quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 5

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 5
O vinil segue tocando na agulha e vamos chegando ao final do álbum, com suas duas últimas músicas. "Walk a Mile In My Shoes" sempre foi uma das minhas preferidas dessa fase da carreira de Elvis. Certa vez Elvis declarou: "Antes de criticar os outros, meu caro, se coloque no lugar deles!". A essência da letra dessa música é justamente essa. Coloque-se no lugar do outro, lute suas batalhas, vejas as dificuldades que cada um enfrenta na sua própria pele. Criticar é fácil, viver os problemas alheios, não! Elvis foi tão criticado ao longo dos anos 60 que ele sabia muito bem o que essa mensagem significava. "Caminhe uma milha em meus sapatos", ou seja, fique no meu lugar, veja como é difícil andar nessa jornada, como a vida definitivamente não é nada fácil para ninguém. Em um trecho a letra é clara sobre isso ao dizer: "Viva um pouco no meu lugar, antes de abusar, criticar e acusar, viva um pouco no meu lugar". Aliás se formos analisar bem a letra foi a chave, o fator determinante, que fez Elvis gravar essa canção. Elvis estava farto, cansado, exausto de ser tão criticado depois de tantos anos. 

Em termos puramente musicais "Walk A Mile In My Shoes" não havia se destacado antes de Elvis gravar a sua própria versão. A canção foi lançada de forma bem obscura como Lado B de um single do cantor e compositor Joe South. O compacto, um tanto precário, quase uma produção independente, foi lançado como sendo do grupo "Joe South and the Believers". Na realidade não era bem uma banda, um novo conjunto vocal country, mas sim um arranjo envolvendo Joe South, seu irmão Tommy e sua cunhada. Eles se reuniram em Atlanta, juntaram uns trocados, fizeram uma gravação praticamente amadora em um estúdio da cidade e mandaram prensar 500 cópias. Tinham a esperança de vender pelo menos umas 300 cópias para lucrar algum dinheiro, e isso era tudo. Acontece que a música acabou chegando até Elvis (não me perguntem como!) e assim o astro a cantou ao vivo em Las Vegas. Quando o álbum "On Stage" chegou nas lojas Joe South pulou de alegria obviamente. Depois de Elvis colocar sua voz em sua criação finalmente Joe conseguiu lançar um single profissional que, pasmem, acabou fazendo um bom sucesso na parada country do cinturão bíblico do sul dos Estados Unidos. Sua sorte havia finalmente mudado!

O disco fecha as cortinas com a grandiosa e bela "Let It Be Me". A primeira vez que ouvi essa música não foi na voz de Elvis Presley. Na verdade ela já havia feito muito sucesso antes na interpretação do grupo "The Everly Brothers". Essa versão - a primeira em língua inglesa - havia sido lançada pelos irmãos em 1960, alcançando um grande sucesso nas paradas, em especial da Billboard Hot 100. É curioso que esse sucesso chegou talvez tarde demais para eles. Já havia uma grande tensão entre os dois e a canção acabou sendo um de seus últimos sucessos juntos. Curiosamente alguns meses atrás assisti a uma entrevista com Paul McCartney afirmando que o estilo vocal do Everly Brothers havia se tornado a grande influência para os Beatles em seus primeiros discos. De fato, basta ouvir álbuns como "Please Please Me" ou "With The Beatles" para comprovar bem isso. Além da influência vocal havia também os arranjos, baseados principalmente na dobradinha voz e violão, que os Beatles também procuraram seguir, principalmente nas canções mais lentas, ternas, com letras que falavam de amor, romance e paixão. Não há como negar, os Beatles deveram muito em termos de influência musical a essa dupla americana. De qualquer maneira apesar da inegável importância da versão dos irmãos Everly, o fato é que a versão original não era deles. A primeira gravação dessa canção foi lançada na França com o título de "Je t'appartiens" na voz do cantor Gilbert Bécaud. 

