo estão aqui. A começar por "Break On Through (To The Other Side)" uma estranha mistura de bossa nova com rock, "Light My Fire", talvez a mais comercial música do grupo e "The End", uma faixa pouco usual, única, singular, muito mais longa e enigmática do que se costumava ouvir e impossível de se tocar nas rádios por causa de sua interminável duração. O lado blueseiro de Jim Morrison também se mostra muito presente com os excelentes blues "Back Door Man" onde o cantor beira as raias da insanidade e "Alabama Song", em pegada bem mais tradicional do Delta. Em suma é isso. São tantas músicas boas que o disco mais se parece uma coletânea de grandes sucessos. Para entender o som e a filosofia da década de 1960 o álbum se torna obrigatório.

The Doors (1967) - Break on Through (To the Other Side) / Soul Kitchen / The Crystal Ship / Twentieth Century Fox / Alabama Song (Whisky Bar) / Light My Fire / Back Door Man / I Looked at You / End of the Night / Take It as It Comes / The End.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 125

Tédio Real
Data: junho de 1977 / Local: Rushmore Civic Center, Rapid City / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

No final de sua vida quanto mais debilitado ficava, mais Elvis procurava refúgio em Graceland, seu castelo em Memphis. Nesse rancho de 33 acres, no mais puro estilo sulista, o Rei do Rock'n'Roll passava semanas - e às vezes até meses! - em seus aposentos, cercado de todos os cuidados enquanto curtia sua fossa existencial. Graceland está muito bem protegida, tem todas as janelas vedadas e o ar condicionado funciona ininterruptamente, para evitar que Sua Majestade fique transpirando. Agora Elvis está dormindo em sua enorme cama e cada vez mais se parece com Gladys, a sua adorada mãe, cuja foto em sua cabeceira ele contempla amiúde, por horas a fio. Seus cabelos estão grisalhos nas raízes e suas olheiras são profundas. E como ele está gordo! Sua obesidade, todavia, deve-se única e exclusivamente aos seus hábitos alimentares, criados e desenvolvidos quando criança. Elvis está sempre se encapuçando de comida a qualquer hora do dia ou da noite. No seu guarda roupas há uma geladeira tamanho família, recheada com guloseimas para saciar todos os seus repentinos ataques de fome. Durante as madrugadas Elvis é capaz de comer meia dúzia de melões ou tomar dezenas de iogurtes ou, ainda, devorar dúzias de picolés! 

Quando acorda sua primeira preocupação é com o relógio. Após uma ligeira olhadela na TV colorida aos pés da cama constantemente ligada, mas com o som inaudível Elvis telefona para a cozinha querendo saber que horas são: "Quatro horas, chefe!" - informa a cozinheira de plantão. "Da manhã ou da tarde?" pergunta ele ainda grogue pelos efeitos dos barbitúricos. Sua primeira refeição é sempre a mesma coisa, vinte fatias de bacon bem tostadas, batatas amassadas, uma porção de Sauerkreat (repolho cozido e fermentado), um prato de ervilhas e algumas rodelas de tomate. Misturando as batatas ao repolho e às ervilhas, ele transforma tudo numa pasta, a qual devora às colheradas. Com os dedos da mão esquerda ele pega os alimentos sólidos e, quando toma seu café, coloca os lábios na parte logo acima da asa da xícara, um lugar jamais tocado pela boca de uma outra pessoa. Rindo e brincando com seu prato como se fosse uma criança, sempre se distraindo com alguma coisa na televisão ou com o telefone que toca, sua comida acaba esfriando e é substituída por outra quente. 

Desse modo, Elvis acabava comendo grande parte de até três ou até mesmo quatro pratos! Portanto, a causa de sua "misteriosa doença" que fez com que ele atingisse os 120 quilos de peso, era apenas a sua gula compulsiva. Barriga cheia, é hora do Rei do Rock ir repousar e recrear seu espírito. Durante seus prolongados repousos, Elvis jamais ficava sozinho, salvo por algumas poucas ocasiões em sua vida. Quando desejava se entreter durante seus "retiros", havia dois televisores pendurados no teto de seu quarto, além de outra gigantesca aos pés da cama, onde Elvis assistia aos seus limites em video cassete. Ele curtia muito "As grande lutas do século", a cena do assassinato de John Kennedy, ou imaginar-se na pele de Clint Eastwood em Dirty Harry. Mas acima de tudo, Elvis adorava dar boas gargalhadas com o humor refinado dos filmes do grupo britânico Monthy Python. 

