segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 38

A noite em que Elvis, abatido e deprimido, leu as últimas páginas de sua biografia não autorizada ficaram cristalizadas para a história através da memória de Rick Stanley, que compartilhou esses tensos momentos de agonia e profunda tristeza ao lado de Elvis. Foi justamente nesse momento crucial, na noite do dia 15 para 16 de agosto de 1977, que seu meio irmão Rick Stanley (filho de Dee, segunda esposa de Vernon Presley) entrou nos aposentos do cantor e o encontrou pensativo e complementado, absorvido em seus próprios pensamentos, com o olhar vago, impreciso, disperso. Segundo as memórias de Rick, Elvis pediu que ele se sentasse ao seu lado.

Com o famigerado livro em mãos Elvis fez duas perguntas cruciais, como bem relembra Rick: "Na última noite de sua vida, eu acabara de desligar o telefone. Falava com minha namorada, Robyn. Através dos anos ela me encorajava a largar as drogas, e, quando estava pendurado no telefone, ia dizer que alguma coisa precisava acontecer para trazer minha vida de volta. Subi as escadas e sentei na cama com Elvis. Ele puxou os óculos sobre o nariz - tinha aquela espécie de olhar que parece cortado ao meio - e encostou o canto dos óculos na boca. Realmente pareceu frio. Suas costeletas estavam ficando grisalhas. Estava muito maduro. Parecia estar muito, muito cansado, não fisicamente, mas emocionalmente gasto. Enquanto sentávamos e conversávamos um pouco, ele me entregou um pedaço de papel, uma parte do livro escrito por seus ex guarda costas. Falava do uso de drogas. Fez duas perguntas. Disse: "O que Lisa Marie vai pensar disso?" e eu não tive muito o que responder. Apenas disse: "Bem, ela é sua filha. Estou certo que ela te ama"

Então ele perguntou sobre os fãs. "O Que os fãs vão pensar disso tudo?", e mesmo sem pensar eu fui capaz de dizer: "Bem, eles te amam incondicionalmente". Conversamos um pouco mais e eu lhe falei sobre a conversa com Robyn. Como eu estava para me livrar das drogas, você sabe, endireitando minha vida, esse tipo de coisa. Devo dizer que ele iria querer sua pílulas, seus remédios para dormir, bem depressa. Uso a palavra remédio porque se você disser a palavra drogas as pessoas pensam em crack e heroína, que nós nunca usamos. Eu trouxe um embrulho de remédios, que estavam exatamente no caminho (para o quarto de dormir) no armário. Havia embrulhos que Elvis chamava de "pacotes de ataque", porque era o que ele queria fazer, atacar-se, nocautear-se. Nós estamos sentados lá e eu falando e contando a ele sobre Robyn e os conselhos que ela vinha me dando através dos anos. Elvis a tinha encontrado e gostado dela, pois era uma criança adorável.

"Eu penso realmente que ela está lhe dando um bom conselho, Rick", ele me disse. "Penso que ela é uma pessoa que realmente se importa". Ele falou muito tempo. Uma viagem começaria no dia seguinte e ele não estava exatamente excitado sobre isso. Quando eu ia embora, Elvis me disse: "Não quero ser aborrecido, não quero ser perturbado". Para qualquer um que trabalhasse com Elvis, você sabia que isso significava uma ou duas coisas. Queria passar algum tempo com a namorada Ginger, ou queria dormir. Mas ele me fez saber que não queria ser perturbado, e com Elvis aquilo era um firme comando. Sem maiores perguntas resolvi me retirar de seu quarto, fechei a porta e fui até os fundos de Graceland e desliguei completamente. Mal sabia que em poucas horas iria acontecer algo que mudaria minha vida para sempre".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 37

Durante muito tempo Elvis pensou nas possibilidades do que iria fazer após a publicação do livro bomba de Red West. As dúvidas eram muitas. Ele deveria fazer uma declaração oficial desmentindo tudo? Mas isso não iria trazer uma tremenda publicidade para o lançamento? Ignorar tudo e seguir em frente, como se nada tivesse acontecido? Processar todos eles e correr o sério risco de transformar tudo em um circo da mídia no tribunal, com sua vida sendo ainda mais exposta perante seu público e seus fãs? Mas afinal...que decisão ele deveria tomar? Nessa altura de sua vida essa era apenas mais uma péssima notícia que Elvis tinha que enfrentar.

Em seus últimos meses de vida o cantor podia contar nos dedos de uma única mão as coisas que ainda lhe traziam algo positivo. Eram cada vez mais raros os momentos de verdadeira felicidade para ele durante sua caminhada final. Um sorriso sincero, por exemplo, dado em um momento de extrema descontração e alegria, era algo tão raro para o envelhecido astro nessa época que certamente nem ao menos ele se lembrava de algo parecido assim acontecer em sua memória recente. Em aspectos pessoais sua única filha, Lisa Marie, ainda conseguia proporcionar momentos de amenidades e real contentamento.

Mas até nesses pequenos momentos Elvis sentia-se culpado, a ponto de um de seus homens de confiança o flagrar em prantos, sozinho, lamentando consigo mesmo o fato de não ter sido um bom pai para sua família. Elvis jamais conseguiu superar o choque do fim de seu casamento e esse pesadelo só aumentou de proporção ao longo dos anos que se passaram. No aspecto puramente profissional Elvis também ia, aos poucos, perdendo o prazer de se apresentar ao vivo. Durante anos esse contato direto com seus fãs havia proporcionado a ele muitos e muitos momentos realmente especiais. Como bem afirmou Priscilla Presley o amor de seus fãs e o carinho despejado por Elvis durante seus longos anos na estrada, tinha se transformado no único grande momento de felicidade do artista em seus últimos meses de vida. A veneração e a fidelidade de seus mais estimados fãs clubes havia se concretizado numa verdadeira muleta emocional para o Rei do Rock. Porém até nesses aspectos Elvis vinha sentindo dificuldades. Se apresentar à altura do amor e do carinho de seus admiradores lhe era agora cada vez mais difícil. Elvis enfrentava diversas dificuldades decorrentes de seu estado físico e de sua vertiginosa queda de saúde.

