sábado, 24 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 8

Um dos dramas da vida de Elvis foi que ele não teve a oportunidade de se tratar adequadamente de seu problema de depressão. O Coronel Parker não queria que sua imagem pública fosse maculada com o estigma de ser depressivo. Havia muito preconceito sobre isso na época. Assim na ânsia de esconder tudo na imprensa o próprio Elvis acabou ficando sem o tratamento adequado. O que havia no lugar disso eram meros paliativos, como as pílulas receitadas pelo Dr. Nick. O problema é que ele não era um médico especialista em depressão, longe disso.

Sem consultar um médico especializado em depressão, sofrendo todos os tipos de stress por causa de sua profissão e sem passar pelo tratamento certo, Elvis foi afundando cada vez mais na doença. Ele tinha problemas de insônia desde quando era apenas um adolescente, mas com seu estado depressivo a coisa piorou. Elvis passava dias sem dormir, mesmo quando tomava as drogas receitadas pelo Dr. Nick. A ausência de sono, a estafa de viver viajando para cumprir agendas puxadas de show e a própria melancolia que ia se instalando em seu espírito justamente por causa da depressão o foram deixando cada vez mais com um aspecto doentio. O aumento de peso também se tornou visível. Elvis muitas vezes procurava consolo na comida. Sozinho em seu quarto, ele era capaz de comer três, quatro ou cinco grandes pratos de uma refeição que geralmente não era nada saudável. Era claramente uma forma dele em amenizar sua tristeza.

A carreira também deixava Elvis frustrado. Depois do NBC Special ele teve um novo fôlego em seus discos e a volta aos palcos trouxe novamente a alegria do contato com os fãs. Porém depois de 1973 a carreira de Elvis voltou a estagnar. Não havia mais novos desafios. Elvis tinha esse velho sonho de fazer uma turnê internacional como havia feito os Beatles nos anos 60, mas o Coronel Parker sabotava toda tentativa dele nesse sentido. Ao invés de ir para Londres, Paris ou até mesmo ao Japão, Elvis ficava preso em apresentações de temporadas realizadas em hotéis cassinos ou em pequeninas cidades do interior dos Estados Unidos. Não era nada desafiante para quem já tinha passado por tudo isso desde os anos 50.

Curiosamente esse estado depressivo de Elvis também começou a se refletir na escolha do repertório de seus discos nos anos 70. Elvis não era um compositor, por isso escolhia músicas que tinham letras em que ele pudesse de alguma forma se identificar. Geralmente baladas românticas bem tristes contando histórias de rompimento, decepções e desilusões. Algo que ele havia sentido com o fim de seu casamento com Priscilla Presley. Fora isso Elvis encheu seus álbuns de muita country music e gospel. O Rock, o gênero que o havia consagrado, o levando a ser chamado de "Rei do Rock" no passado, foi deixado para trás. Isso intrigou a imprensa. Durante uma de suas raras entrevistas, um jornalista perguntou a Elvis porque ele não gravava mais rocks! Tentando se sair Elvis apenas desculpou-se, dizendo que não havia mais bom material nesse estilo musical para gravar. Não era verdade, era apenas uma questão de falta de identificação, uma vez que Elvis não se sentia mais jovem, nem rebelde e nem muito menos roqueiro. Ele estava, no fim das contas, apenas se sentindo muito depressivo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 7

Conforme o tempo foi passando o relacionamento de Elvis com Linda foi se deteriorando. Havia a sempre constante infidelidade por parte de Elvis, seu problema com as drogas prescritas, sua falta de sensibilidade com os problemas dela e aquilo que no começo parecia ser atrativo foi se tornando cada vez mais insuportável. O pai de Elvis, Vernon, também começou a ter uma imagem bem negativa de Linda. Vernon cuidava muitas vezes da vida financeira de Elvis e foi ficando horrorizado com os gastos da namorada do filho. Elvis disponibilizou um cartão de crédito para Linda e ela começou a gastar furiosamente. Ela gastava altas somas, todas as semanas. Um orgia de gastos de todos os tipos.  Vernon ficou alarmado. Depois de algum tempo Vernon contou tudo a Elvis e chegou a aconselhar ele a arranjar uma namorada que não fosse tão gastadora como Linda! 

