quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XIX

O Macaco ★★★
Algumas histórias só poderiam sair da mente doentia de Stephen King. Sim, doentia e de certo modo dono de uma criatividade sem fim, se bem que devo ser sincero nessas linhas, dessa vez o King não foi tão criativo como poderíamos esperar. Até porque essa coisa de brinquedos amaldiçoados já foi bem explorada pelo cinema de terror. Nos anos 80 já era uma coisa batida! Então realmente não tem tanta novidade nesse conto, mas vamos lá... A história gira em torno de um brinquedo, um macaco que toca tambor. E todas as vezes que ele desce suas baquetas uma desgraça acontece. As mais bizarras mortes acontecem. Superficialmente eles são designadas por acidentes mesmo, mas não se engane sobre isso, são maquiavélicas mortes promovidas pelo Macaco. 

Então surge esses dois irmãos que cruzam com o brinquedo do Macaco. Eles são gêmeos, mas com personalidades bem opostos. Enquanto um é mais sensível, o outro é um babaca irritante. E não demora muito para que eles entendam que o Macaco causa mortes por onde passa. Depois de várias delas, inclusive de sua mãe, eles decidem jogar o velho brinquedo em um poço. O tempo passa, os garotos se tornam adultos, viram pais e as mortes recomeçam. E fica a dúvida pois o Macaco foi jogado dentro do poço. Provavelmente alguém tirou o brinquedo de lá, abrindo de novo as portas do inferno. Salve-se quem puder...

Eu até me diverti com o filme, mas bem sabendo e com a consciência de esse novo filme é na verdade um prato requentado. Nada de muito novo. Como é uma obra do Stephen King despertou interesse, mas nada de muito especial você encontrará por aqui. De bom mesmo temos um humor negro que muitas vezes funciona bem. Acontece nas mortes, já que a maioria delas são bem bizarras, algumas feitas pra rir mesmo, por mais estranho que isso possa parecer. Pois é, como eu já escrevi, a mente do King tem dessas coisas. É bem doentia! 

Hypnotic - Ameaça Invisível ★★
Não gostei muito. Tem muitos clichês que o roteiro cai muitas vezes em suas próprias armadilhas. Na história temos um sujeito que lamenta a morte de sua filha e o fim de seu casamento. Essas são coisas colocadas como verdadeiras desde a primeira cena, mas calma lá, estamos na presença de uma daquelas histórias em que nada é realmente da forma que se passa na tela. O protagonista interpretado por um pouco envolvido Ben Affleck está na verdade lidando com uma agência do governo americano que usa grandes hipnotizadores para criarem novas realidades ao seu interesse. Então já deu para entender que o personagem do Affleck pode estar muito bem preso dentro de sua mente, pensando que sua realidade existe, mas que na verdade não passa de uma hipnose. 

E aqui está o maior problema dessa história. Em determinado ponto o espectador vai perder o chão embaixo dos seus pés. Nada mais vai parecer realidade. É uma reviravolta atrás da outra. Na quinta ou sexta vez que isso acontece a tendência de quem está assistindo ao filme é desistir de tudo, da história, dos personagens, de tudo. Cansei! É algo que se torna muito cansativo e até mesmo irritante. Afinal de roteiradas estamos cheios, não é verdade? Então o roteiro curte mesmo essa coisa de jogar na cara do espectador de que tudo que ele viu não existe, é hipnose. Então se levantar da cadeira e ir embora do cinema acaba virando uma grande tentação. Quem aguentar até o final saiba que a surpresa final (depois de tantas outras) nem é tão bem bolada assim. Eu até achei decepcionante! Ficamos com aquela sensação de que no fundo, no fundo, só perdemos um bom tempo vendo esse filme esquecível. Enfim, uma história desastrada e desastrosa. Não vale a pena. 

Contato Visceral ★★★
Vou logo colocando as cartas na mesa. Só vi esse filme por causa da Dakota Johnson. Além de ser bem bonita, é boa atriz. Gosto dela e de seu trabalho. Então me deparei casualmente com esse terror na Netflix e resolvi dar uma olhada. Não é nada muito marcante, mas dá um caldo, como se diz na gíria. Ela interpreta a namorada do protagonista. Esse é um barman em New Orleans. Trabalha em um daqueles bares que os americanos gostam, com sinucas e tudo mais. Um dia uma briga começa no estabelecimento. Um grupo de jovens universitários deixa o lugar, assustados com a briga, e deixam para trás um celular. O barman, interpretado pelo ator Armie Hammer, pega o celular caído no chão e leva pra casa. Sua intenção é obviamente devolver para o seu verdadeiro dono no dia seguinte.

Só que o tal celular tem um conteúdo bizarro, com fotos de rituais de magia negra, cabeças decepadas e tudo aquilo que já vimos em outros filmes de terror. Aquilo parece perturbar o barman e sua namorada (a beleza da Dakota). Em pouco tempo os dois começam a surtar um com o outro, adotando comportamentos bizarros, fora do padrão. Ele vai percebendo que seu emprego no bar está por um fio e seu relacionamento com a sua gata vai de mal a pior. De carta maneira passa a entender que ficou amaldiçoado ao ter contato com todo aquele tipo de magia negra, tão típica de New Orleans. 

Pois é, não espere por grande coisa, mas devo dizer que o filme é bem desenvolvido. Eu fiquei interessado até o fim. Fim esse que achei muito abrupto! É um daqueles roteiros que no final não vai perder tempo explicando nada para você. O espectador que tire suas próprias conclusões. No meu caso fiquei com a clara impressão que os produtores deixaram a porta aberta para futuras continuações (que até aqui ainda não aconteceram). Então é isso, um filme até bacaninha. Não vá assistir se você não curte terror de magia negra e nem tiver paciência com o horror cotidiano de um relacionamento falido. Ah, e se não gostar de baratas também não recomendo! Elas estão por todas as partes e fecham a cortina dessa história pouco usual e comum. Sim, o filme fede a baratas negras. Lamento...

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 9 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XVIII

O Brutalista
Esse filme conta a história do arquiteto  László Toth. Judeu, conseguiu sobreviver ao campo de concentração nazista para onde foi enviado. Em liberdade, decidiu ir embora para os Estados Unidos. Conseguiu um pequeno trabalho na loja de móveis de um amigo, mas a verdade é que sua realidade era bem dura nesses primeiros tempos, chegando a trabalhar como peão comum em obras de construção civil para sobreviver. Sua sorte mudou quando foi contratado pelos filhos de um milionário para melhorar a biblioteca de sua mansão. Com o tempo esse mesmo magnata chamado Harrison Lee Van Buren o contrataria para a obra de sua vida, uma grande construção feita inicialmente para a comunidade, mas que com o tempo ganhou ares de revolução na arquitetura moderna. O interessante é que depois ficamos sabendo que essa obra teria se inspirada na crueza e na brutalidade dos próprios campos de concentração. Então a denominação de brutalismo para esse tipo de arquitetura estava mais do que adequada. Sua grande genialidade foi tornar suas tristes e amargas lembranças em uma obra-prima! Transformar o pesadelo do passado em algo bom, bonito, para deleite das pessoas. 