A comédia sofisticada e as piadas cheias de nonsense da trupe de humoristas ingleses o divertiam tanto, que demonstravam existir ainda resquícios de inteligência em sua mente deteriorada. Durante essas semanas de isolamento, Elvis podia observar qualquer cômodo da mansão ou ver os fãs no portão musical, graças a um sistema de TV de circuito fechado, com câmeras por controle remoto espalhadas por toda Graceland, e ligadas a monitores instalados atrás de sua cama. Era uma experiência comum a qualquer pessoa que pusesse os pés nesse estranho palácio perceber em meio à uma conversa que a câmera da sala havia parado e estava focalizada diretamente sobre o seu rosto - O Rei estava de olho!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 124

O Menino da Bolha de Plástico
Data: 1976 / Local: Dallas / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

Retiro na Elvis Presley Boulevard 
Caso estivesse num astral romântico, Elvis gostava de ouvir o velho ator Charles Boyer declamar versos sntimentalóides sobre um fundo musical Hollywoodiano: "Se o coração é o lugar de onde vem o amor / Então para onde vai o amor quando se morre? / De volta ao coração de onde veio / Ou se transforma em lágrimas nos olhos?" Depois de mais alguns versos com pensamentos tão profundos como estes, um coro virginal invadia o sistema de som quadrafônico, os violinos subiam em crescendo e a música torna-se estratosférica e muito adequada para curtir uma dor de cotovelo sob efeito de drogas. 

Deitado no sofá da sua sala de estar que mais parece o hall de um hotel havaiano, escutando enlevado as açucaradas poesias recitadas pela voz profunda e ressonante de Charlers Boyer e completamente entupido de narcóticos, assim devemos imaginar o Rei do Rock curtindo seus momentos de ócio no período final de sua vida. A única coisa que tirava Elvis desse eterno torpor era a necessidade de voltar à estrada para cumprir seus contratos. Nessa altura de sua vida as viagens já haviam se tornado um farto na vida do cantor, pois viajar já não lhe trazia mais nenhum prazer. Para diminuir o desconforto da estrada, Elvis logo comprou um avião particular. Presley gabava-se de ser o único artista do mundo a possuir seu próprio jato de quatro turbinas batizado de Lisa Marie em homenagem à sua filha. Esse avião foi adquirido para comemorar seu 40º aniversário e sua intenção era voar numa réplica do Air Force One, o Boeing 707 do presidente dos Estados Unidos. Por pouco mais de 1 milhão de dólares, Elvis comprou e redecorou a seu gosto um Convair 880, que transportava 96 passageiros quando em operação pela Delta Airlines. 

Quando se olha para o Lisa Marie, lembra-se imediatamente do Air Force One, com aquelas faixas azul e vermelha atravessando o avião branco de cabo a rabo. Mas o interior do Lisa Marie não tem nada a ver com o avião presidencial: dividido em três seções principais, na frente fica a sala de estar e recreação, com sofás e mesas para jogos, televisores e um sistema de som quadrafônico de 15 mil dólares. No meio fica a sala de jantar ou de conferências, com uma grande mesa rodeada por seis poltronas tipo espacial. Esta sala é também um centro de comunicações, contando inclusive com um telefone capaz de fazer ligações para qualquer lugar do planeta. Na parte traseira, onde pode embarcar e desembarcar sem ser visto, fica o compartimento mais importante do avião: o apartamento de Elvis, uma versão aerotransportada de seu quarto e banheiro de Graceland, totalmente decorado em tons azul e com todas as comodidades encontradas na mansão. 

Como aquele garoto doente que só podia sobreviver dentro de uma bolha de plástico, Elvis parecia incapaz de viver fora de seu habitat artificial. Enquanto o majestoso avião cruza os céus dos Estados Unidos em direção ao deserto de Nevada, os controladores de tráfego aéreo dos aeroportos vão saudando o Rei do Rock'n'Roll por onde ele passa: "Alô oitenta Eco Papa!...Como gostaríamos de estar aí com vocês...Diga a Elvis que nós o amamos!".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 123

Elvis, o mão aberta
Data: junho de 1977 / Local: Rushmore Civic Center, Rapid City / Texto: Lu Gomes / Photo: Elvis In Concert. 

