quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Vivien Leigh - Filmografia Completa - Parte 2

Vivien Leigh - Filmografia Completa - Parte 2
Vamos dar sequência nessa análise dos filmes da atriz Vivien Leigh, agora partindo da década de 1940, quando a ainda jovem atriz passou a colher os frutos do sucesso do clássco "E O Vento Levou".

1940:
A Ponte de Waterloo
3 Semanas de Loucura

Depois do grande sucesso de bilheteria de "E O Vento Levou", toda Hollywood ficou na expectativa do que a atriz iria fazer depois. E foram dois bons filmes, mas em escala menor, como era de se esperar. "3 Semanas de Loucura" é um filme que não fez muito sucesso, que não marcou muito. Já "A Ponte de Waterloo" é considerado um filme romântico excepcional, ainda hoje lembrado pelos cinéfilos. Grande momento de sua carreira. No mais ela não voltou ao topo em Hollywood, o que causou um certo mal estar com os grandes estúdios.

1941:
Lady Hamilton, a Divina Dama


Em 1941 a atriz faria apenas um filme, "Lady Hamilton, a Divina Dama", uma boa produção, mas que não fez muito sucesso. Com problemas de saúde a atriz só voltaria a atuar em 1945, ficando quatro anos afastada do cinema.

1945:
César e Cleópatra

O retorno, após alguns anos afastada, não foi dos mais brilhantes, ainda que se possa considerar esse um bom filme épico, mas com produção bem mais modesta do que os filmes produzidos em Hollywood.

1948:
Anna Karenina

Último filme da década, o que demonstra que ela pouco produziu nos anos 1940, fruto de muitos problemas de saúde e de índole pessoal. Essa adaptação do clássico da literatura certamente é um bom filme, com ótima atuação e roteiro primoroso. Só não se tornou um sucesso de bilheteria, o que de certa maneira era compreensível.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

James Dean / Marlon Brando


James Dean
Na foto James Dean banca o cowboy no deserto do Texas durante as filmagens de "Assim Caminha a Humanidade". Na verdade o eterno rebelde de Hollywood carregava diversos traumas de infância que o fazia se esconder embaixo de uma personalidade complicada de se relacionar. A mãe de Dean faleceu quando ele era ainda muito jovem, apenas uma criança. Depois seu pai o enviou para ser criado pelos tios em Indiana. O velho estava casando novamente com outra mulher e Dean não fazia mais parte dessa sua nova vida. Assim o ator acabou criando uma sensação de rejeição e problemas familiares que o seguiria pelo resto de sua curta vida. Depois de sua morte alguns textos escritos pelo próprio Dean foram encontrados. Em um deles o ator desabafava sobre a morte precoce de sua mãe ao dizer: "O que ela esperava que eu fizesse? Salvar o mundo inteiro sozinho?".


James Dean - O Rebelde Sem Causa
James Dean posa para uma foto do filme "Juventude Transviada" que no original se chamava "Rebel Without Cause". O roteiro explorava a geração jovem da década de 1950. Na época a expressão Rebelde Sem Causa se disseminou nos meios acadêmicos pois para os especialistas os jovens daquela época não tinha contra o que se rebelar. Os Estados Unidos passavam por um período muito próspero, com grande desenvolvimento econômico. E pela primeira vez na história os mais jovens não eram mais pressionados para largar os estudos para trabalhar no campo. Com tantos pontos positivos os psicólogos simplesmente não conseguiam entender porque tantos jovens se tornavam delinquentes juvenis, rompendo com o American Way of Life de forma tão contundente. A única coisa que ignoraram foi o extremo vazio existencial que atingia muitos adolescentes da época. Isso não poderia ser curado tão facilmente como muitos faziam crer.

Marlon Brando - Espíritos Indômitos
O primeiro filme da carreira de Marlon Brando foi Espíritos Indômitos (The Men, EUA, 1950), dirigido por Fred Zinnemann. Existem filmes que são verdadeiras experiências de vida para os atores. Foi isso que aconteceu com Brando no set de filmagens de sua primeira produção. O roteiro mostrava as dificuldades de um jovem soldado que voltava da guerra paralítico. Após ser atingido no campo de batalha ele perdia a capacidade de andar. Esse é um lado da guerra que geralmente era jogado para debaixo do tapete em filmes de guerra. Os soldados eram mostrados como homens bravos, quase super-heróis. Em seu primeiro filme Brando teve a oportunidade de mostrar o lado mais humano dessas pessoas.

