domingo, 25 de setembro de 2022

Downton Abbey II: Uma Nova Era

Downton Abbey fez uma excelente transição do mundo das séries para o cinema. Esse segundo filme vem justamente para confirmar isso. É um filme muito bom, diria até excelente mesmo. Toda a tradição de qualidade e excelência desse produto e dessa franquia se mantém em alto nível. A história também é particularmente saborosa para quem gosta de cinema. Com problemas financeiros, Robert Grantham aceita receber uma equipe de filmagem em sua casa. Estão filmando um filme em locação e precisam de um belo cenário para as cenas. E a vitoriana mansão cai justamente como uma luva para o diretor do filme. Assim, uma equipe de filmagem vai para sua tradicional casa e começam os trabalhos. E tudo soa muito inspirador e autorreferencial. Um belo exercício de metalinguagem cinematográfica. 

Para quem aprecia história do cinema, há aspectos muito interessantes. O filme está sendo filmado bem na época em que o cinema mudo está morrendo e o cinema falado começa a dominar o mercado. A atriz principal do filme é uma mulher extremamente bonita e glamorosa, mas com péssima dicção. Como ela vai sobreviver nesta transição? O galã, cobiçado por todas as mulheres, esconde um segredo pois na verdade é homossexual. Outro aspecto curioso acontece quando Violet Grantham herda uma bela propriedade no sul da França. Um amor do passado dela que se revela em um testamento. Isso esconde uma história que perturba o seu filho. E coloca em dúvida inclusive sua verdadeira ascendência. Como eu escrevi, Downton Abbey segue excelente. Já se tornou uma marca de elegância e sofisticação. Que venham novos filmes. 

Downton Abbey II: Uma Nova Era (Downton Abbey: A New Era, Estados Unidos, 2022) Direção: Simon Curtis / Roteiro: Julian Fellowes / Elenco: Hugh Bonneville, Maggie Smith, Jim Carter, Elizabeth McGovern, Michelle Dockery / Sinopse: Uma equipe de cinema chega para trabalhar na mansão de Downton Abbey, rompendo com os costumes e o modo de vida da elegante e tradicional aristocracia inglesa. E um velho amor do passado ressuscita em um testamento, para surpresa de todos.

Pablo Aluísio.

Invasão ao Serviço Secreto

Nesse bom filme de ação, o ator Gerard Butler interpreta Mike Banning, um veterano do serviço secreto dos Estados Unidos. Há muitos anos ele é o encarregado da segurança pessoal do próprio presidente, aqui interpretado pelo sempre ótimo Morgan Freeman. Ele passa, inclusive, a ser cogitado para se tornar o chefe do departamento em que trabalha, mas isso fica em modo de espera. Banning passa por uma situação complicada, pois ele está passando por problemas na vida pessoal. Está sofrendo de uma doença grave, mas esconde isso de todos, dos amigos, dos seus superiores e até mesmo de sua esposa. E sua vida vira de cabeça para baixo quando o presidente sofre um atentado terrorista com drones de alta tecnologia. Depois que vários agentes morrem e o presidente entra em coma, ele passa a ser o principal suspeito, pois sobreviveu sem grandes danos físicos. O FBI também descobre que ele recebeu 10 milhões de dólares em sua conta. O cerco se fecha sobre ele. Assim, fica numa situação limite. Precisando, ao mesmo tempo, salvar sua vida, provar sua inocência e manter protegido o presidente, pois ele é alvo de inimigos internos. 

Esse é um filme de ação a se recomentar. No começo, pensei que seria apenas mais um filme genérico nesse estilo, mas, para minha surpresa, me enganei. O filme tem bom roteiro e ótimas cenas de ação. Existe toda uma conspiração sendo traçada dentro dos prédios da burocracia de Washington. O presidente é, obviamente, o alvo principal. Tudo resultando em um filme coeso e bem realizado, bem-produzido, com ótimas cenas nas quais se destaca o ataque dos drones sobre uma enseada. E o tiroteio final com opositores armados com rifles de alta potência fecha muito bem o filme. Um thriller eficiente que realmente não vai decepcionar quem aprecia esse gênero cinematográfico.

