quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 102

G.I. Elvis
Data: 24 de março de 1958 / Fonte: "Elvis, documento histórico" / Texto: Lu Gomes / Photo: U.S.Army / Local: Fort Hood, Texas. 

Elvis no exército 
No dia 24 de março de 1958, Elvis Presley se tornou o recruta US53310761. Suas costeletas e seu topete foram cortados, e só a revista Life arquivou 1200 fotos desse episódio. Em seguida foi despachado para Ford Hood, no Texas, para oito semanas de treinamento básico com tanques. Ao perder seu filho para o exército, Gladys começou a declinar. Sua saúde piorou e não havia consolo para sua dor. Quando Elvis voltou a Memphis em sua primeira licença, muita gente ficou surpresa ao vê-lo com os cabelos loiros novamente. No dia 10 de junho ele foi a Nashville para sua única sessão de gravação nos seus anos de exército. Embora Elvis fosse o mais rápido hit maker da história do show business, o coronel Parker lhe avisou: "Quero a lata vazia". "Esvaziar a lata", isto é, não gravar quase nada, iria forçar a RCA a reeditar seus discos. 

A estratégia do coronel foi sempre vender a mesma coisa duas vezes, e quando Presley retornasse da Alemanha, a "lata vazia" iria pesar muito na renegociação do seu contrato com a companhia. E Elvis recebeu suas ordens: "Você irá para uma noite de gravação. Depois disso nada até você voltar do exército". De novo em Fort Hood, sua família começou a chegar para ficar junto dele. Vernon, Gladys, vovó e Lamar Fike alugaram uma casa perto da base. Mas Gladys não estava nada bem, queixando-se de dores no abdômen, náuseas e muito mau humor. Certas noites era óbvio que ela estava bêbada. Na primeira semana de agosto seu estado de saúde piorou e Vernon a levou de trem para Memphis, para que Gladys fosse internada e examinada no Hospital Batista. 

Sua doença era hepatite. Seu fígado estava inflamado, mas ninguém sabia qual era a causa. Especialistas vieram consultá-la e argumentaram que podia ser cirrose. Enquanto isso Gladys piorou mais ainda. Na verdade, Gladys nunca foi honesta com seu médico particular. Ela bebia ao ponto de ficar embriagada, mas nunca disse nada ao doutor. Pior ainda, Gladys tomava uma grande quantidade de pílulas para emagrecer. Havia começado a usar esses compostos de anfetaminas alguns anos atrás, e foi aumentando o consumo à medida que ficava mais dependente. Sua desculpa era que tinha vergonha de sua obesidade e queria melhorar sua aparência, especialmente depois que seu filho ficou famoso e ela era sempre fotografada para os jornais. Mas Gladys nunca contou nada disso aos médicos. 

Enquanto a saúde de sua mãe piorava, Elvis conseguiu uma licença e foi vê-la no hospital em Memphis, onde passou 36 horas em vigília ao seu lado, indo depois para Graceland. As três horas da manhã, o telefone tocou, era Vernon: "Elvis, sua mãe acabou de morrer" Com a morte de Gladys, sua confessora e guia moral, Elvis ficou desesperadamente sozinho. Seu primeiro instinto foi retirar-se do mundo e rodear-se de pessoas que devotavam a ele corpo e alma. O cantor se viu diante do maior drama de sua vida, Gladys não era somente sua mãe, mas também sua melhor amiga e companheira. Sem dúvida era muito ligado à mãe, pois quando seu pai foi preso anos atrás, ficaram só ele e Gladys contra todos, e lutando pela sobrevivência. Realmente se amavam muitíssimo. Conversavam uma conversa de bebês que só eles entendiam. 

Com sua morte, Elvis amargou uma das maiores depressões de sua vida e não havia consolo para sua dor. Presley perdeu totalmente o controle emocional e seu médico particular receitou calmantes para que ele pudesse acompanhar os serviços funerários. Gladys foi velada em Graceland e Elvis mandou abrir as portas da mansão para que todos pudessem prestar suas homenagens: "Mamãe adorava meus fãs, quero que todos venham se despedir dela". Gladys Smith Presley foi sepultada originalmente no cemitério de Forrest Hill. Na lápide de Gladys, Elvis mandou escrever a seguinte frase: "Ela foi o raio de sol de nosso lar".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio.

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 101

Alemanha Ocidental
Data: 1º de outubro de 1958 / Fonte: "Elvis, documento histórico" / Texto: Lu Gomes / Photo: U.S.Army / Local: Friedberg, Alemanha Ocidental. 

O primeiro natal sem Gladys 
O recruta Elvis Presley pisou em solo alemão no dia 1º de outubro de 1958, e foi recebido por 5000 adolescentes, que estavam à sua espera no porto de Bremen. Depois seu batalhão de 800 homens embarcou em um trem para Friedberg, em Hesse, uma cidade muito próxima de Frankfurt. Elvis logo foi designado para dirigir um jipe para o quartel general. Logo sua família chegou, instalando-se em Bad Nauheim, uma pequena cidade perto de Friedberg, com 14000 habitantes naquela época. A chegada de Dear Elvis imediatamente produziu um afluxo de jovens à pacata cidadezinha. Num de seus primeiros finais de semana em Bad Nauheim, Elvis estava passeando no parque com Lamar, quando um fotógrafo alemão aproximou-se dele, acompanhado por uma linda loirinha de 16 anos, sugerindo que Elvis posasse com a garota. 

