sexta-feira, 3 de junho de 2005

Elvis Presley - Elvis, Girls e Priscilla

Enquanto o filme "Girls, Girls, Girls" ia chegando aos principais cinemas dos Estados Unidos, Elvis intensificou seus contatos telefônicos com sua antiga namoradinha na Alemanha, Priscilla. Elvis queria que ela viesse passar o natal ao seu lado. Já havia se passado dois anos mas Elvis ainda insistia com a garota adolescente que havia deixado na Europa. Era uma ironia. Enquanto tentava se divertir ao máximo possível em Hollywood, Havaí e por onde passasse, Elvis ia também sentindo um vazio em sua vida emocional, afinal de contas as garotas eram muitas mas nenhuma delas conseguia preencher sua solidão que havia se agravado muito depois da morte de Gladys.

O interessante disso tudo é que Priscilla parecia se enquadrar no ideal de mulher que Gladys sonhara para seu filho. Era de uma boa família e como também era muito jovem poderia ser moldada no ideal feminino que Presley procurava. Assim Elvis jamais fechou essa porta. Estava sempre fazendo longos telefonemas internacionais para Priscilla, comentando sobre seus filmes, suas trilhas, os acontecimentos que vivia nas longas filmagens.

O Coronel Parker sabia da existência de Priscilla e recomendou cautela a Elvis. Afinal era uma adolescente e qualquer coisa poderia causar um escândalo na imprensa como aconteceu com Jerry Lee Lewis. Assim Elvis resolveu pedir aos pais de Priscilla que ela viesse passar o natal ao seu lado em 1962. Tudo seria mantido como um grande segredo e ninguém poderia comentar nada sobre isso fora dos muros de Graceland.

Elvis Presley estava prestes a reencontrar a garota que havia mexido com ele enquanto estava no exército. Mal sabiam eles que isso seria apenas o recomeço de uma longa história que não teria fim tão cedo! O destino realmente tinha várias surpresas para o casal.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Elvis Presley - Garotas e mais Garotas

Título no Brasil: Garotas e mais Garotas
Título Original: Girls, Girls, Girls
Ano de Produção: 1962
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Norman Taurog
Roteiro: Allan Weiss, Edward Anhalt
Elenco:  Elvis Presley, Stella Stevens, Laurel Goodwin, Jeremy Slate

Sinopse: Ross Carpenter (Elvis Presley) é um pescador americano no Havaí que de repente se vê perto de perder seu emprego uma vez que seu patrão está para vender todos os barcos de sua frota para ir morar no Arizona, por recomendação médica. Ross tem especial carinho por dois barcos, "West Wind" e "Kingfisher" que construiu ao lado de seu pai antes de falecer. Agora terá que arranjar dinheiro para comprá-los de um dono de companhia pesqueira inescrupuloso, Wesley Johnson (Jeremy Slate). Enquanto tenta arranjar a quantia ele vai também levando em frente os relacionamentos complicados que tem com duas mulheres, a cantora de boates Robin Ganter (Stella Stevens) e a jovem riquinha Laurel Dodge (Laurel Goodwin). Quem afinal conquistará o coração de Ross Carpenter?

Comentários:
Via de regra os filmes de Elvis Presley na Paramount eram mais bem realizados. Havia um cuidado maior com cenários, figurinos e produção. Um exemplo podemos encontrar aqui. Elvis tinha emplacado um grande sucesso no estúdio no ano anterior, "Feitiço Havaiano", e agora estava de volta com praticamente a mesma equipe técnica do seu último filme nesse estúdio. De certa forma "Girls! Girls! Girls!" é um genérico de "Blue Hawaii". Obviamente existem mudanças mas tudo segue uma linha ao estilo "Diferente, mas igual". Afinal o que desejava o produtor Hall Wallis era repetir o sucesso do musical havaiano. E até que deu certo. Esse foi o maior êxito de bilheteria de Elvis em 1962, faturando bem mais do que os dois filmes que havia rodado na United Artists recentemente. O roteiro como sempre é básico. Na vida profissional o personagem de Elvis precisa de 10 mil dólares para comprar os barcos que foram construídos por ele e seu pai já que seu antigo patrão os estão vendendo. Na vida amorosa Elvis tem que se decidir entre uma garota mais jovem (e mais rica) e uma mulher mais velha que canta na mesma boate que ele. Esse padrão de roteiro iria se repetir várias e várias vezes em seus filmes, por isso não existe grande surpresa nesse aspecto.

Há um excesso de músicas ao longo do filme. Isso é bem fácil de notar pois sempre que o enredo vai caindo no lugar comum há um número musical com Elvis para acordar o público. Como seu personagem é um pescador resolveu-se colocar o cantor para no meio de uma pescaria de atum soltar a voz. São três as cenas em que isso acontece. Soa estranho, claro, mas os fãs de Elvis queriam isso mesmo, temos que admitir. Numa das cenas o próprio Elvis parece tirar onda da situação forçada. Já no palco da pequena boate onde canta em busca de alguns trocados Elvis apresenta o grande sucesso do filme, a boa "Return to Sender" (grande canção apesar da letra ser nada original). Analisando friamente temos aqui mais do mesmo. Elvis namora um pouquinho, pesca um pouquinho e canta um monte de músicas, tudo em pouco mais de 90 minutos de duração. O clima de maneira em geral é simpático, fruto natural das belas locações do Havaí. Curiosamente nenhuma das atrizes se destaca muito, exceto Stella Stevens que tem a chance de apresentar no mínimo três canções, algo bem raro dentro da filmografia do cantor. Interessante é que na cena final, que fecha a estória, Elvis dá passos de twist (a moda musical da época) enquanto dança ao lado de bailarinas representando todos os povos da Terra (inclusive brasileiras, citadas até na letra da versão alternativa da canção título que dá nome ao filme). Assim "Girls! Girls! Girls!", tal como os dois filmes anteriores realizados por Elvis na United Artists, também fica no meio termo. Não é dos melhores filmes de Presley mas tampouco fica entre os desastres que iria fazer a seguir como "Harum Scarum", por exemplo. É um filme de verão realmente, para ver nas férias escolares, como bem queria o Coronel Tom Parker. Dentro dessa proposta até que pode ser considerado um bom entretenimento despretensioso e inofensivo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Talhado Para Campeão