O drama de se tornar deficiente ainda tão jovem, com um longo futuro pela frente. Em sua autobiografia Marlon Brando recordou que teve que conviver com veteranos reais, que ficaram aleijados por ferimentos nos campos violentos da Guerra da Coreia e da Segunda Guerra Mundial. Brando contou que aqueles homens não queriam a pena das pessoas e nem tampouco que fossem lamentados. Eles na verdade ansiavam por um tratamento igualitário, queriam ser vistos como pessoas normais e não como verdadeiros coitadinhos. Muitos deles eram jovens que tinham perdido não apenas a capacidade de andar, mas também de fazer sexo. Imagine isso na cabeça de um homem de 20, 21 anos de idade? Algo realmente terrível. A convivência com aqueles homens mudou a visão de Brando sobre o militarismo para sempre. Ele que havia estudado numa escola militar se sentia arrasado sempre que ouvia alguma história triste contado por aqueles sujeitos. A guerra não é um lugar bonito para se estar. E o lar muitas vezes também pode se tornar um verdadeiro inferno quando você volta do combate incapacitado de alguma forma. A lição de vida fica assim para todos.



Marlon Brando - The Men
Brando estuda o script de "Espíritos Indômitos" ainda na cadeira de rodas de seu personagem. Durante muito tempo Brando afirmara que não faria cinema. Ele era um ator respeitado e conceituado em Nova Iorque com suas peças teatrais e ir para Los Angeles filmar todos aqueles filmes sem muito conteúdo não o animava. Era uma forma de arte menor, não à altura de seu talento. Em sua autobiografia o ator confessa que via os atores de Hollywood como verdadeiras prostituas da arte de atuar, mas que ele não tinha forças suficientes para recusar os altos cachês que a indústria cinematográfica lhe oferecia. De forma irônica Brando escreveu: "Pois é, eu também era uma prostituta, fazer o quê?". Coisas de Brando.


Marlon Brando e o Pai
Na foto Marlon Brando e seu pai surgem sorridentes em um momento bem divertido. Na realidade esse foi um raro momento de descontração. Brando e seu pai tinham um relacionamento tumultuado, agravado pelo alcoolismo de sua mãe (que ele atribuía como culpa do comportamento nada fiel e muito cruel do seu velho) e por uma frieza que deixava Brando muito desconcertado. Na juventude Brando até tentou ser um bom aluno, indo para uma escola militar que também havia sido frequentada pelo pai, mas tudo ruiu quando ele foi expulso por mau comportamento. Isso deixou tudo ainda mais tenso entre ambos. Nem quando Brando se tornou famoso as coisas serenaram. Viviam brigando e jogando coisas horríveis um na cara do outro. No final da vida o velho se tornou ainda mais frio e distante com o filho o que fez Brando confessar em sua autobiografia: "Queria que ele tivesse vivido mais, pois queria dar um soco em sua cara que quebrasse todo os seus dentes" - uau, nem Johnny o motoqueiro de "O Selvagem" teria tanto ódio no coração assim!


Brando na Broadway
Foto clássica de Marlon Brando nos bastidores da Broadway onde trabalhava na famosa peça "Um Bonde Chamado Desejo". Para Brando era essencialmente a consagração de sua carreira de ator teatral, algo que ele almejava conquistar desde quando chegara a Nova Iorque, ainda na década de 1940. Inicialmente Brando não tinha intenção de fazer cinema porém a equação menos trabalho e mais dinheiro falou mais alto. Em Hollywood Brando logo descobriria que a arte não estava em primeiro lugar como nos teatros da grande maçã. O importante era lucrar e fazer sucesso e isso significava muitas vezes mudar os textos originais que eram adaptados para o cinema, algo que geralmente enfurecia o ator.

Pablo Aluísio.

George Cukor, o diretor das estrelas

Um dos grandes cineastas da era de ouro do cinema clássico americano foi George Cukor. Além de brilhante diretor ele se notabilizou e ficou conhecido como o "Diretor da Estrelas". Essa denominação, muito justa aliás, lhe foi dada pela crítica por causa da extrema sensibilidade que Cukor demonstrava ao dirigir as grandes divas do cinema. Isso ficou bem claro quando dirigiu Marilyn Monroe no filme "Adorável Pecadora" de 1960. A atriz o escolheu pessoalmente por causa da indicação de colegas da profissão, uma vez que Cukor era extremamente compreensivo e gentil com os vários problemas que atingiam muitas delas, inclusive em sua vida particular.