Embora os membros da Máfia de Memphis gostassem de Linda, as amizades foram ficando abaladas porque ela passou a entender que eles encobriam tudo o que Elvis fazia de errado, inclusive com outras mulheres. Isso era bem óbvio, afinal os caras da Máfia de Memphis trabalhavam para Elvis e não para Linda. O patrão deles era Elvis! Era até absurdo pretender que eles ficassem ao lado de Linda em qualquer discussão ou briga. Eles sempre ficariam ao lado de Elvis. Linda nesse aspecto foi bastante inocente, pensando que eles iriam ficar ao seu lado por causa de uma suposta amizade que só existia mesmo em sua cabeça. Assim Linda foi ficando isolada dentro de Graceland. Vernon a considerava uma mulher que não tinha limites em seus gastos, os membros da Máfia já não a achavam mais tão legal como antes e o próprio Elvis, aos poucos, começou a esnobá-la. Linda sabia que seu relacionamento com Elvis estava prestes a acabar. Tudo era apenas uma questão de tempo.

O fato porém é que nem Linda, nem as inúmeras mulheres que saíram com Elvis nessa época, nenhuma delas tinha conseguido fazer Elvis esquecer Priscilla. Ele ainda parecia bem apaixonado pela ex-esposa. Isso era algo que Elvis não conseguia superar. Ele acreditava que Priscilla havia sido a mulher de sua vida, afinal ela era a mãe de sua filha. Nada poderia ser mais importante do que isso. Por volta de 1976 Elvis decidiu que iria tentar uma reconciliação com Priscilla. Ele estava disposto a esquecer tudo - a traição dela, a forma como o casamento acabou, o divórcio, tudo, para voltar para Priscilla. A um dos caras da Máfia de Memphis Elvis confidenciou: "Eu quero minha família de volta! Eu preciso lutar pela minha família, isso não pode ficar assim!".

Poucos dias depois Elvis foi para Los Angeles, onde Priscilla agora morava. Ele queria que ela voltasse com Lisa para Graceland. Era a hora da reconciliação. Elvis foi até a casa de Priscilla e depois de uma longa conversa sobre amenidades, a escola de Lisa, etc, Elvis disse a Priscilla que queria ela de volta. Ele pediu (na verdade chegou a implorar) para que tudo voltasse como era antes. Afinal Priscilla não estava mais se relacionando com ninguém, o caso com Mike Stone havia chegado ao fim, tudo parecia certo para a reunião da família, para a volta do casamento, mas... Priscilla disse não! Ela parecia muito firme em sua decisão, o que desarmou Elvis. Ele ainda tentou argumentar, mas Priscilla não quis ouvir, apenas disse "Não!". Elvis ficou arrasado mais uma vez. Ele se despediu dela e foi embora. Segundo alguns relatos chegou mesmo a chorar no banco de trás de seu carro. Naquela noite Elvis pareceu ter compreendido que tudo havia chegado ao final... para sempre!

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 6

Durante seus últimos anos Elvis sofreu não apenas com crises depressivas cada vez maiores e frequentes, mas também com doenças físicas que muito o debilitaram. A causa de muitos desses problemas de saúde vinha do uso excessivo de medicamentos. Seu fígado, seus rins e outros órgãos estavam no limite após anos e anos de abusos dessas drogas. Seu coração, por exemplo, estava fora do tamanho normal de um ser humano de sua idade e peso. Algo estava muito errado com seu corpo de forma em geral. Em determinado momento de sua vida Elvis pareceu perder o controle sobre o que tomava. Inúmeras vezes teve que ser internado às pressas para tratamento médico.

Numa dessas ocasiões, conforme recordou Linda em seu livro de memórias, Elvis acordou de uma longa noite em que esteve sedado no hospital. Ele então pediu delicadamente para que ela se aproximasse de sua cama e apertou sua mão bem forte. Então Elvis disse algo a Linda que a deixou sem reação. Ele olhou de forma fixa em seus olhos e disse: "Eu sonhei com a minha morte ontem. Foi tudo muito real. E nesse sonho você era o meu irmão que morreu. Ele morreu para que eu pudesse sobreviver. Ele morreu sufocado para que eu nascesse. Você era ele!". Linda jamais esqueceu dessa confissão de Elvis. Realmente Jesse, seu irmão, havia morrido no nascimento em 1935. Desse parto complicado apenas Elvis conseguiu sobreviver.

Elvis estudou religiões orientais a vida inteira. Em muitas dessas doutrinas religiosas a reencarnação era algo palpável, concreto. Estaria Elvis realmente acreditando que Linda era a reencarnação de seu falecido irmão Jesse que agora o reencontrava em um momento muito ruim de sua vida, com o divórcio, os problemas de saúde e a depressão?  Será que Elvis realmente levava fé nessa hipótese tão estranha e fora do comum? A de que o espírito de Jesse Garon Presley havia reencarnado anos após sua morte, voltando ao plano terreno como Linda Thompson? Essa pergunta ficou sem uma resposta mais definitiva. Elvis apenas quis contar seu sonho para ela, sem pensar muito no que tudo isso poderia enfim significar para o relacionamento de ambos...