Em linhas gerais esse é um bom filme. Para o ator Adrien Brody significou o Oscar de melhor ator. Um prêmio que teve sua dose de controvérsia. Isso porque descobriu-se depois que a Inteligência Artificial havia sido utilizada para melhorar seu sotaque estrangeiro! Pois é, nem tudo o que você ouvirá nesse filme veio diretamente da boca do ator, mas de uma máquina! A que ponto chegamos! De qualquer maneira não vou aqui desmerecer seu trabalho de atuação. Ele se entrega mesmo ao papel, principalmente nas cenas mais complicadas, como o abuso de drogas por parte do protagonista. Foi uma vida sofrida, mas que gerou bons e belos frutos. Esse tipo de história merece mesmo ser contada pelo cinema. 

Stuart Sutcliffe: O Beatle que Foi Esquecido
Documentário sobre esse Beatle que não chegou a ver o grande sucesso da banda. Ele morreu muito jovem, com apenas 21 anos de idade! Era grande amigo de John Lennon e apesar de não saber tocar direito foi colocado no grupo. Ele nunca saberia, por exemplo, que aquele pequeno grupos de amigos que tocavam covers de rocks americanos em boates de quinta categoria em Hamburgo, se tornaria a maior banda de rock da história!  Olhando para o passado foi algo bem trágico. Ele tinha toda uma vida pela frente, queria ser pintor, estava ao lado de uma garota alemã, a Astrid, que ele considerava o amor de sua vida. Assim morrer tão precocemente, realmente é uma história muito triste.

O que mais vale a pena nesse documentário, além de relembrar o próprio Stu, é o fato de que a história é contada por quem a viveu, em especial a própria Astrid. Essa mesmo história já foi contada pelo cinema no ótimo filme "Os Cinco Rapazes de Liverpool", mas aqui vemos as pessoas reais, relembrando os eventos reais. Não se trata de um roteiro para cinema. E nele ficamos sabendo que Stu morreu de uma hemorragia cerebral, causada por uma forte pancada. Lennon meio que se culpava de sua morte, pois houve mesmo um ato de violência entre os dois. Teria sido essa a causa de sua morte? Nunca saberemos ao certo, pois a verdade foi para o túmulo com quem a viveu! De qualquer forma podemos ver muitos paralelos entre ele e um de seus grandes ídolos, James Dean. Ele não apenas se parecia com Dean, mas de certa maneira viveu também uma tragédia pessoal muito semelhante. É a tal máxima de viver muito intensamente, de maneira rápida, mas de morrer jovem! Ele foi o James Dean da história dos Beatles e de quebra deixou sua voz imortalizada numa interessante versão em que cantava Love Me Tender. Mais anos 50 do que isso, impossível! 

Ingresso Para o Paraíso
Esse é um filme dos anos 90, mas produzido nesse ano. Complicado de entender não é mesmo? Eu explico! Esse roteiro bem soft e leve poderia ter sido muito bem escrito naquela que foi a década das comédias românticas. Não é à toa também que temos aqui dois astros dos anos 90, Julia Roberts e George Clooney. Só que o tempo voa e eles não podem mais viver o casalzinho apaixonado pois agora já são coroas e tudo mais. Então o roteiro os coloca como os pais de uma jovem que se forma em Direito e se torna advogada. Para celebrar ela faz uma viagem para a paradisíaca ilha de Bali, no Pacífico. Lugar bonito, com belas praias. Lá se apaixona por um jovem nativo. O casalzinho perde o juízo e decide se casar! Pior que isso, ela toma a decisão de jogar a carreira de advogada fora para viver esse amor na ilha... para sempre!

Claro que os pais ficam loucos quando descobrem isso e agora eles viajam para Bali com o firme propósito de colocar aquele casamento abaixo. Mesmo estando divorciados há anos e se detestando, eles seguem em frente, unidos agora por um objetivo comum. Mas calma, não pense que teremos pela frente um dramalhão daqueles. Eu disse que essa era uma comédia romântica dos anos 90, então tudo é muito suave, muito amigável, para não chocar ninguém! E apesar disso, dentro de suas pretensões bem modestas, o filme até que funciona para seu público alvo. Afinal quem for assistir a esse filme quer ver mesmo um filme leve, com belas paisagens do paraíso tropical e de quebra matar as saudades de seus antigos ídolos do cinema em uma década que já passou há 25 anos! Não tem nada de errado com isso. Nostalgia faz bem para a alma de algumas pessoas. 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XVII

O Conde de Monte Cristo
★★★
Dessa clássica história do livro de Dumas eu já assisti diversas versões. E nenhuma delas foi medíocre. Essa nova versão do cinema francês também não decepciona e de certa maneira traz um dos roteiros mais completos em termos de adaptação que já tive acesso, se dando o luxo de desenvolver melhor os personagens, mostrando detalhes do enredo, do contexto político e tudo mais. A produção também é luxuosa, com figurinos perfeitos e reconstituição de época acima de críticas. 

Claro que ao se optar por trazer muito mais do que as demais versões, isso iria resultar numa maior metragem do filme. Prepare-se pois são quase 3 horas de duração! Só que isso seria cansativo apenas numa sala de cinema. Em tempos de screaming o próprio espectador pode decidir ver tudo como se fosse uma minissérie, resultando em 3 episódios de 1 hora cada um. Assim o filme se torna muito mais palatável e interessante. 

Por fim, como referencial, eu nem pensaria duas vezes em dizer que essa foi uma das melhores versões que assisti do livro do Dumas. Está tudo aqui. Realmente não falta nada nesse roteiro muito bem escrito! Por isso se quiser mesmo conhecer esse romance e está com falta de tempo para ler o livro, nenhum outro filme seria mais indicado. Assista sem maiores receios. 

Lobos ★★★
O Homem é o Lobo do próprio Homem, já dizia o pensador Thomas Hobbes. E é mesmo! Não tenha dúvida disso! Se formos pensar bem, de modo reflexivo, apenas o ser humano é capaz de matar por puro prazer, cometendo atrocidades contra outros de sua própria espécie! E psicopatas matam desde cedo, ainda crianças e adolescentes. Seus alvos nessa fase da vida geralmente são pequenos animais. Basta ler a biografia de vários serial killers para entender bem esse aspecto. 

Na história desse filme temos uma boa amostra disso. Um homem meio estranho, um tanto antissocial e esquisito, levemente desonesto, acaba sendo demitido por roubar pequenas bijuterias de um caminhão baú onde faz mudanças. Seu patrão nem pensa duas vezes e o demite. Sem trabalho, ele acaba se interessando na história de animais que foram mortos nas redondezas onde mora. Então ele começa, por conta própria uma investigação. 