Invasão ao Serviço Secreto (Angel Has Fallen, Estados Unidos, 2019) Direção: Ric Roman Waugh / Roteiro: Ric Roman Waugh / Elenco: Gerard Butler, Morgan Freeman, Frederick Schmidt, Danny Huston, / Sinopse: Após um grave atentado terrorista, um veterano agente do serviço secreto, responsável pela segurança do presidente, precisa provar sua Inocência. Ao mesmo tempo em que investiga uma grande conspiração dentro do próprio governo.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de setembro de 2022

Alguém Avisa?

O gênero comédia romântica já está saturado, e há muito tempo. Isso é bem nítido em cada novo filme que é lançado. Entretanto, esse aqui vai para um outro caminho e até que isso resultou em aspectos positivos. A história é bem interessante. A atriz Kristen Stewart interpreta uma jovem lésbica. Ela tem uma namorada que gosta muito, e elas estão se dando muito bem juntas. Elas se amam realmente. Então ela planeja pedir a namorada em casamento no dia de Natal. Só que sua garota a convida para passar o Natal na casa dos pais. Inicialmente, ela mente dizendo que os pais aceitam muito bem sua orientação sexual. Só que no caminho da viagem, tudo vem abaixo. Ela abre o jogo para a namorada e diz que o pai é um político conservador e a mãe é uma mulher que vive de aparências dentro da sociedade. Impossível que eles venham aceitar o fato da filha ser lésbica e ter uma namorada fixa. E isso embola totalmente o meio de campo. A personagem de Kristen Stewart precisa então mentir, dizer que é apenas a amiga da namorada e que vai passar o Natal com ela porque seus pais morreram. E assim está armada toda a trama deste filme. Duas garotas que são apaixonadas e que precisam fingir que são meras amiguinhas. E a tensão vai crescendo conforme o Natal vai passando. A família da namorada é bem disfuncional, esquisita para falar a verdade. Ela tem duas irmãs com problemas pessoais também. Passar o Natal naquela casa, definitivamente não vai ser nada fácil.

Eu gostei muito desse filme, sinceramente falando, ele tem um ótimo roteiro, uma excelente pegada. Só perde um pouquinho no final, quando apela para as soluções fáceis, mas aí o jogo já está ganho. É um filme que ao mesmo tempo diverte e traz temas importantes para serem discutidos. A questão da aceitação das pessoas LGBT por suas famílias é um tema central neste filme, embora ele tenha o formato de uma comédia romântica despretensiosa. Temas complexos tratados com leveza. Diverte e demole preconceitos arcaicos e obtusos. Eu gostei bastante do resultado final e recomendo. É uma das boas comédias românticas lançadas nos últimos anos.

Alguém Avisa? (Happiest Season, Estados Unidos, 2020) Direção: Clea DuVall / Roteiro: Clea DuVall / Elenco: Kristen Stewart, Mackenzie Davis, Mary Steenburgen, Victor Garber / Sinopse: No Natal, duas garotas que estão namorando e são apaixonadas, precisam fingir que são apenas amigas para a família conservadora de uma delas. E disso resulta uma série de confusões divertidas.

Pablo Aluísio.

Baywatch: S.O.S. Malibu

Essa é uma adaptação de uma famosa série dos anos 90. S.O.S. Malibu nunca foi grande coisa. Vamos ser sinceros. Fez sucesso na TV, mas pelos motivos errados. A série mostrava um grupo de salva-vidas nas praias da Califórnia. Para ganhar a audiência, colocaram garotas bonitas e com peitos de silicone balançando pelas areias escaldantes da praia. Garotas da Playboy, como Pamela Anderson. Claro que acabou fazendo sucesso, mas a série nunca me convenceu em nada. Sempre foi ruim. Então, fazer uma adaptação de um produto original que já não era bom, não poderia resultar em um bom filme. É justamente o que encontramos nesta versão cinematográfica de S.O.S. Malibu. Tudo muito ruim. O roteiro é capenga e, com uma situação básica, nada convincente. As piadas são sem graça, com linguagem chula por todos os lados. 

