Tom Dobbs (Robin Williams) é um comediante, apresentador de talk show, que durante um dos programas solta uma piada dizendo que vai se candidatar à presidência dos Estados Unidos. O que era para ser apenas um comentário divertido porém começa a ganhar a simpatia do público. Milhões de E-mails são enviados à emissora e Dobbs resolve levar mais adiante a sua sátira, se candidatando pra valer ao cargo como candidato independente. Em pouco tempo ele começa a subir de verdade nas pesquisas se tornando um dos favoritos do eleitorado. Muito bem, com esse título nacional o espectador pode vir a pensar que se trata de uma comédia das mais escrachadas, porém não é bem isso. "Man of the Year" ("O Homem do Ano", em tradução literal) certamente usa o humor em seu enredo, porém tenta ao mesmo tempo mostrar aspectos importantes do mundo da política americana. O diretor Barry Levinson, que também assinou o roteiro, tenta emplacar assuntos mais importantes entre as improvisações de Robin Williams.
Um deles é o esgotamento e a saturação da política tradicional, com a bipolaridade que existe nos Estados Unidos (sempre com dois candidatos, um dos republicanos, outro dos democratas), usando cada vez mais discursos padrões e sem novidades. Quando um comediante chega nesse meio e começa a falar algumas verdades, mesmo que sob o verniz do humor, ele logo dispara na preferência do povo. Já conhecemos bem esse tipo de cenário pois o Brasil já elegeu humoristas para cargos públicos. O descontentamento do eleitor acaba virando voto de protesto, dando enormes votações a pessoas que não teriam a menor chance em uma situação comum e normal. Outra questão que é colocada em cena é a eleição via urna eletrônica. No filme o personagem de Robin Williams acaba se beneficiando de erros de programação das máquinas que captam os votos dos eleitores! Isso demonstra que os americanos não estão nem um pouco dispostos a trocar o voto de papel pelo das urnas digitais, como temos no Brasil. E a razão é muito simples de explicar: elas são facilmente burláveis ou então podem ser manipuladas. Assim o roteiro, sem querer, acaba mostrando aspectos que andam muito em voga no Brasil atualmente em termos de política: a saturação completa da política tradicional e seus partidos sem representação, completamente desacreditados e desmoralizados e a sempre presente sombra da manipulação das eleições ao se usar de meios computadorizados para a captação e contagem de votos. Fora isso o que temos é uma boa comédia, nada excepcional e nem extremamente engraçada, mas que pelo menos serve para levantar interessantes tópicos como esses para discussão.
Candidato Aloprado (Man of the Year, EUA, 2006) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Barry Levinson / Elenco: Robin Williams, Christopher Walken, Laura Linney, Jeff Goldblum, Tina Fey, Amy Poehler, Lewis Black, Rick Roberts / Sinopse: Um comediante (Williams) resolve se candidatar à Presidência dos Estados Unidos e descobre que seu modo sincero de falar a verdade acaba conquistando eleitores em todo o país, o tornando favorito para vencer as eleições presidenciais. Filme indicado ao prêmio da Political Film Society.
Pablo Aluísio.