Fazer jus à imagem que existia no subconsciente de todos era agora um desafio a se vencer em cada novo concerto e isso definitivamente não era fácil quando se sofria de tantos problemas pessoais, tanto físicos como, e principalmente, emocionais. Somando-se a tudo isso havia ainda a crítica, quase sempre implacável com o astro, sempre colocando em destaque cada mínimo erro ou cada pequeno descompasso surgido em suas turnês. Tudo isso, somado a seu constante estado depressivo, tornava a jornada muito mais penosa de se cumprir. Infelizmente Elvis não poderia parar, ele havia entrado numa engrenagem que iria sugar até o fim sua capacidade de trabalho. Envolvido em enormes dívidas, enrolado em problemas judiciais que lhe custavam muito em termos financeiros e em desgaste emocional, Elvis virou escravo de sua própria lenda.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 36

A única coisa que não contavam era o fato de que seus antigos "amigos", empregados ou seja lá o que fossem, iriam colocar a boca no trombone e contar todos os mais guardados segredos da vida pessoal de Elvis Presley! Aquela imagem impecável, de um bom pai de família, filho amoroso, cidadão cumpridor de seus deveres cívicos, um típico norte-americano acima do bem e do mal, seria maculada para sempre pelo teor altamente explosivo contido no livro "Elvis, O Que Aconteceu?" escrito pelos irmãos Sonny e Red West! Nada ficaria de pé após sua publicação! Bom cidadão? Elvis seria retratado como uma pessoa altamente manipulada que só serviu o exército por ordens diretas de seu tirânico empresário! Ele, Elvis, definitivamente não queria ir para o U.S. Army de jeito nenhum! Bom pai de família? Elvis seria retratado como um marido relapso, ausente, que traía sistematicamente sua esposa e que quando traído partiu, sem pensar duas vezes, para ameaças de morte contra sua ex-esposa e seu amante!

Imagem impecável? Os irmãos West iriam demolir a imagem de Elvis para sempre. Ele seria retratado como um viciado em drogas, paranóico e armado até os dentes. Uma pessoa que usava de sua fama e dinheiro para manipular as mulheres de sua vida, as tratando como meros objetos de domínio, sem valor algum! Um típico cidadão norte-americano acima do bem e do mal? Elvis teria anos depois sua imagem manchada pelos arquivos secretos do FBI que o retratavam como um reacionário de direita, que estava a favor da guerra do Vietnã e contra os movimentos pacifistas, que conspirava contra outros artistas, citando nominalmente ao próprio presidente Nixon os efeitos nocivos de pessoas como os Beatles e Jane Fonda! Quando Elvis soube que sua imagem seria tão atacada dessa forma entrou em desespero! Ele, que sempre zelou para manter uma imagem pública impecável, agora via ruir seu castelo de cartas pela publicação de um único livro! O Que fazer agora? Elvis tinha que virar o jogo e sair da defensiva de qualquer maneira. Logo lembrou do velho conselho de Tom Parker: "A melhor defesa é o ataque!". Ele tinha que começar a mandar no jogo novamente, voltar a dar as cartas urgentemente! Porém como ele faria isso agora? Teria tempo para uma reação?

Apesar de seus esforços o livro acabou sendo lançado. Elvis imediatamente providenciou uma cópia e ficou chocado com o teor do texto. E depois de pouco tempo o livro finalmente chegou em suas mãos. Ele se isolou. No canto mais reservado de seu quarto, Elvis, sentado em uma grande poltrona, passou lentamente seus dedos sobre as páginas daquele livro que prometia destruir sua imagem. Ele pareceu querer se esconder, fugir para algum lugar. Sua leitura se tornou penosa, sofrida. Seu semblante era de extrema preocupação. O espírito ficou visivelmente estarrecido e o corpo deixou transparecer esse estado de perplexidade em pequenos e mínimos detalhes: na testa franzida, no olhar vidrado, na pupila dilatada. Suas mãos foram virando todas as páginas, lentamente. O cantor não conseguia tirar seus olhos do texto e praticamente devorou cada capítulo de uma só vez. Sua fisionomia ficou abatida, pesada, sofrida, como alguém que carregava o peso do mundo em suas costas. Cada minuto pareceu uma eternidade e essa realmente não parece mais ter fim. Elvis nesse momento de extrema solidão e desespero terminou finalmente as últimas palavras do mais demolidor livro já escrito sobre ele: "Elvis, What Happened?".

Aquilo que mais temia e que acreditava piamente que não iria acontecer estava agora ali materializado em suas mãos. Sua vida privada exposta finalmente ao grande público de maneira cruel, explícita e nada lisonjeira. O Elvis Presley que emerge de suas letras era a antítese de tudo o que artista tentou construir ao longo de tantos anos de carreira. Sua tão intocável imagem perante o público agora era violentamente agredida. Ao final da leitura Elvis o colocou de lado e passou a refletir sobre o que deveria fazer dali em diante. O estrago realmente já estava feito, agora Elvis pensava numa forma de contornar toda essa delicada situação. Como combater a traição de seus antigos amigos e "guarda-costas", que em troca de dinheiro venderam ao primeiro interessado os maiores segredos de uma das pessoas mais famosas do mundo? Como combater a difamação que estava sendo feita a ele? Como contestar algo dessa magnitude?

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 35

O jogo estava acabado? Será que Tom Parker, um dos maiores apostadores de Las Vegas, iria perder mais uma rodada? Logo ele que se considerava um excelente jogador? E Elvis? Estaria definitivamente morto artisticamente? Quem acompanhou toda a carreira deles não apostaria muito nisso. Se um rótulo lhes servia bem, esse era o de "sobreviventes". A morte da carreira de Elvis já havia sido anunciada várias vezes ao longo dos anos. Quando ele foi servir o exército em 1958, por exemplo, todos acreditavam que ele seria facilmente esquecido por seus fãs adolescentes. Que o Rock'n'Roll era apenas uma moda estúpida ouvida por jovens sem cérebro, que era apenas uma música selvagem que só servia para incentivar a delinqüência juvenil ou como decretou Sinatra o Rock seria apenas "a música de todo delinqüente com costeletas da face da terra!". Elvis não só voltou como demonstrou que ainda tinha várias cartas na manga. Comandado pelo Coronel Parker Elvis teve sua imagem limpa e devidamente empacotada para a típica família WASP norte-americana. Ele gravou discos excelentes como "Elvis is Back!" e "Something For Everybody" mostrando que não apenas continuava a ser um astro como também poderia ainda produzir material musical de excepcional qualidade artística.

