quarta-feira, 27 de abril de 2011

O General Lee e a Supremacia Branca

Essa semana não houve notícia mais comentada do que o desfile dos supremacistas brancos na pequena cidade de Charlottesville, no estado sulista da Virgínia. A coisa toda começou quando algumas pessoas decidiram que era hora de colocar abaixo uma estátua do General Robert Lee, o herói confederado da guerra civil americana. Como gosto muito de história não deixei de prestar atenção em todos os acontecimentos. O mais curioso de tudo é saber que o velho general Lee foi, através do tempo, alçado a uma posição, se tornando símbolo de uma causa, que nem ele mesmo acreditava em vida.

O General Lee virou de certa forma um ícone desse movimento de supremacia branca nos Estados Unidos. O problema é que Lee não era um defensor da escravidão negra como muitos pensam. Ao contrário disso ele era um sujeito bem pragmático, um militar que mesmo tendo lutado ao lado dos confederados, sabia muito bem que não havia volta sobre a libertação dos escravos. A roda da história havia girado e não teria mais como manter a escravidão dos negros nas plantações de algodão das grandes fazendas do sul. O General Lee ia além e sabia até mesmo de antemão que seria impossível vencer a guerra. Homem experiente, general famoso do exército americano, ele tinha plena consciência de que as melhores tropas, os melhores armamentos e oficiais estavam do lado da União, dos ianques. Vencer aquela guerra civil era praticamente impossível.

Assim você pode se perguntar: Se Robert Lee não acreditava na escravidão e sabia que o Sul jamais venceria a guerra, por que afinal ele ficou do lado do exército confederado? A resposta sobre essa questão pode ser encontrada em qualquer biografia do militar americano. Ele sempre dizia que havia entrado para o lado rebelde simplesmente porque seu estado natal, a Virgínia, havia decidido lutar ao lado da Confederação. Ele dizia amar sua terra natal e assim foi para um exército que tinha poucas chances de vitória, lutando por uma causa que nem sequer acreditava. Ele nem era um racista, mas sim um homem do seu tempo, que sabia muito bem que a escravidão estava com os dias contados.

E a história também tem suas ironias. Com os anos Robert Lee virou esse símbolo dos supremacistas, dos neonazistas americanos do sul, mas a verdade é que ele não tinha essa visão que seus supostos seguidores ainda defendem. Já o presidente Abraham Lincoln, dito como o grande libertador, escreveu textos de cunho nitidamente racistas. Em um deles chegou a dizer que os negros jamais poderiam ser comparados aos brancos, que eram superiores. Mais do que isso, em determinado momento da guerra Lincoln estava disposto a abrir mão da abolição da escravidão em troca da paz, algo que pelo calor dos acontecimentos foi negado pelos sulistas. Assim o tempo muda as percepções. Nem Lincoln foi esse herói todo que muitos almejam, nem Robert Lee foi esse racista da supremacia branca que tantos o descrevem. A verdade histórica é bem mais complexa do que muitos imaginam.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Guerra Civil Americana - General Muralha Jackson

"Meu Deus, fui atingido por meus próprios homens!" - Foi com essas palavras que o general confederado Thomas Jonathan Jackson ou "Muralha" Jackson tomou consciência que havia sido baleado por suas próprias tropas na Batalha de Chancellorsville em 2 de maio de 1863, no auge da guerra civil americana. Jackson retornava ao front ao lado de seus homens após enfrentar fogo pesado dos ianques quando em maio aos arbustos os soldados rebeldes o confundiram com soldados da União e abriram fogo em direção a ele! "Muralha" Jackson levou três tiros, dois abaixo do abdômen e um que estraçalhou o osso de seu braço esquerdo.

Após cair do cavalo, ainda bastante ensanguentado, o general acabou sendo levado por seus homens para o hospital de campanha do batalhão. Lá descobriu-se que o estrago das balas em seu braço era extremamente sério e que ele deveria ser amputado o mais rapidamente possível. Jackson, como homem de fibra, militar linha dura, não vacilou e mandou arrancar o braço fora ainda naquela tarde. Quando Robert Lee, comandante supremo das forças confederadas, ficou sabendo do ocorrido abalou-se pois Jackson era sem dúvida seu melhor general. Após ser informado dos acontecimentos declarou uma frase que ficou famosa: "O General Jackson perdeu seu braço esquerdo e eu o meu direito". Não havia dúvidas que Jackson havia sido até aquele momento realmente o braço direito de Lee na guerra.