Mesmo toda a religiosidade porém não conseguia parar o lado mais forte da personalidade de Elvis. Ele havia herdado um lado bem explosivo de sua mãe e não negava isso. Muitas vezes até tinha orgulho desse lado que havia puxado de Gladys. Certa noite Elvis chamou Red West ao seu quarto. Linda ficou do lado de fora, mas logo começou a ouvir uma grande discussão entre eles. As coisas foram ficando cada vez mais agressivas e violentas e quando Linda entrou no quarto percebeu que ambos, Elvis e Red, estavam com armas em punho! Sem pensar muito na loucura que estava fazendo Linda entrou no meio dos dois homens armados, evitando assim que algo mais sério acontecesse naquela suíte.

Tanto Elvis como Red não pareciam dispostos a recuar. Nesse dia, mais uma vez, Linda salvou a vida de seu namorado, um gesto heroico que mereceu uma reprimenda por parte de Sonny. Depois de que a confusão se acalmou ele chamou Linda de lado e lhe deu alguns conselhos: "Nunca mais faça isso! Não era a sua briga, não era a sua batalha! Você poderia ter morrido lá! Eu não acredito que Elvis fosse matar alguém, mas uma arma pode disparar de forma acidental quando usada por alguém com a cabeça quente! Não faça mais isso!". Linda ouviu os conselhos de Sonny, um guarda-costas experiente que sabia o que estava fazendo e nunca mais se envolveu em uma situação tão arriscada como aquela. Nunca mais ela arriscaria sua própria vida.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 5

O relacionamento entre Elvis e Linda não foi isento de problemas e dramas. Desde o começo ela percebeu que Elvis continuava a ver outras mulheres. A palavra fidelidade não parecia fazer parte do dicionário pessoal do cantor. As traições de Elvis foram ficando cada vez mais notórias, públicas e humilhantes. Linda se sentia sufocada em não dizer nada, em não enfrentá-lo sobre isso, até que uma noite, ao saber da existência de mais uma amante de Elvis em Las Vegas, ela resolveu explodir!

Ela confrontou Elvis diretamente e ficou lá, falando e falando sobre suas traições. Elvis estava em sua cama, comendo um prato de espaguete. Aos poucos ele foi ficando nervoso com Linda por ela não parar de falar, falar e falar, exigindo explicações... Quando de repente, em um acesso de fúria, Elvis também decidiu explodir de raiva - Ele pegou seu prato e jogou contra a parede e depois partiu para cima de Linda - ele estava realmente furioso! Linda correu em direção ao banheiro e Elvis a empurrou...

Aquilo era um novo limite que Linda não estava disposta a aceitar. Apanhar de Elvis estava completamente fora de cogitação para Linda! Ela até poderia tolerar suas traições em série, mas sofrer uma agressão física por parte dele, absolutamente não! Pior é que Elvis também começou uma série de ofensas verbais contra ela... Era demais... Linda nem pensou duas vezes, desceu as escadas e pediu a Joe Esposito que reservasse passagens para o primeiro avião em direção a Los Angeles. Para ela tudo estava acabado de uma vez por todas! E assim foi feito, Joe comprou a passagem e Linda foi embora, para nunca mais voltar. Seu caso amoroso com Elvis Presley estava acabado!

Alguns dias depois o telefone tocou! Era Elvis. Ele tinha ficado completamente surpreso com a atitude de Linda. Ir embora daquele jeito, o deixando a ver navios, era algo inesperado para Elvis. Ele não queria ser abandonado de novo, como aconteceu com Priscilla, sua ex-esposa. Elvis tentou então convencer Linda a voltar, imitando uma voz de bebê na ligação, pedindo perdão, dizendo que estava arrependido, que queria ela de volta aos seus braços.

