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domingo, 20 de agosto de 2017

Drácula - Bram Stoker

É mais do que interessante ler um livro como esse. Isso porque tendo sido escrito em 1897, em plena era vitoriana, ele captou para suas páginas grande parte da sensualidade da época. Sim, o livro "Drácula" é muito sensual, embora poucas pessoas parem para pensar sobre isso. O texto continua tão atual como se tivesse sido escrito hoje! O romance é tão moderno que não me admira em nada ter sido tão copiado e adaptado pelo cinema ao longo de todas essas décadas.

O enredo é clássico. Jonathan Harker é um jovem, ainda começando em sua carreira, que decide acertar de todas as maneiras. Para isso ele geralmente é enviado para serviços que ninguém mais quer em seu escritório, como ir na distante Romênia acertar os detalhes de compra e venda de um imóvel com um conde misterioso e recluso. O que ele nem desconfia é que o nobre é na verdade um ser da noite, um vampiro que vive nas sombras em busca de sangue humano para continuar vivo. O detalhe importante aqui é que Stoker criou um novo monstro, uma mistura de referências históricas, folclore e terror de sua época. Drácula tem um pouco de Jack, o Estripador, da condessa Elizabeth Báthory e de lendas do leste europeu envolvendo corpos sendo desenterrados com sangue escorrendo por suas bocas. Um toque de mestre que tornou sua criação imortal.

Como já escrevi o livro Drácula é muito sensual. Veja essa passagem escrita por Stoker onde ele recria o diário pessoal do personagem Harker. Após ser atacado por três vampiras em uma parte antiga do castelo de Drácula ele escreve: "Eu podia sentir o toque macio de dois dentes afiados, com tremores dos lábios, na pele muito sensível da minha garganta. Eu fechei meus olhos e num êxtase sensual esperei e esperei, com o meu coração batendo". É a descrição de um ataque de uma vampira mas também poderia servir para descrever o encontro de dois amantes no meio da noite. Nesse momento do livro Stoker demonstra que o horror pode ser tão sensual como uma cena de amor. O suspense não provém da picada do dente do vampiro mas sim de sua aproximação e da ansiedade que isso causa no personagem. 

Outro ponto interessante do texto de Stoker é que ele nunca poupa o leitor das cenas mais fortes, repletas de sangue. Isso ia de certa forma contra o bom gosto da era vitoriana, onde tudo era muito pudico, recatado e casto. Tornar algo assim tão explícito e visceral era algo completamente novo na literatura. Ele descreve tudo com riqueza de detalhes, inclusive no momento em que Lucy vai se transformando também em uma vampira: "Ela se contorcia dentro do caixão. Um grito de gelar o sangue veio então de seus lábios vermelhos abertos. O corpo tremia e tremia em selvagens contorções. Seus dentes agora afiados cortavam a carne de seus lábios. Sua boca surgia com uma espuma de carmesim". Como se pode perceber nenhum detalhe é deixado de lado.

Outro aspecto interessante do livro é que Stoker faz questão de desenvolver muito bem suas personagens femininas. Mina Murray é um exemplo perfeito disso. Ela tem força e personalidade marcante e sua presença é vital no desenvolvimento da trama. Ela não está lá apenas para ser atacada pelo conde, muito pelo contrário. Stoker lhe dá voz, atitudes e a coloca no centro de tudo, de forma privilegiada. Também é retratada como uma mulher inteligente e com muita desenvoltura se torna uma das principais narradoras dos acontecimentos.

De muitas maneiras Mina é a verdadeira heroína do enredo. Ela tem plena consciência que seus registros serão importantes e por isso compartilha todas as informações que pode sobre Drácula. O vampiro é praticamente seu objeto de estudo. Quando ela é mordida e começa a se tornar uma vampira seus textos se tornam uma valiosa contribuição para os que começam a caçar a criatura da noite. Essas informações se tornam valiosas pois permitem aos caçadores do vampiro anteceder seus movimentos, quando finalmente o encurralam no momento mais crucial do livro.