Aquela foto transformou Margrit Buerguin, em cinderela. Em menos de 24 horas ela ficou conhecida mundialmente. Elvis descolou seu telefone com o fotógrafo e, dias depois, ligou marcando um encontro. Claro que isso não foi ignorado pela imprensa. De noite para o dia, Margrit virou notícia internacional. Embora estivesse saindo com uma alemãzinha, Elvis ainda considerava Anita Wood, sua única namorada. Para reafirmar suas intenções e acalmá-la quanto às fofocas da imprensa, um dia Elvis fez algo sem precedentes em toda a sua vida – escreveu uma carta para Anita. "Não estou saindo com ninguém" – assegurou ele na carta – "Quando me casar será com a senhorita Wood Presley". Depois de exigir de Anita que não revelasse o conteúdo dessa carta à ninguém, Elvis pediu: "confie em mim e mantenha-se limpa e saudável". 

Depois de um mês na Alemanha, Elvis foi com sua unidade para o posto de Grefewohr, perto da fronteira com a Checoslováquia, para treinamento especial. Os únicos passatempos em Graf eram beber cerveja, jogar sinuca ou ir ao cinema. Naturalmente Elvis escolheu o último. Foi numa noite no cinema que ele conheceu outra garota alemã que iria fazer parte de sua vida, Elizabeth Stefaniak. Elvis e Elizabeth saiam muito, mas apenas passeavam de carro. O que Elvis queria realmente era conversar, Ter a sua hora confessional que por tantas vezes tivera com Gladys. Ao deixar Grafenwohr, um pouco antes do natal, Elvis levou Elizabeth com ele, para trabalhar em sua casa, como secretária e intérprete, ganhando um salário de 35 dólares semanais (nessa época Elvis sempre pagava aos seus empregados um ordenado de 35 dólares por semana, pois essa era a quantia que recebia quando trabalhava como motorista de caminhão na Crown Eletric). Foi um péssimo natal para os Presley, não houve ceia e o baixo astral pela ausência de Gladys foi geral. 

Na noite de natal, Elvis chorou muito, sozinho em seu quarto. Mas logo sua solidão iria chegar ao fim e Elvis teria sua vida alterada para sempre ao conhecer a filha de um oficial da Força Aérea. Mas essa é uma outra história que você vai conferir no próximo mês, até lá. 

Single nas lojas: 
Wear My Ring Around Your Neck (Carrol/Moody) - Rock'n'Roll que é um dos melhores gravados por Presley em toda a sua carreira. Foram gravadas diversas versões, "takes", para se chegar a uma definitiva. Segundo Scotty Moore esta foi "sem sombra de dúvida a mais trabalhosa sessão de gravação de sua carreira..." o que se refletiu nos resultados pois a versão escolhida e presente neste disco é simplesmente irretocável. Esta canção foi lançada como single em Abril de 1958 chegando ao terceiro lugar na parada da revista Billboard. 

Doncha'Think It's Time (Otis/Dixon) - Ritmo característico é a marca registrada desta música. Foi gravada no dia 1º de fevereiro de 1958 em Hollywood onde Elvis filmava "King Creole" (balada sangrenta, 1958). Ela foi lançada como lado B de "Wear my Ring Around Your Neck" em Abril de 1958. Elvis Presley mais uma vez mostrava seu insuperável talento. Com a finalização das sessões, Elvis fez as malas e seguiu rumo à Alemanha, onde iria servir o exército americano estacionado no norte germânico. O cantor deu azar, pois acabou pegando um dos mais rigorosos invernos daquele país. No fundo Elvis era mais uma arma de propaganda do governo dos EUA na "guerra fria", pois ele foi despachado para um posto bem perto da "cortina de ferro". Assim os jovens sem liberdade do leste europeu teriam um símbolo da "liberdade americana" no seu quintal! Boa idéia, hein?

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 100

Grand Ole Opry
Data: 25 de setembro de 1954 / Fonte: "Elvis, documento histórico" / Texto: Lu Gomes / Photo: Grand Ole Opry / Local: Nashville, Tennessee. 

Desilusão em Nahsville 
Na noite de 30 de julho de 1954 Elvis Presley deu o seu primeiro concerto profissional, num pequeno teatro de Memphis. Ele entrou no palco junto com Scotty Moore e Bill Black, esperou o guitarrista ligar seu instrumento e começou com "That's All Right" - dando tudo o que tinha. Mal começou a cantar, gritos surgiram na platéia. Mas Elvis e seu violão foram até o fim. Depois dos aplausos foi a vez de "Blue Moon of Kentucky" e, de novo, gritos inexplicáveis. Quando o número terminou, porém, o público queria mais. Enquanto combinavam o que tocar, Elvis perguntou aos companheiros: "O que está fazendo elas gritarem desse jeito?". Scotty e Bill responderam dando risada: "É a sua perna cara, é o jeito que você está mexendo sua perna esquerda. É isso que faz elas gritarem!" Elvis, The Pelvis, acabava de nascer. 