Em outubro desse ano após mais uma ótima sessão de gravação em Nashville, Elvis foi filmar o seu décimo filme, Kid Galahad (Talhada para Campeão), uma refilmagem de um filme homônimo de 1937, dirigido por Michael Curtiz (o mesmo que dirigiu Elvis no excelente King Creole) e estrelando Edward G. Robinson, Bette Davis e Humphrey Bogart. Na refilmagem, a idéia básica da trama foi mantida, com as alterações no nome do personagem principal que seria agora Walter Gulick e na sua ocupação anterior com a entrada no mundo do boxe, que agora seria de um mecânico recém-saído do exército que volta para sua cidade de nascimento e acaba encontrando um promotor de lutas (interpretado pelo ótimo Gig Young) que acaba descobrindo que o mecânico Walter leva jeito para o esporte. Logo, o personagem de Elvis se apaixona pela irmã do promotor interpretada por Joan Blackman, (mais linda do que nunca!). Para quem não se lembra Joan já havia trabalhado com Elvis em "Blue Hawaii". Walter tem que lidar com os problemas com a máfia de Gig e uma luta final com o campeão e invencível lutador de boxe Sugarboy.

Como treinador Elvis tem ninguém menos que Charles Bronson, o mesmo que dez anos depois estrelaria o filme “Desejo de Matar”. Bronson e Elvis não se deram bem nos sets de filmagem. Bronson considerou as habilidades de luta de Elvis como ridículas e ele sentiu-se ofendido com isso. Apesar disso a química entre os dois na tela é boa. O filme tem um roteiro superior aos demais filmes de Elvis, um elenco de apoio ótimo, uma trilha interessante sem músicas horrendas. Seleção musical equilibrada. Além desses aspectos positivos Elvis ainda tem a chance de participar de algumas cenas mais dramáticas, como a que ele discute com Gig, quando este o proíbe de sair com sua irmã. As cenas de lutas são razoáveis e o câmera mostra alguns ângulos interessantes. Porém o papel aqui exigia de Elvis uma personalidade um pouco menos educada e mais casca grossa. Infelizmente sua interpretação não consegue ser forte o suficiente e Elvis, sem querer, acaba suavizando muito o personagem, o que é um ponto negativo. Interessante é que o cabelo de Elvis está quase ao natural, com pouca brilhantina e loiro, pela última vez em sua carreira. O final, felizmente, não acaba com uma música, apesar de ser um pouco sem graça.

O grande problema de Kid Galahad é que as músicas não se contextualizam no filme, que poderia muito bem ter sido rodado sem elas. Interessante é que quando Elvis foi rodar o filme ele levou o famoso macaco chimpanzé Scatter em sua primeira viagem para Holywood. Scatter havia sido comprado recentemente e era tratado como se fosse um membro da Máfia de Memphis. Gostava de beber cerveja e olhar embaixo das saias das garotas e era responsável por uma verdadeira bagunça nos estúdios o que deixava os diretores loucos. "Kid Galahad" foi o último filme um pouco mais sério de Elvis. No final das contas teve uma bilheteria fraca se comparada à de "Blue Hawai" e foi apenas o 37º filme mais assistido do ano. Lançado em agosto de 1962 a trilha sonora chegou ao mercado como EP alcançando pouca expressividade nas paradas. A carreira cinematográfica de Elvis, após essa película, foi jogada em um mar de produções que tentavam copiar de certa forma a fórmula de seu sucesso no Havaí. Era a busca pelo sucesso perdido.

Talhado Para Campeão (Kid Galahad, EUA, 1962) Direção: Phil Karlson / Roteiro: William Fay, Francis Wallace  /  Elenco: Elvis Presley, Gig Young, Lola Albright, Joan Blackman, Charles Bronson, David Lewis / Sinopse: Jovem sai do exército e acaba encontrando sua verdadeira vocação no boxe. Com talento para cantar ele vai levando sua vida entre os ringues e o violão. No meio do caminho acaba encontrando o grande amor de sua vida.