Ouro de Tolo 
Com 40 anos de idade, Elvis Presley tinha conseguido ganhar milhões de dólares - e estava duro! O motivo é simples: ele era o mais impulsivo consumidor de todos os tempos. Suas extravagâncias tornaram-se lendárias. Uma noite em Memphis, ele comprou 14 cadillacs e, quando uma velha senhora negra vinha passando pela calçada, deu de presente a ela um dos carros mais luxuosos. A sua súbita mania de comprar aviões (depois de passar a vida inteira com medo de voar) fez dele o proprietário de uma frota de quatro aviões a jato. A disposição de instalar seus camaradas em casas novas, impulso que se estendeu a Linda Thompson, que além de ganhar uma casa só para ela, ainda ganhou uma para os pais e outra para o irmão. 

Esse jeito de gastar dinheiro, apenas permitido a um xeque do petróleo, só poderia mesmo deixar Elvis Presley a um passo da pobreza! Mas ele não foi sempre assim. Quando jovem Elvis era tão pão duro quanto seu pai Vernon. Mais tarde, no ínicio dos anos 60, Elvis ficou tão impressionado com textos religiosos do tipo "será muito mais díficil para um homem rico entrar no reino dos céus do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha" e praticamente começou a jogar dinheiro fora nos seus anos finais. Considere esses atos de desvario. No 8º aniversário de Lisa Marie em 1976, Elvis estava recebendo em Graceland dois de seus amigos policiais preferidos: o detetive Ron Pietrafeso e o capitão Jerry Kennedy, ambos da polícia de Denver, Colorado. À noitinha, Elvis começou a falar sobre um incrível sanduíche que havia saboreado em um restaurante de Denver. A delícia era feita com pão francês, geléia, pasta de amendoim e bacon e custava 50 dólares, o que era o motivo de seu nome: Fool's Gold (ouro de tolo). Enquanto Elvis falava, um dos caras ficou com água na boca e disse: "Rapaz, como eu gostaria de um desses agora!". Imediatamente uma luzinha piscou na mente de Elvis e ele não vacilou. Qualquer que fosse o desejo que se fizesse no palácio do Rei do Rock, ele seria atendido: "Então vamos lá comer um!" - ordenou Elvis. Num piscar de olhos, 19 pessoas estavam à bordo do Lisa Marie voando para o Colorado. 

Pelo telefone do avião foram encomendados 22 suculentos sanduíches (três para a tripulação), uma caixa de champanhe e uma de água mineral. À 1:40h da madrugada, quando o Lisa Marie aterrissou no aeroporto de Denver, o dono do restaurante levou a comida a bordo e todos degustaram os sanduíches, em seguida o avião decolou de volta a Memphis, a 3000 Km de distância. De acordo com o piloto Milo High, esses 22 sanduíches mais os custos operacionais de colocar a aeronave no ar custaram ao Rei uma quantia superior a 100 mil dólares. O alto custo financeiro desse simples capricho e impulso de Elvis foi gasto em menos de três horas! Conseguir seu quinhão do tesouro real tornou-se um das maiores preocupações na corte do Rei moribundo. Um dos que se deram bem foi o médico particular de Elvis, Dr George Nichopoulos. Primeiro o médico ganhou a tradicional casa nova no valor de 350 mil dólares. Depois o Dr Nichopoulos se juntou a um grupo de médicos para construírem um centro clínico no valor de 5.5 milhões de dólares e de novo ele foi buscar ajuda financeira em seu principal cliente. A grana não era muito importante para os caras da máfia de Memphis no começo. Elvis nunca pagava um salário de verdade, mas isso realmente não importava quando se era jovem, solteiro, despreocupado e se ficava circulando com o chefe em carros luxuosos e curtindo uma festa todas as noites, onde havia pelo menos dez garotas para cada um deles. 