Isso abre um fato histórico interessante. Elvis teria conhecido a música através do single dos Everly Brothers ou tinha gostado dela por causa da versão original, quando ainda estava servindo o exército americano na Europa? Como se sabe Elvis adorava música francesa e chegou a visitar Paris em uma viagem de férias enquanto estava em solo europeu. Anos depois, consultando a discografia particular de Elvis em Graceland, descobriu-se que ele tinha tanto o compacto americano dos Everly Brothers como o álbum de Gilbert Bécaud. Na dúvida sobre qual gravação era a sua preferida uma coisa é certa: quando apareceu a oportunidade Elvis não deixou passar em branco e resolveu também gravar sua versão em forma de homenagem para essa grande canção, que em suas mãos ganhou um arranjo rico, com muita orquestra, bem diferente das versões originais que primavam pela suavidade e simplicidade harmônica.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Kentucky Rain

Elvis Presley: Kentucky Rain
Pelo figurino da capa já podemos ver que se trata da primeira temporada de Elvis em 1970 na cidade de Las Vegas. Afinal é a mesma roupa de palco que vemos na capa do álbum oficial "On Stage - February 1970". Aqui nesse lançamento temos o concerto realizado no dia 22 de fevereiro de 1970, que para muitos se trata de um concerto inédito na qualidade "Audience Records" (que significa tape gravado direto do meio do público, muitas vezes com equipamento não profissional). E essa temporada sempre foi uma das mais apreciadas pelos fãs de Elvis. Não foi uma das mais registradas, por outro lado, o que traz um sabor de interesse sempre que algo que foi gravado nessa época chega ao mercado. 

O bom desse tipo de registro é que ele acaba captando a reação da plateia, sem efeitos sonoros ou nada que o valha. O curioso é que não havia a gravação da última canção da noite, a romântica Can't Help Falling In Love. Assim os produtores acabaram colocando uma versão gravada dois dias antes, para não soar ao ouvinte como algo incompleto. No mais o CD vale por registrar uma das poucas versões ao vivo de Elvis para a canção Kentucky Rain. Há também um curioso momento da apresentação em que Elvis diz ao público que o cantor Roy Orbison está na plateia, prestigiando seu show. Algo bem legal do ponto de vista histórico.

Elvis Presley: Kentucky Rain
1. Opening Vamp - 02. All Shook Up - 03. I Got A Woman - 04. Long Tall Sally - 05. Don't Cry Daddy - 06. Hound Dog - 07. Monologue - 08. Love Me Tender (with false start) - 09. Kentucky Rain - 10. Let It Be Me - 11. I Can't Stop Loving You - 12. Walk A Mile In My Shoes (false start only) - 13. C. C. Rider - 14. Sweet Caroline - 15. Polk Salad Annie - 16. Introductions of singers, musicians, orchestra - 17. Suspicious Minds - 18. Introduction of Roy Orbison - 19. Can't Help Falling In Love.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Playboy: Fama e Morte - Star Stowe

Caso Policial: Star Stowe
Ellen Louise Stowe teve um destino trágico. Quando atingiu a maioridade, se mandou de uma pequena cidade no Arkansas para Las Vegas pois queria ganhar a vida como modelo. Beleza não lhe faltava, era uma angelical loira de 18 anos de idade, uma verdadeira beldade. Na cidade do pecado acabou conhecendo o vocalista da banda Kiss, o Gene Simmons. Não demorou e se tornou sua namorada de ocasião, chegando até mesmo a aparecer em ensaios fotográficos com a famosa banda de rock.  E foi o rockstar namorado que decidiu enviar suas fotos para a revista Playboy. Já que ela queria uma carreira de modelo ele poderia dar uma forcinha nisso. 

Não deu outra e o fundador da revista Playboy, o magnata Hugh Heffner, impressionado com a beleza da garota, logo a contratou. Virou playmate estampando o poster da revista em fevereiro de 1977. Também saiu em uma edição japonesa da revista. O sucesso havia chegado! Essa foi a fase de maior fama e sucesso na vida de Star Stowe, nome artístico que adotou. Muitas festas, muita grana e também muita droga e sexo em orgias promovidas na própria mansão da Platboy. Ela caiu fundo nesse mundo, sendo explorada, em todos os sentidos, até mesmo sexualmente, pelo dono da revista. Logo se viu sendo usada por ele. Pior do que isso, percebeu que estava viciada em drogas e bebidas. 