As cenas de ação são fracas. Até mesmo Dwayne Johnson não está nada bem no papel. Ele é um tipo truculento, brucutu e não tem o tipo físico ideal para interpretar um salva vidas, que são pessoas que precisam sim ser atléticas, mas que precisam ter agilidade. Coisa que ele não tem e deixa claro durante o filme. O mais interessante é que até mesmo no quesito beldades bonitas, o filme deixa a desejar. Ora, a série original tinha mulheres que eram símbolos sexuais da época. Já nesse filme, as atrizes são bem mais ou menos. Assim se perdeu a única coisa que prestava em S.O.S. Malibu, que era beleza estonteante das mulheres das praias da Califórnia. Cadê as loiras peitudas? Enfim, não sobrou nada que preste nesse filme mesmo.

Baywatch: S.O.S. Malibu (Baywatch, Estados Unidos, 2017) Direção: Seth Gordon / Roteiro: Damian Shannon / Elenco: Dwayne Johnson, Zac Efron, Alexandra Daddario, Pamela Anderson, David Hasselhoff / Sinopse: Um grupo de jovens tenta entrar na equipe de salvamentos de Malibu enquanto uma quadrilha de traficantes tenta dominar as praias da região.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Vera Cruz

O filme já começa à toda mostrando o encontro da dupla central, Cooper e Lancaster, numa cena com diálogos totalmente cínicos e dúbios. De certa forma isso se repetirá em todo o restante da fita. Curioso porque até mesmo o personagem de Gary Cooper parece não ter muitos escrúpulos. Coronel do exército confederado ele agora vaga pelo deserto mexicano para vender sua mão de obra ao grupo que lhe pagar melhor, ou seja, é um mercenário. Já o personagem de Burt Lancaster é bem pior, ladrão de cavalos, mentiroso e trapaceiro, desde o começo do filme já sabemos que não há nada o que esperar dele em termos éticos. Algo que se confirma no final quando teremos o tradicional duelo no meio das ruínas de uma cidade mexicana! "Vera Cruz" foi um dos primeiros westerns em que a ação foi colocada em primeiro plano, superando até mesmo os cânones dos faroestes mais tradicionais. Muitos especialistas inclusive qualificam "Vera Cruz" como uma espécie de predecessor do que seria feito no chamado Western Spaguetti. Não chegaria a tanto mas não há como negar que os faroestes italianos iriam utilizar de vários elementos que estão presentes aqui.

Um dos elementos é justamente a simplificação dos roteiros em detrimento da ação incessante. A trama da produção na realidade se desenvolve praticamente toda em torno de uma diligência com carregamento de ouro que tenta chegar até o porto de Vera Cruz. No meio do caminho Cooper e Lancaster, que estão protegendo o carregamento ao lado de um pelotão do exército mexicano, vão enfrentando todo tipo de desafios, conflitos e traições (sim, todos querem no final ficar com a fortuna e para isso não medem esforços em trair qualquer um). A produção é muito boa - bem acima da média dos faroestes da época. O figurino dos mexicanos na fita pode até ser considerada exagerado, mas é fiel no final das contas uma vez que eles realmente se vestiam daquela maneira. Em conclusão Vera Cruz é um bom western, talvez um pouco prejudicado pelo excesso de personagens e pirotecnia. Vale pelo carisma de Lancaster e pela presença sempre muito digna do grande mito Gary Cooper.

Vera Cruz (Vera Cruz, Estados Unidos, 1954) Direção: Robert Aldrich / Roteiro: Roland Kibbee, James R. Webb / Elenco: Gary Cooper, Burt Lancaster, Denise Darcel / Sinopse: Durante a revolução mexicana de 1866 um grupo de pistoleiros e aventureiros americanos são contratados pelo Imperador Maximiliano para escoltar uma condessa mexicana até o porto de Vera Cruz.

Pablo Aluísio.

10 Curiosidades - Matar ou Morrer

1. Quando o filme foi lançado o ator Gary Cooper estava com 51 anos de idade e muitos não acreditavam que ele retornaria ao sucesso do começo de sua carreira. Pois bem, com a ótima bilheteria desse faroeste Cooper voltou ao Top 10 dos atores mais populares de Hollywood.

2. O roteirista Carl Foreman era considerado um escritor brilhante, mas caiu nas garras do macartismo. Acusado de ser um comunista entrou na lista negra do senador Joseph McCarthy.

