Alguns arranjos sempre vão soar bons, não importa o tempo passado. Veja, por exemplo, o caso da música "Stranglehold". Esse tipo de sonoridade poderia estar em qualquer disco dos pioneiros do rock americano na década de 1950. Carl Perkins, Buddy Holly, qualquer um deles poderia assinar uma canção com essa levada. Aqui Paul valoriza os instrumentos básicos das primeiras bandas de rock, dando destaque para o bom e velho violão. Um sax maroto, que sempre me pareceu ter saído dos Comets, o grupo que acompanhava Bill Halley, completa o quadro musical.
Paul usa em sua letra também um velho clichê dos primeiros compositores do rock, com várias perguntas que vão se repetindo ao longo da canção. Também gosto do estilo de composição "apoteótica", onde a harmonia vai sempre num crescente, um velho estilo que sempre apresentou ótimos resultados. Em suma, esse é uma das melhores músicas desse álbum de Paul McCartney. Deveria inclusive ter virado single, com maior divulgação.
A música anterior mostrava que Paul sempre soava melhor quando ia nas raízes musicais, sem muita pretensão. Um pouco disso também se ouve em "Good Times Coming / Feel the Sun", na verdade uma dobradinha que Paul trouxe direto dos tempos dos Wings. Não precisa ir muito longe para perceber bem isso. Basta entrar aquele corinho com Linda e demais vocalistas de apoio para entender bem isso. Paul ainda inseriu uma bela melodia, tocada numa guitarra melosa ao estilo David Gilmour. Gosto da parte "Good Times Coming", mas não tanto de "Feel The Sun". Falta letra nessa segunda parte. Penso que esse foi um dos motivos de Paul ter unido as duas canções em uma pequeno medley. O refrão é bom, contagiante, simpático e agradável aos ouvidos, mas nada muito além disso. O solo de guitarra novamente salva tudo do lugar comum nos últimos acordes. Eric Stewart sempre um craque com seu instrumento.
"Footprints" tem uma simplicidade cativante. Aquele tipo de música que poderia ser tocada ao lado de uma fogueira na praia, durante um luau. Paul manteve a simplicidade da composição original na gravação de estúdio. Ele também canta a música de forma bem terna, sem qualquer afetação. Outra coisa que salvou a gravação é que Paul afastou qualquer resquício daquele tipo de som bem de acordo com os anos 80, com aqueles sintetizadores incômodos. O resultado ficou bonito. Existem alguns efeitos sonoros, mas bem pontuais e dentro da proposta da canção. Gosto bastante dessa faixa. É um dos bons momentos do álbum.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Paul McCartney - Press To Play
Que Paul McCartney é um dos grandes gênios da história da música, disso ninguém tem dúvidas. Agora, que até mesmo os gênios dão pequenos tropeços, poucos param para pensar um pouco sobre isso. O álbum "Press To Play" trazia excelentes canções em seu repertório, porém havia alguns deslizes também. Músicas sem muita inspiração que passavam a impressão de que Paul não tinha se esforçado muito ou então as incluiu no disco apenas para preencher espaço. "Talk More Talk" era bem isso. A introdução por si só já era horrível, mesmo contando com a participação muito especial da família de Paul, com destaque para o filho James.
Aquele arranjo com violinos até poderia esconder as fragilidades da canção, mas é impossível negar que é uma faixa muito vazia, sem consistência harmônica. Paul usa e abusa de um refrão supostamente pegajoso para transformar a música em sucesso FM, mas é de se perguntar: a que preço? Essas partes faladas também não funcionavam. Paul já havia usado isso em "London Town" de 1978. Se naquele disco isso não funcionava porque ele voltou à repetir o mesmo erro? Estaria tentando provar algo aos críticos? Quem sabe o que se passava em sua cabeça... o fato era que essa faixa sim era bem fraca, sem muita qualidade.