Após uma discussão com Heffner acabou sendo expulsa da mansão da Playboy. Ela perdeu tudo praticamente da noite para o dia. Sem grana, acabou voltando para Vegas onde passou a ganhar a vida como stripper nas casas noturnas locais. Não demorou muito e logo estava também fazendo programas para sobreviver. Foi uma queda dura, mas ela tinha que sobreviver de alguma forma. A grande maioria dessas garotas que posavam para a Playboy também eram vulneráveis de todas as formas. Um roteiro previsível na vida da maioria delas. 

Star Stowe ainda teve tempo de ter um filho que amava, com um homem rude e violento. Mudou-se para a Flórida e para sua tragédia pessoal foi morta e assasinada na cidade de Fort Lauderdale em 1997. Estava trabalhando ainda como prostituta de rua. Não se sabe até hoje quem a matou, é um caso em aberto. Ela foi estrangulada e seu corpo jogado no meio de um matagal deserto, perto da estrada. Provavelmente entrou dentro de um carro para mais um programa e encontrou a morte, como muitas profissionais do sexo. Um triste final de vida para uma garota que quando jovem mais parecia um anjo, por causa de seu rosto angelical. Pena que até mesmo anjos podem ter um fim de vida bem trágico. 

Pablo Aluísio. 

Cartas na Mesa

Título no Brasil: Cartas na Mesa
Título Original: The Gambler Wore a Gun
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Edward L. Cahn
Roteiro: Orville H. Hampton, L.L. Foreman
Elenco: Jim Davis, Merry Anders, Mark Allen, Michael Louis, Richard Richardson, Lisa Heloise Huffner

Sinopse:
Case Silverthorne (Jim Davis) é um jogador veterano no velho oeste que está pensando em mudar seu estilo de vida. Quer se retirar desse mundo para tocar sua própria fazenda. Os problemas porém parecem persegui-lo. Por acaso acaba salvando a vida do xerife numa emboscada, sendo morto o pistoleiro que queria matar o homem da lei. O problema para Case é que o sujeito era justamente o dono do rancho que ele havia comprado. A venda ainda não havia sido formalizada e agora Case precisa provar que o negócio havia sido feito. Os herdeiros do rancho não aceitam a venda e o pior, querem vingar a morte de seu pai. Case agora virou o alvo!

Comentários:
Mais um western enfocando a vida dos chamados jogadores profissionais do velho oeste. Esses eram sujeitos que viviam de saloon em saloon, sempre em busca de algum jogo de cartas para levantar uma grande bolada em apostas que envolviam muito dinheiro. O lance era perigoso, qualquer sinal de trapaça era respondida com o cano fumegante de uma pistola, por isso muitos jogadores também eram pistoleiros bons de mira - fazia parte daquele estilo de vida. No roteiro desse filme temos de tudo um pouco - a emoção dos jogos de poker, os problemas com a lei e os conflitos sangrentos por causa de terra e gado. O diretor Edward L. Cahn já era um veterano quando dirigiu esse "The Gambler Wore a Gun" pois havia estreado no cinema em 1931. No total dirigiu 127 filmes, numa mistura incrível de gêneros, desde faroestes até filmes de terror e ficção. Era um verdadeiro workaholic dos estúdios. "Cartas na Mesa" é certamente um bom faroeste, nada excepcional, mas que mantém o foco da diversão e do entretenimento com eficiência.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Quando a Mulher Erra

Título no Brasil: Quando a Mulher Erra
Título Original: Stazione Termini
Ano de Lançamento: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Vittorio De Sica
Roteiro: Cesare Zavattini, Luigi Chiarini
Elenco: Jennifer Jones, Montgomery Clift, Gino Cervi, Richard Beymer, Gino Anglani, Oscar Blando

Sinopse:
Nesse drama romântico, a atriz Jennifer Jones interpreta uma mulher norte-americana que viaja para Paris e Roma e nessa última cidade conhece e se apaixona por um jovem italiano. O problema é que ela é casada nos Estados Unidos. Com sentimento de culpa, então resolve se encontrar com o amante em uma estação romana para terminar tudo, mas isso vai ser extremamente doloroso para o casal. 