Victor Alves e Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Elvis Presley - 1961 / 1962

Quando Elvis voltou do exército ele tinha duas grandes pretensões. Uma era se tornar um grande ator e a outra desenvolver sua habilidade vocal. Primeiro fez "G.I. Blues" (Saudades de um Pracinha), um filme que ele não gostou de jeito algum, criticando inclusive a qualidade da trilha sonora. Porém, a ele era dito para fazer "G.I Blues" para reconquistar os fãs e depois lhe seriam oferecidos papeis mais dramáticos. "Flaming Star" (Estrela de Fogo) seu filme seguinte foi um bom início, seguido de "Wild in the Country" (Coração Rebelde) que, originalmente, tinha um ótimo roteiro, mas foi estragado pelos engravatados de Hollywood e pela raposa velha Coronel Tom Parker. A segunda pretensão, todavia foi alcançada: Elvis nunca cantou melhor e sua voz nos três primeiros anos da década de 60 estava em grande forma, excelente, com performances lindíssimas em clássicos como "Are You Lonesome Tonight?", "It´s Now Or Never" (há quem odeie essa canção hoje em dia mas não há como negar sua boa perfomance na gravação), além das bonitas e românticas "They Remind Me Too Much Of You", "There´s Always Me" e muitas outras.

O ano de 1961 chegou e definitivamente foi um ano que dividiu a carreira de Elvis. Ele começou o ano com dois shows beneficentes em Memphis em fevereiro, seus primeiros após a sua volta do exército e em março gravou o álbum "Something for Everybody", que apesar de ser muito bom e ter chegado ao primeiro lugar, perde se comparado com "Elvis is Back", um magistral álbum, muito eclético em sua diversidade de ritmos. Logo após as sessões de gravação Elvis viajou para o Havai para filmar "Blue Hawai" (Feitiço Havaiano) e fazer um show beneficente, que acabou sendo seu último até 1968. "Blue Hawai" foi a pior coisa que aconteceu na carreira de Elvis por ter sido um sucesso fora do comum, realmente espetacular. O álbum passou absurdas 20 semanas em primeiro lugar e o filme foi um estrondoso sucesso, apesar de ser muito fraco. A sua trilha é na verdade uma das piores de Elvis, se salvando apenas umas quatro músicas, incluindo o clássico absoluto "Can´t Help Falling in Love". Afinal botar o rei do rock para cantar uma dúzia de músicas havainas era o fim!!!

Em junho, antes de ir filmar "Follow that Dream" (Em Cada Sonho Um Amor) Elvis ainda entrou em estúdio e gravou entre outras, um de seus melhores singles: “His Latest Flame / Little Sister”, que injustamente não chegou ao primeiro lugar nos EUA. Na Inglaterra ambas as músicas atingiram o topo das paradas. "Surrender" foi a música de Elvis nesse ano que alcançou o número 1 nas paradas em ambos lados do Atlântico."Follow That Dream" era um comédia bem leve onde Elvis se saiu muito bem. Infelizmente, foi durante as sessões desse filme que o cantor perdeu um de seus melhores guitarristas: Hank Garland, vitimado em um acidente de carro que quase tirou sua vida e destruiu sua carreira de guitarrista. O som de Elvis perderia muito com a saída de Garland. Fora isso, o quadro profissional de Elvis era excelente. Ele ainda chegava fácil ao primeiro lugar, seus filmes ainda mantinham um certo nível, ele ainda gravava em ritmo muito bom e produtivo e a qualidade das músicas era ainda muito boa. Tudo parecia ainda caminhar relativamente bem por essa época.

Já na vida pessoal Elvis parecia determinado a se divertir o máximo possível! Por essa época ele resolveu romper com a namorada Anita Wood e como Priscilla ainda não havia chegado aos Estados Unidos para morar em Graceland, Elvis ficou completamente solto, solteirinho da silva! Se Elvis era um garoto que na década de 50 levava uma vida nada mundana, namorando firme garotas e morando com os pais, a situação se inverteu nessa fase de sua vida. Elvis agora, sem a balança moral de sua mãe, entupia sua mansão da maior quantidade de mulheres possível. Nos primeiros anos em Hollywood Elvis ficava hospedado em alguns hotéis da cidade mas suas festas com muita gente e muito barulho de música alta lhe trouxeram vários problemas. Alguns estabelecimentos o convidaram gentilmente a ir embora. Assim Elvis pensou em uma solução. Aconselhado pelo empresário Tom Parker ele acabou comprando uma casa em Bel Air. Afinal Parker queria manter as festas extravagantes de Elvis fora do radar da imprensa. Assim Elvis encontrou um lugar ideal para descansar, relaxar e se divertir, longe dos olhos da imprensa marrom da capital do cinema.

O ponto negativo é que por essa época Elvis também começou a aumentar seu consumo de drogas prescritas. Ele passou a se interessar pelo assunto e começou a ler livros de medicina onde eram explicadas as principais pílulas do mercado, seus efeitos e suas contra indicações. Elvis que odiava drogas de rua como maconha e cocaína havia encontrado um jeito seguro, limpo e longe de problemas de também ficar alto em suas festas privadas. Tudo ainda era um grande segredo guardado a sete chaves. Nem mesmo Parker tinha consciência do que acontecia nesse aspecto na vida de Elvis. Também não havia qualquer sinal em sua vida pública e profissional sobre isso. Na época ele era apenas o "Solteirão mais cobiçado da América". Sua imagem pública era impecável e Evis era considerado um dos homens mais bem sucedidos dos EUA. Tudo parecia muito bem em sua vida mas nuvens negras estavam para chegar em sua carreira.

