sábado, 26 de dezembro de 2015

Paul McCartney - Give Ireland Back to the Irish

Paul McCartney nunca foi um artista politicamente engajado! Enquanto John Lennon passava a impressão de estar sempre falando sobre política, Paul seguia compondo suas belas baladas de amor. Esse rótulo de baladeiro começou a incomodar Paul quando John o usou para lhe rebaixar artisticamente. Lennon dizia a jornalistas americanos que Paul só sabia fazer canções de amor vazias, do tipo "Ela ama você, você me ama, todos nós te amamos". Era uma piada, mas uma piada bem ofensiva.

Para rebater esse tipo de ataque de John Lennon, Paul então resolveu também escrever sua própria canção de protesto, "Give Ireland Back to the Irish"! O próprio título já era uma afirmação perigosa para um inglês, pois se colocava ao lado dos irlandeses que naquela época lutavam para se livrar da dominação inglesa em seu país. Paul estava ao lado de sua causa, propondo que a Irlanda fosse devolvida aos irlandeses! Nem John Lennon havia sido tão direto antes!

Paul sabia que a música iria sofrer represálias por parte do governo inglês e assim resolveu lançar a canção em um single, pois se estivesse em um álbum as consequências comerciais poderiam ser bem ruins. O compacto chegou nas lojas em fevereiro de 1972 e causou um impacto maior do que Paul previa. A canção foi simplesmente banida da programação de certas emissoras e Paul foi chamado pelo presidente da EMI, que preocupado, tinha receios que ele e a gravadora fossem processados criminalmente por traição ao império britânico. Paul manteve-se firme e aguentou o tranco. No final das contas Paul achou a experiência de se declarar politicamente sobre algo como válida, apesar dos problemas.

Ele resumiu a questão ao afirmar: "Do nosso ponto de vista foi a primeira vez que as pessoas questionaram sobre o que estávamos fazendo na Irlanda. Era tão chocante pensar sobre isso. Fico feliz que a canção tenha trazido o assunto para dentro dos lares do povo inglês". Assim "Give Ireland Back to the Irish" acabou sendo uma das poucas experiências de Paul nesse campo político, pois ele logo se retiraria de assuntos polêmicos como esse para voltar ao seu velho (e bom) estilo romântico. O mundo já tinha John Lennon para protestar e essa nunca tinha sido mesmo a praia de Paul. Sábia decisão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Paul McCartney

Paul McCartney esteve recentemente no Brasil novamente e devo dizer que ele sempre foi meu Beatle preferido. Sou fã confesso do Macca (como seus fãs carinhosamente o chamam), e isso por várias razões, não só por ter assinado junto a Lennon algumas das melhores músicas já compostas mas também por ter uma carreira solo maravilhosa, com discos que nunca deixaram de tocar nas minhas caixas de som. Paul realmente é um talento fantástico, desses raros de se encontrar por aí. Aliás um dado curioso: meu primeiro vinil foi do Paul. Tive sorte nessa questão pois "Tug Of War" é um clássico absoluto da sua discografia e foi justamente com esse álbum que comecei a criar gosto por música e me interessei a criar esse hobby que jamais abandonei, a de colecionar discos (primeiramente os antigos bolachões de vinil e atualmente CDs).

Outro aspecto que sempre me levou a ser fã de Paul McCartney é a sua personalidade. Paul sempre foi o ponto de equilibrio dentro dos Beatles. John Lennon era explosivo demais, George Harrison muito tímido e retraído e Ringo, ora, Ringão era apenas o baterista. Paul era o ponto que manteve o quarteto unido por anos. Viciado em trabalho era sempre ele o responsável a unir a trupe para novas gravações. Por isso caro colega beatlemaníaco agradeça a ele por termos tantas gravações do grupo. Existe até mesmo uma história muito engraçada sobre John realmente abismado com a capacidade de trabalho do parceiro. Enquanto Lennon lutava para trazer duas ou três novas músicas para os discos dos Beatles, Paul já entrava em estúdio com oito ou dez canções prontas para gravação. Realmente, Macca literalmente nunca brincou em serviço. É um workaholic assumido. E o mais incrível é que ele simplesmente não abandonou essa característica nem com a chegada da idade, pois ainda atravessa o oceano para realizar concertos, como essa recente turnê que fez no Brasil. Aposentadoria? Nem pensar.

