quinta-feira, 28 de julho de 2016

Um Corpo Que Cai

Outro filme que gostei muito de rever recentemente foi "Vertigo" (no Brasil, "Um Corpo Que Cai") também do mestre Alfred Hitchcock. Certa vez durante uma entrevista o cineasta explicou a tênue tese que permeava todo o enredo do filme. Tudo era uma metáfora sobre a diferença entre a realidade e a fantasia, o mundo concreto e o mundo idealizado.

Na estória um detetive aposentado chamado John 'Scottie' Ferguson (interpretado pelo sempre ótimo James Stewart) aceita a proposta de fazer um último serviço de investigação para um velho amigo. O sujeito é um daqueles homens bem sucedidos casados com mulheres bem mais jovens. Ela ultimamente vem apresentando um comportamento estranho, o que acende o alerta na cabeça do maridão. Todas as tardes ela sai por San Francisco, sem rumo certo, com comportamento fora do normal. Ele contrata assim Scottie para seguir seus passos, descobrir onde ela vai, o que faz e com quem anda nesses momentos...

Traição? Nem tanto. A jovem (na pele de Kim Novak, no auge da juventude e beleza) parece ter desenvolvido algum tipo de obsessão em relação a uma parente distante, sua trisavô, que teria se matado. Ela vai até seu túmulo, visita sua antiga casa, passeia por lugares onde ela viveu e por fim tenta se matar nas águas geladas da baía de San Francisco. Para salvá-la Scottie acaba se aproximando dela, nascendo daí uma paixão avassaladora. Tudo parece seguir numa certa normalidade, porém o que o velho detetive nem desconfia é que tudo o que surge na sua frente não é a realidade, mas um mundo de manipulação, onde ele é apenas um instrumento de ilusão numa teia criminosa.

A tese de Alfred Alfred Hitchcock era justamente essa. A diferença entre o que pensamos ser a realidade e aquilo que realmente é. De um lado o mundo real, concreto. Do outro a fantasia, a imaginação, a mentira. Uma metáfora sobre o próprio cinema no final das contas. O roteiro de "Vertigo" tem várias reviravoltas, algumas delas bem intrigantes e surpreendentes, mas o que mais deixa o espectador surpreso mesmo é ver como uma atriz de talento trivial como Kim Novak conseguiu ter um trabalho de atuação tão bom.

Ela no filme interpreta duas personagens, o seu eu real e a máscara que se apresenta para o velho policial de James Stewart. Uma de suas personalidades tem classe, finesse e por ter um comportamento reservado apresenta um ar misterioso e sedutor que se revela irresistível ao tira aposentado. A outra é uma mulher completamente ordinária (no sentido de ser comum), nada sofisticada, chegando ao ponto de ser simplesmente vulgar. Pura decepção. Uma trabalhadora tentando sobreviver em um emprego meramente medíocre. Certa vez Hitchcock disse que atores eram como gado e deveriam ser tratados como gado. Embora seja uma opinião forte, diria até ofensiva, quando vemos atuações como a de Kim Novak nesse filme acabamos entendendo que apesar de ser um jeito bem heterodoxo de direção a coisa parecia mesmo funcionar perfeitamente...

Pablo Aluísio.

6 comentários:

  1. Avaliação:
    Direção: ★★★★★
    Elenco: ★★★★★
    Produção: ★★★★
    Roteiro: ★★★★★
    Cotação Geral: ★★★★★
    Nota Geral: 9.6

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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  2. Pablo, eu sou um obtuso em analise técnica da feitura de um filme, mas até eu consigo perceber os toques do gênio nos filmes do Hitchcock, porem, ao mesmo tempo, tem umas cenas falsas, pra não dizer mal feitas, nos filmes dele (na hora em que encontram a mãe no porão em Psicose) que é de doer, principalmente nas cenas finais; o final de Intriga Internacional é um exemplo. Não sei se você já percebeu isso.

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    Respostas
    1. Eu credito isso à limitação de efeitos especiais que existiam na época. Era tudo ainda um pouco primitivo e sem recursos. Aqui em Vertigo mesmo a cena final deixa a desejar um pouco - o mesmo em relação a Janela Indiscreta. O tempo cobra o seu preço, afinal esses filmes foram feitos há 60 anos ou mais...

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    2. É, isso também, mas eu me referia a interpretação dos atores e situações.

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    3. Entendi... Nesse ponto eu vou discordar um pouco de você. O Hitchcock trabalhou com grandes atores e atrizes e conseguiu arrancar da maioria deles grandes atuações.

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    4. Quanto aos atores concordo completamente com você. São umas bobeirinhas que sempre aparece nos filme que me incomoda. Na hora que puder, analise as duas cenas que cito acima como exemplo. Abs.

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