A preocupação de Lee tinha razão de ser. Durante a guerra seu mais inteligente general ganhou o apelido de Muralha Jackson por causa de sua capacidade de repelir ataques inimigos e manter posições conquistadas no front de batalha. Sua tenacidade de não recuar um palmo atrás acabou fazendo com que os ianques começassem a lhe chamar de Muralha, pois ele definitivamente não arredava pé das posições onde se encontrava. Ao longo de inúmeros combates Jackson também mostrou ser um estrategista capaz de antecipar os movimentos do inimigo, criando assim formações de defesa que se mostravam extremamente duras de serem rompidas. Para Muralha Jackson o mais importante em uma guerra era não recuar, ficar firme, aguentar fogo cruzado e quando possível avançar posições. Em meio a guerra sangrenta, onde o sul geralmente perdia suas batalhas por não possuir a mesma capacidade econômica do norte, Jackson acabou virando ídolo dos sulistas, o que fez a Confederação o eleger quase como um garoto propaganda de sua causa perante os Estados rebeldes.

Comandante do Exército da Virgínia do Norte ele ficou famoso não apenas no Sul como no Norte também. Quando Lincoln enviou um pomposo general para enfrentar Muralha Jackson ele se gabou dizendo que iria destruir Jackson ainda naquele fim de semana. Muito espirituoso Lincoln disse: "As galinhas é que são sábias, pois apenas cacarejam após colocarem seus ovos". O presidente brincava assim com a mania de seus generais cantarem vitória antes do tempo. Depois, quando veio a derrota para Jackson e os confederados tomaram posse de quase mil cavalos da União o presidente se saiu com outra tirada bem humorada sobre o acontecimento: "Disso lamento, já que posso fazer novos generais a cada dia, mas cavalos não!".

Mesmo com uma carreira brilhante Jackson pagou caro pelo mal posicionamento de seus homens de artilharia, que no final das contas lhe custaria a vida! Depois de sete dias, agonizando de dores por causa da amputação (imagine as condições da medicina da época), Muralha Jackson finalmente morreu. A causa foi considerada incerta por causa das primitivas técnicas medicinais da época. Para alguns ele teria morrido de uma infecção generalizada após perder seu braço, para outros a causa de sua morte foi pneumonia contraída enquanto estava se recuperando da amputação. De uma forma ou outra sua morte acabou sendo uma premonição do que viria a acontecer com os confederados na guerra civil americana.

Pablo Aluísio.

Nazismo: Posição da Ideologia

Resolvi escrever algumas linhas porque ultimamente no Brasil há um intenso debate entre as pessoas sobre a real dimensão em termos ideológicos do Nazismo. Seria uma ideologia de esquerda, alinhada aos movimentos socialistas ou bem ao contrário disso seria uma ideologia nascida de um pensamento de ultra-direita? A resposta a esse questionamento é bem simples. O Nazismo como ideologia é único, singular. Não é uma ideologia socialista e nem muito menos comunista. Quem leu o que Hitler escreveu e disse em seus discursos sabe muito bem disso. Para Hitler o Marxismo era um mal a se combater, tanto que rompeu um pacto de não agressão que mantinha com o ditador Stálin da União Soviética. O motivo desse rompimento foi puramente ideológico.

Tampouco o Nazismo pode ser visto como uma ideologia de direita. Hitler não estava completamente comprometido com nenhuma das bases que formam o pensamento mais capitalista e liberal que imperava em países como Inglaterra e Estados Unidos. Nessas nações se pregava uma atuação mínima do Estado. O cidadão deveria ter toda a liberdade para trabalhar e crescer como ser humano. O Estado só deveria intervir em setores básicos como segurança pública, mantendo um status político estável para que a iniciativa privada cuidasse do resto, da economia. No Nazismo não existia esse tipo de pensamento. Para Hitler o Estado Nacional deveria ser máximo, interferindo em todos os aspectos da vida dos cidadãos. E havia mais, não poderia existir liberdades individuais que estivessem acima da vontade desse Estado máximo. Ora, dentro do capitalismo os direitos fundamentais e a liberdade são pressupostos para o desenvolvimento de um sistema sadio, que se auto regula e conserta seus próprios problemas de funcionamento. Nem o Estado do Bem Estar Social, que é de certa forma bem mais presente na vida da sociedade, consegue ser semelhante ao Estado que Hitler pregava.