Linda não quis ceder, então falando mais sério Elvis lhe explicou a situação. Disse que sair com outras mulheres não significava nada. Que nem sempre ele tinha sexo com essas garotas, algumas vezes ele só ficava lendo livros religiosos para elas. Elvis também tentou explicar a Linda que homens e mulheres tinham ideias diferentes sobre casos fugazes. Uma noite não significava nada para um homem, ao contrário de uma mulher, que segundo Elvis, estava sempre pronta a se apaixonar. Elvis suplicou a Linda que ela então retornasse para Memphis, que aquela briga havia sido uma exceção e que ele nunca mais faria nada como aquilo. Linda resolveu pensar, mas ao mesmo tempo manteve-se em alerta pois ela tinha visto uma faceta da personalidade de Elvis que realmente a tinha deixada assustada.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 4

Depois do divórcio de sua esposa Priscilla Presley Elvis se relacionou com Linda Thompson. Esse foi o relacionamento mais duradouro do cantor após o fim de seu casamento. O começo do romance foi muito bom, Elvis e Linda pareciam se dar muito bem, tanto que ele, pela primeira vez em anos, ficou bastante tempo sem procurar outra mulher. Elvis sentia-se plenamente satisfeito ao lado dela. Linda também se mostrou muito adaptável ao estilo de vida de Elvis. Pela primeira vez o astro sentia que tinha alguém ao lado com quem poderia desabafar, contar seus mais bem guardados segredos.

Embora o namoro tivesse tido um começo promissor, logo nos primeiros meses de 1973 alguns problemas começaram a surgir no horizonte. Elvis começou a ser infiel, como sempre. O pior é que ele era publicamente infiel, não se importando em ser fotografado ao lado de outras mulheres em Las Vegas e nas viagens que fazia para realizar concertos em outras cidades pelos Estados Unidos. Agindo assim Elvis não demonstrava muito respeito por Linda, que muitas vezes ficava chocada com o modo de agir do namorado. Em certos aspectos Elvis levava uma vida moral completamente ridícula, onde fidelidade não fazia parte do cardápio.

O pior é que sempre após ostentar ao lado de mulheres bonitas em público, Elvis voltava para Linda como se nada tivesse acontecido. Ele havia aparecido em jornais e colunas de fofocas curtindo seu novo romance e depois retornava aos braços de Linda, sem dar a menor satisfação. Linda também se sentia intimidada em confrontar Elvis em Graceland. O cantor era temperamental, dado a explosões de raiva quando confrontado, assim Linda começou a agir também como se nada tivesse acontecido.

O deslumbramento de Linda com Elvis também foi passando com o tempo. Ao invés de apenas enxergar o mito da música e do cinema ela começou a ver o outro lado de Elvis. Um homem que passava por momentos depressivos, que tinha problemas com drogas e que parecia nunca superar completamente o fim de seu casamento com Priscilla. Elvis pedia para que Linda lhe aplicasse injeções em seu banheiro de Graceland, dizendo que eram vitaminas, o que não era verdade. Com o tempo as aplicações foram deixando marcas na pele de Elvis, algo que seguramente não soava atrativo para uma mulher. Ele também ficava falando com frequência de seus anos ao lado da ex-esposa, outro tipo de coisa que deixava Linda constrangida e consternada. Viver ao lado de Elvis tinha um preço e Linda estava começando a entender isso.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 3

O fim do casamento com Priscilla Presley representou também o fim de velhos sonhos para Elvis, um deles o de ter uma família unida e feliz. Mesmo que o casamento estivesse falido há anos, Elvis jamais pensaria em se divorciar de Priscilla por vontade própria. Ele tinha uma visão conservadora sobre esse tipo de relacionamento, além disso passou anos e anos moldando Priscilla para o que ele considerava ser a mulher ideal. Quando Priscilla arranjou um amante, Elvis entendeu que não havia como moldar ninguém na verdade. Não importava as boas intenções, o fim sempre dependeria única e exclusivamente da vontade do outro.

Para Elvis o pior do fim de seu casamento foi saber dos novos casos amorosos envolvendo sua esposa. Já era devastador saber que ela estava morando com Mike Stone, mas pior era ficar sabendo, por fofocas, que Priscilla continuava a também namorar outros homens, principalmente após o fim de seu romance com Stone. O golpe mortal em seu ego porém aconteceu depois quando Elvis tentou uma reconciliação com Priscilla e ela recusou. Ser recusado por Priscilla feriu ainda mais Elvis do ponto de vista emocional.

Essa crise só não teve um desfecho trágico porque curiosamente a carreira de Elvis começou a entrar em um ritmo alucinante de shows, filmes e discos. Parecia que sua carreira havia voltado a um pique de auge, como havia acontecido nos anos 50. Depois de anos em Hollywood o público queria ver novamente Elvis ao vivo e ele se entregou completamente aos anseios de seus fãs. Cumprindo uma agenda puxada, com muitas viagens e apresentações por todas as cidades da América, Elvis começou a ter sua mente ocupada pelos compromissos da profissão. Se ao contrário disso tivesse ficado trancado em casa, algo muito sério poderia ter acontecido.

