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segunda-feira, 10 de março de 2008

O Lado Negro da Revolução Francesa

Embora a Revolução Francesa tenha deixado um legado histórico importante para a humanidade, com todos os seus princípios e valores jurídicos e humanistas, o fato é que houve sim um lado sombrio naqueles acontecimentos. A brutalidade, a barbárie e a violência imperaram de uma forma injustificável. A revolução francesa provou, entre outras coisas, que as massas sem controle se comportam como assassinas e cruéis.

A crueldade estava em todos os lugares, em todas as partes mais remotas do país. Pessoas eram sumariamente mortas apenas por terem alguma ligação com a nobreza. Mesmo se tivessem isso jamais justificaria a matança de pessoas inocentes. A revolução não distinguia entre crianças, mulheres e idosos. Todos eram assassinados. Isso pode ser constatado pela própria família real. Não apenas o rei Luís XVI foi guilhotinado, mas também a rainha Maria Antonieta. O pequeno herdeiro, o Delfim, teve destino desconhecido, mas historiadores concordam que ele foi deixado numa cena imunda para morrer de frio, fome e doenças. Era um garotinho. Matar uma criança como ele foi um ato ignóbil.

Pessoas idosas também não escaparam da guilhotina. A cabeça dos nobres, de padres e de qualquer um que fosse considerado contra a revolução eram penduradas em lanças ou expostas pela ruas de Paris. Muitas cabeças ficavam nos postes apodrecendo enquanto abutres se alimentavam delas. Houve também saques a túmulos. Os reis franceses que foram enterrados na capela de St. Denis ao longo de séculos tiveram seus túmulos profanados. Seus restos mortais, depois da pilhagem, foram jogados em um pântano próximo. Roubaram os artefatos que estavam nos caixões como anéis, medalhas, etc. Uma coisa horrorosa. O aspecto histórico foi completamente ignorado por uma massa de pessoas sem qualquer cultura ou formação educacional.

O mais temível nisso tudo é que depois de um tempo a revolução começou a se auto destruir. Os próprios revolucionários passaram a se acusar, tais como fanáticos sem freios. Danton e Roberspierre foram para a guilhotina, acusados de traidores e infames, mesmo que as provas fossem precárias. O período do terror demonstrou sem meias verdades a insanidade da revolução francesa. Um período violento e estúpido na história da França.

A Revolução Francesa foi especialmente cruel com a rainha Maria Antonieta. Como ela era austríaca de nascimento criou-se toda uma onda de xenofobia em torno dela, algo que foi aumentando e aumentando, muito por causa do ressentimento das roupas caras e finas que a rainha usava em seu auge na corte. Quando a revolução explodiu o ódio também saiu do controle. A própria rainha se viu cercada por mulheres em seu palácio. Elas com facões ameaçavam a vida da rainha e de seu filho. Todos os tipos de rancores movidas por classes sociais explodiram ali.

Quando a rainha foi presa seus direitos humanos foram flagrantemente violados - os mesmos direitos humanos que os revolucionários diziam defender. A rainha foi jogada em uma masmorra medieval úmida, sem as mínimas condições de higiene. Banhos e roupas limpas lhes foram negados. A comida era pouca para a própria sobrevivência.

Depois da morte do marido, o rei Luís XVI, os revolucionários franceses continuaram com seus atos de pura violência física e mental contra a rainha. Seu filho lhe foi retirado da cela, para morrer em outra cela de causas até hoje mal explicadas. Muitos historiadores afirmam que os revolucionários deixaram que ele morresse de fome, frio e doenças por causa da cela insalubre onde foi jogado. Os poucos pertences que ainda continuavam com a rainha foram roubados pelos carcereiros, entre eles um pequeno relógio que havia sido dado a ela por sua mãe, a imperatriz Maria Theresa. Maria Antonieta começou a apresentar sinais de uma grave enfermidade, onde hemorragias constantes aumentavam a cada dia. Os revolucionários negaram a ela atendimento médico e até o uso de panos para conter e limpar o sangue. Direitos humanos respeitados? Não pelos revolucionários que diziam defender essa bandeira.

Assim cai por terra muitas das falácias de que os revolucionários franceses eram pessoas ilustradas que defendiam a liberdade e os direitos humanos. Eles foram muito mais movidos pelo ódio contra a monarquia e o clero do que qualquer outra coisa. Não conseguiam respeitar nem Maria Antonieta, a rainha, em sua condição de mulher, esposa e mãe. Mataram milhares de pessoas sem julgamento justo, em praça pública, movidos apenas por ódio, histeria e gritaria. Os revolucionários assim agiam como verdades bárbaros e inescrupulosos. Coisas que eles realmente eram.

Pablo Aluísio.