Marilyn que tinha um longo histórico de brigas e confusões com diretores que havia trabalhado ao longo de sua carreira conseguiu ter uma perfeita sintonia com Cukor no set de filmagens. Isso aumentou sua produtividade e a intensa paciência do cineasta acabou ganhando ares de gratidão quando Marilyn resolveu pedir a volta de Cukor para dirigir aquele que seria seu último filme, "Something's Got to Give" que nunca seria concluído uma vez que Marilyn morreria de uma overdose de drogas acidental durante as filmagens. Na ocasião dizia-se nos corredores da Fox que apenas Cukor tinha a habilidade pessoal e a diplomacia necessárias para lidar com o terrível e complicado temperamento de La Monroe.

Outra deusa da sétima arte que teve um feliz (e breve encontro) profissional com George Cukor foi Vivien Leigh. Poucos sabem, mas Cukor foi o primeiro escolhido para dirigir o maior épico histórico de Hollywood na década de 1930, o clássico imortal "E O Vento Levou". Logo no começo das filmagens ele entendeu (de forma completamente certa) que a grande protagonista da fita seria a personagem  Scarlett O'Hara. Tudo o mais apenas giraria ao seu redor. Essa visão descontentou profundamente o astro Clark Gable que achava estar sendo colocado de lado por Cukor. Pressionado o estúdio acabou demitindo o mestre, porém seu legado ficou no filme a tal ponto que muitos creditam o Oscar dado a Leigh justamente pelas cenas que Cukor rodou com ela.

Cukor teve uma vida longa, só vindo a falecer com 83 anos de idade! Ao todo ele dirigiu 67 filmes, alguns considerados clássicos absolutos da história do cinema. Discreto, elegante e muito educado ele soube como poucos tirar o melhor das atrizes com quem trabalhou ao longo da vida. Foi indicado seis vezes ao Oscar, mas só foi premiado uma vez, por "My Fair Lady" de 1964, onde teve mais uma bela oportunidade de dirigir uma grande atriz, o símbolo máximo da elegância glamorosa, Audrey Hepburn. Mais coerente com o seu modo de ser e trabalhar do que isso, impossível.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Robert Mitchum - Problemas Legais

Robert Mitchum protagonizou um dos maiores escândalos da história da velha Hollywood. O fato aconteceu em setembro de 1948. Mitchum estava em uma casa suspeita em Hollywood Hills, bairro de Los Angeles, ao lado da atriz Lila Leeds, seu namorado e a dançarina Vickie Evans. Todos pareciam estar numa boa, ouvindo música, dançando um pouco, namorando outro tanto, até que foram surpreendidos com fortes batidas na porta da frente. Era a polícia. Uma denúncia anônima - provavelmente de algum vizinho irritado - havia informado que no local estava havendo consumo de drogas.

Todos foram imediatamente revistados. O flagrante se consumou após os tiras encontrarem na sala de estar vários cigarros de maconha. Mitchum e sua turma foram imediatamente algemados e levados para os carros patrulhas. Alertada, a imprensa correu para o local e ainda conseguiu excelentes fotos do momento exato em que todos estavam sendo levados presos. Robert Mitchum ainda tentou convencer os jornalistas a abafarem o caso ali mesmo, no meio da rua, enquanto era levado para o carro da polícia. Ele virou-se para um conhecido que trabalhava no Los Angeles Times e disse: "Ei, não publique nada sobre isso! Se você publicar essa notícia será o fim da minha carreira!".

Era um temor justificado. Ser preso com maconha nos anos 1940 poderia realmente destruir a reputação de qualquer um, ainda mais de um ator de cinema. Mitchum, apesar de nunca ter feito o papel de galã em seus filmes (geralmente ele interpretava bandidos, criminosos e detetives cínicos em filmes noir) sabia que algo daquela magnitude poderia destruir sua carreira, fazendo com que os estúdios não o contratassem mais para trabalhar em novas produções. Seria o fim? Na delegacia Mitchum tentou se explicar. Afirmou que tudo estava sendo um grande mal entendido. Em sua versão ele estava naquele lugar por puro acaso após ir até Hollywood Hills em busca de uma nova casa para alugar. Como não achou nenhuma que atendesse suas expectativas resolveu dar um pulinho na casa da colega Lila Leeds que morava ali perto. Quando chegou a tal festinha já havia começado e se havia maconha no meio da sala ela certamente não lhe pertencia.