Nem preciso dizer que sua "caçada" ao assassino de animais o levará a bater de frente com um assassino em série muito real! Pois é, meus caros, ele termina na toca do lobo, literalmente. Nesse filme, apesar do título, você não encontrará lobos de verdade, apenas seres humanos que se comportam como as mais famintas e irracionais bestas assassinas das florestas. 

Rasputin - O Monge Louco ★★★
Christopher Lee interpretando o louco Rasputin?! Ora, meu caro, não precisava falar mais nada para que eu prontamente fosse assistir a esse clássico da Hammer. Você, prezado cinéfilo, aliás pode falar qualquer coisa sobre esse estúdio de cinema inglês, menos que os profissionais que lá trabalhavam não tinham classe. Isso eles tinham de sobra e isso fica claro em cada cena desse filme. Claro que não haveria como contar a história de Rasputin, com tantas nuances históricas, em um filme curto, feito nos anos 60 e que tinha a proposta singela apenas de ser mais uma fita de terror da Hammer. Só que, a despeito disso, o que temos aqui é um filme muito, mas muito bom! Diria até surpreendemente muito acima da média, inclusive do que a Hammer produzia naquela década. 

O Rasputin de Lee é um insano, um bruto, que diz curar as pessoas. Usando de técnicas de hipnose ele sai controlando quem cai em sua teia de charlatanismo e misticismo barato! E quando a própria imperatriz da Rússia cai em sua lábia, ele começa a abusar do poder conquistado. Na história real a presença de Rasputin na monarquia representou sua desgraça. No filme, sem tempo para entrar nesses detalhes históricos, o que vemos é um roteiro que consegue até mesmo ser bem respeitoso com a história real. 

Não é historicamente preciso em detalhes, afinal essa é uma fita de terror da Hammer, mas mesmo em sua singeleza conseguiu preservar o mais essencial dessa estranha e bizarra figura histórica. E Christopher Lee como Rasputin é um show á parte. Quando interpretava Drácula ele realmente não tinha muito o que dizer. Era apenas um monstro, praticamente mudo! Com Rasputin esse ator teve a oportunidade de declamar com a maior convicção seus diálogos. O Lee realmente era um ator diferenciado e sua presença faz todo o diferencial. Então é isso. Gosta de clássicos do terror da Hammer com pitadas de história? Então não deixe de conhecer esse Rasputin do Christopher Lee. 

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XVI

Lobisomem (2025)
★★★
Antes de mais nada me desagra muito o título nacional desse filme! Ora, esse é o título original do filme clássico e depois de seu remake, aquele bom filme com Anthony Hopkins. Então ter esse filme mais uma vez com o mesmo título, aliás bem genérico, me soa como mero oportunismo comercial. Dito isso, vamos ao filme. Na história temos um protagonista que no passado precisou enfrentar uma situação perigosa ao lado do pai numa floresta. Eles foram cercados e quase atacados por uma misteriosa criatura. Um lobisomem. Os anos passam e aquele garotinho agora é um homem, casado, pai de uma filhinha adorável. Quando seu velho pai é dado como desaparecido e morto, ele então retorna para sua antiga casa paterna para tomar posse de sua herança. Algo que vai se revelar a pior decisão de sua vida. 

A mesma casa, isolada no meio da floresta, causa medo. E não é para menos. Naqueles bosques ao redor há mesmo uma criatura, um lobisomem à solta. Quando essa ataca a família do protagonista ele a defende do monstro. Na luta é ferido, mordido. Bom, se você já assistiu a algum filme de lobisomem na vida já sabe o que isso significa. Ele está condenado a também virar esse tipo de besta, meio homem, meio lobo. Agora é sua família que corre enorme risco e não por uma ameaça externa, mas por sua própria presença dentro da casa. As cartas estão na mesa.

Em geral temos um bom filme aqui. Não é excepcional em nenhum momento, mas conta bem sua história de terror. O visual dos lobisomens vai decepcionar parte do público. Após décadas de filmes com esses monstros, explorando os mais diversos tipos de maquiagem e design, os desse filme vão mesmo soar meio genéricos, até comuns. Uma deformação aqui, outra acolá. Apenas um homem deformado com grandes dentes. Nada mais. Inovador mesmo apenas a visão do Lobisomem, visto de um ponto de vista subjetivo do monstro. Essa parte ficou bem legal! De qualquer forma o saldo final é positivo. Eu gostei do que assisti e recomendo aos fãs de terror cinematográfico. 

A Profecia III ★★★
Dizem que o terceiro filme de qualquer franquia cinematográfica sempre é o mais fraco. A história do cinema parece confirmar essa máxima de experiência. Esse terceiro filme de "A Profecia" não chega a ser um desastre, até achei um pouquinho melhor do que o segundo, continuando o primeiro imbatível e muito à frente dos demais. O problema básico do roteiro desse filme é que ele precisa dar conta de muitas coisas. Os roteiristas quiseram fechar a história de uma vez. Com tantas profecias para colocar na história a coisa toda ficou bem truncada!

Só para se ter uma ideia, nesse filme Jesus precisa voltar, o anticristo precisa pegar sete punhais sagrados que podem causar sua destruição, será necessário matar todos os recém nascidos da Inglaterra numa data específica, além de dar conta de um alinhamento de três estrelas no cosmos que vai anunciar a chegada da segunda vinda do Messias e... Ufa! Coisa demais para se colocar no roteiro de apenas um filme! Um amontoado de profecias, mitologias antigas, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Algo assim não iria dar certo mesmo! A narrativa fica obviamente dispersa, sem rumo, sem foco! 

De bom mesmo apenas a presença de um Sam Neill ainda bem jovem, fazendo caras e bocas para interpretar Damien Thorn, o próprio anticristo, agora um homem adulto, industrial, dono da maior multinacional do mundo! E agora também embaixador dos Estados na Inglaterra. Como eu disse, coisas demais ao mesmo tempo. Com tanta informação junta, o filme só poderia ficar como ficou: cheio de conteúdo mal desenvolvido e vazio no aspecto puramente dramático. Um balão de gás cheio de Apocalipse fajuto dentro! 

The Witcher: Sereias das Profundezas ★★★
Engraçado, mas a verdade é que eu apenas suporto esse personagem do Witcher em animações. Pois é, eu gosto das animações do personagem, mas já tentei e não gostei nem da série original e muito menos dos seus derivados. Acho bem fracos, quase bregas. Só que quando suas histórias são colocadas em animação a coisa toda funciona muito bem. Gente, esse personagem nasceu para virar desenho animado, não tem jeito! Até pela presença de monstros que ele vai lutando ao longo de sua jornada do herói. Um monstrengo desses é mais fácil de engolir numa boa animação de fantasia. É justamente o que acontece por aqui. 