Assim a pura verdade é que o trabalho salvou Elvis do pior. Embora ele já começasse a apresentar sinais de depressão por esse período, a necessidade de seguir em frente, fazendo concertos e shows, gravando músicas em estúdio. manteve Elvis em atividade, se ocupando sempre de seus afazeres profissionais. Tanto isso é uma verdade que a depressão de Elvis só começou a se manifestar com maior ênfase justamente nos intervalos de seus compromissos, quando ficava no ócio, sem ter o que fazer. Era uma confirmação da máxima que dizia "Mente vazia, instrumento do diabo". Percebendo isso o Coronel Parker começou a arranjar cada vez mais shows e shows, em uma agenda lotada, para que Elvis jamais ficasse de bobeira, pensando sobre os dramas de sua vida.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 2

A nova namorada de Elvis, Linda, conseguiu se adaptar muito bem ao estilo de vida do cantor. Ela entrou na vida de Elvis em um período muito nebuloso de sua vida, logo após o fim de seu casamento com Priscilla, mas conseguiu seu espaço no coração de Elvis sendo leal, divertida e amorosa. A própria Priscilla viu a aproximação de Elvis com Linda como algo positivo pois ela tinha uma personalidade extrovertida, que ajudaria Elvis a sair da depressão. Linda não deixava o cantor afundar completamente na tristeza e na melancolia. Quando percebia que ele ia ficando mal propunha viagens de turismo a ele, procurando tirar Elvis de sua reclusão social.

"Vamos viajar Elvis!" - Estava sempre propondo Linda ao cantor. De vez em quando ele realmente aceitava as sugestões, juntava a turma e ia passear um pouco, afinal a vida não poderia se resumir apenas a trabalho e problemas. Um pouco de diversão vinha muito bem a calhar. Linda também se mostrou muito compreensiva com as escapadas de Elvis durante seu namoro. O cantor já havia dito várias vezes que não conseguia se adequar ao casamento porque não havia sido feito para ele. "Eu não gosto, eu não fui feito para o casamento" - costumava repetir Elvis. Indiretamente ele deixava claro também que nunca fora um homem de uma mulher só. Depois da separação de Priscilla, Elvis começou a ter vários casos amorosos com outras mulheres e Linda topou o desafio de aceitar isso para manter seu relacionamento em pé.

Anos depois Joe Esposito reconheceria esse mérito em Linda ao dizer: "Poucas mulheres aguentariam o que Linda aguentou e ela só ficou firme ao lado de Elvis porque realmente o amava. Havia muitas coisas erradas acontecendo na época e Linda não precisava passar por muitas delas, mas ela resolveu apostar em Elvis e pagou um preço bem alto por isso!". Linda, bem ao contrário de Priscilla, também aceitou naturalmente que Elvis estivesse rodeado o tempo todo pelos membros da Máfia de Memphis. Priscilla sempre achou que ter um monte de homens ao redor não fazia bem a um relacionamento, mas Linda também topou esse jeito de ser do namorado.

Por fim havia ainda o problema das drogas. Elvis estava começando a exagerar no uso de medicamentos, algo que colocava sua vida em risco na época. Linda procurou ajudar da melhor forma possível, muitas vezes sendo não apenas sua namorada, mas também sua enfermeira. Priscilla comentaria anos depois: "Linda era uma presença importante ao lado de Elvis porque conseguia dormir ao seu lado, mas sempre com um olho aberto, pronta para qualquer problema! Ela salvou a vida de Elvis algumas vezes, disso tenho certeza". Manter o olho aberto significava ficar atenta. Um simples problema na respiração de Elvis na cama poderia se tornar algo bem mais sério. De fato Linda salvaria a vida de Elvis depois do Aloha From Hawaii, quando ele teve um desmaio, um surto que quase custou sua vida. Esse porém é um assunto para o nosso próximo texto. Até lá!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Divórcio e Depressão - Parte 1

O fim do casamento com Priscilla significou também o começo de uma forte depressão para Elvis. Embora publicamente ele procurasse demonstrar que tudo estava bem, na realidade ele mal conseguia encontrar forças para se levantar da cama para mais um dia de agenda puxada. De certo modo o trabalho ajudou em termos ao cantor superar o pior período de sua vida sentimental, com o fim de se casamento. Porém passados os grandes concertos como o realizado no Madison Square Garden ou o show transmitido via satélite no Havaí, tudo o que sobrava para Elvis era um quarto escuro e frio de hotel, onde ele enfrentava seu maior desafio, a depressão.

O quadro depressivo de Elvis era bastante óbvio para os que viviam seu lado. Ele deixou de procurar pelas coisas que lhe davam prazer. Ao invés de socializar ao lado dos caras da máfia de Memphis, Elvis parecia cada vez mais isolado, sem vontade de ver ninguém e nem fazer nada. Um sintoma claro de um quadro depressivo. Ele também parou de se importar com seus discos, suas gravações, tudo se resumia a trabalhar para garantir sua sobrevivência, nada mais. Elvis não opinava mais sobre o repertório de seus álbuns, a capa de seus LPs, as canções que iam ou não fazer parte de seus singles. Tudo lhe era indiferente. Ele apenas procurava cumprir seus contratos com sua gravadora RCA, fazer as sessões e isso lhe bastava, era tudo.

Foi em 1973, durante sua primeira turnê no ano em Las Vegas, que o público finalmente começou a perceber que havia algo de errado com o psicológico de Elvis. Ele fez shows bem ruins nessa temporada, onde subiu ao palco com claros problemas sendo percebidos pela plateia. Os críticos também não gostaram nada do que viram e ouviram. Acusaram Elvis de estar desinteressado, disperso, sem vontade de cantar. Ele, para alguns, apenas se arrastava em Las Vegas. Sem desafios concretos ele se deixou abater e isso foi percebido por quem o viu ao vivo naquela temporada.

O único sinal de felicidade parecia vir de uma nova companheira que Elvis havia encontrado. Ela se chamava Linda Thompson. Ela era a Miss Tennessee 1972. Obviamente que esse foi o principal motivo que levou Elvis a conhecê-la. Ele tinha uma preferência por jovens premiadas em concursos de beleza. Porém a beleza logo ficou em segundo plano pois Elvis foi cativado pela personalidade de Linda pois ela era engraçada, espirituosa e disposta a encarar todos os desafios que surgiam pela frente, principalmente nessa fase mais depressiva da vida de Elvis. Por causa dessa adaptabilidade ela logo se tornou presença constante ao lado do cantor, dando início a um longo relacionamento com o magoado e ferido Elvis.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 40

Joe Esposito continua a relembrar os acontecimentos: "Então finalmente os paramédicos chegaram. Logo perceberam que Elvis tinha que ser levado às pressas ao hospital. Seus sinais de vida eram mínimos. Charlie Hodge e eu ajudamos os paramédicos a levantar o pesado corpo de Elvis. O colocamos numa maca e descemos as escadas, duas pessoas de cada lado. A confusão era enorme, pessoas chorando, gritando por Elvis. O colocamos na ambulância e fomos com ele ao hospital. Estávamos apreensivos, no caminho não conseguíamos pensar em nada, falar em nada. O Dr. Nick chegou bem a tempo e entrou na ambulância. O caminho em direção ao hospital pareceu durar uma eternidade. Eles o retiraram rapidamente quando chegamos ao centro de emergência. Fomos então escoltados por um oficial para fora do local onde iriam tentar ressuscitar Elvis. Aquilo parecia não ter mais fim, porém só durou trinta minutos. Finalmente os médicos reuniram todos, os familiares e amigos que tinham chegado junto com Elvis, numa sala do lado e comunicaram que ele havia falecido e que não haveria mais nada do que se pudesse fazer!"

Esposito relembra aquela hora terrível, quando finalmente todos souberam que não havia mais esperanças para Elvis pois ele estava clinicamente morto: "Numa hora dessas você fica rezando para que tudo fique bem mas sabe que acabou. Ele estava morto há um bom tempo. Não foi como se ele ainda estivesse quente ou algo assim. Ele estava frio e o tremor da morte já se manifestava. Mas você sempre tem aquela pequena centelha de esperança, mas infelizmente eu já sabia que ele estava morto. Nós ficamos pálidos, rezando para que tudo ficasse bem. Não posso dizer a você o que se passava na minha mente naquele momento. Realmente é algo difícil até mesmo para relembrar. Eu não sabia o que fazer. Após saber de sua morte fiquei desorientado. Então eu disse: 'Esta é a apresentação final de Elvis, vamos nos certificar de que seja feito direito. Não sei de onde tirei essa força. Voltei a Graceland e falei com seu pai sobre a organização do funeral de Elvis. Apenas entrei na organização do seu funeral e me certifiquei de que tudo seria feito de forma certa, com a segurança e outras coisas, para que tudo fosse muito respeitoso. É complicado dizer isso agora mas acho que se Linda ainda estivesse com Elvis as coisas teriam sido diferentes. Ginger simplesmente não sabia. Ela era muito jovem e imatura. Não sabia muito sobre a vida. Acho que Linda teria notado sua falta bem antes de Ginger e teria ido atrás de Elvis e assim teríamos salvo sua vida. Mas Linda não estava lá. Ginger adormeceu e Elvis muito provavelmente ficou horas sem socorro. Quando chegamos já era tarde demais."

Elvis Aaron Presley foi declarado oficialmente morto às 15:30 hs do dia 16 de agosto de 1977. Talvez quem melhor tenha feito um balanço final da morte de Elvis tenha sido sua ex esposa Priscilla Presley em seu livro autobiográfico: "A morte de Elvis tornou-me muito mais consciente de minha própria mortalidade e das pessoas que eu amava. Compreendi que era melhor começar a partilhar mais com as pessoas com quem me importava, cada momento que tinha com minha filha ou meus pais se tornou mais precioso. Aprendi com Elvis, muitas vezes – lamentavelmente – com seus erros. Aprendi que ter muitas pessoas ao redor pode minar suas energias. Aprendi o preço de tentar fazer todos felizes. Elvis dava presentes a alguns e deixava outros ciumentos, freqüentemente criando rivalidades e ansiedades no grupo. Aprendi a confrontar as pessoas e os problemas – duas coisas que Elvis sempre evitara."

Fazendo uma avaliação sobre os problemas que levaram Elvis para seu triste fim, sua esposa, ainda procurando por explicações, concluiu: "Aprendi a assumir o controle da minha vida. Elvis era tão jovem quando se tornara um astro que nunca fora capaz de manipular o poder e o dinheiro que acompanhavam a fama. Sob muitos aspectos, ele foi uma vítima, destruído pelas próprias pessoas que atendiam a todos os seus desejos e necessidades. Foi também uma vítima de sua imagem. O público queria que ele fosse perfeito, enquanto a imprensa implacavelmente exagerava os seus defeitos. Nunca teve a oportunidade de ser humano, de crescer para se tornar um adulto amadurecido, experimentar o mundo além de seu casulo artificial. Quando Elvis Presley morreu, um pouco de nossas próprias vidas nos foi tirado, de todos que conheciam e amavam Elvis Presley, que partilharam suas Músicas e filmes, que acompanharam sua carreira. Sua paixão era divertir os amigos e os fãs. O público era seu verdadeiro amor. E o amor que Elvis e eu partilhamos foi profundo e permanente. Elvis foi uma alma gentil, que emocionou e proporcionou felicidade a milhões de pessoas no mundo inteiro e continua a ser respeitado por seus semelhantes. Ele era um homem, um homem muito especial..."

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 39

Olhando para trás Rick Stanley, como uma das últimas pessoas que viram Elvis com vida, tem sua própria teoria sobre os últimos momentos do cantor. Ele relembra: "Muitas vezes eu tinha visto Elvis fora de si quando ia ao banheiro, ficava sentado e caía. Eu tinha que levantá-lo quando aquilo acontecia. Muitas vezes. E esta é a minha teoria sobre a morte de Elvis. Veja, aquele tapete grosso amarfanhado. Grande, grosso. Naquela noite, quando ele caiu para frente, sendo tão pesado, e estando fora de si, não conseguiu levantar-se com suas próprias forças. E sufocou no tapete. Se voltasse lá eu o teria encontrado e salvo sua vida. Mas ele estava abusando muito das drogas. Eu penso que posso dizer que tinha comigo Demerol suficiente para topar Whitehaven (um subúrbio de Memphis) inteiro. Mas em vez de voltar eu fui para meu quarto e afundei. Daí em diante fiquei meio entorpecido. Para o meu padrasto, quando Elvis morreu, era o fim de nosso relacionamento. Bem depressa eu recebi um pedido para deixar a mansão. "Nós não precisamos mais de você!" foi o que Vernon disse. Ele avisou que me daria o salário de duas semanas e que eu podia ir embora de uma vez. Alguém disse uma vez que as três palavras que ele mais ouviu no mundo civilizado eram Jesus, Elvis e Coca-cola. Hoje dou palestras para jovens que sofrem de problema de dependência química e lhes conto a história de Elvis. Quando você pára e pensa em usar toda a fama de Elvis para algo nesse sentido, bem aí está um final feliz. Eu penso que ele gostaria disso".

