domingo, 4 de dezembro de 2011

A-ha - Foot of The Mountain

Muita gente associa o grupo norueguês a-ha ao seu grande sucesso nas paradas pop dos anos 80, com discos que marcaram a década como Hunting High and Low, Scoundrel Days e Stay On These Roads, três álbuns que entraram definitivamente no gosto popular durante aqueles anos. Depois disso o A-ha lançaria um álbum que apesar de excelente do ponto de vista musical não faria sucesso, Memorial Beach. Com o fracasso de vendas o grupo resolveu dar um tempo e parar as atividades por um longo tempo. Para muitas pessoas o A-ha teria desaparecido para sempre depois disso.

Nada mais longe da realidade. O a-ha voltaria em 2000 e lançaria o disco que iria definir sua segunda (e melhor fase). Minor Earth, Major Sky é um trabalho definitivamente muitos pontos acima das canções com aquele tipo de refrão pegajoso que é bem a cara dos dos anos 80 e seu álbum seguinte, Lifelines, que é simplesmente ótimo. Um CD com arranjos de primeira linha, produção de excelente bom gosto e nível técnico. Com esses dois trabalhos o a-ha parecia redefinir sua sonoridade, mostrando que havia muito talento escondido dentro do trio, em especial por parte de Pal Waaktaar, a verdadeira mente pensante do grupo. Embora não fizessem o sucesso esperado esses dois CDs fizeram a critica especializada mudar sua opinião e ver o grupo com novos olhos e sob uma nova perspectiva. Definitivamente eles não eram apenas um trio para adolescentes bobocas dos anos 80. Seu último trabalho, Analogue, veio para reafirmar essa nova fase do grupo, mas infelizmente foi outro grande fracasso de vendas.

Então chegamos em Foot of The Mountain, lançado esse ano. Embora tenham produzido um ótimo trabalho musical nos últimos anos parece que a falta de grandes sucessos começou a incomodar o a-ha que resolveu tentar ressuscitar sua sonoridade dos anos 80 com esse novo CD. Isso é facilmente entendido nos primeiros acordes de The Bandstand. A tentativa de reviver velhos hits fica mais do que evidente com essa faixa. O arranjo é completamente retrô, lembrando o que havia de pior nos sintetizadores oitentistas. No final da faixa temos que dar graças a Deus do grupo não ter colocado para valer aqueles sintetizadores antigos dos 80´s, embora o arranjo tenha chegado bem perto disso!

Foi com certo desapontamento que fui de faixa em faixa ouvindo essa tentativa frustrada do grupo em tentar reviver seus antigos sucessos. Não é por aí. Para quem vinha em uma escalada musical de ótimo nível o a-ha derrapou feio com a musicalidade desse CD. O mundo musical atual não tem absolutamente mais nada a ver com os anos 80, que diga-se de passagem, foi a década onde mais se produziu lixo musical na história. Não é tentando voltar quase trinta anos no tempo que a-ha vai se reencontrar com as paradas, o caminho que estava trilhando com seus últimos trabalhos era o ideal, aos poucos o velho sucesso nas rádios iria voltar com absoluta certeza, não era necessário apelar tanto.

Aliás é bom que se diga: o a-ha, mesmo com os trabalhos anteriores não emplacando sucessos mundiais, nunca deixou de ter um grande público fiel e seguidor da banda. De maneira geral era consenso entre os fãs que a fase Lifelines era extremamente bem-vinda. Embora o a-ha nunca mais tenha conseguido emplacar seu antigo sucesso mundial (como nos tempos de Take On Me, quando o grupo virou sinônimo da MTV americana), seu êxito comercial no norte da Europa (Alemanha e países escandinavos) jamais deixou de existir. Em suma, não era necessário ao a-ha tentar trazer de volta os anos 80. Sua fase naquela década tem seu valor mas deve ser deixado para trás definitivamente. Torço sim para que o a-ha volte, mas não para os anos 80, e sim para a qualidade de CDs como Lifelines e Minor Earth, Major Sky.

Pablo Aluísio.

Norah Jones

 

sábado, 3 de dezembro de 2011

The Thrills - Teenager

Se você pensa que Smells Like Teen Spirit do Nirvana é o suprassumo da rebeldia juvenil precisa se atualizar; Teenager do grupo irlandês The Thrills elevou a novos patamares o espirito e sentimento juvenil. Nunca ouvi nada parecido em minha vida, o vocalista Conor Deasy canta como um verdadeiro e autêntico adolescente em crise de identidade, a expressividade de seu vocal chega a assustar e nos levar a perguntar se não estamos na presença realmente de um garoto de 14, 15 anos que está mandando ver nos microfones. O grupo não é muito conhecido fora das rodinhas indies da Europa porém possui um fã clube empolgado e organizado. Nâo poderia ser diferente. Os irlandeses são mesmo conhecidos por defender com unhas e dentes sua cultura local. Aqui certamente estão lutando por uma boa causa.