Hoje tenho orgulho em dizer que tenho toda a discografia de Sir Paul McCartney. No mundo do CD isso facilitou e muito a aquisição de antigos álbuns, até mesmo porque ele próprio relançou toda a obra alguns anos atrás, mas nos anos 80 quando coloquei na cabeça de completar a coleção de Paul era bem diferente, tinha que fuçar em sebos atrás de discos dele dos anos 70, alguns em péssimo estado de conservação. Ainda bem que a tecnologia veio e mudou completamente esse quadro. Menos mal para um apaixonado por sua música como eu. Pretendo depois ir escrevendo um pouco mais sobre seus discos, suas grandes parcerias na carreira solo (Michael Jackson, Steve Wonder, Elvis Costello, entre outros). Acredito inclusive que esse cidadão ainda vai trazer grandes alegrias aos amantes da boa música por muitos anos ainda. Vida longa ao Macca!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pink Floyd - Meddle

Esse disco faz parte daquela seleta lista dos maiores álbuns da discografia do Pink Floyd. É um dos dinossauros sagrados do grupo. E o seu status cult começa logo na capa, com longas e intermináveis discussões em fóruns de internet. O que seria isso na capa? A orelha de uma vaca? O traseiro de um porco de raça? Quem sabe... o mistério faz parte do jogo, não é mesmo? Se fosse óbvio não teria graça. Tirando todo esses detalhes periféricos de lado, vamos para as músicas que é no final das contas o que realmente importa.

São apenas seis faixas. Eu particularmente não diria que esse é um dos meus discos preferidos do Pink Floyd, porém negar sua importância histórica seria um erro absurdo. A minha música preferida aqui é justamente a que abre o disco, "One of These Days" do David Gilmour. Ele sempre foi o meu guitarrista preferido e aqui prova que grandes clássicos muitas vezes nascem de pequenos detalhes, com poucas notas musicais. Essa música inclusive seria uma das poucas do repertório que o David Gilmour iria usar no palco, nos memoráveis concertos do Pink Floyd ao vivo nos anos 80. Já para quem aprecia o lado mais experimental do grupo, o lado B inteiro tem apenas uma faixa, "Echoes". Um grande retalho musical para o ouvinte viajar pelo universo do Pink Floyd.

Pink Floyd - Meddle (1971)
One of These Days
A Pillow of Winds
Fearless
San Tropez
Seamus
Echoes

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Wall in Progress

Com o surgimento da internet o mercado de bootlegs explodiu! O número de títulos segue a cada ano cada vez maior. E os títulos são muitos. Para quem gosta de rock clássico e rock progressivo não poderia haver melhor notícia. Muito material assim segue sendo lançado. Aqui temos um bootleg criado a partir de demos e takes alternativos do clássico álbum "The Wall" do Pink Floyd. Como bem sabemos "The Wall" foi um disco concebido, criado e idealizado por Roger Waters. Antes de entrar no estúdio ele gravou diversas faixas demo para apresentar as canções ao resto do grupo (não havia dito que tudo veio de sua mente criativa?).

Pois então parte desse material foi resgatado nesse CD. É um material cru, sem muito trabalho de finalização, de arte final. Tudo soa quase como foi composto. Water é provavelmente o músico mais egocêntrico do universo, mas aqui vemos parte de sua incrível genialidade. Não digo que esse tipo de material vá interessar para quem não é fã do Pink Floyd, mas certamente será de extremo interesse para os fãs de carteirinha. O álbum "The Wall" segue sendo bem debatido até nos dias de hoje, já para quem deseja apenas ouvir uma semente do disco, poucos títulos podem ser tão interessantes como esse. Recomendado? Certamente sim.