3.  Gary Cooper e Grace Kelly tiveram um breve romance durante as filmagens, apesar da diferença de idade entre eles. Cooper tinha 51 anos e Kelly apenas 21.

4. Gregory Peck queria muito fazer o filme após ler seu roteiro original. Por problemas de agenda acabou sendo impossível para ele interpretar o mitológico xerife. Anos depois confessou que no final havia ficado impressionado com a atuação de Cooper, reconhecendo que ninguém poderia fazer aquele personagem a não ser Cooper.

5. O xerife interpretado por Gary Cooper chamava-se inicialmente Will Doane, depois mudado para Will Kane por sugestão da atriz Katy Jurado.

6. Esse foi o filme de estreia do ator Lee Van Cleef. Inicialmente ele foi escalado para atuar como um dos auxiliares do xerife, mas o diretor Fred Zinnemann entendeu que Cleef tinha mais jeito para interpretar vilões.

7. John Wayne não gostou do filme. Ele achou que certas cenas escritas por Carl Foreman passavam mensagens subliminares comunistas. Sua má vontade contra o filme durou anos e anos. Ele explicou que o xerife isolado e abandonado pela própria cidade era uma metáfora sobre a vida do próprio escritor, abandonado depois que foi colocado na lista negra do macartismo.

8. Fred Zinnemann escolheu pessoalmente todos os figurinos pois ele queria que a fotografia preto e branco do filme fosse realçada também com as roupas dos atores. Por isso o xerife usa roupas pretas e brancas, para tornar tudo ainda mais forte na tela.

9. Henry Fonda não participou do filme porque caiu na garagem de sua casa, quebrando a perna. Ele lamentaria esse pequeno acidente pelo resto de sua vida pois perdeu a chance de atuar nesse grande clássico do western americano.

10. Em seu testamento o diretor Fred Zinnemann deixou claro que não autorizava em nenhuma hipótese a colorização do filme. Os herdeiros de seus direitos autorais deveriam seguir esse seu último desejo, o que acabaria resultando em um processo judicial anos depois.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

10 Curiosidades - Rastros de Ódio

1. John Wayne considerava o personagem Ethan o melhor de toda a sua carreira, tanto que resolveu batizar seu próprio filho com seu nome. Ethan Wayne, assim John resolveu chamar seu jovem filho, nascido logo após a conclusão do clássico western.

2. Durante as filmagens um jovem garoto Navajo, que trabalhou no filme como figurante, ficou seriamente doente. Vendo sua situação o ator John Wayne resolveu chamar seu avião particular para levar o garoto até um hospital de Los Angeles, onde poderia receber o tratamento adequado. Por causa do fato ele passou a ser chamado de "O Homem do grande pássaro" pelos nativos que trabalhavam no filme.

3. A atriz Natalie Wood era tão jovem quando participou do filme que muitas vezes o próprio John Wayne (ou seu coadjuvante Jeffrey Hunter) iam até sua escola para pegar Natalie para as filmagens. Isso obviamente acabou causando uma grande excitação entre os jovens estudantes. Afinal ter o ídolo John Wayne na porta da escola esperando por Natalie não era uma coisa costumeira de acontecer em nenhum lugar do mundo.

4. Baseado no roteiro do filme o cantor e roqueiro Buddy Holly (morto precocemente em 1959) resolveu escrever uma canção sobre a garota do filme. Essa música foi intitulada de "That'll be Day" e se tornou um de seus maiores hits.

5. O American Film Institute classificou "Rastros de Òdio" como um dos dez melhores filmes norte-americanos da história, de todos os tempos.

6. Na cena em que Ethan (Wayne) faz o discurso sobre o desaparecimento da jovem interpretada por Natalie Wood - uma das cenas mais importantes do filme - houve um fato inusitado. Wayne realizou perfeitamente o primeiro take, mas o diretor John Ford descobriu logo após sua atuação terminar que a câmera estava desligada! O ator Ward Bond havia tirado a tomada da câmera para ligar seu barbeador! Ford ficou possesso com o take perdido e tudo precisou ser refeito!

7.  O papel do jovem oficial da cavalaria foi interpretado pelo próprio filho de John Wayne, Patrick. O pai queria que o filho tivesse uma bela carreira no cinema como ele, mas Patrick Wayne nunca conseguiu se tornar um astro.