Uma das músicas mais trabalhadas por Paul nas rádios da Europa foi "Pretty Little Head" que inclusive chegou a ser lançada como single na Inglaterra. Essa música era nitidamente uma tentativa de Paul em soar moderninho, tentando capturar a sonoridade da música techno britânica dos anos 80. Nunca gostei da música em si. Paul McCartney foi um Beatle, fez parte de uma das bandas mais importantes da história do rock de todos os tempos. O que ele precisava ainda provar? Que era modernoso? Bobagem. McCartney simplesmente não precisava desse tipo de coisa. Simples assim. E no final das contas o que era moderno acabou ficando bem datado. Esses sintetizadores já aborreciam na época de lançamento do disco, imaginem hoje em dia! Esse tipo de gravação soa hoje em dia mais envelhecida do que qualquer outra coisa que Paul tenha feito na década anterior.
Para dar certo bastava voltar para o bom e velho rock ´n´ roll, onde Paul finalmente se recuperou com "Move Over Busker". Para gravar essa simpática música ao estilo anos 50, Paul chamou duas feras no estúdio onde estava gravando o álbum, trazendo Pete Townshend para a guitarra e Phil Collins na bateria. Havia se tornado uma tradição desde os tempos de "Tug of War" esse tipo de participação especial de grandes músicos nos discos de Paul. Era uma parceria que havia rendido ótimos frutos, então nada mais natural do que repetir a dose. Pete Townshend, por exemplo, estava bastante inspirado nesse dia, tirando ótimos solos de seu instrumento. Paul o incentivou a improvisar, tocar numa boa, sem amarras. O resultado ficou simplesmente perfeito. Puro rock, sem bobagens, frescuras e modernices desnecessárias.
Pablo Aluísio.
Aquele arranjo com violinos até poderia esconder as fragilidades da canção, mas é impossível negar que é uma faixa muito vazia, sem consistência harmônica. Paul usa e abusa de um refrão supostamente pegajoso para transformar a música em sucesso FM, mas é de se perguntar: a que preço? Essas partes faladas também não funcionavam. Paul já havia usado isso em "London Town" de 1978. Se naquele disco isso não funcionava porque ele voltou à repetir o mesmo erro? Estaria tentando provar algo aos críticos? Quem sabe o que se passava em sua cabeça... o fato era que essa faixa sim era bem fraca, sem muita qualidade.
Uma das músicas mais trabalhadas por Paul nas rádios da Europa foi "Pretty Little Head" que inclusive chegou a ser lançada como single na Inglaterra. Essa música era nitidamente uma tentativa de Paul em soar moderninho, tentando capturar a sonoridade da música techno britânica dos anos 80. Nunca gostei da música em si. Paul McCartney foi um Beatle, fez parte de uma das bandas mais importantes da história do rock de todos os tempos. O que ele precisava ainda provar? Que era modernoso? Bobagem. McCartney simplesmente não precisava desse tipo de coisa. Simples assim. E no final das contas o que era moderno acabou ficando bem datado. Esses sintetizadores já aborreciam na época de lançamento do disco, imaginem hoje em dia! Esse tipo de gravação soa hoje em dia mais envelhecida do que qualquer outra coisa que Paul tenha feito na década anterior.
Para dar certo bastava voltar para o bom e velho rock ´n´ roll, onde Paul finalmente se recuperou com "Move Over Busker". Para gravar essa simpática música ao estilo anos 50, Paul chamou duas feras no estúdio onde estava gravando o álbum, trazendo Pete Townshend para a guitarra e Phil Collins na bateria. Havia se tornado uma tradição desde os tempos de "Tug of War" esse tipo de participação especial de grandes músicos nos discos de Paul. Era uma parceria que havia rendido ótimos frutos, então nada mais natural do que repetir a dose. Pete Townshend, por exemplo, estava bastante inspirado nesse dia, tirando ótimos solos de seu instrumento. Paul o incentivou a improvisar, tocar numa boa, sem amarras. O resultado ficou simplesmente perfeito. Puro rock, sem bobagens, frescuras e modernices desnecessárias.