E esse pacote até que serviu bem aos propósitos de Parker durante um bom tempo. Porém como tudo em excesso é prejudicial o "Elvis embalado, pasteurizado e plastificado para seu consumo familiar" começou a virar uma peça de museu rapidamente, totalmente dissociado do que estava acontecendo no mundo nos anos 60. Nada era mais absurdo do que um roqueiro posando de bom moço durante os anos da contra cultura sessentista. Os filmes eram limpos demais, infantis demais, bobinhos demais, e o pior, as musiquinhas eram ruins demais, de doer. De símbolo revolucionário Elvis passou para símbolo reacionário, uma mudança drástica demais. Quem iria ter como ídolo um cara que cantava para cachorros dentro de um helicóptero sobrevoando o Hawaii? Nenhum "bicho grilho" iria dar bola para tamanha caretice. Elvis ainda era um artista extremamente talentoso, porém o material que lhe era dado pelos estúdios de cinema para compor as trilhas sonoras de seus filmes começaram a perder gradativamente a qualidade e por volta de 1964 Elvis começou a gravar bobagens vergonhosas. Depois de passar dez anos em Hollywood estrelando os mais estúpidos filmes musicais já realizados, todos também concordavam que ele já era, que estava liquidado.

Mas Elvis renasceu em 1968 e 1969 e ganhou uma sobrevida naquela que para muitos foi sua fase mais inspirada e relevante. A nova "ressurreição" do astro durou até 1973. Seu pico aconteceu com o "Aloha From Hawaii", mas depois de sua exibição o cantor novamente estagnou. Voltou para Las Vegas e começou a sua velha rotina de concertos. E agora? Elvis ressuscitaria uma terceira vez? Seria ele o verdadeiro Lázaro do século XX?... Bem, os dados ainda estavam rolando na mente de Tom Parker. O jogo ainda não chegara ao seu final. Em vista disso o velho astuto chegou a conclusão que era hora de trazer um novo desafio para Elvis. Pensando no seu especial da NBC o Coronel achou que certamente a TV poderia ser a resposta. Só havia um problema em encarar um novo projeto como esse e tentar transformá-lo em um novo renascimento de Elvis: não havia mais nenhuma novidade envolvida em sua realização. Em 1968 todos estavam aguardando ansiosamente em assistir Elvis novamente cantando ao vivo, com jagueta de couro e repertório selvagem, mas em 1977 todos já sabiam que Elvis estava cansado, esgotado em turnês praticamente sem interrupção em seus últimos oito anos de estrada.

Que novidade haveria em mais um show de Elvis Presley a ser transmitido pela TV? Além disso o roteiro do especial seria por demais rotineiro e sem nenhuma inovação. Nem ao menos foi preparada uma nova lista de canções para Elvis apresentar na TV. Enfim, não seria um novo especial de televisão (que acabou sendo o Elvis in Concert) que iria alavancar a carreira debilitada de Elvis naquela ocasião. Mas todos os problemas que Elvis vinha enfrentando em sua vida profissional não se comparariam com o que ele estava prestes a enfrentar: a traição daqueles que sempre foram considerados grandes companheiros e amigos, que estavam ao seu lado desde os tempos de escola. Elvis não sabia, mas havia criado várias cobras ao longo do anos que iriam dar o bote sem pensar duas vezes, sem dó e nem piedade. Tudo aconteceu porque, no final de sua vida, Elvis despediu grande parte da chamada Máfia de Memphis. A razão oficial foi corte de despesas. Não seria nenhuma novidade pois Elvis vinha eternamente em luta para colocar suas contas em ordem e o gasto excessivo de pessoal deveria ser contido. Vernon Presley, notório pão duro, foi o grande incentivador desse ato. Tom Parker, que nunca gostou da inutilidade deles, também assinou embaixo. O que Elvis não antecipou foi que eles iriam assinar contratos milionários para revelar ao público os segredos mais bem guardados do cantor. A tempestade estava próxima...

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 34

Ao invés de viajar até Nashville para gravar seus novos álbuns em estúdios de última geração, Elvis decidiu que não viajaria mais, pois estava mesmo farto de tudo. Ao invés de se deslocar até o estúdio B, a RCA deveria os equipamentos de sua estrutura móvel para Graceland para registrar canções em um ambiente de amadorismo impensado para um artista de seu porte. Se Maomé não vai até a montanha, então que a montanha venha até Maomé! Meses depois da morte de Elvis, Felton Jarvis confidenciou a amigos do ramo que tinha muitos projetos para o cantor, entre eles o velho sonho de gravar um LP apenas com canções ao estilo de Mario Lanza (um dos grandes ídolos de Elvis) ou então gravar um novo disco apenas de Rocks clássicos dos anos 50, como bem fez John Lennon em 1975 com seu disco "Rock'n'Roll". Infelizmente nada disso foi adiante. Elvis parecia bem mais preocupado em colecionar armas, distintivos, pílulas e garotas (não necessariamente nessa ordem) do que investir em um projeto sério para levantar sua carreira, que vinha patinando desde 1974. Concentrado em shows que nada tinham de inovador no aspecto artístico, preso a um eterno repertório repetitivo Elvis foi se transformando ao longo dos anos em um artista tipicamente "nostálgico", "Revival", sem conseguir abrir uma linha de diálogo com os jovens dos anos 70. Em vista disso seu papel de grande pioneiro da revolução musical ocorrida nos anos 50 foi ficando cada vez mais ofuscado.