Embora cientes de produzir sua própria sonoridade Teenager deixa claro as influências de grupos americanos como Beach Boys (em sua primeira fase) e Neil Young, por mais estranha que possa parecer juntar esses dois artistas em um mesmo balaio de gatos. Normal, hoje em dia os novos grupos não se fazem de rogados e misturam sem pudor tudo em uma mesma mistureba desavergonhada, o que é muito bem-vindo, até porque não foi justamente essa mistureba que deu origem ao Rock´n´Roll? Então ótimo...Embora o CD não tenha vendido tanto como o primeiro trabalho da banda, So Much For The City, que chegou em posições absurdamente boas para um grupo em seu álbum de estréia, Teenager é seguramente um dos melhores CDs da nova cena Indie britânica. O clima das canções segue uma linha melódica calma e agradável, com belo uso de arranjo de cordas. Excelente trabalho de estúdio, certamente. Enfim, recomendo o CD. Nunca um cantor soou tão "efebo" como Conor Deasy, nunca o estilo Indie mostrou tanto potencial e nunca ouvimos um conjunto de sons tão interessantes para um grupo praticamente desconhecido do grande público. Cansado das porcarias que tocam nos rádios? Experimente ouvir o novo CD do Thrills, pode ser uma bela surpresa.

Teenager - The Thrills (2007)
1. "The Midnight Choir" – 3:41
2. "This Year" – 2:55
3. "Nothing Changes Around Here" – 4:12
4. "Restaurant" – 3:27
5. "I Came All This Way" – 3:40
6. "Long Forgotten Song" – 3:16
7. "I'm So Sorry" – 2:52
8. "No More Empty Words" – 3:23
9. "Teenager" – 3:25
10. "Should've Known Better" – 3:30
11. "There's Joy to Be Found" / "The Boy Who Caught All the Breaks" – 6:34

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Avril Lavigne - The Single Collection

Estava eu no bem bom, com um belo copo de whisky escocês no aconchego do lar quando o telefone toca. Era meu grande amigo Pablo pedindo uma nova resenha para o blog! Mas poxa minhas antigas resenhas de Britpop acabaram?! Sim, estão quase acabando my friend, hora de escrever coisa nova. Mas... mas... enfim, tudo bem, então manda aí o nome do CD que eu tenho que escrever. Qual é o nome do artista? Ah?! Abril? Aril? Alil? What?! Fala direito pô! Ah, Avril... rs. Nunca ouvi nome mais esquisito na minha vida! Ok, você venceu batatas fritas manda o CD mister que eu mato no peito aqui e analiso o trem. Quando chegou olhei a arte. É um mocinha, já deu pra ver que posa de punk. Ai meus rins... outra punk de butique? Valha-me Deus. Mas vamos ouvir a moça "mamãe-vou-fugir-de-casa". Ah esses aborrescentes!

Era o que eu pensava. A gatinha teen é canadense, tem todos os dentes na boca e pelo jeito goza de boa saúde. A maquiagem é um pavor, olhos escuros, parece mais um zumbi comedor de miolos. Não faça isso lindinha, se ajeite! O pior é que ela aparece com um baita charuto de encruzilhada na capa do CD! Que feio lindinha, faz isso não... fumar vai escurecer seus dentes e dar câncer de pulmão.. uma moça tão bonita, canadense, nascida no primeiro mundo, depois fica dodói e vem chorar no consultório! Apaga isso menina! Mas chega de devaneios, sou tiozão mas ainda manjo de música pop adolescente. As letras são revoltadinhas, ela curte um garoto que anda de skate, chora e pede atenção a quem a ignora... reclama da escola - ah a escola... tem até aquela música que ela bate na porta (ei essa é do meu tempo, titio conhece!). Tem outras baladas, uns punkzinhos rápidos (e inofensivos) para tocar na rádio e muita produção e arranjos bem feitos (que obviamente não foram feitos pela mocinha).

Vou confessar até algo agora que fará perder meus dois únicos fãs que tenho (será que são dois ou um? I Don´t Know... ). Gostei da loirinha, ela canta bem sim, o repertório é bem mais audível que a Bitch Spears, por exemplo. Até parece música de verdade - e não gatinhos no meio de uma reforma como a Bri (será que a Brit ainda está viva? E eu lá sei...) Claro que a pose, as letras, o som, tudo é cirurgicamente determinado pelos executivos de gravadoras mas vamos dar uma colher de chá - a mocinha leva jeito. Eu até compraria para minha filha, desde que ela não usasse essa maquiagem pavorosa. Não quero gente com rosto de morto vivo no café da manhã. É isso, titio Erick dá seu selo de aprovação! Agora Pablo, fala sério, manda algo sério da próxima vez ok? Cãmbio deslgo. Ps: o post acima foi escrito quando eu estava totalmente sóbrio, garanto. Desce o pano.