Pink Floyd - Wall in Progress (1978-1979)
01. In The Flesh?  02. The Thin Ice 03. Another Brick In The Wall Part 1  04. The Happiest Days Of Our Lives 05. Another Brick In The Wall Part 2 06. Mother 07. Goodbye Blue Sky 08. Empty Spaces Part 1 09. Young Lust 10. One Of My Turns 11. Don't Leave Me Now 12. Empty Spaces Part 2 13. What Shall We Do Now? 14. Another Brick In The Wall Part 3 15. Goodbye Cruel World 16. Nobody Home 17. Vera 18. Bring The Boys Back Home 19. Is There Anybody Out There? Part 1 20. Is There Anybody Out There? Part 2 21. Comfortably Numb 22. Hey You 23. The Show Must Go On  24. In The Flesh 25. Run Like Hell 26. Wating For The Worms 27. Stop 28. The Trial  29. Outside The Wall.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Endless River

Já que o Rock está mesmo morto e enterrado de uma vez por todas, nada melhor do que esse "lançamento" do Pink Floyd, que promete ser o último CD de uma das maiores bandas de rock progressivo da história. O título "The Endless River" é mais do que adequado já que se refere a um infinito fluir sonoro, algo bem de acordo com o grupo, já que o Pink Floyd, assim como os Beatles, não tem idade e nem ponto fixo na história, pois a cada geração conquista novos fãs, muitos deles nem nascidos quando o grupo inglês desfrutava de seu auge nos anos 1970. Claro que apesar de ser atemporal, o Pink Floyd hoje leva consigo as marcas do tempo. Com um membro falecido, outro aposentado e dois ex-líderes que se odeiam, o Floyd está mais para uma marca comercial do que para um efetivo grupo de amigos tocando juntos novamente.

Por falar nisso a alcunha de "novo álbum do Pink Floyd" não é muito correta, já que a maioria do material presente aqui data dos anos 1990. Não chegaria a chamar o disco de "restos do The Division Bell" como muitos andam escrevendo por aí, mas também não vou qualificar nada de "The Endless River" como novo ou novidade. Em minha forma de entender o Pink Floyd acabou definitivamente em 2008 com a morte do tecladista Rick Wright. Depois disso não há retorno, algo parecido que ocorre com os Beatles, depois da morte de Lennon e Harrison, simplesmente não há mais retorno possível. A história impôs sua força, acabando com velhos sonhos. O tempo é o senhor de tudo é ninguém pode lutar contra esse fato.

David Gilmour sabe muito bem disso e não tem sido desonesto com o público. O disco que é basicamente instrumental (como nos bons velhos tempos do grupo) foi definido por ele como uma "mera conversa musical" entre seus antigos membros em um tempo passado, perdido na memória. A faixa de abertura, "Things Left Unsaid", dá o tom desse ponto de vista. Os teclados de Wright passeiam pelo ar, enquanto a guitarra melodiosa de Gilmour preenche os espaços vazios. Pura "conversação" realmente, só que ao invés de palavras são usadas notas musicais (maravilhosas, diga-se de passagem). Nick Mason também contribui com seu talento. Hoje ele está completamente aposentado, mais preocupado com sua coleção de carros de luxo do que com música. Os registros porém mostram como ele foi um dos melhores bateras da história do rock. "O rio sem fim" do Pink Floyd é isso, um afago nos ouvidos dos ouvintes de fino trato. Em tempos de lixo pipocando nas rádios o tempo todo, o Pink Floyd prova mais uma vez que talento não se encontra em todo lugar, nem em qualquer época.


Pink Floyd - The Endless River (2014)
Things Left Unsaid     
It's What We Do
Ebb and Flow
Sum
Skins    
Unsung     
Anisina    
The Lost Art of Conversation
On Noodle Street
Night Light
Allons-y (1)     
Autumn '68   
Allons-y   
Talkin Hawkin    
Calling
Eyes to Pearls
Surfacing
Louder Than Words
TBS9
TBS14
Nervana

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Division Bell

Quem acompanha o mundo da música por longos anos acaba descobrindo que certas coisas simplesmente não fazem muito sentido. Recentemente chegou no mercado com grande sucesso de crítica e público o CD "The Endless River" do Pink Floyd. Até aí tudo bem. O problema é que esse álbum é basicamente um resgate do material que foi gravado e deixado de lado na elaboração do disco "The Division Bell" de 1994. Então se as "sobras" andam tão elogiadas era de se esperar que a melhor parte dessas sessões, que foram incorporadas ao disco original há vinte anos, também fossem tratadas como obras primas do Floyd. Nada mais longe da realidade. Quando "The Division Bell" chegou nas lojas há duas décadas levou pauladas de todos os lados, principalmente da imprensa especializada da Inglaterra. Para muitos o álbum não passava de um trabalho solo de David Gilmour usando o nome mágico da banda por motivos puramente comerciais. As viúvas de Roger Waters nunca vociferaram tão forte como no lançamento de "The Division Bell". Hoje, ironicamente, declamam rios de elogios para o "novo" Pink Floyd que está fazendo bonito nas paradas de sucesso inglesas.

