O blues está na alma do povo americano e também estava na alma do jovem Elvis Presley. Como teve infância humilde, ele conviveu bastante ao longo de sua vida com a cultura negra. Não é de se admirar assim que o gênero tenha estado tão presente em sua carreira. E isso ficou bem claro no segundo single de canções inéditas lançadas pela RCA enquanto o cantor estava na Alemanha servindo o exército de seu país. A faixa principal era um Rhythm & Blues que curiosamente sofreu auto censura pela própria gravadora, a RCA, que queria algo menos incisivo. Estamos falando da música "One Night". Inicialmente a canção se chamava “One Night of Sin”, título pela qual ficou conhecida dentro da cultura negra na voz do cantor Smiley Lewis (1913 - 1966). Natural de New Orleans, o músico havia destacado a canção nas paradas tanto que conseguiu chegar com ela no cobiçado primeiro lugar da parada R&B da Billboard.
O problema é que qualquer citação na letra a pecado e coisas afins, soava como uma má idéia por parte dos executivos da RCA, principalmente em relação a Elvis que tanta controvérsia já havia causado. Presley chegou a gravar um Take envenenado, sem qualquer tipo de suavização, mas a gravadora realmente queria algo mais soft, leve, menos provocativo. E foi essa versão que chegou aos seus fãs na década de 1950.
No lado B do compacto a RCA escolheu colocar a faixa "I Got Stung", outra inédita composta pela dupla Schroeder e Hill que havia caído nas graças de Elvis no estúdio, pois os 1compositores a criaram pensando justamente no estilo vocal característico de Elvis naquela fase de sua carreira, algo como se estivesse mastigando as palavras ou como resumiu um irônico crítico musical do New York Times: “Elvis ao cantar parece estar também mascando chicletes”.
O single chegou nas lojas americanas e tal como o anterior também não conseguiu alcançar o topo da parada Billboard, chegando no máximo ao quarto lugar entre os mais vendidos, o que não o impediu de ser premiado com um disco de ouro. Com Elvis distante, sem condições de apresentar a música em filmes e nem em programas de TV, a situação ficava mais complicada pois a máquina publicitária da RCA tinha que trabalhar apenas com as emissoras de rádio, o que nem sempre era muito fácil ou barato. De fato as performances ao vivo de Elvis Presley eram vitais para os sucessos de suas gravações no mercado como bem foi provado por essa época.
Já na Inglaterra o single se saiu melhor finalmente atingindo o topo da parada daquele país. Infelizmente a RCA optou pelo caminho mais fácil nos Estados Unidos e fez uma promoção preguiçosa do single, não se dando nem ao trabalho de confeccionar uma capa decente pois o material foi retirado das fotos promocionais do álbum “Elvis Christmas Album”. De qualquer modo o que transparece é que apesar do certo descaso de sua gravadora, Elvis parece ter realmente acreditado na música tanto que a resgatou dez anos depois em seu especial de TV no canal NBC. Um reconhecimento tardio mas que trouxe o devido tratamento a uma de suas canções mais marcantes antes de ir para o exército.
Pablo Aluìsio.
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