Levado perante o juiz o ator repetiu sua versão dos fatos. Chegou a dizer, com extremo cinismo, bem típico de seus personagens no cinema, que mal sabia o cheiro que um cigarro de maconha exalava e por isso era completamente inocente, uma pobre alma que estava no lugar errado, na hora errada. O magistrado não se convenceu e sentenciou Mitchum a uma pena de seis meses na penitenciária de Los Angeles. Claro que a imprensa fez a festa, cobrindo todos os menores detalhes: Mitchum sendo levado para a prisão, vestindo roupa de presidiário, limpando sua cela, etc. Curiosamente o ator a partir de determinado momento não quis mais saber de preservar sua imagem, fazendo inúmeras piadas sobre o ocorrido. Isso acabou criando uma simpatia do público com ele a ponto de todos o perdoarem pelo deslize. Quando saiu da cadeia Mitchum percebeu que sua carreira havia sobrevivido, novos filmes estavam à sua disposição e ele poderia seguir em frente, mas claro, agora sem maconha.

Pablo Aluísio.

Clark Gable e Loretta Young

Um dos casos mais escabrosos da velha Hollywood só veio à tona em 2015. Clark Gable e Loretta Young estrelaram vários filmes juntos. O eterno galã que ficou imortalizado em clássicos do cinema como "E O Vento Levou" tinha fama de conquistador também fora das telas. Invariavelmente tentava levar as atrizes com quem contracenavam para a cama e diante de sua fama e riqueza geralmente se dava bem, conseguindo atingir seus objetivos. Uma exceção aconteceu com Loretta Young. Durante as filmagens de "O Grito na Selva" de 1935 o ator teria decidido que iria levar o romance com Loretta também para a vida real.

O problema é que ela tinha firmes convicções religiosas. Criada dentro do catolicismo não aceitava a ideia de ir para a cama com um homem com quem não estivesse casada. Isso acabava deixando Gable ainda mais interessado em sua conquista porém apesar dos avanços nunca teria conseguido nada com ela. Até que uma noite, após o final de um dia cansativo de filmagens, Gable teria surgido de surpresa em seu camarim. Nessa ocasião ele teria forçado uma grande barra para ter Loretta em seus braços, mas ela teria resistido aos seus avanços. Gable teria então ficado bem contrariado com a recusa, mas recuou diante do surgimento de outros membros da equipe técnica do filme no local.

Depois quando toda a equipe e o elenco estavam viajando de volta das locações para Hollywood o ator finalmente teria conseguido entrar na cabine do trem onde viajava Loretta e, segundo suas próprias palavras em seu livro de memórias, a teria estuprado. A denúncia que o grande astro da era de ouro do cinema americano era também um estuprador já era por si só chocante, mas não era tudo. Ainda havia mais. A atriz teria ficado grávida de Clark Gable. Envergonhada, procurou esconder sua situação tendo nascido desse estupro a sua filha Judy. Mesmo procurado por Loretta secretamente para lhe informar que havia se tornado pai novamente, o ator negou-se a assumir publicamente a paternidade.

Loretta Young então resolveu guardar esse grande segredo por décadas e décadas. Seu maior receio era que a filha ficasse estigmatizada em Hollywood, sofrendo toda a sorte de preconceitos por ter sido fruto de um estupro cometido por um ator famoso. Só depois da morte da filha Judy, em 2015, é que finalmente as memórias de Loretta se tornaram públicas. Ela permitiu em uma carta que a história fosse revelada ao grande público desde que sua filha também já estivesse morta (Loretta morreu em 2000, anos antes da morte da filha, mas revelou tudo para sua nora, com a autorização de que tudo fosse realmente divulgado quando ela também já não estivesse viva). Agora imaginem ficar por tanto tempo guardando algo dessa magnitude enquanto a carreira e a memória de Clark Gable eram louvadas (ele morreu em 1960, após as filmagens do filme "Os Desajustados"). Só uma mulher com grande fibra moral teria conseguido essa verdadeira façanha.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Charlton Heston - A visita ao Brasil

A primeira vez que o ator Charlton Heston ouviu falar do Brasil foi quando foi contratado para atuar na produção "Selva Nua" em 1953, onde interpretava um aventureiro que viajava até a Amazônia brasileira em busca de uma nova vida. Uma vez na América do Sul ele procurava "importar" uma mulher americana para ser sua esposa (interpretada pela atriz Eleanor Parker), mas tinha muitos problemas com ela quando finalmente chegava de viagem. Ele procurava por uma mulher virgem, mas logo descobria que ela era na verdade viúva, desapontando seus planos iniciais. Para promover o filme o estúdio então convidou a jornalista Dulce Damasceno de Brito para entrevistá-lo. Heston estava particularmente interessado nesse encontro porque poderia lhe trazer maiores conhecimentos sobre aquele país tropical distante, de natureza exuberante. Afinal Dulce era brasileira.