Particularmente confesso, sigo a linha daqueles que nunca tiveram esse CD como referência em termos de sonoridade Floydiana. Algo não me parece bem nessas faixas. Sempre considerei "A Momentary Lapse Of Reason" um trabalho mais enxuto, com mais qualidade e melhor bem conceituado. Foi o melhor disco da banda em sua fase Gilmour. "The Division Bell" sofre por ser excessivo! Talvez por receios ou insegurança o produtor Bob Ezrin acabou criando um monstro musical, exagerado, barroco e cansativo. São onze faixas (muito em termos de Floyd), dezenas de músicos de estúdio contratados, centenas de horas de gravação e muito excesso nos arranjos finais. O que era simples e altamente eficiente em "A Momentary Lapse Of Reason" aqui se tornou pesado, exaustivo, paquidérmico! As letras também não evocam em nada os grandes momentos do Pink Floyd em seu passado glorioso. E para piorar tudo, quando se pensa que se ouvirá maravilhosos solos de guitarra do mestre David Gilmour, nada surge nos ouvidos que nos faça lembrar o grande instrumentista que ele sempre foi. "The Division Bell" foi um disco que ouvi em meus tempos de universidade, mas que pouco cativou, não deixando marcas na alma. Assim com o tempo foi sendo deixado de lado. É de surpreender agora que todos estejam fazendo louvações aos seus resquícios sonoros deixados pelo chão da sala de edição de Bob Ezrin! Vai entender a cabeça dessa gente...

Pink Floyd - The Division Bell (1994)
Cluster One
What Do You Want from Me
Poles Apart
Marooned
A Great Day for Freedom
Wearing the Inside Out
Take It Back
Coming Back to Life
Keep Talking
Lost for Words
High Hopes

Pablo Aluísio.


Pink Floyd - PULSE

O Pink Floyd morreu e ressuscitou várias vezes. Morreu quando Syd Barrett resolveu abandonar o grupo, enlouquecido com LSD. Renasceu pela primeira vez logo depois quando Roger Waters e David Gilmour decidiram levar o Floyd em frente o transformando em um conjunto de rock progressivo (o maior de todos os tempos é bom dizer). Voltou a morrer quando Waters declarou o fim depois do fracasso do álbum "The Final Cut". Amargurado deixou a banda batendo a porta atrás de si. Pois bem, o segundo renascimento deu-se logo após a saída de Waters. Gilmour e os demais decidiram continuar mais uma vez. PULSE é justamente um dos últimos suspiros dessa última fase da banda. O disco foi gravado ao vivo durante a turnê de promoção do álbum "The Division Bell" na Europa e nos Estados Unidos nos meses de março a outubro de 1994. Escrevo as palavras "últimos suspiros" porque realmente foi um dos últimos projetos concluídos da história do Pink Floyd. Foi o canto do cisne. Acontece que "The Division Bell" foi bem criticado em seu lançamento. Acusaram até mesmo de não ser um disco legítimo do Pink Floyd mas sim um trabalho solo de Gilmour que utilizou o nome da banda apenas por motivos comerciais. Sem dúvida uma visão exagerada, diria até preconceituosa contra Gilmour e o resto do grupo.

