Esse é o primeiro álbum da carreira do Nirvana, a banda que revelou para o mundo o talento de Kurt Cobain. O cantor e compositor já mostra em seu primeiro disco toda a essência de sua obra musical: arranjos crus, com letras pessimistas e suicidas, com pique de apresentação ao vivo. Kurt gostou do resultado final de seu primeiro disco mas ficou com muita raiva do selo Sub Pop que nada fez para divulgar o som do grupo fora do pequeno circuito de cidadezinhas ao redor de Seattle no frio, feio e distante Estado de Washington – o berço do chamado movimento Grunge, essa nova linguagem musical que faria a cabeça dos jovens roqueiros na década de 1990. Não há grandes hits na seleção musical. Apenas “About a Girl” segue mais conhecida. As letras foram praticamente todas compostas enquanto Kurt Cobain vivia uma existência simplesmente caótica. Após sair de casa o cantor passou a vagar pela cidade, indo de casa em casa, dormindo de favor na casa de conhecidos e amigos, dormindo pelas ruas ou até mesmo debaixo da ponte. Essa vida errática e pobreza extrema talvez justifiquem as palavras de um irritado DJ de Seattle que após insistentes pedidos para tocar o Nirvana definiu sem piedade Kurt Cobain como um “mendigo de guitarra”!
A verdade porém era outra. Kurt adotou como lema em sua vida a máxima que afirmava que “Punk é liberdade!”. Coisas materiais não faziam sua cabeça nessa fase de sua vida. Ele pouco se importava com roupas, carros e outros bens que faziam a cabeça dos jovens de sua idade. Na verdade ele estava mais preocupado em vencer na carreira musical, até porque esse parecia ser seu único talento na vida. Kurt havia abandonado a escola, vagava de antro em antro e levava uma existência sem muito propósito. Para piorar começou a abusar de drogas pesadas como heroína, que dizia usar para aliviar uma dor de estomago que o deixava louco e muito deprimido. Quando o Nirvana gravou Bleach, Kurt estava muito longe dos anos de glória que viriam com o disco seguinte, “Nevermind”, esse sim um grande sucesso de vendas. Vivendo pelas ruas ou então sendo despejado de um apartamento vagabundo atrás do outro, Kurt foi compondo as canções que fazem parte desse CD. Diante dessa situação não me admira em nada o tom pessimista ao extremo da maioria das letras. Era uma catarse pois Cobain despejava suas frustrações, decepções e medos em suas letras que eram extremamente autorais e viscerais. Agora o curioso é que Bleach pode ter sido gerado e concebido no meio desse caos mas analisando friamente é um álbum bem tocado, bem executado. O som da banda soa muito redondinho e bem gravado, o que contradiz de certa forma o próprio Kurt que achava que um verdadeiro disco punk deveria ser o mais pessimamente tocado e gravado. Bleach é o extremo oposto disso. Como não poderia deixar de ser o disco foi um fiasco de vendas em seu lançamento e de fato só venderia bem mesmo após o Nirvana estourar com seu segundo álbum. No conjunto é uma excelente oportunidade para conhecer e entender o Kurt Cobain antes da fama e do sucesso – um cara desesperado tentando se expressar da única forma que sabia. O resultado é simplesmente excelente, sem fazer favor nenhum ao grupo. Não me admira em nada que o Nirvana tenha sido considerado o melhor grupo de rock dentro daquele movimento que nascia. Nada mal para um mero “mendigo de guitarras”!
Nirvana – Bleach (1989)
Blew
Floyd the Barber
About a Girl
School
Love Buzz
Paper Cuts
Negative Creep
Scoff
Swap Meet
Mr. Moustache
Sifting
Pablo Aluísio.
Nirvana
ResponderExcluirBleach
Pablo Aluísio.