Pablo Aluísio e Victor Alves

Elvis Presley - O Começo da Queda

Além da apresentação em Pearl Harbor, Elvis também realizou dois concertos em Memphis antes de se retirar de forma prolongada dos concertos ao vivo durante os anos 60. No dia 25 de fevereiro de 1961 Elvis subiu ao palco do Ellis Auditorium. Foi um evento de homenagem ao próprio Elvis - o governador do estado Buford Ellington declarou o dia como 'Elvis Presley Day' - e também uma forma de arrecadar fundos para a caridade - mais de 50 mil dólares foram arrecados ao fim do concerto. Antes dos shows houve um evento em honra a Elvis no Hotel Claridge. O cantor não gostava muito de jantares sociais como esse mas foi convencido por Vernon a comparecer. Distribuiu sorrisos, autógrafos e recebeu as devidas homenagens. Depois disso Elvis só voltaria a se apresentar em Pearl Harbor no Havaí e só retornaria em 1968 no especial de TV na NBC e no ano seguinte em Las Vegas para temporadas longas no International Hotel (depois Las Vegas Hilton). Mas o que levou Elvis a ficar tantos anos fora dos shows ao vivo? Logo ele que tanto gostava do calor humano proporcionado por seus fãs?

A verdade é que Elvis queria de todas as formas dar certo no mundo do cinema. Ele estava vivendo seu sonho de ser James Dean, seu grande ídolo nas telas. E o Coronel Parker resolveu adotar o lema: "Se quiser ver Elvis cantando pague uma entrada de cinema". Nada de shows, nada de aparições em programas de TV, nada de entrevistas. Parker (e Elvis concordava com isso) entendia que se Elvis começasse a fazer turnês as pessoas deixariam de assistir seus filmes. Afinal se podiam ver Elvis em carne e osso para que iriam até o cinema para vê-lo em celulóide? É incrível mas eles insistiram nisso por praticamente toda uma década!

Com Elvis fora do caminho no mundo musical os jovens acabaram adotando outros ídolos. Os Beatles chegaram nos EUA e varreram as paradas de sucesso como nunca ninguém havia visto antes. Eles chegaram a ocupar os quatro primeiros lugares da Billboard em sequência, sem ninguém por perto para ameaçá-los. Elvis? Estava praticamente fora da lista dos mais vendidos. Era considerado carta fora do baralho. E logo após outros grupos semelhantes surgiram, tanto ingleses como americanos. Tudo estava mudando, as letras, as mensagens das músicas, os figurinos dos grupos de sucesso. Era uma nova onda musical surgindo, um novo estilo que vinha para romper com o marasmo.

Enquanto o mundo musical mudava e passava por uma revolução sem precedentes, Elvis que tinha de certa forma começado tudo aquilo nos anos 50, afundava em Hollywood estrelando filmes ruins e tolos que eram ignorados pela juventude da época. Só para se ter uma idéia do tamanho do desastre para a carreira de Elvis basta citar que ele ficou de 1962 a 1969 sem conseguir emplacar nenhum sucesso musical no topo da parada de singles da Billboard! Suas novas canções não tocavam mais nas rádios e ele foi desaparecendo lentamente do meio. Afinal quem não era visto não era lembrado.

Até no Brasil a crise foi sentida. A filial brasileira da RCA deixou até de lançar seus álbuns por aqui após um certo tempo. Elvis não vendia mais a ponto de justificar o lançamento de seus discos fora dos EUA. As fãs que gritavam pelos Beatles empunhavam cartazes onde se podia ler: "Viva os Beatles! Elvis já morreu". O pior era saber que nisso havia de fato um fundo de verdade. E pensar que tudo poderia ter sido diferente. Assim seus shows em Memphis e Pearl Harbor se tornaram significativos e simbólicos da crise que surgia no horizonte. Era o começo da queda. Foi a despedida de uma era de ouro para o artista Elvis.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de maio de 2005

Elvis Presley - Reconsider Baby

Elvis Presley - Reconsider Baby
Nunca passou pela cabeça dos executivos da RCA Victor o lançamento de um disco apenas com músicas de blues gravadas por Elvis ao longo de sua carreira. Durante toda a sua discografia oficial que se encerrou em 1977 com sua morte, nada chegou ao mercado nesse sentido. Só em 1985 é que chegou no mercado essa coletânea blues de suas melhores faixas no gênero. Foi um resgate histórico tardio, mas muito bem-vindo. Afinal Elvis sempre foi um admirador da cultura negra dos Estados Unidos. O blues para ele era tão familiar e natural como havia sido o gospel, o country e, é claro, o rock.

Esse álbum adquiri ainda na era do vinil, em 1985 mesmo. Foi um disco que chegou a ser lançado no Brasil. A capa e a contracapa seguiram o padrão americano, o que foi muito bem-vindo para os fãs. A filial brasileira da RCA inclusive manteve o texto original que vinha na contracapa em inglês. Isso deu uma certa sensação aos fãs na época de que o disco era importado, embora fosse realmente uma edição nacional, bem caprichada. A capa já chamava a atenção por trazer uma foto rebuscada de Elvis, tirada de forma amadora, com seu terno de listas que ele chegou a usar em algumas apresentações. O clima anos 50 era de fato bem adequado para esse tipo de lançamento.

A seleção também era bem elaborada. Em meados dos anos 80 as coisas tinham melhorado na major americana da RCA Victor. Os discos eram bem mais selecionados, contando com especialistas na discografia de Elvis Presley. Nada parecido com a bagunça que se tornou os lançamentos do cantor após sua morte em 1977. Nada de coletâneas de músicas infantis e outras bobagens. A intenção agora era de fato resgatar o melhor em termos de qualidade musical por parte de Elvis e seu legado. Assim os fãs acabaram sendo presenteados com um disco que tinha além de uma direção de arte muito bonita, também uma seleção digna de um nome como Elvis Presley.