Livros sobre a Rainha Maria Antonieta

Aqui vai uma dica de leitura para quem gosta de história, um livro que li recentemente e de que gostei bastante. Trata-se da biografia da Rainha Maria Antonieta escrita por Zweig Stefan. Não é um livro novo e nem recente. Na verdade a primeira edição foi lançada em 1932. O tempo porém só lhe fez bem. O estilo de escrita de Zweig Stefan é um primor, uma verdadeira aula de como se deve escrever uma biografia de forma interessante, prazerosa, que capture a atenção da primeira à última página. Aqui o autor leva seu leitor para dentro da vida da Rainha, é como se estivéssemos nos aposentos reais do Palácio de Versalhes. Não se trata de um tratado de história, com inúmeras referências a cada página, o que tornaria a leitura pesada e muitas vezes chata. Nada disso. É escrito em estilo de romance, com a diferença de que não se trata de mera ficção, mas de algo que realmente aconteceu.

A protagonista é essa arquiduquesa austríaca, da dinastia dos Habsburgs, que é dada em casamento ao Delfim da França, um garoto que iria no futuro se tornar o Rei Luís XVI. Filha da imperatriz Maria Teresa da Áustria, Maria Antonieta sabia bem que ela e suas irmãs estavam destinadas a terem um casamento arranjado, pois era tradição na casa de Habsburg esse tipo de situação. As arquiduquesas eram criadas para se tornarem esposas de monarcas e nobres por toda a Europa, consolidando assim uma política de alianças por todo o continente. Aliás a primeira imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina, que era inclusive sobrinha neta de Maria Antonieta, teve o mesmo destino, vindo a se casar com Dom Pedro I. 

Na França Maria Antonieta se deu conta que sua vida não seria muito fácil. Seu casamento demorou a se consumar, por causa da hesitação do príncipe. Com a morte de Luís XV, ela e seu marido subiram ao trono muito jovens, sem experiência para lidar com as transformações que estavam acontecendo dentro da França. A obsessão da Rainha pelo luxo e extravagância, com vestidos e penteados absurdos também não ajudou em nada. Enquanto o povo francês sofria na fome e na miséria, a corte de Versalhes desfilava riqueza, em situações que de certa maneira afrontava o próprio povo que sustentava a monarquia.

O resultado dessa situação todos sabemos. A Revolução Francesa eclodiu e o absolutismo monárquico europeu sofreu o primeiro grande golpe de sua história. Não é um livro de final feliz, ainda mais porque Zweig Stefan cria uma simpatia do leitor com a Rainha, mesmo com todos os erros que ela cometeu. O livro também demonstra que uma campanha de calúnia e difamação se espalhou pelo reino, divulgando mentiras e boatos maldosos sobre o comportamento da Rainha, que não era tão má pessoa como faziam parecer os revolucionários. No final de tudo é um livro tão bom que dá vontade de reler assim que chegamos ao final. E para quem gosta de curiosidades aqui vai uma informação final mais que interessante: o escritor Zweig Stefan, que assim como Maria Antonieta, era austríaco de nascimento, passou seus últimos anos de vida no Brasil. Ele tinha origem judaica e por essa razão precisou ir embora da Europa quando o nazismo começou a tomar de assalto os países europeus. Acabou morrendo em Petrópolis, aos 60 anos de idade.
  
Nesses últimos dias terminei de ler o livro "Rainha da moda: Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução". A autora Caroline Weber se propôs a escrever uma biografia diferente da rainha da França. Ao invés de focar apenas nos eventos históricos propriamente ditos, ela procurou mostrar como a moda de Maria Antonieta, seus vestidos, seus penteados e roupas magníficas influenciaram nos eventos políticos que deram origem à revolução francesa. É uma boa ideia, certamente interessará aos estudiosos de moda e costumes, tudo na mais perfeita ordem.

A questão porém é que em termos de história o livro também se desnuda muito superficial. Claro que o vestuário em termos de Maria Antonieta ganha ares de profunda importância em sua história, porém a rainha também não se resumiu a apenas isso. Alguns momentos marcantes da vida da monarca por essa razão passam quase em brancas nuvens.

Isso fica bem claro nos momentos finais antes de Maria Antonieta ser levada à guilhotina ou então em seu julgamento. Tudo é visto pela autora de maneira muito superficial e raso. Eu apenas bato palmas para a coragem de Caroline Weber em se lançar na elaboração de um livro sob esse enfoque. A revolução francesa foi tão brutal que nenhum vestido de Maria Antonieta sobreviveu aos séculos. Tudo foi roubado ou destruído pelos revolucionários. O que sobrou do luxo de sua vida está nas pinturas, nos retratos que mostram os vestidos mais marcantes da rainha ou seus penteados ao estilo poof, também reproduzidos em pequenas aquarelas ou gravuras que eram vendidas em Paris.

