quinta-feira, 2 de junho de 2016

Paul Newman - Rachel, Rachel

Há poucos dias assisti a "Rachel, Rachel", um drama sensível sobre uma professora oprimida numa pequena cidade interiorana dos Estados Unidos. Chegando aos 40 anos de idade, solteira e infeliz, ela acaba se agarrando ao que parece ser a última chance de encontrar a felicidade no campo amoroso ao reencontrar um velho conhecido da infância. Estrelado pela ótima atriz Joanne Woodward, o filme se destaca por ter sido dirigido pelo marido dela, o astro Paul Newman.

Os cinéfilos que gostam de cinema clássico conhecem Paul Newman pela sua maravilhosa carreira como ator. Ele certamente foi um dos maiores astros de Hollywood, mas muitos ignoram que ele também demonstrava grande talento como cineasta. Ao todo Paul Newman dirigiu seis filmes, sendo que esse "Rachel, Rachel" foi sua primeira experiência atrás das câmeras. Ao assistir percebemos logo que além de grande intérprete ele também tinha grande sensibilidade na direção.

De roteiro simples, porém bastante humano, "Rachel, Rachel" demonstra que Paul Newman era acima de tudo um cineasta eficiente. Ele realizou um filme enxuto, sem exageros e sem pretensões descabidas. Talvez seu maior desafio tenha sido expor na tela de forma convincente e não piegas os pensamentos e as angústias de sua protagonista. A personagem da professora Rachel interpretada com maestria por Joanne Woodward (que chegou a ser indicada ao Oscar por seu trabalho) tem uma personalidade interior ora mórbida, ora depressiva e em alguns momentos até mesmo irônica, mordaz. Transpor isso para o filme (que foi baseado em um romance escrito por Margaret Laurence) acabou se tornando o grande desafio de Newman. E ele, conforme podemos ver, acertou em cheio.

Como se sabe Paul Newman e Joanne Woodward tiveram um longo casamento. Ele faleceu em 2008, mas Joanne ainda vive, no alto de seus 86 anos de idade. Juntos tiveram três filhos. Um deles morreu tragicamente por overdose de drogas nos anos 70 o que fez Newman criar uma fundação de amparo a dependentes químicos. Durante décadas o casamento de Newman e Woodward foi considerado modelo em Hollywood. Em um lugar onde os relacionamentos sempre foram fugazes e descartáveis eles ficaram juntos até a morte de Newman. Essa imagem ficou um pouco arranhada recentemente com a publicação de uma biografia do ator que revelava que ele teve um caso extraconjugal por anos com uma jornalista. Não importa, filmes como "Rachel, Rachel" demonstram que o casal funcionava não apenas na vida real, mas também profissionalmente. Poderiam não ser perfeitos (ninguém é), mas diante das circunstâncias se saíram muito bem no final das contas.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Justified

Outra boa dica para os fãs do gênero western que estejam em busca de séries que lembrem nosso amado estilo na TV é esse "Justified" do canal FX. Os episódios giram em torno da figura do agente federal Raylan Givens (Timothy Olyphant). Nascido e criado numa cidadezinha do Kentucky ele acaba sendo acusado de brutalidade policial em Miami e como punição é transferido de volta para a mesma cidadela onde nasceu no meio das montanhas. O problema é que Raylan tem uma família nada convencional. Seu pai é um conhecido contraventor e criminoso local e todos os seus conhecidos de infância e juventude estão envolvidos de alguma forma com operações ilegais envolvendo tráfico de drogas ou prostituição. Levando a máxima de que "santo de casa não faz milagres" o marshal durão tem que provar aos habitantes da região que ele está ali para cumprir a lei de todas as formas, sem fazer concessões a quem quer que seja. Rodado no que podemos considerar como o moderno oeste americano o seriado tem bons episódios e tramas bem elaboradas. O curioso é que "Justified" começou de forma bem modesta, quase como um tapa buraco da série "Sons Of Anarchy" mas que logo ganhou seu próprio espaço, conquistando cada vez mais audiência com o passar do tempo.