Pablo Aluísio.
domingo, 25 de dezembro de 2011
Pat Boone
Pat Boone foi um cantor muito popular nos anos 1950. Ele fazia uma linha bem mais comportada do que um Elvis Presley, por exemplo. Ao invés do roqueiro selvagem com cabelo cheio de brilhantina, Boone encarnava o bom moço, o genro que toda mãe gostaria de ter. Para entender bem esse aspecto basta ver a capa desse disco. Boone está em um ambiente universitário, estudando, sorridente, enquanto espera a chamada para entrar em sala de aula. Mais inofensivo do que isso impossível.
Nesse disco aqui, lançado no auge de sua popularidade, Boone desfila seu repertório. O curioso é que há grandes clássicos do rock como por exemplo Tutti Frutti (também gravada por Elvis em composição original de Little Richard) e Ain't That A Shame (trazendo o melhor do rock blues da Louisiana). Como era de se esperar o bom e velho Pat ameniza o aspecto mais, diríamos, rebelde e selvagem dessas canções. Tudo é bem mais suavizado. De qualquer maneira ainda gosto bastante dessas faixas. Acho inclusive que exageram quando tentam desqualificar a discografia de Pat Boone o chamando de "Mauricinho" ou coisas do tipo. Ele tinha talento, boa voz e seus discos eram bem produzidos. Resumir tudo apenas em puro preconceito é algo bem rasteiro.
Pat Boone - Pat Boone (1956)
Ain't That A Shame
Rich In Love
Two Hearts
No Other Arms
Now I Know
Gee Whittakers
At My Front Door
Take The Time
Tutti Frutti
Tra-La-La
Tennessee Saturday Night
I'll Be Home
Pablo Aluísio.
Nesse disco aqui, lançado no auge de sua popularidade, Boone desfila seu repertório. O curioso é que há grandes clássicos do rock como por exemplo Tutti Frutti (também gravada por Elvis em composição original de Little Richard) e Ain't That A Shame (trazendo o melhor do rock blues da Louisiana). Como era de se esperar o bom e velho Pat ameniza o aspecto mais, diríamos, rebelde e selvagem dessas canções. Tudo é bem mais suavizado. De qualquer maneira ainda gosto bastante dessas faixas. Acho inclusive que exageram quando tentam desqualificar a discografia de Pat Boone o chamando de "Mauricinho" ou coisas do tipo. Ele tinha talento, boa voz e seus discos eram bem produzidos. Resumir tudo apenas em puro preconceito é algo bem rasteiro.
Pat Boone - Pat Boone (1956)
Ain't That A Shame
Rich In Love
Two Hearts
No Other Arms
Now I Know
Gee Whittakers
At My Front Door
Take The Time
Tutti Frutti
Tra-La-La
Tennessee Saturday Night
I'll Be Home
Pablo Aluísio.
sábado, 24 de dezembro de 2011
Queen
Queen e Fritz Lang
No último dia 24 de novembro o mundo lembrou novamente da morte do cantor Freddie Mercury, morto em novembro de 1991. Em termos de Queen um dos meus discos preferidos segue sendo "The Works" de 1984. Esse álbum continua sendo um dos mais populares, mas curiosamente a crítica não o considera muito. Fica longe das listas de "obras primas" da banda. Uma injustiça certamente.
Vou a partir de hoje tecer alguns comentários sobre as canções desse disco. Uma das minhas preferidas sempre foi "Man On The Prowl" e é fácil entender a razão. A melodia dessa faixa parece que foi tirada dos anos 50. Fica claro que o Queen quis fazer um revival 50´s com ela. Até os vocais de apoio vão por esse lado.
A letra imediatamente nos leva a pensar em um Teddy Boy, típico dos anos 50, com seu cabelo cheio de brilhantina dizendo para sua ex-namorada ter cuidado pois ele está pronto a agitar as coisas novamente. É um "homem à espreita", esperando por novas oportunidades. Muito boa a gravação com solos de piano que ficariam muito à vontade em um disco de Fats Domino, por exemplo. Bem evocativa sobre aquela época.