Com seus trinta anos de história, o templo da música country, o Grand Ole Opry, em Nashville, era o reduto do conservadorismo musical americano. Seu público era de velhos e crianças, sem nenhum adolescente sequer na platéia. Sua programação era saudosista dos bons velhos tempos e havia um tabu contra o uso da bateria. Fazer Elvis se apresentar neste programa, com seu cabelo comprido, suas roupas chocantes e seu estilo R&B era a mesma coisa que atirá-lo aos leões. 25 de setembro de 1954 foi a data da primeira e única apresentação de Elvis Presley no Opry e foi escolhida por Sam Phillips para coincidir com o lançamento do segundo disco de Elvis pela Sun Records. 

Na manhã desse dia, Elvis, Scotty, Bill, Sam e Marion Keisker embarcaram em dois automóveis e rodaram 350 Km até Nashville. O show foi bom, mas infelizmente provocou a ira de Jim Denny, o truculento e racista gerente da casa. Nem bem a apresentação terminou, Denny disse a Elvis: "Não gostamos dessa música de negros por aqui. Se eu fosse você voltaria a dirigir caminhão!" Elvis chorou todo o caminho de volta. Segunda feira de manhã ele foi trabalhar na Crown Eletric, dirigindo caminhão. O desastre em Nashville logo seria apagado pelo sucesso no Louisiana Hayride, um show rival do Opry. Apresentado no auditório municipal de Shreveport, Louisiana, a 700 Km de Memphis, o Hayride tinha apenas seis anos de existência e era aberto e receptivo aos novos talentos. 

Tão boa foi a acolhida que Elvis e os Blue Moon Boys - como chamavam a si mesmos - receberam no programa, que foram contratados como atrações fixas. Todo o sul escutava pelo rádio o Louisiana Hayride e, dessa forma, Elvis começou sua escalada para o sucesso. Muito embora tenha se tornado famoso nacionalmente graças à televisão, foi o rádio o verdadeiro responsável pelo sucesso de Elvis Presley, quando ele tinha só uns poucos discos gravados. Através do rádio, esses discos eram ouvidos além dos limites de Memphis e Elvis ficou conhecido no Texas, Louisiana e Arkansas. Os Blue Moon Boys aumentaram com a entrada do baterista D.J. Fontana. 

Por todo o outono inverno de 1954-55, Elvis continuou gravando na Sun Records aqueles que seriam os melhores discos de toda a sua carreira. Claro, não estamos falando das baladas, que mesmo assim são superiores às que gravou na RCA. Estamos falando do Rockabilly. O que fazia essa música diferente das outras era sua extrema excentricidade. Até hoje a gente fica impressionado com tanta criatividade, imaginação e alegria. Cada canção é diferente da outra e não tem nada a ver com o modelo original. 

As sessões de gravação eram espontâneas e cheias de improvisação e como Elvis era criativo nesses dias! Ele se divertia e era cheio de idéias, sempre descolando alguma música antiga que não precisava ser tratada seriamente, subvertendo seu arranjo num deboche total. Isso talvez explique porque ele sempre falhava nas baladas. No palco, então, essas baladas inevitavelmente fracassavam, pois exigia uma pose e uma seriedade que Elvis absolutamente não possuía. É muito chato ser um cantor careta com a idade de 19 anos.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 99

Lamar Avenue
Data: setembro de 1954 / Fonte: "Elvis, documento histórico" / Texto: Lu Gomes / Photo: Jailhouse Rock - MGM / Local: Hollywood. 

Uma casa própria para a família Presley 
Em novembro de 1954, impressionado com o seu sucesso no Hayride, o empresário Bob Neal assinou um contrato com Elvis na base do meio a meio. Scotty Moore não fez nenhuma objeção ao acordo. Dos 50% que os Blue Moon Boys receberiam, 25% ficariam com Elvis e o restante seria dividido entre Scotty e Bill. Fontana continuaria recebendo seu salário semanal de 100 dólares. Em novembro, também, Elvis pediu demissão de seu emprego na Crown Electric e, por um ano, ele e sua banda fizeram uns 200 recitais. Assim que Elvis começou a pegar a estrada, precisou de um automóvel. Um Cadillac, é claro. Embora só pudesse adquirir um de segunda mão, no dia em que comprou seu primeiro carro, Elvis sentiu que havia atingido um dos objetivos de sua vida. Metade da noite ele passou contemplando o Cadillac pela janela do hotel. Infelizmente, pouco depois, quando ia para Texarkana, a traseira do Cadillac se incendiou e teve que ser abandonado na estrada. 

Elvis comprou outro e mandou pintá-lo de rosa e branco, que agora seriam as suas cores. A seguir, comprou um Ford branco e rosa para seus pais. E não parou mais de comprar automóveis. Como era o show de Elvis nesses tempos pioneiros? Bem, Elvis e os Blue Moon Boys não paravam um segundo enquanto estavam no palco. Como tocavam por 45 minutos, não podiam se restringir apenas aos seus discos, e passavam em revista todos os sucessos das paradas. Nas cidadezinhas do interior, Elvis ficava exausto tentando inutilmente animar a caipirada. Mas, quando chegava nas grandes cidades, a reação do público era muito diferente. A sensualidade de Elvis deixava as garotas louquinhas e, depois do concerto, ele tinha que sair correndo para o carro, para não ser rasgado, agarrado, beijado, o diabo. 