Nessa história ele chega numa região para matar monstros marinhos que estão atacando e matando pescadores. Só que o Bruxo logo descobre que tem algo mais acontecendo. Há um reino de sereias naquelas águas. Mais do que isso, o próprio herdeiro do Reino está apaixonado por uma das sereias. Isso é um problema e tanto para o Rei. Afinal aquele é o herdeiro de seu trono. A história assim se desenvolve. Tem boas cenas com muita ação e fantasia. Quem curte o gênero não tem mesmo nada a reclamar. E há monstros em diversos tipos, com direito a um Kraken (uma espécie de polvo gigante) atacando aquelas velhas naus de madeira do passado. Enfim, pode encarar sem problemas. Está na Netflix e é uma diversão garantida para quem gosta especialmente do gênero Fantasia. 

Pablo Aluísio.

Cinema Review - Edição XV

Caos: Os Crimes de Manson
★★★
Mais um documentário sobre o Charles Manson, um dos mais infames criminosos da história dos Estados Unidos. Após passar praticamente toda a adolescência e juventude na prisão ele finalmente foi solto nos anos 60. Acabou parando nas ruas de San Francisco, em pleno auge do movimento hippie. Encontrou alguns jovens perdidos na vida e criou uma seita! Foram todos morar em um velho rancho que era usado para filmar antigos filmes de faroeste. Ele queria ser alguém no mundo da música, mas fracassou. Irado, mandou seus seguidores fanáticos matarem quem encontrasse no endereço de um produtor musical que o rejeitou. Para azar da atriz Sharon Tate e seus amigos, que tinham alugado aquela mesma casa. Foram vítimas de um crime que não era direcionado a eles. Morreram de graça em uma orgia de sangue sem sentido! 

O tema, como se pode perceber, é por demais interessante. Não apenas na questão criminológica, mas também social, pois é até hoje tudo é um mistério, ninguém entendeu como aqueles jovens seguiam cegamente as ordens de um demente homicida como Manson. Talvez fossem as drogas que tomavam, talvez fosse por problemas mentais, carência afetiva ou qualquer outra coisa, mas o que resultou disso tudo ainda choca a muitos, mesmo após a morte do próprio Charles Manson e de alguns de seus seguidores (a jovem assassina Susan Atkins, por exemplo, também já morreu na prisão tal como seu mestre). Um bom documentário, mas que peca por tentar levantar a bola de uma daquelas teorias da conspiração sem pé e nem cabeça que os americanos adoram. Meu conselho é ignorar essa bobagem e absorver apenas os dados históricos do crime. Aí sim o documentário vai funcionar direito. 

Indústria Americana ★★★
Documentário extremamente relevante para os nossos dias. Mostra a implantação de uma fábrica chinesa na cidade de Dayton, nos Estados Unidos. Ela foi levantada no mesmo lugar onde no passado funcionou uma fábrica de automóveis da GM na cidade. Muitos dos empregados já tinham trabalhado na GM no passado, mas agora esses trabalhadores americanos iriam ter que lidar com uma nova realidade. Seus chefes seriam todos chineses. A fábrica funcionaria a partir de agora de acordo com a cultura do grande país asiático. 

Então, como era de se esperar, se opera um grande choque cultural entre um empregador chinês tentando colocar ordem numa fábrica onde a maioria dos empregados era formada por americanos. Os chineses e os americanos logo entram em choque e tudo é capturado pelo documentário. Os chineses acabam achando que os americanos são gordos demais, preguiçosos demais e sem nenhuma disciplina para o trabalho duro. Na visão da diretoria chinesa a mão de obra americana era pouco produtiva! Os americanos, por sua vez, começam a achar os chineses bem esquisitos, com sua cultura de quase escravidão ao trabalho obsessivo, trabalhando em longas jornadas, sem feriados, sem fins de semana. Quase uma escravidão moderna! O documentário mostra acima de tudo que há uma grande ilusão nessa expectativa toda de estrangeiros se instalando dentro da América, de que alguma fábrica asiática vai dar inteiramente certa se instalada dentro do território dos Estados Unidos. As diferenças culturais entre nações tão diferentes logo se faz sentir, desde os primeiros dias. É algo inclusive que o atual presidente americano tem planejado fazer. É melhor ele rever seus conceitos! 

As 7 Máscaras da Morte ★★★
Podem falar o que quiserem. Vincent Price foi um ator bacana, um simpatizante da cultura pop do terror até o fim! Veja o exemplo desse filme que ele fez nos anos 70. Há uma fina ironia cortando toda a história. No enredo Price interpreta um velho ator de teatro. Ele passou a vida interpretando Shakespeare nos palcos. Sendo claramente um amante do teatro clássico. Só que ao longo de todos esses anos foi também massacrado por críticos esnobes de Londres. A cada nova crítica, um novo fracasso e um enorme ressentimento surgindo. E aí, como estamos mesmo assistindo a um filme de terror clássico, logo começam as mortes de seus inimigos. 

O velho ator compra um antigo teatro que havia sido destruído em um incêndio. Ao lado de uma trupe formada por moradores de rua e sua filha, ele começa seus planos de vingança. Vai matando os críticos um a um, com as mortes inspiradas nas peças de Shakespeare! Olha, vou dizer uma coisa bem sincera: essa fórmula, mesmo que um tanto batida, resultou em um filme muito divertido! Sim, porque mesmo sendo tecnicamente um horror, esse filme tem momentos pra lá de divertidos. Vincent Price está obviamente se divertindo como nunca e isso fica claro em cada cena, em cada figurino estranho e bizarro que ele adota ao longo do filme. Ora surge como um cozinheiro de pratos indigestos, ora como um cabelereiro gay e afetado! Uma explosão de deboche por parte do Price. E no final, quem se diverte mais é mesmo o espectador. O Vincent Price era mesmo um cara genial, vou te contar! E aqui está um de seus momentos mais geniais na sétima arte. Diversão pura! 

Pablo Aluísio. 

domingo, 7 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XIV

O Intermediário do Diabo
★★★
O ator George C. Scott teve uma ótima carreira no cinema. Os cinéfilos mais superficiais lembram dele por causa de Patton, mas essa é uma visão bem rasa. Ele fez muitos filmes bons, alguns clássicos absolutos da história do cinema. Só que o tempo passou, o ator ficou com mais idade, então chegou o momento de aceitar o que estava sendo oferecido. Não digo isso como reprovação, nada disso, apenas como constatação. Assim, já idoso, o bom e velho Scott enveredou pela linha dos filmes de terror. Digo que gosto de praticamente todos os filmes que ele fez nesse gênero, com destaque para o muito bom "O Exorcista III", um terror psicológico muito acima da média. 