1. Reconsider Baby    
A música principal do disco também lhe dava o título. "Reconsider Baby" é até hoje considerada a melhor música de blues gravada por Elvis. Ela fez parte inicialmente do sublime disco "Elvis is Back!" que foi gravado assim que Elvis retornou aos Estados Unidos da Alemanha, onde tinha ido cumprir seu serviço militar. Depois de ficar dois anos longe dos estúdios e dos microfones, Elvis parecia com muita disposição para gravar. O repertório desse disco foi simplesmente genial, uma maravilhosa sessão de canções que para muitos formaram o melhor trabalho do cantor nos anos 60. Certos exageros à parte, não há muito equívoco nesse tipo de opinião. "Reconsider Baby" estava aí para provar esse tipo de ponto de vista. Era mesmo uma obra prima do blues, divinamente cantada por Elvis Presley. Um daqueles momentos únicos que definiram toda a carreira de um artista como ele.

2. Tomorrow Night    
"Tomorrow Night" foi gravada por Elvis Presley ainda nos tempos da Sun Records. Até hoje não se sabe com exatidão em que ano ela foi gravada, se 1954 ou 1955. Quando o passe de Elvis foi comprado pela RCA Victor a gravadora levou todos os takes e músicas gravadas por Elvis na Sun Records. Essa foi uma delas. Ficou arquivada anos e anos e depois relançada com novo arranjo no álbum "Elvis For Everyone" de 1965. Ela ganhou uma roupagem musical nova com a assinatura do grande músico e produtor Chet Atkins. Os executivos da RCA achavam que não dava para lança-la tal como gravada na Sun, pois a consideravam muito simples, muito sem sofisticação. Atkins foi então designado para dar uma sonoridade mais moderna e bonita. A versão que temos nesse álbum é a crua, tal como foi gravada pelos Blue Moon Boys (Elvis, Scotty Moore e Bill Black). Embora a versão embelezada dos anos 60 seja de fato muito bonita, com uma bela guitarra tocada pelo próprio Chet Atkins atravessando toda a faixa, aqui a ouvimos tal como foi registrada por Elvis e banda em seus primórdios. É de fato a versão definitiva de Mr. Presley. Já a música original é bem mais antiga e foi lançada pelo cantor e compositor Lonnie Johnson. Hoje em dia essa composição é considerada uma das mais importantes da história do blues norte-americano. Evocativa e muito bem escrita, realmente é um ponto alto da discografia de Elvis Presley. Um momento que não foi bem aproveitado na época de sua gravação.

3. So Glad You´re Mine
A versão de "So Glad You're Mine” que ouvimos nesse álbum é a mesma do disco "Elvis" de 1956, sem maiores novidades. Apenas a RCA Victor trabalhou um pouco mais na master original para recuperá-la adequadamente. Alguns fãs e críticos dizem que ela tem uma leve aceleração em seu ritmo normal. De fato, se ouvirmos o disco de vinil lançado em 56, vamos notar mesmo uma pequena variação em sua duração. Esse porém é um detalhe tão absurdamente minucioso que para o ouvinte comum não fará muita diferença. No mais esse blues é outro grande clássico, criado e composto por Arhur "Big Boy" Crudup, um artista de blues pelo qual Elvis tinha especial admiração. Não podemos nos esquecer que a primeira gravação profissional de Elvis se deu com uma outra composição de Big Boy, a hoje clássica "That´s All Right (Mama)".
   
4. One Night    
"One Night" foi lançada como single em 1957. Chamou muito atenção em seu lançamento original pois a música foi considerada quase pornográfica para aquela sociedade muito conservadora e puritana dos anos 50. E isso porque o produtor Steve Sholes optou pelo lançamento de uma versão mais leve, não totalmente provocante que ficou conhecida dentro do estúdio como "One Night Of Sin". Pois foi justamente um dos takes da versão envenenada que foi selecionado para esse disco. Como não existia mais a preocupação em não chocar ou não escandalizar, a RCA resolveu restaurar os takes originais, sendo que esse ótimo momento chegou pela primeira vez no mercado justamente nesse título "Reconsider Baby", quase quarenta anos depois de sua gravação original! Como diz o ditado, antes tarde do que nunca...

5. When It Rains, It Really Pours
"When It Rains, It Really Pours" é bem mais interessante. Um velho blues gravado por Elvis que ficou anos e anos arquivado, sem que a gravadora do cantor a colocasse no mercado. Quem lembra do disco "Elvis For Everyone" de 1965? Pois é, era um álbum bem estranho, não sendo nem um disco oficial de inéditas gravado em estúdio e nem uma coletânea tradicional. Ficando no meio termo entre as duas classificações, acabou chamando pouca atenção dos fãs. Essa música também já havia sido lançada no álbum "Elvis: A Legendary Performer Volume 4" e aqui ganha nova roupagem. Está bem mais trabalhada, com visível melhoria na qualidade sonora.
    