Sonny West conta: "Nessa época Elvis era mesmo um puritano. Com todas aquelas garotas se jogando sobre ele, era muito fácil transar com elas. Mas ele sempre dizia que queria se casar com uma garota virgem!" Mas, mesmo não estando interessado nas fãs, Elvis era sempre ameaçado pelos rapazes locais, ressentidos pelo modo como ele excitava as meninas. Para defendê-lo desses caras, Elvis começou a levar Red West consigo, que dirigia o carro e atuava como guarda costas, só pela curtição de viajar para outras cidades. 

Nem bem começou a ganhar algum dinheiro, Elvis comprou as duas coisas que mais desejava: um Cadillac cor de rosa novinho e uma casa para a família, um pequeno bangalô de tijolos na Lamar Avenue, com sala, cozinha e dois quartos. De indigente moradores em laurdedale Courts, os Presleys agora tinham sua casa própria. Pequena, mas própria. Em fevereiro de 1955, Elvis e os Blue Moon Boys saíram em excursão pelo sudoeste americano, numa turnê liderada por Hank Snow, um cantor country de muito sucesso naquele tempo. 

Bob Luman, um cantor country daquela época, relembra como eram as primeiras apresentações de Elvis, the Pelvis: "O cara apareceu de calças vermelhas, paletó verde, meias e camisa cor de rosa, com aquela cara de deboche e ficou parado em frente ao microfone por cinco minutos antes de fazer qualquer movimento. Então começou a tocar seu violão e quebrou duas cordas, eu toco há dez anos e no total ainda não quebrei duas cordas! E lá estava ele, as cordas arrebentadas e as garotas gritando e correndo até o palco. Ele mexia os quadris, como se tivesse algum caso de amor com o violão. Assim era Elvis Presley tocando em Kilgore, Texas. Ele me deixou arrepiado cara!"

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 98

Amor a toda Velocidade
Data: julho de 1963 / Fonte: "Elvis, the Hollywood years" / Texto: Pablo Aluísio / Photo: MGM / Local: Flamingo Hotel, Las Vegas. 

Viva Las Vegas (1964)
"Viva Las Vegas" é o filme de Elvis em que tudo deu certo, desde a trilha sonora que é maravilhosa, da escolha de elenco que contou com a ótima Ann Margret, ao diretor George Sidney que deu um show de direção. Além disso foi um prato cheio para os jornais da época por tudo que rolou durante as filmagens, com o namoro de Elvis e Margret, indo muito além das telas de cinema. O rei do rock ficou perdidamente apaixonado pela atriz, bem debaixo do nariz de Priscilla. O clima de paixão passou para o filme, tudo é feito, encenado e coreografado com o maior bom gosto. Elvis estava em seus melhores dias. 

A atriz sueca Ann-Margret era chamada pela imprensa americana de "Elvis de saias". Realmente foi a melhor parceira de Elvis em toda a sua carreira cinematográfica. O clima entre os dois esquentou ao ponto de Margret falar em um jornal de Los Angeles que sua cama cor de rosa foi um presente de Elvis. Os membros da máfia de Memphis também afirmam que, pela primeira vez em sua vida, o rei do rock confessou a eles estar realmente apaixonado por um mulher. Além disso Elvis passava longas temporadas com ela em sua casa em Beverly Hills. Isto sim foi uma paixão avassaladora. 

O filme foi filmado, claro, em Las Vegas, tendo como pano de fundo a corrida anual de Nevada. Claro que Elvis faria o papel de um piloto e como tal ele próprio chegou a entrar na pista pra valer, em suma "Viva Las Vegas" é disparado o melhor trabalho de Elvis no cinema nos anos 60. Até os mais ferozes críticos se renderam ao seu charme. 

Estas são as principais canções do filme "Amor a toda velocidade": 
Viva Las Vegas (Pomus / Schuman) - Uma das últimas composições da dupla Pomus / Schuman, pois em pouco tempo eles iriam se separar definitivamente. Um tema muito bom, que tenta capturar o clima da cidade, com seus cassinos, hotéis e casas de show luxuosos. Bem executada com ótimo arranjo. O filme teve vários títulos provisórios, que iam mudando conforme as filmagens avançavam, eis alguns: "The Only Game in Town", "The Lady Loves me", "The Magic Touch" e finalmente "Mr, will you Marry Me?". Então, após ouvir toda a trilha sonora, o diretor George Sidney resolveu mudar de forma definitiva o nome do filme para "Viva Las Vegas" por causa da canção. 

What'd I Say (Ray Charles) - Clássico de Ray Charles, gravada por um grande número de artistas ao longo da história. Aqui Elvis contou não somente com sua banda, mas também por um grupo de apoio da MGM, contando inclusive com uma segunda turma de vocalização, os grupos The Jubilee Four e Carole Lombard Quartet. Este primeiro inclusive teve direito a apresentar uma canção solo no filme, chamada "The Climb". Ann-Margret também apresentou duas canções solos: "Appreciation" e "The Rival". 

