segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Perdidos no Espaço / Viagem ao Fundo do Mar
Perdidos no Espaço - O gênero Sci-fi teve uma das épocas mais criativas no cinema justamente durante as décadas de 1950 e 1960. Tanta imaginação não demorou a sair das telas de cinema para invadir a TV. Em 1965 foi ao ar o primeiro episódio de uma das séries mais populares e queridas da história da TV: Lost in Space. O roteiro explorava as aventuras de uma tripulação que perdia o controle de uma expedição espacial após a nave Júpiter 2 apresentar problemas técnicos por causa do peso extra de um penetra na tripulação, o Dr. Smith (em brilhante interpretação do ator Jonathan Harris). Estrelada pelo ator Guy Williams a série durou três temporadas rendendo quase 90 episódios. Seu legado porém marcou para sempre a infância de toda uma geração encantada com a amizade de Will Robinson (Bill Mumy) e o seu Robô, que nos momentos de tensão saia repetindo a frase: "Perigo! Perigo! Perigo!". Mais divertido e nostálgico do que isso, impossível.
Viagem ao Fundo do Mar - Outra série de TV que fez muito sucesso foi "Voyage to the Bottom of the Sea", lançada em 1964. Criada pelo gênio Irwin Allen, a série explorava as aventuras de um submarino chamado Seaview que cruzava os sete mares enfrentando todos os tipos de desafios, desde inimigos militares até monstros das profundezas. A série tinha dois personagens centrais, o Almirante Harriman Nelson (Richard Basehart) e o Capitão Crane (David Hedison) que comandavam a embarcação. Com ótimos efeitos especiais para a época, "Viagem ao Fundo do Mar" durou 4 temporadas, com 110 episódios. Exibido no Brasil na década de 70 a série foi uma das campeãs de audiência em nosso país. Premiada com quatro Emmys, o Oscar da TV americana. Abaixo cena da primeira temporada em cores da série.
O Ladrão Silencioso
Título no Brasil: O Ladrão Silencioso
Título Original: The Thief
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Russell Rouse
Roteiro: Clarence Greene, Russell Rouse
Elenco: Ray Milland, Martin Gabel, Harry Bronson
Sinopse e Comentários:
Neste trilller psicológico dirigido pelo nova-iorquino Russell Rouse (Gatilho Relâmpago), o ótimo ator galês, Ray Milland, encarna Allan Fields, um renomado físico nuclear que também trabalha como espião para um país desconhecido, em plena fase de caça às bruxas do macartismo. Com uma verve hitchcockiana e rodado em preto e branco, "O Ladrão Silencioso" (The Thief -1952) discorre em seus 85 minutos, praticamente mudo - o som do filme só existe no barulho das ruas e dos toques irritantes de um telefone que quase leva à loucura o famoso físico-espião. Não existe fala dos atores.
A virada do filme, e também do personagem de Milland, ocorre quando o físico mata um agente do FBI que o perseguia. Palmas para o excelente roteiro da dupla, Clarence Greene e Russell Rouse (que também dirige o suspense). O filme foi um dos primeiros a mencionar os problemas da Guerra Fria e a infiltração e cooperação de alguns americanos com o comunismo. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Música (Herschel Burke Gilbert). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator - Drama (Ray Milland), Melhor Roteiro (Clarence Greene, Russell Rouse) e Melhor Fotografia em preto e branco (Sam Leavitt).
Telmo Vilela Jr.
Título Original: The Thief
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Russell Rouse
Roteiro: Clarence Greene, Russell Rouse
Elenco: Ray Milland, Martin Gabel, Harry Bronson
Sinopse e Comentários:
Neste trilller psicológico dirigido pelo nova-iorquino Russell Rouse (Gatilho Relâmpago), o ótimo ator galês, Ray Milland, encarna Allan Fields, um renomado físico nuclear que também trabalha como espião para um país desconhecido, em plena fase de caça às bruxas do macartismo. Com uma verve hitchcockiana e rodado em preto e branco, "O Ladrão Silencioso" (The Thief -1952) discorre em seus 85 minutos, praticamente mudo - o som do filme só existe no barulho das ruas e dos toques irritantes de um telefone que quase leva à loucura o famoso físico-espião. Não existe fala dos atores.
A virada do filme, e também do personagem de Milland, ocorre quando o físico mata um agente do FBI que o perseguia. Palmas para o excelente roteiro da dupla, Clarence Greene e Russell Rouse (que também dirige o suspense). O filme foi um dos primeiros a mencionar os problemas da Guerra Fria e a infiltração e cooperação de alguns americanos com o comunismo. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Música (Herschel Burke Gilbert). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator - Drama (Ray Milland), Melhor Roteiro (Clarence Greene, Russell Rouse) e Melhor Fotografia em preto e branco (Sam Leavitt).
Telmo Vilela Jr.
domingo, 23 de dezembro de 2007
Filmografia Comentada: Marilyn Monroe
Maior Sex Symbol da história do cinema Marilyn Monroe está no mesmo patamar que Elizabeth Taylor ou Elvis Presley, sendo qualquer apresentação desnecessária. Sua imagem é um ícone insuperável. Sua força ainda é sentida em todos os setores da cultura pop, seja em livros, filmes ou discos. Excelente comediante foi subestimada em sua época. O tempo porém lhe fez justiça. Hoje Marilyn é maior do que nunca e não mostra o menor sinal de esquecimento. Abaixo alguns filmes comentados da "Deusa".
Nunca Fui Santa
Revi esse filme ontem. Engraçado, Marilyn Monroe brigou com a Fox, brigou com os produtores, fundou sua própria produtora e disse para a imprensa que não mais faria personagens de loiras burras (as mesmas que a tinham consagrado). Depois disso foi para Nova Iorque e se matriculou no Actors Studio. Obviamente a Fox ficou em pânico com medo de perder sua estrela de maior bilheteria. Assim negociações foram feitas e Marilyn conseguiu maior controle de seus filmes. Disse para a imprensa que não faria mais comédias bobas. O hilário disso tudo é que depois de toda essa confusão Marilyn estrelou justamente esse "Nunca Fui Santa" onde ela interpreta numa comédia... mais uma loira burra! Tenho que dar o braço a torcer e dizer que apesar de "Nunca Fui Santa" ser uma comédia nessa pelo menos Marilyn se esforça muito para dar ao público uma interpretação melhor. Ela faz caras e bocas nas cenas mais "dramáticas". O problema é que seu estilo está em total descompasso com seu parceiro de cena, o ator Don Murray, que parece estar em um filme dos três patetas. Enquanto ele é totalmente caricatural, Marilyn parece estar em um dramalhão de Douglas Sirk. Desnecessário dizer que o resultado final fica mesmo confuso. Apesar disso gostei do filme, pois é o roteiro é bem feito e rápido (pouco mais de 90 minutos), com boas cenas externas e um ato final que lembra um pouco uma peça teatral (quando eles param na tal parada de ônibus que dá nome ao título original). Por fim uma curiosidade: Marilyn parece drogada em várias cenas - mas pelo menos nesse caso o roteiro serve de desculpa (já que ela estaria supostamente com sono por não dormir à noite).
Como Agarrar um Milionário
Curioso como o tempo muda os costumes (ou não). Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida. O filme foi feito antes da revolução feminista e as garotas são desesperadas para arranjar logo um milionário. O mais curioso de tudo é que mesmo após a luta das feministas, muitas mulheres hoje em dia agem igualzinho às protagonistas desse filme que está prestes a completar 60 anos de seu lançamento. Parece que o mundo não mudou tanto assim depois de todo esse tempo! Tirando esse viés machista o roteiro escrito por Nunnally Johnson, um dos melhores roteiristas da história de Hollywood, tem um timing de bom humor muito afiado e divertido. Na moralista década de 50 nada poderia ser explicitamente mostrado então tudo era sutilmente sugerido. Até mesmo objetos de cena servem para materializar a ironia de certas situações. O texto é nitidamente uma comédia de costumes, pois ao mesmo tempo expõe e satiriza a condição das garotas no filme. Estrelado por três atrizes o filme hoje é mais procurado por causa da presença de Marilyn Monroe em cena. Sua personagem não é a principal (lugar que cabe à mulher de Humphrey Bogart, Lauren Bacall) mas ela claramente chama todas as atenções para si. Bastante jovem, Marilyn faz um tipo cômico, uma garota bonita que não consegue enxergar um palmo à frente do rosto. No livro "A Deusa" há uma hilária passagem em que Marilyn procura o diretor do filme, Jean Negulesco, para lhe fazer mil perguntas sobre sua personagem, quais seriam suas motivações, seu perfil psicológico, etc. Monroe estava cada vez mais interessada no método do Actors Studio e por isso procurava desenvolver bem seus papéis. Surpreso pelo verdadeiro "interrogatório" Negulesco interrompeu a conversa dizendo: "Querida essa é uma simples comédia apenas e tudo o que você precisa saber de seu personagem é que ela é loira, burra e cega como um morcego!". Monroe obviamente não gostou nada da resposta! Já Bacall faz a mais velha das três, uma desiludida divorciada que quer tirar o pé da lama arranjando logo um maridão rico para resolver seus problemas financeiros. Completa o trio a atriz Betty Gable. Com um penteado pra lá de esquisito em relação aos padrões atuais, ela não acrescenta muito em seu papel de dondoca. Não era uma atriz particularmente engraçada ou carismática. O filme como diversão é muito bom, embora bem menos ousado que muitos dos futuros filmes de Marilyn. Como ponto negativo não tem nenhum número musical com a atriz, embora a trilha sonora seja ótima.
O Príncipe Encantado
Nobre regente (Laurence Olivier) conhece jovem corista (Marilyn Monroe) em um show de variedades e a convida para jantar em sua residência oficial em Londres. O encontro acaba trazendo inúmeras consequências para ambos durante os dias seguintes. Essa sinopse não esconde a verdadeira vocação de "O Príncipe Encantado". É um texto teatral e o filme não nega sua origem. Grande parte das cenas se passa em ambiente fechado e em cena duelam (no bom sentindo) o formalismo profissional de Laurence Olivier e o adorável amadorismo de Marilyn Monroe. Os acontecimentos de bastidores, das filmagens, há anos povoam o imaginário dos cinéfilos. Marilyn, como era de se esperar, causou todo tipo de problemas para Olivier, tantos que essa conturbada filmagem acabou virando um filme próprio que recebeu várias indicações ao Oscar esse ano:: "My Week With Marilyn". As histórias do set são saborosas mas e o filme? Sim, é uma boa comédia, muito bem produzida com lindos figurinos, cenários, muita pompa e luxo. Marilyn Monroe está encantadora. Apesar dos problemas de saúde ela surge em cena linda e aparentando muita saúde (o que me deixou surpreso). No saldo final considerei sua atuação muito superior á de Laurence Olivier, esse está particularmente travado na interpretação do nobre regente dos balcãs. Já Monroe não, está natural, espontânea. Não causa admiração a declaração que Laurence Olivier fez muitos anos depois da realização do filme reconhecendo que Marilyn estava ótima em "O Príncipe Encantado". Concordo plenamente. Aliás se tem algo que prejudica o filme é justamente a mão pesada do diretor Olivier. Ele demonstra claramente não ter o timing perfeito para Marilyn. O filme se alonga além do que seria razoável e tem barrigas (quebras de ritmo que o levam a certos momentos de monotonia). Pra falar a verdade quem salvou a produção foi realmente Marilyn que em muitos momentos simplesmente carrega o filme nas costas. Quem diria que a amadora Monroe daria uma rasteira no grande Laurence Olivier? Pois deu, e foi em "O Príncipe Encantado". O filme é dela no final das contas. Assista e confira!
Os Desajustados
Esse foi o último filme completo da Marilyn. Ela ainda chegou a iniciar as filmagens de "Something s Got To Give" ao lado de Dean Martin mas o filme não foi concluído. Seus atrasos, faltas e confusões no set fizeram com que a Fox a despedisse no meio da produção. Pouco tempo depois, pressionada, abandonada e depressiva veio a encontrar sua morte em um quarto solitário de sua casa. Assim Os Desajustados se tornou seu último momento no cinema. Eu acho um filme triste, melancólico e depressivo até. Afirmam algumas biografias da estrela que Arthur Miller escreveu o conto que deu origem ao filme inspirado justamente na sua vida com a Marilyn. Os excessos da vida da atriz aparecem na tela, apesar de Marilyn Monroe ainda aparecer linda nas cenas, ela está bem acima do peso e abatida. Muitas vezes a atriz surge em cena com o olhar perdido no horizonte, sem convicção. Fisicamente ela também mostra sinais de desgaste. Numa cena de praia, por exemplo, em que ela aparece de biquíni a atriz exibe uma barriguinha bem saliente. As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.
Os Homens Preferem as Loiras
Certa vez Billy Wilder disse que alguns filmes só dariam certos se Marilyn Monroe estivesse neles. Penso que é o caso de "Os Homens Preferem as Loiras", um excelente musical com ótima trilha sonora que diverte, encanta e emociona. Assistir Marilyn Monroe cantando tão bem sua mais famosa canção no cinema "Diamonds Are a Girl´s Best Friend" balança com qualquer cinéfilo que se preze. E como Marilyn estava linda no filme! Ela no auge da beleza e juventude esbanja sex appeal em todas as cenas, sem exceção. Seu jeito de falar sussurrando era extremamente sensual. Sua personagem, a corista e dançarina Lorelai Lee, se parece muito com a que interpretou em "Como Agarrar um Milionário" mas isso realmente não importa. O que fica mesmo é a ótima coreografia, figurinos e roteiro de uma produção que nasceu para ser leve e bem humorada. Outro dia mesmo reclamei da falta de canções de Marilyn em um outro filme. Pois bem, aqui em "Os Homens Preferem as Loiras" temos a oportunidade de assisti-la cantando quatro músicas, todas ótimas é bom dizer. Sempre achei Marilyn Monroe uma cantora subestimada. Eu pessoalmente acho seu timbre vocal lindo (além de ser excepcionalmente sensual). Não consigo entender também pessoas que a criticam afirmando que era apenas um mito sexual e não uma grande atriz! Bobagem, Marilyn Monroe tinha um talento nato para comédias e basta assistir filmes como esse para entender bem esse aspecto de sua carreira. Ela era divertida e não fazia esforço para parecer engraçada em cena (que em suma é o grande segredo dos grandes comediantes). Além disso sua voz sempre me soou relaxante e agradável. Tem que ser muito ranzinza para não gostar de musicais maravilhosos como esse. Mais um ponto positivo na grande carreira do diretor Howard Hawks que sempre foi um dos meus cineastas preferidos. Enfim, não precisa dizer mais nada. Quem ainda não assistiu e não consegue entender a longevidade do mito Marilyn Monroe não perca mais tempo. "Os Homens Preferem as Loiras" está lhe esperando. Assista e se divirta.
Almas Desesperadas
Casal deixa sua pequena filha aos cuidados da sobrinha do ascensorista do hotel onde estão hospedados. O problema é que a nova babá Nell Forbes (Marilyn Monroe) sofre de graves problemas psicológicos e mentais. A aproximação de um outro hóspede (Richard Widmark) na vida de Nell só irá piorar ainda mais a situação que já é extremamente delicada. "Almas Desesperadas" foi o primeiro filme em que Marilyn Monroe realmente estrelou, surgindo como protagonista. Até aquele momento ela se resumia a fazer papéis pequenos, sem grande importância. Tudo muda aqui. Monroe está em praticamente todas as cenas de um roteiro que se passa quase em tempo real, todo em uma só noite, dentro de um quarto de hotel. Muitos biógrafos e críticos afirmam que o papel da babysitter mentalmente perturbada era muito forte para uma Marilyn ainda tão jovem e inexperiente. De fato não deve ter sido nada fácil interpretar um personagem assim com apenas 26 anos mas sinceramente discordo dos que criticam a atuação de Monroe aqui. Achei sua atuação muito digna e correta. Ela em nenhum momento cai no exagero ou na caricatura. Para uma jovem estrela devo dizer que ela se saiu extremamente bem. O filme só funcionaria se Marilyn atuasse de forma satisfatória - e ela fez isso, com muita garra e sensibilidade, tenham certeza."Almas Desesperadas" é em essência um drama com toques de suspense e clima noir. A estrutura narrativa inclusive lembra uma peça de teatro. Os personagens estão concentrados em um ambiente fechado, dentro de uma situação limite. Poderia ter ficado pesado e chato mas não, o filme se desenvolve muito bem em seus curtos 76 minutos. Richard Widmark segue a trilha da boa atuação de Marilyn Monroe e desfila elegância e charme durante as cenas. Aliás seu figurino chama bem a atenção pois revela a moda masculina na primeira metade dos anos 50 com ternos enormes, folgadões, que alguns anos depois viriam a virar moda novamente. Para uma produção B da Fox achei tudo de bom gosto. O hotel onde se passa a estória foi bem recriado e os demais figurinos são bonitos. E por falar em beleza, Marilyn está linda, maravilhosa. Com cabelos mais escuros que o normal os fãs da atriz vão ser brindados com vários closes de seu rosto inesquecível. Mesmo fazendo papel de maluquinha sua sensualidade explode em cada tomada. Não foi à toa que ela se tornou um dos grandes símbolos sexuais do século XX. Embora seu papel não fosse essencialmente sensual ela o tornava assim naturalmente. A Fox inclusive investiu bem nisso a começar pelo poster do filme explorando a sensualidade de Marilyn de forma bem ostensiva e descarada. Em conclusão podemos afirmar que "Almas Desesperadas" não decepciona. É um registro histórico da ascensão de um dos maiores mitos da história do cinema! Só isso já o torna obrigatório.
Torrentes de Paixão
"Torrentes de Paixão" é um thriller de suspense passado nas famosas cataratas do Niagara (situada na fronteira entre EUA e Canadá). Esse é um local bem popular ainda nos dias de hoje para casais em lua de mel. Após realizar "Almas Desesperadas" Marilyn Monroe foi novamente escalada pelos estúdios Fox para um papel bem parecido com o do filme anterior. Bem longe das comédias musicais que fizeram sua fama, Marilyn aqui interpreta novamente uma mulher fatal que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Na trama acompanhamos Rose (Marilyn Monroe) e George (Joseph Cotten) um casal que passa férias em Niagara Falls. Ela é uma jovem que não consegue mais impedir seus impulsos sexuais e acaba se envolvendo com um amante local bem debaixo do nariz do marido traído. Ele é um homem com traumas de guerra que não consegue mais satisfazer sua jovem esposa pois retornou do conflito da Coreia completamente impotente, neurótico e irascível. Como não poderia deixar de ser eventos dramáticos vão marcar a passagem deles pelo local. A Rose de Marilyn Monroe como o próprio marido descreve no filme é uma "vagabunda completa". Isso é bem curioso pois diante do desafio de interpretar a jovem esposa infiel, Marilyn Monroe não se fez de rogada e usou e abusou de sua sensualidade latente nas cenas. Aliás é um dos papéis em que a atriz mais se serviu de seu grande sex appeal. Sua exuberância aqui beira a vulgaridade. Numa das sequências mais famosas Marilyn faz aquele que parece ter sido o mais longo rebolado da história do cinema. São quase dois minutos e meio apenas mostrando Monroe caminhando de costas para a câmera. Literalmente um desbunde em plenos anos 50, um dos períodos mais moralistas da história americana. Usando de roupas sensuais e colantes o espetáculo na época foi considerado totalmente indecente. Aliás é bom frisar que Marilyn está linda no filme, inclusive podemos perceber bem sua boa forma em um enorme close up de seu rosto focalizado bem de pertinho. Simplesmente maravilhosa! Com batom exageradamente vermelho e voluptuoso Marilyn esbanja lascívia em cada cena que aparece. De certa forma o diretor Henry Hathaway sabia que tinha em mãos um dos maiores símbolos sexuais de sua era e resolveu mesmo abusar dessa situação. O filme foi realmente pensado nela e feito para ela. Todo o resto se torna secundário. Naquela altura ela já era um mito de popularidade e "Torrentes de Paixão" se aproveita a todo momento disso. Além de Marilyn ainda temos de bônus a bela Jean Peters com toda sua beleza sofisticada e refinada. No final tudo resulta em um belo espetáculo de beleza feminina a desfilar pela tela. Os estetas certamente vão se esbaldar. Assista e entenda como se constrói um sex symbol genuinamente Made in Hollywood.
O Pecado Mora ao Lado
Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação, imaginando diversas situações inusitadas. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seu imaginário. “O Pecado Mora ao Lado” é um dos filmes mais lembrados de Marilyn Monroe. A cena em que ela deixa sua saia levantada com o vento vindo do metrô abaixo entrou definitivamente no inconsciente coletivo, virando símbolo de toda uma era do cinema americano da década de 50. Para a época a cena era muito ousada e chocou os conservadores. A imagem acabou virando a marca registrada da atriz, inclusive esse vestido sempre é copiado quando se quer fazer alguma referência a Marilyn em filmes, livros e até bonecos que reproduzem esse momento. Recentemente inclusive foi erguida uma estátua gigante da atriz nessa exata sequência. Apesar da importância em sua carreira da “saia ao vento” ela também trouxe vários problemas pessoais para a atriz. Acontece que justamente na noite em que filmaram essa cena o marido de Marilyn na época, o jogador de beisebol aposentado Joe Di Maggio, resolveu aparecer no set sem avisar. Como ele era um italiano casca grossa ficou chocado ao ver sua esposa exibindo as pernas e as calcinhas para um bando de marmanjos no meio da rua. Quando voltaram para casa ele a agrediu fisicamente, o que acabou virando o estopim da separação do casal. Essa seria mais uma crise para o diretor Billy Wilder administrar durante as complicadas filmagens. Marilyn, como sempre, deu muito trabalho ao diretor. Chegava atrasada, esquecia diálogos e tinha acessos de pânico antes de entrar em cena. Uma atitude bem diferente de seu colega de elenco, Tom Ewell, sempre muito profissional. Mesmo assim, como sempre acontecia aliás, quando o resultado chegou nas telas todos viram novamente a estrela da atriz brilhar. Ela está magnífica nesse papel que sequer tem nome, sendo identificada apenas como “The Girl” (a garota). A estrutura do filme não nega sua origem teatral (o roteiro foi escrito em cima da peça "The Seven Year Itch" de George Axerold). Tudo se passa praticamente dentro do apartamento do personagem Sherman. Em 90% do filme temos apenas Tom Ewell em divertidos monólogos ou em dueto ao lado de Marilyn. Basicamente ele imagina diversas situações que podem ou não se materializar na realidade, tudo em cima da chamada “coceira dos sete anos”, quando os maridos caem na rotina de casamentos monótonos e procuram por aventuras com mulheres mais jovens e bonitas. Tudo é desenvolvido com muito humor e ironia, bem ao estilo de Wilder. “O Pecado Mora ao Lado” é um filme divertido, irônico e um marco na carreira do cineasta Billy Wilder, que com apenas uma cena despretensiosa conseguiu construir um verdadeiro ícone cultural da história do cinema americano.