O programa é particularmente indicado para quem aprecia séries policiais com toques de western, pois "Justified" de certa maneira une ambos os gêneros. O personagem principal é um agente federal (Marshall) dos EUA que age muitas vezes como se realmente estivesse no velho oeste americano. O curioso é que tudo foi baseado em um conto curtinho. A série nasceu para ter no máximo 12 episódios mas com o sucesso os roteiristas estão desde a primeira temporada fazendo malabarismos para ampliar a estória o máximo que podem. Novos personagens foram adicionados e outros dramas foram inseridos para alongar ainda mais os episódios. Outro detalhe importante: o seriado é sequencial o que significa dizer que se deve assistir os episódios na ordem, na sequência, caso contrário se perde o fio da meada. "Justified" também foi a única série do canal FX a ser premiada com o Emmy, o Oscar da TV americana. A atriz Margo Martindale levou o prêmio de melhor atriz coadjuvante em 2011. Ela interpretou a mãe de uma família de criminosos caipiras e armados até os dentes do interior do Kentucky que acaba cruzando o caminho do agente Raylan. Sua interpretação realmente foi digno de reconhecimento pois ela conseguia ir da ternura à violência em questão de segundos. Achei seu prêmio extremamente digno e merecido. Assim deixamos a dica de "Justified" para vocês, os amantes de western, que estejam em busca de novidades na telinha.


Justified (idem, EUA, 2010 - 2013) Direção: Jon Avnet, Peter Werner, Michael Dinner / Roteiro: Elmore Leonard, Graham Yost, Benjamin Cavell / Elenco: Timothy Olyphant, Nick Searcy, Joelle Carter, Margo Martindale / Sinopse: Após ser acusado de agir com extrema brutalidade na Flórida o agente federal Raylan Givens (Timothy Olyphant) é transferido para sua cidade natal no Kentucky onde passa a reprimir os criminosos locais, muitos deles velhos conhecidos do passado.

Pablo Aluísio. 

Deuses do Egito

Definitivamente eu já passei da idade de gostar de um filme como esse. A única coisa que me fez conferir foi o fato de que o roteiro supostamente seria inspirado na religião e nos deuses do Egito antigo. Assim lá estão o bondoso e justo Hórus (Nikolaj Coster-Waldau), o ganancioso e cruel Set (Gerard Butler) e o equilibrado Osíris (Bryan Brown), todos brigando pelo trono do Egito. E o que diferencia meros mortais de deuses? Os deuses são altos e seu sangue é formado por ouro líquido. Eles também possuem a capacidade de se transformarem em qualquer criatura. Diante de tal poder o que mais fazem é brigar entre si, tentando matar uns aos outros. No meio dessa luta entre imortais há ainda um ladrãozinho barato chamado Bek (interpretado por Brenton Thwaites, um dos piores atores que já vi em minha vida!), sempre disposto a roubar alguma joia ou vestido para a sua namoradinha. É justamente ele quem acaba roubando um dos olhos de Hórus, que havia sido brutalmente arrancado por Set durante uma luta titânica entre ambos.

Basicamente é só isso. Para esconder o vazio do roteiro nada inspirador a produção usa e abusa de computação gráfica a ponto de fazer o espectador se sentir visualmente saturado. Há muitas criaturas geradas por sofisticados programas de computador e mundos inteiros completamente virtuais. O curioso é que apesar de ter custado algo em torno de 150 milhões de dólares para a Fox esses efeitos digitais nem são tão impressionantes assim! Para muitos, eles ficaram bem longe do que era esperado para uma produção com um orçamento tão milionário como essa. Em termos de elenco o único ator que merece algum crédito é justamente Gerard Butler. Embora repita maneirismos de seu outro personagem, o Rei Leônidas de "300", ele é um dos poucos atores que parecem dispostos a trazer alguma vida para seu personagem. Todo o resto do elenco é apagado ou descaradamente sem talento dramático nenhum (com exceção apenas de Geoffrey Rush, que também não tem muito o que fazer em cena). Já o diretor Alex Proyas parece completamente perdido no meio de tantos deuses, mortais, monstros e lendas. Para quem já dirigiu coisas melhores como "Eu, Robô" e "O Corvo" só restou a decepção. Então é isso. A conclusão final a que chegamos é que "Deuses do Egito" não faz jus à rica herança cultural da religião do Egito Antigo. Não passa nem perto disso. É só mais um filme com jeitão de videogame para o público adolescente de hoje. Nem o mais pessimista espectador poderia esperar por algo tão fraco e descartável.