C'Mon Everybody (J. Byers) - Sem sombra de dúvida uma das melhores canções da carreira de Elvis. A cena em que ele dança com Ann-Margret no ginásio da universidade de Nevada é insuperável. A banda de Elvis está super afinada, tudo resultando em um ótimo momento artístico. Elvis era um grande dançarino que precisava de uma partner à altura, sendo que ele a encontra aqui. A coreografia apresentada é bem diferente da que ele usava nos anos 50, o que demonstra sua versatilidade. 

The Lady Loves Me (Tepper / Bennett) - Deliciosa parceria entre Elvis e Ann-Margret, que cantava otimamente bem. Como sempre a cena do filme é deliciosa. Seria o tema principal do filme, mas acontece que não houve um acordo satisfatório com os empresários de Ann-Margret para o lançamento desta canção em disco. Assim surgiu um problema incrível, pois a RCA não pôde lançar a trilha sonora em um LP, pois não haveria canções suficientes depois de retirar aquelas em que a atriz sueca fazia dueto com Elvis. E assim acabou acontecendo, o projeto do LP foi arquivado definitivamente. Desta forma as músicas acabaram sendo lançadas em um EP (compacto duplo) chamado "Viva Las Vegas" com 4 canções, e em um single com "What'd I Say / Viva Las Vegas" que chegou às lojas em abril de 1964 nos Estados Unidos. Isto causou uma grande insatisfação entre os fãs de Elvis, pois todos esperavam o lançamento de um LP, com todas as canções juntas, o que efetivamente não ocorreu. 

Today, Tomorrow and Forever (Giant / Baum / Kaye) - Adaptação do clássico "sonho de amor" de Liszt. Foram gravadas duas versões, uma solo e uma em dueto com Ann-Margret. Em uma palavra: linda. O arranjo piano, violão, coro e orquestra é fabuloso. Um dos melhores momentos de Elvis na música romântica. Em 2002 se comemorou os 25 anos da morte de Elvis, a RCA - BMG para celebrar e lembrar a data lançou uma coleção com mais de cem versões inéditas com o nome de "Today, tomorrow and Forever". O carro chefe foi justamente a versão nunca lançada em que Elvis dividiu o microfone com Margret. Momento raro.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

domingo, 12 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 97

Feitiço Havaiano
Data: março de 1961 / Fonte: "Elvis, the Hollywood years" / Texto: Pablo Aluísio / Photo: Paramount Pictures / Local: Kauai Island, Hawaii. 

Trilha sonora do oitavo filme de Elvis Presley, que no Brasil, recebeu o título de "Feitiço Havaiano". Este disco se tornou um enorme sucesso de vendas quando foi lançado em outubro de 1961, se tornando o disco mais vendido da carreira do cantor. Ele atingiu rapidamente o primeiro lugar ficando nesta posição durante 5 Meses!!!
(recorde absoluto). 

O single extraído da trilha com "Can't Help Falling in Love / Rock A-Hula Baby" também acompanhou o grande sucesso deste filme, vendendo mais de 6 milhões de cópias. "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961) seria o grande responsável pelos rumos que a carreira de Elvis iria tomar a partir daí. Praticamente todos os seus filmes posteriores iriam seguir a fórmula desta película, com o roteiro versando sobre garotas bonitas, praias turísticas e o interesse romântico do personagem principal. 

A direção do filme ficou novamente a cargo de Norman Taurog e a estrela seria novamente a atriz Joan Blackman que já havia contracenado com Elvis em "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). O roteiro era baseado no romance "O rapaz Havaiano da praia" e a estória versava sobre um jovem de família rica, recém saído do exército, que tentava vencer na vida sozinho. O disco, é claro, segue a mesma temática do filme e Elvis pelo menos no caso desta trilha nos brinda com algumas belas canções que ficaram imortalizadas na sua voz e que iriam se incorporar definitivamente em seu repertório de shows durante os anos 1970. "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961) é isso aí: um filme bonito de se ver, mostrando os pontos mais turísticos das ilhas havaianas, com Elvis pegando umas ondas com seu "jacaré", namoros, diversão e música. Talvez por ser sido tão "relax e na paz" tenha tido tanto sucesso. 

Os Grandes sucessos de Blue Hawaii: 
Blue Hawaii (Robin/Rainger) - Música título do filme. A versão original desta canção foi lançada em 1937 por Bing Crosby para a trilha do filme "Waikiki Wedding". Em 1957 o cantor Billy Vaughn a relançou com grande sucesso. Finalmente Elvis gravou sua versão em 22 de março de 1961. Sem sombra de dúvida é uma bela canção que faz jus ao talento do Rei do Rock. A crítica Pauline Kael escreveu sobre "Blue Hawaii": "Elvis parece que deixou sua moto e seu casaco de couro negro à la Brando de lado e o trocou por uma prancha de surf! Só uma coisa parece não ter mudado: seu topete para fazer filmes bobinhos". 

Can't Help Falling in Love (Peretti/Creatore/Weiss) - Canção baseada em "Plaisir d'Ámor" do compositor francês de origem alemã Jean Paul Martini. A versão de Presley foi muito feliz pois foi muito bem adaptada. O maior sucesso do filme. Quando foi lançada em Single em Novembro de 1961 alcançou um enorme sucesso de vendas. Nos anos setenta ela seria utilizada como desfecho de todos os seus shows. Nos anos 90 o grupo UB40 faria uma nova versão de grande sucesso. 