Nesse aspecto Mina é um belo contraste com sua amiga Lucy, que se caracteriza por sua falibilidade. Mina luta, combate, enquanto Lucy é a típica personagem feminina que está ali para ser atacada pelo vampiro. Lucy é o símbolo de uma vítima indefesa, a donzela em perigo, tão típica dos romances da era vitoriana. Mina é a nova mulher, ciente de si e de seu potencial, Lucy é a mocinha que cai nas garras do monstro cruel.

Assim Bram Stoker conseguiu trazer inovações em seu romance Drácula ao mesmo tempo em que mantinha um padrão que não assustasse demais seus leitores. Foi inovador e conservador com raro brilhantismo. O escritor nunca quis dar continuidade para seu livro, que para ele era uma obra pronta e acabada, bem fechada em seus objetivos. O que ele não anteviu é que na realidade havia criado toda uma nova mitologia de terror, todo um universo que iria se expandir infinitamente nos anos que viriam. Seu texto é muito rico porque consegue atrair tanto os leitores modernos de hoje, como seus contemporâneos quando o livro foi lançado. Por sua qualidades intemporais e atemporais, Drácula vai permanecer pelos séculos que virão como um clássico do horror eterno.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 24 de junho de 2014

Drácula

Dracula 1.05 - The Devil's Waltz
Dracula vai ficando cada vez mais interessante. A direção de arte está cada vez mais caprichada e os roteiros vão melhorando a cada episódio. É o que sempre digo, algumas vezes as séries começam meio sem rumo certo mas aos poucos vão acertando os ponteiros. O melhor nesse episódio é que ficamos sabendo com mais detalhes o começo da amizade entre Alexander Grayson (Jonathan Rhys Meyers) e seu fiel escudeiro, o sr. R.M. Renfield (Nonso Anozie). Enquanto a ordem tortura Renfield de forma violenta, Grayson sai pelas ruas de Londres literalmente farejando o paradeiro de seu amigo e braço direito. Também nesse episódio temos finalmente a festa de noivado de Mina Murray e Jonathan Harker, onde o conde vampiro quase perde as estribeiras ao dançar com sua amada Mina. Ela disfarça bem mas também está apaixonada por ele. E para fechar o enredo, para infelicidade do nobre vampiro, as experiências que lhe permitiriam andar a luz do dia continuam a não dar o resultado esperado. Pelo jeito o velho ser noturno continuará a caminhar por Londres apenas após o sol desaparecer no horizonte. Gostei bastante desse episódio, como disse no começo do texto, Drácula vai melhorando a cada novo programa. Torço para que siga em frente, apesar dos inúmeros problemas do ator Jonathan Rhys Meyers em sua vida pessoal.

Dracula 1.09 - Four Roses
Drácula volta ao século XIX para se vingar de todos os que lhe aprisionaram por centenas de anos. Seu alvo é a Ordem do Dragão, uma sociedade secreta formada por ricos empresários e industriais que combatem as forças do mal, caçando vampiros e seres noturnos por toda a Europa. Usando o disfarce de um milionário americano chamado Alexander Grayson, Drácula pretende destruir cada um deles, de forma implacável. Que pena que o canal NBC não irá renovar mais Drácula para a segunda temporada. Canais abertos possuem esse tipo de problema pois ficam muito à mercê da audiência que não pode sequer ser mediana. Se "Drácula" tivesse sido produzido por um canal como AMC ou Showtime certamente continuaria em frente. Bom, as sombras do cancelamento já ficam bem expostas nesse penúltimo episódio. O que vinha se desenvolvendo em um nível mais intelectual parte para a violência cada vez mais presente - procurando com isso, é claro, ganhar mais audiência. Nesse episódio em particular Drácula perde a paciência com os planos conspiratórios de Van Helsing e adota seu velho estilo de trucidar inimigos. Ao mesmo tempo resolve abrir o jogo com o amor de sua vida, a bela Lucy enquanto transforma Nina em um ser da noite como ele. Repito, apesar de ter começado meio cambaleante essa série tinha tudo para tomar ótimos rumos com o tempo. Infelizmente os crescentes problemas com drogas do ator Jonathan Rhys Meyers e a audiência apenas morna foram cruciais para o seu cancelamento definitivo. É de se lamentar mesmo pois tinha muito potencial pela frente. A última esperança talvez seja algum canal mais alternativo bancar uma segunda temporada (algo que aconteceu com, por exemplo, "Damages") embora reconheça que não vai ser nada fácil isso acontecer novamente. / Dracula 1.09 - Four Roses (EUA, 2014) Direção: Tim Fywell / Roteiro: Cole Haddon, Daniel Knauf / Elenco: Jonathan Rhys Meyers, Jessica De Gouw, Thomas Kretschmann.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de março de 2014