Assim o Nazismo não é socialista e nem muito menos capitalista. Não é de direita e nem de esquerda. O Nazismo é único, singular, sem paralelos com outras ideologias. A ideologia nazista nasceu de particularidades próprias que existiam na Alemanha no momento de seu surgimento. Havia o ódio racial - inexistente em outras ideologias - a ideia de uma raça superior e a tese do Estado vital para o desenvolvimento da grande pátria alemã. Até mesmo o nacionalismo exacerbado do Nazismo não pode ser comparado com outras ideologias, pois era fincado no ódio e no revanchismo pela derrota alemã na I Guerra Mundial. Havia até mesmo o sistema de escravidão de raças consideradas inferiores pelos nazistas! Quem já viu um sistema capitalista funcionando com escravos? E que socialismo seria esse que transformava trabalhadores em meros escravos? Então diante de tudo isso é bom parar com as especulações. Nazismo não é socialismo e nem capitalismo, Nazismo é simplesmente Nazismo, uma ideologia própria e única.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Rainha Cristina da Suécia

No século XVII a Europa foi varrida por uma série de guerras entre nações católicas e protestantes. O Rei da Suécia Gustalf I era um dos principais líderes políticos protestantes da época. Durante uma batalha ele foi morto. Na linha de sucessão estava sua filha Kristina ou Cristina, uma jovem com muitas ideias brilhantes para sua nação. A nova Rainha achava um absurdo promover uma guerra por questões religiosas. Assim ela queria antes de qualquer coisa assinar um tratado de paz com os católicos da Europa. Na questão interna Cristina estava disposta a promover uma grande reforma educacional na Suécia, que para ela era apenas uma nação com um povo sem cultura, sem estudo, sem ciência.

Cristina adorava os livros e as artes. Durante todo o seu reinado ela promoveu a construção de escolas e bibliotecas, além de ser extremamente tolerante com todas as demais religiões. Isso enfureceu os líderes protestantes de seu país. Os evangélicos achavam que a única sabedoria vinha da Bíblia e tudo o mais seria apenas heresia. Eram fundamentalistas fanáticos! Os protestantes também eram contra qualquer tipo de reforma visando uma ampla alfabetização e educação do povo sueco. Os pastores igualmente abominavam a ideia de ter paz com as nações católicas da Europa. Os diversos grupos de protestantes da Suécia acreditavam que os católicos deveriam ser mortos. Os Luteranos eram os mais empenhados em promover uma guerra de matança continental contra todos os católicos europeus. A Rainha porém abominava uma visão tão absurda como aquela. Não é à toa que começou a se criar contra ela um grande movimento de oposição aos seus planos de Estado.

A Rainha estava consternada com a corrupção religiosa dos pastores suecos. Eles dilapidavam os cofres públicos e roubavam as pessoas pobres, das comunidades mais humildes do interior. A ira e o fanatismo dos protestantes contra qualquer outra forma de religiosidade também impressionaram a Rainha. Diante de tanta corrupção, roubo e abusos, a Rainha aos poucos foi se aproximando dos católicos. O Papa enviou um grupo de jesuítas para mostrar a doutrina católica para a Rainha. Ela ficou impressionada com o verdadeiro catolicismo e não apenas com aquilo que ela pensava ser a doutrina católica. Logo a Rainha pensou em se converter ao catolicismo romano, se aproximando cada vez mais do Papa Alexandre VII.