Deuses do Egito (Gods of Egypt, Estados Unidos, 2016) Direção: Alex Proyas / Roteiro: Matt Sazama, Burk Sharpless / Elenco: Gerard Butler, Bryan Brown, Geoffrey Rush, Brenton Thwaites, Nikolaj Coster-Waldau, Rachael Blake / Sinopse: Após reinar por séculos como o supremo rei do Egito, o Deus Osiris (Bryan Brown) resolve passar a coroa para seu filho Hórus (Nikolaj Coster-Waldau). Isso desperta a ira de Set (Gerard Butler), irmão de Osíris, que resolve matá-lo para usurpar seu trono. A morte de Osíris e a derrota de Hórus joga o antigo Egito em um reino de terror e morte sem fim.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Errol Flynn - O Gavião do Mar

Errol Flynn tinha todos os defeitos do mundo que você possa imaginar. Era canalha, frívolo, mentiroso, crápula, viciado em drogas, bebum, até espião nazista durante a II Guerra Mundial. Um lixo de pessoa. Agora, como ator ele teve muita sorte na carreira. Flynn foi o maior astro da Warner Bros em um tempo em que esse estúdio resolveu apostar alto em grandes superproduções e filmes de aventura. Ao lado de Michael Curtiz, grande diretor da era de ouro do cinema americano, Flynn estrelou uma sucessão de grandes filmes e enormes sucessos de bilheteria, até porque ele era o tipo ideal para esse tipo de produção.

Jovem, atlético, Flynn era um aventureiro na vida real. Sua desenvoltura em cenas de barcos não era gratuita. Ele viajou da Austrália aos Estados Unidos em um velho veleiro, tal como seus personagens de seus filmes como em "O Gavião do Mar", um de seus grandes hits de bilheteria. Curiosamente ao mesmo tempo em que ia fazendo uma extremamente bem sucedida parceria com o diretor Curtiz, também ia tecendo sua armadilha de canalhice em relação ao cineasta. Enquanto posava de amigo de Curtiz nos estúdios, nos bastidores ia seduzindo a esposa dele. A tal ponto que ela se apaixonou por Flynn, largou Curtiz e foi viver ao seu lado por um breve tempo, já que Flynn não era homem de se amarrar a mulher nenhuma. Em pouco tempo a dispensou também. Era da natureza dele, ser um canalha, fazer o quê?

No fim da vida Errol Flynn se tornou alcoólatra e uma sombra do galã que havia sido no passado. Começou a elogiar publicamente ditaduras como a de Cuba (ele nunca escondeu sua preferência por regimes autoritários) e chegou até mesmo a ir na ilha caribenha para rodar um filme trash com atores locais. Tudo mera desculpa para encher a cara nas piores bodegas da Ilha de Fidel Castro. Esse por sua vez usou o que restou da fama de Flynn para promover seu sistema de governo que segundo a propaganda socialista era o melhor do mundo. Uma piada sem graça que nem o próprio Flynn acreditava. Depois de muitos excessos o grande aventureiro dos mares morreu precocemente. Ele havia cometido todos os excessos possíveis. Foi um sujeito que não admitia nenhum limite em sua vida. Pagou o preço devido.

Pablo Aluísio.

Mar de Fogo

Para se fazer um grande épico é necessário mais do que uma bela fotografia e cenas de impacto passadas em lugares exóticos e distantes. É justamente isso que prova "Mar de Fogo", produção de 2004. A história é baseada em fatos reais. Em 1890 um rico e poderoso líder árabe ofereceu um grande prêmio ao vencedor de uma corrida de cavalos de três mil milhas pelas regiões mais hostis do deserto da Arábia Saudita. Entre os concorrentes um cowboy americano, Frank T. Hopkins (Viggo Mortensen), se destacou por sua audácia, coragem e fibra de campeão. Cavalgando um animal da raça Mustang chamado Hidalgo ele entrou para a história por participar dessa competição. Sua proeza ficou tão conhecida dentro dos Estados Unidos que ele e seu cavalo viraram atração fixa no famoso show de Buffalo Bill no Oeste Selvagem.

"Mar de Fogo" foi dirigido pelo jovem cineasta texano Joe Johnston de "Jurassic Park III" e "Jumanji". Considerado um protegido de Steven Spielberg sua intenção se mostra bem nítida desde o começo do filme. Seu objetivo é alcançar a mesma classe e opulência do grande clássico "Lawrence da Arábia", algo pra lá de pretensioso. O problema é que tudo ficou apenas na intenção. Nem a presença do grande Omar Sharif (um dos atores preferidos do genial David Lean) melhora esse aspecto. Apesar da excelente produção, da bonita fotografia (temos que admitir) o filme não consegue convencer ou agradar. Muitas vezes na ânsia de realizar grandes tomadas abertas no deserto tudo o que o diretor consegue no final das contas é passar tédio para a película. Esse aliás é um dos grandes problemas de "Hidalgo" pois seu ritmo se torna irregular, ora acelerado demais, ora completamente parado, ficando por isso muitas vezes chato. Não foi um filme que me agradou, apesar das expectativas e boas intenções que rondaram sua chegada aos cinemas. Pode ser dispensado sem maiores problemas.
 
Mar de Fogo (Hidalgo, EUA, 2004) Direção: Joe Johnston / Roteiro: John Fusco / Elenco: Viggo Mortensen, Omar Sharif, Zuleikha Robinson / Sinopse: Cowboy americano (Mortensen) participa de uma corrida de cavalos no meio do deserto da Arábia Saudita. Filme vencedor do Western Writers of America na categoria de Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio.

Prince (1958 - 2016)

Eu certamente não sou a pessoa mais indicada para escrever sobre Prince. Eu nunca fui de acompanhar sua carreira e nem de comprar seus discos. Claro que como um jovem que viveu parte de sua adolescência na década de 80 eu sabia muito bem quem foi o Prince, seus sucessos mais óbvios e sua postura nos palcos. Por isso esse singelo texto vai ser mais sobre minhas impressões superficiais sobre esse artista do que uma análise mais cuidadosa de sua importância musical.

Como se sabe ele faleceu ontem, ainda relativamente jovem, de causas não devidamente  esclarecidas. De uma maneira em geral eu sempre associei o Prince a outro astro da mesma época em que ele viveu seu auge: Michael Jackson. Penso que não sou o único a fazer essa associação. Os caminhos deles cruzaram muitas vezes ao longo de suas carreiras. Ainda que fosse um grande e talentoso instrumentista, Prince entendeu que a performance de palco era algo essencial para fazer sucesso. Por isso criou sua própria mise-en-scène em seus concertos. Embora negasse isso o fato é que seu estilo de ser e interpretar se baseava bastante no que Jackson fazia, afinal ele não era apenas o Rei do Pop, mas também dos clips e do visual. Nos anos 80 a imagem era tudo! Assim Prince adotou figurinos vitorianos, bem kitsch, que se tornaram sua marca registrada. Outra coisa que me chamava a atenção eram suas guitarras. Todas com formatos bem diferenciados. Causava um grande impacto para quem o via se apresentando ao vivo. Eram instrumentos diferentes e bem bonitos.

Depois que Prince estourou também no Brasil com o grande sucesso de Purple Rain, todos pensavam que ele iria entrar numa disputa música a música nas paradas de sucesso com Michael Jackson. E de fato Prince conseguiu excelentes números comerciais em termos de vendas de discos. Porém ao contrário de Jackson ele teve uma espécie de surto em determinado momento de sua trajetória. Brigou com a gravadora, virou um recluso e resolveu que iria abolir seu próprio nome Prince. Ao invés disso adotou um símbolo para lhe identificar. Começou a gravar discos bem estranhos, com material que não mais fazia sucesso e assim foi desaparecendo da grande mídia. Para quem prestava pouca atenção nele a coisa só piorou. Ele desapareceu do radar. Nos anos seguintes ouvi falar muito pouco dele. Geralmente quando ouvia seu nome ele vinha acompanhando da pergunta: "Por onde anda o Prince?" A impressão é que havia caído em um ostracismo enorme. Ele não emplacava mais sucessos, sumiu das rádios e dos programas de TV o que me fez pensar seriamente que ele tinha se aposentado da música.

Parecia que iria se tornar uma daquelas estrelas típicas dos anos 80 que surgiam, faziam algum sucesso e depois sumiam para sempre. E de fato passei muitos anos sem ouvir falar nele. Só de vez em quando via alguma reportagem sobre Prince em revistas, pena que não eram revistas de música, mas de fofocas. Ele geralmente surgia namorando alguma sub celebridade (como Carmem Electra), ou então tendo um namorico com uma adolescente brasileira (quando esteve aqui na década de 90). Fora isso, nada. Só há algumas semanas o Prince pareceu voltar à mídia ao passar mal durante um de seus últimos shows. Seu avião inclusive teve que retornar porque ele estava em péssimo estado. É isso. Infelizmente Prince para mim foi apenas um cantor de sucesso dos anos 80 que depois desapareceu por um longo período. Dizem que nesse hiato gravou grandes discos experimentais. Infelizmente não os ouvi. Para mim ele sempre será o performático com guitarra vitoriana tocando "Purple Rain" e nada muito além disso. Pensando bem até que está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Natal Sangrento