"Radio Ga Ga" que abre o disco também é nostálgica, porém voltar mais atrás no tempo, mais precisamente na época do clássico do cinema "Metrópolis" de Fritz Lang. Só os cinéfilos mais antenados (e cultos) vão pegar todas as referências em termos de letra e melodia. Simplificando muito a canção tenta capturar o futuro, visto sob o ângulo e ponto de vista de alguém do passado, mais especificamente da década de 1920, quando o filme foi lançado. Eu considero essa canção um magnífico trabalho de criação. Mostra como os membros do Queen eram acima de tudo músicos com bastante bagagem cultural. Definitivamente não havia espaço para tolices nos discos dessa mitológica banda de rock que marcou a história da música.
Queen - Live Aid
Quando o Queen aceitou o convite para tocar no Live Aid todos ficaram surpresos. O grupo não lançava um disco há muito tempo e os boatos que circulavam eram de que a banda iria se separar em breve. O próprio Freddie Mercury não vinha bem de saúde, com a voz prejudicada por algumas infecções que tinha sofrido nos últimos meses.Mesmo com tantas coisas contra a apresentação, a banda aceitou o convite e a razão foi explicada depois pelo cantor Freddie Mercury. Durante uma entrevista para um jornalista americano ele disse: "Eu fui criado e educado em uma colégio inglês na Índia. Havia dois mundos bem diferentes. A dos ricos, onde tudo havia em excesso e a dos pobres, onde faltava tudo. Isso me criou uma consciência social que nunca me deixou!"
Amigos próximos depois diriam que Mercury sentia-se muito culpado por causa de sua riqueza em um mundo onde muitos não tinham nem o que comer. Tão ressentido ficava com a situação de pobreza extrema em certos lugares que Freddie Mercury não conseguia sequer assistir a um documentário sobre pessoas famintas e crianças morrendo de fome na África. Ele não suportava aquilo, simplesmente se levantava e desligava a TV. Era demais para sua sensibilidade suportar.
Assim quando surgiu a ideia do Live Aid, Freddie Mercury decidiu que o Queen iria participar apesar de todos os problemas. Não importava que Brian May e Roger Taylor quase não se falavam mais, não importava as brigas internas, nada importava. O Queen era seu grupo musical e Mercury fazia questão que ele se apresentasse. Durante o dia em que o grupo iria subir ao palco Freddie deixou todos surpresos por andar no meio do público, interagindo com as pessoas e os fãs. Enquanto os demais membros do Queen ficavam trancados em suas suítes no hotel, Mercury resolveu interagir com as pessoas que estavam no festival. Ele tomou lanches nas barraquinhas, conversou com jornalistas, foi uma pessoa completamente humilde e acessível. Nada parecido com a fama de diva que alguns diziam ter. O resultado de tanto boa vontade se materializou no palco pois até hoje os críticos concordam que o concerto do Queen foi o melhor de todo o festival.
Pablo Aluísio.
No último dia 24 de novembro o mundo lembrou novamente da morte do cantor Freddie Mercury, morto em novembro de 1991. Em termos de Queen um dos meus discos preferidos segue sendo "The Works" de 1984. Esse álbum continua sendo um dos mais populares, mas curiosamente a crítica não o considera muito. Fica longe das listas de "obras primas" da banda. Uma injustiça certamente.
Vou a partir de hoje tecer alguns comentários sobre as canções desse disco. Uma das minhas preferidas sempre foi "Man On The Prowl" e é fácil entender a razão. A melodia dessa faixa parece que foi tirada dos anos 50. Fica claro que o Queen quis fazer um revival 50´s com ela. Até os vocais de apoio vão por esse lado.
A letra imediatamente nos leva a pensar em um Teddy Boy, típico dos anos 50, com seu cabelo cheio de brilhantina dizendo para sua ex-namorada ter cuidado pois ele está pronto a agitar as coisas novamente. É um "homem à espreita", esperando por novas oportunidades. Muito boa a gravação com solos de piano que ficariam muito à vontade em um disco de Fats Domino, por exemplo. Bem evocativa sobre aquela época.