Mas, quando os caras se casaram e tiveram filhos, as coisas mudaram e os salários passaram dos ridículos 35 dólares mensais em 1960 para 170 dólares semanais em 1970 e em 1976, 350 dólares por semana. Dessa forma Elvis estava desembolsando pessoalmente, todos os meses, cerca de 30 mil dólares apenas para manter sua guarda pessoal, sua entourage. Mas mesmo assim isso ainda era muito pouco para um serviço de dedicação exclusiva e que envolvia até mesmo risco de vida. Tá legal, de vez em quando Elvis jogava um carro luxuoso na mão de cada um deles, mas os caras eram obrigados a vendê-los porque, com o salário que ganhavam, não era possível sustentar um Cadillac ou uma Mercedes. E se algum deles caísse mesmo na graça do chefe poderia conseguir uma casa nova ou então todas as suas contas pagas. Existiam ainda as gratificações natalinas e um abono no final de cada excursão, mas os valores deles dependiam muito de quem os determinavam: se fosse Elvis, cada um dos caras recebia uns 5 mil dólares, mas se fosse Vernon (que odiava os caras da máfia) cada um ganharia apenas um salário semanal e olhe lá. 

Um dos grandes problemas dos caras era o desgaste de seus casamentos. Nenhum escapou do divórcio. Todas as esposas sabiam muito bem que, durante as excursões, seus maridos aprontavam o diabo. "Esposas não vão nas excursões", essa lei imposta por Elvis admitia apenas uma interpretação: Elvis ainda levava uma vida de solteiro mulherengo e os caras tinham que fazer o mesmo. As esposas odiavam esse esquema e o homem que o criou: Elvis Presley. E os caras ficavam entre dois fogos, como um cabo de guerra entre seu patrão e suas esposas. Também o que mais poderia se esperar? As esposas dos caras da máfia de Memphis eram todas ex showgirls, bailarinas e atrizes, e é claro que não eram do tipo que ficavam sentadas em casa, escutando todos aqueles boatos sobre as farras orgiásticas que seus maridos se metiam junto com Elvis Presley.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 122

Tomando conta dos negócios
Data: junho de 1977 / Local: Omaha / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

800 mil dólares em jóias 
Durante esse mesmo ano ou talvez no seguinte, Elvis estava dando um concerto numa cidadezinha da Carolina do Norte. Ele detestava trabalhar nesses lugares. Porém como estava muito deteriorado pelo abuso de drogas e sendo selvagemente criticado pela imprensa, o coronel Parker achou melhor levar sua "propriedade" para se apresentar cada vez mais longe dos grandes centros urbanos. Embora Elvis fosse recebido como um messias, santo ou pastor religioso nessas cidades interioranas, havia ocasiões em que a platéia não gostava muito do que via. Mas, em vez de dar duro e conquistar o público, Elvis simplesmente o comprava. Afinal de contas ele era o Rei, e reis não precisam pedir nada às audiências - aliás, um rei concede audiências! Então, nessa noite em particular, vendo que não estava recebendo a devida atenção da platéia, Elvis de repente interrompeu o show. Enquanto todos no palco o olhavam incrédulos, o Rei chamou o seu ourives real, um joalheiro de Memphis chamado Lowell Hays e que, como todos ao redor de Elvis, também havia tirado a sorte grande. Hays acompanhava Elvis em todas as apresentações, sempre carregando consigo uma caixa cheia das mais caras jóias femininas, para Elvis presentear suas favoritas do momento ou qualquer outra que aparecesse, contanto que lhe desse vontade. 

Desse modo, em pouco tempo, Hays vendeu ao Rei do Rock mais de 800 mil dólares em jóias. Assim que o joalheiro entrou no palco, Elvis ordenou que a caixa fosse aberta. Então ele retirou um anel de seu interior e, como se fosse um desses animadores de TV que distribuem prêmios, Elvis mostrou a jóia ao público e perguntou: "Lowell, o que é isso que eu tenho na mão?" "Isso é um anel de ouro branco com uma estrela de safira incrustada, Elvis" - responde Hays. "Quanto custa, Lowell?". "Custa três mil e quinhentos dólares, Elvis". Com isso, Elvis se dirigiu a uma velhinha que estava sentada na primeira fila do teatro. "Vovó, quero que aceite isso porque você me recorda muita a minha velha avó Dodger, que está lá em Memphis!" E enfiou o anel no dedo da velha senhora. O auditório explodiu em gritos, suspiros e lágrimas! Pronto, agora Elvis tinha todos sob seu domínio. Mas acha que ele parou por aí? Que nada! Elvis não se contentava em dar apenas um presente espetacular e foi em frente até esvaziar por completo a caixa de jóias! 

No final, 35 mil dólares em anéis, brincos, pulseiras e colares foram distribuídos entre as duas primeiras filas do auditório, antes que Elvis desse prosseguimento ao seu show. Pobre Vernon! Ele quase teve um ataque cardíaco nos bastidores, ao ver o filho jogar dinheiro fora desse jeito tão tolo e infantil. Elvis por sua vez se divertiu como nunca, presenteando seus fãs, distribuindo beijos e abraços para todos! Esse seu comportamento extravagante Elvis justificava insistindo que poderia ganhar imensas somas em dinheiro na hora que quisesse, simplesmente se apresentando em um palco! E isso era a pura verdade como ele bem demonstrou nos anos 70. Em 1974 por exemplo Elvis deu 152 shows e ganhou uma incrível quantia de dinheiro. Nada mal hein? Mas isso não foi suficiente e no final do ano ele foi obrigado a sacar grande parcela dessa soma para poder pagar suas contas! Para onde foi essa grana toda? Para o mesmo lugar de sempre: altos custos operacionais, incluindo 1.7 milhão de dólares pelos serviços de seu empresário Tom Parker, 2.3 milhões de dólares para cobrir os custos de seus shows e banda, 1.8 milhão de dólares em impostos e mais de 1.5 milhão de dólares apenas com suas despesas pessoais. 

No final de tudo sobrava pouco mais de 700 mil dólares ao ano para Elvis de lucro, mesmo assim dava para muito bem para se virar com essa grana, mas não Elvis, que tinha entrado numas de comprar aviões! Quanto aos seus negócios com o Coronel Parker tudo o que Elvis sabia era que, toda semana, chegava uma nota de pagamento do escritório do coronel, relatando quanto ele havia ganho através de sua inúmeras firmas, bem como a dedução de 25% (às vezes até 50%) pelos serviços do empresário. Esse dinheiro ia para sua conta bancária e o banco se encarregava de deduzir os impostos. Só isso Elvis sabia a respeito de seus negócios! Resumindo: todo esse sistema era uma perfeita demonstração de como "não tomar conta dos negócios"!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

domingo, 26 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 121

Divórcio e Traição
Data: dezembro de 1972 / Local: Memphis, TN / Texto: "Elvis e Eu" de Priscilla Presley e Sandra Harmon / Photo: RCA Victor. 

O outro lado da história 
Mais tarde, naquela mesma noite, na suíte imperial do Hotel, Elvis encorajou-me a treinar com Mike Stone. "Ele possui a qualidade do matador. Não há nada de duas pernas que possa derrotá-lo. Estou impressionado desde a primeira vez que o vi lutar. Gosto do seu estilo". De volta a Los Angeles acertei com Mike Stone que iria à sua academia no final de semana e assistiria uma de suas aulas. Era uma viagem de carro de 45 minutos. Elvis tinha razão. Mike irradiava confiança e classe, assim como muito charme pessoal e espírito. Uma amizade profunda logo se desenvolveu entre nós. Por causa da distância, resolvi continuar o treinamento com um amigo de Mike, Chuck Norris, que tinha uma academia perto de minha casa. Mike aparecia por lá de vez em quando, como instrutor convidado. Eu estava saindo do mundo fechado de Elvis, compreendendo como minha existência fora resguardada até então. Mike e Chuck introduziram-me aos filmes populares de artes marciais japonesas, como a série do espadista cego. Em companhia de Mike, compareci a torneios de caratê locais e nos condados vizinhos, levando para casa fotos e filmes dos maiores lutadores de caratê. Queria absorver seus estilos individuais, a fim de partilhá-los com Elvis, na esperança de que fosse uma coisa que pudéssemos desfrutar em comum. 