Avril Lavigne - The Single Collection / 01. Complicated / 02. Skater Boy / 03. I’m With You / 04. Losing Grip / 05. Knockin’ On Heaven’s Door / 06. Don’t Tell Me / 07. My Happy Ending / 08. Nobody’s Home / 09. He Wasn’t / 10. Keep Holding On / 11. Girlfriend / 12. When You’re Gone / 13. Hot / 14. The Best Damn Thing / 15. Alice / 16. What The Hell / 17. Smile / 18. Wish You Were Here / 19. Alone (Bonus Track) / 20. I Will Be (Bonus Track) / 21. Get Over It (Bonus Track)

Erick Steve.

Roberto Carlos Canta Para a Juventude

Como todo brasileiro eu de certa forma também acompanhei a longa carreira do cantor Roberto Carlos. Confesso que não posso ser considerado um fã de carteirinha mas obviamente conheço todos os seus grandes sucessos, até porque é simplesmente impossível ignorar as músicas mais conhecidas dele, já que estavam a todo tempo tocando nas rádios. Também não sou particularmente interessado no trabalho que ele desenvolveu a partir dos anos 70 mas admito que gosto bastante de seus discos dos anos 60, justamente os da fase chamada Jovem Guarda. Naquela época Roberto Carlos era um cantor jovem cujo público também era jovem como ele. Não é de se admirar portanto o nome desse álbum (um dos poucos a receber um título próprio já que o cantor se notabilizou por ter a grande maioria de seus discos chamados simplesmente de "Roberto Carlos"). O clima aqui é de doce inocência, namoro no portão, enquanto a mãe não chama para dentro de casa. Tudo muito puro e juvenil, bem típico dos jovens daqueles anos. A primeira vez que conheci as músicas desse trabalho foi quando veio parar em minhas mãos um compacto duplo da CBS com as seguintes faixas: "História de Um Homem Mau", "Os Sete Cabeludos", "Parei... Olhei" e "Eu Sou Fã do Monoquini".

Logo que de cara gostei bastante de "História de Um Homem Mau", uma versão de  Roberto Rei para a canção americana "Ol'man Mose". Como sempre fui fã de westerns, ouvir aquela letra, muito bem bolada e simpática, foi realmente gratificante. Já os "Os Sete Cabeludos" de Roberto e Erasmo tinha um certo toque cinematográfico, inclusive com efeitos sonoros bem legais. Uma faixa forte para os padrões da jovem guarda, sempre tão doce e apaixonada. Também gostei bastante de "Eu Sou Fã do Monoquini", que usava uma letra bem cafajeste (no bom sentido) para louvar a nova moda que estava quase estourando nas praias cariocas (e que ficaria conhecida anos depois como "Topless"). Já das faixas do álbum sempre gostei bastante de "Brucutu", outra versão nacional para uma música americana. O estilo satirizando o famoso personagem dos quadrinhos mostrava o quanto o disco era pop e antenado com a cultura jovem da época. Há obviamente faixas bem açucaradas e românticas que são a cara da jovem guarda como por exemplo "Não Quero Ver Você Triste" (que tem uma melodia muito bonita) ou até mesmo a doce "Rosita". No geral Roberto Carlos, apesar da pouca idade, já mostrava sinais de que iria de fato se tornar o cantor número 1 do país. Era um jovem focado, carismático, que acima de tudo cantava muito bem. Um artista talentoso realmente. Além disso discos saborosos como esse ajudaram e muito em sua subida para a fama e o sucesso. Um disco para ser redescoberto, certamente.

Roberto Carlos Canta para a Juventude (1965)
História de Um Homem Mau (Ol'man Mose)
Noite de Terror
Como É Bom Saber
Os Sete Cabeludos
Parei... Olhei
Os Velhinhos
Eu Sou Fã do Monoquini
Aquele Beijo Que Te Dei
Brucutu (Alley-oop)
Não Quero Ver Você Triste
A Garota do Baile
Rosita

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Rock e Drogas

Durante muitos anos o lema "Sexo, Drogas e Rock ´n´ Roll dominou o nicho da música jovem americana. Depois com o tempo, principalmente com o aumento de tragédias envolvendo abusos de drogas por artistas a frase foi perdendo gradualmente sua força. Se na década de 1960 o uso de drogas era visto como uma libertação contra o sistema, hoje em dia tudo é visto como baixo astral, problema de saúde pública e coisas do gênero. Ser drogado não parece ser mais tão legal como era na geração hippie. Hoje é uma tragédia.