Título no Brasil: Natal Sangrento
Título Original: Silent Night, Deadly Night
Ano de Produção: 1984
País: Estados Unidos
Estúdio: TriStar Pictures
Direção: Charles E. Sellier Jr.
Roteiro: Paul Caimi, Michael Hickey
Elenco: Lilyan Chauvin, Gilmer McCormick, Toni Nero

Sinopse:
Depois que seus pais são assassinados, uma jovem adolescente atormentado sai em uma fúria assassina vestido como o próprio Papai Noel, aterrorizando as famílias na noite de Natal. A mente perturbada do assassino procura por vingança contra os abusos que sofreu após ser enviado para um sinistro orfanato. Roteiro parcialmente baseado numa história real envolvendo um dos mais infames serial killers (assassinos em série) dos Estados Unidos.

Comentários:
"Tente sobreviver ao Natal" - essa era a frase que acompanhava a publicidade desse "Natal Sangrento", filme de terror que invadiu os cinemas americanos na véspera de natal de 1984. Naquela década o cinema americano vivia uma febre de filmes de horror que disputavam o título de mais sangrento da temporada. Quanto mais sangue e tripas expostas melhor. Esse aqui foi lançado no mesmo final de semana de "A Hora do Pesadelo", sendo que ambos disputaram a preferência dos fãs de filmes de terror nas bilheterias naquela ocasião. O uso da mitologia de natal em um filme desse tipo causou uma certa indignação e revolta em determinados setores da sociedade americana. O filme foi acusado de ser de extremo mau gosto ao usar a figura de Papai Noel entrando pela chaminé de uma casa com um machado em seu poster original! Afinal estavam destruindo a figura do bom velhinho, o transformando em um psicopata cruel e assassino. Bobagem, o filme é um produto pop que jamais deve ser levado muito à sério. Causa espanto que críticos tão conceituados como Roger Ebert tenham escrito que a produção era uma "vergonha" por misturar os elementos natalinos em um filme Slasher de muita violência. O curioso é que o resultado foi bem mais violento do que queria seu diretor Charles E. Sellier Jr, a tal ponto que ele largou a produção pouco antes do fim das filmagens. Houve um atrito entre sua visão (mais centrada para o suspense) e os produtores, que queriam mais sangue derramando na tela. Assim o estúdio acabou escalando o editor Michael Spence para dirigir algumas cenas extras de matança, o que deixou tudo ainda mais cru e sádico. Estavam certos pois o filme acabou fazendo sucesso, dando origem dois anos depois a uma continuação que também foi bem sucedida do ponto de vista puramente comercial.

Pablo Aluísio.

Dupla em Fúria

Título no Brasil: Dupla em Fúria
Título Original: Bu er shen tan
Ano de Produção: 2013
País: China
Estúdio: Hong Kong Pictures International
Direção: Tsz Ming Wong
Roteiro: Tan Cheung
Elenco: Jet Li, Zhang Wen, Shishi Liu

Sinopse:
Dois tiras, Huang Feihong (Jet Li) e Wang Bu'er (Zhang Wen) são designados para desvendar uma série de assassinatos em Hong Kong. As investigações levam os policiais para um jogo mortal, onde criminosos bem armados e organizados em extensas quadrilhas não estarão dispostos à se renderem perante a lei.

Comentários:
Muita gente ficou (com razão) decepcionado com a participação de Jet Li em "Os Mercenários 3", já que ele surge rapidamente em cena, atirando do alto de um helicóptero e nada mais. Para esses eu recomendo essa produção recente realizada na China onde Jet Li tem novamente possibilidade de mostrar toda sua perícia em artes marciais. O roteiro é, como manda a tradição oriental, bem simples e direto, apenas o suficiente para criar um background para as cenas de luta e ação. Jet Li está completamente à vontade para demonstrar toda a sua técnica, em excelentes lutas coreografadas (ninguém, mas absolutamente ninguém, no meio cinematográfico tem mais criatividade do que os próprios orientais em organizarem lutas extremamente complexas do ponto de vista técnico). Para não ficar muito pesado o roteiro também investe em generosas pinceladas de bom humor durante todo o desenvolvimento da trama. O filme foi rodado diretamente na língua local mas depois dublado em inglês para ser lançado no mercado americano e europeu. Uma boa pedida para os fãs de filmes de artes marciais em geral.