Artistas coadjuvantes, como Chuck Berry e Little Richard, que nos anos 1950 sequer poderiam ser comparados a Elvis em termos de importância, foram crescendo em prestígio e fama, enquanto que Presley nitidamente descia a ladeira em seus momentos finais, seguindo um caminho bem oposto aos dos demais pioneiros da primeira geração roqueira. Também pudera, como convencer um jovem dos anos 70 que Elvis era um dos pais do Rock'n'Roll com canções como "Solitaire", "The Last Farewell" e "Hurt"? Nada mais anacrônico, certamente. Eram músicas bonitas, mas não tinham nada a ver com o bravo Rock´n´Roll. "Minha intenção era dar uma sacudidela em Elvis no final de sua carreira. Voltar aos mesmos pontos revolucionários de 1956 ou 1969 mas não houve como fazer isso, sinceramente" - afirmou depois Felton Jarvis. Certamente não havia mais como fazer isso em 1976 ou 1977, por exemplo. Elvis não tinha mais nenhuma intenção em mudar nada, enquanto houvesse público em seus shows e seus discos pagassem o custo de suas produções e deixasse uma pequena margem de lucro à RCA, para Elvis tudo estaria bem. Comodismo? Certamente, porém seria mais correto afirmar que Elvis abraçava cada vez mais um sentimento de resignação em seus últimos momentos. Se Elvis não estava nem aí para nada, isso não poderia ser dito em relação aos demais membros das organizações Presley. O Coronel estava preocupado pois sua fonte estava secando lentamente aos olhos de todos. Já que não fazia mais filmes e como seus discos já não atingiam as primeiras posições nas principais paradas a renda de Elvis agora se resumia em suas apresentações ao vivo. Para Parker isso era preocupante. Em reunião com executivos da RCA, Parker tentou convencê-los de que Elvis iria efetuar mudanças significativas em suas futuras gravações.

Com sua conhecida lábia levou todos na conversa e convenceu os chefões da multinacional que Elvis iria novamente se tornar um grande vendedor de discos, que ele tinha grandes planos envolvendo mudança de estilo e repertório. Essa última parte de suas promessas era certamente a mais complicada de se cumprir. Era óbvio que os discos de Elvis não empolgavam mais nem a crítica e nem muito menos ao público. Alguns de seus álbuns tiveram vendas bem desanimadoras nos últimos anos. Para contrabalancear o pessimismo dos contadores da gravadora e seus números desabonadores, o Coronel tentou demonstrar muito otimismo em relação ao futuro. Tudo não passaria de uma fase passageira. A época de vacas magras iria passar, segundo o Coronel. Mas apesar dessa postura demonstrada aos executivos Parker estava realmente bastante preocupado em seu íntimo. Ele foi notando que a maré estava virando contra Elvis (e contra ele, por tabela!). De uma hora para outra todas as empresas que compraram o passe de Elvis agora tinham queixas e reclamações a fazer. Eles tinham pago caro pelo produto Elvis e agora queriam o retorno concretizado em muitos lucros, coisa que não vinha ocorrendo. Depois de se reunir com a descontente RCA, Parker teve que enfrentar a cadeia Hilton, que tinha uma longa série de reclamações contra Elvis Presley. O próprio dono do Hotel Hilton agora demonstrava desinteresse e muita má vontade em renovar o contrato de Elvis. Suas atitudes fora do comum, chegando ao ponto de proferir ofensas em pleno palco à própria administração da cadeia de Hotéis, havia pegado muito mal. Além disso havia muitas críticas sobre Elvis e seu pouco empenho durante os concertos.

Certamente, nos últimos anos as críticas ruins estavam em todas as partes. Para alguns Elvis não se comportava com profissionalismo, se apresentando apenas para a banda, ignorando o público, fazendo monólogos sem fim e sem sentido e contando piadas sem graça em demasia, isso quando conseguia acabar as canções pois o esquecimento das letras havia se tornado um problema bem mais sério. Enfim, o contexto não era nada positivo para Elvis naquele momento em sua carreira. Para completar o que por si só já era muito ruim havia ainda uma série de boatos sobre atitudes nem um pouco convencionais em sua vida pessoal. Tudo isso levou Elvis a um impasse sobre sua situação no Hilton. Muito provavelmente se não tivesse morrido em 1977 Elvis teria recebido cartão vermelho de seus patrões de Las Vegas e sido demitido. Numa de suas últimas temporadas na cidade o Las Vegas Hilton fez o Coronel Parker assinar um termo de responsabilidade sobre as coisas ditas por Elvis no palco. Isso ficou bem claro após uma apresentação onde Elvis ameaçou arrancar a língua de um funcionário do hotel pela raiz após ele supostamente ter espalhado fofocas sobre o uso de drogas por parte do cantor. Era uma ameaça pública e o Hilton não iria assumir processos criminais em nome de Elvis. Esse fato inclusive foi bem desgastante para Presley e sua equipe. Tudo aconteceu porque esse funcionário do hotel entrou em sua suíte para recolher a sujeira do local. Uma vez chegando lá se deparou com Elvis no sofá da sala principal de seus aposentos. Presley parecia fora de si, estava mal e inconsciente. Como o sujeito era um linguarudo ele logo começou a espalhar para outros funcionários os boatos de que havia flagrado Elvis chapadão, cheio de cocaína na cabeça, completamente viajado em seu quarto. Chegou a ponto de dizer que suas narinas estavam cheias de pó branco! Quando Elvis soube da fofoca (afinal elas sempre vão e voltam às suas origens) ele explodiu de raiva! Elvis ficou tão nervoso que chegou a pegar suas pistolas para ir atrás do rapaz - e só foi convencido a desistir disso após muita conversa com os caras da máfia de Memphis. Quando subiu ao palco naquela noite ele estava enfurecido e começou a soltar palavrões e ameaças contra o tal sujeito fofoqueiro. Um fato lamentável que só trouxe ainda mais publicidade para os rumores. Sem querer Elvis acabou alimentando ainda mais as fofocas, infelizmente.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 33

Quando voltou do exército em 1960 Elvis estava convencido de que deveria desenvolver e promover uma carreira no cinema. Para isso até mesmo sua carreira musical deveria ser deixada de lado, afinal, como o próprio Elvis declarou certa vez: "Cantores surgem e desaparecem. Mas se você for um bom ator pode ficar por aí durante muitos anos!". É isso mesmo, Elvis não colocava mais tanta fé em seu fantástico talento musical e resolveu investir em seus opacos talentos melodramáticos. O resultado dessa forma de pensar foi terrível e o artista pagou caro por tentar seguir por esse equivocado caminho. Em pouco tempo o astro viu sua estrela se apagar lentamente. Estrelando um filme ruim atrás do outro Elvis foi facilmente substituído no gosto musical pelos jovens. Grupos musicais como os Beatles surgiram e dominaram completamente o cenário musical enquanto que Elvis, com suas infantis trilhas sonoras, patinava e sofria para atingir o topo das paradas.