"Radio Ga Ga" que abre o disco também é nostálgica, porém voltar mais atrás no tempo, mais precisamente na época do clássico do cinema "Metrópolis" de Fritz Lang. Só os cinéfilos mais antenados (e cultos) vão pegar todas as referências em termos de letra e melodia. Simplificando muito a canção tenta capturar o futuro, visto sob o ângulo e ponto de vista de alguém do passado, mais especificamente da década de 1920, quando o filme foi lançado. Eu considero essa canção um magnífico trabalho de criação. Mostra como os membros do Queen eram acima de tudo músicos com bastante bagagem cultural. Definitivamente não havia espaço para tolices nos discos dessa mitológica banda de rock que marcou a história da música.
Queen - Live Aid
Quando o Queen aceitou o convite para tocar no Live Aid todos ficaram surpresos. O grupo não lançava um disco há muito tempo e os boatos que circulavam eram de que a banda iria se separar em breve. O próprio Freddie Mercury não vinha bem de saúde, com a voz prejudicada por algumas infecções que tinha sofrido nos últimos meses.Mesmo com tantas coisas contra a apresentação, a banda aceitou o convite e a razão foi explicada depois pelo cantor Freddie Mercury. Durante uma entrevista para um jornalista americano ele disse: "Eu fui criado e educado em uma colégio inglês na Índia. Havia dois mundos bem diferentes. A dos ricos, onde tudo havia em excesso e a dos pobres, onde faltava tudo. Isso me criou uma consciência social que nunca me deixou!"
Amigos próximos depois diriam que Mercury sentia-se muito culpado por causa de sua riqueza em um mundo onde muitos não tinham nem o que comer. Tão ressentido ficava com a situação de pobreza extrema em certos lugares que Freddie Mercury não conseguia sequer assistir a um documentário sobre pessoas famintas e crianças morrendo de fome na África. Ele não suportava aquilo, simplesmente se levantava e desligava a TV. Era demais para sua sensibilidade suportar.
Assim quando surgiu a ideia do Live Aid, Freddie Mercury decidiu que o Queen iria participar apesar de todos os problemas. Não importava que Brian May e Roger Taylor quase não se falavam mais, não importava as brigas internas, nada importava. O Queen era seu grupo musical e Mercury fazia questão que ele se apresentasse. Durante o dia em que o grupo iria subir ao palco Freddie deixou todos surpresos por andar no meio do público, interagindo com as pessoas e os fãs. Enquanto os demais membros do Queen ficavam trancados em suas suítes no hotel, Mercury resolveu interagir com as pessoas que estavam no festival. Ele tomou lanches nas barraquinhas, conversou com jornalistas, foi uma pessoa completamente humilde e acessível. Nada parecido com a fama de diva que alguns diziam ter. O resultado de tanto boa vontade se materializou no palco pois até hoje os críticos concordam que o concerto do Queen foi o melhor de todo o festival.
Pablo Aluísio.
Queen - The Works
Queen - The Works
O primeiro LP do Queen que comprei, ainda na década de 1980, foi justamente esse "The Works". Corria o ano de 1983 e o clip de "Radio Ga Ga" não parava de passar na TV. Até hoje considero um dos videoclips mais geniais da história do rock, não pelo resultado em si, mas sim da ideia de se homenagear o clássico Metrópolis de Fritz Lang. Para um jovem que adorava cinema clássico não poderia haver nada melhor pois em um só pacote se misturava com grande bom gosto o universo do rock e dos velhos clássicos da sétima arte. A mistura se revelou irresistível, pelo menos no meu caso particular. Era exatamente essa canção que abria o álbum. Um belo cartão de apresentação.
Confesso que nunca fui fã de carteirinha da banda Queen. Claro que hoje em dia, nessa decadência musical em que vivemos, uma banda dessas faz uma enorme falta no cenário artístico, nas rádios, mas na década de 80 havia tanta coisa boa rolando ao mesmo tempo que o Queen poderia ser visto apenas como mais um grupo talentoso de rock. Talentoso, mas não imprescindível, De qualquer maneira esse tipo de constatação só vem mesmo para demonstrar o tamanho do vazio que vivemos atualmente em termos de música mundial.