Logo que foi apresentado para Dulce o ator começou a lhe fazer várias perguntas sobre o Brasil, algumas sem o menor sentido, como se Dulce tivesse vindo direto da floresta para a entrevista (sendo que ela na verdade morava em São Paulo e não tinha a menor ideia do que ele estava falando). Como muitos americanos o ator achava que o Brasil era uma enorme floresta amazônica com pequenas povoações isoladas no meio da mata. O momento em que Dulce realmente caiu na gargalhada foi quando Heston lhe perguntou sobre as terríveis formigas gigantes assassinas brasileiras conhecidas como "Marabuntas". Era surreal demais para ser verdade. Educadamente Dulce lhe explicou que elas não existiam em São Paulo onde ela morava, até porque aquela era uma grande metrópole e não um vilarejo no meio da selva.

Algo que o próprio Charlton Heston teria oportunidade de conhecer alguns anos depois quando finalmente veio ao Brasil para as filmagens de "My Father", um filme com financiamento italiano que nunca chegou a ser lançado comercialmente em nosso país. Nesse período Heston ficou dois meses no Brasil filmando diversas cenas em São Paulo, Manaus e Belém do Pará. A diversidade de culturas, climas e fauna impressionou o ator que ao reencontrar Dulce novamente em São Paulo disparou: "O Brasil é o país mais bonito do mundo! Estou verdadeiramente impressionado!". Ele já havia estado por aqui em outra ocasião breve, nos anos 70, para promover o filme "SOS Submarino Nuclear", mas aquela havia sido uma curta estadia. Agora com chances maiores de visitar o país o ator ficou realmente surpreso com o país. Confessou a Dulce que só não entendia como um país tão grandioso como o Brasil não conseguia se tornar uma potência mundial - provavelmente Heston não conhecia a classe política brasileira!

De uma maneira ou outra ele e Dulce riram muito quando relembraram de seu primeiro encontro, ainda em Hollywood, quando Heston queria saber mais sobre as formigas gigantes brasileiras. Ele finalmente havia entendido o absurdo da situação. Como todo americano médio o ator não tinha a menor ideia do que significava o Brasil e seu tamanho continental. Ele que pensava que o Brasil não tinha nada além de florestas e mais florestas finalmente havia conhecido o lado urbano e mais desenvolvido do país, com suas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Nunca é tarde demais para aprender um pouco mais de história e geografia, não é mesmo?

Pablo Aluísio.

Memórias de Marilyn Monroe - Parte 2

Quando eu era uma simples adolescente eu fui muitas vezes ao Chinese Theatre na Hollywood Boulevard onde as estrelas e astros do cinema colocavam seus pés e mãos em cimento, os imortalizando para sempre. Uma vez tirei meus sapatos e coloquei sobre as marcas do cimento de estrelas do passado. Ficava comparando o tamanho dos meus pés com as delas e pensei - "Pobrezinha, tinha os pés muito grandes!". Quando eu fazia isso eu pensava que o meu dia nunca haveria de chegar! Eu estava enganada pois um dia a minha vez finalmente chegou também! Quando fui convidada para fazer minhas marcas naquele mesmo cimento eu ri comigo mesma e pensei que nada no mundo é realmente impossível quando você deseja algo. Quando decidi ser atriz sabia que seria duro chegar ao topo. As dificuldades realmente foram enormes, mas jamais me desencorajei de lutar pelos meus sonhos. O que me fazia seguir em frente eram as enormes possibilidades de fazer algo realmente importante na minha vida. Eu adoro comédias e elas me trouxeram a primeira grande oportunidade da minha carreira. Além disso eu acredito que tenha vocação para o humor e isso é algo que nasce com você. Além disso na época eram os filmes que me ofereciam e eu precisava do dinheiro!