Apesar do sucesso de seus primeiros filmes durante os anos 1960 o público logo se cansou dos roteiros repetitivos e das músicas sem valor artístico. A partir de 1967 os discos de Elvis passavam vergonha nas listas das paradas norte-americanas. Sua última trilha sonora, Speedway, conseguiu atingir um vexatório 82º lugar na lista dos mais vendidos. Uma posição nada digna de um cantor que era considerado o "Rei do Rock". Era o fim, a carreira de Elvis como ator havia fracassado miseravelmente. Além de ter que lidar com a frustração de nunca ter conseguido desenvolver uma carreira sólida em Hollywood, Elvis ainda teve que arcar, nos últimos momentos de sua carreira, com uma série de decisões erradas tomadas por seu empresário, o que o fez ficar tristemente preso em contratos que o posicionavam como um cantor de cassinos em Las Vegas.

Nem seu velho sonho de cantar em outros países se concretizou e até mesmo seus mais recentes discos de estúdio não conseguiam uma boa resposta em termos de vendas nas paradas. Com tantos infortúnios, Elvis se isolou. Segundo Rick Stanley apenas a química do Dr. Nick conseguia trazer o astro de volta à vida. Para encarar uma nova sessão de estúdio ou fazer uma nova maratona de apresentações, Elvis tinha que ser medicado para segurar o pique e o ânimo. O próprio Rick relembra: "A alegria de Elvis após tomar tantas pílulas não era natural mas sim artificial. Muitas vezes notávamos que Elvis estava 'alto' um pouco além da conta! Ele não se resumia a rir mas a dar sonoras gargalhadas, qualquer piada o fazia desabar de rir! Ele não ficava apenas 'alegre' mas extremamente 'feliz', além do ponto, me entendem? Bem essa não é uma atitude de alguém realmente feliz e sim um reflexo do que ele estava tomando!"

Traição, drogas, fracassos na carreira, problemas com peso, enfim. Os fatores são muitos. De qualquer forma tudo levou o cantor Elvis Presley a um estado depressivo constante do qual nunca mais se recuperou. Talvez a fama tenha se transformado numa grande armadilha. Talvez o fato de ser famoso o tenha inibido de procurar a ajuda médica correta de que tanto necessitava. Talvez o fato dos fãs idealizarem uma pessoa acima do bem e do mal, perfeita e divina, tenha feito com que Elvis tivesse que enfrentar os diversos problemas que acompanham um estado depressivo de forma completamente solitária. Afinal sua doença jamais deveria vir à tona publicamente! Além disso aquela pessoa que aparecia nas capas dos discos e filmes jamais poderia ser uma pessoa acometida de uma doença tão estigmatizada! Isso, claro, na ótica da indústria que tanto o explorou em vida. Quem sabe se todos os seus mais graves problemas não tenham tido apenas uma única gênesis? A verdade porém nunca saberemos ao certo. De qualquer forma toda essa situação acabou levando Elvis inexoravelmente para aquele amanhecer em 16 de agosto de 1977

No final de sua vida Elvis estagnou artisticamente. Não havia mais nenhum traço do grande revolucionário cultural que um dia ele foi. O artista Elvis Presley deliberadamente colocou sua carreira no piloto automático e deitou sobre suas glórias passadas. Felton Jarvis, seu produtor desde os anos 60, tentava de todas as formas levar Elvis à frente, impulsionar mudanças mas tudo ia por água abaixo durante as sessões de gravação. Elvis demonstrava desinteresse em promover mudanças, apatia na escolha do repertório e falta de ânimo em gravar material novo e desafiador. Ao invés disso Elvis começou a apostar apenas no certo e seguro e seguiu gravando suas baladas chorosas e seus countrys tradicionalistas que certamente iriam cair no gosto do sulista americano médio. Rock'n'Roll? Elvis só se lembrava deles para cantar versões medíocres em seus concertos, com a clara finalidade de não deixar as apresentações caírem na monotonia. Certamente essa atitude era decepcionante para quem ostentava o pomposo título de "Rei do Rock". Na visão de Jarvis o cantor Elvis não tinha mais nenhuma motivação em sua trajetória artística e sua função agora era de alguma forma motivá-lo, incentivá-lo, levantar a poeira de sua outrora lustrosa carreira... Infelizmente a animação de Felton Jarvis esbarrava na apatia de Elvis. Ele nem ao menos se dava ao trabalho de ir a um estúdio de gravação profissional, seja em Nashville, seja em Memphis.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 32

"Apesar de tudo temos a autópsia dele afirmando que certamente ele não morreu de uma overdose de drogas. Na verdade foi uma série de fatores, que juntos, causaram sua morte." - e prossegue Esposito - "Não estou dizendo que as drogas não tenham tido uma influência sobre sua morte ou que elas não contribuíram com o colapso de seu coração naquele dia. Tampouco estou dizendo que os remédios o mantinham saudável ou algo assim. Nada disso. Mas você tem que lembrar que ele morreu de uma doença no coração. Sim, ele estava tomando muitas pílulas em seus anos finais mas é errado afirmar que Elvis morreu de uma overdose de drogas. Não houve overdose, o seu coração apenas disse: 'É o bastante'".

Para Joe Esposito muitos fatos que aconteceram acabaram levando o cantor a um estado de depressão cada vez mais presente e forte, o que agravou ainda mais sua saúde, de uma forma geral, e cita exemplos de acontecimentos que de uma forma ou outra atingiam indiretamente Elvis: "Veja, acima de tudo eu quero que as pessoas entendam que Elvis era apenas outro ser humano com talentos dotados de Deus, que ninguém mais no mundo teve. Ele se machucava como você e eu. Ele tinha problemas como todos têm. As pessoas o colocaram em um pedestal. Certa vez Elvis fez uma declaração afirmando que a imagem de um artista e o verdadeiro ser humano atrás dessa fachada eram coisas distintas. É verdade, Elvis não era a imagem que mostrava nos palcos ou nos filmes. Ele se magoava quando o atingiam. Ele possuía sentimentos como todos nós. Ele ficava deprimido quando as pessoas comentavam seu estado físico. Você acha que alguém gostaria de ler uma crítica o humilhando por ter ganho um grande aumento de peso? De repente você vê as manchetes: 'Elvis, gordo e aos 40'. Isso vai machucar alguém, não importa quem seja. Todos nós temos um pouco de orgulho e ego para nós mesmos. Mas esse cara tem que tê-lo no ar, em volta do mundo. Tem que estar nas capas de revistas e isso machuca." Esse aliás é um dos consensos em torno da biografia de Elvis Presley. Tanto para Esposito como para todos os que viveram ao seu lado, tudo o que ocorreu de negativo em relação a Elvis no tocante a sua vida pessoal e profissional, acabou agravando ainda mais a sua já tão presente e crônica depressão.