Também se tornou muito amiga do filosofo católico René Descartes, de quem era grande admiradora. O pensador mostrou para a Rainha seus pensamentos, sua filosofia. Ela ficou grandemente inspirada. Os protestantes porém odiavam Descartes e sua forma de pensar livre e libertadora. Depois de muito lutar contra os protestantes obtusos e atrasados da Suécia, Cristina resolveu abdicar em favor de seu primo. Ela entregou o trono e foi morar em Roma, no berço cultural do mundo da época. A rainha se converteu ao catolicismo e começou a aproveitar sua vida, livre da opressão insuportável dos protestantes. Ela se tornou protegida do Papa e viveu seus últimos anos entre artistas, pensadores, escritores e dramaturgos. Quando morreu a Rainha teve a honra de ser enterrada ao lado dos Papas, algo inimaginável para outras mulheres do século XVII. O fato justificador é que a Rainha havia se tornado um símbolo poderoso da força da doutrina católica.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de abril de 2011

Ricardo Coração de Leão e a Terceira Cruzada

Richard I ou Ricardo Coração de Leão segue sendo um dos monarcas mais amados e admirados da história inglesa. Ele subiu ao trono em julho de 1189 e se notabilizou por ter liderado a Terceira Cruzada em direção a Jerusalém. Naquela época a cidade estava sob dominação dos muçulmanos. Ele havia participado da Primeira Cruzada, mas retornou reclamando que ela havia sido desorganizada e sem planejamento. Para essa terceira expedição rumo à Terra Santa, Ricardo Coração de Leão fez um planejamento minucioso, além de ter angariado um verdadeiro tesouro entre seus súditos e vassalos para que nada faltasse durante a longa jornada em direção ao Oriente Médio.

Para fortalecer ainda mais a Cruzada, Ricardo contou com o apoio de outro monarca, o Rei Filipe II da França. Embora existissem várias diferenças políticas entre eles, que quase o levaram à guerra no passado, o fato de marcharem juntos agora selava uma poderosa aliança entre os reinos da França e Inglaterra. A causa comum que os unia era justamente a cruzada intercontinental. A cruzada se organizou na França e os dois monarcas começaram a viagem, passando por cidades italianas, chegando finalmente aos principais portos do Mar Mediterrâneo. Em Chipre o rei bizantino local achou que todos aqueles exércitos significavam uma ameaça, iniciando-se uma das primeiras batalhas da cruzada. Ricardo sagrou-se vencedor e tornou Chipre uma província do seu império.

Ricardo Coração de Leão chegou na Terra Santa bem no meio do calor do conflito. As forças de Saladino, líder muçulmano, massacravam o povo de Jerusalém. Qualquer cristão capturado tinha sua cabeça decapitada pelos seguidores do islã. As tropas de Ricardo chegaram no meio de uma grande batalha campal entre cristãos e islâmicos e conseguiu arrancar uma grande vitória no front. Os principais generais de Saladino foram aprisionados e executados. Grande parte de seus guerreiros abaixaram as espadas e se renderam. Quando a notícia chegou na Inglaterra o Rei Ricardo foi saudado como um herói da fé cristã e católica. Um monarca que deixou tudo para trás em nome da libertação da Terra Santa.

Infelizmente Ricardo teve que retornar para a Inglaterra menos de um ano depois sem conseguir seu grande objetivo: a tomada definitiva de Jerusalém. Ele teve que retornar para deter uma conspiração de nobres que ameaçavam sua coroa. Havia também disputas por territórios que contrariavam os interesses de seu reinado. Na viagem de retorno Ricardo foi capturado por outro monarca cristão, Leopoldo da Áustria, que tinha uma velha rixa com o Rei inglês. Feito prisioneiro, Ricardo foi enviado para uma prisão controlada por Henrique VI do Sacro Império Romano Germânico. Só após o pagamento de um valioso resgate ele foi libertado. Tudo isso atrapalhou e muito os objetivos de Ricardo de voltar um dia para Jerusalém para terminar o que havia começado com a Terceira Cruzada. Em abril de 1199 o Rei Ricardo Coração de Leão levou uma flechada mortal no abdômen. Ele foi ao campo de batalha sem armadura, um erro que lhe custou a vida. Ricardo tinha planos de pacificar as fronteiras dominadas pelo império inglês para só então retomar para a Terra Santa, mas não houve tempo. Ele morreria antes de concretizar seus sonhos e seus objetivos.

Pablo Aluísio.