Acuado, o líder do Floyd resolveu responder às acusações colocando mais um álbum na praça, que foi justamente esse, todo gravado ao vivo. Justamente para calar a boca de quem dizia não ser o Pink Floyd verdadeiro. Para isso Gilmour resolveu colocar em prática um velho sonho que tinha: gravar ao vivo todas as canções do disco "The Dark Side of the Moon"! Sinceramente, quem é fã do Pink Floyd de longa data (como eu) pode dizer que ouvir pela primeira um show com esse histórico álbum tocado da primeira à última faixa ao vivo foi realmente de arrepiar. E se engana quem pensa que foi algo fácil de reproduzir. Como todos sabemos "Dark Side" foi fruto de um longo processo de gravação, que durou meses, usando as melhores técnicas sonoras da época. Trazer aquele som único gravado em Abbey Road (o histórico estúdio inglês da EMI Odeon) para o palco foi realmente um feito digno dos maiores aplausos. É incrível inclusive notar a extrema perfeição dos músicos da banda em cada detalhe. Eu sempre digo, em termos de virtuose instrumental poucos grupos de rock da história podem rivalizar com o Pink Floyd porque eles sempre foram grandes músicos, talentosos e perfeitos ao vivo (para tirar suas dúvidas ouça qualquer registro do Floyd ao vivo para conferir). Quando PULSE foi lançado muitos esnobes torceram o nariz desmerecendo o disco, o qualificando apenas como "mais um disco ao vivo de uma banda decadente". Bom, quem pensou assim certamente reveu seus conceitos uma vez que PULSE realmente mexeu com o mundo da música. Infelizmente  depois de PULSE o Pink Floyd nada mais fez de relevante. Ficaram anos hibernando até que alguns anos atrás David Gilmour finalmente decretou o fim do maior grupo de rock progressivo da história. É uma grande pena. De qualquer forma é como diz o ditado, nada dura para sempre.

Pink Floyd - PULSE (1995)
Shine On You Crazy Diamond
Astronomy Domine
What Do You Want From Me
Learning to Fly
Keep Talking
Coming Back to Life
Hey You
A Great Day for Freedom
Sorrow
High Hopes
Another Brick in the Wall (Part Two)
Speak to Me
Breathe
On the Run
Time
The Great Gig in the Sky
Money
Us and Them
Any Colour You Like
Brain Damage
Eclipse
Wish You Were Here
Comfortably Numb
Run Like Hell

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Pink Floyd – The Final Cut

Algumas bandas de rock não conseguiram sobreviver a certos discos. O Pink Floyd, por exemplo, saiu destruído de “The Final Cut”, a mais louca egotrip da vida de Roger Waters. Essa história na realidade começa com o álbum anterior da banda, o famoso “The Wall”. Nesse projeto Roger Waters já tinha dominado completamente o poder dentro do grupo. Ele fazia as composições, os arranjos e se enfurecia com qualquer sugestão que não fosse de seu agrado. Por essa época ele passou a hostilizar abertamente o tecladista Richard Wright, que enfrentava problemas pessoais e de saúde. Sua dependência química o impedia de ser um membro mais produtivo e assim Waters se viu no direito de literalmente o expulsar do grupo, embora ele fosse um dos fundadores do Pink Floyd. Mesmo com tantos problemas “The Wall” se tornou um enorme sucesso popular, louvado e reverenciado pela crítica especializada trazendo assim um  enorme poder a Waters dentro do grupo, que a partir daí não poderia mais ser contestado. Os executivos da gravadora só tinham ouvidos a ele e assim o músico começou a se sentir o verdadeiro “dono” do Pink Floyd. Quando começaram as sessões de “The Final Cut” os demais membros restantes do Floyd encontraram um Roger Waters ainda mais alucinado, egocêntrico, centralizador, agindo como um verdadeiro ditador, nem um pouco disposto a ouvir os demais integrantes. Assim como havia feito em “The Wall” ele começou a destratar na frente de todos o guitarrista David Gilmour e o baterista Nick Mason. Sua opinião sobre a forma como as músicas deveriam ser gravadas tinham ganhado status de lei dentro do estúdio. As brigas eram enormes e violentas e Waters não queria ouvir mais ninguém. Ele trouxe todo o repertório do disco já previamente composto, avisou aos demais membros que iria cantar todas as músicas e teria a direção musical completa do novo álbum. Aos demais só restava seguir suas instruções ao pé da letra. Obviamente que Mason e Gilmour se uniram contra tamanha dominação. Não adiantou muito.