Muita gente procura entender essa relação entre drogas e o mundo da música. Isso não nasceu com o Rock para falar a verdade, é bem anterior. Já na era do jazz e do blues era grande o número de músicos envolvidos com drogas. A vida boêmia, na noite, sempre cobrava seu preço. Os músicos eram mal vistos pela sociedade em geral, quase como marginais, além de serem mal pagos. Muitas vezes a saída para esse tipo de situação depressiva era mesmo o uso de drogas como cocaína, marijuana e ópio.

Muito antes dos roqueiros surgirem em cena já havia um número expressivo de vítimas no mundo jazzístico americano. Billie Holliday, Bird e tantos outros estiveram enrascados com vícios em drogas. Depois que o Rock surgiu nas paradas a simbiose se fortaleceu de vez. Muitos roqueiros usaram drogas, ou para estarem na crista da onda ou para aguentarem uma rotina estafante de shows e concertos em praticamente todos os dias.

O boom porém só viria com os anos 60. Nessa época usar drogas significava não ser careta, conservador e chato. O uso de drogas era visto como algo libertador. Pena que o sonho hippie não tinha fundamento nenhum já que o usuário em drogas se tornava mesmo um escravo da química viciante. Antes que as pessoas tomassem consciência disso aconteceu uma série de mortes que serviu para jogar um balde realidade nas pessoas que defendiam o uso de drogas como estilo de vida. Brian Jones, o fundador dos Rolling Stones foi encontrado morto. Overdose. Jim Morrison, o líder do The Doors, morreu em uma banheira em Paris. Hendrix sucumbiu também a uma overdose e Janis Joplin não aguentou a bad trip de depressão, álcool e drogas e também virou estatística. Moral da história? Não há nada de divertido na frase famosa. Só tristeza pela perda de tantos nomes consagrados da música jovem.

Pablo Aluísio.

sábado, 26 de novembro de 2011

John Lennon - Verdades e Mentiras

Ao longo da carreira John Lennon foi alvo de várias histórias, boatos e especulações. Depois do fim do grupo Lennon tentou por entrevistas explicar alguns pontos que sempre soaram obscuros ou se tornaram meias verdades. Os pontos abaixo levam em conta não apenas o que disse em entrevistas mas também vários artigos e textos publicados em biografias, reportagens e depoimentos de pessoas que viveram na época. Segue abaixo algumas verdades e mentiras sobre John Lennon.

John Lennon era ateu? 
Não. Segundo o próprio Lennon ele se considerava Zen Budista e acreditava em uma força maior. O que ele realmente não acreditava era no Deus idealizado da religião cristã / judaica. Na visão de Lennon a entidade a quem chamam de Deus seria como uma usina de força, não individualizada e nem personalizada, que não era necessariamente boa ou má, mas que apenas existia como propulsor do universo. Nesse aspecto ele tinha uma visão bem mais mística do que a maioria das pessoas. O fato de ter esclarecido isso em uma entrevista não mudou a ideia geral das pessoas sobre o artista. Para o senso comum John Lennon ainda é considerado um ateu.

O que John Lennon quis dizer com a frese "Os Beatles são mais populares que Jesus Cristo"?
A frase mais conhecida de Lennon foi tirada de seu contexto. Lennon apenas tentou fazer uma comparação entre a importância da religião e dos Beatles na vida dos jovens ingleses na época. Para Lennon o Rock havia tomado o lugar da religião no centro da vida deles, e por isso os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo. A frase causou um enorme impacto, principalmente nos Estados americanos do cinturão bíblico (a região sul dos EUA). Por lá as músicas dos Beatles foram banidas das rádios e o seus discos foram queimados em praça pública. Lennon tentou remediar o que disse mas nunca conseguiu ser compreendido totalmente. Até no Brasil criou-se polêmica quando um padre de São Paulo se recusou a rezar uma missa em nome do Beatle falecido. Para ele Lennon era um "anticristão".