6. My Baby Left Me    
"My Baby Left Me" é uma antiga gravação de Elvis que foi lançada pela primeira vez em álbum no LP "For LP Fans Only". Nem precisa dizer que essa foi uma coletânea da RCA nos tempos em que Elvis estava servindo o exército na Alemanha. Um mero caça-níqueis? Em termos, havia boa coisa ali, além disso preservou para a posteridade grandes momentos da carreira de Elvis, inclusive sua primeira gravação profissional, a excelente "That´s All Right (Mama)", gravada nos tempos em que Elvis pertencia ao selo Sun Records. Bom, diante de tudo isso é interessante notar que a versão de "My Baby Left Me" que foi incluída nesse disco é a oficial, master, sem novidades.

7. Ain´T That Loving You Baby
Já tive oportunidade de escrever várias vezes isso e repito mais uma vez: a versão de "Ain't That Loving You Baby" que você encontra nesse disco de Elvis é a melhor de todas as que já ouvi! Muito superior inclusive ao master oficial que sem ritmo, sem pegada, fracassou nas paradas quando foi lançada tardiamente em single durante os anos 60. Aqui há uma batida inigualável! De todas as músicas que Elvis gravou em sua carreira essa ocupa um lugar de destaque pelos motivos errados. Como é possível ignorarem esse take, escolhendo um bem mais inferior para lançar oficialmente? Um verdadeiro desperdício. O mais estranho é que essa versão ficou anos e anos fora do mercado. Enfim, se você precisa de apenas uma razão para comprar esse disco "Reconsider Baby" essa é a inclusão desse take maravilhoso na seleção musical. Um pedaço de genialidade de Elvis que foi injustamente jogado de lado pela RCA Victor.    

8. I Feel So Bad
"I Feel So Bad" também é outro momento muito bom do disco. Elvis a gravou em 1961 em uma época em que ele estava ficando mais centrado apenas nas trilhas sonoras de filmes. É uma faixa que nos faz lembrar o quão Elvis poderia ter sido interessante nos anos 60 se não tivesse sido literalmente engolido pelos estúdios de Hollywood. É a tal coisa, a música ficou em segundo plano, enquanto o Elvis ator não conseguia ir muito além do lugar comum. Uma pena. Mal lançada, sem promoção, esse blues ainda conseguiu chegar na décima quinta posição da Billboard, mostrando que a música de qualidade de Elvis sobrevivia a tudo mesmo, até mesmo ao péssimo gerenciamento de seus lançamentos pela RCA.   

9. Down In The Alley
"Down in the Alley" é outra gravação resgatada dos anos 60, mais um excelente momento de Elvis no gênero blues. Outra que nunca foi aproveitada de forma adequada na discografia de Elvis. Outra que foi usada como bonus songs de uma trilha sonora menor, "Spinout". No lado B desse álbum, que vendeu pouco e foi ignorado, a música, apesar de sua grande qualidade, foi deixada de lado, esquecida completamente. Curiosamente Elvis parecia acreditar nela, a tal ponto que chegou a usá-la ao vivo nos anos 70. Ele a resgatou do esquecimento com o objetivo de variar um pouco seu repertório de palco, mas a recepção do público, que mal a conhecia, foi fria e indiferente. Com isso Elvis a jogou de novo na gaveta do esquecimento. Provavelmente se tivesse sido bem recebida Elvis teria um mudado um pouco a lista das canções que sempre apresentava em seus concertos. Como o público porém queria mesmo ouvir "Love Me Tender" e "Suspicious Minds" Elvis foi ficando dentro de uma zona de conforto, cantando basicamente as mesmas músicas, ano após ano. Uma pena.   

10. Hi-Heel Sneakers
O vinil vai passando e então soam os primeiros acordes de "Hi-Heel Sneakers". Esse é um blues das antigas, gravado pela primeira vez por Tommy Tucker, cantor negro de blues, excelente pianista e compositor de mão cheia. É dele uma das mais bonitas e lindas músicas de todos os tempos, "My Girl". Pois bem, aqui Tucker foi direto no fonte, mesclando o blues mais tradicional com uma sonoridade que ele pensava ser atrativa para as rádios. No fundo ele queria fazer sucesso, óbvio. E de fato ele acertou em cheio pois a canção conseguiu chegar na décima primeira posição da concorrida parada Billboard Hot 100. Para um blues era algo excepcional. Elvis sempre ligado no que estava acontecendo ficou realmente atraído por aquele som. Elvis cresceu com uma excelente formação musical, ouvindo muito blues, country, gospel, enfim, as sonoridades que eram tocadas nas rádios comerciais de sua cidade. A música estava no ar e Elvis obviamente sabia quando ouvia um blues de qualidade. O problema é que por essa época ele já estava preso aos contratos das companhias cinematográficas. Os pacotes das trilhas sonoras chegavam fechados, sem possibilidade de Elvis discutir o que iria ou não gravar. Mesmo assim, com as mãos amarradas, ele decidiu que iria fazer sua versão. Algo que ficou maravilhoso em sua voz. Ouvindo faixas como essas podemos ter uma noção de como Elvis perdeu tempo gravando todo aquele material de Hollywood. Se ele tivesse se dedicado apenas a bons materiais nessa fase de sua vida teríamos algo bem melhor para ouvir hoje em dia.   

11. Stranger In My Own Home Town
"Stranger In My Own Home Town" ganhou um destaque melhor na discografia de Mr. Presley. Essa fez parte da histórica sessão de gravação de Elvis no American Studios em 1969. Lançada no álbum "From Memphis to Vegas – From Vegas to Memphis"e relançada logo depois no "Back in Memphis", esse blues sempre ganhou elogios da crítica em geral. Não fez sucesso nas rádios e nem se tornou um hit, mas trouxe prestígio a Elvis em um momento de virada em sua carreira. Depois de anos de trilhas sonoras massacradas pela crítica, Elvis finalmente ganhou reconhecimento pelo belo trabalho que produziu no American em Memphis. Afinal ele estava em casa e tinha que honrar seu lugar entre os grandes intérpretes e cantores da história da música norte-americana.
   