“The Final Cut” foi gravado praticamente como um disco solo de Roger Waters. Aproveitando algumas canções do “The Wall” que tinham sido arquivadas com material novo que ele compôs, Waters criou uma homenagem ao seu pai que havia morrido durante a II Guerra Mundial. A própria capa era significativa nesse ponto, reproduzindo as medalhas que seu pai havia recebido por bravura no campo de batalha. Tratando os demais membros do Floyd como seus meros empregadinhos, Waters teve mais uma vez a certeza que estava gravando outra obra prima suprema do rock progressivo inglês. Estava enganado. O disco se mostrou desastroso, considerado um dos piores do grupo em muitos anos. O vocal de Waters surgia mais insuportável do que nunca e como ele havia colocado Gilmour para escanteio o resultado final em termos de instrumentação e arranjos soavam ridículos. Desesperado pela péssima reação de público e crítica, Waters surpreendeu a todos com o anúncio do fim do Pink Floyd! A declaração era um absurdo pois Wright, Gilmour e Mason jamais tinham sido consultados sobre isso! O que se seguiu foi a implosão do Pink Floyd. Gilmour, Mason e Wright de um lado e Waters do outro. Eles foram à imprensa para informar que o grupo seguia em frente, agora sem Roger Waters. Como não poderia deixar de ser tudo foi parar nos tribunais com todos processando a todos. Seria o fim da maior banda de rock progressivo da história? Felizmente não. Os três integrantes unidos venceram Waters no processo em que se discutia a propriedade do nome Pink Floyd. Apesar de Waters pensar que era o proprietário e dono da marca a justiça decidiu que ela pertenceria na verdade aos três remanescentes membros do conjunto. Ainda bem, pois começava ali uma nova fase, mais democrática e mais igualitária, com David Gilmour como líder. Sim, Roger Waters tentou destruir a banda com “The Final Cut” mas eles conseguiram sobreviver, mais uma vez.

Pink Floyd - The Final Cut (1983)
The Post War Dream
Your Possible Pasts
One of the Few
The Hero's Return
The Gunner's Dream
Paranoid Eyes
Get Your Filthy Hands Off My Desert
The Fletcher Memorial Home
Southampton Dock
The Final Cut
Not Now John
Two Suns in the Sunset

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Animals

Em 1977 o Pink Floyd lançou seu álbum mais político, “Animals”. O disco tinha todo um conceito levemente inspirado na obra de George Orwell e se utilizava de várias metáforas para criticar abertamente o capitalismo selvagem que imperava dentro da Inglaterra. A idéia foi de Roger Waters que pensou numa forma de fazer o Floyd se pronunciar através de sua música sobre os problemas sociais e políticos pelos quais vinha passando a Grã-Bretanha na época. Desemprego, pobreza e toda uma nova geração de jovens que não pareciam ter qualquer perspectiva, qualquer futuro pela frente. Assim Waters dividiu a sociedade de seu país em basicamente três tipos de animais. Primeiro havia os cães, que dominavam os demais setores da sociedade com violência e intimidação. Obviamente aqui o Pink Floyd estava se referindo ao governo inglês e sua burocracia sem limites. Além é óbvio de seu poder militar. Suas garras estavam fincadas em todos os cantos do pais. Logo abaixo vinham os porcos – mais uma metáfora bem clara sobre os grandes empresários, industriais que junto aos setores dominantes (cães) sugavam todas as riquezas em seu próprio beneficio. A própria capa trazia um porco gigante atrelado a uma grande indústria. Por fim havia as ovelhas, ou de maneira mais clara, o próprio povo que apenas servia aos demais animais dentro dessa sociedade capitalista selvagem cada vez mais desigual. E como ovelhas todas iam de forma mansa e pacífica para o abate generalizado.