Pablo Aluísio.
Nunca Fui Santa
Revi esse filme ontem. Engraçado, Marilyn Monroe brigou com a Fox, brigou com os produtores, fundou sua própria produtora e disse para a imprensa que não mais faria personagens de loiras burras (as mesmas que a tinham consagrado). Depois disso foi para Nova Iorque e se matriculou no Actors Studio. Obviamente a Fox ficou em pânico com medo de perder sua estrela de maior bilheteria. Assim negociações foram feitas e Marilyn conseguiu maior controle de seus filmes. Disse para a imprensa que não faria mais comédias bobas. O hilário disso tudo é que depois de toda essa confusão Marilyn estrelou justamente esse "Nunca Fui Santa" onde ela interpreta numa comédia... mais uma loira burra! Tenho que dar o braço a torcer e dizer que apesar de "Nunca Fui Santa" ser uma comédia nessa pelo menos Marilyn se esforça muito para dar ao público uma interpretação melhor. Ela faz caras e bocas nas cenas mais "dramáticas". O problema é que seu estilo está em total descompasso com seu parceiro de cena, o ator Don Murray, que parece estar em um filme dos três patetas. Enquanto ele é totalmente caricatural, Marilyn parece estar em um dramalhão de Douglas Sirk. Desnecessário dizer que o resultado final fica mesmo confuso. Apesar disso gostei do filme, pois é o roteiro é bem feito e rápido (pouco mais de 90 minutos), com boas cenas externas e um ato final que lembra um pouco uma peça teatral (quando eles param na tal parada de ônibus que dá nome ao título original). Por fim uma curiosidade: Marilyn parece drogada em várias cenas - mas pelo menos nesse caso o roteiro serve de desculpa (já que ela estaria supostamente com sono por não dormir à noite).
Como Agarrar um Milionário
Curioso como o tempo muda os costumes (ou não). Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida. O filme foi feito antes da revolução feminista e as garotas são desesperadas para arranjar logo um milionário. O mais curioso de tudo é que mesmo após a luta das feministas, muitas mulheres hoje em dia agem igualzinho às protagonistas desse filme que está prestes a completar 60 anos de seu lançamento. Parece que o mundo não mudou tanto assim depois de todo esse tempo! Tirando esse viés machista o roteiro escrito por Nunnally Johnson, um dos melhores roteiristas da história de Hollywood, tem um timing de bom humor muito afiado e divertido. Na moralista década de 50 nada poderia ser explicitamente mostrado então tudo era sutilmente sugerido. Até mesmo objetos de cena servem para materializar a ironia de certas situações. O texto é nitidamente uma comédia de costumes, pois ao mesmo tempo expõe e satiriza a condição das garotas no filme. Estrelado por três atrizes o filme hoje é mais procurado por causa da presença de Marilyn Monroe em cena. Sua personagem não é a principal (lugar que cabe à mulher de Humphrey Bogart, Lauren Bacall) mas ela claramente chama todas as atenções para si. Bastante jovem, Marilyn faz um tipo cômico, uma garota bonita que não consegue enxergar um palmo à frente do rosto. No livro "A Deusa" há uma hilária passagem em que Marilyn procura o diretor do filme, Jean Negulesco, para lhe fazer mil perguntas sobre sua personagem, quais seriam suas motivações, seu perfil psicológico, etc. Monroe estava cada vez mais interessada no método do Actors Studio e por isso procurava desenvolver bem seus papéis. Surpreso pelo verdadeiro "interrogatório" Negulesco interrompeu a conversa dizendo: "Querida essa é uma simples comédia apenas e tudo o que você precisa saber de seu personagem é que ela é loira, burra e cega como um morcego!". Monroe obviamente não gostou nada da resposta! Já Bacall faz a mais velha das três, uma desiludida divorciada que quer tirar o pé da lama arranjando logo um maridão rico para resolver seus problemas financeiros. Completa o trio a atriz Betty Gable. Com um penteado pra lá de esquisito em relação aos padrões atuais, ela não acrescenta muito em seu papel de dondoca. Não era uma atriz particularmente engraçada ou carismática. O filme como diversão é muito bom, embora bem menos ousado que muitos dos futuros filmes de Marilyn. Como ponto negativo não tem nenhum número musical com a atriz, embora a trilha sonora seja ótima.
O Príncipe Encantado
Nobre regente (Laurence Olivier) conhece jovem corista (Marilyn Monroe) em um show de variedades e a convida para jantar em sua residência oficial em Londres. O encontro acaba trazendo inúmeras consequências para ambos durante os dias seguintes. Essa sinopse não esconde a verdadeira vocação de "O Príncipe Encantado". É um texto teatral e o filme não nega sua origem. Grande parte das cenas se passa em ambiente fechado e em cena duelam (no bom sentindo) o formalismo profissional de Laurence Olivier e o adorável amadorismo de Marilyn Monroe. Os acontecimentos de bastidores, das filmagens, há anos povoam o imaginário dos cinéfilos. Marilyn, como era de se esperar, causou todo tipo de problemas para Olivier, tantos que essa conturbada filmagem acabou virando um filme próprio que recebeu várias indicações ao Oscar esse ano:: "My Week With Marilyn". As histórias do set são saborosas mas e o filme? Sim, é uma boa comédia, muito bem produzida com lindos figurinos, cenários, muita pompa e luxo. Marilyn Monroe está encantadora. Apesar dos problemas de saúde ela surge em cena linda e aparentando muita saúde (o que me deixou surpreso). No saldo final considerei sua atuação muito superior á de Laurence Olivier, esse está particularmente travado na interpretação do nobre regente dos balcãs. Já Monroe não, está natural, espontânea. Não causa admiração a declaração que Laurence Olivier fez muitos anos depois da realização do filme reconhecendo que Marilyn estava ótima em "O Príncipe Encantado". Concordo plenamente. Aliás se tem algo que prejudica o filme é justamente a mão pesada do diretor Olivier. Ele demonstra claramente não ter o timing perfeito para Marilyn. O filme se alonga além do que seria razoável e tem barrigas (quebras de ritmo que o levam a certos momentos de monotonia). Pra falar a verdade quem salvou a produção foi realmente Marilyn que em muitos momentos simplesmente carrega o filme nas costas. Quem diria que a amadora Monroe daria uma rasteira no grande Laurence Olivier? Pois deu, e foi em "O Príncipe Encantado". O filme é dela no final das contas. Assista e confira!
Os Desajustados
Esse foi o último filme completo da Marilyn. Ela ainda chegou a iniciar as filmagens de "Something s Got To Give" ao lado de Dean Martin mas o filme não foi concluído. Seus atrasos, faltas e confusões no set fizeram com que a Fox a despedisse no meio da produção. Pouco tempo depois, pressionada, abandonada e depressiva veio a encontrar sua morte em um quarto solitário de sua casa. Assim Os Desajustados se tornou seu último momento no cinema. Eu acho um filme triste, melancólico e depressivo até. Afirmam algumas biografias da estrela que Arthur Miller escreveu o conto que deu origem ao filme inspirado justamente na sua vida com a Marilyn. Os excessos da vida da atriz aparecem na tela, apesar de Marilyn Monroe ainda aparecer linda nas cenas, ela está bem acima do peso e abatida. Muitas vezes a atriz surge em cena com o olhar perdido no horizonte, sem convicção. Fisicamente ela também mostra sinais de desgaste. Numa cena de praia, por exemplo, em que ela aparece de biquíni a atriz exibe uma barriguinha bem saliente. As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.
Os Homens Preferem as Loiras
Certa vez Billy Wilder disse que alguns filmes só dariam certos se Marilyn Monroe estivesse neles. Penso que é o caso de "Os Homens Preferem as Loiras", um excelente musical com ótima trilha sonora que diverte, encanta e emociona. Assistir Marilyn Monroe cantando tão bem sua mais famosa canção no cinema "Diamonds Are a Girl´s Best Friend" balança com qualquer cinéfilo que se preze. E como Marilyn estava linda no filme! Ela no auge da beleza e juventude esbanja sex appeal em todas as cenas, sem exceção. Seu jeito de falar sussurrando era extremamente sensual. Sua personagem, a corista e dançarina Lorelai Lee, se parece muito com a que interpretou em "Como Agarrar um Milionário" mas isso realmente não importa. O que fica mesmo é a ótima coreografia, figurinos e roteiro de uma produção que nasceu para ser leve e bem humorada. Outro dia mesmo reclamei da falta de canções de Marilyn em um outro filme. Pois bem, aqui em "Os Homens Preferem as Loiras" temos a oportunidade de assisti-la cantando quatro músicas, todas ótimas é bom dizer. Sempre achei Marilyn Monroe uma cantora subestimada. Eu pessoalmente acho seu timbre vocal lindo (além de ser excepcionalmente sensual). Não consigo entender também pessoas que a criticam afirmando que era apenas um mito sexual e não uma grande atriz! Bobagem, Marilyn Monroe tinha um talento nato para comédias e basta assistir filmes como esse para entender bem esse aspecto de sua carreira. Ela era divertida e não fazia esforço para parecer engraçada em cena (que em suma é o grande segredo dos grandes comediantes). Além disso sua voz sempre me soou relaxante e agradável. Tem que ser muito ranzinza para não gostar de musicais maravilhosos como esse. Mais um ponto positivo na grande carreira do diretor Howard Hawks que sempre foi um dos meus cineastas preferidos. Enfim, não precisa dizer mais nada. Quem ainda não assistiu e não consegue entender a longevidade do mito Marilyn Monroe não perca mais tempo. "Os Homens Preferem as Loiras" está lhe esperando. Assista e se divirta.
Almas Desesperadas
Casal deixa sua pequena filha aos cuidados da sobrinha do ascensorista do hotel onde estão hospedados. O problema é que a nova babá Nell Forbes (Marilyn Monroe) sofre de graves problemas psicológicos e mentais. A aproximação de um outro hóspede (Richard Widmark) na vida de Nell só irá piorar ainda mais a situação que já é extremamente delicada. "Almas Desesperadas" foi o primeiro filme em que Marilyn Monroe realmente estrelou, surgindo como protagonista. Até aquele momento ela se resumia a fazer papéis pequenos, sem grande importância. Tudo muda aqui. Monroe está em praticamente todas as cenas de um roteiro que se passa quase em tempo real, todo em uma só noite, dentro de um quarto de hotel. Muitos biógrafos e críticos afirmam que o papel da babysitter mentalmente perturbada era muito forte para uma Marilyn ainda tão jovem e inexperiente. De fato não deve ter sido nada fácil interpretar um personagem assim com apenas 26 anos mas sinceramente discordo dos que criticam a atuação de Monroe aqui. Achei sua atuação muito digna e correta. Ela em nenhum momento cai no exagero ou na caricatura. Para uma jovem estrela devo dizer que ela se saiu extremamente bem. O filme só funcionaria se Marilyn atuasse de forma satisfatória - e ela fez isso, com muita garra e sensibilidade, tenham certeza."Almas Desesperadas" é em essência um drama com toques de suspense e clima noir. A estrutura narrativa inclusive lembra uma peça de teatro. Os personagens estão concentrados em um ambiente fechado, dentro de uma situação limite. Poderia ter ficado pesado e chato mas não, o filme se desenvolve muito bem em seus curtos 76 minutos. Richard Widmark segue a trilha da boa atuação de Marilyn Monroe e desfila elegância e charme durante as cenas. Aliás seu figurino chama bem a atenção pois revela a moda masculina na primeira metade dos anos 50 com ternos enormes, folgadões, que alguns anos depois viriam a virar moda novamente. Para uma produção B da Fox achei tudo de bom gosto. O hotel onde se passa a estória foi bem recriado e os demais figurinos são bonitos. E por falar em beleza, Marilyn está linda, maravilhosa. Com cabelos mais escuros que o normal os fãs da atriz vão ser brindados com vários closes de seu rosto inesquecível. Mesmo fazendo papel de maluquinha sua sensualidade explode em cada tomada. Não foi à toa que ela se tornou um dos grandes símbolos sexuais do século XX. Embora seu papel não fosse essencialmente sensual ela o tornava assim naturalmente. A Fox inclusive investiu bem nisso a começar pelo poster do filme explorando a sensualidade de Marilyn de forma bem ostensiva e descarada. Em conclusão podemos afirmar que "Almas Desesperadas" não decepciona. É um registro histórico da ascensão de um dos maiores mitos da história do cinema! Só isso já o torna obrigatório.
Torrentes de Paixão
"Torrentes de Paixão" é um thriller de suspense passado nas famosas cataratas do Niagara (situada na fronteira entre EUA e Canadá). Esse é um local bem popular ainda nos dias de hoje para casais em lua de mel. Após realizar "Almas Desesperadas" Marilyn Monroe foi novamente escalada pelos estúdios Fox para um papel bem parecido com o do filme anterior. Bem longe das comédias musicais que fizeram sua fama, Marilyn aqui interpreta novamente uma mulher fatal que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Na trama acompanhamos Rose (Marilyn Monroe) e George (Joseph Cotten) um casal que passa férias em Niagara Falls. Ela é uma jovem que não consegue mais impedir seus impulsos sexuais e acaba se envolvendo com um amante local bem debaixo do nariz do marido traído. Ele é um homem com traumas de guerra que não consegue mais satisfazer sua jovem esposa pois retornou do conflito da Coreia completamente impotente, neurótico e irascível. Como não poderia deixar de ser eventos dramáticos vão marcar a passagem deles pelo local. A Rose de Marilyn Monroe como o próprio marido descreve no filme é uma "vagabunda completa". Isso é bem curioso pois diante do desafio de interpretar a jovem esposa infiel, Marilyn Monroe não se fez de rogada e usou e abusou de sua sensualidade latente nas cenas. Aliás é um dos papéis em que a atriz mais se serviu de seu grande sex appeal. Sua exuberância aqui beira a vulgaridade. Numa das sequências mais famosas Marilyn faz aquele que parece ter sido o mais longo rebolado da história do cinema. São quase dois minutos e meio apenas mostrando Monroe caminhando de costas para a câmera. Literalmente um desbunde em plenos anos 50, um dos períodos mais moralistas da história americana. Usando de roupas sensuais e colantes o espetáculo na época foi considerado totalmente indecente. Aliás é bom frisar que Marilyn está linda no filme, inclusive podemos perceber bem sua boa forma em um enorme close up de seu rosto focalizado bem de pertinho. Simplesmente maravilhosa! Com batom exageradamente vermelho e voluptuoso Marilyn esbanja lascívia em cada cena que aparece. De certa forma o diretor Henry Hathaway sabia que tinha em mãos um dos maiores símbolos sexuais de sua era e resolveu mesmo abusar dessa situação. O filme foi realmente pensado nela e feito para ela. Todo o resto se torna secundário. Naquela altura ela já era um mito de popularidade e "Torrentes de Paixão" se aproveita a todo momento disso. Além de Marilyn ainda temos de bônus a bela Jean Peters com toda sua beleza sofisticada e refinada. No final tudo resulta em um belo espetáculo de beleza feminina a desfilar pela tela. Os estetas certamente vão se esbaldar. Assista e entenda como se constrói um sex symbol genuinamente Made in Hollywood.
O Pecado Mora ao Lado
Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação, imaginando diversas situações inusitadas. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seu imaginário. “O Pecado Mora ao Lado” é um dos filmes mais lembrados de Marilyn Monroe. A cena em que ela deixa sua saia levantada com o vento vindo do metrô abaixo entrou definitivamente no inconsciente coletivo, virando símbolo de toda uma era do cinema americano da década de 50. Para a época a cena era muito ousada e chocou os conservadores. A imagem acabou virando a marca registrada da atriz, inclusive esse vestido sempre é copiado quando se quer fazer alguma referência a Marilyn em filmes, livros e até bonecos que reproduzem esse momento. Recentemente inclusive foi erguida uma estátua gigante da atriz nessa exata sequência. Apesar da importância em sua carreira da “saia ao vento” ela também trouxe vários problemas pessoais para a atriz. Acontece que justamente na noite em que filmaram essa cena o marido de Marilyn na época, o jogador de beisebol aposentado Joe Di Maggio, resolveu aparecer no set sem avisar. Como ele era um italiano casca grossa ficou chocado ao ver sua esposa exibindo as pernas e as calcinhas para um bando de marmanjos no meio da rua. Quando voltaram para casa ele a agrediu fisicamente, o que acabou virando o estopim da separação do casal. Essa seria mais uma crise para o diretor Billy Wilder administrar durante as complicadas filmagens. Marilyn, como sempre, deu muito trabalho ao diretor. Chegava atrasada, esquecia diálogos e tinha acessos de pânico antes de entrar em cena. Uma atitude bem diferente de seu colega de elenco, Tom Ewell, sempre muito profissional. Mesmo assim, como sempre acontecia aliás, quando o resultado chegou nas telas todos viram novamente a estrela da atriz brilhar. Ela está magnífica nesse papel que sequer tem nome, sendo identificada apenas como “The Girl” (a garota). A estrutura do filme não nega sua origem teatral (o roteiro foi escrito em cima da peça "The Seven Year Itch" de George Axerold). Tudo se passa praticamente dentro do apartamento do personagem Sherman. Em 90% do filme temos apenas Tom Ewell em divertidos monólogos ou em dueto ao lado de Marilyn. Basicamente ele imagina diversas situações que podem ou não se materializar na realidade, tudo em cima da chamada “coceira dos sete anos”, quando os maridos caem na rotina de casamentos monótonos e procuram por aventuras com mulheres mais jovens e bonitas. Tudo é desenvolvido com muito humor e ironia, bem ao estilo de Wilder. “O Pecado Mora ao Lado” é um filme divertido, irônico e um marco na carreira do cineasta Billy Wilder, que com apenas uma cena despretensiosa conseguiu construir um verdadeiro ícone cultural da história do cinema americano.
Pablo Aluísio.
sábado, 22 de dezembro de 2007
Filmografia Comentada: Rock Hudson
Rock Hudson foi um dos atores mais populares de Hollywood durante as décadas de 1950 e 1960. Galã à moda antiga foi lapidado na Universal que o preparou para se tornar uma estrela campeã de bilheteria - fato que se confirmou anos depois. Durante longa carreira mesclou trabalhos no cinema, teatro e TV. Nos anos 80 se tornou a primeira celebridade mundial a assumir que tinha AIDS, fato que chocou a todos pois poucos sabiam de sua homossexualidade. Sua filmografia é muito interessante pois ao longo da carreira trabalhou com o que de melhor Hollywood tinha a oferecer (diretores, roteiristas, elenco, etc). Aqui vai alguns comentários sobre seus principais filmes.
Almas Maculadas
Jornalista (Rock Hudson) resolve escrever uma matéria sobre um veterano da II Guerra Mundial, piloto condecorado (Robert Stack) que para sobreviver no pós guerra tem que se apresentar em parques de diversões em exibições aéreas onde faz acrobacias e disputa acirradas corridas com outros aviadores. "Almas Maculadas" é baseado em famoso livro do consagrado William Faulkner. Quem conhece a obra desse famoso escritor sabe o que encontrará em suas estórias: personagens marginais, à margem dos ricos e bem sucedidos, tentando sobreviver dentro do selvagem capitalismo americano. São seres que vivem um dia após o outro, sem grandes esperanças de que algo realmente vá melhorar em suas vidas. Isso se repete na trupe que vive ao lado do veterano aviador, sua esposa, a sensual e bonita LaVern Shummann (interpretada pela linda Dorothy Malone) e o fiel mecânico Jiggs (feito pelo bom ator Jack Carson). A produção é estrelada por Rock Hudson, naquela altura já com status de super astro (tinha feito há pouco o grande sucesso "Assim Caminha a Humanidade"). Ele comparece com sua habitual boa presença em cena mas aos poucos vê seu personagem perdendo espaço para LaVern, a esposa do piloto veterano. Curioso mas a estrutura do livro foi realmente criada em torno dessa mulher, seus dramas, sua paixão não correspondida e a luta pela sobrevivência no dia a dia. Robert Stack que havia estado tão bem em "Palavras ao Vento" aqui perde espaço até porque seu personagem é antipático e nada carismático. A direção do grande Douglas Sirk se revela novamente bem sucedida ao lado de seu galã preferido, Rock Hudson. Aliás esse filme seria o último ao lado de Rock, o que realmente é de se lamentar. No saldo final adorei o resultado pois a melancolia e a desesperanças que vemos em cena é bastante fiel ao texto de Faulkner. Em suma, ótimo drama que merece ser redescoberto.