Drácula

Nascido com o nome de Be'la Ferenc Dezso Blasko, o húngaro Bela Lugosi (1882 - 1956) foi um dos grandes intérpretes do personagem "Drácula" nos cinemas. Ele trouxe uma elegância sinistra para sua atuação e essa característica acabou sendo tão marcante que acabou influenciando gerações de atores que interpretaram o conde vampiro nas telas durante as décadas que viriam."Drácula" de 1931 foi o grande divisor de sua carreira. O filme, uma adaptação muito bem realizada da obra de Bram Stoker, mostrava um nobre europeu que era ao mesmo tempo um monstro e uma vítima.

Monstro porque percorria as vielas escuras em busca de sangue para continuar sua existência macabra e sinistra; vítima porque não conseguia se libertar de sua melancólica vida terrena e solitária. Dirigido por Tod Browning, o roteiro mostrava todos os personagens secundários que fizeram a lenda de Drácula atravessar os séculos como a bela Nina, o jovem John Harker e o caçador de criaturas da noite, Van Helsing. Um maravilhoso filme que até hoje é referência para os fãs do personagem e da mitologia dos vampiros que parecem nunca sair de moda, mesmo após tantos anos.

Drácula (Dracula, EUA, 1931) Direção: Tod Browning / Roteiro: Hamilton Deane / Elenco: Bela Lugosi, Helen Chandler, David Manners / Sinopse: Drácula (Lugosi) é um nobre europeu misterioso que tenciona comprar uma propriedade na Inglaterra. Ele viaja de navio até Londres e durante a viagem todos os tripulantes são mortos pelo vampiro. Na capital inglesa ele passa a se interessar por uma jovem, chamada Nina. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Drácula

Alguns personagens jamais desaparecem, seja do cinema, seja da TV. Uma prova disso é essa nova série do canal NBC que está estreando nos Estados Unidos. "Drácula" procura revitalizar o lendário conde vampiro criado pelo escritor Abraham "Bram" Stoker. Aqui ele surge no século XIX após passar séculos aprisionado em uma cripta escondida. Dois caçadores de tumbas adentram seu repouso e abrem seu caixão. Má ideia. De volta à vida o infame monstro vai até Londres onde começa a se passar por magnata americano. Ao que tudo indica ele busca vingança contra a chamada Ordem do Dragão que o aprisionou no passado. Mesmo decorrido 300 anos a sociedade secreta ainda sobrevive, agora formado por milionários e empresários do Petróleo. Assim Drácula, agora com nova identidade, tenta vender uma nova forma de energia pura, sem fios e perigo. Seu objetivo se torna claro pois o que ele pretende mesmo é arruinar seus antigos algozes no que lhes é mais caro: dinheiro e poder.

Após assistir ao primeiro episódio pude tirar algumas conclusões desse novo Drácula da TV. A primeira diz respeito à boa produção. Direção de arte muito caprichada, que procura usar como fonte de inspiração os antigos filmes do vampiro nos estúdios Hammer. isso fica bem nítido durante uma luta de Drácula contra um inimigo nos telhados de uma Londres escura e sinistra. A cena, para quem conhece bem os filmes da Hammer, está em um dos primeiros filmes de Drácula com Christopher Lee no papel principal. Assim em termos de bom gosto em figurinos, cenários, etc, não há realmente o que reclamar. Também gosto bastante do trabalho do ator Jonathan Rhys Meyers que aprendi a admirar na ótima série "The Tudors" onde ele interpretou magistralmente o Rei Henrique VIII. Mas nem tudo são flores nessa nova adaptação. O principal problema que pude perceber aqui foi realmente o roteiro truncado. Inicialmente Drácula começa bem, sofre uma pequena queda de interesse quando o vemos como um empresário americano e depois melhora um pouco no final quando o seu lado monstro volta a surgir. Com tantas idas e vindas percebi claramente uma irregularidade ao longo da estória mas mesmo assim acredito que passados os primeiros episódios a série pode se tornar acima da média. Afinal de contas todos os elementos parecem estar presentes, só falta mesmo melhorar um pouco o roteiro, dando-lhe um foco mais claro e objetivo, sem tantos sobressaltos. No geral me convenceu a seguir acompanhando. Tem problemas sim mas pelo que vi no primeiro episódio até criei boas expectativas sobre o futuro de Drácula da NBC. É esperar para ver.