Comentários:
Mais um bom filme da filmografia de Montgomery Clitf, se bem que se formos pensar bem, o filme pertenceu mesmo à Jennifer Jones no quesito atuação. Ela era uma ótima atriz, bonita e talentosa nas medidas certas e soa perfeitamente convincente no seu papel de mulher casada que, corroída pela culpa de ter traído o marido numa viagem de férias pela Europa, tenta colocar um fim em seu caso romântico extraconjugal. O problema é que realmente está apaixonada pelo amante italiano e isso se torna extremamente doloroso emocionalmente para ela. A velha luta entre moralidade, ética e sentimentos passionais. O filme foi dirigido pelo mestre Vittorio De Sica. Foi filmado na Itália, em Roma, e tem jeito de filme europeu, embora fosse produzido por um estúdio de Hollywood. O produtor americano David O. Selznick não gostou muito da primeira versão do diretor e cortou nove minutos do filme. A versão completa só seria lançada muitas década depois em DVD. Pois é, não é de hoje que os cineastas são tolhidos em seus talentos nos filmes autorais em que trabalham, por meras preocupações comerciais dos produtores envolvidos. 

Pablo Aluísio.

Um Sonho para Dois

Título no Brasil: Um Sonho para Dois
Título Original: It All Came True
Ano de Lançamento: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Lewis Seiler
Roteiro: Louis Bromfield, Michael Fessier
Elenco: Humphrey Bogart, Ann Sheridan, Jeffrey Lynn, Zasu Pitts, Una O'Connor, Jessie Busley

Sinopse:
O gangster Chips Maguire (Humphrey Bogart) acaba assassinando um policial que estaria atrás dele, o investigando, por causa de suas atividades criminosas. Um músico de nightclub acaba sendo a única testemunha desse crime. Para Chips passa a ser uma questão de tempo para eliminá-lo, evitando assim que seja preso por mais esse crime.

Comentários:
Humphrey Bogart construiu sua carreira interpretando criminosos como a desse filme noir da década de 1940. Ele era realmente ótimo nesse personagem porque, vamos convir, tinha jeito mesmo de sujeito durão, com cara de bandido. Aqui nesse filme policial temos tipos bem interessantes, personagens bem construídos. O gangster de Bogart não é um tipo totalmente condenável, embora seja mesmo um criminoso contumaz. Ele tem sua dose de humanidade e charme, chegando a se envolver romanticamente com uma cantora de cabaré. Só que não se engane, esse, no final das contas, não é um filme romântico, apesar de seu título nacional que possa levar a essa interpretação. É um filme passado no submundo, com todos os tipos marginais que tão bem conhecemos nesse tipo de filme antigo. Que pena que não se produzam mais boas histórias como essa. É algo que se perdeu com o tempo em Hollywood. 

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Maria Antonieta de Zweig Stefan

Aqui vai uma dica de leitura para o fim de ano, um livro que li recentemente e de que gostei bastante. Trata-se da biografia da Rainha Maria Antonieta escrita por Zweig Stefan. Não e um livro novo e nem recente. Na verdade a primeira edição foi lançada em 1932. O tempo porém só lhe fez bem. O estilo de escrita de Zweig Stefan é um primor, uma verdadeira aula de como se deve escrever uma biografia de forma interessante, prazerosa, que capture a atenção da primeira à última página. Aqui o autor leva seu leitor para dentro da vida da Rainha, é como se estivéssemos nos aposentos reais do Palácio de Versalhes. Não se trata de um tratado de história, com inúmeras referências a cada página, o que tornaria a leitura pesada e muitas vezes chata. Nada disso. É escrito em estilo de romance, com a diferença de que não se trata de mera ficção, mas de algo que realmente aconteceu.