Seminole
Tenente do exército americano Lance Caldwelll (Rock Hudson) chega em distante forte militar situado nos pântanos da Flórida. Sua guarnição tem a missão de pacificar o local, destruindo e capturando um bando de índios renegados da tribo Seminole liderados pelo rebelde chefe Osceola (Anthony Quinn). O argumento do filme é baseado em fatos reais. A tribo Seminole realmente lutou contra o exército americano na Flórida. O grande chefe Osceola também é um personagem real. Já o tenente Lance Cadwell (Rock Hudson) é totalmente fictício. O desfecho do filme também não condiz com a realidade dos fatos - O chefe Osceola não morreu conforme vemos na tela. Apesar disso e do fato de existir outros erros históricos não há como negar que "Seminole" é um western muito bom. Seus méritos surgem logo no começo do filme com uma curiosa inversão de valores - algo realmente raro na década de 50. Aqui os índios não são vilões carniceiros e nem os soldados americanos são heróis virtuosos. Pelo contrário, o que vemos no roteiro é uma civilização tentando manter seus hábitos e costumes, seu estilo de vida, em vista da invasão do homem branco. Outra questão importante: o mais alto oficial americano na estória é simplesmente um imbecil completo. Em um grande trabalho de caracterização o ator Richard Carlson compõe um major totalmente fora de controle, megalomaníaco e psicótico. Assistindo ao filme, vendo as tropas atoladas no pântano da Flórida, me lembrei daquela frase que diz: "Não existe situação mais grave do que a de ser comandado por um idiota". É isso o que vemos aqui - uma tropa liderada por um completo inepto. Outro aspecto curioso do filme é o fato dele se passar na Flórida, no meio pantanoso, bem diferente dos faroestes que estamos acostumados a assistir, em longas planícies do deserto. Enfim, gostei bastante de "Seminole", um filme com pequenos erros históricos certamente, mas socialmente muito consciente. Um parente distante de produções como "Dança com Lobos" onde a questão do nativo americano foi tratada com respeito e seriedade.
Tudo o que o Céu Permite
Muito bom esse drama que foca no preconceito que existe na sociedade sobre classes sociais diferentes. Após assistir cheguei na conclusão que certas convenções dentro da sociedade não mudaram nada desde que o filme foi feito. Aqui temos um casal formado por uma senhora viúva rica (Jane Wyman) e um jovem e pobre rapaz jardineiro (Rock Hudson). Claro que mesmo apaixonados ambos vão sofrer todo tipo de preconceito da sociedade por causa dessa situação. O filme é muito bem desenvolvido, sutil e inteligente. Joga com a situação e faz o público torcer pelo casal (isso na sociedade americana dos anos 50, com todos os seus pudores e valores morais ultrapassados). O filme é visualmente muito bonito, aproveitando tudo o que é possível da bela paisagem do local onde o personagem de Rock Hudson vive (um moinho antigo, com uma casa de campo e bambis passeando pelo quintal - mais bucólico impossível). O clima de nostalgia impera e traz muito para o resultado final. "Tudo o que o Céu Permite" foi produzido por causa do grande sucesso de "Sublime Obsessão". Praticamente toda a equipe foi reunida novamente para esse filme (Rock Hudson, Jane Wyman, o diretor Douglas Sirk e o produtor Ross Hunter). Rock tinha especial veneração por esse diretor pois foi o primeiro que deu uma chance de verdade a ele no cinema, quando era um simples iniciante. Também tinha grande amizade por Jane Wyman que bem mais veterana do que ele nas telas lhe deu apoio incondicional nesses dois filmes, sendo paciente e prestativa no set de filmagem. O curioso é que após o sucesso de "Tudo o que o Céu Permite" o aclamado diretor George Stevens fez tudo o que era possível para pedir Rock de empréstimo da Universal para rodar com ele na Warner o grande clássico "Assim Caminha a Humanidade". Certamente percebeu que Rock não era mais apenas uma promessa mas sim um grande astro. Enfim, recomendo bastante o filme, principalmente para o público feminino, que certamente terá muito mais sensibilidade para se envolver no excelente enredo.
Adeus às Armas
Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) se tornando perdidamente apaixonado por ela. Em suas memórias Rock Hudson se lembra com pesar da adaptação do famoso livro "A Farewell to Arms" de Ernst Heningway. Na ocasião o estúdio havia lhe oferecido três projetos: o primeiro era "Ben-Hur", o segundo "Sayonara" e por fim essa adaptação que seria dirigida pelo grande diretor John Huston. Rock escolheu "Adeus às Armas" pois segundo sua opinião "não havia como dar errado, tudo se encaixava muito bem, seria um grande sucesso certamente". Pois bem, as previsões de Hudson não se confirmaram. Logo após começarem as filmagens o diretor John Huston brigou com o produtor do filme, David O. Selznick. Às pressas foi convocado o diretor Charles Vidor que não conseguiu adaptar o romance literário com sucesso. Some-se a isso as dificuldades das filmagens que foram realizadas nos alpes italianos que não tinham estrutura para receber um filme daquele porte. No final das contas tanto "Ben-Hur" como "Sayonara" se tornaram grandes sucessos de bilheteria bem ao contrário de "Adeus às Armas" que não agradou nem ao público e nem à crítica. O que deu errado? Assistindo ao filme percebemos vários problemas na produção. O primeiro deles é que o roteiro não conseguiu encontrar um tom ideal para contar a estória. Tudo ficou excessivamente melodramático. A obra de Hemingway foi de certa forma alterada, tudo com o objetivo de explorar o lado galã de Hudson. Além disso exageraram no rorte final, tornando "Adeus ás Armas" muito longo e cansativo. Embora não seja interessante apenas especular penso que se John Huston tivesse se mantido na direção teríamos um filme mais fluente, leve, com belas cenas do conflito em que o personagem principal se envolve. O próprio Rock Hudson não gostou de sua atuação no filme, achou tudo muito superficial, sem emoção. Curiosamente o ator durante as filmagens concorreu ao Oscar por "Assim Caminha a Humanidade". Impossibilitado de ir aos EUA para a cerimônia foi homenageado na pequenina cidade italiana onde o filme estava sendo feito. Os moradores locais ergueram uma imensa estátua de gelo no formato do Oscar e a colocaram na frente do hotel onde Rock estava hospedado. A intenção era fazer uma enorme festa caso o ator ganhasse o prêmio. Infelizmente como não ganhou o Oscar, Rock teve que no dia seguinte se contentar em ver a imensa obra gelada se derretendo pelo calor do sol - o que não deixou de ser uma metáfora de ver seu sonho de vencer a cobiçada estatueta da Academia indo por água abaixo. De qualquer forma o filme merece uma revisão hoje em dia. Vale a pena conhecer, mesmo que não esteja à altura da obra do grande escritor.
Um Favor Muito Especial
Quantas vezes um ator pode repetir o mesmo papel em filmes diferentes? Bom, Rock Hudson provou que muitas vezes. Esse "Um Favor Muito Especial" é praticamente um remake de seu maior sucesso, "Confidências à Meia Noite". O argumento é basicamente o mesmo: Playboy mulherengo tenta conquistar uma mulher bem sucedida profissionalmente que não se importa em se casar ou ter filhos. Para isso ele finge ser uma outra pessoa para ganhar sua simpatia e confiança. Aqui no caso Rock finge ser um paciente pois o seu alvo é uma psicóloga (interpretada pela fraca atriz Leslie Caron). O único diferencial desse para "Pillow Talk" é que aqui o romance conta com o incentivo do pai da senhorita, vivido pelo veterano ator francês Charles Boyer (sem muito o que fazer em cena). O filme não foi bem nas bilheterias, também pudera, era mais do mesmo, sendo que bem menos engraçado do que os filmes que Rock Hudson fez ao lado de Doris Day. O público provavelmente cansou de ver o mesmo filme - só que com outro título. Em decorrência Rock deixaria a Universal um ano depois após seu contrato ter acabado e o estúdio não mostrar mais interesse em tê-lo sob exclusividade. Então é isso, "Um Favor Muito Especial" nada mais é do que um prato requentado só que com muito menos sabor.
Sangue Sobre a Terra
Extremamente interessante esse drama passado no Quênia durante um levante da população negra contra os fazendeiros colonizadores brancos. No meio da luta dois jovens que foram criados juntos (Rock Hudson e Sidney Poitier) ficam em lados opostos do conflito. A priori era de se supor que em um filme feito nos anos 50, estrelado pelo galã Hudson o roteiro fosse tomar parte dos brancos, colocando os negros como selvagens sanguinários com facão na mão. Felizmente e para minha surpresa isso não acontece em momento algum. O roteiro baseado em um famoso livro que tratou sobre a questão racial no Quênia não toma partido. Em cena somos apresentados aos lados positivos e negativos de ambos os lados em conflito. O racismo dos brancos não é jogado para debaixo do tapete e as atrocidades cometidas pelos negros também são expostas de maneira visceral. Os dois lados são mostrados da forma mais imparcial possível. O impacto do filme só é quebrado para mostrar o azedo romance entre Rock e a starlet Dana Wynter mas ele não decola nunca. O ponto forte fica mesmo com as lutas e as questões raciais que são tratadas com o devido respeito e seriedade. O diretor Richard Brooks era acima da média pois já havia dirigido o cult do surgimento do rock "Sementes da Violência" e depois realizaria alguns clássicos como "Gata em Teto de Zinco Quente". "A Sangue Frio" e "Doce Pássaro da Juventude", ou seja, era realmente um craque na direção. Enfim, "Sangue Sobre a Terra" é inteligente, humano e trata a questão dos direitos das populações negras africanas com muita sensibilidade. Altamente recomendado para quem se interessa pelo tema.
O Esporte Favorito dos Homens
Na década de 1960 Rock Hudson descobriu um novo filão de sucesso: as comédias românticas. Para um ator que foi descoberto nos dramas de Douglas Sirk era uma mudança e tanto estrelar tantas produções cômicas como essa. A fórmula se mostrou muito bem sucedida nos três filmes que rodou ao lado de Doris Day e em alguns outros filmes esporádicos como por exemplo “Quando Setembro Vier”. O fato porém é que com o tempo as coisas foram se repetindo e o público lentamente foi perdendo o interesse. O desgaste foi natural. Esse “O Esporte Favorito dos Homens” é um exemplo disso. Dirigido pelo grande Howard Hawks o filme simplesmente não emplaca. As situações não são particularmente engraçadas e até mesmo Rock Hudson aparece apático, em um personagem completamente desinteressante. Para piorar sua atuação também deixa a desejar pois ele surge travado em cena, o que contrasta e muito com seus trabalhos ao lado da maravilhosas Doris Day. Aqui ele sequer consegue apresentar seu tão conhecido timing para humor. Talvez a culpa seja de sua parceira em cena, Paul Prentiss, que certamente não tem o talento de Doris e nem sua simpatia pessoal. Para falar a verdade ela sequer parece estar interessada em disponibilizar uma boa atuação. Não me admira em nada que não tenha conseguido fazer longa carreira em Hollywood, desaparecendo tão rapidamente como surgiu. Esse é o tipo de filme que o cinéfilo acaba criando uma certa expectativa, até mesmo pelo pelos nomes envolvidos. Howard Hawks marcou a história do cinema americano, sendo um dos cineastas mais ecléticos que já passaram pelos grandes estúdios. Basta consultar sua filmografia para ver como ele conseguia realizar filmes de ótimo nível, seja nos gêneros aventura, western ou comédia. Aqui porém a magia não funcionou. A culpa muito provavelmente seja do roteiro que procura tirar humor em cima de um esporte muito popular nos EUA, a pesca com anzol. Algumas cenas são simples gags em cima dessa modalidade esportiva. O problema é que assim como o beisebol isso é algo muito americano, que não desperta o menor interesse do público de outros países. Desse modo cenas com Rock pescando, pisando em baldes de iscas e outras coisas semelhantes não consegue criar muita afinidade. Sem identificação com as situações a coisa simplesmente não funciona. Outro problema bem visível é que o filme foi totalmente rodado dentro dos estúdios e isso é um erro em se tratando de um tema como esse que certamente exigiam tomadas externas, de muitos rios e natureza em geral. As florestas falsas recriadas que surgem nas cenas simplesmente não convencem. A Universal parece ter previsto que o filme não seria bem sucedido pois o arquivou por longos dois anos antes de lança-lo nos cinemas americanos. No final a fita não conseguiu agradar nem à crítica e nem ao público se revelando apenas um grande desperdício de talento e dinheiro.
Hino de uma Consciência
Nesse fim de semana assisti a esse "Hino de Uma Consciência", um filme de guerra bem diferente. Embora o filme se passe em um centro de treinamento de pilotos americanos na guerra da Coreia, o foco do roteiro e argumento não se baseiam essencialmente nisso mas sim na crise existencial que se abate sobre o protagonista. Rock Hudson aqui interpreta esse jovem coronel da força aérea dos Estados Unidos que durante a II Guerra Mundial ataca por engano um orfanato de crianças no Japão. Corroído pela culpa ele resolve se tornar ministro religioso mas sem muito poder de oratória acaba fracassando, voltando mais uma vez ao front, dessa vez como instrutor na Coreia. O curioso é que sua redenção vem na forma de ajuda humanitária à população local - seja distribuindo alimentos, seja ajudando crianças sem lar da região. O tom do filme é melodramático, arriscando muitas vezes cair na pieguice, mas que se salva ao final principalmente pelas cenas de batalha entre os caças americanos e inimigos. Rock Hudson entrega uma interpretação não muito inspirada e tem como coadjuvante a indiana Anna Kashfi que consegue ser pior do que ele em cena. Para quem não se recorda essa atriz foi a segunda esposa de Marlon Brando, mãe de seu filho Christian que anos depois seria preso por assassinar o companheiro de sua irmã. Essa foi a primeira vez que a vi em cena e posso dizer que ela como atriz realmente era uma nulidade completa. Talvez só esteja no filme por nepotismo de Brando. De qualquer forma, aqui temos, como aconteceu em "Pilares do Céu", um filme com nítida tendência à religiosidade, tudo em meio a um conflito armado. Se essa for sua praia recomendo.
Winchester 73
Roteiro e argumento: Uma das melhores coisas de Winchester 73. Sem exagero posso dizer que o roteiro desse filme lembra muito os roteiros de Robert Altman. Várias histórias vão sendo mostradas e aos poucos todas convergem para o mesmo local. O roteiro na verdade segue o rifle Winchester 73 que vai passando de mão em mão ao longo do filme. Ganha por James Stewart em um concurso em Dodge City (onde até Wyatt Earp aparece como coadjuvante) o rifle acaba sendo roubado indo parar nas mãos de um grupo Sioux, da cavalaria, de um covarde etc. Tudo muito bem escrito, me deixou surpreso. / Produção: A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme (ele tinha rompido com seu estúdio anterior e tinha virado ator free lancer). Assim tendo em vista o potencial das bilheterias com sua presença a Universal investiu bem mais resultando numa produção caprichada. / Direção: Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. / Elenco: James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart lidera um elenco acima da média. O mais curioso aqui é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux (de peruca e pintado quase não reconheci Rock). Já Curtis, muito muito jovem faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indigena. Muito legal ver esses atores novatos tentando um lugar ao sol.
Palavras ao Vento
Muito interessante esse filme. Douglas Sirk tinha fama de dirigir seus filmes com a mão pesada, transformando muitos deles em tremendos dramalhões. Bem, isso não acontece tanto aqui - pelo menos não é dos seus trabalhos mais melodramáticos. O roteiro obviamente traz uma série de intrigas envolvendo traições, amores impossíveis e relações familiares escandalosas. Mesmo com tantos ingredientes pesados achei o resultado final muito bom, nada martirizante. Embora seja estrelado por Rock Hudson no auge de sua popularidade, é fácil constatar que aqui ele levou uma rasteira em cena. Isso porque ninguém consegue brilhar mais no filme do que o ator Robert Stack. Além de seu personagem ser muito bom (um playboy com problemas de alcoolismo e irresponsável), Stack dá show em todos os momentos em que aparece, ofuscando completamente a estrela de Hudson. Em segundos ele vai da fúria ao arrependimento, da infantilidade à maldade. Confesso que nunca tinha assistido nada dele nesse nível. Aliás o conhecia mais pelo papel de Eliot Ness no seriado televisivo "Os Intocáveis" (que passou há muitos anos nos domingos à noite na Globo). Aqui Stack mostra que realmente era ótimo em cena, pois seu personagem em nada lembra o famoso policial que o tornou famoso. Por fim mais uma coisa me fez gostar muito de "Palavras ao Vento": seu maravilhoso clima vintage. Filmado em plenos anos 50 (minha década preferida), o filme desfila em sua bela produção grandes carrões, ótimos figurinos e até jukeboxes que são a cara dos 50´s, tudo o que eu definitivamente adoro. Então é isso, para quem gosta de clássicos dramáticos "Palavras ao Vento" é uma ótima opção.
Sublime Obsessão
O filme é um drama tipicamente dos anos 50. Achei tudo muito melodramático e pesado, sem nenhum traço de qualquer tipo de fina ironia ou algo do tipo. O argumento não suaviza para o espectador, assim se essa não for a sua praia é melhor nem assistir. "Sublime Obsessão" transformou o ator Rock Hudson em um astro. Fez grande sucesso de bilheteria e mostrou que ele tinha capacidade de atrair o público aos cinemas. O mais curioso é que ele só foi escalado porque a Universal estava com problemas financeiros e não tinha dinheiro para contratar um ator do primeiro time de Hollywood, assim teve que se contentar com a chamada "prata da casa" (Hudson era ator contratado da Universal, foi treinado e feito dentro do próprio estúdio, tudo ao estilo do antigo "Star System"). Devo confessar que a atuação de Rock no filme é apenas mediana. Ele, para falar a verdade, não era um grande ator mas simplesmente um galã, que se saía muito melhor em filmes mais leves como as comédias românticas que rodou ao lado de Doris Day. Aqui, principalmente nas cenas mais tensas, faltou um pouco mais de talento. Já a atriz Jane Wyman (primeira esposa do presidente Ronald Reagan) também não era lá essas coisas. Confesso que esperava mais de sua interpretação. Na maioria das cenas ela se limita a fazer o papel de "boazinha". Apesar da dupla central não estar à altura do que o roteiro exige, o filme não deixa de ser interessante. Para falar a verdade é bem didático assistir filmes antigos assim pois nos anos 50 ainda era possível realizar produções como essa, sem nenhum traço do cinismo que hoje impera na sociedade. Se você gosta da cultura vintage fique à vontade para curtir "Sublime Obsessão".
Confidências à Meia Noite
Bacana saber que a querida Doris Day vai lançar um disco agora na terceira idade. É isso aí - enquanto há vida, há esperança. Fiquei tão interessado (e contente) que resolvi criar esse tópico em homenagem a ela. "Pillow Talk" é certamente um dos melhores filmes de sua filmografia (se não for o melhor). A primeira parceria com Rock Hudson (faria mais dois filmes ao lado dele) rende ótimas cenas de humor. Considerado ousado e sofisticado demais para os anos 50 o filme fez um tremendo sucesso. Rock em sua biografia afirma que esse foi sem dúvida um dos trabalhos que mais gostou de fazer pois o clima no set era o melhor possível, muito descontraído e alegre. Além disso ele criou uma ótima química com Doris nas cenas. Hudson havia recentemente se separado da esposa e procurava por novos caminhos em sua carreira. Depois de estrelar faroestes e dramas com Douglas Sirk e George Stevens, Rock tinha dúvidas se poderia fazer bem um papel de playboy numa comédia romântica sofisticada como essa. Depois de pensar por um tempo resolveu arriscar. O interessante é que o sucesso de "Confidências à Meia Noite" acabou significando uma mudança completa nos rumos de sua filmografia. A partir daqui ele deixaria definitivamente os dramas pesados de lado para se dedicar a filmes leves, divertidos como "Volta meu Amor", "Não me Mandem Flores", "O Esporte Favorito do Homem" e "Quando Setembro Vier". Já Doris Day atribui ao filme à sua fama de "Virgem profissional" e diz não entender a razão. No filme sua personagem se recusa a ir para a cama com o conquistador barato vivido por Hudson. Isso criou e ajudou muito na imagem de "Sandy" dos anos 60, mas segundo Doris aqui ela não interpretava uma "virgem" mas sim uma mulher independente, inserida no mercado de trabalho, profissional, que pela primeira vez tinha o direito de escolher o homem com quem queria se casar - ou não casar, de acordo única e exclusivamente com sua consciência. O filme foi divisor de águas também porque acabou criando um dos filões mais usados em Hollywood - o da comédia romântica! Antes de Pillow Talk (Conversa de Travesseiro, seu título original) os estúdios não prestavam muito atenção nesse estilo. Com o sucesso do filme eles começaram a investir mais no gênero - que atingiria seu auge vinte anos depois, nos anos 80. Uma fórmula que até hoje não demonstra sinais de desgaste perante o público, principalmente feminino.