Pois bem, a segunda canção do disco é "Tear It Up" do guitarrista Brian May. Esse é aquele tipo de som que você sabe que é do Queen, seja em que lugar você venha a ouvir a música pela primeira vez. Acredito que poucas melodias sejam tão representativas do som do grupo como ela. Essa batida aliás é encontrada em vários hits do Queen. Soa quase como uma marca registrada - o que talvez seja de fato. Muito usada por torcidas de futebol pelo mundo afora, mas em especial dentro do campeonato inglês de futebol. Coisas que apenas os hooligans entenderiam completamente. Como May a compôs a canção fecha com um maravilhoso solo de guitarra. A música que vem a seguir, "It's a Hard Life", foi escrita por Freddie Mercury e não é apenas um dos maiores sucessos do conjunto em sua carreira - é um verdadeiro hino do universo de baladas do rock inglês. De arrepiar realmente. Grande letra, grande melodia e uma excelente interpretação de Mercury (vamos falar a verdade: ele foi sim um dos maiores vocalistas da história do rock, sem favor algum!).
"Man On The Prowl" que vem logo a seguir também foi escrita por Mercury. Dessa já gosto muito. Ela fez um sucesso razoável nas rádios em seu lançamento, mas sempre a considerei muito infestada por clichês por todos os lados. Mesmo assim não deixo de curtir. Aprecio bastante seu acompanhamento vocal que lembra as velhas canções do estilo rockabilly dos anos 1950. Aliás o feeling da música vai exatamente por esse lado. Mais uma vez Brian May arrasa em um solo de guitarra onde ele usou uma velha Gibson dos 50´s. A tônica é realmente de nostalgia simpática. Um momento simpático do disco. O curioso é que "Machines (or 'Back to Humans')" é o extremo oposto desse sentimento. Aqui o Queen tenta soar futurista, em um clima meio pós apocalipse. Combina muito bem com a proposta de "Radio Ga Ga"e Metropólis. Musicalmente porém a considero fraca, com arranjos que hoje em dia soam totalmente datados. A melodia também não me atrai. Anda, anda e não chega em lugar nenhum.
E então chegamos em "I Want To Break Free". Foi o maior sucesso do álbum e vendeu milhões de cópias de seu single. O clip era verdadeiramente divertido com todo o grupo vestido de donas de casa entediadas. Ver Mercury com seu bigodão em roupas femininas e seios falsos, pilotando um aspirador de pó foi realmente muito engraçado. Tudo a ver com a proposta da letra, afinal pense, o que poderia ser mais contrário ao significado da palavra liberdade do que uma mulher casada, cheia de filhos, levando uma vida chata e suburbana? Todos merecem ser livres! Um sucesso imortal dos anos 80. Ótima canção.
Depois desse hit o disco fecha com três canções que não chegaram nem perto do sucesso de "I Want To Break Free", mas que são boas músicas no final das contas. "Keep Passing The Open Windows" de Mercury é a melhor delas. Lembra de certo modo "It's a Hard Life", porém é mais animadinha, pra cima! Gosto muito do refrão dessa linha melódica. Realmente ótima para levantar o astral. Depois dela Brian May retorna com seus solos furiosos de guitarra em ""Hammer To Fall". Outra que pode ser entoada tranquilamente em um estádio de futebol - embora a letra já não seja tão adequada. O disco enfim termina com "Is This The World We Created?", baladona escrita pela dupla Mercury / May. Bonito arranjo de piano e violão. Sempre considerei o Mercury um tanto subestimado. A verdade era que ele era um cantor com muitos recursos vocais. Pena um talento desses ter partido tão cedo.
Pablo Aluísio.
O primeiro LP do Queen que comprei, ainda na década de 1980, foi justamente esse "The Works". Corria o ano de 1983 e o clip de "Radio Ga Ga" não parava de passar na TV. Até hoje considero um dos videoclips mais geniais da história do rock, não pelo resultado em si, mas sim da ideia de se homenagear o clássico Metrópolis de Fritz Lang. Para um jovem que adorava cinema clássico não poderia haver nada melhor pois em um só pacote se misturava com grande bom gosto o universo do rock e dos velhos clássicos da sétima arte. A mistura se revelou irresistível, pelo menos no meu caso particular. Era exatamente essa canção que abria o álbum. Um belo cartão de apresentação.
