Eu tenho percebido vários filmes com essa história meio semelhante, explorando essas pessoas que trabalham em faróis distantes, isolados do mundo, nos pontos mais inacessíveis do nosso planeta. Deve ser um dos trabalhos mais solitários do mundo, disso não tenho a menor sombra de dúvida. Pois bem, nesse filme temos como protagonista uma jovem que decidiu dar a volta ao mundo em um veleiro! Algo perigoso, mesmo com a tecnologia atual. Então quando ela vai fazer a travessia do extremo sul da América do Sul acaba enfrentando uma enorme tempestade. Nem precisa ir muito longe, seu barco é feito em pedaços.
Ela é salva por um solitário faroleiro que vive ali na região. No começo ela fica bem desconfiada dele, afinal estão sozinhos naquele farol perdido e isolado da civilização. Ninguém sabe onde ela foi parar. É uma jovem bonita, na flor da idade. O faroleiro é um tipo rude, mas se mostra educado, tentando ajudar. Só não consegue fazer contato com a Marinha mercante para vir resgatá-la, então ela começa a pensar que pode haver algo de errado com aquele homem. O medo de sofrer uma violência sexual fica na mente do público o tempo todo!
Gostei do filme. O uso de uma tensão sempre presente nos deixa com os nervos à flor da pele. O roteiro, muito bem escrito por sinal, ora nos faz pensar que o faroleiro é um bom homem, de boa índole, ora nos faz pensar que ele é um estuprador em potencial daquela jovem donzela. E essa dualidade de percepções não para nunca, chegando até a última cena, da última palavra dita pela jovem. Para complementar o que já era muito interessante, o filme ainda joga dados com a pura fantasia, trazendo à tona velhas lendas do mar, envolvendo sereias que atacam marinheiros imprudentes. Bem legal esse capítulo à parte do roteiro. Uma fábula de fantasia bem inserida no enredo. Enfim, recomendo, sem medo de errar. Não deixe de assistir.
A Redenção: A História Real de Bonhoeffer ★★★
A história real de um jovem pastor que na Alemanha Nazista teve a coragem de se levantar contra a hipocrisia da Igreja, que naquele momento histórico deu todo o apoio às barbaridades de Hitler e seus comparsas. Nessa onda de idolatria insana que varreu a Alemanha o próprio Cristo foi deixado de lado. Aos fanáticos, inclusive a maior parte dos evangélicos protestantes daquele país, coube a adoração a esse homem, que certamente foi a figura mais vil da história da humanidade.
Essa história me levou a diversas reflexões. Como é possível que pessoas que se diziam cristãs conseguiam ignorar completamente a mensagem de Jesus para abraçar o ódio tão facilmente? E o que mais me espanta é que esses líderes nazistas e fascistas nunca esconderam seus objetivos e planos malignos. Tudo é feito às claras! Mesmo assim uma multidão de fanáticos o seguem, sendo a maioria em igrejas, sejam protestantes, sejam católicas. Os religiosos parecem acreditar piamente nesse tipo de líder político inescrupuloso. Poucas são as vozes que se levantam contra, como no caso do protagonista desse filme. E essa história, que se passa na Segunda Guerra Mundial, anda se repetindo nos dias atuais! Tenha medo, muito medo, meu caro leitor!
Vou logo adiantando que não é um filme com final feliz. Muito pelo contrário. Os nazistas não deixavam barato para quem os confrontassem. A pena imposta geralmente era a morte, sem julgamentos, sem devido processo legal, sem nada. Apenas uma execução sumária, geralmente promovida por membros da famigerada SS, uma especie de exército nazista auxiliar ao verdadeiro exército alemão. Esses eram os responsáveis pelas maiores atrocidades. Faziam o serviço sujo de um regime político que era mais do que sujo, era bárbaro e incivilizado. Enfim, apreciei o filme. É um resgate, uma forma de relembrar esse grande homem. Sua vida foi a mais pura definição da coragem humana!
Nosferatu em Veneza ★★★
O Nosferatu anda em alta depois daquele bom filme lançado em 2024. Aqui uma produção dos anos 80 que trazia novamente Klaus Kinski no papel do vampiro! Ele havia protagonizado o remake dos anos 70. só que aqui, para minha decepção, não usou a maquiagem do visual clássico que tantos conhecemos. Klaus está praticamente de cara limpa, com aquela expressão de doido varrido que lhe era tão peculiar! Pelo menos nisso ele era um mestre! Já era uma figura estranha por natureza!
Concordo que essa versão pode ser considerada até mesmo um pouco fraca, mas não posso negar que tenha seu estilo. O diretor realmente se esforçou para trazer beleza às cenas, o que era até natural de se esperar por causa da própria cidade de Veneza, um cartão postal à céu aberto! Aliás o uso dos mascarados do carnaval de Veneza caiu muito bem na estética do vampiro. Aquelas fantasias medievais possuem mesmo um elemento de macabro que sempre me deixou com uma certa fascinação.
Apesar do roteiro um pouco truncado o diretor fez um bom trabalho, cometendo poucos deslizes. O pior deles vem naquela cena do Nosferatu correndo pelas ruas de Veneza atrás de uma de suas vítimas! Quase caiu no humor involuntário. Esse tipo de personagem não pode ser usado dessa forma, leviana. Não, tem que ser bem trabalhado, sempre colocado nas sombras, para aumentar o mistério em torno de si mesmo. Esse é o principal segredo do suspense. E para quem assistiu ao novo Nosferatu, um pequeno spoiler: o desfecho da história é muito semelhante entre os dois filmes. A lenda de que um amor verdadeiro vindo de uma mulher humana que poderia finalmente trazer á morte para uma criatura condenada a vagar pelos séculos e séculos pelas vias escuras, continua o mesmo. E também funciona aqui, nesse filme pouco conhecido, mas que tem seus méritos cinematográficos.
Pablo Aluísio.