Volta Meu Amor
Nenhum casal fez tanto sucesso nos cinemas durante os anos 1960 do que Rock Hudson e Doris Day. Juntos eles fizeram três comédias românticas que tiveram excelentes bilheterias para a época. A fórmula era infalível e com o sucesso de "Confidências à Meia Noite" a volta do casal era algo considerado certo pelos produtores. A própria Doris Day tinha adorado ter trabalhado ao lado de Rock e ao final das filmagens havia lhe dito que eles deveriam fazer outros filmes juntos. "Volta Meu Amor" foi o segundo filme de Rock e Doris. O roteiro segue basicamente a mesma estrutura do primeiro filme. Um playboy se faz passar por outro homem para conquistar o coração da personagem de Day. Falando sinceramente os dois filmes são praticamente iguais, não mudando quase nada, a não ser o nome e a profissão dos personagens principais. O roteiro é praticamente o mesmo também, a mesma ideia central que havia sido utilizada em "Confidências à Meia Noite". Nem por isso deixa de ser um bom passatempo, dos mais agradáveis, até mesmo nos dias de hoje. Apesar dos diálogos "ousados" para os anos 60 a produção era divertida, leve e recomendada para todos os públicos, mas principalmente casais. A sociedade americana passava por profundas mudanças sociais e de costumes na época em que esses filmes eram lançados nos cinemas. As mulheres finalmente tinham conquistado seu espaço no mercado de trabalho. Eram agora independentes, profissionais e não usavam mais o casamento como único meio de vida. Ter ou não um companheiro tinha se tornado apenas uma opção e não uma obrigação. Rock Hudson geralmente interpretava homens incorrigíveis, playboys e conquistadores inveterados. Já Doris Day trazia para as telas a nova mulher, dona de seu destino, com pleno controle de sua própria vida. O choque entre esses dois estilos de vida é que criava o fino humor para esse tipo de produção. Quando foi lançado "Volta Meu Amor" se tornou um sucesso de bilheteria ainda maior do que "Confidências à Meia Noite", o que deixou todos surpresos. Por causa do sucesso a dupla voltaria ainda a atuar junto pela terceira e última vez em "Não Me Mandem Flores" que no momento oportuno trataremos aqui em nosso espaço; De qualquer forma fica a dica para os fãs de Rock Hudson e Doris Day. "Volta Meu Amor" é uma delícia de filme. Não envelheceu e mesmo revisto nos dias de hoje ainda é uma ótima diversão.
Quando Setembro Vier
Na esteira de seus sucessos ao lado da atriz Doris Day, Rock Hudson se uniu à estrela italiana Gina Lollobrigida e a dois ídolos juvenis (o casal Sandra Dee e Bobby Darin) e estrelou esse divertido filme chamado "Quando Setembro Vier". Se você tem curiosidade para conhecer como eram as comédias românticas de antigamente eu recomendo essa super colorida produção. O filme é leve, divertido, com um elenco simpático e como nostalgia funciona muito bem. Aqui temos Rock Hudson como um milionário americano na Itália (uma derivação de seus papéis nos filmes que fez ao lado de Doris Day) que acaba se envolvendo romanticamente com uma típica italiana (Gina) ao mesmo tempo em que tem que lidar com um grupo de jovens que pensam erroneamente que sua mansão na verdade é um hotel de verão. Rock Hudson parece estar bem à vontade em seu papel, se divertindo como nunca. Ele até dança (de forma bem esquisita é verdade) numa das mais curiosas cenas de toda a sua carreira. O elenco de apoio também é muito bom, embora Gina Lollobrigida não saia do velho estereotipo da mulher italiana que fala alto e é dada a vexames públicos. Curiosamente Gina não conseguiu firmar carreira em Hollywood, muito provavelmente por causa de seu péssimo inglês (seu sotaque é ainda mais exagerado do que outra italiana famosa que tentava carreira em Hollywood na mesma época, Anna Magnani). No núcleo jovem se destacam Sandra Dee (muito popular com filmes de sucesso naquela ocasião) e Bobby Darin (que tentava emplacar uma carreira no cinema após ter alcançado algum sucesso nas paradas, encarnando uma espécie de versão jovem de Frank Sinatra). Aliás a titulo de curiosidade é interessante saber que eles se apaixonaram durante as filmagens e se casaram pouco tempo depois (fato bem mostrado no filme "Uma Vida Sem Limites" onde Kevin Spacey interpreta Bobby). O diretor do filme foi Robert Mulligan, que vinha da TV. Ele tinha acabado de dirigir Tony Curtis no não tão bem sucedido "The Great Impostor" e o estúdio estava apostando nele como um bom cineasta de produções mais leves. Curiosamente o diretor iria mesmo se consagrar no excelente "O Sol é Para Todos", um filme sério, que se tornou um marco na carreira de Gregory Peck e na luta dos direitos civis nos EUA.
Jamais Foram Vencidos
Que tal reunir em um mesmo filme John Wayne e Rock Hudson? Os dois tinham sido os maiores recordistas de bilheteria durante os anos 50 e 60 e agora reuniam forças no western "Jamais Foram Vencidos". O filme pode ser considerado um faroeste temporão, já que foi realizado no final dos anos 60, quando a juventude não mais se importava muito com esse gênero cinematográfico. Embora Wayne ainda mantivesse seu prestígio inabalado, Hudson vinha passando por dificuldades na carreira. Como era um galã acima de tudo, os papéis iam cada vez mais rareando com a chegada da idade e ele próprio representava naquela altura um tipo de ator que definitivamente estava saindo de moda. Ao invés do galã de visual impecável, o cinema americano agora adotava atores com grande talento mas com aparência de homens comuns, como Al Pacino, Dustin Hoffman e Robert De Niro. Atores que não tinham a estampa dos velhos ídolos como Rock Hudson. Em sua autobiografia o próprio Hudson comenta a chegada dessa nova geração de "monstrinhos" como ele apelidou os novos atores em ascensão. Realmente era bem complicado unir duas gerações tão diferentes em um mesmo filme. Por isso o convite de estrelar um western ao lado do mito John Wayne veio bem a calhar naquele momento de sua vida. O filme em si era interessante e mostrava um oficial confederado (Hudson) que não aceitava a derrota de seu amado sul durante a guerra civil americana. Tão transtornado ficara com a perda da guerra que em um ato de profunda indignação resolve queimar sua propriedade, juntar tudo o que tinha e rumar para o México com a esperança de começar uma nova vida. Impossível não fazer uma analogia sutil com a própria carreira de Rock Hudson. Tal como o personagem de seu filme ele naquele momento era coisa do passado e deveria rumar para um novo destino. E tal como o sulista ferido ele realmente em pouco tempo deixaria o seu passado para trás (o cinema) e trilharia um novo caminho na carreira ao estrelar uma série de TV, em busca de um novo recomeço. Nunca o ditado "A Vida Imita a Arte" foi tão bem aplicado como nesse caso.
O Segundo Rosto
Ser galã pode se tornar um fardo. Que o diga Rock Hudson nos anos 60. O ator liderava todas as listas de popularidade e estrelava um sucesso após o outro. Ele estava no auge da popularidade em sua carreira no cinema. Foi então que em 1966 ele topou protagonizar um estranho roteiro de um filme mais estranho ainda dirigido por John Frankenheimer. Na verdade era a velha estória do galã tentando ser reconhecido como bom ator. O resultado foi o filme "O Segundo Rosto", um verdadeiro delírio cinematográfico que causou muita perplexidade na época de seu lançamento nos cinemas. O argumento é até simples: um homem de meia idade se cansa da mediocridade de sua vida e resolve mudar tudo, forjar sua morte, fazer uma cirurgia plástica e começar uma nova vida longe da anterior, tudo com a ajuda de uma estranha corporação. Rock interpreta o personagem após a mudança de sua identidade. Embora possa soar banal a estrutura dramática do filme o que realmente se sobressai é a maneira que o diretor escolheu para contar essa estória. Imagens distorcidas, sonhos se mesclando à realidade, devaneios e muita metalinguagem psicodélica marcam de forma muito surreal o resultado que assistimos. Na verdade essa película é uma verdadeira ET dentro da filmografia de Hudson, que sempre procurou trilhar o mainstream, evitando correr maiores riscos. Até é claro aceitar fazer esse alucinado roteiro. No meio da esquisitice dois momentos são marcantes: A atuação de Rock numa longa sequência de uma festa (onde ele estava realmente embriagado para parecer mais convincente no filme) e uma celebração onde várias pessoas aparecem nuas num grande tonel de fabricação caseira de vinhos. Essa cena inclusive é muito ousada, principalmente para os padrões morais do cinema americano dos anos 60. 'O Segundo Rosto' foi lançado oficialmente em Cannes. Rock e o diretor esperavam uma grande recepção, uma consagração total na França mas o resultado final não agradou e no final da exibição o filme foi vaiado pelo público. Rock que tinha comparecido na premiere ficou visivelmente constrangido pela reação negativa da plateia. Ele inclusive diria mais tarde que ficou completamente transtornado pois tinha grandes esperanças em seu êxito, falando inclusive em uma potencial palma de ouro. A realidade porém se mostrou implacável. A péssima acolhida em Cannes acabou repercutindo nos Estados Unidos e lá o filme acabou se tornando também um dos maiores fracassos do ano. Talvez o público ainda não estivesse pronto para um filme tão inovador. Anos depois Rock defenderia "O Segundo Rosto", tanto que chegaria tardiamente a receber alguns prêmios por sua atuação. De certo modo ele tinha razão em considerar esse um de seus grandes trabalhos. O tempo lhe deu toda a razão. Hoje o filme tem status de "cult", é debatido em escolas de cinema e tem o reconhecimento (tardio) da crítica especializada. Também é uma boa pedida para quem quiser conhecer o lado mais fora do comum da cinematografia sessentista. Quem assistir verá que o filme pode até não agradar a alguns, nem entusiasmar a outros mas certamente não irá deixar ninguém indiferente a ele.
A Espada de Damasco
Aventura das mil e uma noites produzida pelos estúdios Universal. Aqui não há grande segredo. A Universal realizava esse tipo de filme para as matinês, para um público jovem que frequentava o cinema no período matutino. Os filmes eram produções B, de baixo orçamento, com excesso de princesas, lutas de capa e espada e muita fantasia. Tudo isso se pode encontrar em "A Espada de Damasco". Na estória Rock Hudson interpreta um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível. Não há como negar que esse tipo de produção soa totalmente datada nos dias de hoje. Nada é muito bem cuidado em termos de cenário, figurino, roteiro e diálogos. Tudo aparenta ser bem falso, filmado com pouco dinheiro no quintal dos estúdios Universal. É um tipo de aventura ligeira que hoje em dia aparente ser por demais inocente e até sem muito nexo. Em um produção infanto-juvenil como esse "A Espada de Damasco" pouco coisa é ainda relevante nos dias de hoje mas gostaria de destacar o trabalho da simpática atriz Piper Laurie que empresta muito carisma ao resultado final. Fazendo uma princesa pouco convencional ela mantém o mínimo interesse em um argumento de teatro infantil. Em suma "A Espada de Damasco" não se sustenta nos dias de hoje, envelheceu e se tornou obsoleto. Só vale mesmo pela curiosidade de conhecer como eram os filmes das "Mil e Uma Noites" da Universal na década de 1950. Aqui realmente apenas a nostalgia e o saudosismo salvam o filme em uma revisão atual. O resto está ultrapassado pelo tempo.
Não Me Mande Flores
George (Rock Hudson) é um sujeito completamente hipocondríaco. Casado com a simpática Judy (Doris Day) ele vive criando doenças novas que só existem em sua cabeça. As coisas pioram quando visita seu médico particular e acaba se confundindo com um exame de outro paciente. Convencido que está com os dias contados e que tem poucas semanas de vida, George ao lado de seu vizinho e amigo Arnold (Tony Randall) decidem arranjar um novo marido para a esposa para que ela não passe pelo trauma de sua morte sozinha. “Não me Manda Flores” foi o terceiro e último filme da dupla Rock Hudson / Doris Day. Eles emplacaram grandes sucessos nos anteriores “Confidências à Meia Noite” e “Volta Meu Amor” e assim era natural que voltassem a atuar juntos. O filme é baseado numa peça de teatro escrita por Norman Barasch e Carroll Moore. O ritmo é ágil, hilariante e o roteiro muito bem escrito. Obviamente como a estória foi criada para ser encenado no teatro o filme se concentra bastante dentro da própria residência do casal, em três atos bem delimitados, com poucos cenários. Rock e Doris tinham uma química perfeita, eram grandes amigos. Esse tipo especial de entrosamento entre eles acabou passando para a tela. Curiosamente aqui Doris e Rock, pela primeira e única vez, contracenam como marido e mulher. Doris é a esposa perfeita da década de 60. Agüenta as esquisitices do marido e é em essência uma dona de casa que chega ao ponto de se espantar quando o marido lhe sugere que termine seus estudos para arranjar um emprego! Já o personagem de Rock é também um maridão típico daqueles anos, que vai todos os dias ao trabalho com o jornal da manhã debaixo do braço. O único diferencial é seu hipocondrismo sem limites. Tony Randall, interpretando o vizinho e amigo de George, passa o tempo todo embriagado, lamentando a morte precoce do colega, o que rende ótimas cenas de humor. “Não me Mande Flores” foi dirigido por Norman Jewison em começo de carreira. É curioso ver seu nome nos créditos pois Jewison criaria toda uma filmografia de filmes fortes nos anos seguintes, com temáticas instigantes e polêmicas, algo que destoa completamente dessa comédia romântica divertida e amena. De qualquer modo não há como negar que seu trabalho é muito bom, com ótimo timing entre as cenas, nunca deixando desandar para o chato ou tedioso. Só a lamentar o fato de que nunca mais Doris e Rock contracenariam juntos no cinema. De fato essa foi a despedida deles das telas. Melhor assim, se despediram com um bom filme que fechou com chave de ouro a trilogia que o casal rodou junto. “Não Me Mande Flores” foi um excelente final para essa carismática dupla que marcou época.
Pablo Aluísio.
Almas Maculadas
Jornalista (Rock Hudson) resolve escrever uma matéria sobre um veterano da II Guerra Mundial, piloto condecorado (Robert Stack) que para sobreviver no pós guerra tem que se apresentar em parques de diversões em exibições aéreas onde faz acrobacias e disputa acirradas corridas com outros aviadores. "Almas Maculadas" é baseado em famoso livro do consagrado William Faulkner. Quem conhece a obra desse famoso escritor sabe o que encontrará em suas estórias: personagens marginais, à margem dos ricos e bem sucedidos, tentando sobreviver dentro do selvagem capitalismo americano. São seres que vivem um dia após o outro, sem grandes esperanças de que algo realmente vá melhorar em suas vidas. Isso se repete na trupe que vive ao lado do veterano aviador, sua esposa, a sensual e bonita LaVern Shummann (interpretada pela linda Dorothy Malone) e o fiel mecânico Jiggs (feito pelo bom ator Jack Carson). A produção é estrelada por Rock Hudson, naquela altura já com status de super astro (tinha feito há pouco o grande sucesso "Assim Caminha a Humanidade"). Ele comparece com sua habitual boa presença em cena mas aos poucos vê seu personagem perdendo espaço para LaVern, a esposa do piloto veterano. Curioso mas a estrutura do livro foi realmente criada em torno dessa mulher, seus dramas, sua paixão não correspondida e a luta pela sobrevivência no dia a dia. Robert Stack que havia estado tão bem em "Palavras ao Vento" aqui perde espaço até porque seu personagem é antipático e nada carismático. A direção do grande Douglas Sirk se revela novamente bem sucedida ao lado de seu galã preferido, Rock Hudson. Aliás esse filme seria o último ao lado de Rock, o que realmente é de se lamentar. No saldo final adorei o resultado pois a melancolia e a desesperanças que vemos em cena é bastante fiel ao texto de Faulkner. Em suma, ótimo drama que merece ser redescoberto.
Seminole
Tenente do exército americano Lance Caldwelll (Rock Hudson) chega em distante forte militar situado nos pântanos da Flórida. Sua guarnição tem a missão de pacificar o local, destruindo e capturando um bando de índios renegados da tribo Seminole liderados pelo rebelde chefe Osceola (Anthony Quinn). O argumento do filme é baseado em fatos reais. A tribo Seminole realmente lutou contra o exército americano na Flórida. O grande chefe Osceola também é um personagem real. Já o tenente Lance Cadwell (Rock Hudson) é totalmente fictício. O desfecho do filme também não condiz com a realidade dos fatos - O chefe Osceola não morreu conforme vemos na tela. Apesar disso e do fato de existir outros erros históricos não há como negar que "Seminole" é um western muito bom. Seus méritos surgem logo no começo do filme com uma curiosa inversão de valores - algo realmente raro na década de 50. Aqui os índios não são vilões carniceiros e nem os soldados americanos são heróis virtuosos. Pelo contrário, o que vemos no roteiro é uma civilização tentando manter seus hábitos e costumes, seu estilo de vida, em vista da invasão do homem branco. Outra questão importante: o mais alto oficial americano na estória é simplesmente um imbecil completo. Em um grande trabalho de caracterização o ator Richard Carlson compõe um major totalmente fora de controle, megalomaníaco e psicótico. Assistindo ao filme, vendo as tropas atoladas no pântano da Flórida, me lembrei daquela frase que diz: "Não existe situação mais grave do que a de ser comandado por um idiota". É isso o que vemos aqui - uma tropa liderada por um completo inepto. Outro aspecto curioso do filme é o fato dele se passar na Flórida, no meio pantanoso, bem diferente dos faroestes que estamos acostumados a assistir, em longas planícies do deserto. Enfim, gostei bastante de "Seminole", um filme com pequenos erros históricos certamente, mas socialmente muito consciente. Um parente distante de produções como "Dança com Lobos" onde a questão do nativo americano foi tratada com respeito e seriedade.
Tudo o que o Céu Permite
Muito bom esse drama que foca no preconceito que existe na sociedade sobre classes sociais diferentes. Após assistir cheguei na conclusão que certas convenções dentro da sociedade não mudaram nada desde que o filme foi feito. Aqui temos um casal formado por uma senhora viúva rica (Jane Wyman) e um jovem e pobre rapaz jardineiro (Rock Hudson). Claro que mesmo apaixonados ambos vão sofrer todo tipo de preconceito da sociedade por causa dessa situação. O filme é muito bem desenvolvido, sutil e inteligente. Joga com a situação e faz o público torcer pelo casal (isso na sociedade americana dos anos 50, com todos os seus pudores e valores morais ultrapassados). O filme é visualmente muito bonito, aproveitando tudo o que é possível da bela paisagem do local onde o personagem de Rock Hudson vive (um moinho antigo, com uma casa de campo e bambis passeando pelo quintal - mais bucólico impossível). O clima de nostalgia impera e traz muito para o resultado final. "Tudo o que o Céu Permite" foi produzido por causa do grande sucesso de "Sublime Obsessão". Praticamente toda a equipe foi reunida novamente para esse filme (Rock Hudson, Jane Wyman, o diretor Douglas Sirk e o produtor Ross Hunter). Rock tinha especial veneração por esse diretor pois foi o primeiro que deu uma chance de verdade a ele no cinema, quando era um simples iniciante. Também tinha grande amizade por Jane Wyman que bem mais veterana do que ele nas telas lhe deu apoio incondicional nesses dois filmes, sendo paciente e prestativa no set de filmagem. O curioso é que após o sucesso de "Tudo o que o Céu Permite" o aclamado diretor George Stevens fez tudo o que era possível para pedir Rock de empréstimo da Universal para rodar com ele na Warner o grande clássico "Assim Caminha a Humanidade". Certamente percebeu que Rock não era mais apenas uma promessa mas sim um grande astro. Enfim, recomendo bastante o filme, principalmente para o público feminino, que certamente terá muito mais sensibilidade para se envolver no excelente enredo.
Adeus às Armas
Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) se tornando perdidamente apaixonado por ela. Em suas memórias Rock Hudson se lembra com pesar da adaptação do famoso livro "A Farewell to Arms" de Ernst Heningway. Na ocasião o estúdio havia lhe oferecido três projetos: o primeiro era "Ben-Hur", o segundo "Sayonara" e por fim essa adaptação que seria dirigida pelo grande diretor John Huston. Rock escolheu "Adeus às Armas" pois segundo sua opinião "não havia como dar errado, tudo se encaixava muito bem, seria um grande sucesso certamente". Pois bem, as previsões de Hudson não se confirmaram. Logo após começarem as filmagens o diretor John Huston brigou com o produtor do filme, David O. Selznick. Às pressas foi convocado o diretor Charles Vidor que não conseguiu adaptar o romance literário com sucesso. Some-se a isso as dificuldades das filmagens que foram realizadas nos alpes italianos que não tinham estrutura para receber um filme daquele porte. No final das contas tanto "Ben-Hur" como "Sayonara" se tornaram grandes sucessos de bilheteria bem ao contrário de "Adeus às Armas" que não agradou nem ao público e nem à crítica. O que deu errado? Assistindo ao filme percebemos vários problemas na produção. O primeiro deles é que o roteiro não conseguiu encontrar um tom ideal para contar a estória. Tudo ficou excessivamente melodramático. A obra de Hemingway foi de certa forma alterada, tudo com o objetivo de explorar o lado galã de Hudson. Além disso exageraram no rorte final, tornando "Adeus ás Armas" muito longo e cansativo. Embora não seja interessante apenas especular penso que se John Huston tivesse se mantido na direção teríamos um filme mais fluente, leve, com belas cenas do conflito em que o personagem principal se envolve. O próprio Rock Hudson não gostou de sua atuação no filme, achou tudo muito superficial, sem emoção. Curiosamente o ator durante as filmagens concorreu ao Oscar por "Assim Caminha a Humanidade". Impossibilitado de ir aos EUA para a cerimônia foi homenageado na pequenina cidade italiana onde o filme estava sendo feito. Os moradores locais ergueram uma imensa estátua de gelo no formato do Oscar e a colocaram na frente do hotel onde Rock estava hospedado. A intenção era fazer uma enorme festa caso o ator ganhasse o prêmio. Infelizmente como não ganhou o Oscar, Rock teve que no dia seguinte se contentar em ver a imensa obra gelada se derretendo pelo calor do sol - o que não deixou de ser uma metáfora de ver seu sonho de vencer a cobiçada estatueta da Academia indo por água abaixo. De qualquer forma o filme merece uma revisão hoje em dia. Vale a pena conhecer, mesmo que não esteja à altura da obra do grande escritor.