John Lennon teve um caso amoroso com o empresário dos Beatles?
Muitas biografias citam o fato de Brian Epstein ter sido apaixonado por John Lennon. Para muitos essa foi a principal razão dele ter lutado tanto pelo sucesso do grupo. Epstein era uma pessoa bem situada financeiramente, tinha seu próprio negócio e certamente não precisava fazer o que fez pelos rapazes. Autores ainda citam a tão falada férias que Lennon passou ao lado de seu empresário na Europa. Enquanto a esposa de John se recuperava do nascimento de seu filho, John literalmente virou às costas ao fato e foi para a Espanha passar longas férias sozinho ao lado de Brian. De concreto só existem boatos realmente. John tinha uma mentalidade típica da chamada classe operária de Liverpool, que sequer tinha uma visão aberta sobre o assunto homossexualismo. Em seu cotidiano Lennon gostava de piadas sujas e ofensivas aos gays, como praticamente todo jovem da época. Já famoso quando perguntado sobre isso Lennon geralmente partia para a simples agressão física, como aconteceu com um radialista que tentou fazer uma piadinha sobre o assunto. Para muitos John tinha uma visão que nos dias de hoje poderia ser classificada facilmente como preconceituosa ou numa interpretação mais incisiva, homofóbica. Provavelmente Brian Epstein tenha tentado alguma forma de aproximação com o seu objeto de desejo, mas tudo leva a crer que foi rejeitado por Lennon. Talvez isso explique de alguma forma o provável suicídio do empresário alguns meses depois.

John Lennon e Paul McCartney brigaram por causa da presença de Yoko dentro dos estúdios?
Uma das afirmações mais curiosas sobre o fim dos Beatles é a de que John e Paul brigaram fortemente por causa da presença de Yoko dentro dos estúdios onde os Beatles gravavam seus últimos discos e que por isso o grupo se separou alguns meses depois. Não é fato. A verdadeira briga sobre isso não ocorreu entre Paul e John mas sim entre John e George. Esse não se fez de sutil e disse na cara de Yoko que ela não era bem-vinda durante as gravações. O clima ficou tão pesado que John literalmente partiu para cima do colega de banda para agredi-lo fisicamente. Apesar de Paul também não ver com bons olhos a presença da japonesa em seu ambiente de trabalho não partiu para o confronto direto. Segundo John, Paul apenas insinuou o que pensava, principalmente nas letras das canções, entre elas "Get Back" cuja letra era cantada por Paul olhando para Yoko.

John Lennon era viciado em drogas?
Completamente e não escondia isso em entrevistas. Chegou a publicamente agradecer ao governo e ao exercito americano pela invenção do LSD, droga muito popular nos anos 60. Além das prisões por porte que lhe valeram muitas dores de cabeça quando tentou ganhar o Green Card anos depois, John ainda causou espanto entre os próprios Beatles pelo alto consumo de drogas durante as gravações dos últimos discos dos Beatles. Para Paul McCartney John literalmente foi "fundo demais" no abuso de drogas. Preferia as drogas mais pesadas, como heroína, LSD e cocaína. Ficou conhecida a história de uma batida da polícia inglesa em uma das residências do cantor em Londres. No local foi encontrada uma garrafa inteira com heroína líquida. Anos depois Lennon brincaria com o fato chamando a tal garrafa de "estoque de inverno". Curiosamente em uma de suas últimas entrevistas Lennon declarou literalmente que "Era contra todas as drogas do mundo"!

Como John Lennon era fisicamente?
Lennon tinha 1.78 de altura, calçava 40 e durante boa parte de sua vida pesou entre 61 a 64 Kgs. Era magro e nunca teve problemas com obesidade, a não ser durante o período em que filmou Help pois em sua própria opinião ficou excessivamente pesado nessa época (muito embora mal tenha chegado aos 70 kgs). Sempre teve problemas de visão, sendo diagnosticado com miopia e astigmatismo muito jovem. Não gostava de usar óculos na juventude e só assumiu mesmo o visual com eles na segunda metade dos anos 60 quando adotou seus famosos óculos de aros redondos que acabaram virando sua marca registrada.

John foi o primeiro Beatle romper com o grupo?
Internamente sim. Lennon comunicou a Paul McCartney que estava deixando a banda. Assustado, esse lhe pediu mais algumas semanas de forma que não prejudicasse as vendas dos últimos lançamentos dos Beatles. John então concordou em esperar mais algum tempo antes de anunciar publicamente que estava deixando o grupo. Acontece que nesse meio tempo Paul lhe passou a perna e anunciou pela imprensa inglesa o fim dos Beatles. Para Lennon a atitude de Paul foi como uma traição pois em seu entendimento apenas ele, Lennon, poderia colocar um fim ao conjunto uma vez que foi ele quem o fundou.

John Lennon realmente tocou com Elvis Presley?
Uma das histórias que Lennon mais gostava de relembrar com amigos era a de que quando conheceu Elvis Presley pessoalmente tocou com ele algumas músicas. O fato é que essa jam session não foi confirmada pelos demais Beatles. Paul, George e Ringo dizem que tudo não passou de um bate papo entre eles e que os Beatles nunca tocaram ao lado de Presley. Ao invés disso Lennon deixou um pouco a educação de lado e partiu para cima de Elvis com várias perguntas, entre elas porque Elvis não gravava mais rocks. Um pouco embaraçado Elvis respondeu que pretendia ainda gravar um disco apenas de rocks, ao qual Lennon respondeu ironicamente: "Então esse eu vou comprar".