O pano original, o tecido real, tudo foi perdido. De Maria Antonieta sobraram apenas algumas espartilhas, pequenos sapatinhos, etc. Assim fazer um filme sobre a moda da época sem ter o objeto de estudo em mãos já é pelo menos um ato de coragem da escritora. No final de tudo o que poderia recomendar em termos de literatura é mesmo o maravilhoso livro escrito por Zweig Stefan. Essa sim é uma obra espetacular. Já esse "Rainha da Moda" serviria apenas como um complemento de luxo ao livro principal. Faça essa dobradinha literária que será bem agradável.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Os últimos momentos de Maria Antonieta

Os últimos momentos de Maria Antonieta - Abandonada em uma cela escura, nas mãos de fanáticos da revolução francesa, os últimos momentos da rainha Maria Antonieta foram bem tristes. Os anos de glória, luxo e riqueza de Versalhes e principalmente do Petit Trianon, onde ela realmente foi feliz, havia ficado definitivamente no passado. Os revolucionários executaram o rei Luís XVI em um processo onde nada foi respeitado. Logo os revolucionários que se diziam adeptos dos mais altos valores democráticos não deram nenhuma chance ao rei. Ele foi condenado sumariamente, guilhotinado sem possibilidade de se defender de verdade. Com a execução de seu marido, Maria Antonieta sabia que estava condenada. Ele tentou de todas as formas pedir socorro para seus parentes na Áustria, pois ela era uma arquiduquesa da Casa de Habsburgo, mas ela foi tristemente ignorada. Sua mãe, a imperatriz da Áustria Maria Tereza havia morrido e seus sucessores não pareciam muito dispostos a entrarem em uma sangrenta guerra contra os revolucionários franceses. Assim Maria Antonieta foi abandonada por todos, pelos membros da decaída monarquia, por seus familiares austríacos e até mesmo por suas damas de companhia.

Curiosamente a dignidade da rainha em seus últimos dias conquistou a simpatia de seus próprios carcereiros. Eles decidiram que iriam ajudá-la em uma fuga desesperada. A rainha iria se vestir com o uniforme da guarda, iria para o pátio com seus filhos e depois sairia junto com os soldados de sua prisão. Infelizmente as coisas não deram certo pois uma carta anônima chegou até um fanático revolucionário que descobriu o plano, colocando tudo a perder. Assim a rainha ficou presa definitivamente ao seu destino. Ela tinha especial preocupação com seus dois filhos, Luís Carlos, o herdeiro do trono e Maria Teresa, a filha mais velha. Essa última seria a única a sobreviver às loucuras violentas dos revolucionários franceses. O pequeno Luís Carlos morreria no cárcere, em uma morte misteriosa que até hoje jamais foi solucionada inteiramente. Ele tinha apenas dez anos de idade e os revolucionários o jogaram em uma cela imunda, subumana, para que morresse de tuberculose ou outra doença qualquer. No final os tais revolucionários que vivam pregando o refrão de "solidariedade, fraternidade e solidariedade" não passavam de assassinos frios, que matavam até mesmo crianças apenas pelo fato delas serem herdeiras de uma monarquia que não mais existia.

A revolução francesa que tinha tantos ideais não soube respeitar os direitos mais básicos da rainha Maria Antonieta. Ela foi aprisionada junto com os filhos em uma cela sombria. Quais tinham sido os crimes de seus filhos? Onde estavam os princípios tão elevados da revolução francesa? Por que eles foram encarcerados? Que crimes cometeram? Nem a própria rainha havia sido acusada de nada. Ela simplesmente foi presa por ser a esposa do rei Luís XVI. Os processos que seriam movidos depois contra a rainha foram baseados em puro ódio, sem a presença de provas. Um absurdo. Nos últimos dias as atrocidades continuaram. Maria Antonieta sempre era acordada tarde da noite para a entrada de guardas dando ordens e assustando ela e as crianças. Pior aconteceu depois quando armaram um teatro bufo em um tribunal francês para acusá-la sem provas. Ela foi acordada durante a madrugada e levada para longe de seus filhos. Pode haver algo mais absurdo do que isso? Seu filho, o Delfim, herdeiro do trono, foi colocado em outra cela (sem qualquer acusação criminal). Maria Antonieta ficou desolada. Tudo o que ela conseguia ver era a sombra de seu pequeno filho brincando no pátio pela pequena janela de sua cela. Era um menino de apenas 10 anos de idade, preso em uma prisão medieval, sem direito a defesa e nem liberdade.

Onde estavam os direitos do homem, tão propagados pela revolução francesa naquele quadro desolador? O pior é que Maria Antonieta também foi abandonada por seus familiares austríacos. A casa de Habsburgo a abandonou embora ela ainda fosse uma arquiduquesa austríaca legítima, filha da imperatriz Maria Teresa, que infelizmente já tinha falecido naquela ocasião. Provavelmente se estivesse viva, Maria Teresa faria de tudo para salvar sua filha Maria Antonieta e seus dois filhos. Infelizmente os que estavam no poder durante seu martírio pouco deram atenção ao seu sofrimento. Uma rainha francesa decaída não tinha mais importância para Viena. No fim Maria Antonieta não parecia mais ter forças. Ela simplesmente havia aceitado seu destino trágico. Ela sabia que seria morta pela revolução, tal como havia acontecido com o Rei Luís XVI. O único que lutava bravamente em favor da rainha era o conde Hans Axel von Fersen. Dito por muitos historiadores como o verdadeiro amor da vida de Maria Antonieta, ela passou dias e mais dias tentando convencer os membros da corte de Viena para que salvassem a rainha. O mais absurdo de tudo é que os revolucionários pareciam dispostos a negociar pela vida de Antonieta, mas os membros da casa Habsburgo pareciam ter lavado as mãos.

Pablo Aluísio.