domingo, 19 de junho de 2011

Jesus e as riquezas do mundo

Um dos maiores erros sobre a mensagem de Jesus Cristo é acreditar que Ele prometeu riquezas materiais a quem seguisse sua mensagem. Não faz parte da filosofia e nem da mensagem de Jesus a recompensa em bens materiais, em riquezas nesse mundo em que vivemos. Por isso a tal teologia da prosperidade, tão difundida em meios protestantes, não tem qualquer base no evangelho. Em Mateus 6:19 Jesus prega: "Não acumuleis para vós outros tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde ladrões arrombam para roubar."

Esse trecho da bíblia é bem representativo da mensagem de Jesus. Juntar riquezas em nosso mundo é algo em vão, pois não levarás nada quando deixares essa realidade. A única coisa que o homem levará após sua morte são suas boas ações, sua caridade em vida e suas atitudes. Também levará a avareza, a mesquinharia e os pecados. No dia do julgamento toda a sua vida será pesada e o homem será julgado por atos de sua vida. A riqueza material não tem qualquer relevância no mundo espiritual. A riqueza que Jesus prega é justamente a riqueza espiritual. Ele jamais prometeu em sua longa caminhada na Terra a promessa de se ficar rico, cheio de propriedades e posses. Nada disso!

A riqueza material inclusive escraviza o homem. Jesus deixou claro isso em várias passagens da Bíblia. Ao ser procurado por um homem rico, querendo seguir sua mensagem, Jesus o aconselhou a vender tudo, dar aos pobres e só então segui-lo. Mais do que isso, Jesus deixou claro aos apóstolos que é muito difícil ao homem rico entrar no reino dos céus, justamente por causa dessa escravidão ao dinheiro. "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus" - ele afirmou. Agora tente passar um animal grande como um camelo pelo pequeno furo de uma agulha. Praticamente impossível. Assim será em relação ao rico no mundo espiritual, com todas as suas correntes o prendendo às riquezas. A riqueza escraviza, o dinheiro apodrece a alma do homem, que passa a se sentir poderoso, acima de Deus!

Essa mensagem aliás é bem antiga na tradição do judaísmo. Em Provérbios 11:4 está escrito: "As riquezas acumuladas não terão valor algum no Dia da ira divina, mas a justiça livrará o fiel da morte." E mais, em Eclesiastes 2:26 podemos ler: "Deus concede sabedoria, entendimento e felicidade às pessoas que nele têm o seu prazer. Quanto ao pecador, Deus o encarrega de ajuntar e armazenar riquezas para entregá-las a quem o agrada. Também isto é vão e frustrante."

E voltando ao Novo Testamento, em Lucas 18:24, temos o seguinte trecho: Jesus, observando o semblante abatido daquele homem, exclamou: “Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que possuem muitas riquezas!" Em Tiago 5:1-3 mais uma advertência: "E agora, prestai atenção, vós, os ricos! Chorai e arrependei-vos, porquanto desgraças haverão de cair sobre vós." Em João 2:15,16 mais uma mensagem cristalina sobre a verdadeira filosofia cristã: "Não ameis o mundo nem o que nele existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele!" Em Timóteo 6:8-10,17 uma reflexão poderosa: "Por isso, devemos estar satisfeitos se tivermos com o que nos alimentar e vestir."

Por tudo o que foi exposto podemos concluir: Não faz parte da mensagem de Jesus a recompensa em dinheiro, riquezas ou poder aos que procuram seguir seus ensinamentos. Não faz parte da mensagem do evangelho a troca e a barganha do amor a Deus por riquezas no mundo! Essa é uma distorção perigosa das escrituras e de sua verdadeira mensagem. Deus não recompensará ninguém com carros, apartamentos, dinheiro, fortuna ou bens materiais. Deus recompensará os que seguirem sua palavra no mundo espiritual, onde aí sim estará o verdadeiro tesouro, que não é formado por ouro, prata ou dinheiro, mas sim pela verdadeira vida eterna!

Pablo Aluísio. 