John Lennon processou os demais Beatles?
Sim. Com o fim dos Beatles muitos problemas surgiram, inclusive contratuais. O grupo ainda tinha vários contratos a cumprir e suas diversas empresas comandados por Allen Klein tinham compromissos a honrar. No meio de tanta confusão jurídica Lennon abriu a caixa de Pandora e processou George, Paul e Ringo em alguns milhões de dólares. O fato criou uma avalanche de processos entre eles o que gerou muito mal estar e desentendimentos entre os ex Beatles.

John Lennon nada deixou de herança para seu filho Julian?
Sim. Em seu testamento John Lennon deixou apenas uma herdeira: sua esposa Yoko Ono. Nada constou para o seu primeiro filho Julian Lennon. Apesar disso ao longo dos anos Yoko se sensibilizou com o fato e tem paulatinamente dando parte do espólio para Julian que atualmente mora na Inglaterra.

Stu Sutcliff morreu de uma hemorragia cerebral causada por ferimentos infringidos por John Lennon?
Não se sabe ao certo. O que parece ter realmente acontecido foi que durante uma briga após uma noite de bebedeiras Lennon bateu e pressionou a cabeça do amigo contra um muro em Hamburgo, Alemanha. Poucos meses depois Stu morreu vítima de uma hemorragia cerebral. Não se pode apurar com certeza se os fatos estão realmente interligados, embora fosse possível sim que a agressão de Lennon tenha ocasionado os problemas em Stu Sutcliff.

Lennon se tornava violento ao beber?
Os acontecimentos evidenciam que sim. Lennon foi várias vezes expulso de boates e casas de show após ficar embriagado. Nessas situações ele se tornava valentão e brigão e ofendia as pessoas presentes ao local. Mesmo após famoso Lennon causou vários problemas em Nova Iorque durante o período que ficou conhecido como "fim de semana perdido". Lennon se embriagava, arranjava brigas e geralmente satirizava os músicos que tocavam na ocasião. Sua presença se tornava tão constrangedora que geralmente ele era empurrado para fora dos locais pelos leões de chácara de plantão.

Que presente John Lennon enviou aos principais líderes mundiais?
Durante sua campanha pela paz John Lennon resolveu enviar centenas de espigas de milho aos líderes mundiais. Ele havia lido numa reportagem que o milho representava a paz na antiga sociedade maia. As respostas dos países foram variadas. Em alguns deles houve agradecimento pelo envio das espigas (como no Canadá e França), em outros o presente foi ignorado (como no Brasil em plena ditadura militar). De maneira geral a receptividade foi maior entre os países africanos.

Que tipo de comportamento tinha Lennon com suas esposas?
Em plena era do Flower Power e do amor livre dos anos 60 Lennon adotava um comportamento com suas esposas que pode ser classificado como conservador. Nada de amor livre ou troca de casais, que era tão comum entre a geração hippie. Lennon era possessivo em relação a Yoko e tinha ciúmes em relação a ela. Com Cynthia Lennon era ainda mais machista. Não a considerava muito (chegou a debochar dela em algumas entrevistas) e segundo algumas biografias chegou a bater na primeira esposa durante o fim de seu casamento. Cynthia porém só admite uma agressão, quando ainda eram namorados.

Lennon queria ser um mártir das causas que defendia?
Definitivamente não. Lennon explicitamente dizia que não queria ser um mártir, tal qual Martin Luther King ou Jesus Cristo. Para Lennon o que interessava realmente eram as pessoas que conseguiam sobreviver aos turbilhões de acontecimentos. Infelizmente Lennon acabou se tornando um ao ser assassinado em Nova Iorque em frente ao edifício Dakota.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Paul McCartney - Run Devil Run

Considero, desde o primeiro momento que o ouvi, como o melhor trabalho nostálgico de Paul McCartney. A seleção das canções é simplesmente magistral e Paul demonstra muita garra em cada faixa, não deixando o pique cair em nenhum momento. São canções extremamente representativas para o cantor uma vez que era justamente esse tipo de som que fazia sua cabeça quando era apenas um adolescente em Liverpool. Assim Paul mescla músicas de sua adolescência com novas composições feitas por ele recentemente mas com o sabor dos velhos rocks daqueles anos maravilhosos. Tirando a questão puramente musical do foco, sempre achei muito curioso o fato de Paul ter gravado esse álbum justamente após a morte de sua esposa querida de longa data, Linda. O disco soa quase como um desabafo, como um grito de alegria para espantar a tristeza do momento. Até porque nada melhor para despachar a melancolia do que um bom e velho rock dos primórdios do gênero não é mesmo?