12. Merry Christmas Baby
Outro blues fantástico é "Merry Christmas Baby". Para muitos foi a única obra prima gravada por Elvis durante as sessões que deram origem ao disco "Elvis Sings the Wonderful World of Christmas". Aquele mesmo álbum de 1971 só com músicas de natal, que o próprio Elvis nem queria gravar, mas que acabou cedendo aos desejos e caprichos da RCA Victor e do Coronel Parker. Originalmente essa canção saiu como lado B de um single pouco conhecido durante o pós-guerra. Era o ano de 1947 e a indústria fonográfica ainda engatinhava. Elvis com apenas 12 anos de idade teve contato com a versão original? Não sabemos, mas é possível, afinal ele foi uma pessoa que cresceu ao lado do rádio ouvindo tudo o que era tocado. Muitos creditam a inspiração de Elvis a outra gravação, de Chuck Berry, em 1958, quando ele estava começando o serviço militar. Isso também é possível, porém essa é aquele tipo de pergunta que só poderia ser respondida pelo próprio Presley. De uma forma ou outra o que temos certeza é que a gravação do cantor é absurdamente bem realizada. Puro blues, puro blues.
   
Pablo Aluísio.

quinta-feira, 26 de maio de 2005

Elvis Presley - Elvis e "Big Boy" Crudup

Quem compôs a primeira música que Elvis Presley gravou comercialmente foi Arthur "Big Boy" Crudup. E quem foi ele? Crudup foi um cantor, instrumentista e compositor negro nascido em Forest, Mississippi, bem no meio do Delta do famoso rio. Ele fez parte de uma longa linhagem de grandes músicos de Blues que eram muito comuns no Sul dos Estados Unidos. Como se sabe o Blues nasceu dos lamentos dos escravos e depois dos negros libertos que ganhavam a vida em condições muito duras nas plantações de algodão do sul americano. Como o violão era um instrumento barato e de fácil acesso logo se formou um grande número de músicos, profissionais ou não, que tocavam o bom e velho blues, seja em clubes noturnos, seja nas próprias ruas, sempre em busca de alguma contribuição de alguém que vinha passando.

No caso de Crudup ele tinha um diferencial pois além do Blues do Delta era também um grande admirador do gospel que era cantado nas igrejas negras pelo sul. Essa proximidade de dois ritmos diferentes iria ser bem marcante em suas composições, o que nos anos seguintes levaria à fusão de estilos que acabaria dando origem ao que hoje conhecemos como Rock´n´Roll. Arthur Crudup uniu as linhas de melodia do velho blues ao estilo dançante e vibrante do gospel negro, dando origem, até de forma inconsciente, em uma nova linguagem musical. Para completar o caldo o que mais era necessário? Ora, o country branco dos caipiras. E foi um caipira, Elvis Presley, que jogou o último ingrediente no caldeirão. O prato que saiu de tantas misturas nós já conhecemos muito bem.

Ao longo de sua vida Arthur Big Boy transitou ora pelo Blues mais visceral, ora pelo gospel dos grupos vocais fazendo parte inclusive do Harmonizing Four, um dos preferidos de Presley. Muitas biografias afirmam que Arthur Big Boy Crudup teve uma vida miserável e morreu pobre e esquecido. Isso é verdade apenas em termos. Ao longo da carreira o música assinou com grandes companhias, inclusive a RCA em que Elvis gravava seus discos e teve uma vida próspera no auge do sucesso. Após alguns problemas com um selo ocasionados por direitos autorais Arthur resolveu deixar o mundo da música de lado e voltou para a Virginia onde morreu em 1974. O lado positivo é que em vida foi homenageado e reconhecido. Elvis Presley gravou outras canções suas como "My Baby Left Me" e "So Glad You're Mine" e depois em agradecimento lhe presenteou com uma placa de ouro comemorativa de seu primeiro single, "That´s All Right (Mama)". Era o reconhecimento de Presley para com o velho músico negro que tanta contribuição deu para o mundo da música americana (e mundial).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis e o Bluegrass

Outro grande nome da música norte-americana que cruzou caminho com Elvis Presley foi o cantor e compositor country Bill Monroe, o autor de "Blue Moon Of Kentucky". Músico pioneiro, é conhecido nos Estados Unidos como o pai do Bluegrass. O próprio Bill se auto denominava "um fazendeiro com um bandolim e uma voz de tenor". Ele e seu conjunto de Bluegrass ajudaram e influenciaram profundamente o Western Swing e o honky-tonk (variações da música rural americana).

Bill Monroe nasceu em Rosine, Kentucky no ano de 1911. Em 1934 juntou-se ao seu irmão, Charlie Monroe, e juntos começaram a tocar em Estados do Sul como a Carolina. Dois anos depois firmaram um contrato com uma subsidiária da RCA, a Bluebird label. Em 1938 se separa de seu irmão e forma sua própria banda, Bill Monroe & His Bluegrass Boys e começam a se apresentar no Grand Ol' Opry.