O Perdão de Jesus - Setenta Vezes Sete

Em determinado momento do evangelho segundo Mateus 18:22, o apóstolo Pedro pergunta a Jesus sobre o perdão. Quantas vezes deveria se perdoar ao próximo? Sete vezes? Jesus respondeu: "Não digo que se deve perdoar sete vezes, mas sim setenta vezes sete!". Essa expressão "setenta vezes sete" significava no tempo de Jesus o mesmo que "sempre!", ou seja, deve-se perdoar sempre ao próximo, sem limites!

Ao longo da vida certamente alguém nos ofenderá, nos trairá, nos magoará. Faz parte da natureza humana. O que propõe Jesus é que o cristão perdoe sempre. Claro que a ofensa, a traição e a deslealdade não ficaram em vão. Aqueles que cometem esses tipos de atitudes responderão perante Deus, porém apenas a Deus. Não cabe ao homem a vingança, a justiça pelas próprias mãos e o justiçamento. A Deus cabe a punição, ao homem só caberá o perdão, porque a mágoa, a raiva, a ira e os sentimentos negativos apodrecem a alma do homem.

A expressão "setenta vezes sete" usada por Jesus nessa parte do evangelho pode ser encontrado em outras partes da Bíblia, principalmente no velho testamento. Em Gênesis 4:24 lemos o seguinte trecho: "Porque sete vezes Caim será castigado; mas Lameque setenta vezes sete." Em outras palavras, certamente Caim pagará por seu pecado, mas Lameque será castigado pela eternidade por aquilo que fez.

Assim Jesus segue os ensinamentos dos antigos profetas. Salmos já deixava claro que a Deus cabe a justiça, não ao homem. "O Senhor faz justiça e juízo a todos os oprimidos." Em Romanos 12:19 temos a essência de tudo o que foi escrito: "Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor." A vingança, a justiça divina pertencem a Deus. Não cabe ao homem se colocar no lugar de Deus, pois ao fazer isso estará infringindo as leis divinas. Cabe ao homem apenas perdoar e entregar a Deus tudo o que de mal lhe foi feito. A justiça de Deus não falhará jamais!

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de junho de 2011

Papa Pio IV

Com a morte do Papa Paulo IV começou a disputa pelo trono do Papa em Roma. Quatro grandes potências disputavam entre si para fazer o novo sucessor de Pedro. França, Portugal, Espanha e cidades italianas brigavam para apoiar o seu nome preferido nessa sucessão. O nome escolhido foi uma maneira de amenizar todas essas disputas. Depois de alguns anos o Papa voltou a ser um membro da família Medici. Giovanni Angelo Medici foi o escolhido e subiu ao trono em 1559. Ele adotou o título de Pio IV e começou a enfrentar os diversos problemas que atingiam a Igreja Católica naquele período.

Um deles era o velho problema do protestantismo, algo que quebrou a unidade do cristianismo na Europa. Inúmeras igrejas protestantes foram fundadas, criando tensões e conflitos em países do norte como Suécia, Holanda, Bélgica e Dinamarca. Algumas dessas guerras religiosas envolviam não apenas católicos contra protestantes, mas até mesmo entre seguidores de Lutero e outras vertentes dentro do próprio movimento dissidente. De repente a Europa não tinha apenas uma visão da doutrina cristã, mas dezenas, centenas delas, todas diferentes entre si.

O Papa Pio IV culpou esse estado de coisas à publicação de diversos livros que propagavam visões distorcidas da sociedade, do mundo e do próprio Deus. Assim ele mandou elaborar uma lista de livros hereges e mandou que todos os exemplares em circulação dessas obras fossem queimados em praça pública. O novo Index, ou índice de livros proibidos, baniu diversas publicações consideradas ofensivas ao verdadeiro pensamento do bom e fiel seguidor cristão. Curiosamente, em segredo, o Papa ordenou que pelo menos algumas cópias de cada livro proibido fossem preservadas dentro da biblioteca do Vaticano. A intenção não era erradicar completamente os livros proibidos, mas sim tirá-los das mãos de pessoas que poderiam se tornar subversivas ou perigosas. A criação literária em si deveria ser preservada.