Confesso que nunca fui fã de carteirinha da banda Queen. Claro que hoje em dia, nessa decadência musical em que vivemos, uma banda dessas faz uma enorme falta no cenário artístico, nas rádios, mas na década de 80 havia tanta coisa boa rolando ao mesmo tempo que o Queen poderia ser visto apenas como mais um grupo talentoso de rock. Talentoso, mas não imprescindível, De qualquer maneira esse tipo de constatação só vem mesmo para demonstrar o tamanho do vazio que vivemos atualmente em termos de música mundial.
Pois bem, a segunda canção do disco é "Tear It Up" do guitarrista Brian May. Esse é aquele tipo de som que você sabe que é do Queen, seja em que lugar você venha a ouvir a música pela primeira vez. Acredito que poucas melodias sejam tão representativas do som do grupo como ela. Essa batida aliás é encontrada em vários hits do Queen. Soa quase como uma marca registrada - o que talvez seja de fato. Muito usada por torcidas de futebol pelo mundo afora, mas em especial dentro do campeonato inglês de futebol. Coisas que apenas os hooligans entenderiam completamente. Como May a compôs a canção fecha com um maravilhoso solo de guitarra. A música que vem a seguir, "It's a Hard Life", foi escrita por Freddie Mercury e não é apenas um dos maiores sucessos do conjunto em sua carreira - é um verdadeiro hino do universo de baladas do rock inglês. De arrepiar realmente. Grande letra, grande melodia e uma excelente interpretação de Mercury (vamos falar a verdade: ele foi sim um dos maiores vocalistas da história do rock, sem favor algum!).
"Man On The Prowl" que vem logo a seguir também foi escrita por Mercury. Dessa já gosto muito. Ela fez um sucesso razoável nas rádios em seu lançamento, mas sempre a considerei muito infestada por clichês por todos os lados. Mesmo assim não deixo de curtir. Aprecio bastante seu acompanhamento vocal que lembra as velhas canções do estilo rockabilly dos anos 1950. Aliás o feeling da música vai exatamente por esse lado. Mais uma vez Brian May arrasa em um solo de guitarra onde ele usou uma velha Gibson dos 50´s. A tônica é realmente de nostalgia simpática. Um momento simpático do disco. O curioso é que "Machines (or 'Back to Humans')" é o extremo oposto desse sentimento. Aqui o Queen tenta soar futurista, em um clima meio pós apocalipse. Combina muito bem com a proposta de "Radio Ga Ga"e Metropólis. Musicalmente porém a considero fraca, com arranjos que hoje em dia soam totalmente datados. A melodia também não me atrai. Anda, anda e não chega em lugar nenhum.
E então chegamos em "I Want To Break Free". Foi o maior sucesso do álbum e vendeu milhões de cópias de seu single. O clip era verdadeiramente divertido com todo o grupo vestido de donas de casa entediadas. Ver Mercury com seu bigodão em roupas femininas e seios falsos, pilotando um aspirador de pó foi realmente muito engraçado. Tudo a ver com a proposta da letra, afinal pense, o que poderia ser mais contrário ao significado da palavra liberdade do que uma mulher casada, cheia de filhos, levando uma vida chata e suburbana? Todos merecem ser livres! Um sucesso imortal dos anos 80. Ótima canção.