A critica gostou de “Animals” mas quase entendeu a mensagem do Pink Floyd como um manifesto socialista! Havia toda aquela retórica que parecia sair da mente de algum esquerdista rançoso. Waters resolveu não dar maiores explicações, já que há tempos vinha percebendo uma mudança dentro do cenário musical inglês. Por essa época ganhava espaço o chamado movimento Punk. Composto basicamente por jovens desempregados ingleses o Punk surgiu com novas propostas, incentivando uma sonoridade muito básica, com poucos acordes e letras diretas e viscerais – tudo o que o Pink Floyd não era! Não tardou para que o Rock Progressivo e o próprio Pink Floyd virassem alvo de críticas por parte das bandas punks. O grupo foi tachado de chato, incompreensível e pretensioso. Os músicos punks abominavam o som extremamente bem trabalhado do Floyd e suas letras enigmáticas e abertas a inúmeras interpretações. Foi dentro desse verdadeiro cenário de guerra dentro da música britânica que “Animals” chegou nas lojas. Os membros do Pink Floyd por sua vez preferiram evitar a polemica e o bate boca desnecessários. Fizeram muito bem. Hoje em dia “Animals” é reverenciado como um dos melhores álbuns da história do rock inglês. Mais um marco de imensa qualidade e inteligência do Pink Floyd que conseguiu resistir a tudo, até mesmo aos ataques do movimento Punk que aos poucos foi se esvaziando e sumindo. Já “Animals” ficou, demonstrando toda a virtuose desse grupo de músicos fantástico que foi o Pink Floyd.

Pink Floyd – Animals (1977)
Pigs on the Wing (Part I)
Dogs
Pigs (Three Different Ones)
Sheep
Pigs on the Wing (Part II)

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de dezembro de 2015

John Lennon - John, o músico

É curioso que John Lennon sempre teve uma postura de modéstia em relação aos seus talentos como instrumentista. Em várias entrevistas ele deixou claro que não se considerava um grande músico, um grande guitarrista e nem muito menos um pianista talentoso. Na verdade se considerava bem sofrível. Em um momento de rara sinceridade disparou: "Eu não sou um grande instrumentista. Eu não sei tocar guitarra maravilhosamente bem, meu ritmo é estranho mas mesmo assim consigo fazer uma banda de rock pulsar!". Sobre o piano ele declarou: "Eu sou pior pianista do que guitarrista. Eu mal sei as notas de um piano por isso minhas composições ao piano sempre saem diferentes das que faço no violão. É como um pintor que tem menos cores para pintar um quadro. Acho que por isso que saem tão boas as músicas que faço no piano! rsrs"

Na maior parte de sua vida Lennon compôs usando piano e violão. Ele explicou que suas canções no álbum branco tinham sido todas compostas ao violão pois esse era o único instrumento que ele dispunha quando estava na Índia quando os Beatles foram para lá fazer um curso com o Maharishi Mahesh Yogi. Já o álbum "Imagine", seu grande êxito na carreira solo, foi composto totalmente em piano pois Lennon mantinha um belo instrumento de calda, todo branco, em seu apartamento de Nova Iorque.

Essa sua suposta falta de habilidade se tornava mais clara nos shows dos Beatles nos EUA como ele próprio confessou. "Os shows dos Beatles eram muito ruins. Não tínhamos como ouvir o retorno por causa da gritaria e por isso na maioria das vezes tocávamos qualquer coisa... eu olhava para o George e sabíamos que estava uma merda. Era algo do tipo bleng, bleng, não dava para tocar bem". Curiosamente quando a platéia era mais calma as coisas também não iam bem para John. "Em Paris o público era bem mais calmo. A gente subia no palco e ouvíamos palmas comportadas. De vez em quando alguns caras gritavam, acho que eram bichas ao lado do palco mas as coisas também não iam bem pois o público podia notar todos os nossos erros".

Talvez por isso os Beatles decidiram cair fora das turnês. "As turnês eram horríveis. A imprensa divulgou que George gostava de jujubas (um tipo de balinha) e os fãs começaram a jogar jujubas em nós no palco. O problema é que nos EUA essas balas eram duras como pedras e nos machucavam". Para John o maior show da história dos Beatles aconteceu no Shea Stadium em Nova Iorque. "O Paul estava se cagando de medo nos bastidores. Mas foi um show para entrar na história. Não sabíamos que podíamos lotar um estádio inteiro, foi um marco". No fim da vida John tencionava voltar aos shows ao vivo. "Quero lançar mais um disco antes de contratar aqueles músicos caros para cair na estrada. Não quero subir no palco para cantar Yesterday ou outras velharias dos Beatles. Penso em me apresentar em lugares menores mesmo sabendo que os caras vão dizer que eu não tinha mais condições de lotar um grande lugar". Infelizmente nenhum desses planos foi em frente pois Lennon foi assassinado antes que isso tudo se concretizasse.

Pablo Aluísio.