E não há como negar que aqui temos pequenas preciosidades, clássicos eternos da história do rock. Basta olhar para a lista para entender muito bem a intenção de Paul. É um verdadeiro resgate da sonoridade dos ídolos da juventude dele. Lá estão, por exemplo, artistas como Elvis Presley (em versões de “All Shook Up”, “I Got Stung” e “Party”), Chuck Berry ("Brown Eyed Handsome Man"), Gene Vincent ("Blue Jean Bop") e Carl Perkins (sempre um dos favoritos de Paul, aqui representado pela simpática "Movie Magg"). A faixa título "Run Devil Run" é um rock dos diabos, com todas as características que fizeram a fama e o sucesso dos pioneiros do rock. Aliás era justamente isso que Paul queria, compor uma música nova com a essência das clássicas canções do surgimento do rock ´n´ roll. Outro ponto digno de muitos elogios é o talentoso arranjo que Paul deu para cada canção. Tudo soa como se uma banda punk interpretasse os velhos sucessos da década de 50. Esse estilo me lembrou muito dos próprios Beatles quando cantavam em Hamburgo. Arranjos viscerais, diria até mesmo sujos, mas extremamente empolgantes. O próprio Ringo disse que eles não se pareciam com os Beatles na época, mas sim como uma banda punk! Depois de ouvir esse CD você certamente vai entender porque o bom e velho McCartney ainda é considerado um dos deuses vivos da nação rocker. Longa vida a esse gênio da música.

Paul McCartney - Run Devil Run (1999)
Blue Jean Bop
She Said Yeah
All Shook Up
Run Devil Run
No Other Baby
Lonesome Town
Try Not to Cry
Movie Magg
Brown Eyed Handsome Man
What It Is
Coquette
I Got Stung
Honey Hush
Shake a Hand
Party

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Unplugged

Paul McCartney passou muitos anos na carreira sem lançar discos ao vivo, afinal se formos analisar sua discografia oficial veremos facilmente que ele só lançou um álbum nesse estilo até o final dos anos 80 e mesmo assim quando ainda fazia parte do grupo Wings. Curiosamente da década de 1990 em diante o ex-beatle parece ter tomado gosto pelo formato e assim começou a lançar vários discos retirados de seus shows e concertos. Esse "Unplugged (The Official Bootleg)" é um dos melhores por causa de seu repertório muito agradável e nostálgico. Paul parece querer homenagear seus ídolos de adolescência colocando várias canções de Gene Vincent e Elvis Presley na seleção musical. Também não deixa de lado os Beatles, interpretando inclusive algumas músicas mais obscuras do quarteto de Liverpool. 

O projeto foi um dos primeiros da série "desplugada" da MTV que iria virar febre nos anos seguintes. Paul McCartney nem precisava de algo assim por causa de sua imensa importância na história do rock, mas não faz mal. Afinal os fãs dos Beatles certamente não reclamaram do disco! O CD abre com o clássico do rock "Be-Bop-A-Lula" de Gene Vincent. Ele tentava imitar a forma de cantar de Elvis e foi tão bem sucedido que até Gladys (a mãe de Presley) confundiu-se, pensando que aquela música que ouvia no rádio era mais uma gravação de seu próprio filho! Paul optou por fazer uma versão bem fiel, embora colocasse também seu próprio estilo na sua versão. "I Lost My Little Girl" é uma canção dos primeiros tempos dos Beatles, quando eles ainda tentavam um caminho a seguir enquanto se apresentavam em espeluncas de Liverpool.

O primeiro clássico Beatle vem com a imortal "Here, There and Everywhere" do Revolver. Sem favor algum essa é certamente uma das melhores melodias escritas por Paul em toda a sua carreira. Ele a escreveu para o seu amor na época, a atriz Jane Asher (e naquela época todos os demais Beatles pensavam que eles iriam se casar!). Depois dela Paul faz uma pequena homenagem a Elvis Presley com "Blue Moon of Kentucky", lado B do primeiro single do Rei do Rock ainda nos tempos da Sun Records. Uma bela faixa, sem dúvida. "We Can Work It Out", "I've Just Seen a Face", "She's a Woman" e "Blackbird" estão na setlist para lembrar a todos que aquele que está no palco foi uma das metades mais importantes do melhor conjunto de rock da história, os Beatles. Nada mais justo. O curioso é que Paul evitou os grandes hits da banda, escolhendo músicas mais periféricas do repertório do grupo. A única exceção talvez seja a linda "And I Love Her" que foi um grande sucesso na época de "A Hard Day´s Night". Essa foi outra que Paul compôs para Jane. Já "San Francisco Bay Blues" é uma inédita, nunca antes gravada por Paul, nem em estúdio e nem ao vivo. A representante blues do álbum. Sua fase no Wings também não poderia ser esquecida e Paul acabou escolhendo duas faixas dessa época, "Every Night" e "Junk". Mais uma vez nenhum hit, apenas belas músicas que foram subestimadas injustamente em seu lançamento original. Como eu escrevi o repertório é muito bem escolhido, selecionado e criterioso. Há o lado bom para o ouvinte do CD, mas também é interessante notar que não foi uma seleção musical para levantar o público para cantar junto! É uma lista de canções para especialistas e não para as massas - e talvez por isso Paul nunca mais o tenha repetido em suas grandes apresentações de estádios, por exemplo.