"O Intermediário do Diabo" (também conhecido como "A Troca") foi outro filme de terror da carreira de Scott. Deixa eu falar algo com sinceridade: esse é um filme muito bom de casas assombradas! Filme com estilo, com elegância, nada das porcarias que vemos hoje em dia. Na história Scott interpreta um compositor de música clássica. Quando sua esposa e filha morrem em um acidente na estrada, ele decide mudar de cidade, tentar uma nova vida em Seattle. Vai trabalhar na grande cidade da costa oeste, onde pretende progredir como compositor. É também uma tentativa meio desesperada de superar a depressão pela morte de sua família. 

Para isso aluga uma velha casa que estava sob os cuidados do patrimônio histórico da cidade. Uma casa muito bonita, grande, mas meio mal tratada pelo tempo que ficou abandonada. No passado havia pertencido a uma médico com uma história familiar trágica! Uma vez lá, ele começa a perceber estranhos fenômenos, incluindo a manifestação espiritual de um garotinho que morreu na casa no começo do século XX. Falar mais, tecendo maiores comentários, seria estragar as surpresas do roteiro. O que tenho a dizer é que o filme é realmente muito bom. Eu gostei das atuações, da ambientação sombria (essencial para esse tipo de filme) e até mesmo do desfecho da história. Um bom filme de terror com George C. Scott. Realmente não teria do que reclamar. 

Virando a Página ★★★ 
Mesmo com uma certa idade o ator Hugh Grant resolveu voltar para a linha dos primeiros filmes que fez em Hollywood. Época de muitos sucessos cinematográficos. Não o culpo. Assim temos aqui uma comédia romântica ao velho estilo de sua própria cinematografia. Grant interpreta um roteirista de Hollywood. No passado ele ganhou o Oscar da categoria. Parecia ter um belo futuro pela frente, mas as coisas não foram muito bem. Após inúmeros fracassos, sua carreira foi pelo ralo. Precisando de trabalho aceita ser professor de uma universidade numa pequena cidade do norte. Nada de muito prestígio, mas pelo menos um trabalho para pagar as contas. 

Nessa nova cidade ele conhece mulheres bem interessantes. O problema é que elas são suas alunas. Falha grave de ética que o levaria a ser demitido. Não ajuda muito ele ter também problemas com a chefe de seu departamento, uma professora que ama Jane Austen, enquanto o personagem de Grant conta algumas piadas sem graça sobre a escritora do passado vitoriano, logo na primeira vez que a encontra. Saia justa intelectual. 

Assim o filme vai se desenrolando. Ele se apaixona por duas de suas alunas, precisa ter jogo de cintura e aos poucos vai descobrindo o prazer de ensinar, algo que no começo ele achava ser impossível pois sempre acreditou que não havia como ensinar a escrever bons roteiros. Tecnicamente o filme é isso, uma comédia romântica inofensiva. Nem preciso dizer que o Hugh Grant se sente em casa em cada cena. Afinal ele construiu toda a sua carreira fazendo filmes assim. 

O Nômade ★★
Roteirista inventa cada história! Veja o caso desse filme. Na história um serial killer começa a atacar nas ruas escuras de Nova Iorque. Suas vítimas são sempre as mesmas: Padres! Pois é, os padres são atacados de forma violenta, com um martelo na cabeça! Não é algo bonito de se ver. E um desses assassinatos acaba sendo filmado pela câmera de uma jornalista investigativa! Então você poderia pensar que ela iria imediatamente às autoridades para denunciar o assassino, não é mesmo? Que nada! Ela usa as imagens para chantagear o psicopata! Ela quer que ele mate seu próprio pai, pois no passado ele cometeu abusos contra ela, quando ainda era uma criança!

Que rocambole! E ainda temos que lidar com o fato de que o assassino está matando padres porque... Sim, ele é um padre! Depois que se tornou ateu se revoltou e passou a matar membros do clero da Igreja Católica! Ela agora acha que perdeu sua juventude inteira estudando para ser padre, enquanto poderia estar por aí, namorando belas garotas, curtindo as festas, etc. E agora, sem Deus na sua vida, qual seria o sentido da vida? Assim, revoltado, mata padres com um martelo! Meu Deus! Pois é, eu disse que de cabeça de roteirista pode sair tudo. E olha que eu ainda não disse que o Padre descobriu que Deus não existe em um laboratório de ciências que provou que Deus realmente não existia! Não é piada! Enfim, Chega! Melhor eu parar por aqui... Assista ao filme por sua própria conta e risco... 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XIII

O Demônio de Gelo
Depois de dez anos desaparecido, o corpo de um homem é encontrado numa montanha gelada da Sibéria, na Rússia. Imagine-se obviamente que esteja morto, mas para surpresa da equipe médica que presta os primeiros exames, ele se encontra apenas em coma profundo. Depois de algumas semanas de tratamento não há muito o que fazer. Ele é levado para a casa de sua ex-mulher e filha que agora vivem uma outra realidade, pois ela se casou com um outro homem. Então o sujeito fica ali, em coma, dentro de um quarto da casa. E não demora muito a acontecer estranhas coisas pelos corredores escuros daquela velha casa isolada e gelada. 

Filme de terror russo que vai pela linha do terror psicológico e se sai bem nesse caminho. O roteiro é bem escrito, explorando o passado como algo a se esconder. A peça chave é a própria ex-esposa que tem literalmente alguns esqueletos no armário para esconder. Já a filha adolescente sofre pela nova situação. Ela mal conheceu seu pai que ficou desaparecido por anos e anos. Agora precisa lidar com ele, em coma, na sua casa! Complicado! 

Pena que esse monstro de gelo aí do poster não apareça. Como eu disse, esse é um filme de terror psicológico e não um slasher. Então o monstro só aparece no poster mesmo, é uma isca para atrair a atenção do público. Ainda assim, não vou tirar pontos desse filme. Eu gostei do que vi. Um filme com roteiro inteligente que em momento algum desmerece a capacidade do público em entender tudo o que está acontecendo. Pois é, a violência doméstica, pode mesmo ser um horror para quem a vivencia em casa. No fundo, no fundo, é disso que essa história se trata. 

O General Morreu ao Amanhecer ★★
A História do filme se passa na China, durante a década de 1930. O país passa por uma guerra civil. São vários generais que lutam entre si, tentando se opor e impor aos inimigos. Um caos. No meio de tudo isso temos o personagem de Cooper. Ele é um americano que vive de "oportunidades". Assim quando um general lhe dá uma grande quantia em dinheiro por armas, ele embarca em um trem para encontrar esse traficante de armas que vai lhe vender esses rifles e fuzis. O sujeito é um bebum e também é americano. Na viagem de ida ao encontro desse criminoso o trem onde viaja o personagem de Cooper é parado na ferrovia. Ele cai nas mãos do inimigo e precisa dar conta não apenas do dinheiro, como também das armas. Sua vida passa a correr sério risco dentro desse jogo perigoso. 