Rock a Hula Baby (Wise/Weisman/Fuller) - Lado B do Single "Can't Help Falling in Love". Vinha classificado no compacto como "twist special". A verdade é que esta não é uma canção do ritmo imortalizado por Chubby Checker e sim apenas mais uma canção pop da trilha. Curiosidade: as filmagens, ao contrário do que pode parecer, foram um tédio para Elvis. Ele afirmou depois que tinha que ficar trancado no Hotel e só descia para as tomadas de cena. Elvis não poderia sair à praia para se divertir como um pessoa comum, pois certamente iria acontecer um tumulto, assim ele só sairia do hotel para realmente trabalhar. Esta música foi relançada no disco "Elvis 2nd to none" em 2003. 

No More (Yradler/Robertson/Blair) - Adaptação do grande sucesso mundial "La Paloma" do compositor cubano Sebastian Yradler. A adaptação foi feita por Don Robertson, que novamente compareceu em estúdio para ajudar nas gravações. É um dos mais belos momentos de toda a carreira de Elvis Presley. Aqui fica claro que quando o Rei contava com material de ótima qualidade ele demonstrava toda a plenitude de seu talento. A inclusão desta canção italiana se justifica porque o personagem de Elvis serviu o exército na Itália. Assim ele a canta para seus amigos na praia para mostrar o som que rolava nas forças armadas. 

Hawaiian Weeding Song (King/Hoffman/Manning) - Canção que Elvis cantou para Priscilla na sua lua de mel segundo o próprio relato dela no livro "Elvis e Eu" (Elvis and Me, Editora Rocco, 1985). Pode-se encontrar duas versões ao vivo desta canção gravadas pelo cantor nos anos setenta. Uma está presente no já citado disco "Alternate Aloha" e a outra que faz parte do trabalho musical póstumo "Elvis in Concert". Termina assim a trilha, como no filme, com a "canção havaiana de casamento" (foto acima).

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 96

"Carrossel de Emoções"
Data: março de 1964 / fonte: "Elvis, the Hollywood years" / Texto: Pablo Aluísio / Photo: Lucien Ballard / Local: Thousand Oaks, California. 

Roustabout (1964) - 1964 foi um bom ano para Elvis nos cinemas, dos seus três filmes que estrearam naquele ano, dois foram sucesso tanto de público como de crítica: "Viva Las Vegas" e "Roustabout". O terceiro porém, foi um dos mais fracos de sua carreira: "Kissin Cousins" (com caipira não se brinca, no Brasil). Esse foi sem dúvida uma bola fora, mas vamos deixar para falar dele em uma outra oportunidade. O que interessa nesse momento é analisar um dos grandes sucessos do rei em Hollywood, o filme "Carrossel de Emoções" (Roustabout). 

Antes de mais nada é fácil afirmar que esta película trouxe para a carreira de Elvis uma de suas melhores trilhas sonoras. Claro que ela não foge à regra das trilhas de Elvis nos anos 60, claro que há músicas bobinhas e tal, mas neste caso elas estão em menor número, felizmente. Todas as dez músicas do filme são boas, algumas são de excelente qualidade e apesar de Elvis as gravar em playback (a banda gravou a instrumentação e só depois Elvis colocou sua voz), os resultados não foram prejudicados. O filme em si também é muito bom, ver Elvis em um casaco de couro negro, andando por aí de moto e interpretando um "Easy Rider" é sempre um prazer sem culpa. O próprio deve ter gostado muito de fazer esse papel de "Brando Soft". 

Obviamente se você tem mais de trinta anos certamente o assistiu alguma vez na TV, principalmente porque ele se tornou um dos maiores clássicos "Sessão da Tarde" da carreira de Elvis ao lado de "Feitiço Havaiano" (esse campeão absoluto na categoria). Convenhamos, o filme ainda é muito legal mesmo depois de 40 anos de seu lançamento. Vale a pena ver e ouvir de novo. 

Destaques do disco: 
Roustabout (Giant/Baum/Kaye) - Canção título do filme. Essa é na realidade a versão "B", pois a primeira versão tema foi rejeitada por Hal Wallis que considerou sua letra ofensiva. Essa versão "A" chamada de "I'm Roustabout" só foi lançada em 2003 no disco "Elvis 2nd to none". Ela foi redescoberta por acaso por seu autor pegando poeira em seus arquivos. Então ele entrou em contato com Ernst Jorgensen e perguntou se ele estaria interessado em lançar uma gravação inédita de Elvis no mercado (Isso é lá pergunta que se faça!). O produtor atual dos discos de Elvis ficou encantando com a versão descoberta e tratou logo de a colocar no CD. O resultado todos conhecem: primeiro lugar nos EUA e Inglaterra e milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. Pois é, mais vale um Elvis empoeirado do que milhares de artistas atuais tinindo de novo. Ei, qualidade não tem idade! 