Esses meus primeiros filmes me trouxeram o pão de cada dia e eu os fiz na maior humildade, com gratidão. Quando me deram o papel de Lorelei Lee em "Os Homens Preferem as Loiras" ao lado de Jane Russell eu vibrei! Ela ganhou 200 mil dólares pelo trabalho no filme enquanto eu só recebia 500 dólares por semana, mas tudo bem! Eu não me queixava, até porque para uma loira que tinha ficado grande parte de seu tempo desempregada em Hollywood aquela era uma boa soma para que eu pudesse pagar minhas dívidas! Aliás é bom que se diga que Jane foi muito gentil comigo durante todas as filmagens. Ela era uma estrela e eu... bom, eu era apenas uma garota bonita do elenco. Jane sem dúvida foi muito boazinha comigo, mas o mesmo não posso dizer dos outros. Eu não tinha um camarim próprio e puxa, acredito que merecia ter um lugar só para mim, afinal era isso que as estrelas tinham não é mesmo? O filme se chamava "Os Homens Preferem as Loiras" e eu era a principal loira do elenco então... mas os produtores do filme se negaram a me dar um camarim próprio, privativo, dizendo: "Você ainda não é uma estrela" ao que eu respondia: "Eu sei, mas de qualquer jeito eu sou a loira do título!"

Eu devo o meu sucesso ao público, a todos os que compram os ingressos para os meus filmes. Eu não devo gratidão a produtores, nem diretores ou até mesmo ao estúdio - eu devo gratidão ao povo! Assim que os meus filmes começaram a fazer sucesso eu comecei a receber um grande número de cartas enviadas pelos fãs! Receber a primeira carta de um admirador de seu trabalho é como ficar embriagada... embriagada de felicidade! Eu cheguei a chorar e rir de felicidade, tudo ao mesmo tempo! Por isso eu sempre procurei dar o melhor de mim em todos os filmes, sempre procurando fazer um bom trabalho em consideração a essas pessoas. Nem sempre isso era fácil. Havia dias terríveis quando eu tinha que desempenhar em uma cena importante e ficava muito nervosa com isso. Então eu chegava no estúdio muito cedo e via aquela senhorinha varrendo os estúdios e pensava: "Minha vida teria sido mais fácil se eu tivesse limitado minhas ambições a um trabalho como esse! Isso era o que eu deveria estar fazendo!".

Creio que todo artista passa por uma crise como essa. Não basta querer atuar bem, você tem que fazer bem o seu trabalho e agradar a quem pagou um ingresso para ver seu filme no cinema. Meu nervosismo porém algumas vezes me deixava em pânico. Eu parecia gelatina por dentro. Um artista não é como um abajur que você liga e desliga, muito pelo contrário. Eu não consigo trabalhar desse jeito e por isso tive meus problemas com certos diretores ao longo da minha vida. Eles queriam uma reação automática e eu sou uma atriz! Fala-se muito desse medo do palco e das câmeras e eu sei bem o que é isso. Eu já senti muitas e muitas vezes esse medo! Uma vez eu perguntei a Lee Strasberg porque eu às vezes sentia tanto medo e pavor antes de entrar em cena? Ele me olhou bem nos olhos, de forma bem firme e me disse: "No dia em que parar de sentir esse medo pode abandonar a profissão. O medo é a prova que você tem sensibilidade e isso para um artista é essencial". Quando ele me explicou isso eu me senti muito aliviada.

Marilyn Monroe.

domingo, 21 de outubro de 2007

James Dean - A Morte de James Dean

Na noite anterior de sua morte o ator James Dean resolveu experimentar seu novo carro esporte, um Porsche 550 Spyder que ele apelidou de "Little Bastard" (O Pequeno Bastardo). Dean estava encantado pela máquina e esperava conquistar muitas vitórias nas pistas com ele. O ator era na realidade um piloto de corridas frustrado e adorava se sentir um corredor vitorioso nessas competições abertas a qualquer um que tivesse um carro esporte de alta velocidade como um Porsche, por exemplo. O veículo era especial para as pistas, mas Dean resolveu experimentar usando ele numa auto estrada pouco movimentada da Califórnia, em Salinas. Dean calculou que seria melhor levar o Spyder ao seu limite durante a madrugada para evitar as patrulhas policiais das estradas. De fato Dean poderia ter morrido nessa noite pois conforme confidenciou ao seu mecânico ele chegou aos 160Km/h em plena highway - uma temeridade sem tamanho!

Depois de correr por toda a noite James Dean voltou para sua casa às 4h50m, quando o sol já ameaçava raiar. Sua tentativa de dormir foi em vão pois às oito da manhã o ator Richard Davalos chegou para uma visita. Como a casa de Dean estava uma bagunça (como sempre) Davalos resolveu fazer o café da manhã para o amigo. Dean logo notou sua presença e desceu as escadas, mas por ter dormido muito pouco parecia estar de péssimo humor. Nem sequer deu um mero "bom dia" para o colega. Ele simplesmente acendeu um cigarro e foi ao corredor pegar seus bongôs. Em pouco tempo  começou a tocar sem trocar uma única palavra com Davalos. Anos depois o amigo recordou: "Não me senti ofendido. Dean sempre agia assim. Ele nunca falava com ninguém quando acordava. Só começa a interagir com os outros após a primeira xícara de café". Ao lado de Davalos, James Dean deu uma rápida olhada no jornal da manhã, na parte de cultura onde havia sido publicada algumas críticas de novos filmes que estavam estreando. Entre uma rápida leitura e outra ele logo tomou alguns apressados goles de café e voltou rapidamente ao quarto, pegou seu casaco vermelho e foi em direção à porta. O dia estava apenas começando.

Seu despertar foi breve. Logo Dean estava de novo na estrada, dessa vez dirigindo sua velha caminhonete com seu Spyder a reboque. Dean levou seu carro veloz para uma última revisão na oficina perto de sua casa. Ele queria instalar novos cintos de segurança (os mesmos que ele esqueceu de usar, o que foi decisivo para que não sobrevivesse ao acidente que iria sofrer em poucas horas). Enquanto o mecânico alemão ia conferindo o carro, Dean ficava olhando tudo sobre seus ombros. O ator estava querendo pegar experiência caso houvesse algum problema em plena estrada deserta. Depois de algumas conversas triviais - Dean contou ao mecânico que a cor prateada era na verdade padrão em carros de corridas alemães - os dois perceberam que o "Little Bastard" estava finalmente pronto para arrasar.

Dean ficou tão entusiasmado que resolveu dirigir o carro até o local da corrida. Queria ir "sentindo as rodas" enquanto viajava. Foi uma péssima ideia. O plano inicial era levar o Porsche a reboque de sua camionete. Se tivesse feito isso certamente Dean não teria morrido naquele dia. Após pensar brevemente Dean então tomou a decisão. Ele iria dirigir o Porsche com seu mecânico ao lado. O problema é que o carro de Dean era muito baixo e com cor prateada praticamente desaparecia no asfalto das grandes estradas californianas. Some-se a isso a imprudência do próprio Dean - que pisou fundo a ponto de levar uma multa de um patrulheiro - e você terá então todos os ingredientes necessários para o trágico acidente que estava prestes a acontecer.

Em um dos cruzamentos da estrada, com Dean em alta velocidade, ele se deparou com um robusto Ford, um pequeno caminhão dirigido por um estudante universitário. Ele se preparava para entrar na direção do Porsche. Dean o viu, mas infelizmente o motorista do outro carro não viu Dean (o carro baixo demais, prata e bastante silencioso passou despercebido pelo jovem que não estava em sua preferencial). Segundo seu depoimento para a polícia "Tudo aconteceu em questão de segundos". O carro de Dean, rápido como uma bala, apenas tocou levemente a frente do pequeno caminhão e sendo leve demais, com pouca estabilidade, voou pela estrada, indo parar perto de uma cabine de telefone. O mecânico que estava ao lado de Dean foi então jogado para fora do Porsche (o que em última análise o salvou da morte certa), mas o ator ficou preso. O pescoço de James Dean foi quebrado quase que imediatamente e seu peito afundou devido a pressão da direção que veio ao seu encontro com a desaceleração quando o carro caiu finalmente caiu no chão após literalmente voar por causa do choque. Segundo os paramédicos que o atenderam, James Dean ainda estava vivo quando eles chegaram. Um fiapo de vida ainda deu esperanças a eles que o ator poderia quem sabe sobreviver. Tudo foi em vão. Assim que deu entrada no hospital James Dean sofreu uma parada cardíaca que causou sua morte cerebral em poucos segundos. Era o fim. Aos 24 anos de idade o maior ídolo rebelde da história do cinema estava morto.

Pablo Aluísio.