Outro ponto de destaque de seu pontificado foi a conclusão do conturbado Concílio de Trento. Pio IV considerou bons os resultados, encerrando um árduo trabalho teológico dentro da Igreja. Em termos de diplomacia internacional Pio IV continuou a enfrentar problemas com a Inglaterra. Desde o rompimento com o rei Henrique VIII os conflitos continuavam. Londres e Roma não conseguiam chegar a uma saída diplomática para a crise. Depois de tentar uma aproximação com a filha de Henrique, Elizabeth I, o Papa resolveu romper relações de vez. Isso se deu em decorrência de um ofensa da Rainha ao Papa. Depois de tomar conhecimento dela o Papa então decidiu excomungá-la. O último ato do Papa foi a revogação e a proibição da simonia dentro da Igreja. A compra de perdão pelos pecados foi considerado uma indignidade para o pensamento cristão. Em 1565 o Papa foi encontrado morto em seus aposentos. Ele não era tão velho como seus antecessores, mas não gozava de muita saúde. Ele faleceu aos 66 anos de idade, após cinco anos como Papa.

Pablo Aluísio.

João Paulo II - Uma pequena história na África

João Paulo II - Uma pequena história na África - Essa pequena história, desconhecida de muitos, está registrada no livro "Francisco: O Papa dos Humildes" de Andreas Englisch. Karol Wojtyla (hoje Sâo João Paulo II) estava em uma remota região africana, para a inauguração de uma nova igreja. O lugar era desolado, distante de tudo e de todos. Apenas um Papa peregrino como João Paulo II chegaria a um lugar tão distante e isolado.

O autor do livro na época trabalhava como jornalista correspondente e estava lá para acompanhar o Papa. Assim que desceu de seu automóvel o Papa pôde perceber o quanto era pobre aquela comunidade. A Igreja, recém terminada, ainda estava com cheiro de tinta fresca. As ferramentas dos pedreiros que a tinham construído estavam no chão, espalhadas. João Paulo II desceu do carro e foi sentar-se ao lado da entrada da Igreja, usando um pequeno caixote de frutas como cadeira improvisada. Todos ficaram admirados pela humildade daquele homem tão importante agindo de forma tão despretensiosa.

Ali estava o líder espiritual de mais de um bilhão e meio de seres humanos na maior humildade, como se fosse como qualquer outra pessoa. As crianças se aproximaram do Papa que foi muito receptivo. Elas começaram a brincar ao seu redor e João Paulo II parecia bem à vontade. Então o povo que estava ali para a inauguração da nova igreja começou a cercar o Papa. Todos à vontade, sem qualquer esquema de segurança, nem nada parecido. Uma limonada foi oferecida ao Papa que aceitou de boa vontade, afinal o calor era insuportável.

Enquanto o Bispo não aparecia o Papa ficou ali, se divertindo com as crianças que brincavam ao seu redor, conversando com o povo humilde em um grau de intimidade que deixou o jornalista espantado. Assim um trabalhador, um pedreiro que havia construído a Igreja, chegou ao lado de João Paulo II e esse lhe perguntou: "Agora que a Igreja está pronta, o que o senhor vai fazer?". O homem disse ao Papa que não seria fácil encontrar outro trabalho ali, o que era bem preocupante para ele pois era um pai de família, que tinha que sustentar sua esposa e seus filhos pequenos. O Papa ouviu atentamente. O desemprego era um problema sempre presente. João Paulo II sabia disso e se compadeceu dos problemas daquelas pessoas.

Quando o Bispo finalmente chegou o Papa terminou de beber sua limonada e juntos entraram na Igreja recém construída, mas antes o Papa lhe disse: "Não cuide dessa Igreja de pedra! Cuide do povo dessa região, que precisa muito de ajuda. Faça isso, senão vai se ver comigo!". Claro que as palavras do Papa não soaram como uma ameaça, mas sim como um direcionamento, demonstrando que o importante não era a Igreja em si, mas sim a comunidade ao seu redor. Não eram as pedras da nova construção que deveriam estar em primeiro lugar, mas sim os alicerces daquela comunidade. Uma amostra do lado mais humano de um Papa que marcou época e que hoje é considerado um dos grandes Papas da história.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os Filhos de Maria

Uma pergunta que sempre surge em sites e blogs de internet. Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos após seu nascimento? Para a doutrina católica a resposta é negativa. Para justificar os teólogos católicos usam o próprio evangelho. Desde tempos imemoriais, ainda na fase meramente da tradição oral, a família de Jesus sempre foi representada como sendo formada apenas por José, Maria e o próprio Jesus. A tradição da família santa com apenas três pessoas também é seguida em várias outras tradições religiosas como, por exemplo, a da Igreja Ortodoxa e até mesmo de algumas igrejas protestantes históricas.

A dúvida porém ressurgiu quando certas vertentes protestantes passaram a pregar que Maria teria tido outros filhos, em especial Tiago, que é citado no texto bíblico como sendo irmão de Jesus. Há problemas nesse tipo de visão. A expressão "irmão de jesus" é interpretada de forma equivocada. Na antiguidade esse termo irmão tinha uma outra conotação. Muitas vezes os próprios primos eram designados como irmãos de  uma mesma família maior, formada por tios, tias, avós e avôs. Assim Tiago não era filho de Maria (em nenhum lugar da bíblia isso é citado) e nem muito menos irmão de sangue de Jesus Cristo. Ele era muito provavelmente seu primo, assim como suas outras "irmãs". Naqueles tempos distantes nem mesmo a designação "primo" era utilizada. Sendo todos filhos de uma linha envolvendo avôs, pais e tios, eram assim considerados "irmãos" em um sentido diferente do que hoje usamos.

E ainda há mais. Aos pés da cruz Maria está acompanhada de João, discípulo de Jesus. O Filho de Deus olha para ambos e diz: "João, eis sua mãe. Maria eis o seu filho!". Fica óbvio que Jesus estava designando que João cuidasse de Maria dali em diante. Ela obviamente já estava em uma idade mais avançada e precisava de alguém para cuidar dela em sua velhice. Ora, se Jesus tivesse mesmo irmãos e irmãs, não haveria essa preocupação por parte do Messias, pois ela seria cuidada por seus próprios filhos. Na preocupação de Jesus descobrimos duas coisas importantes: a de que Maria não tinha outros filhos e a de que José, seu esposo, muito provavelmente já estava morto quando Jesus foi crucificado. Maria ficava sozinha no mundo, sem parentes próximos. Por isso Jesus, mesmo crucificado, não deixou ela desamparada. Mandou que seu apóstolo cuidasse dela a partir daquele momento.

O fato é que João cumpriu a determinação de Jesus e ficou ao lado de Maria até seu falecimento. João, o amado apóstolo, esteve ao lado da mãe de Deus até o fim de seus dias. Finalizando, aqui vão mais dois outros fortes argumentos sobre a não existência de outros filhos de Maria. Nenhum filho dela é citado mais na Bíblia, nem nos atos dos apóstolos e nem em nenhuma outra parte do evangelho cristão. Além da tradição histórica que atravessou os séculos outro fato vem reforçar a doutrina católica. Nas mais antigas representações da família de Jesus não existem irmãos ou irmãs ao lado de Jesus, Maria e José. Apenas os três são representados nessas imagens, demonstrando que os cristãos primitivos, aqueles que tiveram mais contato com a história real, também tinham a certeza e a convicção de que a família santa era formada apenas por um trio, envolvendo pai, filho e mãe. A história, além da teologia, confirmam assim que não havia mais irmãos e nem irmãs na vida de Jesus.

Pablo Aluísio.

Papa Marcelo II

Após a morte do Papa Júlio III subiu ao trono de Pedro o cardeal romano Marcello Cervini, que resolveu usar seu nome de batismo como título Papal. Esse Papa ficou notório na história por algumas características. A mais famosa foi o fato dele ter sido Papa por um breve, na verdade brevíssimo, período de apenas 22 dias! Eleito em 9 de abril, morreu em 1 de maio de 1555. Mal houve tempo de fazer qualquer coisa que fosse historicamente relevante. Suspeitas de que teria sido assassinado voltaram a rondar o Vaticano após sua morte.

E o que poderia ter causada a morte tão rápida desse pontífice? Para muitos historiadores Marcelo II tentou ser bastante revolucionário nos poucos dias de seu pontificado. Assim que foi eleito resolveu doar todo o dinheiro que seria usado em sua festa de subida ao trono para os pobres de Roma. Homem estudioso, metódico, ele queria promover um Papado de extrema austeridade, procurando investigar as finanças do Vaticano.

Também procurou reforçar a doutrina católica, como seu antecessor, Júlio III. Marcello era o encarregado da biblioteca da Igreja antes de ser eleito Papa e tinha uma cultura excepcional do ponto de vista teológico. Também combateu o nepotismo que existia dentro da Igreja, com membros do clero sendo favorecidos por causa de suas linhas de parentesco e fortuna pessoal. Seu exemplo calou fundo dentro do povo que logo percebeu que o novo Papa estava disposto a combater toda a corrupção dentro do alto clero em Roma.

Infelizmente seus anseios de mudança foram em vão pois morreu muito rapidamente. Embora sempre tenha pairado sobre a morte de Marcelo II várias especulações de que ele fora envenenado, historiadores modernos defendem que ele provavelmente já era um homem doente do coração quando foi eleito Papa. Com o stress do cargo e as pressões inerentes a sua posição, ele acabou sofrendo um colapso cardíaco enquanto caminhava apressadamente pelos corredores do Vaticano. Tão rápida foi sua morte que nem sequer foi pintado um quadro oficial do novo Papa, só existindo atualmente figuras e gravuras com sua imagem. Apesar da brevidade de seu pontificado o Papa Marcelo II é bem conceituado entre historiadores da Igreja Católica. Para muitos deles esse foi um Papa que realmente queria limpar a Igreja das pequenas e grandes corrupções. Pena que não houve tempo para isso.

Pablo Aluísio.

Papa Paulo IV

O Papa Paulo IV tinha origens humildes. Ele pertencia a uma família nobre, mas arruinada, de ascendência portuguesa, que morava há muitas décadas em Nápoles. Desde cedo a Igreja se mostrou ser uma boa carreira a seguir. Como seus pais não tinham mais terras e nem poder o jovem Giovanni Pietro Carafa viu nos estudos uma maneira de melhorar de vida. A instituição que tinha as melhores escolas e universidades da época era justamente a Igreja Católica. Carafa era um homem de fé, assim resolveu entrar no seminário. Jovem aluno muito estudioso, logo subiu na hierarquia católica, se tornando padre, bispo e arcebispo em Nápoles. Tornou-se homem próximo do Papa Leão X, que o nomeou embaixador na Inglaterra.

A morte muito precoce do Papa Marcelo II fez com que um novo conclave fosse convocado às pressas. Por suas qualidades pessoais Giovanni Pietro Carafa acabou sendo eleito Papa em maio de 1555. Assim que chegou ao trono Paulo IV precisou lidar com novos e velhos problemas. O poderoso Carlos V não gostava pessoalmente dele e fez de tudo para sabotar seu pontificado. Paulo IV resistiu, mas não sem antes trazer vários problemas políticos para a cúpula da Igreja.

Tendo sido embaixador na Inglaterra conhecia bem os problemas que a Igreja Católica enfrentava naquela nação, entre elas, a mais séria, a subida ao poder de Elizabeth I, que era filha de Ana Bolena e uma protestante feroz. Roma queria que Mary Stuart fosse a nova Rainha, não apenas por ser a filha legítima do Rei Henrique VIII, como também por ser a filha de Catarina de Aragão, rainha católica devota. Para o Vaticano Ana Bolena nada mais tinha sido do que uma amante do rei. A diferença de opiniões criou uma nova crise entre Roma e Londres, levando a mais um rompimento entre o Catolicismo e o Reino da Inglaterra.

Outra luta que o Papa teve que enfrentar foi contra a liberação dos costumes que havia na própria cidade de Roma naquela época. Na capital da fé cristã havia muitos prostíbulos, muitas jovens era prostitutas e a devassidão era completa. Mulheres sem maridos, órfãos jogados pelas ruas, miséria e pobreza moral. Para Paulo IV algo precisava ser feito. Foi assim que ele resolveu trazer a inquisição para Roma, para moralizar à força o povo da cidade. Isso criou para ele sérios problemas, entre eles a antipatia do próprio povo romano que passou a odiar o Papa.

Apesar da idade avançada, 83 anos, o Papa Paulo IV continuava sua problemática política diplomática internacional. Ele criou vários problemas com as mais diversas cortes da Europa. As brigas com Carlos V continuavam, os atritos com a Rainha Elizabeth I eram constantes e para piorar chegou a negar o reconhecimento do reinado de Fernando I. Com fama de austero, briguento e moralizante, o Papa morreu de forma inesperada numa manhã de agosto de 1559. Após quatro anos de um Papado turbulento ele não aguentou as pressões e morreu do coração. O velho Papa continuava muito impopular, mesmo após sua morte, o que fez com que seu túmulo fosse vandalizado. Suas ordens promovendo a moral e os bons costumes, interferindo na vida pessoal de muitos romanos, cobrou seu preço.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Jesus e Isaías

Para os cristãos o profeta Isaías profetizou a chegada de Jesus, principalmente em Isaías 53. Nesse versículo, extremamente importante para a teologia cristã, vemos o profeta Isaías se referindo a um homem justo, que seria moído (martirizado) pelos pecados do mundo. Como todos sabemos a doutrina católica é categórica ao afirmar que Jesus foi crucificado para curar os pecados do mundo, para ser o supremo sacrifício divino em prol da redenção de toda a humanidade. O Salvador seria assim desprezado, humilhado, morto e sepultado por causa das iniquidades do povo (iniquidades no sentido de pecados). Jesus seria o cordeiro, aquele que daria a vida por amor ao próximo. Lendo Isaías vemos que isso combina perfeitamente com a história de Jesus. Para os cristãos é uma profecia definitiva sobre a vinda de Jesus (Deus) ao mundo. Para bem situar o leitor colocarei abaixo o inteiro teor do texto bíblico.

"Isaías 53 - 1 Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? 2 Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. 3 Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. 4 Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. 5 Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. 6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.

7 Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. 8 Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido. 9 E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca. 10 Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão. 11 Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si. 12 Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores."

Apesar do texto ser bem claro a respeito de tudo o que aconteceria com Jesus no futuro (essa profecia foi escrita cinco séculos antes do nascimento de Jesus de Nazaré, profetizando o que lhe aconteceria), muitos rabinos judeus entendem que o longo trecho se refere não a um homem e nem a um Messias, mas sim ao próprio povo de Israel, Para eles o "servo sofredor" na verdade seria o próprio povo judeu, em uma referência que do ponto de vista histórico falava sobre a saída dos judeus do cativeiro da Babilônia. Nada a ver com a chegada de Jesus cinco século depois. É realmente muito complicado ler a profecia de Isaías e não pensar que ele está se referindo a um sujeito, a uma pessoa e não a uma coletividade. Como superar isso? Para os mestres do judaísmo isso seria explicado pelo fato de existir traduções equivocadas do original em hebraico. Não concordamos com esse ponto de vista, porém diante de uma postura de respeito a outras religiões e crenças, resolvemos colocar aqui também a opinião dos judeus, que até hoje não aceitaram a figura de Jesus (Yeshua em sua língua natal) como o verdadeiro Messias profetizado pelo profeta Isaías.

Pablo Aluísio.