Os Nazistas na TV

Eu vou chamar a atenção para um fato que tenho notado ultimamente na TV a cabo, principalmente em canais que abortam temas históricos como The History Channell e até mesmo National Geographic. A questão é o alto número de programas enfocando os nazistas, suas histórias, suas doutrinas, armas, arquitetura e é claro seu ícone máximo, Hitler. O que me deixou muitas vezes surpreso é que vejo poucos programas mostrando a vida dos vencedores da II Guerra Mundial. Para cada 1 programa mostrando a vida do primeiro ministro Winston Churchill deve haver pelo menos uns dez sobre Hitler. E o grande presidente Roosevelt? Não me lembro de ter assistido nada sobre ele. Já sobre Hitler, Himmler e demais líderes nazistas existem às dezenas.

Porque isso acontece? Eu estive pensando esses dias justamente sobre isso. A primeira hipótese que analisei foi o fato de que muitas desses canais de TV pertencem a grupos de judeus. Provavelmente não deixando cair no esquecimento o nazismo essas empresas queiram alertar às novas gerações sobre o perigo de ideologias como essa. Pode até fazer sentido. O problema é que muitos programas não possuem - pelo menos eu não consegui perceber isso - essa mensagem de denúncia tão óbvia. Afinal que denúncia haveria em mostrar os foguetes, navios e armas das forças do III Reich? Esse teor de alerta surge mais em programas sobre o holocausto. Nos demais não vejo algo tão incisivo assim.

Outra tese seria a de que os acontecimentos ocorridos durante o auge do nazismo foram tão absurdos que acabaram criando um conteúdo sensacionalista irresistível para o grande público. Seria a versão histórica dos programas sensacionalistas policiais que infestam as TVs abertas. Há sentido nesse tipo de afirmação? Em termos. Os nazistas se celebrizaram por não possuírem qualquer tipo de limite ético e humano. Eles realmente cometeram crimes e barbaridades inomináveis. Esse tipo de coisa sempre desperta o lado da curiosidade mórbida em cada espectador. Daí a audiência conquistada por esse tipo de programa.

Por fim e pegando um gancho com essa última hipótese é possível que o mal absoluto exerça uma atração profunda na alma humana. O próprio Hitler costumava dizer que apenas o ódio iria atrair as atenções para ele. Por isso foi um propagador de ideias de ódio, racismo e violência. Provavelmente se tivesse pregado a tolerância, a bondade e a conciliação nunca deixasse de ser um político medíocre do interior da Alemanha. Já com seus discursos de puro ódio virou um líder nacional. Por essas e outras que termino esse breve artigo dizendo que é chegado a hora também de valorizar a história dos grandes estadistas que venceram o nazismo. Há de haver um equilíbrio maior na programação desses canais.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de abril de 2011

1808

Achei extremamente agradável a leitura desse livro intitulado "1808" de autoria de Laurentino Gomes. A leitura flui muito bem pois o autor procurou trazer o máximo de informações de uma maneira simples e direta, sem exageros acadêmicos (que acabam tornando qualquer livro uma chatice enfadonha). Como o próprio título sugere a proposta é resgatar os anos em que a família real portuguesa viveu no Brasil (como sabemos a dinastia Bragança na realidade estava fugindo do imperador Napoleão Bonaparte). Assim somos levados aos primórdios de nossa nação em capítulos curtos que procuram resgatar não apenas o lado mais histórico dessa estadia imperial na colônia, mas também os costumes e o modo de viver dos brasileiros e portugueses naquela época.

Um dos aspectos mais interessantes vem do choque cultural entre os nobres portugueses e a classe burguesa brasileira. Poucos sabem, mas o Reino de Portugal estava falido e a família imperial arruinada. A rainha, D. Maria, estava louca e o império acabou indo parar nas mãos de D. João VI, que nem estava na linha de sucessão pois só herdou o trono porque seu irmão mais velho morreu precocemente. D. João VI é uma figura tão tradicional como folclórica em nossa história. Ele era baixo, gordo e de temperamento medroso. Morria de medo de caranguejos (o que o fazia evitar tomar banhos de mar) e de tempestades (quando ouvia trovões se escondia debaixo de sua cama no Palácio real).

Como se pode perceber D. João VI não tinha a menor vocação para ser Rei porém teve inteligência suficiente para confiar em homens bem mais preparados do que ele, conselheiros que mantiveram a colônia unificada e segura. O autor lembra de um fato importante: embora Dom João VI seja retratado como um trapalhão e um abobado ele na realidade foi um dos poucos Reis europeus que não foram decapitados naqueles tempos revolucionários. Nesse ponto de vista histórico o velho e inepto D. João VI tão mais bem sucedido do que a formosa dinastia dos Bourbons da França, que terminaram na guilhotina dos revolucionários franceses.

E como não poderia faltar em um livro sobre a família real portuguesa no Brasil há todo um capítulo dedicado apenas à Carlota Joaquina. Curiosamente o autor aliviou um pouco a imagem de uma mulher escandalosa e promíscua como era retratada nas crônicas da época. Certamente Carlota era vil, traidora e escandalosa, mas em um nível menor. Não há como comprovar historicamente os inúmeros casos extraconjugais que foram atribuídos a ela. Nem tampouco que teria realmente conspirado tanto como foi dito a D. João VI que cansado de suas supostas conspirações a isolou de sua vida pessoal. Só se encontravam em eventos e mesmo assim de maneira protocolar.

Além dos personagens históricos o autor procura recriar o Rio de Janeiro do século XIX, com suas ruas cheias de escravos, sujeira e caos urbano. O interessante é que mesmo chocados com a realidade da colônia brasileira os nobres portugueses, apesar da pompa e elegância em seus trajes, estavam arruinados e precisavam do dinheiro dos burgueses brasileiros. Assim centenas e centenas de títulos de nobreza eram trocados por dinheiro, ouro ou propriedades, mostrando o quanto a corte lusa era corrupta já naqueles tempos. Vários traficantes de escravos foram honrados como nobres, duques e marqueses, mesmo que não soubessem sequer a ler. Tudo em troca do vil metal. Pelo visto a corrupção em nosso país certamente tem raízes históricas mais profundas do que realmente pensamos.

Pablo Aluísio.

Ascensão e queda das grandes potências

Esse é o livro que estou lendo atualmente: Ascensão e Queda das Grandes Potências de Paul Kennedy. É um longo e bem preparado estudo sobre as potências que já dominaram o mundo nos últimos cinco séculos. Para estudar o sobe e desce no tabuleiro mundial o autor analisa aspectos militares, econômicos, geográficos, históricos e sociais.

A capa da primeira edição era bem interessante. Nele víamos um inglês descendo um pódio, sendo superado por um americano (o Tio Sam) e logo atrás um japonês. O tempo passou, os Estados Unidos ainda seguem como a principal nação do mundo e o Japão ainda se mostra como o grande potencial.

Isso porém não importa. Considero um excelente trabalho e também uma leitura bem agradável, nada pesada ou enfadonha. Destaco, entre tantos aspectos extremamente interessantes, o jogo de poder entre França e Inglaterra durante a chamada Idade moderna. Uma rivalidade ferrenha que colocou as duas maiores nações europeias em choques sucessivos ao longo dos séculos. Quem venceu essa queda de braço? Ora, deixo a dica da leitura para você. Não deixe de conhecer.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nazismo: O Mal Absoluto

Hoje se celebra os 70 anos de libertação do complexo Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração nazista. Muitas pessoas não acreditam que exista um mal absoluto no meio da humanidade, mas isso é um erro. A história dos campos de concentração do Terceiro Reich estão aí para nos lembrar que o mal absoluto existe e em condições ideais aflora de maneira monstruosa e incontrolável. Apenas as leis e uma forte e presente consciência coletiva fará com que esse mal não mais se repita. É preciso sempre educar as novas gerações, ensinar-lhes o que aconteceu e não deixar esse holocausto da alma humana se perder nas neblinas da história. O que aconteceu durante esse período talvez nunca seja completamente explicado. O que levou uma nação civilizada, culta e educada como a Alemanha a cometer atos de tamanha barbárie é em minha visão algo que sempre será um mistério completo. Por mais que a Alemanha tenha sido humilhada após a Primeira Guerra Mundial, abrindo assim o caminho para patifes como Adolf Hitler subir ao poder, nunca conseguirei compreender completamente as engrenagens dessa verdadeira indústria da morte que foi instaurada no período mais nebuloso da história humana.

Talvez a força de uma ideologia explique muita coisa. Ideologias sempre são perigosas. Quando se acreditam nelas cegamente a coisa pode tomar rumos inesperados. E isso não se refere apenas ao nazismo, mas a outras ideologias semelhantes também, como o fascismo e o comunismo. Essa última sempre me preocupou pois em países de periferia mundial como os latino-americanos a ideologia socialista ainda persiste. É trágico, mas infelizmente o Brasil hoje passa por uma profunda doutrinação socialista em escolas e universidades. Esquecem de ensinar porém que o comunismo matou mais pessoas ao longo da história do que o próprio nazismo. Se a Alemanha nazista assassinou estimados 5.5 milhões de judeus nesses campos de concentração, o famigerado líder soviético Stálin teria sido responsável pela morte de 60 milhões de soviéticos, em uma das ditaduras socialistas mais insanas e sanguinárias da história. E na Rússia comunista também havia campos de concentração e crimes contra a humanidade. Houve um holocausto vermelho. Isso porém pouco é relembrado em nosso país, o que é duplamente trágico. A perplexidade causada pelos horrores do holocausto nazista era para ser ao menos semelhante aos crimes do comunismo, mas em nosso país pouco se fala sobre isso, algumas vezes de forma tímida e acanhada. Uma tragédia educacional toma forma em nosso país de maneira silenciosa.

Os nazistas tinham uma visão deturpada do mundo. Eles se consideravam arianos puros, loiros de olhos azuis e por isso especiais. As demais raças eram ditas como inferiores e algumas deveriam ser eliminadas sumariamente. Em relação aos judeus havia esse ódio implantado por Hitler em sua obra "Mein Kampf", onde ele culpava o povo judeu pela destruição da economia alemã. Essa ideologia de ódio aos judeus porém não foi criada por ele, já existia de forma latente dentro da sociedade alemã, tanto que ele apenas a abraçou de forma fanática, resolvendo colocar em prática o que antes era apenas despeito e raiva incontidas pelo sucesso dos judeus no comércio, na indústria e nas finanças. O problema das ideologias é essa: muitas vezes elas nascem do puro ressentimento e depois tentam ganhar ares de pseudo explicação econômica, social ou científica. O próprio Karl Marx tinha esse ressentimento bem profundo em seu modo de pensar. Para ele uma pessoa bem sucedida financeiramente não poderia ter chegado lá por seus próprios méritos, mas sim por explorar os demais. Ressentimento e rancor parecem ser sempre o cimento que une os tijolos desses sistemas ideológicos. Algo na linha: "Eu sou pobre, você é rico, devo arranjar uma forma de lhe eliminar". As ideologias crescem no meio desse tipo de sentimento. Para piorar tornam cegos todos os seus seguidores. Geralmente se fecham os olhos para os crimes horrendos de seus líderes ideológicos. Aconteceu durante o nazismo e segue acontecendo também nas ideologias de esquerda que continuam a prosperar.

Em relação ao nazismo é muito complicado de entender o que de fato aconteceu, mesmo com esse tipo de tentativa de entendimento. Certamente a ideologia exerceu grande e forte influência, porém como justificar as mortes de mulheres, idosos e crianças em câmaras de gás em ritmo industrial? Qualquer pessoa com um mínimo de humanidade se recusaria a participar de algo assim, mas lá estavam os oficiais SS, muitos deles do sexo feminino, tendo até mesmo um certo sentimento de prazer sádico em matar toda aquela gente. Teria a Alemanha tido a triste sina de ver o surgimento de uma geração de psicopatas? Muitas daquelas pessoas que trabalhavam em Auschwitz-Birkenau viam aquilo como um emprego normal ou uma função que tinham que desempenhar em seu expediente normal de trabalho. Após passar o dia enviando pessoas inocentes para a morte eles trocavam de roupa e iam para casa, normalmente, jantar com suas famílias e não pareciam ter qualquer tipo de sentimento de culpa ou remorso. Sinceramente falando a mente humana pode ser um lugar escuro e sombrio em determinados momentos da história. A grande lição histórica porém de tudo o que aconteceu pode ser resumida numa frase bem singela: tenha muito cuidado com as ideologias, elas matam e desumanizam o ser humano, geralmente em ritmo industrial.

Pablo Aluísio.

O Pensamento Conservador

Como o pensamento conservador tem atraído muito a atenção dos brasileiros, principalmente dos jovens, vou aqui numa série de textos escrever sobre o conservadorismo e seus principais escritores, livros e ideias. Infelizmente o pensamento conservador é praticamente desconhecido do povo brasileiro. A Academia, as escolas e as universidades brasileiras foram fundadas em cima de um pensamento de esquerda. O conservadorismo é visto como um monstro, um bicho papão ideológico, o símbolo de tudo o que há de ruim no mundo. Um pensamento fruto da doutrinação ideológica de esquerda. Enquanto nos grandes centros de saber do mundo os autores conservadores são lidos e estudados, no Brasil eles são desconhecidos. Só há espaço mesmo para o chamado Marxismo cultural, que sempre foi muito pródigo em gerar frutos podres nas nações por onde se alastrou.

Pois bem, há certos mitos absurdos sobre o pensamento conservador que merecem ser esclarecidos. Outro dia vi um sujeito de formação marxista no Youtube afirmando que o conservadorismo se resumia numa ideologia política que visava manter a riqueza dos mais ricos e a pobreza dos mais pobres. Que pensamento grotesco! Alguns dos países mais conservadores do mundo são aqueles em que há a melhor distribuição de renda. Um exemplo simples? O Reino Unido. A Inglaterra é uma nação conservadora, de pilares conservadores. Seu sistema político é plenamente conservador em todos os detalhes e instituições. Há uma monarquia constitucional instalada. Esse sistema é o mesmo há centenas de anos. E como vive a classe trabalhadora inglesa? Muito bem, obrigado. Todo trabalhador britânico tem sua casa, seu carro próprio, dinheiro para sustentar sua família, saúde pública de alto nível, gratuita para todos os cidadãos e uma economia que gera empregos. Não vejo no caso inglês nenhum sinal de uma elite conservadora rica massacrando o povo trabalhador.

Enquanto isso o que vemos em nações que dizem se alinhar com o pensamento de esquerda? Muita pobreza, péssima distribuição de renda, desemprego massivo e uma classe política que monopoliza o poder, usando ao seu bel prazer, para implantar um sistema de corrupção institucional. Fora as degenerações políticas dentro do próprio sistema dito socialista. Vejam o caso de Cuba em que o poder político é exclusivo de uma família. Morreu Fidel Castro e o poder foi passado para seu irmão. Esse já afirmou que se afastará e o poder será passado para seu sobrinho. Cuba caminha para ser um feudo comunista dos Castros em poucos meses. E o povo cubano? Na mais profunda miséria, assim como o povo venezuelano. Pergunte a um trabalhador inglês se ele deseja ir morar em Cuba! Depois pergunte a um trabalhador cubano se ele gostaria de morar na Inglaterra! Não precisa ser um expert político para responder a esse tipo de pergunta.

O pensamento conservador vai muito bem nas nações que o abraçaram. O povo vive bem, os índices de violência são baixíssimos e as crianças são educadas desde cedo para respeitar os mestres, seus professores. O pensamento de esquerda ao contrário forma ativistas de luta frontal contra a autoridade. Por isso vemos tantos casos de alunos agredindo professores no Brasil. E o curioso é que muitas vezes a culpa é dos próprios professores que doutrinando seus alunos os ensinam que a autoridade e a hierarquia devem ser combatidas, agredidas e abatidas. O veneno voltou-se contra eles. A esquerda sempre forma ativistas violentos, não tem jeito! Pois bem, no próximo texto irei trazer o grande pensador conservador Edmund Burke (ilustração), um dos pilares do conservadorismo britânico. Certa vez ele disse: "As pessoas não serão capazes de olhar para a posteridade, se não tiverem em consideração a experiência dos seus antepassados.“ Uma frase brilhante e genuinamente conservadora.

Pablo Aluísio.