Voltemos no tempo. Manhã de 16 de agosto de 1977. O sol do amanhecer já está alto, a luz solar entra pela pequena fresta da janela do banheiro e desliza suavemente sobre um corpo que jaz no chão do pequeno ambiente. O corpo está retorcido, em posição fetal. O rosto está congestionado de sangue, a expressão é de intensa dor, com o semblante registrando o exato momento em que seu organismo sofreu o ataque fulminante, o instante final congelado no tempo em sua hora fatídica. Não há reação aparente, não há som, nada se ouve, apenas a doce e suave vibração do último suspiro. O último grito abafado de socorro não foi ouvido. Tragicamente e ironicamente o ambiente luxuoso em que aquele homem sempre viveu abafou o barulho de sua queda ao sofrer o colapso cardíaco. Nenhum som fora do normal foi notado, ninguém percebeu, ninguém saiu de seus afazeres cotidianos para lhe socorrer, sua queda final passou despercebida. Assim como muitos de sua idade o sujeito caído no chão encontrou sua hora final ao sofrer um ataque do coração fulminante, que sequer lhe deu a chance de lutar por sua vida. Em questão de segundos ele perdeu a consciência e foi ao chão, retorcido de dor. A língua trincada entre os dentes é apenas a manifestação física de um colapso do qual quase nunca se volta. O último segundo de vida lhe fugiu de forma fugaz, efêmera. O Tempo deixa de existir e não tem mais sentido. Era o fim.

Tudo seria banal se aquele homem que acabara de sofrer um ataque não fosse uma das pessoas mais famosas do século XX: Elvis Presley. Sim, aquele corpo que lutava pela sobrevivência e que agora sentia o último sopro de vida lhe escapar em questão de segundos era o do outrora afamado Rei do Rock. O silêncio reinante só foi quebrado quando a namorada de Elvis na ocasião, Ginger Alden, bateu levemente na porta do banheiro. "Elvis?" - perguntou ela. Sem resposta abriu a porta e se deparou com a cena adversa. Em um primeiro momento ela não entrou em pânico. Apesar de Elvis estar estendido no chão Ginger teve uma reação típica de quem já havia passado por essa situação antes. Para aqueles que conviveram com Elvis em seus anos finais, o fato dele perder a consciência em razão do uso abusivo de remédios já não significava nenhuma novidade. Apesar de ser uma situação aflitiva e fora do normal, para Elvis em sua última etapa de dependência química, isso havia virado uma macabra rotina. "Será que bateu com a cabeça?" - perguntou a si mesma Ginger enquanto tentava virar o corpo inerte do cantor. Quando finalmente ela conseguiu visualizar seu rosto congestionado, roxo, sem nenhuma reação ou sinal de vida, percebeu finalmente a gravidade da situação e saiu em busca de socorro.

A partir daí a confusão foi generalizada como bem relembra Joe Esposito: "Estava em Graceland naquele dia 16 de agosto de 1977. Me lembro perfeitamente quando Ginger nos chamou no andar de cima. Eu entrei imediatamente na suíte e encontrei Ginger já bastante abalada. Entrei no banheiro e me deparei com Elvis no chão, caído. A posição sugeria que ele havia perdido a consciência e caíra pra frente de onde estava sentado. Quando o toquei senti um frio percorrer minha espinha. Percebi que não havia mais o que fazer, a impressão que tive foi que Elvis já estava morto por um bom tempo. Mesmo assim resolvi agir imediatamente. A primeira providência foi chamar uma ambulância a Graceland, urgentemente!". Quando a ligação chegou ao conhecimento dos paramédicos eles pensaram seriamente que Vernon, o pai de Elvis, sofrera mais um ataque cardíaco.

Um dos motoristas ao saber que se tratava de Graceland comentou com seu amigo ao lado: "Deve ser o pai de Elvis!". Enquanto o socorro médico não chegava em Graceland Esposito tentava em vão prestar os primeiros socorros em Elvis, como ele mesmo relembra: "Em poucos segundos as pessoas começaram a chegar no quarto de Elvis. Seu pai veio correndo, subindo as escadas e chegou ao quarto ofegante. 'Onde está meu filho?' - gritou o pobre Vernon. Nesse momento pedi para que dessem espaço pois estava tentando fazer algo por Elvis. Vi que Lisa entrava no quarto e pedi que Ginger a tirasse de lá imediatamente, para que assim ela não visse seu pai estendido no chão de seu banheiro. A confusão era muito grande, pessoas indo e vindo, tive que tirar muitos de dentro do local, precisava ajudar Elvis. Eu tentei dar alguns CPR no coração de Elvis, porque eu não conseguia abrir sua boca e fazer um procedimento de respiração boca a boca, pois ela estava fechada e congelada. Então resolvi girar o corpo de Elvis, o vesti e continuei trabalhando nele até a ambulância chegar. Apesar de lutar muito logo percebi que era tarde demais."

Pablo Aluísio.