8. Segundo confessou anos depois David Lean, o grande cineasta de tantos clássicos, usou "Rastros de Ódio" como modelo para as cenas externas, explorando longas paisagens, em seu clássico imortal "Lawrence da Arábia". Lean qualificava o filme de John Ford como o "Filme Perfeito!".

9. Durante as filmagens o diretor John Ford foi picado por um escorpião do deserto. Os executivos da Warner ficaram preocupados pois havia muito dinheiro envolvido na produção. Ao entrar em contato com John Wayne sobre o incidente o produtor do filme ouviu sua opinião sobre o ocorrido: "Não se preocupe! John Ford é um sujeito durão! Quem acabou morrendo foi o escorpião!".

10. O roteiro foi inspirado no conto intitulado "Os Perseguidores Texanos". Anos depois o roteirista Frank Nugent explicaria que ele só tinha usado mesmo a ideia original, a base do enredo. Todo o resto foi criado já que um conto literário não tinha elementos suficientes para preencher um roteiro de um longa-metragem como o que John Ford queria filmar.

Pablo Aluísio.

À Beira do Inferno

Mais um clássico filme de guerra, só que nesse caso com uma abordagem um pouco diferente. Na história um oficial da Marinha americana chamado George R. Tweed (Jeffrey Hunter) está prestes a voltar para os Estados Unidos após um longo período prestando serviço militar na distante e isolada ilha de Guam, no Pacífico Sul, quando essa é violentamente atacada por tropas japonesas, forçando finalmente os americanos a entrarem na II Guerra Mundial. Enquanto a ilha é rapidamente invadida, Tweed e mais quatro marinheiros conseguem fugir, se isolando em um dos lugares mais remotos da região, tentando sobreviver ao cerco do exército nipônico. E lá ficam por um longo período de tempo, tentando sobreviver, cercados de inimigos por todos os lados. E como se trata de uma ilha no oceano, simplesmente não há para onde fugir.

Bastante interessante esse filme baseado em fatos reais. Ele mostra uma das histórias mais curiosas da chamada guerra do Pacífico, quando os japoneses invadiram uma das bases mais vitais para as forças armadas americanas na ilha de Guam. Poucos conseguiram escapar da brutalidade dos soldados do imperador e entre eles estavam justamente Tweed e seu pequeno grupo. Inicialmente eles se refugiam no meio da floresta mas aos poucos vão ganhando a ajuda dos nativos que odiavam as forças japonesas por causa de sua truculência com todos na ilha. Também os americanos encontram um grande aliado na sua luta de sobrevivência, um padre católico que resolve abrigar o personagem de Jeffrey Hunter em um hospital para leprosos, local que os japoneses evitavam por motivos óbvios pois não queriam correr o risco de pegar a doença, altamente contagiosa.

O título original do filme também dá uma boa ideia do argumento que encontramos aqui. "Nenhum homem é uma ilha" mostra bem que para sobreviver os americanos precisaram contar com a ajuda muito preciosa dos habitantes de Guam, inclusive na forma como eles conseguiram esconder o marinheiro George R. Tweed por mais de trinta meses! E isso tudo em uma ilha ocupada massivamente por militares japoneses. E é nessa relação de amizade que se apóia a terça parte final do filme pois o personagem de Hunter começa a ser ajudado pela família Santos que o alimenta e o esconde em cima de uma das colinas mais altas e inacessíveis de Guam.

Já para os que gostam do aspecto mais histórico de filmes como esse, o espectador é presenteado com cenas reais da invasão americana na ilha nos momentos finais do enredo. Enfim, "À Beira do Inferno" é um filme de guerra que valoriza os relacionamentos e os bons sentimentos dos moradores daquela ilha perdida que jamais deixaram de apoiar a presença americana no local pois para eles os militares dos EUA eram acima de tudo símbolos da liberdade que eles tanto queriam e desejavam.