Um Favor Muito Especial
Quantas vezes um ator pode repetir o mesmo papel em filmes diferentes? Bom, Rock Hudson provou que muitas vezes. Esse "Um Favor Muito Especial" é praticamente um remake de seu maior sucesso, "Confidências à Meia Noite". O argumento é basicamente o mesmo: Playboy mulherengo tenta conquistar uma mulher bem sucedida profissionalmente que não se importa em se casar ou ter filhos. Para isso ele finge ser uma outra pessoa para ganhar sua simpatia e confiança. Aqui no caso Rock finge ser um paciente pois o seu alvo é uma psicóloga (interpretada pela fraca atriz Leslie Caron). O único diferencial desse para "Pillow Talk" é que aqui o romance conta com o incentivo do pai da senhorita, vivido pelo veterano ator francês Charles Boyer (sem muito o que fazer em cena). O filme não foi bem nas bilheterias, também pudera, era mais do mesmo, sendo que bem menos engraçado do que os filmes que Rock Hudson fez ao lado de Doris Day. O público provavelmente cansou de ver o mesmo filme - só que com outro título. Em decorrência Rock deixaria a Universal um ano depois após seu contrato ter acabado e o estúdio não mostrar mais interesse em tê-lo sob exclusividade. Então é isso, "Um Favor Muito Especial" nada mais é do que um prato requentado só que com muito menos sabor.
Sangue Sobre a Terra
Extremamente interessante esse drama passado no Quênia durante um levante da população negra contra os fazendeiros colonizadores brancos. No meio da luta dois jovens que foram criados juntos (Rock Hudson e Sidney Poitier) ficam em lados opostos do conflito. A priori era de se supor que em um filme feito nos anos 50, estrelado pelo galã Hudson o roteiro fosse tomar parte dos brancos, colocando os negros como selvagens sanguinários com facão na mão. Felizmente e para minha surpresa isso não acontece em momento algum. O roteiro baseado em um famoso livro que tratou sobre a questão racial no Quênia não toma partido. Em cena somos apresentados aos lados positivos e negativos de ambos os lados em conflito. O racismo dos brancos não é jogado para debaixo do tapete e as atrocidades cometidas pelos negros também são expostas de maneira visceral. Os dois lados são mostrados da forma mais imparcial possível. O impacto do filme só é quebrado para mostrar o azedo romance entre Rock e a starlet Dana Wynter mas ele não decola nunca. O ponto forte fica mesmo com as lutas e as questões raciais que são tratadas com o devido respeito e seriedade. O diretor Richard Brooks era acima da média pois já havia dirigido o cult do surgimento do rock "Sementes da Violência" e depois realizaria alguns clássicos como "Gata em Teto de Zinco Quente". "A Sangue Frio" e "Doce Pássaro da Juventude", ou seja, era realmente um craque na direção. Enfim, "Sangue Sobre a Terra" é inteligente, humano e trata a questão dos direitos das populações negras africanas com muita sensibilidade. Altamente recomendado para quem se interessa pelo tema.
O Esporte Favorito dos Homens
Na década de 1960 Rock Hudson descobriu um novo filão de sucesso: as comédias românticas. Para um ator que foi descoberto nos dramas de Douglas Sirk era uma mudança e tanto estrelar tantas produções cômicas como essa. A fórmula se mostrou muito bem sucedida nos três filmes que rodou ao lado de Doris Day e em alguns outros filmes esporádicos como por exemplo “Quando Setembro Vier”. O fato porém é que com o tempo as coisas foram se repetindo e o público lentamente foi perdendo o interesse. O desgaste foi natural. Esse “O Esporte Favorito dos Homens” é um exemplo disso. Dirigido pelo grande Howard Hawks o filme simplesmente não emplaca. As situações não são particularmente engraçadas e até mesmo Rock Hudson aparece apático, em um personagem completamente desinteressante. Para piorar sua atuação também deixa a desejar pois ele surge travado em cena, o que contrasta e muito com seus trabalhos ao lado da maravilhosas Doris Day. Aqui ele sequer consegue apresentar seu tão conhecido timing para humor. Talvez a culpa seja de sua parceira em cena, Paul Prentiss, que certamente não tem o talento de Doris e nem sua simpatia pessoal. Para falar a verdade ela sequer parece estar interessada em disponibilizar uma boa atuação. Não me admira em nada que não tenha conseguido fazer longa carreira em Hollywood, desaparecendo tão rapidamente como surgiu. Esse é o tipo de filme que o cinéfilo acaba criando uma certa expectativa, até mesmo pelo pelos nomes envolvidos. Howard Hawks marcou a história do cinema americano, sendo um dos cineastas mais ecléticos que já passaram pelos grandes estúdios. Basta consultar sua filmografia para ver como ele conseguia realizar filmes de ótimo nível, seja nos gêneros aventura, western ou comédia. Aqui porém a magia não funcionou. A culpa muito provavelmente seja do roteiro que procura tirar humor em cima de um esporte muito popular nos EUA, a pesca com anzol. Algumas cenas são simples gags em cima dessa modalidade esportiva. O problema é que assim como o beisebol isso é algo muito americano, que não desperta o menor interesse do público de outros países. Desse modo cenas com Rock pescando, pisando em baldes de iscas e outras coisas semelhantes não consegue criar muita afinidade. Sem identificação com as situações a coisa simplesmente não funciona. Outro problema bem visível é que o filme foi totalmente rodado dentro dos estúdios e isso é um erro em se tratando de um tema como esse que certamente exigiam tomadas externas, de muitos rios e natureza em geral. As florestas falsas recriadas que surgem nas cenas simplesmente não convencem. A Universal parece ter previsto que o filme não seria bem sucedido pois o arquivou por longos dois anos antes de lança-lo nos cinemas americanos. No final a fita não conseguiu agradar nem à crítica e nem ao público se revelando apenas um grande desperdício de talento e dinheiro.
Hino de uma Consciência
Nesse fim de semana assisti a esse "Hino de Uma Consciência", um filme de guerra bem diferente. Embora o filme se passe em um centro de treinamento de pilotos americanos na guerra da Coreia, o foco do roteiro e argumento não se baseiam essencialmente nisso mas sim na crise existencial que se abate sobre o protagonista. Rock Hudson aqui interpreta esse jovem coronel da força aérea dos Estados Unidos que durante a II Guerra Mundial ataca por engano um orfanato de crianças no Japão. Corroído pela culpa ele resolve se tornar ministro religioso mas sem muito poder de oratória acaba fracassando, voltando mais uma vez ao front, dessa vez como instrutor na Coreia. O curioso é que sua redenção vem na forma de ajuda humanitária à população local - seja distribuindo alimentos, seja ajudando crianças sem lar da região. O tom do filme é melodramático, arriscando muitas vezes cair na pieguice, mas que se salva ao final principalmente pelas cenas de batalha entre os caças americanos e inimigos. Rock Hudson entrega uma interpretação não muito inspirada e tem como coadjuvante a indiana Anna Kashfi que consegue ser pior do que ele em cena. Para quem não se recorda essa atriz foi a segunda esposa de Marlon Brando, mãe de seu filho Christian que anos depois seria preso por assassinar o companheiro de sua irmã. Essa foi a primeira vez que a vi em cena e posso dizer que ela como atriz realmente era uma nulidade completa. Talvez só esteja no filme por nepotismo de Brando. De qualquer forma, aqui temos, como aconteceu em "Pilares do Céu", um filme com nítida tendência à religiosidade, tudo em meio a um conflito armado. Se essa for sua praia recomendo.
Winchester 73
Roteiro e argumento: Uma das melhores coisas de Winchester 73. Sem exagero posso dizer que o roteiro desse filme lembra muito os roteiros de Robert Altman. Várias histórias vão sendo mostradas e aos poucos todas convergem para o mesmo local. O roteiro na verdade segue o rifle Winchester 73 que vai passando de mão em mão ao longo do filme. Ganha por James Stewart em um concurso em Dodge City (onde até Wyatt Earp aparece como coadjuvante) o rifle acaba sendo roubado indo parar nas mãos de um grupo Sioux, da cavalaria, de um covarde etc. Tudo muito bem escrito, me deixou surpreso. / Produção: A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme (ele tinha rompido com seu estúdio anterior e tinha virado ator free lancer). Assim tendo em vista o potencial das bilheterias com sua presença a Universal investiu bem mais resultando numa produção caprichada. / Direção: Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. / Elenco: James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart lidera um elenco acima da média. O mais curioso aqui é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux (de peruca e pintado quase não reconheci Rock). Já Curtis, muito muito jovem faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indigena. Muito legal ver esses atores novatos tentando um lugar ao sol.
Palavras ao Vento
Muito interessante esse filme. Douglas Sirk tinha fama de dirigir seus filmes com a mão pesada, transformando muitos deles em tremendos dramalhões. Bem, isso não acontece tanto aqui - pelo menos não é dos seus trabalhos mais melodramáticos. O roteiro obviamente traz uma série de intrigas envolvendo traições, amores impossíveis e relações familiares escandalosas. Mesmo com tantos ingredientes pesados achei o resultado final muito bom, nada martirizante. Embora seja estrelado por Rock Hudson no auge de sua popularidade, é fácil constatar que aqui ele levou uma rasteira em cena. Isso porque ninguém consegue brilhar mais no filme do que o ator Robert Stack. Além de seu personagem ser muito bom (um playboy com problemas de alcoolismo e irresponsável), Stack dá show em todos os momentos em que aparece, ofuscando completamente a estrela de Hudson. Em segundos ele vai da fúria ao arrependimento, da infantilidade à maldade. Confesso que nunca tinha assistido nada dele nesse nível. Aliás o conhecia mais pelo papel de Eliot Ness no seriado televisivo "Os Intocáveis" (que passou há muitos anos nos domingos à noite na Globo). Aqui Stack mostra que realmente era ótimo em cena, pois seu personagem em nada lembra o famoso policial que o tornou famoso. Por fim mais uma coisa me fez gostar muito de "Palavras ao Vento": seu maravilhoso clima vintage. Filmado em plenos anos 50 (minha década preferida), o filme desfila em sua bela produção grandes carrões, ótimos figurinos e até jukeboxes que são a cara dos 50´s, tudo o que eu definitivamente adoro. Então é isso, para quem gosta de clássicos dramáticos "Palavras ao Vento" é uma ótima opção.
Sublime Obsessão
O filme é um drama tipicamente dos anos 50. Achei tudo muito melodramático e pesado, sem nenhum traço de qualquer tipo de fina ironia ou algo do tipo. O argumento não suaviza para o espectador, assim se essa não for a sua praia é melhor nem assistir. "Sublime Obsessão" transformou o ator Rock Hudson em um astro. Fez grande sucesso de bilheteria e mostrou que ele tinha capacidade de atrair o público aos cinemas. O mais curioso é que ele só foi escalado porque a Universal estava com problemas financeiros e não tinha dinheiro para contratar um ator do primeiro time de Hollywood, assim teve que se contentar com a chamada "prata da casa" (Hudson era ator contratado da Universal, foi treinado e feito dentro do próprio estúdio, tudo ao estilo do antigo "Star System"). Devo confessar que a atuação de Rock no filme é apenas mediana. Ele, para falar a verdade, não era um grande ator mas simplesmente um galã, que se saía muito melhor em filmes mais leves como as comédias românticas que rodou ao lado de Doris Day. Aqui, principalmente nas cenas mais tensas, faltou um pouco mais de talento. Já a atriz Jane Wyman (primeira esposa do presidente Ronald Reagan) também não era lá essas coisas. Confesso que esperava mais de sua interpretação. Na maioria das cenas ela se limita a fazer o papel de "boazinha". Apesar da dupla central não estar à altura do que o roteiro exige, o filme não deixa de ser interessante. Para falar a verdade é bem didático assistir filmes antigos assim pois nos anos 50 ainda era possível realizar produções como essa, sem nenhum traço do cinismo que hoje impera na sociedade. Se você gosta da cultura vintage fique à vontade para curtir "Sublime Obsessão".
Confidências à Meia Noite
Bacana saber que a querida Doris Day vai lançar um disco agora na terceira idade. É isso aí - enquanto há vida, há esperança. Fiquei tão interessado (e contente) que resolvi criar esse tópico em homenagem a ela. "Pillow Talk" é certamente um dos melhores filmes de sua filmografia (se não for o melhor). A primeira parceria com Rock Hudson (faria mais dois filmes ao lado dele) rende ótimas cenas de humor. Considerado ousado e sofisticado demais para os anos 50 o filme fez um tremendo sucesso. Rock em sua biografia afirma que esse foi sem dúvida um dos trabalhos que mais gostou de fazer pois o clima no set era o melhor possível, muito descontraído e alegre. Além disso ele criou uma ótima química com Doris nas cenas. Hudson havia recentemente se separado da esposa e procurava por novos caminhos em sua carreira. Depois de estrelar faroestes e dramas com Douglas Sirk e George Stevens, Rock tinha dúvidas se poderia fazer bem um papel de playboy numa comédia romântica sofisticada como essa. Depois de pensar por um tempo resolveu arriscar. O interessante é que o sucesso de "Confidências à Meia Noite" acabou significando uma mudança completa nos rumos de sua filmografia. A partir daqui ele deixaria definitivamente os dramas pesados de lado para se dedicar a filmes leves, divertidos como "Volta meu Amor", "Não me Mandem Flores", "O Esporte Favorito do Homem" e "Quando Setembro Vier". Já Doris Day atribui ao filme à sua fama de "Virgem profissional" e diz não entender a razão. No filme sua personagem se recusa a ir para a cama com o conquistador barato vivido por Hudson. Isso criou e ajudou muito na imagem de "Sandy" dos anos 60, mas segundo Doris aqui ela não interpretava uma "virgem" mas sim uma mulher independente, inserida no mercado de trabalho, profissional, que pela primeira vez tinha o direito de escolher o homem com quem queria se casar - ou não casar, de acordo única e exclusivamente com sua consciência. O filme foi divisor de águas também porque acabou criando um dos filões mais usados em Hollywood - o da comédia romântica! Antes de Pillow Talk (Conversa de Travesseiro, seu título original) os estúdios não prestavam muito atenção nesse estilo. Com o sucesso do filme eles começaram a investir mais no gênero - que atingiria seu auge vinte anos depois, nos anos 80. Uma fórmula que até hoje não demonstra sinais de desgaste perante o público, principalmente feminino.
Volta Meu Amor
Nenhum casal fez tanto sucesso nos cinemas durante os anos 1960 do que Rock Hudson e Doris Day. Juntos eles fizeram três comédias românticas que tiveram excelentes bilheterias para a época. A fórmula era infalível e com o sucesso de "Confidências à Meia Noite" a volta do casal era algo considerado certo pelos produtores. A própria Doris Day tinha adorado ter trabalhado ao lado de Rock e ao final das filmagens havia lhe dito que eles deveriam fazer outros filmes juntos. "Volta Meu Amor" foi o segundo filme de Rock e Doris. O roteiro segue basicamente a mesma estrutura do primeiro filme. Um playboy se faz passar por outro homem para conquistar o coração da personagem de Day. Falando sinceramente os dois filmes são praticamente iguais, não mudando quase nada, a não ser o nome e a profissão dos personagens principais. O roteiro é praticamente o mesmo também, a mesma ideia central que havia sido utilizada em "Confidências à Meia Noite". Nem por isso deixa de ser um bom passatempo, dos mais agradáveis, até mesmo nos dias de hoje. Apesar dos diálogos "ousados" para os anos 60 a produção era divertida, leve e recomendada para todos os públicos, mas principalmente casais. A sociedade americana passava por profundas mudanças sociais e de costumes na época em que esses filmes eram lançados nos cinemas. As mulheres finalmente tinham conquistado seu espaço no mercado de trabalho. Eram agora independentes, profissionais e não usavam mais o casamento como único meio de vida. Ter ou não um companheiro tinha se tornado apenas uma opção e não uma obrigação. Rock Hudson geralmente interpretava homens incorrigíveis, playboys e conquistadores inveterados. Já Doris Day trazia para as telas a nova mulher, dona de seu destino, com pleno controle de sua própria vida. O choque entre esses dois estilos de vida é que criava o fino humor para esse tipo de produção. Quando foi lançado "Volta Meu Amor" se tornou um sucesso de bilheteria ainda maior do que "Confidências à Meia Noite", o que deixou todos surpresos. Por causa do sucesso a dupla voltaria ainda a atuar junto pela terceira e última vez em "Não Me Mandem Flores" que no momento oportuno trataremos aqui em nosso espaço; De qualquer forma fica a dica para os fãs de Rock Hudson e Doris Day. "Volta Meu Amor" é uma delícia de filme. Não envelheceu e mesmo revisto nos dias de hoje ainda é uma ótima diversão.
Quando Setembro Vier
Na esteira de seus sucessos ao lado da atriz Doris Day, Rock Hudson se uniu à estrela italiana Gina Lollobrigida e a dois ídolos juvenis (o casal Sandra Dee e Bobby Darin) e estrelou esse divertido filme chamado "Quando Setembro Vier". Se você tem curiosidade para conhecer como eram as comédias românticas de antigamente eu recomendo essa super colorida produção. O filme é leve, divertido, com um elenco simpático e como nostalgia funciona muito bem. Aqui temos Rock Hudson como um milionário americano na Itália (uma derivação de seus papéis nos filmes que fez ao lado de Doris Day) que acaba se envolvendo romanticamente com uma típica italiana (Gina) ao mesmo tempo em que tem que lidar com um grupo de jovens que pensam erroneamente que sua mansão na verdade é um hotel de verão. Rock Hudson parece estar bem à vontade em seu papel, se divertindo como nunca. Ele até dança (de forma bem esquisita é verdade) numa das mais curiosas cenas de toda a sua carreira. O elenco de apoio também é muito bom, embora Gina Lollobrigida não saia do velho estereotipo da mulher italiana que fala alto e é dada a vexames públicos. Curiosamente Gina não conseguiu firmar carreira em Hollywood, muito provavelmente por causa de seu péssimo inglês (seu sotaque é ainda mais exagerado do que outra italiana famosa que tentava carreira em Hollywood na mesma época, Anna Magnani). No núcleo jovem se destacam Sandra Dee (muito popular com filmes de sucesso naquela ocasião) e Bobby Darin (que tentava emplacar uma carreira no cinema após ter alcançado algum sucesso nas paradas, encarnando uma espécie de versão jovem de Frank Sinatra). Aliás a titulo de curiosidade é interessante saber que eles se apaixonaram durante as filmagens e se casaram pouco tempo depois (fato bem mostrado no filme "Uma Vida Sem Limites" onde Kevin Spacey interpreta Bobby). O diretor do filme foi Robert Mulligan, que vinha da TV. Ele tinha acabado de dirigir Tony Curtis no não tão bem sucedido "The Great Impostor" e o estúdio estava apostando nele como um bom cineasta de produções mais leves. Curiosamente o diretor iria mesmo se consagrar no excelente "O Sol é Para Todos", um filme sério, que se tornou um marco na carreira de Gregory Peck e na luta dos direitos civis nos EUA.
Jamais Foram Vencidos
Que tal reunir em um mesmo filme John Wayne e Rock Hudson? Os dois tinham sido os maiores recordistas de bilheteria durante os anos 50 e 60 e agora reuniam forças no western "Jamais Foram Vencidos". O filme pode ser considerado um faroeste temporão, já que foi realizado no final dos anos 60, quando a juventude não mais se importava muito com esse gênero cinematográfico. Embora Wayne ainda mantivesse seu prestígio inabalado, Hudson vinha passando por dificuldades na carreira. Como era um galã acima de tudo, os papéis iam cada vez mais rareando com a chegada da idade e ele próprio representava naquela altura um tipo de ator que definitivamente estava saindo de moda. Ao invés do galã de visual impecável, o cinema americano agora adotava atores com grande talento mas com aparência de homens comuns, como Al Pacino, Dustin Hoffman e Robert De Niro. Atores que não tinham a estampa dos velhos ídolos como Rock Hudson. Em sua autobiografia o próprio Hudson comenta a chegada dessa nova geração de "monstrinhos" como ele apelidou os novos atores em ascensão. Realmente era bem complicado unir duas gerações tão diferentes em um mesmo filme. Por isso o convite de estrelar um western ao lado do mito John Wayne veio bem a calhar naquele momento de sua vida. O filme em si era interessante e mostrava um oficial confederado (Hudson) que não aceitava a derrota de seu amado sul durante a guerra civil americana. Tão transtornado ficara com a perda da guerra que em um ato de profunda indignação resolve queimar sua propriedade, juntar tudo o que tinha e rumar para o México com a esperança de começar uma nova vida. Impossível não fazer uma analogia sutil com a própria carreira de Rock Hudson. Tal como o personagem de seu filme ele naquele momento era coisa do passado e deveria rumar para um novo destino. E tal como o sulista ferido ele realmente em pouco tempo deixaria o seu passado para trás (o cinema) e trilharia um novo caminho na carreira ao estrelar uma série de TV, em busca de um novo recomeço. Nunca o ditado "A Vida Imita a Arte" foi tão bem aplicado como nesse caso.