Little Egypt (Leiber / Stoller) - Esta canção acabou se tornando uma dor de cabeça para os produtores do filme. Tudo porque uma bailarina chamada "Little Egypt" resolveu processar todo mundo, afirmando que seu nome havia sido utilizado sem permissão no filme. E para completar ela pedia 3 milhões de dólares de indenização. Os advogados da Paramount conseguiram provar no tribunal que o filme se baseava em uma outra bailarina que usava o mesmo nome artístico, chamada Catherine Devine, que fez carreira em 1893 nos EUA. No fundo quem estava imitando e usando o nome de forma inadequada era a dançarina que processou o estúdio. No final ela acabou sendo processada pelos herdeiros da primeira bailarina. Isso é o que eu chamo de confusão jurídica! 

Big Love Big Heartache (Fuller/Morris/Hendrix) - Uma das melhores músicas do disco, com ótima vocalização de Elvis, além de um arranjo primoroso. Ela seria lançada em single para tentar repetir o sucesso estrondoso de "Can't Help Falling in Love", mas como o LP vendeu muito bem e alcançou rapidamente o topo nos EUA (em pleno auge da Beatlemania) os produtores se contentaram com as vendas e cancelaram o lançamento do single. Momento de alto nível da trilha e do filme, pois a cena em que Elvis a canta foi muito bem fotografada. 

There's a Brand New Day on the Horizon (J. Byers) - Eu particularmente gosto muito dessa música porque ela é antes de tudo uma canção alto astral que traz uma mensagem positiva (afinal de contas todos nós precisamos de um pouco disso, principalmente nos dias atuais). Ela fecha a seqüência final do filme. 

A trilha sonora desse filme foi gravada no Radio Recorders em Hollywood e foi lançada antes da estréia do filme, chegando ao primeiro lugar entre os mais vendidos. Além de "I'm Roustabout", duas outras gravações dessas sessões estão desaparecidas há anos: "I Never Had It So Good" e uma outra versão de "Poison Ivy League" com letra mudada. Em recente entrevista Ernst Jorgensen afirmou que não perdeu as esperanças de achá-las, vamos torcer para que algum dia ele consiga atingir esse objetivo. Milhões de fãs de Elvis ao redor do mundo torcem por ele.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

sábado, 11 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 95

Memphis Recording Service 
Aos 18 anos Elvis parecia não ter nenhuma perspectiva. Este foi um dos seus períodos mais melancólicos. A maior parte do dia ele passava trabalhando numa fábrica junto com seu primo Gene Smith, montando projéteis de canhão para o exército americano, das 7 da manhã até às 3 da tarde. Seu ordenado, 66 dólares por semana, era muito mais do que seu pai recebia depois de cinco anos trabalhando como carregador. Mas, no inverno, antes de fazer 19 anos, Elvis trocou seu emprego e foi ser motorista de caminhão de uma companhia de eletricidade. O ordenado era menor, mas a curtição era maior, pois ele era louco por carros e caminhões. E foi de dentro da cabine deste caminhão que Elvis avistou pela primeira vez uma propaganda que logo lhe chamou a atenção. O anúncio do Memphis Recording Service dizia: "Gravamos qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer hora". 

Com 4 dólares, era possível gravar duas músicas num acetato de 78 rotações. Por mais duro que fosse, Elvis tinha essa quantia e em junho de 1953 ele pintou pela primeira vez na Sun Records. De acordo com o mito ele foi gravar um disco para dar de presente de aniversário de sua mãe. Mas acontece que o aniversário de Gladys havia sido no dia 25 de abril e, além do mais, os Presleys não tinham vitrola. Elvis só estava curioso em saber como a sua voz ficava num disco. Embora sua perfomance tenha sido qualquer coisa, sua voz e presença impressionaram Marion Keisker, a secretária de Sam Phillips. Ela recorda: "foi no começo da tarde de um sábado muito atarefado que ele chegou, e eu achei uma figura muito estranha, com aquele cabelo grande. Ele me disse que queria gravar umas canções para sua mãe e eu perguntei que tipo de música ele cantava. Ele então se virou até mim e disse: "Eu canto todo tipo de música". 

Fiquei intrigada e perguntei que tipo de interpretação tinha, se era hillbilly (caipira), porque ele tinha um jeito de caipira. Então eu perguntei: "Você vai imitar que cantor? Com quem você se parece?" Ele me olhou muito sério e disse: "Eu não me pareço com ninguém". Quando Marion começou a rodar a fita, ela viu que Elvis estava certo. Ele não se parecia com ninguém. Cantou um sucesso de um grupo negro, The Ink Spots, "My Happiness" e uma balada melosa, favorita de sua mãe: "That's when your Heartaches begin". E seu estilo era um cruzamento perfeito entre o timbre áspero e monocórdio dos negros e o gingado, o scat dos cantores brancos rurais. Elvis saiu com o disco para Gladys e Marion foi correndo mostrar a fita para Sam Phillips. Ele não ficou muito impressionado. Só quando Elvis voltou, no começo de 1954, e pediu para fazer outro disco, Sam descobriu o que tinha nas mãos. Assistiu as gravações e anotou: "Elvis Presley. Bom baladista. Chamar na primeira oportunidade". 