À Beira do Inferno (No Man Is an Island, Estados Unidos, 1962) Estúdio: Gold Coast Productions / Direção: Richard Goldstone, John Monks Jr. / Roteiro: Richard Goldstone, John Monks Jr / Elenco: Jeffrey Hunter, Marshall Thompson, Barbara Perez / Sinopse: Um militar americano fica isolado em uma ilha que é dominada por tropas japonesas durante a II Guerra Mundial. Sobrevivendo a cada dia, ele tenta manter sua sanidade em uma situação limite e altamente perigosa.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Elvis Presley - Just For You (1957)

Poucos dias depois que o compacto duplo "Peace In The Valley" chegou nas lojas americanas a RCA Victor lançou no mercado outro compacto, igualmente duplo, apenas com músicas inéditas gravadas por Elvis Presley. O mercado de fato esperava por um novo single depois do grande sucesso de "All Shook Up", mas isso definitivamente não aconteceu. A razão é que os executivos da gravadora após ouvirem as novas faixas que Elvis havia gravado no Radio Recorders chegaram na conclusão que nenhuma delas tinha força suficiente para estourar nas paradas. Eram boas canções sim, bem gravadas e tudo o mais, porém não tinham vocação para virarem hits na Billboard. Excesso de zelo? Falta de confiança no novo material? Em parte sim. Realmente os engravatados da Victor não estavam errados. Elvis vinha de "All Shook Up", um tremendo sucesso e não seria interessante ver seu novo single ficar para trás nas principais paradas. A decisão então foi reunir quatro das novas músicas para lançamento no mercado em forma de Extended Play (o nome americano para o nosso compacto duplo).

A direção de arte da capa reciclou uma foto que havia sido tirada para fazer parte da capa do segundo álbum do cantor no ano anterior. Elvis inclusive está com a mesma camisa, o mesmo violão e no fundo o mesmo cenário. A única diferença é que ele está usando um casaco vermelho bem chamativo. A contracapa repetia o que era praxe na época: uma mera lista promocional de outros compactos duplos da RCA Victor nas lojas. Estão lá os nomes dos novos disquinhos de Perry Como, Harry Belafonte, Chet Atkins, Eddie Fisher, Glenn Miller, Eddy Arnold, entre outros. Na época isso era considerada mera propaganda, mas hoje em dia esse tipo de informação não deixa de ter um charme extra pois ficamos sabendo quais artistas estavam no mercado fazendo concorrência a Elvis. E foi justamente essa disputa feroz no mercado que fez com que a RCA lançasse esse "Just For You". A trilha sonora de "Loving You" só chegaria aos fãs no meio do ano e para evitar que Elvis ficasse vários meses sem nada de inédito nas lojas a gravadora se apressou em colocar no mercado o disco.

O curioso em "Just For You" é que ele logo se tornaria obsoleto para os colecionadores. Como vinha um novo filme de Elvis por aí nos cinemas, a RCA decidiu reaproveitar todas essas faixas para colocá-las no Lado B do álbum da nova trilha sonora. Os fãs que compraram o compacto logo tiveram que gastar dinheiro novamente com as mesmas músicas que voltavam no LP "Loving You". Era a velha estratégia do Coronel Parker de vender a mesma coisa duas vezes, algo que ele aprendeu muito bem em seus dias de circo. Assim todas as faixas de Just For You acabaram se tornando as primeiras “bonus songs” das trilhas sonoras de Elvis Presley. O que eram "Bônus Songs"? Basicamente eram gravações de Elvis que não faziam parte dos filmes, mas que eram incluídas no álbuns das trilhas para completa-las. Geralmente as trilhas de Elvis tinham de seis a sete canções e eram insuficientes para ocupar todo o espaço de um antigo LP. Dessa maneira as Bônus Songs eram adicionadas, se completando as dez ou doze faixas necessárias. Todos os artistas da época faziam isso e com Elvis não seria diferente.

O carro chefe de Just For You era a boa "I Need You So". Uma balada sentimental que apesar de bem executada nunca conseguiu boa repercussão. Completando o lado A temos o country "Have I Told You Lately That I Love You" cujo destaque é a boa sonorização do grupo vocal The Jordanaires. Por essa época eles já estavam completamente entrosados com Elvis e essa simbiose já surgia perfeitamente nos registros. Já o lado B abria com a deliciosa "Blueberry Hill". Falaremos melhor sobre ela quando formos analisar a trilha de "Loving You", mas de antemão quero dizer que é uma pena que a RCA nunca tenha trabalhado melhor nessa música. Eu a considero excelente. Seu potencial de virar hit na época já havia se esgotado pois ela já tinha feito sucesso na voz de outros cantores, porém mesmo assim merecia melhor destino certamente. "Just For You" fecha com outra boa balada," Is It So Strange", uma bela canção que também nunca encontrou bom espaço dentro da discografia de Elvis. Ela reaparecia anos depois no álbum "A Date With Elvis" quando o cantor estava servindo o exército americano na Alemanha.

