segunda-feira, 30 de outubro de 2006

A Volta dos Homens Maus

Mais um bom western estrelado por Randolph Scott. Ele interpreta um rancheiro que decide vender seu gado, sua propriedade, para ir embora, para outra cidade, onde está prestes a acontecer uma nova corrida ao ouro. Antes disso porém uma quadrilha de assaltantes a banco invade uma pequena cidade. No grupo se encontra até mesmo uma mulher, Cheyenne (Anne Jeffreys), que durante uma fuga acaba sendo baleada, indo parar no rancho de Scott.

Ele decide ajudá-la. Não apenas a escondendo da patrulha que a persegue, como também pedindo ajuda ao médico local. Curada, ela decide finalmente se redimir daquela vida. Outro personagem interessante do filme - e o alívio cômico - vem do personagem interpretado pelo ator George 'Gabby' Hayes. Ele fez muitos filmes ao lado de John Wayne e John Ford, sempre interpretando velhinhos matutos e bons de briga. Aqui ele esbanja a mesma linha de humor que o tornou conhecido nos filmes de faroeste daquela época.

Outro ponto que vai chamar a atenção dos fãs de western vem da quadrilha de assaltantes a banco. Ela é formada por lendas do velho oeste como Billy The Kid, Sundance Kid, os irmãos Dalton. Clato que os roteiristas desse filme fizeram uma salada geral, juntando personagens históricos reais em um mesmo bando. Na realidade eles viveram em épocas e lugares diferentes e nunca se conheceram de fato. Porém para esse filme todos foram reunidos em prol da diversão do público. De maneira em geral gostei muito dessa produção. É bem realizado, tem um bom roteiro e um desfecho que segue a tradição de muitos filmes de western, com direito a um duelo bem no meio de uma cidade fantasma localizada no deserto.

A Volta dos Homens Maus (Return of the Bad Men, Estados Unidos, 1948) Direção: Ray Enright / Roteiro: Charles O'Neal, Jack Natteford / Elenco: Randolph Scott, Robert Ryan, Anne Jeffreys, George 'Gabby' Hayes, Jacqueline White / Sinopse: Quadrilha de pistoleiros e foras-da-lei se reúne em uma pequena cidadezinha do velho oeste para roubar o banco local. Enquanto isso um rancheiro decide vender tudo para entrar na corrida ao ouro que está sendo organizada rumo ao novo estado da Califórnia.

Pablo Aluísio. 

Anne Jeffreys

A atriz que interpretou a bandoleira Cheyenne no filme "A Volta dos Homens Maus" teve uma longa e bem produtiva carreira no cinema. Também foi uma mulher longeva, só vindo a falecer aos 97 anos de idade, em 2017. Ao longo de toda a vida atuou em mais de 80 filmes, muitos deles considerados verdadeiros clássicos da sétima arte.

Também foi uma atriz atuante em séries de TV, principalmente após ter chegado numa certa idade, onde as personagens para filmes de cinema foram rareando. Sim, Hollywood sempre foi bem preconceituosa nesse aspecto, principalmente entre as mulheres. Atrizes mais velhas acabam ficando sem trabalho nos grandes estúdios de cinema. Uma triste realidade.

Em 1973 foi indicada ao Globo de Ouro na categoria de melhor atriz em série - drama. O programa se chamava "The Delphi Bureau". Entre as séries memoráveis em que trabalhou vale a pena citar "Cavalcade of America", "Caravana", "Bonanza", "O Agente da UNCLE", "Tarzan", "Os Novos Centuriões", "Galactica: Astronave de Combate", "Vega$", "Buck Rogers" e "Ilha da Fantasia". Foram muitos anos de trabalho em emissoras americanas e muitas dessas séries também fizeram bastante sucesso de audiência no Brasil.

Já no cinema é importante citar alguns filmes clássicos em que ela atuou, com destaque para  "Emboscada para Billy the Kid", "Tarzan Contra o Mundo", "Bandoleiros da Fronteira", "O Vale dos Bandidos", "Dick Tracy", "O Punhal Sangrento", "O Passo do Ódio" e o já citado "A Volta dos Homens Maus" onde fez par romântico ao lado de Randolph Scott. Em suma, ela foi também uma autêntica cowgirl dos filmes clássicos de faroeste em sua era de ouro, entre as décadas de 1940 a 1960.

Pablo Aluísio.

domingo, 29 de outubro de 2006

Perfil: John Wayne

Durante grande parte da história do cinema americano no século XX, um ator encarnou como ninguém o herói máximo do gênero western, sendo muitas vezes considerado ele próprio, o seu nome, um sinônimo do faroeste, pois para a geração que cresceu assistindo a suas películas, "filmes de bandido e mocinho" eram praticamente a mesma coisa que "filmes de John Wayne". Símbolo do machismo e um dos maiores campeões de bilheteria de Hollywood, John Wayne não era considerado um grande ator pela crítica, que o achava apenas "um tipo", principalmente de faroestes. Era o que bastava para que sua figura corpulenta e seu olhar ambíguo – ora doce e ingênuo, ora irascível – criasse a mitologia do durão que muitas vezes fazia justiça com as próprias mãos. Mario Michel Morrison nasceu em Winterset (Iowa) em 25-05-1907. Começou como dublê de faroestes, em 1928, até ser lançado por Raoul Walsh em "A Grande Jornada" (1930). Demorou nove anos e cerca de cinqüenta filmes classe B antes de John Ford o escalasse para o filme "No Tempo das Diligências". John Wayne foi o favorito dos diretores John Ford e Howard Hawks, que dele arrancaram performances inesquecíveis em clássicos como nesse sucesso absoluto, O filme juntou pela primeira vez John Ford e John Wayne num grande filme - dois heróis e símbolos do próprio cinema americano daqueles tempos - e seria o pontapé inicial definitivo do mais americano dos gêneros - ou do único gênero genuinamente americano, já que ele somente se desenvolverá em território americano em sua premissa básica - o desbravamento do oeste daquele país.

As paisagens do Monument Valley apareciam esplendorosas para contar a mais clássica das histórias do gênero - a carruagem que atravessa o deserto e sofre um violento ataque de índios. As bases para o gênero foram lançadas. O público aprovou. Uma era se iniciava na terra de Tio Sam. O sucesso seguinte de John veio com “Depois do Vendaval” – arrastando Maurren O'Hara pelos cabelos diante dos habitantes de uma cidade irlandesa, Sendo seguido por “Rio Vermelho”, que lançou Montgomery Clift. A famosa crítica de cinema Pauline Kael chamou o filme de "ópera a cavalo". Na opinião de John Wayne, somente "Rastros de Ódio" o superava. Era um de seus preferidos. O astro americano gostava de personagens fortes. Em "Rastros de Ódio" ele compôs o mais perfeito retrato da amargura com seu personagem Ethan. Aqui, ele compõe igualmente um tipo forte, - o pai, vaqueiro, que leva o gado embora do sul após a guerra com uma série de incidentes. Seu maior entrave, no entanto, é o relacionamento com o filho - Montgomery Clift. Narrada através das páginas de um diário, é um exemplo do estilo "macho" de cinema de Hawks, tecnicamente impecável, com brilhante trilha sonora de Dmitri Tiomkim.