Um dos mais graves problemas enfrentados por Elvis Presley em seus anos finais foi sua depressão crescente, tão bem retratada por Joe Esposito em seu depoimento. Nos últimos momentos de sua vida as pessoas que viviam ao lado do cantor testemunharam o longo declínio do artista nesse aspecto. Elvis, que nos anos 60 foi uma pessoa extremamente festiva e alegre entre os amigos, a ponto de promover praticamente uma festa por noite quando estava filmando em Hollywood, foi aos poucos se deixando dominar pela melancolia e angústia. Não era raro o cantor simplesmente se isolar do mundo quando estava em Graceland durante seus momentos de ócio. E se isolar não significava apenas não sair mais de sua mansão, mas sim nem ao menos sair mais de seu quarto para fazer suas refeições ao lado de seus amigos e familiares. Elvis, quando mergulhava profundamente em estado depressivo, não queria ver ou se socializar com mais ninguém.

Ele entrava em um estado tão enclausurado que chegava inclusive a espantar seus próprios empregados. Muitas vezes o prato de comida era simplesmente deixado na porta de seu quarto. Definitivamente Elvis não queria ver absolutamente ninguém! Vários são os fatores apontados pelos biógrafos que tentam justificar esse lamentável estado de espírito de Elvis nos derradeiros anos de vida. Para alguns o principal motivo de tanta depressão, angústia e tristeza, era o final decepcionante de seu casamento. Nada surpreendeu mais Elvis do que saber que sua amada esposa Priscilla Presley o havia simplesmente traído com seu próprio instrutor de Karatê, Mike Stone. Este fato deixou Elvis extremamente chocado e sem saber o que fazer! Em um primeiro momento e sem raciocinar de forma equilibrada, Elvis tentou resolver tudo ao velho estilo sulista, chegando inclusive a ameaçar de morte sua esposa e seu amante! Mas passado algum tempo desistiu da idéia após ser aconselhado por seu vocalista de apoio e amigo, J.D. Sumner. Esse fato por si só serviu apenas para deixá-lo ainda mais deprimido. Mas não era só em aspectos pessoais que podemos encontrar os vários motivos de Elvis a desenvolver uma depressão cada vez mais acentuada e crescente. Sua carreira também não ajudava. Vários de seus planos foram por água abaixo com o passar do tempo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 31

Joe Esposito, em recente entrevista, procurou desfazer essa imagem de um Elvis Presley completamente submisso ao tirânico Tom Parker. Perguntado sobre a recusa de Parker para Elvis fazer a refilmagem de "Nasce uma estrela" (com Barba Streisand), um dos símbolos máximos da teoria "Elvis, marionete de Tom", ele explicou: "As pessoas esquecem que Elvis e o Coronel formavam um time. Elvis não era uma pessoa fácil de manipular. Ele era uma pessoa muito obstinada com as coisas. Todos não percebem que quando ele colocava sua mente contra alguma coisa, você não conseguia mais conversar com ele sobre isso. Ele fazia o que queria. Definitivamente não foi o Coronel que recusou o convite para filmar "Nasce uma estrela". Elvis é que não queria mais fazê-lo após uma conversa. Eu estava lá com Elvis, Barbra Streisand, Jon Peters e o Coronel. A idéia era fabulosa, era a chance de Elvis retomar com estilo sua carreira de ator, que muitos considerava morta e enterrada. Mas depois Elvis pensou e percebeu que o diretor iria ser Jon Peters, namorado de Barbra. Ele percebeu com isso que não teria nenhum controle sobre o resultado final. Ele definitivamente não queria Peters na direção do filme, mas alguém com talento e que não fosse tão íntimo assim da atriz principal. Para Elvis isso iria prejudicar o resultado final, porém ele não tinha como falar isso pessoalmente e abertamente para Barbra. Além disso Elvis estava certo que Barbra, de personalidade extremamente forte e dominadora, iria tomar o controle absoluto sobre isso. O ego de Elvis era muito grande, assim como o de Barbra. Elvis achou que iria perder o controle durante as filmagens. Elvis sentiu que iria entrar em algo que não teria controle. Então ele disse a Parker que ele fizesse uma proposta inaceitável, como pedir uma fabulosa soma de dinheiro que não poderia ser bancada pelo estúdio. E assim Parker o fez. Depois Elvis comentou comigo: 'Deixei o Coronel levar a culpa, ele não se importa com isso'. O Coronel errou muitas vezes durante a carreira de Elvis, ele não era perfeito.

Joe Esposito então desmistifica uma das grandes histórias mal contadas da carreira de Elvis. Com isso ele quer deixar claro que não apenas o Coronel dava suas notas desafinadas na carreira do cantor, mas que ele, Elvis Presley, também era o autor de muitas e muitas notas dissonantes produzidas ao longo dos anos... Joe Esposito foi, durante grande parte da carreira de Elvis Presley, uma das pessoas mais próximas a ele. Além de confidente, amigo e ajudante, Esposito também conseguiu um feito que poucos caras da Máfia de Memphis conseguiram: ser também reconhecido como uma pessoa de valor por ninguém menos do que Tom Parker e a esposa de Elvis, Priscilla Presley. Com essa vantagem em especial Esposito transitou livremente pelos dois pólos da carreira do cantor, tanto compartilhando de sua vida pessoal como profissional, aonde chegou a trabalhar por longo tempo com o Coronel, participando inclusive de muitas decisões que foram tomadas ao longo dos anos envolvendo os rumos que Elvis tomaria dali pra frente. Nada mais natural do que considerá-lo como uma das grandes testemunhas oculares do que efetivamente aconteceu com Elvis em seus anos finais. Ele não apenas ouviu dizer ou leu sobra a história de Elvis, ele a vivenciou. Em vista disso qualquer de seus comentários ou observações é extremamente relevante. Para Joe Esposito o grande problema envolvendo Elvis Presley em seus derradeiros anos não se resumia aos aspectos puramente profissionais ou aos caminhos, muitas vezes equivocados, que ele trilhou.