O Segundo Rosto
Ser galã pode se tornar um fardo. Que o diga Rock Hudson nos anos 60. O ator liderava todas as listas de popularidade e estrelava um sucesso após o outro. Ele estava no auge da popularidade em sua carreira no cinema. Foi então que em 1966 ele topou protagonizar um estranho roteiro de um filme mais estranho ainda dirigido por John Frankenheimer. Na verdade era a velha estória do galã tentando ser reconhecido como bom ator. O resultado foi o filme "O Segundo Rosto", um verdadeiro delírio cinematográfico que causou muita perplexidade na época de seu lançamento nos cinemas. O argumento é até simples: um homem de meia idade se cansa da mediocridade de sua vida e resolve mudar tudo, forjar sua morte, fazer uma cirurgia plástica e começar uma nova vida longe da anterior, tudo com a ajuda de uma estranha corporação. Rock interpreta o personagem após a mudança de sua identidade. Embora possa soar banal a estrutura dramática do filme o que realmente se sobressai é a maneira que o diretor escolheu para contar essa estória. Imagens distorcidas, sonhos se mesclando à realidade, devaneios e muita metalinguagem psicodélica marcam de forma muito surreal o resultado que assistimos. Na verdade essa película é uma verdadeira ET dentro da filmografia de Hudson, que sempre procurou trilhar o mainstream, evitando correr maiores riscos. Até é claro aceitar fazer esse alucinado roteiro. No meio da esquisitice dois momentos são marcantes: A atuação de Rock numa longa sequência de uma festa (onde ele estava realmente embriagado para parecer mais convincente no filme) e uma celebração onde várias pessoas aparecem nuas num grande tonel de fabricação caseira de vinhos. Essa cena inclusive é muito ousada, principalmente para os padrões morais do cinema americano dos anos 60. 'O Segundo Rosto' foi lançado oficialmente em Cannes. Rock e o diretor esperavam uma grande recepção, uma consagração total na França mas o resultado final não agradou e no final da exibição o filme foi vaiado pelo público. Rock que tinha comparecido na premiere ficou visivelmente constrangido pela reação negativa da plateia. Ele inclusive diria mais tarde que ficou completamente transtornado pois tinha grandes esperanças em seu êxito, falando inclusive em uma potencial palma de ouro. A realidade porém se mostrou implacável. A péssima acolhida em Cannes acabou repercutindo nos Estados Unidos e lá o filme acabou se tornando também um dos maiores fracassos do ano. Talvez o público ainda não estivesse pronto para um filme tão inovador. Anos depois Rock defenderia "O Segundo Rosto", tanto que chegaria tardiamente a receber alguns prêmios por sua atuação. De certo modo ele tinha razão em considerar esse um de seus grandes trabalhos. O tempo lhe deu toda a razão. Hoje o filme tem status de "cult", é debatido em escolas de cinema e tem o reconhecimento (tardio) da crítica especializada. Também é uma boa pedida para quem quiser conhecer o lado mais fora do comum da cinematografia sessentista. Quem assistir verá que o filme pode até não agradar a alguns, nem entusiasmar a outros mas certamente não irá deixar ninguém indiferente a ele.
A Espada de Damasco
Aventura das mil e uma noites produzida pelos estúdios Universal. Aqui não há grande segredo. A Universal realizava esse tipo de filme para as matinês, para um público jovem que frequentava o cinema no período matutino. Os filmes eram produções B, de baixo orçamento, com excesso de princesas, lutas de capa e espada e muita fantasia. Tudo isso se pode encontrar em "A Espada de Damasco". Na estória Rock Hudson interpreta um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível. Não há como negar que esse tipo de produção soa totalmente datada nos dias de hoje. Nada é muito bem cuidado em termos de cenário, figurino, roteiro e diálogos. Tudo aparenta ser bem falso, filmado com pouco dinheiro no quintal dos estúdios Universal. É um tipo de aventura ligeira que hoje em dia aparente ser por demais inocente e até sem muito nexo. Em um produção infanto-juvenil como esse "A Espada de Damasco" pouco coisa é ainda relevante nos dias de hoje mas gostaria de destacar o trabalho da simpática atriz Piper Laurie que empresta muito carisma ao resultado final. Fazendo uma princesa pouco convencional ela mantém o mínimo interesse em um argumento de teatro infantil. Em suma "A Espada de Damasco" não se sustenta nos dias de hoje, envelheceu e se tornou obsoleto. Só vale mesmo pela curiosidade de conhecer como eram os filmes das "Mil e Uma Noites" da Universal na década de 1950. Aqui realmente apenas a nostalgia e o saudosismo salvam o filme em uma revisão atual. O resto está ultrapassado pelo tempo.
Não Me Mande Flores
George (Rock Hudson) é um sujeito completamente hipocondríaco. Casado com a simpática Judy (Doris Day) ele vive criando doenças novas que só existem em sua cabeça. As coisas pioram quando visita seu médico particular e acaba se confundindo com um exame de outro paciente. Convencido que está com os dias contados e que tem poucas semanas de vida, George ao lado de seu vizinho e amigo Arnold (Tony Randall) decidem arranjar um novo marido para a esposa para que ela não passe pelo trauma de sua morte sozinha. “Não me Manda Flores” foi o terceiro e último filme da dupla Rock Hudson / Doris Day. Eles emplacaram grandes sucessos nos anteriores “Confidências à Meia Noite” e “Volta Meu Amor” e assim era natural que voltassem a atuar juntos. O filme é baseado numa peça de teatro escrita por Norman Barasch e Carroll Moore. O ritmo é ágil, hilariante e o roteiro muito bem escrito. Obviamente como a estória foi criada para ser encenado no teatro o filme se concentra bastante dentro da própria residência do casal, em três atos bem delimitados, com poucos cenários. Rock e Doris tinham uma química perfeita, eram grandes amigos. Esse tipo especial de entrosamento entre eles acabou passando para a tela. Curiosamente aqui Doris e Rock, pela primeira e única vez, contracenam como marido e mulher. Doris é a esposa perfeita da década de 60. Agüenta as esquisitices do marido e é em essência uma dona de casa que chega ao ponto de se espantar quando o marido lhe sugere que termine seus estudos para arranjar um emprego! Já o personagem de Rock é também um maridão típico daqueles anos, que vai todos os dias ao trabalho com o jornal da manhã debaixo do braço. O único diferencial é seu hipocondrismo sem limites. Tony Randall, interpretando o vizinho e amigo de George, passa o tempo todo embriagado, lamentando a morte precoce do colega, o que rende ótimas cenas de humor. “Não me Mande Flores” foi dirigido por Norman Jewison em começo de carreira. É curioso ver seu nome nos créditos pois Jewison criaria toda uma filmografia de filmes fortes nos anos seguintes, com temáticas instigantes e polêmicas, algo que destoa completamente dessa comédia romântica divertida e amena. De qualquer modo não há como negar que seu trabalho é muito bom, com ótimo timing entre as cenas, nunca deixando desandar para o chato ou tedioso. Só a lamentar o fato de que nunca mais Doris e Rock contracenariam juntos no cinema. De fato essa foi a despedida deles das telas. Melhor assim, se despediram com um bom filme que fechou com chave de ouro a trilogia que o casal rodou junto. “Não Me Mande Flores” foi um excelente final para essa carismática dupla que marcou época.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Filmografia Comentada: Montgomery Clift
Aqui pretendo disponibilizar textos sobre alguns dos filmes estrelados por Montgomery Clift. O ator foi um dos três grandes ícones jovens da década de 50 (ao lado de Marlon Brando e James Dean). Frágil, sensível e excelente intérprete fez grandes atuações ao longo da carreira, fruto de seu trabalho com grandes diretores. Sempre adorei filmes clássicos e acho importante compartilhar com os leitores do blog alguns breves comentários sobre seus filmes.
Corações Solitários
Jovem jornalista desempregado (Montgomery Clift) aceita trabalhar em um jornal escrevendo a coluna "Corações Solitários". Nela leitores pedem conselhos sentimentais. Inicialmente o jornalista pensa ser tudo uma bobagem mas conforme vai se envolvendo nas histórias acaba descobrindo os dramas pessoais de cada pessoa que lhe escreve. Como se já não bastasse os problemas profissionais ele ainda tem que lidar com sua noiva (Dolores Hart) que está perdendo a paciência com sua indefinição (ela quer se casar logo mas ele vacila sobre essa decisão). O argumento de "Corações Solitários" é muito interessante. Existe um subtexto envolvendo o personagem de Clift (jovem idealista) com seu editor (cínico e descrente com a humanidade em geral) que rende ótimos diálogos. Em um deles, impagável, o editor diz a Clift "Não se engane, as pessoas em geral são animais, não existe bondade no mundo". A tese de um e do outro acabará sendo testada justamente nos leitores da coluna "Corações Solitários" - inclusive no personagem de uma dona de casa insatisfeita casada com um homem impotente. Como facilmente se percebe o texto (baseado em uma famosa peça da época) é forte. Clift novamente dá show com seu personagem, um jornalista bom e decente que tenta driblar inclusive seu passado nebuloso (que acabará voltando à tona para lhe assombrar). Outro destaque é a presença da starlet Dolores Hart. Já conhecia ela de um filme com Elvis Presley (Loving You). Sua história é bem curiosa pois pouco tempo depois ela largaria a carreira e o cinema para virar uma freira católica em sua cidade natal. Ela ainda está viva e hoje é uma irmã beneditina de um mosteiro americano. Em suma, "Corações Solitários" tem excelente elenco, inteligente roteiro e um final aberto que nos deixa a pergunta: Afinal quem tinha razão, o editor ou o jornalista? Assista para responder.
Rio Violento
Genial essa obra do grande Elia Kazan. O filme procura responder a uma questão extremamente pertinente: Até que ponto o progresso justifica a mudança compulsória do modo de vida das pessoas? No filme Montgomery Clift (excepcionalmente bem) interpreta um agente do governo dos EUA que tem a missão de retirar uma senhora idosa que mora em uma ilha no rio Tennessee. Ela se recusa a abandonar o local pois foi ali que criou seus filhos, enterrou seu marido e viveu ao lado de negros libertos e demais moradores do local. Lutando por seus valores tradicionais e por aquilo que lhe é mais importante a senhora resolve enfrentar até mesmo o poder do governo americano. Em um elenco ótimo, a atriz Jo Van Fleet está simplesmente maravilhosa. Interpretando a matriarca Ella Garth ela tem duas grandes cenas que a fazem ser o grande destaque de todo o filme. Em uma delas explica ao personagem de Montgomery Clift a dignidade de quem viveu e trabalhou no rio Tennessee há gerações. Devo dizer que poucas vezes vi Clift ser superado em cena mas aqui ele realmente foi colocado para escanteio, tamanho a grandeza de Fleet em cena. Socialmente consciente, tocando em temas tabus para a época (como o racismo do sul dos EUA), Rio Violento é um dos melhores trabalhos de Kazan (e isso definitivamente não é pouca coisa). Simplesmente grandioso.
Os Deuses Vencidos
Eu considero esse filme simplesmente obrigatório para todos os cinéfilos. O elenco é estrelar e o roteiro muito bem desenvolvido, resultando numa produção memorável. “Os Deuses Vencidos” foi baseado no famoso livro de autoria de Irwin Shaw. A proposta é mostrar aspectos da II Guerra Mundial sob o ponto de vista de alguns combatentes, tanto do lado dos aliados como também dos soldados do Eixo. Tudo mostrado sem cair nos clichês típicos dos filmes de guerra, que sempre procuraram mostrar os soldados americanos como heróis virtuosos e os alemães como monstros assassinos e sanguinários. A intenção é realmente construir um mosaico mais próximo da realidade, mostrando que em ambos os lados lutaram pessoas comuns, com sonhos e objetivos que foram interrompidos de forma brutal pela guerra. Olhando sob esse ponto de vista realmente não existia grande diferença entre um militar americano ou alemão. Todos queriam voltar para casa o mais rapidamente possível, sobreviver aos combates e retornar para a vida que tinham antes da guerra começar. O filme tem longa duração, com quase três horas de duração, e é fácil entender o porquê. São duas estórias paralelas que se desenvolvem ao mesmo tempo. Na primeira somos apresentados ao tenente alemão Christian Diestl (Marlon Brando) na França ocupada. Essa parte é bem interessante pois o ator na época fez questão de mostrar o oficial nazista como um ser humano comum e não como o vilão caricato dos filmes de guerra que conhecemos. Nem é preciso dizer que Marlon se saiu muito bem em mais uma atuação marcante de sua filmografia. Na outra estória, passada no lado dos militares aliados, acompanhamos dois soldados americanos (Dean Martin e Montgomery Clift) que são convocados e mandados para a Normandia. Essa parte do roteiro foca bastante na vida dos que participaram da maior batalha da guerra, no evento que ficaria conhecido pela história como “Dia D”. Dean Martin repete seu papel contumaz de "Mr Cool". Aqui ele interpreta um cantor da Broadway que faz de tudo para escapar da guerra e do front mas que não consegue escapar de ir para o campo de batalha. Já Montgomery Clift apresenta uma grande interpretação como um soldado judeu que sofre nas mãos de seus colegas de farda durante seu treinamento. Seu papel me lembrou muito o que ele representou em "A Um Passo da Eternidade". Seu aspecto não é nada bom em cena. Os sinais físicos do alcoolismo já são nítidos e Clift aparece muito magro e abatido, com aspecto doentio. Mesmo assim está fabuloso em suas cenas. Ponto para Marlon Brando que fez de tudo para que o colega fosse escalado para o filme pois sabia que isso iria lhe ajudar a superar a crise pessoal pelo qual vinha passando. A direção foi entregue ao veterano das telas Edward Dmytryk; Com experiência em filmes de guerra como “A Nave da Revolta” o diretor sabia que estava trabalhando com dois atores muito sensíveis e carismáticas proveniente do Actor´s Studio. Assim procurou abrir uma linha de diálogo com ambos. Ele já tinha trabalhado com Clift em seu filme anterior, “A Árvore da Vida” e por isso sentiu-se tranquilo em relação a ele. Já com Brando procurou manter uma relação no nível profissional. Sabia que Marlon Brando poderia ser tanto um ator maravilhoso no set como um terror para os cineastas que trabalhavam com ele. No final se deram bem e tudo correu sem maiores problemas. O resultado de tantos talentos juntos se vê na tela pois “Os Deuses Vencidos” é hoje em dia considerado um filme essencial dentro do gênero. Um verdadeiro clássico.
De Repente no Último Verão
O filme começa logo impactando. As duas primeiras cenas juntas duram mais de 50 minutos (praticamente mais da metade do filme). Nelas temos dois duelos em cena: Katherine Hepburn vs Mont Clift e logo em seqüência Liz Taylor vs Clift. Curioso é que em ambas Mont apenas serve de escada para que as atrizes declamem longos monólogos sobre Sebastian (o personagem cujo rosto nunca aparece mas que é citado em praticamente todos os diálogos do roteiro). Esse começo arrebatador sintetiza tudo: é um filme de diálogos e interpretação, nada mais. Sua gênese teatral não é disfarçada e nem amenizada até porque estamos tratando de Tennessee Willams, um dos grandes dramaturgos da cultura americana. Achei Elizabeth Taylor extremamente bonita no filme. Ela já estava entrando nos seus 30 anos mas ainda continuava belíssima. Mostra talento em cada cena mas não fica à altura de Hepburn (essa realmente foi uma das maiores atrizes da história). Já Montgomery Clift deixa transparecer as cicatrizes e deformações de seu rosto, após o grave acidente que sofreu ao sair de uma festa na casa da amiga Liz Taylor. Ele está contido no papel mas consegue dar conta muito bem do recado mesmo com as várias dores que sofria (atuou praticamente sedado durante todo o filme). O texto é rico e claramente trata da questão homossexual do personagem Sebastian mas justamente por essa razão teve que ser amenizado nas telas por causa da censura interna que imperava entre os estúdios. De qualquer forma o resultado não pode ser classificado como menos do que grandioso. Todos brilham em cena – na realidade se trata de uma rara oportunidade de ver tantos talentos juntos em um só filme. Simplesmente imperdível.
Rio Vermelho
Assistir a esse filme foi um enorme prazer para mim. Primeiro porque eu sou um fã incondicional do ator Montgomery Clift. Segundo porque eu acho este um dos mais belos westerns de todos os tempos e terceiro porque John Wayne e Howard Hawks estão no auge de suas carreiras. Esta é uma película realmente nota dez, em todos os aspectos e por isso se tornou um filme atemporal, inesquecível e clássico. Montgomery Clift era um caso à parte. Considerado um dos maiores atores jovens de seu tempo, ao lado de Marlon Brando e James Dean, Clift era um profissional à frente de sua época. Cria do teatro americano, local onde ele sentia-se realmente à vontade, ele relutou muito antes de ingressar no cinema. Temia perder sua identidade e ser engolido pelo Star System. Sempre foi um ator independente e conseguiu se impor à indústria, fez poucos filmes, mas todos escolhidos a dedo, e muitos destes títulos se tornaram clássicos absolutos da história. do cinema americano. Basta lembrar de "Um lugar ao sol" e "A um passo da Eternidade", por exemplo. Complexo e torturado por demônios internos, Clift acabou por tabela imprimindo uma densidade ímpar em suas atuações. O conflito interno do ator era automaticamente passado para seus papéis. Aqui ele se sobressai mesmo interpretando um personagem sem grande profundidade, em sua estréia nas telas, curiosamente em um western estrelado pelo maior nome do gênero, John Wayne. O contraste entre a determinação e rudeza de Wayne com a sensibilidade de Clift se torna um dos grandes trunfos do filme. E o Duke? Bem, ele está novamente ótimo no papel de um velho rancheiro dono de milhares de cabeças de gado, que tem como único objetivo levá-las, em uma grande caravana, para o Estado do Missouri. Conforme o tempo passa e as dificuldades se tornam maiores o personagem de Wayne vai ficando cada vez mais obcecado, tornando insuportável a vida de seus homens. O clímax ocorre em uma feroz luta entre Wayne e Clift. Um duelo entre os velhos e os novos paradigmas do velho oeste. A cena entrou para a história do cinema americano. Em relação à inspirada direção um famoso crítico americano resumiu a opinião da época: "Tendo como pano de fundo as belas paisagens do meio oeste americano, o mestre Howard Hawks faz um dos melhores faroestes dos últimos tempos, não se limitando, no entanto, a falar apenas do expansionismo capitalista americano, povoando terras desertas em meados do século 19. Vai além: realizando um belo painel sobre as relações humanas, através dp choque de personalidades de Dunson (Wayne) e Garth (Montgomery Clifi). Criados como pai e filho, protagonizam uma estória de amor e ódio absolutamente emocionante". O filme concorreu aos Oscar de melhor roteiro e Montagem. Uma injustiça não ter ganho nenhum, mas se a Academia não o premiou ele acabou recebendo outro tipo de reconhecimento, e este bem mais importante, o reconhecimento popular daqueles que o assistiram e jamais esqueceram ao longo de todos esses anos.
Os Desajustados
Esse foi o último filme completo da Marilyn. Ela ainda chegou a iniciar as filmagens de "Something s Got To Give" ao lado de Dean Martin mas o filme não foi concluído. Seus atrasos, faltas e confusões no set fizeram com que a Fox a despedisse no meio da produção. Pouco tempo depois, pressionada, abandonada e depressiva veio a encontrar sua morte em um quarto solitário de sua casa. Assim Os Desajustados se tornou seu último momento no cinema. Eu acho um filme triste, melancólico e depressivo até. Afirmam algumas biografias da estrela que Arthur Miller escreveu o conto que deu origem ao filme inspirado justamente na sua vida com a Marilyn. Os excessos da vida da atriz aparecem na tela, apesar de Marilyn Monroe ainda aparecer linda nas cenas, ela está bem acima do peso e abatida. Muitas vezes a atriz surge em cena com o olhar perdido no horizonte, sem convicção. Fisicamente ela também mostra sinais de desgaste. Numa cena de praia, por exemplo, em que ela aparece de biquíni a atriz exibe uma barriguinha bem saliente. As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.
Um Lugar Ao Sol
George Eastman (Montgomery Clift) é o jovem sobrinho de um rico industrial do mercado de roupas femininas. Seu tio logo o emprega em uma das fábricas como empacotador. Lá conhece a operária Alice (Shelley Winters) e logo se enamora dela. Ao mesmo tempo em que corteja Alice acaba se envolvendo também com Angela Vickers (Elizabeth Taylor) uma rica garota da alta sociedade. O triângulo amoroso trará consequências trágicas para todos os envolvidos. "Um Lugar Ao Sol" é um dos grandes clássicos da carreira de Montgomery Clift e Elizabeth Taylor. O filme mescla muito bem romance, suspense e drama. Vivendo em dois mundos completamente distintos o personagem de Montgomery Clift, um pobre rapaz que anseia subir na vida algum dia, acaba perdendo o controle dos acontecimentos em sua vida emocional, o que o levará a pagar um alto preço por se envolver com duas garotas ao mesmo tempo. George Stevens foi um dos grandes diretores do cinema americano. Austero e detalhista ele filmava muitas tomadas diferentes, de ângulos diversos para só depois montar o filme ao seu bel prazer. Assistindo "Um Lugar ao Sol" é fácil perceber que ele estava literalmente obcecado pelo belo rosto juvenil de Elizabeth Taylor. O cineasta usa e abusa de vários closes do rosto de sua atriz, o que não é nada mal uma vez que Liz estava no auge de sua beleza. Com traços delicados e lindos olhos azuis (que infelizmente não foram captados pois o filme foi rodado em preto e branco) a estrela poucas vezes esteve tão bonita como aqui. O roteiro foi baseado no livro "An American Tragedy" de Patrick Kearney. Embora ficcional a estória foi inspirada em fatos reais acontecidos em Chicago na década de 20. A situação toda é bastante sórdida e demonstra que não existem muitos limites para a maldade da alma humana, embora no filme o personagem Geroge Eastman seja de certa forma amenizado. É fácil compreender a razão. Não haveria como rodar toda uma produção como essa em cima de um mero assassino. Assim tudo foi cuidadosamente suavizado para não chocar muito o público americano dos anos 50. O resultado de tanto capricho veio depois nas bilheterias e nas ótimas críticas que o filme conseguiu. Shelley Winters e Montgomery Clift foram indicados ao Oscar. Embora não tenham sido premiados o filme em si conseguiu vencer em seis categorias (inclusive direção e roteiro), se consagrando naquele ano. Até o gênio Charles Chaplin se rendeu ao filme declarando que havia sido o "melhor filme que já tinha assistido em sua vida". Além disso os bastidores da produção deram origem a muitas histórias saborosas envolvendo Clift e Taylor, que se tornariam amigos até o fim de suas vidas. Depois disso não há muito mais o que escrever. Para os cinéfilos "Um Lugar ao Sol" é mais do que obrigatório. Um filme essencial.