A virada definitiva na carreira de John Wayne se deu com "Rastros de Ódio", este não é apenas o melhor filme do mestre John Ford. Foi incluído em várias listas como um dos melhores de todos os tempos em todos os gêneros. Poucos filmes têm a densidade psicológica deste drama das pradarias que narra a busca obstinada de Ethan, um homem duro e insensível, que luta por vingança. Índios incendiaram a casa de seu irmão e de sua cunhada, mataram toda a família e raptaram suas duas sobrinhas. Uma delas é encontrada morta, e a outra, na visão de Ethan, está perdida para sempre e deve morrer... assim que ele a encontrar. Sua busca atravessa os anos como seu único objetivo de vida, atravessa as estações e nada pode perturbá-lo. Poucos personagens incorporaram a imagem da solidão e da obstinação que este interpretado por outra lenda do cinema, John Wayne. Pelo que representa e por tudo que tem atrás de si, "Rastros de Ódio" é um dos maiores filmes da história do cinema.

Na vida pessoal John Wayne também tinha suas "obsessões". Com acentuada preferência por mulheres latinas, John Wayne foi casado com duas mexicanas: Josephine Saenz (33/44) de quem teve os filhos Melinda, Michael (que se tornou produtor) e Patrick (ator) e Esperanza Baur (46/53). Em 1954 casou-se com a peruana Pilar Palette, que lhe deu os filhos Aissa, Marisa e Ethan (nome de seu personagem em “Rastros de Ódio”). Divorciaram-se em 1973.

O ator continuou sua carreira com uma grande lista de sucessos, entre eles “Onde Começa o Inferno” (1959), “O Homem Que Matou o Facínora” (1962) e “El Dorado” (1967). Mas foi sob a direção de Henry Hathaway que John Wayne conseguiu o Oscar de melhor ator por “Bravura Indômita”, aqui temos a estória de uma garota de 14 anos que decide se vingar do bandido que roubou e assassinou seu pai e só consegue ajuda de um xerife bêbado e caolho. Para atrapalha-los um jovem texano resolve ajudá-los porque quer matar o bandido primeiro e receber uma recompensa. A Academia jamais se lembrou de John Wayne antes como candidato para o Oscar - apesar de seus bons desempenhos em “Rastros de Ódio”, por exemplo - e acabou lhe dando o primeiro por este faroeste outonal, em que o ator aparece como uma ruína de si mesmo, velho e gordo, mas com muita garra e seu habitual carisma. O profissionalismo do diretor Hathaway, o ótimo elenco, a boa música do especialista Elmer Bernstein e a caprichosa fotografia de Lucien Ballard valorizam ainda mais o espetáculo. Baseado no romance de Charles Portis. O filme teve uma continuação em 1975: "Justiceiro Implacável" com o próprio Wayne e Katherine Hepburn. "Se eu soubesse, teria adotado o tapa olho há 35 anos" brincou John Wayne ao ganhar seu primeiro Oscar pelo filme. Antes, tentando provar que levava muito a sério sua profissão dirigiu “O Álamo” (1959) e “Os Boinas Verdes” (1968) constrangedora tentativa de defender a guerra do Vietnã – na política ele sempre foi conservador.

Nos anos 70, John Wayne tentou se adaptar aos novos tempos, tentando novos gêneros como seu personagem em "McQ, um Detetive Fora da Lei ", aqui Wayne faz o papel de um policial que após a morte de um companheiro, investiga um caso de tráfico de drogas cujas pistas acabam indicando uma conexão com a própria polícia. O diretor Struges deixa aqui os espaços amplos do faroeste - estilo que o consagrou. Transpõe para o ambiente urbano o herói ético, durão e honesto criado por John Wayne em inúmeros outros filmes, sem perder a noção de ritmo e ação, que esbanjou em seus melhores westerns. Apesar da tentativa de mudança, seu lar era mesmo o western e o ator acabou retornando ao personagem que o fez ganhar o Oscar, assim Wayne estrelou "Justiceiro Implacável" onde a filha de um pastor conta com a ajuda de um pistoleiro para tentar encontrar os homens que mataram seu pai. Continuação de “Bravura Indômita”, com roteiro que lembra o famoso "Uma Aventura na África". Produção que foi valorizada pela presença de John Wayne e Katherine Hepburn. Este foi o penúltimo filme do Duke.

O peso da idade finalmente chegou ao velho cowboy na década de 70. Mesmo doente nunca pensou em se aposentar: "A única que sei fazer é trabalhar. A aposentadoria vai me matar". Lutou bravamente contra o câncer que se abateu sobre ele e sempre afirmava quando perguntado sobre seu estado de saúde: "Liquidei-o. Comigo não há câncer que agüente. Para o inferno com o Big C!". No final de sua carreira, já velho e cansado, Wayne deu uma entrevista para a revista de cinema Variety e afirmou: "É possível que não se interessem mais pelos serviços deste cavalo velho e o larguem no pasto, mas trabalharei até isso acontecer" Também brincou com o fato de algumas revistas afirmarem que estava ficando sem cabelos: "Não tenho vergonha da minha careca, mas não vejo por que obrigar as pessoas a vê-la".

Em 1976, Wayne se despediu das telas e fez seu último filme, "O Último Pistoleiro", com Lauren Bacall, no papel de um velho cowboy morrendo de câncer mas ainda lutando. O roteiro, que tinha muito a ver com a própria vida do ator trazia a estória de um velho e lendário pistoleiro que sofria de câncer e procurava um local onde pudesse morrer em paz. Mas não conseguia escapar de sua reputação. Era baseado em um romance de Glendon Swarthout. John Wayne, perfeito em seu último papel, também já sofria da mesma doença, que o matou em 1979. Este foi o último filme da carreira de John Wayne. No total havia participado de 172 filmes ao longo da carreira!

Em 11 de junho de 1979, o homem que melhor se identificou com os heróis da colonização americana morreu vítima de câncer nos pulmões, mas entrou para sempre no Olimpo dos deuses da sétima arte.

Pablo Aluísio

Audrey Hepburn

Audrey Hepburn
A atriz foi durante décadas sinônimo de elegância, sofisticação e glamour. Em uma carreira tão marcante, de tantos filmes inesquecíveis, se destacam dentre outros “Bonequinha de Luxo”, “Sabrina”, “A Princesa e o Plebeu”, “Uma Cruz à Beira do Abismo”, "Infâmia" e “Minha Bela Dama”. Em todos esses seus clássicos foi bastante elogiada pela crítica. Foi um caso até raro de atriz que conseguia agradar igualmente ao público e aos críticos de cinema. Tinha praticamente unanimidade nesse aspecto. Todos pareciam gostar dela.

Sua filmografia não é longa. Comparada com os demais astros e estrelas de sua época ela realmente fez poucos filmes. Foram apenas 34 filmes como atriz. A estreia se deu na TV, em 1949, um filme simples. Era uma garotinha. Seu primeiro filme mesmo, considerada por ela mesma, foi "O Mistério da Torre", lançado em 1951.

 Ela foi indicada seis vezes ao Oscar! Por anos ela se considerou azarada pois nunca conseguia ser premiada. Já caminhava para o rol de grandes nomes da história de Hollywood que tinham sido injustiçados pela Academia quando sua sorte mudou. Finalmente em 1953 ela finalmente foi premiada por seu trabalho no filme "A Princesa e o Plebeu" onde contracenava com o ótimo Gregoy Peck. Reconhecendo o excelente trabalho dos demais envolvidos no filme dedicou o prêmio ao colega de cena e ao diretor William Wyler. Era considerada uma profissional disciplinada, amiga e humilde dentro do set de filmagens. Sua gratidão com quem havia lhe ajudado estava em toda parte por onde atuava.

Sua última aparição no cinema se deu pelas mãos de Steven Spielberg. Ela apareceu pela última vez em "Além da Eternidade" de 1989. Fazia anos que estava afastada do trabalho de atriz. Apenas após muita insistência de Spielberg ela finalmente aceitou voltar para uma despedida final do cinema. E foi um belo gesto de adeus.  Após a aposentadoria no cinema se destacou por seu empenho em causas humanitárias e de ajuda aos países mais pobres. Ela faleceu no dia 20 de janeiro de 1993 em sua casa na Suíça. Ela havia deixado os Estados Unidos em busca de um lugar mais tranquilo para viver. Tinha apenas 63 anos de idade quando partiu. Deixou saudades em todos os cinéfilos mundo afora. Audrey Hepburn foi um mito eterno da sétima arte.

Pablo Aluísio.

sábado, 28 de outubro de 2006

Perfil: Lee Marvin

Um dos mais famosos vilões de filmes de western. Foi assim que Lee Marvin se notabilizou no gênero ao longo de várias décadas de atuação em Hollywood. Marvin que era natural de Nova Iorque (nasceu em 1924) começou tarde na carreira. Após servir um período como fuzileiro naval decidiu que queria atuar pelo resto de sua vida. Estreou inicialmente na televisão na série “Escape” em 1950.

Sua primeira chance no cinema veio com “Agora Estamos na Marinha”, um filme de guerra realizado um ano depois onde Marvin aproveitava de seus anos de experiência como militar para dar maior veracidade em seu pequeno papel. Após cinco anos atuando como coadjuvante Marvin teve seu primeiro papel de destaque em “O Laço do Carrasco” (1952) ao lado de Randolph Scott. Seu jeito durão, de poucos amigos, caiu muito bem ao interpretar personagens bandoleiros, assassinos, ladrões e facínoras de toda ordem.

Depois do sucesso vieram várias produções, entre elas outro western também ao lado de Randolph Scott, “O Pistoleiro” (1953). Com Marlon Brando se destacou no mesmo ano no famoso “O Selvagem” onde interpretava um motoqueiro rival ao personagem do famoso ator.

A partir daí a carreira ficou consolidada e não mais faltaram papéis em filmes interessantes. Ao lado de Rock Hudson rodou “Seminole”, participou do clássico “A Nave da Revolta”, voltou a trabalhar com o amigo Randolph Scott em “Sete Homens Sem Destino” (1956) e em “Pilastras do Céu” encarnou um personagem atípico em um western com roteiro religioso. Em 1961 trabalhou ao lado de John Wayne no último filme do grande diretor Michael Curtiz, “Os Comancheros”.

Um ano depois voltou a trabalhar com Wayne naquele que é considerado um dos maiores clássicos do western de todos os tempos: “O Homem que Matou o Facínora”. Depois de muitos anos vivendo na sombra de grandes astros Lee Marvin teve finalmente seu talento reconhecido em “Dívida de Sangue” quando finalmente ganhou o Oscar. Depois disso o ator ainda participaria de uma série de sucessos de bilheteria como “Os Doze Condenados”, “Inferno no Pacífico” e filmes que se tornaram cult como o famoso drama de guerra “Agonia e Glória”.

Sua última aparição no cinema se deu ao lado de Chuck Norris no filme “Comando Delta” de 1986. No total participou de 111 filmes em 40 anos de carreira. No final de sua vida o nova-iorquino Marvin trocou o agito das grandes cidades pela tranqüilidade do campo, indo morar em Tucson no Arizona, onde veio a falecer em agosto de 1987. Tinha 63 anos de idade.

Pablo Aluísio.

Cine Western

 

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Marlon Brando e o Western

Ator de muitos recursos, Marlon Brando foi um dos mais cultuados e famosos atores americanos. Curiosamente sua carreira, desenvolvida bem no auge dos filmes de faroeste, contou com relativamente poucos filmes do gênero. Brando, um sujeito tipicamente urbano, se sentia melhor em dramas do que em westerns. Sua primeira incursão no gênero se deu de forma quase indireta. Em 1952 ele foi contratado para atuar como o revolucionário Emiliano Zapata no clássico "Viva Zapata!", dirigido por Elia Kazan. Embora não fosse um western tradicional o filme tinha elementos que lembravam bastante o gênero. Com uma mensagem fortemente ideológica o filme não agradou inteiramente o ator. Além de não se considerar fisicamente parecido com o Zapata da vida real ele teve inúmeros problemas com o produtor Darryl F. Zanuck. Na verdade estava mais empenhado em levar para a cama a estrelinha Jean Peters do que qualquer outra coisa. Não deu muito certo. Peters já estava comprometida e não conseguia levar à sério as cantadas do astro. Ele então ficou literalmente comendo poeira no meio do deserto mexicano.