O grande problema sobre Elvis era estritamente pessoal. Para Esposito chegou um ponto em que ninguém mais poderia ajudá-lo, apenas Elvis poderia se salvar das armadilhas em que havia se enroscado. Questionado hoje, muitos anos após a morte do cantor, se a família ou os amigos poderiam ter salvo a vida de Elvis, o internando em uma clínica de reabilitação para viciados em drogas, por exemplo, numa verdadeira intervenção pessoal sobre ele, Esposito dá sua conclusão sobre o assunto: "Bem, naqueles tempos não pensávamos sequer nessa possibilidade. Fazer uma intervenção em Elvis?! Naquele tempo você não poderia fazer isso. Estamos falando de muitos anos atrás. Estamos falando de um tempo em que apenas seu pai teria os meios legais de fazer algo desse tipo. Certamente Vernon tentou de algum modo, penso inclusive que ele deveria ter sido um pouco mais firme e incisivo sobre essa questão, mas na realidade ninguém tinha controle sobre Elvis e não podíamos fazer nada nesse sentido. Teríamos sido presos e jogados na cadeia por rapto, para falar a verdade. Hoje, esse tipo de coisa é bem mais comum, de qualquer forma nunca ouvi falar em fazer algo desse tipo em alguém tão famoso quanto Elvis".

Para Esposito a grande questão envolvendo Elvis em seus anos finais passa necessariamente por seu uso e abuso de remédios, algo que o limitava, que o inibia a tentar novos caminhos e promover mudanças artísticas no que vinha apresentando em seus momentos finais. Como alguém iria promover algum tipo de mudança significativa se toda sua atenção era desviada para tantos problemas pessoais?! Não havia brecha para que Elvis pensasse seriamente sobre nada, no que diz respeito aos erros e acertos que Tom Parker ia promovendo ao longo do tempo. Com a palavra Esposito: "Certamente havia um sério problema. Ele certamente não engolia tantas pílulas quanto o que vemos em livros e revistas. Mas havia um sério problema envolvido certamente. Elvis tinha uma forte constituição física e era o tipo de pessoa que tomaria algumas pílulas para dormir, só que elas não fariam o mesmo efeito após um certo tempo. Então certamente, duas horas mais tarde, ele tomaria mais algumas. E ele fazia isso com todos os remédios que ingeria. Tomando um monte deles ele acabou imune aos seus efeitos. Para promover os mesmos efeitos ele teria que necessariamente aumentar as doses gradativamente e isso virava um círculo vicioso. Daqui a
pouco a mesma quantidade já não faria mais efeito e então ele aumentaria mais ainda as doses uma segunda vez e assim sucessivamente...

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 30

No novo país, sem emprego e sem perspectivas, Andreas finalmente conseguiu arranjar uma instituição que o aceitasse. Foi assim, tirando novos documentos, alegando que os originais havia sido furtados, que Andreas forjou uma nova documentação e começou a sua nova vida na América, logo no lugar ideal onde ganharia finalmente a legitimação que seu novo personagem tanto necessitava: o exército. É justamente nesse ponto que os primeiros registros oficiais trazem um pouco da história do novo Tom Parker, recém chegado na América. O importante a se frisar sobre toda essa teoria é de que ela vem para reforçar ainda mais as verdadeiras razões que levaram Parker a tomar várias e várias decisões prejudiciais à carreira de Elvis Presley. Se tudo o que foi levantado por Alanna Nash realmente for verdadeiro então finalmente podemos compreender porque Elvis nunca fez shows fora dos EUA, porque ele foi tão desperdiçado como artista e porque nunca trilhou novos e gloriosos caminhos quando já era um verdadeiro mito. A pergunta seguinte agora se refere ao próprio Elvis: Qual foi afinal o tamanho de sua própria culpa? De que forma sua personalidade vulnerável e inconstante contribuiu decisivamente para que as coisas chegassem no ponto em que chegou?

Em sua autobiografia Priscilla Presley chama a atenção dos leitores para uma peculiaridade do modo de agir de Elvis ao longo dos anos. Ela traz à tona o fato de Elvis sempre abaixar a cabeça para Tom Parker, não importando quais fossem suas decisões. Priscilla lembra que Elvis sempre se portou como o líder absoluto dentro de seu grupo de amigos, mandando e demandando em todos, porém na presença de Parker Elvis ficava visivelmente diminuído e sem forças para enfrentá-lo. Com o longo dos anos e sua crescente dependência de drogas a situação só fez piorar, até que chegou o ponto em que Elvis simplesmente desistiu de se importar com sua carreira e sua própria vida. Elvis tinha uma personalidade sujeita a desenvolver vícios. Ele sempre procurava evitar os problemas de sua vida, pensando seriamente que se não os enfrentasse, eles desapareceriam!

Para alguém que sempre fugiu assim nada mais incentivador do que procurar a fuga no uso de drogas. Perceba que conforme sua vida ia entrando num beco sem saída (traição de Priscilla, queda na sua popularidade etc) ele gradativamente ia também aumentando seu consumo de drogas perigosas. Como ele próprio disse ao seu meio irmão: "Prefiro estar inconsciente do que desgraçado". Isso demonstra bem que ele próprio tinha plena consciência do que acontecia em sua vida! Fugir para não enfrentar os problemas... O fato de ter se tornado uma celebridade cedo demais também contribuiu para que ele vivesse dentro de uma bolha de alienação, muitas vezes se considerando um ser completamente iluminado e acima dos demais mortais (tanto que chegou ao ponto de querer curar as pessoas com as mãos!!!).

Sua alienação e sua necessidade crescente de viver em um hedonismo sem fim trouxe sérias conseqüências: a primeira sentida em sua vida profissional e a segunda no aspecto pessoal. Como artista ele deixou sua carreira afundar em vários buracos negros ao longo da vida (filmes, Las Vegas, etc) e na vida pessoal a história se repete: traído pela esposa, roubado por seus próprios empregados, manipulado a exaustão por seu empresário... enfim, com tantas coisas em desordem só sobrou mesmo a fuga nas pílulas que o mantinham inconsciente e alheio ao mundo ao seu redor. Elvis, de certa forma, fugiu da vida e quando isso acontece, geralmente a vida é que deixa quem não a quer mais. Ora, esse era justamente o cenário perfeito para o Coronel Tom Parker tomar o completo controle e se alguém deve ser culpado será justamente seu empresário dominador, manipulador e coercitivo. Mas será mesmo?