Pablo Aluísio.

Até o Fim

Título no Brasil: Até o Fim
Título Original: All Is Lost
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: J.C. Chandor
Roteiro: J.C. Chandor
Elenco: Robert Redford

Sinopse:
Homem velejando em seu barco enfrenta inúmeras dificuldades quando sua embarcação apresenta vários problemas técnicos de complicada solução. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Edição de Som. Vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Trilha Sonora Original. Indicado na categoria Melhor Ator - Drama (Robert Redford).

Comentários:
Imagine um filme onde só existe um ator, vivendo um personagem que ninguém sabe o nome e utilizando apenas um barco como cenário. E pior: Este personagem não fala - a não ser duas palavras durante todo o filme: God e fuck. Pois é, este filme se chama: "Até o Fim" (All is Lost) 2013. O personagem é ninguém menos que um dos maiores astros do cinema do século 20: Robert Redford. O longa - dirigido por J.C. Chandor e gerado no ventre da produtora independente, Sundance que tem o próprio R.R como proprietário, mostra o ator solitário a bordo de seu veleiro na imensidão do oceano Índico, quando de repente ele é acordado com o choque do seu pequeno barco contra um contêiner que boiava à deriva, e que provavelmente tinha caído de algum cargueiro. Com o choque, o casco é rasgado e a água começa a inundar o interior do barco. Do alto de seus 78 anos, um carismático e ainda excelente Robert Redford age rápido e mostra agilidade e força para consertar o rombo no casco do veleiro. Utilizando um grande pedaço de plástico e uma cola especial o mítico ator consegue consertar o rombo, mas o pior já havia acontecido e não tinha conserto: Seu rádio comunicador havia sido danificado, e, partir daquele momento, o nosso eterno Sundance Kid - longe do frescor de sua juventude luminosa do famoso pistoleiro - encontra-se perdido e desconectado do mundo, passando a lutar só e desesperadamente pela sua própria sobrevivência, em meio à imensas tempestades, tubarões e dias impiedosos de sol e calor escaldantes. 

Telmo Vilela Jr.

domingo, 29 de maio de 2016

Coração Satânico

Um dos melhores filmes de terror e suspense que já assisti em minha vida também foi um dos mais subestimados. Estou me referindo a "Angel Heart" que no Brasil recebeu o título de "Coração Satânico". Lançado em 1987, com direção do talentoso Alan Parker, o filme tinha um roteiro maravilhoso escrito baseado a partir do ótimo romance gótico de William Hjortsberg. A velha batalha entre o bem e o mal, entre Deus e Satã, ganhava ares mais mundanos, mais próximos de cada um. No enredo um detetive particular chamado Harry Angel (interpretado por Mickey Rourke no auge de sua carreira) era contratado pelo misterioso Louis Cyphre (Robert De Niro) para encontrar um antigo cantor de jazz conhecido como Johnny Favorite. No passado esse tal de Favorite teria ficado em dívida com o senhor Louis, que agora surgia para cobrar sua parte no trato. Angel sai em busca do sujeito, passando pelos lugares mais sórdidos e obscuros de uma New Orleans cheia de magia negra, feitiços e vodu. O sangue vermelho parece lhe acompanhar em toda parte e curiosamente o mal parece estar sempre presente em seu caminho de investigação.

Na época de lançamento do filme o ator Mickey Rourke era considerado o legítimo sucessor de Marlon Brando e James Dean. Um dos últimos a se formar no Actors Studio de Nova Iorque (a mesma escola de interpretação dos dois mitos citados), tudo parecia caminhar para transformar Rourke em um dos grandes astros rebeldes do cinema. Infelizmente não foi bem isso que aconteceu. De qualquer maneira o filme "Angel Heart" (no original "Coração de Anjo") tinha outro grande ator em cena. Era Robert De Niro. Antes de afundar em várias comédias constrangedoras, De Niro brilhava em um papel bem diferente. Um sujeito que na fachada parecia ser muito fino e elegante, quase um lord. No fundo ele seria a personificação do puro mal diabólico. O roteiro já deixava pistas sobre isso durante todo o desenrolar da trama - basta ver que seu nome, Louis Cyphre, lembra bastante o nome de Lúcifer, o anjo caído. Por isso a grande lição que esse excelente filme deixava era mais simples que se pensava: Nunca faça promessas com o diabo, um dia ele irá certamente cobrar sua parte.

Pablo Aluísio.