Pablo Aluísio.
Corações Solitários
Jovem jornalista desempregado (Montgomery Clift) aceita trabalhar em um jornal escrevendo a coluna "Corações Solitários". Nela leitores pedem conselhos sentimentais. Inicialmente o jornalista pensa ser tudo uma bobagem mas conforme vai se envolvendo nas histórias acaba descobrindo os dramas pessoais de cada pessoa que lhe escreve. Como se já não bastasse os problemas profissionais ele ainda tem que lidar com sua noiva (Dolores Hart) que está perdendo a paciência com sua indefinição (ela quer se casar logo mas ele vacila sobre essa decisão). O argumento de "Corações Solitários" é muito interessante. Existe um subtexto envolvendo o personagem de Clift (jovem idealista) com seu editor (cínico e descrente com a humanidade em geral) que rende ótimos diálogos. Em um deles, impagável, o editor diz a Clift "Não se engane, as pessoas em geral são animais, não existe bondade no mundo". A tese de um e do outro acabará sendo testada justamente nos leitores da coluna "Corações Solitários" - inclusive no personagem de uma dona de casa insatisfeita casada com um homem impotente. Como facilmente se percebe o texto (baseado em uma famosa peça da época) é forte. Clift novamente dá show com seu personagem, um jornalista bom e decente que tenta driblar inclusive seu passado nebuloso (que acabará voltando à tona para lhe assombrar). Outro destaque é a presença da starlet Dolores Hart. Já conhecia ela de um filme com Elvis Presley (Loving You). Sua história é bem curiosa pois pouco tempo depois ela largaria a carreira e o cinema para virar uma freira católica em sua cidade natal. Ela ainda está viva e hoje é uma irmã beneditina de um mosteiro americano. Em suma, "Corações Solitários" tem excelente elenco, inteligente roteiro e um final aberto que nos deixa a pergunta: Afinal quem tinha razão, o editor ou o jornalista? Assista para responder.
Rio Violento
Genial essa obra do grande Elia Kazan. O filme procura responder a uma questão extremamente pertinente: Até que ponto o progresso justifica a mudança compulsória do modo de vida das pessoas? No filme Montgomery Clift (excepcionalmente bem) interpreta um agente do governo dos EUA que tem a missão de retirar uma senhora idosa que mora em uma ilha no rio Tennessee. Ela se recusa a abandonar o local pois foi ali que criou seus filhos, enterrou seu marido e viveu ao lado de negros libertos e demais moradores do local. Lutando por seus valores tradicionais e por aquilo que lhe é mais importante a senhora resolve enfrentar até mesmo o poder do governo americano. Em um elenco ótimo, a atriz Jo Van Fleet está simplesmente maravilhosa. Interpretando a matriarca Ella Garth ela tem duas grandes cenas que a fazem ser o grande destaque de todo o filme. Em uma delas explica ao personagem de Montgomery Clift a dignidade de quem viveu e trabalhou no rio Tennessee há gerações. Devo dizer que poucas vezes vi Clift ser superado em cena mas aqui ele realmente foi colocado para escanteio, tamanho a grandeza de Fleet em cena. Socialmente consciente, tocando em temas tabus para a época (como o racismo do sul dos EUA), Rio Violento é um dos melhores trabalhos de Kazan (e isso definitivamente não é pouca coisa). Simplesmente grandioso.
Os Deuses Vencidos
Eu considero esse filme simplesmente obrigatório para todos os cinéfilos. O elenco é estrelar e o roteiro muito bem desenvolvido, resultando numa produção memorável. “Os Deuses Vencidos” foi baseado no famoso livro de autoria de Irwin Shaw. A proposta é mostrar aspectos da II Guerra Mundial sob o ponto de vista de alguns combatentes, tanto do lado dos aliados como também dos soldados do Eixo. Tudo mostrado sem cair nos clichês típicos dos filmes de guerra, que sempre procuraram mostrar os soldados americanos como heróis virtuosos e os alemães como monstros assassinos e sanguinários. A intenção é realmente construir um mosaico mais próximo da realidade, mostrando que em ambos os lados lutaram pessoas comuns, com sonhos e objetivos que foram interrompidos de forma brutal pela guerra. Olhando sob esse ponto de vista realmente não existia grande diferença entre um militar americano ou alemão. Todos queriam voltar para casa o mais rapidamente possível, sobreviver aos combates e retornar para a vida que tinham antes da guerra começar. O filme tem longa duração, com quase três horas de duração, e é fácil entender o porquê. São duas estórias paralelas que se desenvolvem ao mesmo tempo. Na primeira somos apresentados ao tenente alemão Christian Diestl (Marlon Brando) na França ocupada. Essa parte é bem interessante pois o ator na época fez questão de mostrar o oficial nazista como um ser humano comum e não como o vilão caricato dos filmes de guerra que conhecemos. Nem é preciso dizer que Marlon se saiu muito bem em mais uma atuação marcante de sua filmografia. Na outra estória, passada no lado dos militares aliados, acompanhamos dois soldados americanos (Dean Martin e Montgomery Clift) que são convocados e mandados para a Normandia. Essa parte do roteiro foca bastante na vida dos que participaram da maior batalha da guerra, no evento que ficaria conhecido pela história como “Dia D”. Dean Martin repete seu papel contumaz de "Mr Cool". Aqui ele interpreta um cantor da Broadway que faz de tudo para escapar da guerra e do front mas que não consegue escapar de ir para o campo de batalha. Já Montgomery Clift apresenta uma grande interpretação como um soldado judeu que sofre nas mãos de seus colegas de farda durante seu treinamento. Seu papel me lembrou muito o que ele representou em "A Um Passo da Eternidade". Seu aspecto não é nada bom em cena. Os sinais físicos do alcoolismo já são nítidos e Clift aparece muito magro e abatido, com aspecto doentio. Mesmo assim está fabuloso em suas cenas. Ponto para Marlon Brando que fez de tudo para que o colega fosse escalado para o filme pois sabia que isso iria lhe ajudar a superar a crise pessoal pelo qual vinha passando. A direção foi entregue ao veterano das telas Edward Dmytryk; Com experiência em filmes de guerra como “A Nave da Revolta” o diretor sabia que estava trabalhando com dois atores muito sensíveis e carismáticas proveniente do Actor´s Studio. Assim procurou abrir uma linha de diálogo com ambos. Ele já tinha trabalhado com Clift em seu filme anterior, “A Árvore da Vida” e por isso sentiu-se tranquilo em relação a ele. Já com Brando procurou manter uma relação no nível profissional. Sabia que Marlon Brando poderia ser tanto um ator maravilhoso no set como um terror para os cineastas que trabalhavam com ele. No final se deram bem e tudo correu sem maiores problemas. O resultado de tantos talentos juntos se vê na tela pois “Os Deuses Vencidos” é hoje em dia considerado um filme essencial dentro do gênero. Um verdadeiro clássico.
De Repente no Último Verão
O filme começa logo impactando. As duas primeiras cenas juntas duram mais de 50 minutos (praticamente mais da metade do filme). Nelas temos dois duelos em cena: Katherine Hepburn vs Mont Clift e logo em seqüência Liz Taylor vs Clift. Curioso é que em ambas Mont apenas serve de escada para que as atrizes declamem longos monólogos sobre Sebastian (o personagem cujo rosto nunca aparece mas que é citado em praticamente todos os diálogos do roteiro). Esse começo arrebatador sintetiza tudo: é um filme de diálogos e interpretação, nada mais. Sua gênese teatral não é disfarçada e nem amenizada até porque estamos tratando de Tennessee Willams, um dos grandes dramaturgos da cultura americana. Achei Elizabeth Taylor extremamente bonita no filme. Ela já estava entrando nos seus 30 anos mas ainda continuava belíssima. Mostra talento em cada cena mas não fica à altura de Hepburn (essa realmente foi uma das maiores atrizes da história). Já Montgomery Clift deixa transparecer as cicatrizes e deformações de seu rosto, após o grave acidente que sofreu ao sair de uma festa na casa da amiga Liz Taylor. Ele está contido no papel mas consegue dar conta muito bem do recado mesmo com as várias dores que sofria (atuou praticamente sedado durante todo o filme). O texto é rico e claramente trata da questão homossexual do personagem Sebastian mas justamente por essa razão teve que ser amenizado nas telas por causa da censura interna que imperava entre os estúdios. De qualquer forma o resultado não pode ser classificado como menos do que grandioso. Todos brilham em cena – na realidade se trata de uma rara oportunidade de ver tantos talentos juntos em um só filme. Simplesmente imperdível.
Rio Vermelho
Assistir a esse filme foi um enorme prazer para mim. Primeiro porque eu sou um fã incondicional do ator Montgomery Clift. Segundo porque eu acho este um dos mais belos westerns de todos os tempos e terceiro porque John Wayne e Howard Hawks estão no auge de suas carreiras. Esta é uma película realmente nota dez, em todos os aspectos e por isso se tornou um filme atemporal, inesquecível e clássico. Montgomery Clift era um caso à parte. Considerado um dos maiores atores jovens de seu tempo, ao lado de Marlon Brando e James Dean, Clift era um profissional à frente de sua época. Cria do teatro americano, local onde ele sentia-se realmente à vontade, ele relutou muito antes de ingressar no cinema. Temia perder sua identidade e ser engolido pelo Star System. Sempre foi um ator independente e conseguiu se impor à indústria, fez poucos filmes, mas todos escolhidos a dedo, e muitos destes títulos se tornaram clássicos absolutos da história. do cinema americano. Basta lembrar de "Um lugar ao sol" e "A um passo da Eternidade", por exemplo. Complexo e torturado por demônios internos, Clift acabou por tabela imprimindo uma densidade ímpar em suas atuações. O conflito interno do ator era automaticamente passado para seus papéis. Aqui ele se sobressai mesmo interpretando um personagem sem grande profundidade, em sua estréia nas telas, curiosamente em um western estrelado pelo maior nome do gênero, John Wayne. O contraste entre a determinação e rudeza de Wayne com a sensibilidade de Clift se torna um dos grandes trunfos do filme. E o Duke? Bem, ele está novamente ótimo no papel de um velho rancheiro dono de milhares de cabeças de gado, que tem como único objetivo levá-las, em uma grande caravana, para o Estado do Missouri. Conforme o tempo passa e as dificuldades se tornam maiores o personagem de Wayne vai ficando cada vez mais obcecado, tornando insuportável a vida de seus homens. O clímax ocorre em uma feroz luta entre Wayne e Clift. Um duelo entre os velhos e os novos paradigmas do velho oeste. A cena entrou para a história do cinema americano. Em relação à inspirada direção um famoso crítico americano resumiu a opinião da época: "Tendo como pano de fundo as belas paisagens do meio oeste americano, o mestre Howard Hawks faz um dos melhores faroestes dos últimos tempos, não se limitando, no entanto, a falar apenas do expansionismo capitalista americano, povoando terras desertas em meados do século 19. Vai além: realizando um belo painel sobre as relações humanas, através dp choque de personalidades de Dunson (Wayne) e Garth (Montgomery Clifi). Criados como pai e filho, protagonizam uma estória de amor e ódio absolutamente emocionante". O filme concorreu aos Oscar de melhor roteiro e Montagem. Uma injustiça não ter ganho nenhum, mas se a Academia não o premiou ele acabou recebendo outro tipo de reconhecimento, e este bem mais importante, o reconhecimento popular daqueles que o assistiram e jamais esqueceram ao longo de todos esses anos.
Os Desajustados
Esse foi o último filme completo da Marilyn. Ela ainda chegou a iniciar as filmagens de "Something s Got To Give" ao lado de Dean Martin mas o filme não foi concluído. Seus atrasos, faltas e confusões no set fizeram com que a Fox a despedisse no meio da produção. Pouco tempo depois, pressionada, abandonada e depressiva veio a encontrar sua morte em um quarto solitário de sua casa. Assim Os Desajustados se tornou seu último momento no cinema. Eu acho um filme triste, melancólico e depressivo até. Afirmam algumas biografias da estrela que Arthur Miller escreveu o conto que deu origem ao filme inspirado justamente na sua vida com a Marilyn. Os excessos da vida da atriz aparecem na tela, apesar de Marilyn Monroe ainda aparecer linda nas cenas, ela está bem acima do peso e abatida. Muitas vezes a atriz surge em cena com o olhar perdido no horizonte, sem convicção. Fisicamente ela também mostra sinais de desgaste. Numa cena de praia, por exemplo, em que ela aparece de biquíni a atriz exibe uma barriguinha bem saliente. As brigas com o marido no set também foram constantes. Em certa ocasião deixou Arthur Miller abandonado no meio do deserto (onde o filme estava sendo filmado) se recusando a deixá-lo entrar em seu carro. O diretor John Huston teve então que voltar para ir pegá-lo, caso contrário morreria naquele lugar seco e inóspito. Marilyn também continuava com seu medo irracional dos sets de filmagens. Antes de entrar em cena ela ficava nervosa, em pânico. Errava muito suas falas e fazia o resto do elenco perder a paciência com suas atitudes. Seu medo de atuar nunca havia desaparecido mesmo após tantos anos de carreira. Interessante é que apesar de Marilyn não sair das revistas e jornais por causa dos acontecimentos ocorridos nas filmagens o filme não conseguiu fazer sucesso o que é uma surpresa e tanto pelo elenco estelar e pela publicidade extra que recebeu dos tablóides. Muitos atribuem o fracasso ao próprio texto de Arthur Miller que não tinha foco e nem uma boa dramaturgia. Aliás desde que se casou com Marilyn o autor parecia ter perdido o toque para bons textos. Tudo soava sem inspiração, sem talento. "Os Desajustados" também foi a última produção com o mito Clark Gable. Envelhecido e decadente sofreu bastante com os problemas do filme, o levando a um esgotamento físico e mental, vindo a falecer pouco depois. Acusada de ter contribuído para o colapso de Gable, Marilyn sentiu-se culpada e ganhou mais um motivo para sua depressão crônica. De qualquer forma só pelo fato de "Os Desajustados" ter sido o último filme de Monroe e Gable já vale sua existência. Não é tecnicamente um excelente filme mas está na história do cinema pelo que representou na vida de todos esses grandes mitos que fizeram parte de sua realização.
Um Lugar Ao Sol
George Eastman (Montgomery Clift) é o jovem sobrinho de um rico industrial do mercado de roupas femininas. Seu tio logo o emprega em uma das fábricas como empacotador. Lá conhece a operária Alice (Shelley Winters) e logo se enamora dela. Ao mesmo tempo em que corteja Alice acaba se envolvendo também com Angela Vickers (Elizabeth Taylor) uma rica garota da alta sociedade. O triângulo amoroso trará consequências trágicas para todos os envolvidos. "Um Lugar Ao Sol" é um dos grandes clássicos da carreira de Montgomery Clift e Elizabeth Taylor. O filme mescla muito bem romance, suspense e drama. Vivendo em dois mundos completamente distintos o personagem de Montgomery Clift, um pobre rapaz que anseia subir na vida algum dia, acaba perdendo o controle dos acontecimentos em sua vida emocional, o que o levará a pagar um alto preço por se envolver com duas garotas ao mesmo tempo. George Stevens foi um dos grandes diretores do cinema americano. Austero e detalhista ele filmava muitas tomadas diferentes, de ângulos diversos para só depois montar o filme ao seu bel prazer. Assistindo "Um Lugar ao Sol" é fácil perceber que ele estava literalmente obcecado pelo belo rosto juvenil de Elizabeth Taylor. O cineasta usa e abusa de vários closes do rosto de sua atriz, o que não é nada mal uma vez que Liz estava no auge de sua beleza. Com traços delicados e lindos olhos azuis (que infelizmente não foram captados pois o filme foi rodado em preto e branco) a estrela poucas vezes esteve tão bonita como aqui. O roteiro foi baseado no livro "An American Tragedy" de Patrick Kearney. Embora ficcional a estória foi inspirada em fatos reais acontecidos em Chicago na década de 20. A situação toda é bastante sórdida e demonstra que não existem muitos limites para a maldade da alma humana, embora no filme o personagem Geroge Eastman seja de certa forma amenizado. É fácil compreender a razão. Não haveria como rodar toda uma produção como essa em cima de um mero assassino. Assim tudo foi cuidadosamente suavizado para não chocar muito o público americano dos anos 50. O resultado de tanto capricho veio depois nas bilheterias e nas ótimas críticas que o filme conseguiu. Shelley Winters e Montgomery Clift foram indicados ao Oscar. Embora não tenham sido premiados o filme em si conseguiu vencer em seis categorias (inclusive direção e roteiro), se consagrando naquele ano. Até o gênio Charles Chaplin se rendeu ao filme declarando que havia sido o "melhor filme que já tinha assistido em sua vida". Além disso os bastidores da produção deram origem a muitas histórias saborosas envolvendo Clift e Taylor, que se tornariam amigos até o fim de suas vidas. Depois disso não há muito mais o que escrever. Para os cinéfilos "Um Lugar ao Sol" é mais do que obrigatório. Um filme essencial.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Frank Sinatra - Swing Along With Me
Dando continuidade aos comentários sobre os excelentes álbuns de Frank Sinatra, vou aqui agora tecer algumas linhas a "Swing Along With Me" que popularmente acabou conhecido apenas como "Sinatra Swings" (nome que acabou sendo adotado oficialmente no relançamento do disco). O LP foi lançado em 1961 quando Sinatra já estava rompido com sua antiga gravadora Capitol. Embora tenha sido um período extremamente bem sucedido em termos de vendas e boas críticas, Sinatra rompeu com o selo logo no começo da década de 60. O cantor não era uma pessoa fácil no trato profissional e após várias brigas com a direção da Capitol, muitas delas movidas por interferências da gravadora nos repertórios de seus discos, algo que Sinatra considerava imperdoável, ele finalmente rompeu de forma definitiva com a companhia. Curiosamente é que mesmo após sair batendo a porta da Capitol o cantor continuou soltando várias farpas via imprensa. Em uma entrevista desabafou afirmando que "produzir e lançar meus discos não dão trabalho nenhum pois o sucesso é certo. Eu mesmo poderia fazer isso sozinho". De fato Sinatra não estava blefando quando disse essas palavras.
Poucos dias depois tomou uma importante decisão e resolveu fundar seu próprio selo chamado "Reprise Records". Agindo assim Sinatra pretendia mostrar que poderia ser o artista e o empresário de suas próprias gravações. Após tantos anos ele finalmente assumiria todo o controle que teria direito. O primeiro disco pela Reprise foi "Ring-a-Ding-Ding!" que foi totalmente bem sucedido, vendendo muito bem ao mesmo tempo em que ganhava aplausos da crítica especializada. Como havia muitas contas a pagar pela criação da Reprise, Sinatra não perdeu muito tempo e apenas quatro meses depois de "Ring-a-Ding-Ding!" colocou no mercado mais um disco que foi justamente esse "Swing Along With Me", um dos meus preferidos.
A seleção musical é totalmente agradável, leve e com excelente sonoridade. O disco foi produzido por Sonny Burke que muitos consideravam apenas um engenheiro de som com privilégios. O fato é que Sinatra queria mandar em tudo, sem qualquer tipo de opinião alheia interferindo no que ele queria ou não em seus discos. Como se pode perceber ouvindo o disco seu faro não falhou. O álbum abre com a muito boa "Falling in Love with Love" embora a primeira grande canção só venha logo após, "The Curse of an Aching Heart". Excelente swing com execução perfeita. Também aprecio muito o trabalho vocal de Sinatra em "Don't Cry, Joe (Let Her Go, Let Her Go, Let Her Go)" , uma faixa que relembra em muito seus trabalhos mais melancólicos como "All Alone" ou então "No One Cares". Ira e George Gershwin também estão na seleção com a clássica "Love Walked In", de ritmo sofisticado e suave. De fraco mesmo o álbum só tem a estranha "Granada", com arranjo estranho e melodia que destoa de todas as demais canções do LP. Uma alienígena completa na seleção musical. Embora tenha caído no gosto popular sempre a achei muito kitsch e démodé. Felizmente é sucedida pela dançante "I Never Knew" cuja qualidade é repetida nas demais faixas que fecham o disco. Enfim, recomendo o disco para os que gostam de Sinatra mais pop, mais swing, nesse aspecto o saldo realmente é excelente.
Frank Sinatra - Swing Along With Me (1961) / Falling in Love with Love / The Curse of an Aching Heart / Don't Cry, Joe (Let Her Go, Let Her Go, Let Her Go) / Please Don't Talk About Me When I'm Gone / Love Walked In / Granada /I Never Knew / Don't Be That Way / Moonlight on the Ganges / It's a Wonderful World / Have You Met Miss Jones? / You're Nobody 'Til Somebody Loves You / Produzido por Sonny Burke / Gravado no United Studios, Hollywood, Maio de 1961 / Lançado em Julho de 1961
Pablo Aluísio.
Poucos dias depois tomou uma importante decisão e resolveu fundar seu próprio selo chamado "Reprise Records". Agindo assim Sinatra pretendia mostrar que poderia ser o artista e o empresário de suas próprias gravações. Após tantos anos ele finalmente assumiria todo o controle que teria direito. O primeiro disco pela Reprise foi "Ring-a-Ding-Ding!" que foi totalmente bem sucedido, vendendo muito bem ao mesmo tempo em que ganhava aplausos da crítica especializada. Como havia muitas contas a pagar pela criação da Reprise, Sinatra não perdeu muito tempo e apenas quatro meses depois de "Ring-a-Ding-Ding!" colocou no mercado mais um disco que foi justamente esse "Swing Along With Me", um dos meus preferidos.