Depois do fim da banda em 1945, Monroe continua em carreira solo, se apresentando em vários festivais de Country Music. Em 1954, Elvis Presley gravou seu primeiro single com uma canção de Monroe no Lado B "Blue Moon of Kentucky". Essa música foi gravada originalmente por Monroe em 1947 quando o músico assinou com a gravadora Columbia. Na mesma linha ele emplacou vários sucessos country como "Toy Heart," "Blue Grass Breakdown," "Molly and Tenbrooks", "Wicked Path of Sin," "My Rose of Old Kentucky" e "Little Cabin Home on the Hill", essa última uma das preferidas de Elvis.

Monroe também cruzou o caminho de outro mito, Hank Williams, e se imortalizou entrando para o Country Hall da fama nos anos 70 e no Rock and Roll Hall da fama em 1997. Foi também homenageado no álbum "Bill Monroe and Friends", lançado em 1985 contando com grandes nomes da música country como Johnny Cash, Willie Nelson e Emmylou Harris. Bill Monroe morreu no dia 9 de setembro de 1996 em Springfield, Tennessee. Seu legado musical porém permanece firme até os dias de hoje.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Elvis Presley - The Blue Moon Boys

Elvis Presley - The Blue Moon Boys
Quando Elvis Presley apareceu para sua primeira audição na Sun Records ele chegou sozinho com seu violão. O produtor e dono da Sun Records, Sam Phillips, queria gravar uma música e sua secretária sugeriu que ele chamasse o "cara das costeletas" para um teste. Elvis então foi convidado para o estúdio para ver se ele interpretaria a música como Phillips queria. Não deu muito certo. A canção era muito careta para um jovem daqueles bancar o baladeiro meloso. Elvis era um garotão e não tinha o sentimento ideal para aquele tipo de melodia. Nesse ponto Sam poderia ter desistido de Elvis, afinal ele era só um chofer de caminhão anônimo em Memphis. Curiosamente não o fez. Por puro instinto, sexto sentido ou qualquer outra coisa Phillips teve a intuição de que Elvis poderia ser promissor. Ele perguntou a Presley se ele tinha uma banda ou alguns músicos que pudessem comparecer com ele em um novo dia na Sun. Elvis não tinha ninguém. Sem outra alternativa Sam resolveu ligar para dois músicos amigos seus para tocar com Elvis numa data que pretendia marcar. Eles eram Scotty Moore e Bill Black.

Muitos autores chamam essa primeira formação que tocou ao lado de Elvis de "The Blue Moon Boys". De fato em algumas ocasiões o trio chegou a usar esse nome mas na realidade eles não se viam assim. Eram apenas Elvis, Scotty e Bill, como aliás aparecia nos selos dos primeiros compactos de Elvis na Sun. Logo que se conheceram Elvis percebeu que se daria muito melhor com Bill Black. Ele era um sujeito bonachão, de sorriso fácil e gostava de uma boa piada sulista. Scotty por outro lado era fechado, taciturno e pouco extrovertido. Era calado e ficava o tempo todo na dele. Na realidade mal chegou a criar um laço de amizade com Elvis mesmo trabalhando ao seu lado por tantos anos. Como todo mundo sabe Presley gostava de um clima mais leve, geralmente contando casos engraçados ou fazendo gozações. Com Moore não havia muito espaço para esse tipo de coisa. Ele era mais velho do que Elvis e se mantinha numa postura mais profissional. Isso contrastava com o baixista gordinho da trupe. Bill Black era o mais velho do grupo, tinha quase 10 anos a mais que Elvis, mas não se comportava como tal. Ria com Presley e se divertia ao lado dele nos estúdios e quando caíam na estrada para fazer shows em cidades vizinhas.

Após alguns meses o baterista D.J. Fontana entrou para o grupo. Juntos gravaram praticamente todas as músicas que Elvis gravou na década de 1950. Presley estimava seus colegas músicos e os levou junto quando foi contratado pela RCA Victor. Além disso fez questão de levá-los também para Hollywood quando começou a fazer filmes. Apesar de ter sido leal o fato é que a estrela de Elvis começou a subir a um patamar que Scotty e Bill ficaram totalmente ofuscados. Seus nomes desapareceram dos discos e eles viraram coadjuvantes do superstar Elvis. Em 1958 Bill Black resolveu cair fora. Ele já vinha com projetos próprios e sentia que devia seguir seu caminho. Além disso tinha entrado em atrito com o empresário de Elvis, Tom Parker, por melhores ganhos. Com a saída de Black os Blue Moon Boys chegaram ao fim. Scotty Moore porém seguiu em frente tocando com Elvis em muitos de seus álbuns pela década de 60 afora. D.J. Fontana também se tornou um músico de estúdio dos mais presentes na sessões de Elvis nos anos seguintes. De fato com a saída de Black eles próprios nunca mais se viram como um grupo em si. Era apenas Elvis Presley e a banda que o acompanhava.

Alguns anos atrás o vocalista Bono do U2 afirmou numa entrevista que o som que Elvis, Scotty e Bill fizeram na Sun Records jamais será superado. Ele tem razão. Eram as pessoas certas no lugar certo na época exata! O trio e depois quarteto com violão, guitarra, baixo e bateria acabaria se tornando o padrão dos grupos de rock até os dias de hoje! Até os Beatles seguiram exatamente essa formação. E pensar que tudo começou meio por acaso numa pequena gravadora de Memphis...

Pablo Aluísio.