Título: Unplugged (The Official Bootleg)
Artista: Paul McCartney
Ano de Lançamento: 1991
Gravadora / Selo: Emi / Parlophone
Produtor: Joel Gallen, Geoff Emerick

Paul McCartney - Unplugged (1991)
Be-Bop-A-Lula
I Lost My Little Girl
Here, There and Everywhere
Blue Moon of Kentucky
We Can Work It Out
San Francisco Bay Blues
I've Just Seen a Face
Every Night
She's a Woman
Hi-Heel Sneakers
And I Love Her
That Would Be Something
Blackbird
Ain't No Sunshine
Good Rockin' Tonight
Singing the Blues
Junk

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Paul McCartney - All The Best

Paul McCartney foi um grande criador de hits após a separação dos Beatles. Para quem ainda tem dúvidas sobre isso eu aconselho a adquirir esse “Paul All The Best” com os maiores sucessos de sua carreira solo. Não é apenas força de expressão, eu me lembro muito bem que bastava ligar o rádio nas décadas de 70 e 80 para ouvir Paul tocando insistentemente em todos os programas. Ele criou de fato grandes sucessos radiofônicos e a sua música estava realmente no ar, tocando em todos os lugares e para todos os públicos. Olhando para a extensa discografia de Paul McCartney duas coisas chamam a minha atenção. A primeira é que durante os primeiros vinte anos de sua carreira solo Paul lançou pouquíssimos discos ao vivo (para falar a verdade lançou apenas um, “Wings Over America”). Era de certa forma uma sequência do que havia acontecido nos próprios Beatles que nunca lançaram um disco ao vivo oficial, mesmo o grupo tendo atravessado o mundo várias vezes em excursões de sucesso. Outra característica marcante é que Paul, em seus primeiros anos, também lançou poucas coletâneas oficiais, de fato lançou apenas uma única reunião de sucessos, o álbum “Wings Greatest” de 1978.

Dessa forma esse “All The Best” é outra exceção na discografia do cantor e compositor. Eu particularmente nunca gostei de coletâneas de sucessos. Prefiro os discos oficiais com todo o repertorio à disposição do ouvinte. Trabalhos que reúnem apenas os grandes sucessos sempre trazem uma visão muito superficial do artista. O ideal é realmente ir descobrindo tudo aos poucos, de forma gradual, inclusive com as canções obscuras que não fizeram sucesso ou que foram completamente ignoradas. De qualquer modo nem todos tem tempo ou interesse para isso. Já outros simplesmente querem ter apenas um álbum do cantor em sua coleção. Para esses eu aconselho ainda hoje esse título, mesmo após todos esses anos. Na era do vinil ele foi lançado como álbum duplo, com encartes de luxo e belíssima direção de arte (ainda tenho em minha coleção essa preciosidade). Aqui o disco capta os anos de maior sucesso de Paul. São hits e mais hits, provando o legado de sucessos do cantor. De inédita apenas as ótimas faixas “Once Upon a Long Ago" (uma sonoridade maravilhosa que ganhou um clip marcante) e a infantil “We All Stand Together” (que tem um lindo arranjo orquestral). Ouvindo esses registros – aliados a todos os seus grandes sucessos – não podemos deixar de ficar admirados com tanto talento e criatividade musical. Acredito que esse é o grande diferencial de Paul McCartney como artista. É um músico que nunca teve medo de arriscar e transitar em todos os estilos musicais, até mesmo em músicas infantis. Nem preciso falar também de suas peças compostas para grandes orquestras.  Então fica a recomendação caso você queira ter apenas um disco do ex-beatle em sua coleção de CDs com o melhor de sua carreira solo. Não é o ideal para um talento do nível de um Paul McCartney mas...

Paul McCartney – All The Best (1987)
Jet
Band on the Run
Coming Up
Ebony and Ivory
Listen to What the Man Said
No More Lonely Nights
Silly Love Songs
Let 'Em In
C Moon
Pipes of Peace
Live and Let Die
Another Day
Maybe I'm Amazed
Goodnight Tonight
Once Upon a Long Ago
Say Say Say
With A Little Luck
My Love
We All Stand Together
Mull of Kintyre

Pablo Aluísio.