A seleção musical é totalmente agradável, leve e com excelente sonoridade. O disco foi produzido por Sonny Burke que muitos consideravam apenas um engenheiro de som com privilégios. O fato é que Sinatra queria mandar em tudo, sem qualquer tipo de opinião alheia interferindo no que ele queria ou não em seus discos. Como se pode perceber ouvindo o disco seu faro não falhou. O álbum abre com a muito boa "Falling in Love with Love" embora a primeira grande canção só venha logo após, "The Curse of an Aching Heart". Excelente swing com execução perfeita. Também aprecio muito o trabalho vocal de Sinatra em "Don't Cry, Joe (Let Her Go, Let Her Go, Let Her Go)" , uma faixa que relembra em muito seus trabalhos mais melancólicos como "All Alone" ou então "No One Cares". Ira e George Gershwin também estão na seleção com a clássica "Love Walked In", de ritmo sofisticado e suave. De fraco mesmo o álbum só tem a estranha "Granada", com arranjo estranho e melodia que destoa de todas as demais canções do LP. Uma alienígena completa na seleção musical. Embora tenha caído no gosto popular sempre a achei muito kitsch e démodé. Felizmente é sucedida pela dançante "I Never Knew" cuja qualidade é repetida nas demais faixas que fecham o disco. Enfim, recomendo o disco para os que gostam de Sinatra mais pop, mais swing, nesse aspecto o saldo realmente é excelente.
Frank Sinatra - Swing Along With Me (1961) / Falling in Love with Love / The Curse of an Aching Heart / Don't Cry, Joe (Let Her Go, Let Her Go, Let Her Go) / Please Don't Talk About Me When I'm Gone / Love Walked In / Granada /I Never Knew / Don't Be That Way / Moonlight on the Ganges / It's a Wonderful World / Have You Met Miss Jones? / You're Nobody 'Til Somebody Loves You / Produzido por Sonny Burke / Gravado no United Studios, Hollywood, Maio de 1961 / Lançado em Julho de 1961
Pablo Aluísio.
Frank Sinatra - Come Fly With Me
Quando Sinatra assinou com a Capitol Records em 1953 ele tinha algumas ideias em mente. Entre elas o objetivo de levantar seu nome dentro da indústria fonográfica. O cantor sabia que precisava restabelecer sua força comercial no meio para consolidar de vez sua fase de "renascimento" como artista. Nesse meio tempo não perdeu tempo e começou a trabalhar com grandes arranjadores e maestros como Nelson Riddle (o melhor parceiro musical de Sinatra em toda sua carreira) e Gordon Jenkins. Os discos de Sinatra na Capitol eram pensados e programados para serem grandes sucessos comerciais, levar o cantor de volta ao topo das paradas. O Rock´n´Roll batia às portas e para sobreviver no meio Frank tinha que constantemente se reinventar. Por essa razão todos os álbuns de Sinatra na Capitol Records tinham sempre uma idéia básica amarrando as faixas entre si. Eram em essência discos conceituais, bem antes dessa expressão ter sido popularizada em discos como "Sgt Peppers" dos Beatles.
Esse "Come Fly With Me" se encaixa nesse conceito. A ideia partiu do próprio Sinatra que pensou reunir em apenas um álbum várias canções que lembrassem diversas partes do mundo. "Come Fly With Me" (em português "Venha Voar Comigo") era claro nesse sentido - o disco seria um passeio ao redor do mundo através de suas músicas. Para a produção a Capitol indicou o produtor e maestro Billy May. Seria a primeira vez que trabalharia com Frank Sinatra. De início foi meio complicado para ele se acostumar com o modus operandi de Sinatra dentro dos estúdios pois o cantor era perfeccionista e rabugento na mesma proporção durante as sessões de gravação. De fato, Frank era do tipo que não aceitava ordens de absolutamente ninguém e isso geralmente criava atritos entre ele e os produtores que trabalhavam ao seu lado. Ele tanto poderia implicar com uma gravação tecnicamente perfeita como também podia selecionar um take não tão perfeito como o definitivo para entrar no disco. No fundo não ouvia ninguém e seguia apenas sua própria intuição. Se lhe soasse bem ele a incluiria entre as faixas do álbum e ponto final. Não era uma pessoa fácil de se lidar profissionalmente. A despeito disso porém temos que admitir que sua intuição quase nunca falhou como comprovamos em sua discografia oficial, onde seus álbuns saíam com resultado extremamente perfeito em termos técnicos.
"Come Fly With Me", a canção que abre o álbum é até hoje extremamente popular, tanto que foi regravada por diversos outros intérpretes ao longo dos anos (nenhuma versão posterior conseguiu chegar perto do talento de Sinatra na música é bom frisar). Como já foi dito todas as canções evocam lugares ao redor do mundo. Essa era a ideia, o conceito do álbum em si. Assim somos levados a caminhar no outono de Nova Iorque em"Autumn in New York", canção que obviamente não consegue se equiparar ou rivalizar em termos de popularidade com outra música de Sinatra sobre a cidade, o hino definitivo do cantor, "New York, New York", mas que tem melodia bonita e levemente melancólica. A cidade luz também não poderia faltar e assim o ouvinte é levado a passear por uma idealizada Paris em "April in Paris", que tem um arranjo com forte presença orquestral acompanhando ótimas notas alcançadas por Sinatra. A cidade inclusive seria duplamente homenageada no relançamento em CD com "I Love Paris" de Cole Porter, faixa não lançada na edição original, o que convenhamos foi um pecado.
O Havaí também não poderia faltar na lista. "Blue Hawaii", canção que depois seria regravada por Elvis Presley, é uma das melhores melodias cantadas por Sinatra. Até o Brasil entrou na dança com a popular "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso em versão americana escrita por Bob Russel. Curiosamente a canção acabou sendo mais conhecida lá fora como "Brazil". Eu pessoalmente gosto da versão de Sinatra nesse disco mas como brasileiro afirmo que o excesso de arranjos ao estilo jazz tradicional lhe tirou grande parte de sua personalidade. De qualquer forma não deixa de ser um prazer ouvir Sinatra cantando a terrinha com tanta paixão e convicção. Seu vocal é perfeito.
"Come Fly With Me" chegou nas lojas americanas pela primeira vez em janeiro de 1958 e foi um sucesso, logo chegando ao primeiro lugar das paradas da revista Billboard. Na época Sinatra torcia o nariz pois seus álbuns conseguiam chegar bem nas paradas mas seus singles geralmente fracassavam na parada americana. Ele deveria ter levado em conta que os discos da Capitol só funcionavam melhor mesmo quando apreciados em conjunto - com todas as canções - o que de certa forma desqualificavam seus singles como audição única. De qualquer maneira o LP serviu ainda mais para reerguer uma das melhores vozes da história da música popular americana.
Come Fly With Me - Frank Sinatra - Produção de Billy May - Faixas: "Come Fly With Me" (Sammy Cahn, Jimmy Van Heusen) "Around the World" (Victor Young, Harold Adamson) "Isle of Capri" (Will Grosz, Jimmy Kennedy) "Moonlight in Vermont" (Karl Suessdorf, John Blackburn) "Autumn in New York" (Vernon Duke) "On the Road to Mandalay" (Oley Speaks, Rudyard Kipling) "Let's Get Away from It All" (Matt Dennis, Tom Adair) "April in Paris" (Duke, E.Y. Harburg) "London By Night" (Carroll Coates) "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso, Bob Russell) "Blue Hawaii" (Leo Robin, Ralph Rainger) "It's Nice to go Trav'ling" (Cahn, Van Heusen) / Faixas Bônus no relançamento em CD: "Chicago" "South of the Border" (Jimmy Kennedy, Michael Carr) e "I Love Paris" (Cole Porter)
Pablo Aluísio.
Esse "Come Fly With Me" se encaixa nesse conceito. A ideia partiu do próprio Sinatra que pensou reunir em apenas um álbum várias canções que lembrassem diversas partes do mundo. "Come Fly With Me" (em português "Venha Voar Comigo") era claro nesse sentido - o disco seria um passeio ao redor do mundo através de suas músicas. Para a produção a Capitol indicou o produtor e maestro Billy May. Seria a primeira vez que trabalharia com Frank Sinatra. De início foi meio complicado para ele se acostumar com o modus operandi de Sinatra dentro dos estúdios pois o cantor era perfeccionista e rabugento na mesma proporção durante as sessões de gravação. De fato, Frank era do tipo que não aceitava ordens de absolutamente ninguém e isso geralmente criava atritos entre ele e os produtores que trabalhavam ao seu lado. Ele tanto poderia implicar com uma gravação tecnicamente perfeita como também podia selecionar um take não tão perfeito como o definitivo para entrar no disco. No fundo não ouvia ninguém e seguia apenas sua própria intuição. Se lhe soasse bem ele a incluiria entre as faixas do álbum e ponto final. Não era uma pessoa fácil de se lidar profissionalmente. A despeito disso porém temos que admitir que sua intuição quase nunca falhou como comprovamos em sua discografia oficial, onde seus álbuns saíam com resultado extremamente perfeito em termos técnicos.
"Come Fly With Me", a canção que abre o álbum é até hoje extremamente popular, tanto que foi regravada por diversos outros intérpretes ao longo dos anos (nenhuma versão posterior conseguiu chegar perto do talento de Sinatra na música é bom frisar). Como já foi dito todas as canções evocam lugares ao redor do mundo. Essa era a ideia, o conceito do álbum em si. Assim somos levados a caminhar no outono de Nova Iorque em"Autumn in New York", canção que obviamente não consegue se equiparar ou rivalizar em termos de popularidade com outra música de Sinatra sobre a cidade, o hino definitivo do cantor, "New York, New York", mas que tem melodia bonita e levemente melancólica. A cidade luz também não poderia faltar e assim o ouvinte é levado a passear por uma idealizada Paris em "April in Paris", que tem um arranjo com forte presença orquestral acompanhando ótimas notas alcançadas por Sinatra. A cidade inclusive seria duplamente homenageada no relançamento em CD com "I Love Paris" de Cole Porter, faixa não lançada na edição original, o que convenhamos foi um pecado.
O Havaí também não poderia faltar na lista. "Blue Hawaii", canção que depois seria regravada por Elvis Presley, é uma das melhores melodias cantadas por Sinatra. Até o Brasil entrou na dança com a popular "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso em versão americana escrita por Bob Russel. Curiosamente a canção acabou sendo mais conhecida lá fora como "Brazil". Eu pessoalmente gosto da versão de Sinatra nesse disco mas como brasileiro afirmo que o excesso de arranjos ao estilo jazz tradicional lhe tirou grande parte de sua personalidade. De qualquer forma não deixa de ser um prazer ouvir Sinatra cantando a terrinha com tanta paixão e convicção. Seu vocal é perfeito.
"Come Fly With Me" chegou nas lojas americanas pela primeira vez em janeiro de 1958 e foi um sucesso, logo chegando ao primeiro lugar das paradas da revista Billboard. Na época Sinatra torcia o nariz pois seus álbuns conseguiam chegar bem nas paradas mas seus singles geralmente fracassavam na parada americana. Ele deveria ter levado em conta que os discos da Capitol só funcionavam melhor mesmo quando apreciados em conjunto - com todas as canções - o que de certa forma desqualificavam seus singles como audição única. De qualquer maneira o LP serviu ainda mais para reerguer uma das melhores vozes da história da música popular americana.
Come Fly With Me - Frank Sinatra - Produção de Billy May - Faixas: "Come Fly With Me" (Sammy Cahn, Jimmy Van Heusen) "Around the World" (Victor Young, Harold Adamson) "Isle of Capri" (Will Grosz, Jimmy Kennedy) "Moonlight in Vermont" (Karl Suessdorf, John Blackburn) "Autumn in New York" (Vernon Duke) "On the Road to Mandalay" (Oley Speaks, Rudyard Kipling) "Let's Get Away from It All" (Matt Dennis, Tom Adair) "April in Paris" (Duke, E.Y. Harburg) "London By Night" (Carroll Coates) "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso, Bob Russell) "Blue Hawaii" (Leo Robin, Ralph Rainger) "It's Nice to go Trav'ling" (Cahn, Van Heusen) / Faixas Bônus no relançamento em CD: "Chicago" "South of the Border" (Jimmy Kennedy, Michael Carr) e "I Love Paris" (Cole Porter)
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Mickey Rourke e os anos 80
Essa semana me deparei involuntariamente com um fórum de filmes onde se discutia Angel Heart, clássico dos anos 80, dirigido por Alan Parker e estrelado por Mickey Rourke e Robert De Niro. Os usuários, em sua grande maioria jovens na faixa etária abaixo dos 20 anos, trocavam mensagens elogiando o filme, alguns bem admirados por sua excelente qualidade. Não é para menos. Angel Heart que no Brasil recebeu o título de "Coração Satânico" foi um dos melhores filmes que eu já assisti na minha vida e isso não é nenhum exagero. Essa história eu conheço bem porque a vivenciei nos anos 80. Na época eu ainda era bastante jovem mas já era viciado em cinema, indo sempre pelo menos uma vez por semana aos antigos cinemas do centro da cidade onde morava (e que lamentavelmente não existem mais). Quando Angel Heart estreou nos cinemas eu estava lá, era 1987 e Mickey Rourke logo se tornou um dos meus grandes ídolos.
Eu já admirava o trabalho desse ator há tempos. Para quem não sabe Mickey Rourke nos anos 80 foi o mais próximo que o cinema conseguiu de produzir um novo James Dean ou um novo Marlon Brando. A carreira de Rourke nos anos 80 foi simplesmente fantástica, um filme excelente atrás do outro. Lembro-me muito bem do impacto que "Rumble Fish" teve sobre mim. Aquele personagem de Rourke, um motoqueiro entediado da vida e que procurava redenção, foi simplesmente mitológico. O incrível em Rourke era que ele parecia ter saído de algum filme dos anos 50 (que eu simplesmente adorava, pois já naquela época era fã da cultura Vintage, com ídolos como Elvis, Dean, Brando, etc). Até seus filmes ditos menores causavam impacto como o cult "Diner", um dos roteiros mais bem escritos que já vi. Curiosamente não gostava apenas de 9 semanas e meia de amor, que era justamente o seu filme mais popular no Brasil. Sempre achei que tinha cara de "comercial de TV" ou algo parecido. Adrian Lyne realmente era um espertalhão.
A lista de bons e ótimos filmes que Rourke estrelou nos 80´s é extensa. O Ano do Dragão, Prece para um Condenado e Barfly (em que apresentou uma de suas maiores atuações) são apenas alguns exemplos. Todos esses filmes marcaram muito os cinéfilos da minha geração e eu tive o privilégio de assistir tudo nos cinemas. Angel Heart foi sua consagração. O filme é simplesmente excelente, desde sua fotografia, passando pela trilha sonora magnífica e o mais importante: um roteiro que era simplesmente um primor, do tipo que é cada vez mais raro na Hollywood atual. Mickey Rourke como um detetive típico dos anos 50, trouxe para as telas uma atuação que deveria ter sido premiada com o Oscar na minha modesta opinião. De quebra Angel Heart ainda trazia Robert De Niro em um de seus momentos mais marcantes da sua carreira. Nota 10 com louvor.
Fiquei verdadeiramente empolgado com Angel Heart e naquele tempo tinha a firme convicção que Mickey Rourke se tornaria sem sombra de dúvidas um ídolo ao estilo James Dean ou Brando. Infelizmente não sabia que depois desse filme Rourke iria descer ladeira abaixo na carreira. Depois de se consagrar no filme de Alan Parker, Rourke colocou na cabeça que queria estrelar um filme sobre boxe, seu esporte preferido e sua maior paixão. Assim ele filmou Homeboy, um grande fracasso de bilheteria. Depois disso a carreira desandou de vez. Estrelou o péssimo Orquídea Selvagem, em busca do sucesso perdido e depois desse filme afundou nos anos 90. Eu particularmente fiquei muito desapontado com o rumo que Rourke tomou a partir desse ponto, tirando o bom "O Homem que Fazia Chover" de Coppola ele nada mais fez de relevante ou importante. O ponto mais baixo de sua carreira aconteceu quando contracenou com Jean Claude Van Damme em um daqueles filmes horríveis dele. A partir desse dia me conscientizei que apesar de sua brilhante carreira nos anos 80 Mickey Rourke era apenas mais um "ex futuro Marlon Brando".
Depois de anos estrelando filmes B sem importância, finalmente no ano que passou ele reviveu graças ao excelente "O Lutador", com várias referências pessoais à sua própria biografia. Até chegou a ser indicado ao Oscar (perdendo injustamente para Sean Penn em Milk). Fiquei feliz e contente ao ver meu antigo ídolo saindo da tumba. Mickey, apesar dos inúmeros erros ao longo da carreira, tem talento de sobra e isso ninguém pode negar. Obviamente os anos pesaram a ele, depois de algumas cirurgias plásticas mal sucedidas Mickey nem de longe lembra o antigo galã rebelde dos anos 80. Está com o rosto desfigurado, com o cabelo esquisito e em algumas fotos aparece com péssimo visual. Uma pena. Confesso que após "O Lutador" pensei que ele iria trilhar um caminho de bons personagens para assim recuperar seu antigo prestígio mas Rourke ao se envolver em projetos como Homem de Ferro 2 deixa várias perguntas não respondidas no ar. De qualquer forma torço por ele e espero que consiga novamente se reerguer. Mickey Rourke, para mim, é como um velho amigo do passado, um colega dos agora longínquos anos 80. Para quem foi o ator mais cool daquela década que deixou saudades espero que ele consiga atingir seus objetivos.
Pablo Aluísio.
Eu já admirava o trabalho desse ator há tempos. Para quem não sabe Mickey Rourke nos anos 80 foi o mais próximo que o cinema conseguiu de produzir um novo James Dean ou um novo Marlon Brando. A carreira de Rourke nos anos 80 foi simplesmente fantástica, um filme excelente atrás do outro. Lembro-me muito bem do impacto que "Rumble Fish" teve sobre mim. Aquele personagem de Rourke, um motoqueiro entediado da vida e que procurava redenção, foi simplesmente mitológico. O incrível em Rourke era que ele parecia ter saído de algum filme dos anos 50 (que eu simplesmente adorava, pois já naquela época era fã da cultura Vintage, com ídolos como Elvis, Dean, Brando, etc). Até seus filmes ditos menores causavam impacto como o cult "Diner", um dos roteiros mais bem escritos que já vi. Curiosamente não gostava apenas de 9 semanas e meia de amor, que era justamente o seu filme mais popular no Brasil. Sempre achei que tinha cara de "comercial de TV" ou algo parecido. Adrian Lyne realmente era um espertalhão.
A lista de bons e ótimos filmes que Rourke estrelou nos 80´s é extensa. O Ano do Dragão, Prece para um Condenado e Barfly (em que apresentou uma de suas maiores atuações) são apenas alguns exemplos. Todos esses filmes marcaram muito os cinéfilos da minha geração e eu tive o privilégio de assistir tudo nos cinemas. Angel Heart foi sua consagração. O filme é simplesmente excelente, desde sua fotografia, passando pela trilha sonora magnífica e o mais importante: um roteiro que era simplesmente um primor, do tipo que é cada vez mais raro na Hollywood atual. Mickey Rourke como um detetive típico dos anos 50, trouxe para as telas uma atuação que deveria ter sido premiada com o Oscar na minha modesta opinião. De quebra Angel Heart ainda trazia Robert De Niro em um de seus momentos mais marcantes da sua carreira. Nota 10 com louvor.
Fiquei verdadeiramente empolgado com Angel Heart e naquele tempo tinha a firme convicção que Mickey Rourke se tornaria sem sombra de dúvidas um ídolo ao estilo James Dean ou Brando. Infelizmente não sabia que depois desse filme Rourke iria descer ladeira abaixo na carreira. Depois de se consagrar no filme de Alan Parker, Rourke colocou na cabeça que queria estrelar um filme sobre boxe, seu esporte preferido e sua maior paixão. Assim ele filmou Homeboy, um grande fracasso de bilheteria. Depois disso a carreira desandou de vez. Estrelou o péssimo Orquídea Selvagem, em busca do sucesso perdido e depois desse filme afundou nos anos 90. Eu particularmente fiquei muito desapontado com o rumo que Rourke tomou a partir desse ponto, tirando o bom "O Homem que Fazia Chover" de Coppola ele nada mais fez de relevante ou importante. O ponto mais baixo de sua carreira aconteceu quando contracenou com Jean Claude Van Damme em um daqueles filmes horríveis dele. A partir desse dia me conscientizei que apesar de sua brilhante carreira nos anos 80 Mickey Rourke era apenas mais um "ex futuro Marlon Brando".
Depois de anos estrelando filmes B sem importância, finalmente no ano que passou ele reviveu graças ao excelente "O Lutador", com várias referências pessoais à sua própria biografia. Até chegou a ser indicado ao Oscar (perdendo injustamente para Sean Penn em Milk). Fiquei feliz e contente ao ver meu antigo ídolo saindo da tumba. Mickey, apesar dos inúmeros erros ao longo da carreira, tem talento de sobra e isso ninguém pode negar. Obviamente os anos pesaram a ele, depois de algumas cirurgias plásticas mal sucedidas Mickey nem de longe lembra o antigo galã rebelde dos anos 80. Está com o rosto desfigurado, com o cabelo esquisito e em algumas fotos aparece com péssimo visual. Uma pena. Confesso que após "O Lutador" pensei que ele iria trilhar um caminho de bons personagens para assim recuperar seu antigo prestígio mas Rourke ao se envolver em projetos como Homem de Ferro 2 deixa várias perguntas não respondidas no ar. De qualquer forma torço por ele e espero que consiga novamente se reerguer. Mickey Rourke, para mim, é como um velho amigo do passado, um colega dos agora longínquos anos 80. Para quem foi o ator mais cool daquela década que deixou saudades espero que ele consiga atingir seus objetivos.
Pablo Aluísio.
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