Quando chegou no mercado "Just For You" surpreendeu e conseguiu emplacar um ótimo segundo lugar entre os compactos duplos mais vendidos. Isso incentivou a RCA a lançar novos EPs de Elvis nos anos seguintes, disquinhos que só deixariam mesmo de serem lançados por volta de 1966 quando a RCA lançou as últimas trilhas sonoras de Elvis nesse formato. Não se preocupe, ainda falaremos muitos sobre esses charmosos vinis que marcaram a discografia de Elvis Presley. Até lá.

Elvis Presley - Just For You (1957)
I Need you So
Have I Told You Lately That I Love You
Blueberry Hill
Is It So Strange

Elvis Presley – Just For You (1957) / Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 18 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #2 (EUA).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Loving You - Parte 1

Esse foi o segundo filme de Elvis Presley e o primeiro a ganhar um disco no formato LP ou álbum. "Love Me Tender", o filme anterior, teve sua trilha sonora vendida em compacto. Aliás é bom salientar que Elvis foi um dos primeiros artistas jovens a ganhar essa honraria de ter suas músicas lançadas em álbum. Naquela época as gravadoras usavam esse formato mais para o lançamento de música clássica ou óperas. Não era comum um artista pop como Elvis ter discos de longa duração como esse. Geralmente esse tipo de artista tinha seu trabalho lançado apenas em singles, conhecidos no Brasil como compactos.

Não havia músicas suficientes para encher todo um álbum. Então a RCA Victor colocou no lado B do disco várias canções do "Just For You". Para os fãs o lado A era a grande novidade. Só músicas inéditas, todas gravadas para o filme "A Mulher Que Eu Amo" (Loving You, em seu título original em inglês). A boa notícia é que eram boas músicas, excelentes gravações por parte do cantor. A maioria delas foi gravada em Hollywood em janeiro de 1957. Para essas sessões Elvis trouxe sua banda habitual. Nada de músicos contratados pelos estúdios de cinema como havia acontecido em "Love Me Tender". Aqui Elvis fez questão de trabalhar com seus próprios músicos.

"Mean Woman Blues" foi escolhida para abrir o disco. Grande momento tanto do álbum, como do filme, quando Elvis a canta em uma de suas melhores cenas no cinema durante os anos 50. Essa era uma composição de Claude Demetrius, aqui aparecendo pela primeira vez em um disco de Elvis - e ele não se tornaria um compositor habital na discografia de Elvis, apesar de seu grande talento. O ritmo era até um pouco fora dos padrões, unindo a escala musical típica de um blues com a agitação do nascente rock ´n´roll. A mistura, apesar de ser original e muito bem composta, não chegou a agradar todo mundo. Alguns mais tradicionais criticaram, ignorando o fato de que o blues foi um dos gêneros musicais que deram origem ao rock. Enfim, erraram no ponto de vista.

"Blueberry Hill" abriu o lado B do álbum. Essa não fazia parte da trilha sonora de "Loving You" e foi colocada no disco para completar espaço. Isso de um ponto de vista puramente comercial, porque do ponto de vista artístico essa era uma grande canção. Foi composta por um trio (Vincent Rose, Al Lewis e Larry Stock) e virou sucesso na interpretação do ótimo Fats Domino. Seu toque de piano inicial era sua maior característica. Algo inclusive que levou Elvis a tentar tocá-la ao vivo algumas vezes durante os anos 50. Ficou muito bom, na maioria das vezes. Como a música já havia esgotado seu potencial de sucesso com Fats, ela nunca chegou a se tornar um hit na voz de Elvis, mas isso em nada tira seus méritos. É um dos melhores momentos de todo o disco.

Pablo Aluísio.