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 29

Para entender completamente as razões de Tom Parker, o empresário de Elvis, é preciso voltar na história. Primeira metade do século XX. Costa de Nova Iorque. A estátua da Liberdade saúda mais um navio de imigrantes que chegava na América. A terra da oportunidade dava as boas-vindas para mais um grande grupo de europeus que, espremidos na classe econômica, em navios extremamente lotados, chegavam com o coração cheio de sonhos e ambições à afamada "Terra dos sonhos". Embora fosse inverno e ele sentisse muito frio no convés do navio que viajava, o jovem holandês Andreas (nome real do homem que assumiria a falsa identidade de Tom Parker nos Estados Unidos anos depois), apenas mais um entre tantos imigrantes do velho mundo, estava feliz e mais do que tudo, aliviado. Feliz porque finalmente chegava ao seu destino, a tão sonhada América. Aliviado, porque deixava atrás de si, na Holanda, um fato que iria atormentá-lo até o final de seus dias. Porém para Andreas, naquele exato momento, o que importava era contemplar todos os arranha céus da nova cidade, linda, exuberante, esplêndida que agora seus olhos viam, Nova Iorque era um sonho, era o novo horizonte que se abria em sua vida.

O passado ficava para trás e o que realmente importava era pôr seus pés no novo país em que chegara, os Estados Unidos da América, e recomeçar sua vida do zero absoluto. Nascer de novo, se reinventar de uma forma radical. E foi assim, com todos esses sentimentos contraditórios, mas convergentes, que ele finalmente começou o seu próprio sonho americano, ou como dizia o lema sempre repetido pelos outros imigrantes durante a travessia do Atlântico Norte: "Vamos fazer juntos a América"! Ele estava decidido. A partir do momento em que finalmente pisasse nesse novo país ele iria deixar tudo para trás, inclusive sua própria identidade pessoal real. Daquele ponto em diante Andreas Cornelis van Kuijk, nascido na Holanda, deixava de existir. Assim que chegou no novo continente ele resolveu criar um outro nome para si, um novo local de nascimento, uma nova vida enfim. Desse ponto em diante Andreas deixava oficialmente de existir e nascia Thomas Andrew Parker, nascido em West Virginia, americano da gema, sulista, ciente de todas as tradições, enfim, o personagem criado por ele seria o supra-sumo do que ele próprio pensava ser o verdadeiro cidadão norte-americano. Tudo mentira, mas que iria lhe servir muito bem por décadas e décadas.

A pergunta vital nessa história é: por que razão Andreas tinha tanta necessidade e pressa de enterrar seu passado e viver a partir daí uma mentira que iria durar até o fim de seus dias? Por que, ao contrário dos demais imigrantes, sempre zelosos por sua própria cultura, Andreas nunca mais quis saber de voltar à sua terra natal e reencontrar seus próprios familiares? Que fato tão obscuro escondia sua história passada para que ele chegasse ao ponto de simplesmente riscar sua própria vida passada na Europa antes de chegar nos EUA? O que afinal aconteceu com Andreas antes dele embarcar naquele navio que o levou a América? Por que afinal ele nunca mais sequer cogitou colocar os pés novamente no velho continente?! Segundo Alanna Nash em seu livro "The Colonel: The Extraordinary Story of Colonel Tom Parker and Elvis Presley" Andreas (ou como todos o conhecemos, Tom Parker) na realidade não estava apenas imigrando para a América naquela data, mas sim fugindo da polícia holandesa, pois ele estava seriamente encrencado no espancamento, seguido de morte, de uma mulher e todos os indícios da investigação apontavam que ele, Tom Parker, havia assassinado a vítima.

Então, desesperado e com medo de ser preso pelo resto de seus dias, Parker simplesmente pegou o primeiro navio que encontrou e fugiu às pressas para o novo mundo, sem praticamente saber nada sobre o novo país em que chegava. É isso, Andreas Cornelis van Kuijk (que depois inventaria o personagem Tom Parker) na realidade nada mais era do que um homicida em fuga quando chegou ao novo destino! O que mais choca nessa tese é o fato de saber que foi justamente essa pessoa a responsável pelos rumos da carreira de um garoto sulista que iria ser conhecido nos quatro cantos do mundo muitos anos depois: Elvis Presley. Quando chegou na América, segundo Nash, a primeira providência de Andreas tomou foi simplesmente apagar todas as pistas que pudessem levar alguém a identificá-lo. Quem, senão um criminoso procurado, faria uma coisa dessas? E por uma dessas ironias do destino ele acabou encontrando por mero acaso com esse garoto pobre do Tennessee que parecia ter muito talento para explorar.

Para Elvis a raposa Andreas se apresentou como Tom Parker e como todos o conheciam assim, a farsa colou completamente. Parker assim assumiu o controle sobre a carreira de Elvis. Ele afinal de contas poderia fazer quase tudo nesse ramo de gerenciar sua carreira menos... viajar para o exterior, pois corria o sério risco de ser descoberto pelas autoridades americanas quando tentasse tirar seu passaporte. Afinal toda a sua documentação era forjada e falsificada. Não iria passar de jeito nenhum pelo departamento responsável do governo americano. Seria facilmente desmascarado, com risco de ser deportado e preso quando chegasse em algum aeroporto holandês. Assim Parker tomou sua decisão de jamais viajar para o exterior e isso significava que Elvis também não viajaria nunca para fora, afinal de contas se havia um medo maior do que ser preso para Parker era perder o controle absoluto sobre Elvis. No exterior o cantor poderia ser seduzido por grandes agências internacionais. Assim era melhor não ir para fora, nem ele e nem Elvis também. Dessa forma se tornou bem claro porque Elvis, artista mundialmente conhecido, jamais fez concertos fora dos Estados Unidos, a não ser poucas apresentações no Canadá nos distantes anos 1950. Como era pertinho, praticamente na fronteira, Parker não se sentiu ameaçado por essa rápida e rara excursão fora dos Estados Unidos. Fora isso, nada de colocar os sapatos de camurça azul em terras estrangeiras. Tom Parker, ou melhor dizendo, Andreas, não queria correr riscos maiores em ir para a cadeia e perder o controle sobre Elvis. Seria o fim de sua vida, literalmente.

Pablo Aluísio.