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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Crepúsculo dos Deuses

Denominar “Crepúsculo dos Deuses” como uma das maiores obras cinematográficas de todos os tempos é desnecessário. Poucas vezes foi realizado um filme tão humano, tão cruelmente verdadeiro como esse. Ao mostrar uma diva envelhecida, uma antiga estrela do passado, há muito esquecida do grande público, o filme na realidade cria um estudo da alma humana poucas vezes vista nas telas. Em termos de melancolia e nostalgia, essa é uma obra insuperável. A personagem Norma Desmond (Gloria Swanson) não é apenas uma atriz que perdeu sua estrela e sua fama, mas também uma pessoa psicologicamente em ruínas que tenta de todas as formas se agarrar em um passado glorioso para suportar viver no presente. Embora muitas pessoas não parem para pensar sobre isso, a trama de “Crepúsculo dos Deuses” é mais comum na vida real do que se imagina. Não são poucos os artistas que presenciam o fim de suas carreiras, muitas vezes prematuramente. Astros e estrelas que brilharam por momentos fugazes e após o sucesso inicial simplesmente deixam de atrair o público e somem dos holofotes, sendo descartados pelos grandes estúdios. Poucos são os grandes mitos que resistem ao passar do tempo. Norma é de certa forma um retrato em microscópio da realidade de centenas e centenas de artistas que não conseguem superar a terrível passagem do tempo. Vivendo de suas imagens joviais e trabalhando em um meio que valoriza acima de tudo a beleza e a juventude, muitos são simplesmente descartados após atingirem uma certa idade.

Assim não serão poucos os artistas que irão se identificar com Norma, uma mulher que vive do passado, das fotos amareladas pelos anos e das recordações do tempo em que era de fato um mito em celulóide. Pensando em delírio que ainda é uma estrela, ignora o fato que o tempo passou e não há mais retorno possível aos seus anos de glória, das ribaldas, da aclamação dos seus fãs que lotavam os cinemas para assistir seus filmes. O brilho, a fama, o sucesso e a riqueza ficaram em um passado distante. O filme é realmente magistral. Há uma narração em off do personagem de William Holden que é um dos textos mais bem escritos da história do cinema americano. Misturando ironia com melancolia latente, ele nos apresenta sua história, contando em detalhes como acabou conhecendo Norma e seu estranho mundo enclausurado. Vivendo em uma mansão decadente, literalmente caindo aos pedaços, ao lado do mordomo fiel Max (interpretado pelo cineasta Erich von Stroheim com raro brilhantismo), ela ainda pensa que é uma estrela no mundo fútil das celebridades de Hollywood. O fato porém é que a passagem do cinema mudo para o cinema sonoro simplesmente acabou com sua carreira.

Suas opiniões sobre a irrelevância do cinema sonoro inclusive me lembraram do próprio Chaplin, que também em inúmeras vezes atacou a nova tecnologia. A atriz Gloria Swanson interpretando Norma é uma força da natureza. Impressionante a carga emocional que ela traz para seu papel. O curioso é que ela própria foi uma diva do cinema mudo, tal como sua personagem. Possessa e imersa completamente em sua interpretação, ficamos não menos do que impressionados pela força de seu talento. William Holden não fica atrás. Levemente cínico e incomodado com sua situação pessoal, ele esbanja aquele tipo de ironia que nasce da decepção consigo mesmo. Para o fã de cinema, o filme “Crepúsculo dos Deuses” traz ainda um verdadeiro presente. Em cena vemos o grande Cecil B. DeMille interpretando a si mesmo dentro dos estúdios da Paramount. DeMille foi um dos maiores nomes da indústria e vê-lo ali representando a si próprio é um deleite para qualquer amante da história da sétima arte. Outra presença marcante é a do ícone do humor Buster Keaton em uma participação particularmente melancólica. Sério e com olhar aterrorizado, ele participa de um estranho jogo de cartas com a diva em sua mansão, a mesma que foi usada como cenário de outro grande clássico, “Juventude Transviada” com James Dean.

Em conclusão, “Crepúsculo dos Deuses” merece toda o status cult que possui, todo o prestígio de grande clássico do cinema. É a obra prima definitiva do genial diretor e roteirista Billy Wilder, um mestre da era de ouro de Hollywood. É um desses filmes atemporais, que não envelhecem nunca e continuam tão maravilhosos como em seu lançamento. Delírios, traições, insanidade, compaixão e melancolia em um roteiro muito bem escrito, primoroso mesmo. Esse quadro completo compõe esse que é seguramente uma das maiores obras primas do cinema americano de todos os tempos. Simplesmente essencial.

Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, Estados Unidos, 1950) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder, DM Marshman Jr. / Elenco: William Holden, Gloria Swanson, Erich von Stroheim, Nancy Olson, Cecil B. DeMille, Hedda Hopper, Buster Keaton  / Sinopse:  Norma Desmond (Gloria Swanson) é uma diva da era do cinema mudo que mora em uma grande mansão na Sunset Boulevard cercada apenas de seu mordomo fiel Max (Erich Von Stroheim). Por um acaso do destino, o roteirista desempregado Joe Gillis (William Holden) acaba indo parar na mansão de Norma após tentar fugir de credores do banco onde fez um empréstimo. Lá conhece a velha estrela e seu estranho mundo particular construído sobre velhas lembranças de um passado glorioso que não existe. Ela ainda pensa ser uma superstar no céu de Hollywood. Doce ilusão. Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro, Trilha Sonora e Direção de Arte. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Diretor (Billy Wilder), Atriz (Gloria Swanson) e Trilha Sonora.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Estrela do Norte

Título no Brasil: Estrela do Norte
Título Original: The North Star
Ano de Produção: 1943
País: Estados Unidos
Estúdio: The Samuel Goldwyn Company
Direção: Lewis Milestone
Roteiro: Lillian Hellman, Burt Beck
Elenco: Anne Baxter, Dana Andrews, Walter Huston, Erich von Stroheim
  
Sinopse:
Um bucólico e feliz vilarejo ucraniano chamado "Estrela do Norte" é invadido por tropas nazistas durante a II Guerra Mundial. O pacato e rural povo se une então para resistir aos crimes de guerra cometidos pelos alemães. Os mais jovens vão para as colinas, para formar uma milícia de resistência armada e as mulheres, crianças e idosos ficam na vila, mas não sem antes destruir tudo, usando da estratégia de "terra arrasada" para impedir o avanço dos nazistas em direção à Rússia.

Comentários:
A guerra ainda estava indefinida, com os exércitos de Hitler lutando ferozmente na União Soviética, quando o produtor Samuel Goldwyn realizou esse filme. A sua intenção fica clara desde o começo. Judeu de nascimento, o produtor queria chamar atenção do povo americano para o sofrimento que os russos e ucranianos estavam passando naquele momento, lutando bravamente por sua nação e seu país. A estrutura desse filme aliás é bem curiosa. Na primeira parte somos apresentados à vida cotidiana do pequeno vilarejo, sua vida rural, a alegria de seu povo. Há muitas canções e os momentos de felicidade parecem prevalecer. Os jovens estão enamorados e a vida segue feliz. Tudo desmorona quando os primeiros soldados alemães chegam na localidade. Com sua habitual brutalidade os nazistas já chegam metralhando os moradores que encontram pela frente, fazendo de tudo para conter as chamas que se espalham pela pequena cidadela. Acontece que seguindo ordens de Stálin, os moradores tinham que queimar tudo, suas casas, as plantações, matar os animais domésticos, tudo com a finalidade de não deixar nada para os nazistas em termos de acomodações, instalações e comida. Era a política da "terra arrasada" que foi muito eficiente no combate contra as tropas invasoras. Com um viés de solidariedade em relação aos soviéticos, o filme tenta direcionar a opinião pública dos Estados Unidos em prol daqueles povos. Curiosamente a obra depois seria considerada equivocada do ponto de vista político, isso porque com o fim da II Guerra Mundial os comunistas da União Soviética se tornaram os inimigos dos americanos, com o advento da Guerra Fria. Isso porém pouco importa, pois é um bom filme, que inclusive foi indicado a seis prêmios da Academia. Um retrato de uma época de muita luta e resistência contra o avanço nazista.

Pablo Aluísio.


sábado, 20 de janeiro de 2007

Cinco Covas no Egito

O diretor Billy Wilder construiu um verdadeiro clássico com foco na Segunda Guerra Mundial: "Cinco Covas no Egito" (Five Graves to Cairo - 1943). O longa, com uma bela fotografia em preto e branco do mestre John Seitz, discorre sobre a história do cabo inglês John Bramble que logo depois de ser derrotado na Batalha de Tobruk para as forças alemães de Rommel, foge pelo deserto utilizando um tanque de guerra. Extremamente fragilizado e moribundo, Bramble consegue milagrosamente chegar à Argélia e ser acolhido num pequeno hotel localizado no vilarejo de Sidi Halfaya pelo proprietário Farid e a bela camareira, Mouche, uma francesa nascida em Marselha. As coisas começam a complicar para Bramble quando Rommel - depois de arrasar Tobruk - se volta para a conquista do Cairo e de Alexandria. Mas antes dos ataques, a "raposa do deserto", decide descansar justamente no hotel onde está Bramble.

Com a chegada da comitiva alemã, o Cabo inglês, encurralado e correndo sério risco de vida, assume a identidade de Paul Davos, um dublê de informante nazista e garçom que havia trabalhado neste mesmo hotel antes de ser morto pelos ingleses no dia anterior.Bramble agora, corre contra a tempo, não só para eliminar Rommel e fugir dali, como também descobrir o quanto antes o significado da senha alemã: "Cinco Covas no Egito". Um filme excelente, com um grande elenco, um roteito maravilhoso e um show à parte do ator austríaco, Erich von Strohein no papel de Rommel.

Cinco Covas no Egito (Five Graves to Cairo, EUA, 1943) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder / Elenco: Franchot Tone, Anne Baxter, Akim Tamiroff, Erich von Stroheim / Sinopse: "Cinco Covas no Egito" mostra a história do cabo inglês John Bramble (Franchot Tone) que logo depois de se ver derrotado juntamente com as tropas inglêsas na Batalha de Tobruk, na Líbia (norte da África) para as forças alemães de Rommel (Erich von Stroheim), foge pelo deserto utilizando um tanque de guerra.

Telmo Vilela Jr.