Depois desse filme Brando recusou inúmeros roteiros de Western. Ele não gostava de filmar no deserto e não confiava em cavalos, como disse de forma bem sincera em sua autobiografia. Mesmo assim, quase dez anos depois de Zapata, o ator voltou ao set de filmagens de um western, "A Face Oculta". Inicialmente Brando só iria atuar nessa produção, mas problemas com o diretor original, Stanley Kubrick, tumultuaram o projeto. Para que o filme não fosse cancelado e não surgisse um prejuízo de milhões de dólares no orçamento da  Pennebaker Productions (que pertencia ao próprio ator) ele resolveu assumir a direção. O problema é que Brando nunca havia dirigido um filme em sua vida e tampouco tinha qualificações técnicas para tanto. Afirmando que iria aprender enquanto filmava o ator topou o desafio. O resultado, para alguém tão sem experiência, pode ser até mesmo considerado excepcional, haja visto os inúmeros problemas que foram surgindo durante as filmagens. Para se ter uma ideia Marlon não conhecia sequer as lentes certas para as tomadas de cena. Foi realmente um aprendizado na prática do dia a dia.

De uma maneira ou outra Brando só voltaria ao velho oeste alguns anos depois em "Sangue em Sonora". Sua carreira estava em baixa, fruto de bilheterias ruins e problemas com vários estúdios de Hollywood. Brando não era um sujeito fácil de lidar e de vez em quando os convites rareavam e ele tinha que aceitar o que lhe surgia pela frente. O roteiro desse faroeste passava longe de ser excepcional, mas Brando confiava na capacidade do cineasta Sidney J. Furie de realizar um bom filme, que não desse prejuízo nas bilheterias (afinal de contas mais um fracasso iria piorar ainda mais a situação de Brando dentro da indústria cinematográfica). O resultado final se revelou bom, mas nada excepcional. O filme tem cenas fortes e um realismo cru que até hoje impressiona. Para Brando foi bom voltar a participar de um filme lucrativo, mesmo tendo que atuar em um dos lugares mais secos do mundo, no deserto de Utah.

As dificuldades de se trabalhar em uma região tão seca como aquela fez com que Brando se distanciasse novamente de faroestes. Só retornaria em meados da década seguinte no excêntrico "Duelo de Gigantes". Ao contrário da época em que rodou o filme anterior, quando estava em decadência, em "The Missouri Breaks" ele estava de novo no auge por causa do sucesso de "O Poderoso Chefão". Consagrado por público e crítica, todos queriam conferir o novo filme do ator. O que ninguém esperava era que Brando iria reverter completamente o mito do pistoleiro do velho oeste, dando vida a um personagem surreal, que usava roupas extravagantes, se vestindo de mulher em determinadas situações. Todas sugestões do próprio Brando que foram aceitas pelo diretor Arthur Penn, afinal de contas ele jamais iria perder a chance de dirigir dois monstros sagrados do cinema em um mesmo filme já que o elenco também contava com o grande Jack Nicholson (vizinho e amigo de longa data do próprio Marlon). Esse filme marcou a despedida de Brando dos faroestes. De certa maneira foi realmente um pena o ator não ter realizado mais filmes do gênero. De consolo fica a constatação de que se fez poucos, pelo menos realizou atuações marcantes dentro da mitologia do velho oeste.

Pablo Aluísio.

Cine Western


 Cartaz do filme de faroeste spaghetti "Gringo" de 1967, de Damiano Damiani.