Eu sempre gostei muito do Cooper, mas confesso que não gostei desse filme. Seu personagem tende a ser um cara bonzinho, mas quem já viu um vendedor de armas contrabandeadas ser um mocinho? Ele é um mercenário em última instãncia, um sujeito que vive de vender armas para alimentar uma guerra civil de uma nação que tenta sobreviver. Isso foi antes da Revolução Comunista e podemos perceber bem o olhar de colonialista dos americanos em relação aos chineses. E para piorar ainda mais o quadro geral, o roteiro tenta emplacar um romance nada convincente entre o personagem de Cooper e uma atriz platinada muito fraquinha. Sua atuação, exagerada e caricata, vai jogando as últimas pás de cal nesse filme que definitivamente não me agradou em nada. 

A Conspiração Consumista ★★★
Muito bom esse documentário que assisti na Netflix. Ele denuncia algo que está claro na frente de todos, governos, empresas e consumidores. Vivemos atualmente no mundo uma cultura de alto consumo e grande desperdício. As montanhas de produtos vendidos todos os dias pela internet viram montanhas de lixo que degradam o meio ambiente. O Plástico, esse produto infernal que não é absorvido pela natureza, está contaminando tudo. Provavelmente o copo de água que você está tomando todos os dias está cheio de plástico que vai para dentro do seu organismo dando origem a diversas doenças. Não tem saída para esse tipo de ciclo tóxico que se impôs em nosso planeta. 

O documentário também desnuda o jogo hipócrita e perverso das empresas. Elas gostam de vender a imagem de que estão preocupadas com o meio ambiente, mas como o documentário bem demonstra, isso tudo é apenas publicidade enganosa. Na maioria das vezes as grandes corporações não estão nem aí com o fato de que seus produtos vão se tornar lixo tóxico na natureza. Pelo contrário, elas incentivam ainda mais o consumo desenfreado, até porque estão visando lucros e nada mais. O meio ambiente que se degrade, que fique contaminado. O que importa é a planilha de lucros aumentando a cada novo ano. 

E outra coisa que me chamou muito atenção nesse documentário foi a tal de Obsolescência programada. Não se engane sobre isso. É algo realmente planejado pelas grandes empresas. Os produtos atualmente possuem pouco tempo de vida e de uso. São produzidos para serem descartáveis mesmo. E quando mais rápido isso acontecer, melhor! A maioria é feita para quebrar em pouco tempo, para que assim o consumidor venha a comprar a versão mais recente desse mesmo produto! E as próprias empresas se programam também para que esses produtos quebrados jamais sejam consertados. Eles querem vender novos produtos, que durem menos e não fazer produtos que sejam consertáveis! Cada dia mais usam novas tecnologias que impeçam até mesmo de serem abertos para conserto! Um absurdo completo!  O produto de hoje é o lixo do amanhã mais recente. O meio ambiente não suporta esse tipo de ciclo. E essa é uma política das próprias grandes corporações multinacionais. Pois é, meus caros. O consumismo capitalista vai acabar consumindo nosso planeta. O problema é que ele é o único que temos! 

Pablo Aluísio.  

sábado, 6 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XII

Herege
Esse é um item cada vez mais raro de encontrar. Estou me referindo a filmes de terror com roteiros inteligentes. Dentro do cinema atual é de uma grande raridade! É justamente o que temos aqui. A história começa com duas jovens garotas. Elas são Mórmons, missionárias da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Então, em sua rotina diária de visitar pessoas para tentar convertê-las à sua religião, elas vão parar numa casa, no meio da noite, embaixo de uma forte tempestade. O dono da casa as recebe muito bem e as convida para entrar. Elas explicam que só podem entrar numa casa se houver uma mulher presente. O sujeito sorri de forma carismática e diz que está acompanhado de sua esposa. Ela está fazendo uma deliciosa torta caseira. As jovens não precisam se preocupar. Tudo mentira! A armadilha vai então se fechando. 

O diferencial maior desse filme vem dos diálogos bem construídos, especialmente do dono da casa. Esse papel provavelmente é um dos melhores da carreira de Hugh Grant. Ele está ótimo em cena. É aquele tipo de pessoa que parece ser muito simpática, inofensiva, quase boba, mas que no fundo esconde algo bem sinistro e macabro. Por trás do sorriso se escondem as piores intenções! Então ele começa a conversar com as mocinhas e vai colocando para elas os "podres" de sua própria religião. E nesse campo realmente essa Igreja tem muitos esqueletos no armário. O constrangimento invade a sala de visitas. 

Conversa vai, conversa vem e nada da tal esposa aparecer. O personagem de Grant parece muito disposto a convencer as jovenzinhas que toda religião é no fundo apenas um instrumento para dominação e poder. Só que teorizar apenas não é o suficiente, ele quer mostrar tudo na prática. E o terror começa. As jovens ficam em pânico e com razão. Descer aos porões daquele lugar vai deixar as mocinhas em uma situação extrema, de busca pela sobrevivência! 

Gostei muito desse filme. Um terror acima da média. Excelente filme, sem favor algum. Roteiro muito bem construído, uma armadilha, um labirinto, mas tudo desenvolvido com inteligência. A discussão sobre a falsidade das religiões é uma cereja de bolo para um suspense onde tudo funciona. É terror intelectual em essência, embora na terça parte final quase vire um slash daqueles. Uma combinação explosiva que funciona muito bem! Para algumas pessoas, de fato, descobrir que sua religião pode ser apenas um embuste, uma fraude, pode ser realmente algo muito assustador! Tem que ter coragem para encarar algo assim. E no final, a realidade, acaba mesmo se impondo, não tem jeito! 

A Substância
Esse é o filme que de certa maneira ressuscitou a carreira da atriz Demi Moore. Ela inclusive foi indicada para prêmios importantes como o Globo de Ouro e o Oscar. Essa é uma situação bem inédita em sua longa filmografia, pois Demi sempre foi considerada uma atriz de filmes comerciais. Nunca ninguém havia levado seu trabalho muito à sério. E é uma espécie de ironia meio triste porque o papel que vem levantando sua filmografia agora é a de uma atriz decadente, envelhecida, que acaba sendo demitida do programa em que trabalha. Justamente um programa de atividade física e fitness que nos EUA é visto como um porto final para carreiras acabadas no cinema (vide o caso de Jane Fonda). 

Então sua personagem chega aos 50 anos sem muito futuro como atriz. Etarismo que de fato existe e muito em relação às mulheres, sendo inclusive muito cruel com elas quando atingem uma certa idade. Um tanto desesperada por uma saída na sua vida profissional, ela embarca em uma canoa furada, comprando uma substância que promete criar uma nova versão de si mesma, agora jovem, bonita, cheia do frescor e da beleza da juventude. Claro que vai dar muito errado, afinal tudo é feito de forma clandestina. Ela pega a tal substância em um beco sujo de Los Angeles. Não existe uma empresa se responsabilizando pelo procedimento, nada. Tudo feito às escuras, na clandestinidade. É arriscar para ver o que vai dar!

E obviamente essa atitude impulsiva vai resultar em muitos problemas. Sua versão mais jovem chamada Sue é, como era de se esperar, uma garota cheia de si, egocêntrica, vaidosa ao extremo, que odeia seu "lado mais velha". Logo vai se instaurar uma competição entre elas, tudo caminhando para um desfecho da história que eu qualificaria tranquilamente como Trash. Pois é, o filme que começa com uma reflexão sobre velhice e a busca obsessiva pela juventude eterna, acaba virando um banho de sangue digno dos mais violentos filmes slasher - embora eu confesse que não gostei nada da maquiagem do monstrengo que aparece no final. Achei mal feito! 

Assim esse filme traz essa mistura estranha. Um roteiro que levanta questões até filosóficas sobre o passar dos anos, aliado a um tanto vulgar desfecho do enredo onde tudo é exagerado, vulgar e grotesco! Fico até surpreso em ver um filme como esse concorrendo ao Oscar. Sim, porque esse é um filme de terror trash e não se engane sobre isso! O fato desse estilo cinematográfico chegar nos principais festivais de cinema mundo afora é de se espantar. Talvez a envelhecida geração de Hollywood tenta se identificado e muito com a história. Só não precisavam exagerar tanto no dose. Um filme mais sutil cairia muito melhor. 

A Pirâmide
Um grupo de arqueólogos fica empolgado quando descobre uma pirâmide até então desconhecida enterrada nas areias do deserto do Egito. Eles acreditam que sejam a pirâmide perdida do Faraó Akhenaton, o monarca herege. Só que a descoberta acaba criando tumultos pelas ruas do Cairo, então o ministério responsável por dar as licenças para essas escavações a revoga. Os americanos porém ainda possuem um dia de exploração. Enviam para dentro da pirâmide um robô de alta tecnologia da NASA. Só que o equipamento acaba sendo atacado e destruído por estranhos seres. E para resgatar seus destroços uma equipe é enviada para dentro da pirâmide e lá vão encontrar o mais temível dos horrores. 

Eu até gostei esse mockumentary (falso documentário) de terror e suspense. Começa meio sem novidades, a velha coisa de massacrar personagens descartáveis por criaturas estranhas. Na verdade uma velha raça de gatos que viveu por milênios dentro daquela pirâmide. Gatos sem pelos, asquerosos! OK, aceitável. Felinos malignos sempre serão legais em filmes de terror. O que traz uma boa novidade para esse filme é o aparecimento do deus devorador Anúbis! Aí sim eu gostei. 

Imagine se esses antigos deuses do Egito Antigo fossem monstros! Pois é, no caso do Anúbis, o deus com corpo de ser humano e cabeça de chacal, nada poderia mais adequado! Ele pesava o coração dos homens em uma balança. Se ele fosse mais pesado do que uma pena, o monstro os devoraria! Isso é pura religião (mitologia) do Egito antigo, mas aqui o roteiro coloca o Anúbis como um monstro de filme de terror. E olha, funcionou muito bem! Foi o que mais gostei do roteiro desse filme! Salvou ele da mediocridade! Então é isso. Até vale a indicação para quem gosta de filmes de terror e história do Egito nos tempos dos faraós! 

Pablo Aluísio.

Cinema Review - Edição XI

O Devorador de Almas ★★★
Um casal de policiais investiga um estranho caso em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Seis crianças estão desaparecidas. Além disso uma série de estranhos assassinatos começam a ocorrer. Em um deles, um casal parece ter tido um surto psicótico, se ferindo até a morte, sem nenhuma razão aparente. E uma estranha lenda local envolvendo um demônio da floresta conhecido como "O Devorador de Almas" parece sempre estar sendo invocado nos lugares dos crimes. Sua pequena estatueta sempre está lá, perto dos corpos! Para piorar o que já era bem ruim, aquela comunidade interiorana parece esconder algo. Nem os policiais locais parecem dignos de confiança. Um clima pesado paira naquele lugar perdido. 

Um bom filme! Gostei realmente. O roteiro joga o tempo todo com a percepção do espectador. No começo parece ser mais um daqueles filmes de terror com monstros sobrenaturais. Esse aqui apresenta uma estranha figura, com enormes chifres e corpo parecido com o de troncos de árvores, afinal é um tipo de divindade demoníaca que habita as florestas da região. Mas calma, não vá tirando conclusões precipitadas. O roteiro tem muito mais a oferecer, conforme a história avança. De minha parte gostei realmente, principalmente pelo opção do roteiro em armar um enredo policial com os pés no chão. No caso aqui o realismo foi mais conveniente do que o simples fantástico sobrenatural. Por essa razão o filme ganhou muitos pontos positivos em minha visão. 

Uma Amizade Tóxica ★★★
Duas jovens adolescentes estão na fase colegial de suas vidas. A escola é um problema, pelo menos algumas vezes. Tem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo e elas precisam manter nem que seja um pouco de popularidade. Para isso arriscam ir em festas clandestinas organizadas às escuras pelos demais alunos. Tudo com muita bebedeira e pegação sem responsabilidade. Numa dessas festas acabam descobrindo uma das outras alunas fazendo sexo oral em um rapaz. Elas filmam a cena pelo celular, escondidas. Depois divulgam nos grupos de redes sociais da escola. Claro, vira um escândalo de grandes proporções. 

Acontece que a menina flagrada no ato sexual não vai deixar barato, vai tomar satisfações com essas duas amigas. A coisa toda parte para a violência e um crime é cometido. No começo as duas pensam em esconder tudo dos policiais, mas as coisas vão tomando proporções fora do normal. Outro bom filme que recomendo. Essa aqui é uma produção europeia da Macedônia. A conclusão que chego é simples: não importa o país ou a cultura em que os adolescentes vivam. Eles sempre serão muito parecidos, seja no Brasil, nos Estados Unidos ou no leste europeu. Estão sempre em busca de festas e pensam que viverão para sempre. Agindo assim, sem prudência, acabam se envolvendo em grandes problemas. E esse bom filme, que no fundo é uma crônica social da vida de duas colegiais, bem demonstra tudo isso que escrevi. 

O Caminho do Mal ★★★
Rapaz estranho volta para a escola na mesmo cidadezinha onde vivia na infância. O problema é que quando ele era criança se envolveu em um caso criminal bizarro, onde uma criança foi morta! De volta ao mesmo lugar onde viveu esse doloroso passado, ele reencontra a garota que era apaixonado. Ela está diferente, mas consegue ser bem simpática com ele. As coisas vão ficando complicadas quando o playboy da escola se irrita com o novo (velho) novato. E esse cara, que parece sempre estar na dele, tem poderes especiais. O melhor é realmente não mexer com quem está quieto! 

Mais um terror adolescente. Eu até gostei, mas pela simples razão de que não estava esperando grande coisa. Se o filme contasse direitinho sua história já estava de bom tamanho. E foi o que aconteceu. É um filme bem mediano, cheio de clichês, inclusive na construção dos personagens jovens. Está lá o jogador de futebol, boçal, truculento e violento, a patricinha loira bonitinha que todo mundo quer namorar e o sujeito esquisitão, com jeito de James Dean. São antigos clichês de filmes de adolescentes. E tem até um padre excomungado pela Igreja que tem obsessão com aquela juventude, achando que um deles seja o Anticristo. Esses padrecos deveriam procurar algo melhor do que fazer em suas vidas, como projetos sociais! Brincadeiras à parte, temos aqui até um filme OK, mesmo sabendo que o roteiro tem muitos clichês, inclusive em seu forçado plot twist que não me convenceu em nada. 

Pablo Aluísio

sexta-feira, 5 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição X

Criaturas do Farol
★★★
Eu tenho percebido vários filmes com essa história meio semelhante, explorando essas pessoas que trabalham em faróis distantes, isolados do mundo, nos pontos mais inacessíveis do nosso planeta. Deve ser um dos trabalhos mais solitários do mundo, disso não tenho a menor sombra de dúvida. Pois bem, nesse filme temos como protagonista uma jovem que decidiu dar a volta ao mundo em um veleiro! Algo perigoso, mesmo com a tecnologia atual. Então quando ela vai fazer a travessia do extremo sul da América do Sul acaba enfrentando uma enorme tempestade. Nem precisa ir muito longe, seu barco é feito em pedaços. 

Ela é salva por um solitário faroleiro que vive ali na região. No começo ela fica bem desconfiada dele, afinal estão sozinhos naquele farol perdido e isolado da civilização. Ninguém sabe onde ela foi parar. É uma jovem bonita, na flor da idade. O faroleiro é um tipo rude, mas se mostra educado, tentando ajudar. Só não consegue fazer contato com a Marinha mercante para vir resgatá-la, então ela começa a pensar que pode haver algo de errado com aquele homem. O medo de sofrer uma violência sexual fica na mente do público o tempo todo! 

Gostei do filme. O uso de uma tensão sempre presente nos deixa com os nervos à flor da pele. O roteiro, muito bem escrito por sinal, ora nos faz pensar que o faroleiro é um bom homem, de boa índole, ora nos faz pensar que ele é um estuprador em potencial daquela jovem donzela. E essa dualidade de percepções não para nunca, chegando até a última cena, da última palavra dita pela jovem. Para complementar o que já era muito interessante, o filme ainda joga dados com a pura fantasia, trazendo à tona velhas lendas do mar, envolvendo sereias que atacam marinheiros imprudentes. Bem legal esse capítulo à parte do roteiro. Uma fábula de fantasia bem inserida no enredo. Enfim, recomendo, sem medo de errar. Não deixe de assistir. 

A Redenção: A História Real de Bonhoeffer ★★★
A história real de um jovem pastor que na Alemanha Nazista teve a coragem de se levantar contra a hipocrisia da Igreja, que naquele momento histórico deu todo o apoio às barbaridades de Hitler e seus comparsas. Nessa onda de idolatria insana que varreu a Alemanha o próprio Cristo foi deixado de lado. Aos fanáticos, inclusive a maior parte dos evangélicos protestantes daquele país, coube a adoração a esse homem, que certamente foi a figura mais vil da história da humanidade. 

Essa história me levou a diversas reflexões. Como é possível que pessoas que se diziam cristãs conseguiam ignorar completamente a mensagem de Jesus para abraçar o ódio tão facilmente? E o que mais me espanta é que esses líderes nazistas e fascistas nunca esconderam seus objetivos e planos malignos. Tudo é feito às claras! Mesmo assim uma multidão de fanáticos o seguem, sendo a maioria em igrejas, sejam protestantes, sejam católicas. Os religiosos parecem acreditar piamente nesse tipo de líder político inescrupuloso. Poucas são as vozes que se levantam contra, como no caso do protagonista desse filme. E essa história, que se passa na Segunda Guerra Mundial, anda se repetindo nos dias atuais! Tenha medo, muito medo, meu caro leitor! 

Vou logo adiantando que não é um filme com final feliz. Muito pelo contrário. Os nazistas não deixavam barato para quem os confrontassem. A pena imposta geralmente era a morte, sem julgamentos, sem devido processo legal, sem nada. Apenas uma execução sumária, geralmente promovida por membros da famigerada SS, uma especie de exército nazista auxiliar ao verdadeiro exército alemão. Esses eram os responsáveis pelas maiores atrocidades. Faziam o serviço sujo de um regime político que era mais do que sujo, era bárbaro e incivilizado. Enfim, apreciei o filme. É um resgate, uma forma de relembrar esse grande homem. Sua vida foi a mais pura definição da coragem humana! 

Nosferatu em Veneza ★★★
O Nosferatu anda em alta depois daquele bom filme lançado em 2024. Aqui uma produção dos anos 80 que trazia novamente Klaus Kinski no papel do vampiro! Ele havia protagonizado o remake dos anos 70. só que aqui, para minha decepção, não usou a maquiagem do visual clássico que tantos conhecemos. Klaus está praticamente de cara limpa, com aquela expressão de doido varrido que lhe era tão peculiar! Pelo menos nisso ele era um mestre! Já era uma figura estranha por natureza!

Concordo que essa versão pode ser considerada até mesmo um pouco fraca, mas não posso negar que tenha seu estilo. O diretor realmente se esforçou para trazer beleza às cenas, o que era até natural de se esperar por causa da própria cidade de Veneza, um cartão postal à céu aberto! Aliás o uso dos mascarados do carnaval de Veneza caiu muito bem na estética do vampiro. Aquelas fantasias medievais possuem mesmo um elemento de macabro que sempre me deixou com uma certa fascinação. 

Apesar do roteiro um pouco truncado o diretor fez um bom trabalho, cometendo poucos deslizes. O pior deles vem naquela cena do Nosferatu correndo pelas ruas de Veneza atrás de uma de suas vítimas! Quase caiu no humor involuntário. Esse tipo de personagem não pode ser usado dessa forma, leviana. Não, tem que ser bem trabalhado, sempre colocado nas sombras, para aumentar o mistério em torno de si mesmo. Esse é o principal segredo do suspense. E para quem assistiu ao novo Nosferatu, um pequeno spoiler: o desfecho da história é muito semelhante entre os dois filmes. A lenda de que um amor verdadeiro vindo de uma mulher humana que poderia finalmente trazer á morte para uma criatura condenada a vagar pelos séculos e séculos pelas vias escuras, continua o mesmo. E também funciona aqui, nesse filme pouco conhecido, mas que tem seus méritos cinematográficos.  

Pablo Aluísio.