Ao final, porém, criei um novo círculo de amigos, que me aceitava por mim mesma. As artes marciais me proporcionaram tanta confiança que comecei a experimentar meus sentimentos e expressar minhas emoções como jamais acontecera antes. Acostumada a reprimir minha raiva, eu podia agora descarregá-la honestamente, sem medo de acusações e explosões. Parei de pedir desculpas por minhas opiniões e de rir de piadas sem graça. Tive oportunidade de observar casamentos fora de nosso círculo intimo, em que a mulher podia se manifestar tanto quanto o homem nas decisões cotidianas e nos objetivos a longo prazo. Fui confrontada com a descoberta dura de que viver como eu vinha fazendo há tanto tempo era bastante anormal e prejudicial ao meu bem estar. Meu relacionamento com Mike Stone se desenvolvera agora para uma ligação amorosa. Eu ainda amava Elvis profundamente, mas durante os meses seguintes compreendi que teria que tomar uma decisão crucial sobre o meu destino. Sabia que devia assumir o controle sobre a minha vida. Não podia renunciar a minhas novas percepções. Havia um mundo enorme lá fora e eu tinha que encontrar o meu lugar nele. Gostaria que houvesse algum meio de partilhar com Elvis minha experiência e crescimento. Desde a adolescência que ele me moldara num instrumento de sua vontade. Com extremo amor, eu cedera à sua influência, tentando satisfazer cada desejo seu. 

E agora ele não estava ao meu lado. Acostumada a viver em quartos e cômodos escuros, mal vendo o sol, dependendo de acessórios químicos para adormecer e acordar, sob o cerco de guarda costas que nos distanciavam da realidade, eu ansiava pelos prazeres mais normais. Comecei a apreciar as coisas simples que gostaria de partilhar com Elvis e não podia: passeios pelo parque, um jantar à luz de velas para dois, risos. Como a maioria dos casais rompendo um casamento, passamos por um período difícil, antes de finalmente aceitarmos o fato de que estávamos nos separando. O divórcio foi consumado a 9 de outubro de 1973. Embora Elvis e eu continuássemos a nos falar regularmente, não nos encontramos pessoalmente nos últimos meses, um período de tensão, enquanto os advogados procuravam acertar tudo. Elvis e eu acabamos resolvendo tudo diretamente. Ambos éramos bastante sensíveis e ainda preocupados com os sentimentos um do outro para saber que queríamos evitar discussões e acusações amargas e tentativas de atribuir a culpa um ao outro. A principal preocupação era Lisa, cuja custódia concordamos em partilhar. 

Permanecemos tão ligados que Elvis nunca se deu ao trabalho de pegar sua cópia da sentença do divórcio. Acompanhada por minha irmã Michele, esperei no tribunal de Santa Mônica pela chegada de Elvis. Quando ele apareceu, fiquei chocada por sua aparência. Suas mãos e rosto estavam inchados, ele suava profusamente. Fomos para a sala do juiz, seguido por Vernon, Michele e os advogados. Elvis e eu sentamos diante do juiz, de mãos dadas, enquanto ele efetuava as formalidades do divórcio. Mal ouvi as palavras ditas por ele, de tão atordoada pelo estado físico de Elvis; não parava de passar os dedos por suas mãos inchadas. Imaginei se a nova namorada de Elvis, Linda Thompson, saberia o quanto ele precisava de amor e atenção. E acabei sussurrando em seu ouvido: "Sattnin, ela está cuidando direito de você...vigiando seu peso e dieta, esperando você pegar no sono de noite?" O juiz acabou de ler a sentença. O sonho que eu acalentara, de uma união perfeita estava encerrado. A esperança de um casamento ideal, que absorvera todos os meus pensamentos e energia desde os catorze anos de idade, findava com o movimento de uma caneta. Sentindo um vazio enorme, voltei com Michele para meu carro. 

Elvis, seu pai, seu advogado e alguns dos rapazes encaminharam-se para a limusine. Na passagem, eu acenei, ele piscou-me. A afinidade mútua que partilhávamos sempre existira. Quando nos encontrávamos, era como se nunca estivéssemos nos separado, trocando beijos afetuosos e sentando de braços dados, com Lisa em nossos colos; quando estávamos apartados, jamais criticávamos um ao outro. Uma vez lhe perguntei: "Acha que realmente um dia poderá viver apenas com uma mulher?". Elvis respondeu me olhando nos olhos: "Acho que sim. E agora mais do que nunca. Sei que fiz muitas coisas estúpidas, mas a pior de todas foi não compreender o que tinha até que perdi. Quero minha família de volta".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio.