Vários amigos e fãs de Elvis me enviaram mensagens nos últimos dias me perguntando porque eu ainda não tinha escrito sobre esse lançamento. O CD foi um grande sucesso de vendas, levando Elvis novamente ao primeiro lugar nas principais paradas americanas e europeias. A crítica de maneira em geral elogiou e o público, mesmo o mais ligado a Elvis, principalmente formado pelos colecionadores, etc, também gostou bastante. Assim "If I Can Dream" acabou se tornando uma espécie de unanimidade. A grande novidade vem do fato de termos novos arranjos, com a riqueza sonora da Royal Philharmonic Orchestra, preservando-se das gravações originais apenas a voz de Elvis.
É um trabalho refinado, com muito estilo. Disso não sobram dúvidas. Apesar disso eu sou um tradicionalista em termos musicais. Como tenho mais de três décadas ouvindo a discografia original de Elvis Presley aprecio demais os arranjos originais para ignorá-los agora, pois a maneira como as gravações foram realizadas faz parte da história de Elvis. Criei até mesmo laços sentimentais com as canções. Não importa que muitos desses arranjos estejam desatualizados com a sonoridade atual, em minha opinião isso realmente não tem a menor relevância. As músicas foram gravadas levando-se em conta o seu contexto histórico, era a sonoridade que imperava na época. Traz o sabor da história e dos anos em que foram registradas. Tampouco tenho qualquer interessa comercial em fazer novos fãs entre a nova geração.
Eu sempre digo que a arte em geral é atemporal. Tentar modernizá-la ou tentar adequar ao gosto do público atual não deixa de ser também uma forma de descaracterizá-la. Além disso o trabalho dos músicos originais que tocaram com Elvis foi literalmente deixado de lado. Na verdade esse tipo de inovação nem mesmo me soa como algo novo. Já havia sido colocada em prática no lançamento de CDs como "Elvis Medley", lá por volta do começo dos anos 1980 ou até mesmo "Guitar Man", "Too Much Monkey Business", etc, cujos arranjos modernosos da época de seu lançamento soam hoje em dia mais desatualizados do que os originais que estavam nos álbuns lançados pelo próprio Elvis em vida.
Além disso alguns arranjos desse CD não me agradaram em nada, a despeito da capacidade dos músicos envolvidos nesse processo. Canções como "Bridge Over Troubled Water", "You've Lost That Loving Feeling" e principalmente "An American Trilogy" já tinham certamente encontrado seu arranjo perfeito. Não se mexe em obras primas. Bem piores ficaram "Burning Love" e "Fever", essa última certamente a pior faixa do CD, exagerada, kitsch, excessiva. A única gravação remodelada que me deixou levemente satisfeito foi "If I Can Dream". Talvez por ser a gravação título do álbum realmente capricharam em seu arranjo. Todo o resto, sinceramente falando, me pareceu apenas curioso, até um pouquinho interessante, mas nada muito além disso. Esse é aquele CD que você terá em sua coleção apenas como curiosidade e nada mais. O fã de longa data com certeza não trocará as velharias que tanto ama por essa maquiagem. Não existe botox no mundo da música que melhore o que já é tão bom e belo. Não estou muito interessado nisso, quero mesmo as marcas do tempo e da história. Coisas que um tradicionalista preza. Tudo o mais é pura frivolidade sonora.
Elvis Presley - If I Can Dream (2015)
Burning Love
It's Now Or Never
Love Me Tender
Fever (feat. Michael Buble)
Bridge Over Troubled Water
And The Grass Won't Pay No Mind
You've Lost That Loving Feeling
There's Always Me
Can't Help Falling In Love
In The Ghetto
How Great Thou Art
Steamroller Blues
An American Trilogy
If I Can Dream
Pablo Aluísio.