A protagonista é essa arquiduquesa austríaca, da dinastia dos Habsburgs, que é dada em casamento ao Delfim da França, um garoto que iria no futuro se tornar o Rei Luís XVI. Filha da imperatriz Maria Teresa da Áustria, Maria Antonieta sabia bem que ela e suas irmãs estavam destinadas a terem um casamento arranjado, pois era tradição na casa de Habsburg esse tipo de arranjo. As arquiduquesas eram criadas para se tornarem esposas de monarcas e nobres por toda a Europa, consolidando assim uma política de alianças por todo o continente. Aliás a primeira imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina, que era inclusive sobrinha neta de Maria Antonieta, teve o mesmo destino, vindo a se casar com Dom Pedro I. 

Na França Maria Antonieta se deu conta que sua vida não seria muito fácil. Seu casamento demorou a se consumar, por causa da hesitação do príncipe. Com a morte de Luís XV, ela e seu marido subiram ao trono muito jovens, sem experiência para lidar com as transformações que estavam acontecendo dentro da França. A obsessão da Rainha pelo luxo e extravagância, com vestidos e penteados absurdos também não ajudou em nada. Enquanto o povo francês sofria na fome e na miséria, a corte de Versalhes desfilava riqueza, em situações que de certa maneira afrontava o próprio povo que sustentava a monarquia.

O resultado dessa situação todos sabemos. A Revolução Francesa eclodiu e o absolutismo monárquico europeu sofreu o primeiro grande golpe de sua história. Não é um livro de final feliz, ainda mais porque Zweig Stefan cria uma simpatia do leitor com a Rainha, mesmo com todos os erros que ela cometeu. O livro também demonstra que uma campanha de calúnia e difamação se espalhou pelo reino, divulgando mentiras e boatos maldosos sobre o comportamento da Rainha, que não era tão má pessoa como faziam parecer os revolucionários. No final de tudo é um livro tão bom que dá vontade de reler assim que chegamos ao final. E para quem gosta de curiosidades aqui vai uma informação final mais que interessante: o escritor Zweig Stefan, que assim como Maria Antonieta, era austríaco de nascimento, passou seus últimos anos de vida no Brasil. Ele tinha origem judaica e por essa razão precisou ir embora da Europa quando o nazismo começou a tomar de assalto os países europeus. Acabou morrendo em Petrópolis, aos 60 anos de idade.

Pablo Aluísio.  

Lilith

Lilith
O que é Lilith? Quem foi Lilith? Segundo pesquisas históricas e arqueológicas, a figura de Lilith surgiu na antiga civilização Mesopotâmia. Curioso notar que em suas origens não era ela uma criatura única, um ser do mal chamado Lilith. Na verdade era uma categoria de ser mitológico. Uma estranha e sombria figura que surgia nas madrugadas para levar recém nascidos. Importante frisar que na antiguidade era enorme o número de mortos recém-nascidos, pois a mortalidade infantil era elevadíssima, então os povos daquela época explicavam esses tristes eventos como atos de Liliths, seres alados femininos, com pés de águia, que surgiam na noite para infernizar a vida de jovens casais, levando seus filhos como forma de punir a felicidade alheia. 

Como se trata de uma figura da mitologia antiga logo sua origem foi modificada e adaptada por outros povos. Os judeus, por exemplo, colocaram Lilith na posição de demônio. Não era apenas uma categoria de seres, mas apenas uma única mulher que teria sido a primeira mulher de Adão. Se recusando a servir ao marido como convinha a uma mulher da antiguidade, ela se rebelava, era dona de si, não aceitava ordens e era rebelde. Vendo essa situação logo o Deus Jeová a expulsou do paraíso, a jogou no inferno e arranjou uma nova mulher para Adão que seria Eva. 

Interessante que essa nova versão de Lilith a tornaria muito popular nos dias de hoje, a ponto dela ser um símbolo para o movimento feminista atual, pois seria a mulher dona de seu próprio destino, que não aceitaria mais a opressão do patriarcado. E como a religião judaico-cristã a pintava com tintas de ser das trevas, tudo se encaixaria ainda mais para o símbolo de feminismo desde os tempos da antiguidade, algo bem simbólico que o movimento feminista tanto buscava. Tão popular ela segue sendo que até mesmo em fóruns de internet muitas das jovens feministas e progressistas usam o nickname de Lilith para se comunicar entre si nos fóruns ligados a esse movimento de luta social. 