Nove meses depois Sam Phillips lembrou-se do "garoto de costeletas" e resolveu ligar para ele. Elvis veio no maior pinote até o estúdio e, depois de tentar inutilmente copiar o disco de demonstração, encarou o exasperado Sam Phillips: "Bem, o que você sabe cantar, garoto?". Elvis desfilou seu repertório, passando por diversos estilos, com ênfase em Dean Martin. Contudo, quando a audição terminou, Phillips não estava nada convencido, e disse a Elvis que seria preciso "trabalhar muito". Presley respondeu que gostaria que ele lhe "arranjasse uma banda". O guitarrista Scotty Moore e o baixista Bill Black foram chamados e começaram a trabalhar junto com Elvis. Quatro meses depois, na noite de 5 de julho de 1954, Elvis voltou ao estúdio com sua banda para sua primeira gravação profissional. A música era uma balada country muito piegas, com uma parte recitada onde Elvis sempre engasgava. O som estava muito ruim e Phillips pediu aos rapazes para darem um tempo.

Sun Records 
Antes dessa sessão de gravação, todavia, Sam havia sugerido a Elvis que ele cantasse algumas músicas de Arthur "big boy" Grudup, um dos pioneiros do Blues elétrico de Chicago. Presley conhecia muitas músicas de Grudup como "Cool Disposition", "Rock me Mama", "Hey Mama", "Everything's All Right" e "That's All Right Mama", que era a sua favorita. Agora, durante o intervalo, Elvis pegou uma garrafa de Coca-Cola e com ela nas mãos começou a cantar essa música, de maneira envenenada, só por brincadeira. "Elvis começou a brincar" - lembra Scotty, "e eu comecei a tocar junto assim que descobri em qual tom ele estava tocando. Então a porta da sala de controle se abriu. Sam entrou e disse: 'O que vocês estão fazendo?' Elvis respondeu que não sabia, que era só brincadeira. 'Bem', disse Sam, 'isso está muito bom. Vamos gravar' No terceiro ou no quarto take nós acertamos - e pronto" A criação dessa música, tão modestamente descrita por Scotty Moore, foi uma obra de arte, a fusão perfeita de duas culturas distintas, a negra e a branca. Comparando-se o original de Grudup com a versão de Presley, dificilmente se pode dizer que ambos estejam cantando a mesma canção. A diferença é muito grande, algo assim como comparar Mick Jagger e Frank Sinatra cantando "satisfaction". 

Em sua versão, Elvis acrescentou um ingrediente fundamental - o sexo. Ele erotizou a canção, criando um som espontâneo e ritmado. Nascia o Rock'n'Roll como o conhecemos. O estilo country ao fundir-se com o rhyntim and blues, estabeleceu um novo gênero musical na América, até então dominada pelo jazz e pelos musicais da Broadway. Assim que Elvis firmou as bases dessa nova música, novos talentos surgiram como Carl Perkins, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, os Beatles e os Rolling Stones. John Lennon reconheceu publicamente a importância de Elvis ao declarar: "Antes de Elvis não existia nada". O jovem Elvis era um gênio. Durante seus anos na Sun, Presley criou uma música debochada, alegre e erótica e lançou as bases estéticas do Rock'n'Roll. O rock não é, como alguns críticos acreditam, apenas um mistura maluca de vários ritmos americanos. Tudo isso é a fonte do Rock, mas não a sua alma. A essência do Rock'n'Roll está no comportamento, na postura frente a vida. E quem primeiro expressou essa atitude foi Elvis, depois os Beatles e depois todos as grandes bandas de rock da história. Todos esses caras foram gozadores e muito chegados ao deboche e à paródia, a energia e o entusiasmo diante da vida, por mais cruel que ela tenha sido com eles (a maioria dos pioneiros do Rock tinham origem humilde e sofrida, inclusive o próprio Elvis e os Beatles). 

Para o lado B do primeiro single de Elvis foi escolhida uma tradicional canção de bluegrass de Bill Monroe, "Blue Moon Of Kentucky". Com tudo pronto Sam começou os trabalhos de divulgação do disco. No próximo sábado à noite, ele levou o pequeno acetato para Dewey Phillips, na rádio WHBQ. Dewey era um disc Jockey muito louco que só tocava música negra, isso em Memphis, uma das cidades mais racistas do país. Ele ficou receoso em tocar Elvis, no começo. Depois de ouvir opiniões de outras pessoas, ele finalmente decidiu tocar, e assim por volta das nove horas, foi ao ar pela primeira vez na história um disco de Elvis Presley. O resultado foi incrível. Dewey sempre recebia muitos pedidos e conversava por telefone com seus ouvintes enquanto estava no ar. Isso foi antes da televisão e todo garoto de Memphis escutava seu programa. Nesse sábado à noite, o telefone da estação não parou um só minuto. Dewey tocava "That's All Right" virava o disco e tocava "Blue Moon of Kentucky". E foram só estas duas músicas a noite toda. Elvis ficou tão nervoso que sintonizou o rádio para seus pais e foi ao cinema. Mal sabia ele que naquela noite de sábado em Memphis começava a ser escrita uma das páginas mais importantes na história da música do mundo, o nascimento de uma revolução cultural que resiste até os dias de hoje. Uma revolução chamada Rock'n'Roll!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio.