segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 24

Antes de tomar sua segunda rodada de remédios Elvis pedia aos seus assistentes que o ajudassem a ir ao banheiro. Mal conseguindo falar por causa de seu estado, Elvis puxava a camisa de Red West duas vezes para que ele o levantasse da cama junto a, geralmente, Rick Stanley. Os dois então seguravam Elvis em ambos os lados e o levavam até o banheiro luxuoso de sua suíte. Elvis mal podia andar em suas próprias pernas por estar tão turbinado por drogas pesadas. Poucos minutos depois eles o traziam de volta à cama. Rick Stanley relembra esses momentos difíceis: “Era muito triste presenciar Elvis nessas situações. Aqui estava essa pessoa, totalmente dependente de todos à sua volta, sendo tratado como uma criança pequena. Quando o colocava em sua cama perguntava a ele: ‘Está tudo bem Elvis? Tem certeza que não precisa de mais nada?’ Elvis mal conseguia mostrar reação nessas horas, ele simplesmente se virava para o lado e ia a nocaute novamente. O olhar estava vidrado, ele não conseguia manter a menor atenção ao que acontecia ao seu redor. Era muito deprimente testemunhar tudo isso”. Após se deitar Elvis novamente ia perdendo a consciência rapidamente, mergulhado totalmente em seu torpor químico, se afundando até o dia seguinte quando então tudo recomeçava novamente com as mesmas drogas, as mesmas situações aflitivas e... o mesmo fio da navalha...

Quando o relógio marcava dez da manhã era chegado o momento do terceiro ataque. Esse teria uma função complementar para as duas primeiras rodadas de drogas a que Elvis já tinha sido submetido nessa mesma noite. A intenção agora era completar o serviço iniciado com os ataques anteriores. De todos os procedimentos perigosos pelo qual Elvis passava esse era certamente o mais delicado. O menor erro poderia levá-lo facilmente à morte e por essa razão sempre era preciso a presença de um médico para evitar qualquer eventual problema, como por exemplo uma super dosagem de drogas que o levasse a uma overdose fatal. Tudo era feito com extremo cuidado e cautela. Nesse momento o cantor precisava de uma substância diferenciada. O médico mandava então seus assistentes virarem Elvis e com duas mechas de algodão introduzia drogas líquidas em suas narinas e finalizava o procedimento com uma dose de dexedrinas para dar partida em seu coração semi moribundo e evitar uma parada cardíaca causada por tantas substâncias circulando em seu corpo ao mesmo tempo. Elvis babava e revirava os olhos. Uma cena grotesca que deixaria o mais fanático fã de sua música em choque! Depois do terceiro ataque Elvis afundava e desabava, só conseguindo recobrar sua consciência no final da tarde. Como justificar tamanha agressão ao próprio organismo?! Com o tempo Elvis foi ficando totalmente à vontade na posição de usuário de drogas perigosas. Por mais incrível que isso possa parecer, Elvis estava sempre procurando os mais novos remédios do mercado. Mal recuperava sua consciência e ia folhear seu guia de drogas, que geralmente ficava à mão em seu quarto.

Assim que saía uma pílula nova, lá estava Elvis tentando dar um jeito de experimentar seus efeitos! Queria conferir as novidades, experimentá-las! Assim como um sujeito normal que deseja um bem de consumo novo qualquer todos os anos, Elvis desejava sempre experimentar a mais nova droga que a indústria farmacêutica colocava à venda! Segundo seu biógrafo Jerry Hopkins, Elvis era um "experimentador"! Do mesmo modo que ele queria o mais novo modelo extravagante de carro, ele queria adquirir a mais recente droga no mercado! Valium. Ethinamate. Dilaudid. Demerol. Percodan. Placidyl. Dexedrine. Biphetamine. Amytal. Quaalude. Carbrital. Ritalin. Não importa, assim que chegavam aos consumidores Elvis colocava sua tropa de médicos em ação para que as receitas chegassem logo nas suas mãos e ele mandasse seus capangas o mais rapidamente possível à farmácia local para comprar a nova química! Aos poucos Elvis foi ficando cada vez mais confortável com o uso desses remédios, afinal não eram drogas de rua, mas no final das contas também o deixavam chapado, dando um barato do qual Elvis não conseguia mais se livrar. Sob esse ponto de vista ele estava tão viciado em drogas como qualquer usuário de cocaína ou heroína na esquina. A única diferença era que as substâncias psicotrópicas eram vendidas em drogarias legais e não por traficantes perigosos. A comodidade era o grande diferencial para Elvis, embora ele no final de tudo pagasse caro por suas escolhas equivocadas.

Curiosamente Elvis odiava traficantes e usuários de drogas em geral. Em relação às drogas de rua Elvis acreditava que apenas a violência iria limpar a sociedade. Para ele deveria haver um choque de repressão violenta dentro da sociedade, com os traficantes e drogados sendo eliminados sem qualquer compaixão. Pena de morte para essa gente imunda. Chegou a dizer várias vezes: "Se os tiras quiserem minha ajuda, com meu arsenal pessoal, podem me chamar. Vou para as ruas e passo chumbo quente nessa escória". Ironicamente ele própria fazia a mesma coisa em sua vida privada. Era uma contradição impossível de contornar. Como vivia cercado de puxa sacos profissionais ninguém porém ousava contrariar seu pensamento fatalista. Elvis empunhava seus rifles de última geração, falava essas abobrinhas e todos concordavam em coro dizendo: "Sim Elvis, os drogados devem ser mortos!". Tão à vontade Elvis ficava nessa posição que nem mais se importava em comentar isso na presença de pessoas próximas a ele. Uma vez, durante uma conversa com a esposa de Red West, disse tranqüilamente: "Pat, eu já usei todas as drogas do mercado, e querida, acredite no que lhe digo, Dilaudid é a melhor!" Dilaudid era uma droga extremamente agressiva que causava forte dependência, sendo receitada geralmente para pacientes em estado terminal de câncer! Embora tivesse muitos problemas de saúde, a verdade era que Elvis usava muitas das drogas que tomava apenas para se sentir bem, no "alto", como se diz na gíria dos viciados em drogas. Nada mais do que isso! Se começava a sentir-se deprimido, Elvis logo tomava uma dose extra para desabar. Do mesmo modo, se algo o aborrecia ou o deixava triste, Elvis preferia simplesmente fugir da realidade à sua volta. Ele estava sempre se escondendo dos problemas, desabando sob efeitos de drogas pesadas. Elvis não queria enfrentar problemas, ele queria apenas se refugiar no torpor e prazer químico que estas drogas lhe proporcionavam. O preço a pagar seria muito alto, sua vida, no final desse caminho sem volta.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 23

Elvis também utilizava uma grande quantidade de remédios para emagrecer, mas em seus últimos anos eles não faziam mais efeito fazendo com que ele muitas vezes passasse uma péssima imagem durante os concertos. Um colunista de San Diego chegou ao ponto de chamá-lo de "glutão ao vivo" em sua coluna diária. Mas isso não o impediu de comer cada vez mais. Outro problema surgia por causa da comilança sem limites de Elvis. Com a palavra Rick Stanley: "Tínhamos de vigiar Elvis 24 horas por dia no final de sua vida! O simples ato de se alimentar agora significava risco. Ele simplesmente poderia apagar no meio das refeições e então era preciso socorrê-lo imediatamente pois caso contrário ele poderia morrer sufocado com a comida obstruindo sua garganta! Algumas vezes Elvis ficava tão fora de si durante uma refeição que sentava e parecia apalermado e era preciso vigiá-lo porque ele podia deixar um pedaço de hambúrguer preso na garganta. Em mais de uma ocasião eu o encontrei em choque em cima da cama, e tive de enfiar a mão em sua garganta e puxar coisas para fora! Pressionar seu peito. E era muito triste, você sabe. Quero dizer, este cara é apenas alguns anos mais velho do que eu, e eu o estou suspendendo e colocando meu braço em volta dele, perguntando: 'Patrão, você está bem? Tem certeza? Beba alguma água! Essa era uma situação muito triste sabe! De repente estávamos segurando Elvis nos braços perguntando: 'Chefe, tudo bem? Está respirando normalmente agora?' Era como uma criança bem pequena! Era uma situação muito triste mesmo!".

Em razão disso Elvis passou a se alimentar em seu próprio quarto onde poderia ser mais facilmente vigiado por seus capangas. Tudo era devorado na cama mesmo, pois uma pequena mesinha era colocada por sua companheira (que poderia ser sua namorada oficial ou qualquer outra garota de estoque que estivesse à disposição naquele momento). Enquanto ia se alimentando Elvis mandava ligar a enorme TV que ficava à sua frente. Brincando com o prato, se distraindo com algo que passava na tela, a comida acabava esfriando e Elvis pedia que outra quente lhe fosse servida. Isso era o pior de tudo, pois Elvis acabava comendo três a quatro vezes mais do que uma pessoa normal. Barriga cheia, Elvis se preparava para finalmente ir repousar seu espírito.

Em pouco tempo ele começava a sentir os efeitos do primeiro ataque e pedia que a comida fosse retirada de sua cama, pois caso contrário ele poderia apagar e desmaiar em cima da refeição. Isso já acontecera antes. Uma vez Linda o deixou por alguns minutos e quando voltou o encontrou com a cara enfiada dentro de um prato de sopa. Alarmada ela levantou rapidamente o rosto de Elvis e o salvou de literalmente morrer afogado em um prato de sopa! Para evitar que isso novamente acontecesse Elvis imediatamente mandava retirar a comida de sua frente quando ele percebia que iria apagar a qualquer momento. Então seus assistentes levavam a mesinha e o resto da comida embora e Elvis se aconchegava em seu leito para finalmente apagar.

Para Elvis sentir-se bem em sua cama king size era necessária uma dose extra de travesseiros e almofadas. O cantor gostava de dormir de lado, com uma almofada entre as pernas, posição que aliviava suas dores nas costas, problema que tinha se agravado nos últimos anos em intensidade após seu aumento de peso. Enquanto ele não perdia sua consciência, sua companhia feminina lia para ele algum trecho da bíblia ou alguma coleção de pensamentos de seus livros espirituais e esotéricos. Em pouco tempo os remédios agiam sobre seu sistema nervoso e Elvis logo adormecia. Adormecer é um eufemismo, na realidade Elvis apagava totalmente, de forma imediata. Em poucos segundos ele entrava em um sono profundo por causa das potentes drogas que havia ingerido momentos antes. Mas estava longe de ser um sono normal, como o das pessoas comuns. Era um sono artificial, induzido por remédios poderosos. Os efeitos só duravam quatro horas e quando Elvis começava a despertar era hora do segundo ataque. O principal objetivo dessa segunda rodada de coquetel químico era completar o serviço do primeiro ataque, ou seja, colocar Elvis em nocaute até a manhã do dia seguinte, pois caso contrário ele acordaria antes do tempo necessário para se recuperar totalmente.

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 22

A mistura de tantas drogas de uma só vez era um enorme risco e Elvis certamente arriscava sua vida todos os dias ao fazer uso de tantos medicamentos ao mesmo tempo. Elvis tinha plena consciência dos riscos que corria todos os dias, mas não se importava mais. O que realmente tinha importância para ele nessa fase final de sua vida era realmente ir a nocaute todas as manhãs e só acordar no final da tarde para fazer mais uma apresentação. Sua vida realmente se resumia nisso: fazer shows, ir para o hotel e desabar sob efeitos de drogas. Rick Stanley relembra: "Quando saía da cama havia uma grande quantidade de drogas excitantes. De um estado de torpor Elvis saltava rapidamente para um quadro de extrema agitação, após tomar as drogas! Ele ficava totalmente fora de ordem, ficava totalmente elétrico, matraqueando e falando sem parar, então seu médico tinha que novamente lhe aplicar algo para que ele voltasse ao normal."

O médico sempre ficava observando Elvis para ver como ele reagiria as doses que tomava pela manhã, se ele ficasse muito agitado não demorava muito e eles lhe aplicavam logo Valium ou qualquer coisa parecida e nesse vai e vem ele ficava 24 horas por dia medicado e muitas vezes perdia a noção das coisas, perdia a noção de tempo e espaço". Essa rotina, muitas vezes, fazia com que Elvis ficasse sem saber nem onde estava e nem onde se apresentava. Houve ocasiões em que ele entrou no palco sem nem ao menos saber em que cidade ou Estado estava! Não raras vezes se virava para Rick Stanley após o concerto e perguntava: "Onde estou?"

Depois de sofrer o primeiro ataque, seu médico particular se retirava do quarto. Então um terceiro assistente vindo diretamente da cozinha do hotel trazia sua última refeição antes de ir dormir: Três enormes chessburguers, dois ou três dos famosos sanduíches de banana, quatro a cinco bananas Splits, muita fritura e bacon, três a quatro refrigerantes, muitos doces e sorvetes... enfim, uma dieta nada saudável, um verdadeiro desastre nutricional para a saúde de qualquer pessoa. Não era por outro motivo que ele estava muitos quilos à frente de seu peso normal. Tudo era fruto da gulodice desenfreada do cantor, que nem mais se importava com sua aparência anormal e pesada no palco. Em relação à sua imagem pessoal, Elvis parecia não mais se importar. Ele estava gordo?! E daí?! Para o antigo símbolo de beleza masculina isso parecia não mais incomodar. Como muitos americanos de sua idade que nunca se cuidaram, Elvis era uma paródia triste da antiga imagem impecável que tanto impacto causou no passado. Considerado nos anos 50 um dos homens mais bonitos do mundo, Elvis agora só podia se lamentar e se entristecer ao se deparar consigo mesmo em frente ao espelho: pálido, gordo e envelhecido

Os anos de símbolo sexual há muito ficaram para trás. O que importava agora era se empapuçar de comida, até como uma forma de aliviar sua angústia e sua depressão cada vez mais crescente. A obesidade descontrolada de Elvis se tornava cada vez mais um sério problema para as organizações Presley, como bem relembra Rick Stanley: "A saúde de Elvis estava praticamente arruinada por seu estilo de vida. Elvis tinha hábitos alimentares realmente ruins. Todo mundo estava sempre tentando fazê-lo perder peso, mas era preciso ter cuidado ao fazer esse tipo de sugestão ou ele ficava furioso. Então sugeriram indiretamente, como, por exemplo, assegurando-se de que ele estava ao alcance do ouvido quando diziam a alguém coisas do tipo como: 'Eu tenho um amigo que perdeu um monte de peso comendo iogurte'. Então podia ser que mais tarde Elvis começasse a tomar iogurte. Ele arranjou aquelas pequenas vasilhas de iogurte com frutas, mas não adiantou porque ele comia 20 de uma vez e continuava comendo tanto quanto antes! A mesma coisa aconteceu com pêssegos. Red West lhe disse que pêssegos ajudava as pessoas a perderem peso rapidamente. A partir desse dia Elvis teve uma loucura passageira por pêssegos e comia esse tipo de fruta dia e noite. Mas não adiantou nada por causa de sua fome descontrolada. Ele comia uma dúzia de pêssegos de uma só vez e cuspia os caroços por toda parte, em todos os lugares. Algumas vezes ele os jogava no assoalho. Passou dos 113 quilos. Houve ocasiões em que tivemos que conseguir cintas de Saran Wrap, gigantescas mesmo, e apertar seu estômago! Aquilo tornava quase impossível a respiração. Na última parte de sua vida ele não estava realmente acertando muitas notas. Apenas as tartamudeava, indo através dos movimentos!".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 21

Las Vegas. Anos 1970. Suíte privativa do cantor Elvis Presley no Hilton. 15:45 hs da tarde. Temperatura interna do ambiente: 9º C (ar condicionado funcionando à toda). Escuridão completa, nenhuma luz. Silenciosamente a porta do frio e escuro quarto é aberta lentamente, com o máximo de cuidado para não provocar nenhum ruído mais forte. Após essa excessiva cautela, para não interromper de forma abrupta o sono do Rei do Rock, duas pessoas adentram o ambiente. O primeiro é um dos muitos assistentes pessoais de Elvis, Red West, que imediatamente se dirige à janela e abre uma pequena aresta para deixar entrar um mínimo de raio de sol natural no ambiente altamente artificial em que Elvis passa seus dias. O cantor abre lentamente um dos olhos e nota a presença de seus valetes reais. Ele está péssimo, olhos vermelhos, cabelo despenteado, totalmente desnorteado, sem a menor disposição de se levantar de seu leito e encarar mais uma noite de trabalho. O astro levará pelo menos de 30 a 45 minutos para conseguir acordar totalmente. Um procedimento longo, penoso e nada agradável para ele. A segunda pessoa a entrar no quarto, seu médico particular, senta-se ao lado da cama de Elvis e logo abre sua pequena maleta, dando início ao longo processo de verdadeiro renascimento do artista. Elvis não consegue mais viver sem o total acompanhamento e assistência de seus homens.

O simples ato de ir dormir ou acordar acaba virando uma operação de guerra, um verdadeiro esforço coletivo envolvendo várias pessoas de sua entourage privada, cada uma com uma função determinada e precisa. Elvis havia ido dormir na noite anterior às quatro horas da manhã. Assim como seu despertar, o simples ato de ir dormir denotava uma verdadeira organização de assistentes e médicos cujo único objetivo era proporcionar uma noite tranqüila de sono ao cantor. E tudo se repetia depois para acordá-lo na tarde do dia seguinte e retirá-lo do coquetel químico a que havia sido exposto na noite anterior. O processo de fazer Elvis dormir e se levantar se constituía de três etapas básicas, que ele próprio acabou apelidando de “ataques”. Era uma ironia, mas tinha sua dose de verdade, pois era nisso mesmo que se constituía, um verdadeiro “ataque” ao seu deteriorado organismo, pois ele era literalmente “nocauteado” para finalmente conseguir pregar os olhos e chegar ao próximo dia descansado e com uma boa noite de sono. Os ataques eram feitos por cinco a oito de seus assistentes e um médico. Uma verdadeira equipe que ficava de plantão ao lado de seu quarto, para em horas pré-determinadas entrar em ação.

Antes do primeiro ataque, Elvis vestia seu pijama preferido, de náilon azul com suas iniciais escritas na parte da frente, logo acima de seu bolso frontal. Então ele se virava para seu assistente e dizia: “Me dá o primeiro ataque!”. Sentado na beira da cama, seu assistente lhe entregava um envelope amarelo com onze, isso mesmo, onze pílulas e um copo de água que Elvis logo colocava ao seu lado, acima do criado mudo. Elvis então enchia a mão com todas essas pílulas coloridas e tentava engolir todas de uma só vez, coisa que lhe divertia bastante, e que achava o maior barato. Então seu assistente pessoal lhe dava a água e assim Elvis finalmente se deitava. Nesse momento a função desse primeiro cara da Máfia de Memphis (geralmente Red ou Sonny West) estava concluída e ele se retirava do quarto. Agora era a vez de seu médico particular entrar em serviço para lhe aplicar três injeções de Demerol, em ambos os lados de sua espinha, logo abaixo das omoplatas. Lentamente as injeções eram aplicadas, com Elvis deitado de costas em sua cama e com o pijama levantado.

Geralmente o Dr Nick fazia esse trabalho, mas também poderia ser qualquer outro médico da longa lista de doutores assalariados de Elvis. O Médico então conferia se as dosagens de pílulas para Elvis estavam corretas e começava a preparar um novo envelope amarelo para o segundo “ataque”. Nesse cardápio químico que Elvis tomava diariamente havia muitos barbitúricos: Amytal, Carbital e Seconal. Todos causadores de forte dependência e cujos efeitos são facilmente tolerados pelo organismo, o que os leva a perderem o efeito, sendo necessário então o aumento de dose para garantir a mesma eficácia. No segundo envelope ainda havia duas drogas extremamente perigosas: Placidyl e Quaalude. Para finalizar o ataque, Valium e Valmid. Em ocasiões mais aflitivas o Dr Nick ainda acrescentava doses extras de Demerol, usada muitas vezes como substituta da morfina e causadora de forte dependência.

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 20

Priscilla Presley resumiu toda a situação em seu livro “Elvis e Eu”. Na sua autobiografia ela escreveu: “Por volta de 1976 todos estavam alarmados com seu estado mental, além da aparência física. O rosto estava inchado, o corpo anormalmente pesado. Quanto mais as pessoas tentavam lhe falar a respeito, mais ele insistia que estava tudo bem. O Coronel estava preocupado até mesmo com as ações de Elvis no palco. Elvis começava a esquecer as letras e a recorrer às partituras. Comportava-se de maneira imprevista, ignorando a audiência e se apresentando apenas para a banda. Alguns shows foram cancelados e ninguém podia prever se ele apareceria ou não no palco! A classe, o charme e o orgulho que durante os últimos anos havia caracterizado as apresentações ao vivo de Elvis Presley beiravam agora à paródia.

Frustrado pela falta de desafios a cada show que passava, Elvis passou a recorrer à pura exuberância, simbolizada por seus trajes, cada um mais requintado do que o anterior, com uma abundância de pedras falsas, tachas e franjas. Havia capas enormes e cintos incômodos. Ele se apresentava com trajes que acrescentavam quinze quilos a seu peso. Era como se estivesse determinado a conquistar a audiência apenas por sua aparência, em vez de confiar apenas em seu talento! Houve ocasiões, durante o último ano, em que ele foi criticado pela maneira como se relacionava com o publico. Algumas pessoas comentaram que ele gracejava demais com os músicos e não terminava as canções. Um dos rapazes (da máfia de Memphis) disse a Elvis que ele estava se parecendo cada vez mais com Liberace. Sua esperança era de que Elvis compreendesse a insinuação e recuperasse o bom senso, passando a se confiar apenas em seu talento! Mas Elvis insistira desde o início afirmando: 'Só quero ler as críticas positivas. Não quero tomar conhecimento de qualquer comentário negativo!'.

Como adolescente ele fora resguardado das críticas negativas por Gladys. Quando fazia seus álbuns ela só colava os recortes favoráveis. Se não tivesse sido tão protegido, Elvis poderia ter tido uma perspectiva melhor de sua carreira. Pelo menos estaria a par de tudo o que se dizia a seu respeito e talvez usasse alguns comentários de maneira construtiva!”. Elvis realmente preferia fugir das críticas negativas mas Tom Parker fazia questão de ler tudo! E ele estava preocupado com o que estava sendo escrito, tanto que resolveu levar Elvis para longe das grandes cidades, levando o cantor para localidades menores, de preferência no sul do país onde ele tinha sua legião de fãs mais fiéis. Isso não significaria que Elvis deixaria de se apresentar nos grandes centros, nada disso, mas em menor escala do que antes. Nas grandes cidades Elvis era selvagemente atacado pela imprensa após seus concertos. Os críticos não o poupavam e cada mínimo deslize seu virava manchete de jornal no dia seguinte! Para Tom Parker era importante se retirar desses locais até Elvis se recuperar, era necessário preservar sua já tão abalada imagem de desgastes desnecessários. Porém o empresário do cantor percebeu logo que apenas essa estratégia não bastava.

O Coronel Parker viu que era hora de agir, de ter uma conversa franca, de homem para homem, com Elvis! Ele tinha decidido que iria enfrentar o cantor em toda essa situação. Iria falar francamente com ele, expor todos os problemas. Não seria uma tarefa fácil pois Elvis, como bem resumiu Lamar Fike, era "dessa classe de pessoas que não gostam de se defrontar com a realidade. Elvis sempre confiava que desconhecendo os problemas, estes desapareciam!" Mas não desapareceram, pelo contrário, eles aumentaram. Numa noite David Stanley, filho de Dee, a madrasta de Elvis, resolveu perguntar diretamente a ele porque tomava tantos remédios, porque se submetia a uma rotina tão mortificante, tão sinistra e perigosa? Elvis ficou surpreso com a sinceridade de David e resolveu também lhe ser o mais sincero possível. Dar o troco na mesma moeda! Elvis tirou seus óculos lentamente, o encarou e foi de uma sinceridade atroz: "David..." - disse em tom melancólico - "...Prefiro estar inconsciente do que desgraçado!..." O silêncio que se seguiu a essa frase foi absoluto! Não havia mais dúvidas... A tempestade estava próxima...

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 19

No meio de todo esse cochicho começaram a surgir os primeiros boatos. Já em 1972 os hóspedes e funcionários do Hilton comentavam baixinho pelos corredores que o problema principal de Elvis era um vício profundo em cocaína. Não era verdade, mas como ninguém sabia a realidade de seus problemas com remédios, todos chegaram a conclusão que Elvis estava daquele jeito por causa de seu vício na droga. Quando Elvis soube dos boatos explodiu! O cantor era muito sensível em relação à sua imagem. Elvis gritou para os caras da máfia de Memphis: "O que essas pessoas estão pensando? Quem usa drogas são os Beatles e não eu!"

A verdade porém era que antes de estourar com seus capangas, Elvis deveria ter feito uma auto-análise e verificar que seu estado era realmente deplorável. Alguns de seus últimos shows em Las Vegas tinham sido lamentáveis, causando uma repercussão tão negativa que a direção do Hilton chamou Tom Parker para uma reunião a portas fechadas. Naquela ocasião o conselho diretor da cadeia de hotéis comunicou, sem rodeios, a Tom Parker que a partir de agora tudo o que acontecesse nas apresentações de Elvis seria de sua exclusiva responsabilidade! Na realidade a rede deixou subentendido para o empresário que se Elvis não se endireitasse logo, eles muito provavelmente iriam cancelar todas as temporadas futuras do cantor em Las Vegas. A possibilidade de uma rescisão de contrato ficou na mente de todos!

Todos estavam temerosos pelas repercussões e eles tinham que manter a imagem da rede Hilton de qualquer forma. Parker ficou preocupado após essa reunião! A mensagem tinha sido clara. O Coronel ficou inquieto. O que ele iria fazer agora? Mesmo quando Elvis se apresentava bem, as pessoas só conseguiam reparar em sua imagem, em seu incrível aumento de peso! Também pudera, durante vinte anos Elvis Presley foi símbolo de beleza, sua imagem era conhecida nos quatro cantos do mundo! Ele sempre foi considerado pelas fãs como um dos homens mais belos do planeta! De repente ele aparecia muito mal na frente de todas essas pessoas que ainda idolatravam aquela imagem impecável! Só poderia causar um grande choque mesmo! Às vezes, porém, Elvis nem ao menos conseguia fazer um bom concerto, em certos momentos ele realmente mal conseguia cantar as músicas até o final.

Havia muita enrolação e piadas, mas musicalidade não. O pior de tudo é que sua vida na estrada e em Las Vegas era uma verdadeira montanha russa. Numa noite ele poderia cantar muito bem, se apresentar de forma excelente, mesmo estando fora de seu peso, mas poderia muito bem acontecer que na noite seguinte Elvis se apresentasse da pior forma possível, visivelmente alterado pelo abuso de drogas, deixando todos, da banda a platéia, constrangidos com sua presença! Na verdade ninguém poderia ter certeza absoluta do que iria acontecer no palco durante essa fase da vida dele. Era um jogo de dados e isso gerava muito stress e ansiedade em todos os que estavam envolvidos nas excursões. Não é por outra razão que muitos músicos da TCB Band estavam dispostos a deixar Elvis em seus últimos momentos. Além da falta de renovação musical, que os deixavam frustrados como artistas que eram, havia ainda a enorme ansiedade decorrente do que iria acontecer nos shows por causa dos problemas pessoais de Elvis!

Fora isso tinham ainda que lidar com a má remuneração paga por Tom Parker e a desorganização total das agendas de shows, que só eram lhes repassadas em cima da hora, fazendo com que eles perdessem a oportunidade de fazer outros trabalhos com outros artistas em estúdio. Com isso perdiam uma importante fonte de renda extra. Ser um músico da banda de Elvis não estava mais compensando para esses verdadeiros heróis anônimos! Muitos chegaram mesmo a comunicar pessoalmente a Elvis que estavam indo embora e só ficaram porque Elvis resolveu oferecer muito dinheiro para eles, muitas vezes pagando de seu próprio bolso para evitar a debandada. Caso contrário era certo que muitos deles teriam ido embora já em 1975 ou 1976.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 18

Rick Stanley, uma das pessoas mais próximas de Elvis em seus últimos dias de vida, acusou, sem meias palavras, alguns médicos do cantor pela sua morte: “Em troca de receitas, quatro ou cinco médicos ganharam caríssimos presentes de Elvis”. A situação foi de certa forma confirmada por Ulisses Jones, uma das primeiras pessoas que estiveram no local da morte de Elvis para tentar salvar sua vida, pois em sua opinião algo foi deliberadamente mexido no banheiro onde Elvis morreu, escondendo evidências do local da sua morte, sumindo com caixas de remédios que estavam no chão e destruindo provas materiais da cena da morte de Elvis.

Em seu depoimento ele afirmou: “Assim que cheguei no local onde Elvis tinha morrido, vi vários frascos de remédios sobre o lavatório e no chão e imaginei, imediatamente, tratar-se de uma OD (overdose de drogas). Como de praxe pedi para que fossem recolhidos e entregues todos os remédios para as autoridades, mas as caixas de remédios nunca foram parar nas mãos dos policiais que estiveram no banheiro em que Elvis morreu. Alguém sumiu com as evidências, com todas as provas que poderiam ajudar a auxiliar no esclarecimento do que realmente aconteceu!” finalizou Ulisses.

Embora Elvis tratasse todos esses potentes medicamentos como simples caixinhas coloridas, eles estavam na realidade o levando a um caminho sem volta. As drogas foram minando seu organismo de forma gradual. Conforme a dependência ia aumentando os efeitos iam se tornando menos eficazes. Para manter a mesma eficácia Elvis tinha que sempre aumentar a dosagem, chegando ao ponto em que ele começou a andar literalmente no fio da navalha. Imagine o stress: ao mesmo tempo em que manipulava suas autoridades médicas, Elvis tinha que levar adiante sua vida, se apresentar quase todos os dias e ainda manter tudo em segredo. Um dia essa rotina iria levar Elvis ao colapso nervoso. E não deu outra. Durante muitos anos o real estado de Elvis era um segredo mantido a sete chaves pela organização Presley. A imagem de Elvis estava intocada e para o público ele era um exemplo, tanto em sua vida profissional como em sua vida pessoal.

Mas as coisas começaram a ficar complicadas quando Elvis começou a transparecer todos os seus problemas nos palcos, durante suas apresentações ao vivo. Quando Elvis começou a tropeçar na frente do público a imprensa começou a ficar de olho nele pra valer! Embora tivesse uma constituição física de um touro, o organismo de Elvis começou a fraquejar, principalmente a partir de 1974. Seus abusos iriam agora cobrar seu preço e expor Elvis e seus problemas na frente de todos. O Rei estava nu! O cantor começou a esquecer sistematicamente as letras, a se mostrar totalmente sem energia e sem interesse pelas apresentações, a fazer monólogos confusos e sem graça, a criar atritos com membros da banda e a interromper os concertos para se recuperar nos bastidores.

Isso quando ele conseguia entrar no palco, pois em algumas ocasiões ele sequer tinha condições de sair do hotel em que estava hospedado para fazer os concertos. Em Baton Rouge, Louisiana, por exemplo, Elvis nem conseguiu se levantar da cama na hora do show, totalmente prostrado, em narcose profunda! Além disso ele nunca mais iria caminhar para uma renovação em seus concertos, fazendo shows muito semelhantes entre si ao longo dos anos, quase sempre com as mesmas canções habituais tocadas repetidamente, ad nauseam. Cada apresentação sofrível de Elvis fomentava cada vez mais boatos. As pessoas saíam perplexas de suas apresentações, se perguntando o que havia acontecido com ele! Por que Elvis estava tão obeso, tão confuso e tão desnorteado?

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 17

Já que o ser humano Elvis era totalmente preso ao Elvis mito então ele teria que tirar algum proveito dessa situação. Talvez a fama o ajudasse de alguma forma na busca da satisfação de suas necessidades químicas mais urgentes. O fato de ser uma celebridade iria certamente lhe abrir muitas portas! O que importava para Elvis nesse período nebuloso de sua vida era suprir seu vício! Ele não se importava mais, nessa altura dos acontecimentos, com o que as pessoas próximas a ele pensavam de tudo o que estava acontecendo. Enquanto houvesse medicação suficiente para sua satisfação pessoal e enquanto tudo estivesse encoberto de seus fãs e imprensa, para ele tudo estaria bem. Elvis nunca reconheceu para si mesmo que estava perdido, que precisava urgentemente de um tratamento de desintoxicação. Em sua forma de ver as coisas ele era apenas uma pessoa doente que precisava desses remédios para se curar. Ele não se considerava um viciado em drogas, mas sim uma pessoa enferma.

Infelizmente só ele pensava dessa forma. Era fácil perceber que ainda estava na fase de negação. Por essa razão, para continuar firme em sua jornada insana de hedonismo químico travestido de ciclo de auto destruição, Elvis precisaria de alguma ajuda externa e facilmente ele a teria. Para quem dependia de sua fama para viver seria fácil. Em relação e eles Elvis não teria com o que se preocupar. Mas havia também as pessoas que não eram subordinadas diretamente a ele. Para essas a antiga solução ao velho estilo "Tom Parker": muito dinheiro vivo, em cash! Segundo a peça de acusação que foi elaborada contra um dos médicos de Elvis, para contornar essa delicada situação ele simplesmente os comprava de forma indireta. Isso não era uma coisa feita de forma ostensiva, nada disso, era tudo muito bem simulado entre eles. Em troca de presentes caros como carros de alto luxo, por exemplo, os médicos receitavam as drogas que Elvis tanto queria.

Era uma simulação muito bem orquestrada, uma peça de teatro macabra! O cantor simulava estar seriamente doente e os médicos fingiam que ele realmente precisava de uma quantidade absurda de medicamentos e os receitava. Claro que Elvis sofria de alguns problemas de saúde, como glaucoma, lesões no cólon e no aparelho digestivo e depressão, muitos deles agravados inclusive pelo uso abusivo de remédios, mas nada poderia justificar um abuso tão grande de drogas por uma só pessoa! Elvis podia até estar doente, mas não em proporções tão alarmantes que justificassem o uso constante de enormes doses de drogas tão diferentes entre si. A verdade pura e simples é que Elvis havia perdido totalmente o controle da situação, principalmente em meados dos anos 70. As coisas ficaram mais claras em 1981, quando a justiça norte americana provou que só um de seus médicos receitou mais de dezenove mil doses de narcóticos e barbitúricos diversos para Elvis em seus dois últimos anos e meio de vida.

Isso dava uma média de mais ou menos 25 ou 30 diferentes remédios por dia, entre pílulas e injeções! No seu receituário diário havia Quaalude (conhecida como "Wall Banger", que traduzindo significa "Bater a cabeça na parede"), Amytal, Dexedrine, Biphetamine, Percodan, Demerol, Valium, Codeína, Dilaudid, a preferida de Elvis, enfim... uma diversidade absurda e mortal. Foi com base nessas informações que o Dr. Nick, médico particular de Elvis, foi a julgamento no começo dos anos 80. Para os promotores do caso, mesmo correndo o risco de ser investigado um dos médicos não se fez de tímido e prescreveu uma quantidade mais do que excessiva para seu cliente famoso! Em troca Elvis comprou uma casa para ele no valor de 350 mil dólares, deu carros importados e financiou um centro clínico no valor de 5.5 milhões de dólares. Como se isso não bastasse, ainda investiu em negócios de seu médico particular, como a construção de um complexo esportivo!

Mas isso era apenas uma peça dentro do complexo mosaico de médicos fornecedores de que Elvis se utilizava. Não raro ele pegava seu avião e atravessava o país em busca de uma nova fonte de medicamentos, pois a anterior já havia se esgotado. Todos esses fatos só servem para termos uma idéia de como era grave o estado de Elvis Presley em seus últimos meses de vida! No final das contas, apesar da promotoria ter demonstrado com amplo material probatório a má fé do médico em receitar tantos remédios em troca de favores, um dos médicos foi inocentado na esfera penal alegando que as drogas eram consumidas por todo o pessoal envolvido nas turnês e não apenas por Elvis, fato que foi negado por vários membros da máfia de Memphis e da própria banda do cantor. Lamar Fike afirmou: "Eu nunca tomaria coisas como Demerol ou Quaalude na minha vida!" Já Red West foi mais incisivo e disse depois do julgamento: "Aquilo foi o médico que inventou uma história sem pé, nem cabeça! Eu não sou e nunca fui um usuário desse tipo de substância, se quiserem me submeto até a exames para provar o que digo!".

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 16

Ninguém queria se indispor com alguém que, no fim das contas, era o único meio de renda e sobrevivência deles. Vernon vivia às custas de Elvis há muitos anos e por isso não tinha a independência necessária para confrontá-lo. Parker era um sanguessuga astuto que vivera toda a vida explorando ao máximo o talento de Elvis. Que moral tinham essas pessoas para confrontar Elvis? Com seus amigos e amores a coisa era bem pior. Os caras da Máfia de Memphis eram uns inúteis que ganhavam apenas para serem “amigos” de Elvis. Como Parker bem resumiu, a vida deles se limitava a simplesmente puxar o saco do cantor e nada mais. E as garotas que Elvis se relacionava na época eram, na maioria das vezes, bonecas vazias de beleza. A última mulher com inteligência que passou na sua vida, aquela que poderia exercer alguma força, Linda, estava fora do jogo.

Havia várias garotas que eram rainhas da beleza ao seu redor mas era só. Segundo algumas pessoas mais próximas a Elvis elas nunca gostaram de Elvis de verdade. Não raras vezes, quando Elvis afundava em torpor químico, muitas simplesmente se levantavam e iam embora, dormir em suas casas. No fundo as garotas apenas queriam ganhar seu naco do tesouro real e quem sabe garantir seu futuro. Para muitos as beldades nunca demonstraram carinho verdadeiro por Elvis, que na época era, em resumo, apenas um homem muito mais velho do que elas, com sérios problemas pessoais e de saúde. Elvis percebeu a situação e tentou ganhar (ou melhor comprar) seus afetos mas nunca conseguiu. Tudo soava falso.

De vez em quando Elvis as presenteava com um anel de diamantes. A beldade aceitava, mas não mudava sua conduta em relação a ele. Ficava esperando por outro mimo. Um dos membros da Máfia de Memphis resumiu tudo: “Nenhuma daquelas jovens garotas amava Elvis de verdade, isso era até óbvio para todos. Em seu estado elas não queriam ficar ao lado dele, na verdade ninguém queria, ninguém queria presenciar aquele tipo de situação, era muito triste!”. O próprio Elvis também não aceitava qualquer sugestão de que estaria precisando de ajuda. Ele encarava os remédios apenas como um meio de superar problemas de saúde que ele imaginava ter. Não se pode negar que de fato Elvis sofria de vários problemas e que eles foram indiretamente os responsáveis por seu vício, mas o fato é que a partir do momento em que se percebe que há um problema de dependência química é hora de procurar por ajuda médica e psicológica urgentemente. Elvis porém se recusava a pensar dessa forma e agia com extrema raiva com quem sugerisse algo nesse sentido.

Nesse quadro tenebroso Elvis ficou sozinho. De um lado seus fãs mais abobados que simplesmente o endeusavam e esqueciam (ou preferiam ignorar) que ele era antes de tudo um ser humano com um sério problema particular. Ficar aplaudindo com os olhos arregalados e o sorriso escancarado não iria lhe ajudar em nada! Do outro lado a coisa era bem pior, pois a imprensa marrom estava sempre massacrando Elvis. As manchetes, principalmente dos jornais das grandes cidades, praticamente versavam sobre os mesmos assuntos quando queriam atacar o cantor: "Elvis aos 40, apavorado por ter perdido seu sex appeal!", "A misteriosa doença de Elvis Presley!", "Elvis: lenda decadente em sua própria era?", "Um Elvis sem inspiração satisfaz Vegas!" ou então "Elvis, gorducho e preguiçoso, se apresenta no Los Angeles Forum". Em sua vida reclusa Elvis se recusava a ler críticas negativas, mas algumas escapavam e ele tomava conhecimento. Nesses momentos tinha acessos de fúria, dando tiros para o alto!

Nesse jogo de empurra empurra não havia sobrado ninguém para tirar Elvis dessa situação deprimente, nenhum amigo, nenhuma amante, nenhum parente que lhe dissesse numa conversa franca: "Elvis, você está totalmente dependente de seu vício em drogas, chegou a hora de lhe ajudar, vamos internar você em uma clínica para que você se recupere dessa fase em que entrou. Vamos lhe ajudar!" Como essa mão amiga nunca surgiu porque todos resolveram lavar mesmo suas próprias mãos, Elvis simplesmente foi afundando cada vez mais... sozinho em seu drama pessoal...

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 15

Como todas essas drogas não eram vendidas em farmácias normais Elvis começou a pesquisar em livros e guias médicos algum tipo de substância que poderia servir como substituta daquelas que eram privativas do exército americano. Foi assim que começou um de seus maiores hobbies: ler e pesquisar sobre remédios novos no mercado. Durante anos Elvis brincou de tomar drogas, muitas vezes se auto medicando, usando um guia de remédios disponíveis no mercado escrito para leigos em medicina. Este livro acabou se tornando sua leitura preferida depois da Bíblia. Elvis estava sempre querendo conhecer as novas drogas, experimentá-las e sentir seus efeitos. Muitos desses medicamentos eram produtos químicos fortíssimos que causavam forte dependência, quando não receitadas de forma adequada por médicos ou usado para combater doenças para as quais eram prescritos. Muitos deles também só podiam ser comprados por receita médica, o que fazia com que Elvis sempre procurasse travar amizade com o maior número de médicos que pudesse. Até porque ninguém saberia ao certo quando ele precisaria deles. Por essa época Elvis começou a incluir em sua lista de assalariados vários doutores de Memphis e de outras regiões. Nunca se sabia ao certo quando ele precisaria da próxima dose. Precavido, Elvis começou a prezar da companhia desses profissionais e de vez em quando jogava um carro zero KM nas mãos deles.

Todos esses profissionais de saúde sabiam que estavam na presença de uma pessoa com sérios problemas com drogas e que todos os presentes dados por Elvis só tinha um objetivo: facilitar o acesso, o caminho para a aquisição dessas substâncias. Com uma receita prescrita nas mãos, Elvis teria sinal verde para saciar seu vício, que agora o estava consumindo totalmente, dia e noite. Conforme a dependência de Elvis ia atingindo níveis absurdos, os próprios médicos começaram a temer pela excessiva quantidade de comprimidos receitados. Para driblar uma possível investigação policial, os médicos de Elvis começaram a receitar as drogas em nomes de terceiros, para algum membro da máfia de Memphis ou então até mesmo para parentes dele. Não era raro haver um frasco de remédios no criado mudo de Elvis, com os nomes de Red e Sonny West ou até mesmo de Lisa Marie na caixa de drogas. Nos frascos era possível se ler: “Droga rigorosamente controlada, seguindo normas federais de saúde, com venda permitida apenas sob prescrição médica” e abaixo: “Droga prescrita para Lisa Marie Presley”.

Apesar dos nomes diversos, toda o estoque químico era consumido apenas por uma só pessoa: Elvis. Os demais, citados nas embalagens, muitas vezes, até ignoravam a existência desses remédios. Era uma farsa macabra. Os médicos sabiam que Elvis tinha problemas de dependência, mas faziam vista grossa, principalmente se estivessem com uma Mercedes recém dada de presente por ele, estacionada na entrada de seus consultórios. Qualquer estudante de medicina do 1º ano de curso sabe reconhecer um dependente: olhos vermelhos e lacrimejantes, olhar vidrado, conversação desconexa, desinteresse pela vida pessoal, confusão mental. Para um viciado tudo o que importa é a próxima dose. Nem a família, nem o trabalho, nem questões particulares, nada mais lhe despertava interesse. Aos poucos os seus freios morais e éticos foram sendo perdidos no labirinto químico em que se afundara. Elvis sabia que as pessoas ao seu redor conheciam o seu real estado de forte dependência química. Mas para superar e abafar tudo, ele se utilizava de dois artifícios: a sua autoridade pessoal e o seu poder financeiro.

Muitos hoje afirmam que Elvis teria que sofrer uma interdição pessoal, uma intervenção da família para, de forma forçada, se internar em uma clínica de recuperação. Com isso teriam salvado sua vida. Para os defensores dessa teoria Elvis morreu também por omissão de seus parentes e amigos, que nada fizeram para reverter seu quadro lastimável. Mas isso era muito improvável nos anos 1970. Na época isso nem era comum e ninguém tinha força moral para liderar uma coisa dessas! Para aqueles que viviam às suas custas, era muito complicado iniciar qualquer forma de censura ou interdição pessoal em relação a Elvis Presley. Mesmo as pessoas mais influentes na vida dele, como o seu pai Vernon e o Coronel Parker, só conseguiam ir até um certo limite.

Pablo Aluísio.