O mais interessante na história dessa personagem da mitologia antiga é perceber como ao longo dos séculos ela foi mudando de simbologia, sendo atualmente a figura mitológica antiga mais popular. Como produto puramente cultural, pois obviamente não existe demônio nenhum, ela segue sendo usada como símbolo de diversos movimentos ou aspirações, principalmente pelas mulheres mundo afora. Por essa os antigos religiosos não esperavam. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 16 de dezembro de 2023

Imperador Romano Vitélio

Imperador Romano Vitélio
Depois da morte de Nero, o Império Romano passou por uma fase de grande instabilidade política e militar. Foi um tempo de guerra civil, onde golpes militares eram superados por outros golpes militares, sendo que as legiões vencedoras proclamavam como novo imperador justamente os seus generais vitoriosos nos campos de batalha. Foi o que aconteceu com Aulus Vitellius Germanicus, o imperador Vitélio. 

Ele vinha de uma linhagem que sempre desfrutou dos privilégios da casa de Júlio César. Dizia-se, na boca pequena, pelos becos de Roma, que ele havia sido um dos "peixinhos" do Imperador Tibério. Esse termo era usado para designar os jovens, menores de idade, que eram abusados sexualmente por Tibério, que tinha fama de pedófilo em Roma. Depois da morte desse velho imperador, ele continuou na corte, sendo um jovem privilegiado nas cortes de Calígula, Cláudio e Nero. Quando esse morreu, Vitélio comandava legiões romanas no exterior. Na fase que se sucedeu, ele sentiu que poderia assumir o poder total, pois suas legiões eram fortes e prontas para a guerra. 

Rumou para Roma e destruiu as tropas leais a Otão. Depois de matar aquele imperador, Vitélio assumiu o título de Imperador Romano. Ele seria o último dos três imperadores efêmeros dessa fase da história de Roma. Infelizmente para os romanos de sua época, ele era um ser humano desprezível que tinha poucos valores morais a preservar. Para o povo romano em geral se vendia como general e político honesto, homem acima de qualquer crítica. Um militar vitorioso em campos de batalha distantes do centro do poder. Por baixo dos panos, nos bastidores do império, se comportava como um ladrão barato, capaz até mesmo de roubar jóias do tesouro imperial. Na calada da noite assaltava os locais onde ouro, prata e jóias eram guardadas pelos senadores.

E seus atos como Imperador apenas confirmava o lado sórdido de sua personalidade. Enquanto militar, ele acumulou grandes dívidas pessoais. Eram inúmeros os seus credores. Quando subiu ao trono esses pensaram que finalmente iriam receber seu dinheiro, mas para seus infortúnios, o novo imperador não pagaria suas dívidas. Ao invés disso mandou passar no fio da espada todos os seus credores. Não apenas nunca receberam, como também perderam suas vidas para esse homem pérfido. 

E as atrocidades não pararam, atingindo sua própria casa. Mandou matar dois de seus filhos que eram acusados de conspiração política contra seu poder imperial. Não satisfeito, exilou para uma ilha distante sua única filha que havia chorado pelos irmãos mortos. Também celebrou publicamente a morte da mãe, que dizia-se havia sido envenenada por seus homens no palácio. Para quem se vendia como militar honesto ele se entregou cedo a todos os vícios possíveis, praticando orgias e banquetes suntuosos, enquanto grande parte do povo de Roma passava fome. Era insensível, brutal e cruel, segundo inúmeras crônicas de sua época. 

Com tanta corrupção, foi outro imperador que caiu cedo. Ficou apenas oito meses no poder. O Senado e as famílias tradicionais de Roma ficaram horrorizadas com aquele comportamento. Não demorou muito e foi preso por outro general, Vespasiano, que finalmente iria trazer alguma estabilidade na política da cidade eterna. E sua derrota foi selada no campo de batalha quando suas últimas legiões leais foram derrotadas pelos exércitos de Vespasiano. 

Depois de um breve julgamento de acordo com o Direito Romano, o agora deposto Vitélio foi jogado para a turba romana que promoveu um linchamento com seu corpo pelas ruas da cidade. Foi esfaqueado inúmeras vezes após ter suas vestes arrancadas pela enfurecida plebe romana. Seu corpo, destroçado, então foi jogado no rio Tibre, onde desapareceu para todo o sempre. Era dezembro de 69 e seu reinado de terror havia chegado ao fim. Vespasiano era o novo imperador romano. Pelas ruas da cidade o general desfilou com o povo gritando a plenos pulmões "Vida longa ao novo César!"

Pablo Aluísio. 

Os Escribas do Velho Testamento

Os Escribas do Velho Testamento
Quem escreveu a Bíblia? Quem são seus autores? A história, a arqueologia e a exegese dos velhos textos já encontraram a resposta. A Bíblia foi escrita por escribas que trabalhavam ora para o sacerdote de Jerusalém, ora para os antigos reis judeus. Dizer que a Bíblia foi escrita pelo Deus Jeová ou foi escrita sob a estrita inspiração de Deus é um conceito puramente teológico. Historicamente, nós temos que ir atrás dos verdadeiros autores desses vários livros que séculos depois foram reunidos em um só, dando origem a Bíblia, tal como a conhecemos atualmente. No mundo antigo, pouquíssimas pessoas sabiam ler e escrever. Estudos afirmam que os primeiros livros bíblicos foram escritos entre 600 a 400 anos antes de Cristo. Saber ler e escrever colocava um trabalhador no topo da elite intelectual de seu tempo. Esses eram os escribas. 

Esses escribas muitas vezes usaram como inspiração para elaboração de seus textos outras tradições religiosas de outros povos da época, como os persas e os babilônicos. É grande a influência da religião de Zaratustra sobre essas histórias mais antigas da Bíblia. Os personagens bíblicos também são de origens diversas. Alguns podem ter tido como base pessoas reais que realmente existiram, pessoas históricas. Mas de modo em geral afirma-se também que a maioria são de pura literatura. 

Moisés seria um dos mais cotados a ser meramente de ficção. Há indícios de um Moisés que criava imagens religiosas, mas esse provavelmente nada tinha a ver com o Moisés dos textos do velho testamento. Ele seria, basicamente, uma criação literária. O povo hebreu, tal como todos os outros povos da antiguidade, precisava também de sua própria mitologia de fundação, de origens daquele povo em questão. E não se pode negar que os escribas fizeram muito bem seu trabalho nesse sentido.

Outro aspecto importante a se considerar é que esses escribas muitas vezes apenas seguiam ordens de seus superiores. E muitas dessas antigas mitologias serviam para pacificar algum conflito social que acontecia naquele momento dentro daquela civilização. Por exemplo, a figura de Abraão. Ele seria apenas um símbolo, um grande patriarca que garantiria a propriedade e posse de terras para um determinado grupo social, deixando de fora os demais. Os filhos legítimos de Abraão teriam direito àquelas terras. Esses eram os judeus. Os descendentes dos filhos bastardos de Abraão não teriam direito de propriedade sobre aquelas terras. Esses formavam o povo árabe. Aliás esse conflito permanece vivo e violento até os dias de hoje, basta lembrar da atual guerra que se trava na Palestina. 

Dessa maneira a mitologia em si, baseada muitas vezes em política do calor do momento e antigas tradições orais, servia para apaziguar um determinado conflito que acontecia naquele momento histórico. Seria essa a origem, a fonte de todos esses textos do velho testamento. Infelizmente nenhum escriba assinou sua obra. Isso não era normal na antiguidade e nem era de interesse de reis e sacerdotes judeus. Com isso se perdeu para sempre o nome desses escritores antigos que eram inegavelmente talentosos em sua arte de escrever. 

Pablo Aluísio.