Drácula (Dracula, Estados Unidos, 2013) Direção: Andy Goddard, Steve Shill / Roteiro: Cole Haddon, Rebecca Kirsch / Elenco: Jonathan Rhys Meyers, Robert Bathurst, Miklós Bányai / Sinopse: Drácula (Jonathan Rhys Meyers), um vampiro secular, é trazido de volta ao mundo por um grupo de exploradores. Na Londres do século XIX ele se faz passar por um magnata americano. Seu objetivo é perseguir os membros da Ordem do Dragão que no passado o aprisionaram por séculos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Drácula

O livro de Bram Stoker é provavelmente o romance mais adaptado para o cinema, em todos os tempos. São inúmeras as versões. Essa aqui procurou seguir, em linhas gerais, a estória criada por Stoker. Como todos sabemos tudo começa quando o jovem advogado Jonathan Harker (Murray Brown) chega numa região isolada da Hungria (o correto seria a Romênia, mas o roteiro do filme preferiu as terras húngaras). Ele está lá para negociar com um antigo nobre, o Conde Drácula (Jack Palance). Sua intenção é vender propriedades ao redor de Londres. O Conde é um sujeito estranho, de poucas palavras e nada amigável. Seu castelo parece abandonado há décadas e tudo cheira a morte.

Casualmente Drácula vê a foto de uma jovem e ele fica impressionado com a semelhança dela com seu grande amor do passado. Depois dessa introdução (que leva praticamente dois terços do filme) as coisas começam a acontecer rapidamente (sim, a edição não é das melhores). Quando reencontramos Drácula ele já está na Inglaterra, colecionando vítimas. Quem primeiro se interessa pelas mortes é um pesquisador e médico, o Dr Van Helsing (Nigel Davenport). Ele tem teorias próprias sobre o acontecido, entre eles o fato de haver vampiros na cidade, algo que ninguém acredita. Mesmo assim o médico começa a criar um plano para capturar Drácula.

Como se vê o enredo é praticamente o mesmo do livro original escritor por Bram Stoker. Há modificações pontuais, que não mudam sua essência. Para os cinéfilos a grande atração vem do fato do Conde Drácula ser interpretado por Jack Palance. Atuar em filmes de terror era algo completamente novo em sua carreira. Palance fez carreira interpretando cowboys, pistoleiros, em filmes de western e depois grandes e fortes guerreiros em épicos. Nada com contos e histórias de horror. Sua caracterização do famoso vampiro se resume a alguns grunhidos e algumas frases breves que ele declama em tom firme, pautado e quase inaudível (como se fosse um psicopata!). A maquiagem se resume aos dentes postiços. Efeitos especiais são praticamente inexistentes. Com poucos recursos o diretor usa mais de luz e sombra para criar o clima adequado. No geral não chega a ser uma grande adaptação, sendo mais louvável pelo fato de optar por tentar seguir os escritos de Stoker mais ao pé da letra. Fora isso é uma produção bem mediana com resultados igualmente modestos.

Drácula (Dracula, Estados Unidos, 1974) Direção: Dan Curtis / Roteiro: Richard Matheson / Elenco: Jack Palance, Simon Ward, Nigel Davenport / Sinopse: Depois de comprar uma propriedade nos arredores de Londres, o misterioso Conde Drácula (Palance) começa a fazer suas vítimas na região. A série de mortes desperta a atenção do Dr. Van Helsing (Nigel Davenport) que acredita existir um vampiro como o autor das mortes. Logo ele começa uma verdadeira caçada contra a estranha criatura da noite. Filme também conhecido no Brasil como "Drácula - O Demônio das Trevas".

Pablo Aluísio.