Depois desse hit o disco fecha com três canções que não chegaram nem perto do sucesso de "I Want To Break Free", mas que são boas músicas no final das contas. "Keep Passing The Open Windows" de Mercury é a melhor delas. Lembra de certo modo "It's a Hard Life", porém é mais animadinha, pra cima! Gosto muito do refrão dessa linha melódica. Realmente ótima para levantar o astral. Depois dela Brian May retorna com seus solos furiosos de guitarra em ""Hammer To Fall". Outra que pode ser entoada tranquilamente em um estádio de futebol - embora a letra já não seja tão adequada. O disco enfim termina com "Is This The World We Created?", baladona escrita pela dupla Mercury / May. Bonito arranjo de piano e violão. Sempre considerei o Mercury um tanto subestimado. A verdade era que ele era um cantor com muitos recursos vocais. Pena um talento desses ter partido tão cedo.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Paul McCartney - Press to Play
Em 1986 Paul lançou mais um álbum, intitulado "Press To Play". As reações não foram tão boas como em outros discos de sua carreira solo. Isso era até previsível pois Paul vinha de uma sucessão de grandes discos nos anos 80. Basta lembrar de "Tug of War" (provavelmente seu melhor trabalho após os Beatles) e até mesmo "Pipes of Peace" (que trazia nada mais, nada menos, do que Michael Jackson como artista convidado). Assim as expectativas estavam altas demais para qualquer novo lançamento de músicas inéditas assinadas por Paul.
A música de trabalho desse novo disco foi "Press". A canção ganhou um cilp (como era de praxe na época) e foi bastante divulgada nas rádios. Acabou virando um hit, porém curiosamente não ficou tão marcada na carreira de McCartney como tantos outros clássicos. Ele nunca a tocou ao vivo e nem a trouxe de volta aos seus shows. De certa maneira é aquele tipo de faixa que ficou parada mesmo lá nos anos 80. Isso porém não significa que seja uma música ruim ou fraca. Longe disso. "Press" tem um ótimo arranjo, com destaque para a participação do músico brasileiro Carlos Alomar, em um brilhante solo de guitarra. A gravação é de alto nível, beirando o perfeccionismo, como é comum nos trabalhos de Paul McCartney.
Outra canção que merece destaque é "Angry". Ao contrário de "Press" ela não foi trabalhada por Paul para ser tocada nas rádios e nem virou sucesso na época. Acabou circulando apenas entre os fãs dos Beatles e de Paul que compraram o LP. De certa maneira ela tem uma sonoridade que lembra o punk inglês dos anos 70, mas com uma pitada dos velhos sucessos do rock´n´n roll em seus primórdios, lá nos anos 50, quando os primeiros singles desse novo gênero musical chegavam nas lojas. Em um disco com pouco mais de dez faixas afirmo que há pelo menos quatro grandes momentos (o que convenhamos não deixa de ser uma boa média). Uma das faixas que foram injustamente subestimadas e caíram no esquecimento foi justamente esse rock com espírito anos 50 chamado "Angry".
A gravação inclusive me lembra uma jam session por parte de Paul e seu grupo de apoio (contando, olhem só, com Pete Townshend na guitarra e Phil Collins na bateria!). É bom salientar que isso não é um defeito, mas um mérito, simplesmente porque nem sempre uma grande produção garante uma grande música. Muitas vezes a simplicidade é tudo em uma faixa como essa! Tirando os vocais típicos do Wings (que nos remete aos anos 70) tudo o mais me faz lembrar das velhas gravações dos tempos da Sun Records ou até mesmo antes disso! O ritmo é bem envolvente e a letra, sucintamente simplória, completa ainda mais o quadro nostálgico. Só resta saber como um quarentão como Paul na época ainda encontrou toda essa energia adolescente revoltosa e rebelde em plenos anos 80! Ponto para o bom e velho Sir Macca e sua eterna juventude roqueira. É assim que se faz meu caro...
Pablo Aluísio.
A música de trabalho desse novo disco foi "Press". A canção ganhou um cilp (como era de praxe na época) e foi bastante divulgada nas rádios. Acabou virando um hit, porém curiosamente não ficou tão marcada na carreira de McCartney como tantos outros clássicos. Ele nunca a tocou ao vivo e nem a trouxe de volta aos seus shows. De certa maneira é aquele tipo de faixa que ficou parada mesmo lá nos anos 80. Isso porém não significa que seja uma música ruim ou fraca. Longe disso. "Press" tem um ótimo arranjo, com destaque para a participação do músico brasileiro Carlos Alomar, em um brilhante solo de guitarra. A gravação é de alto nível, beirando o perfeccionismo, como é comum nos trabalhos de Paul McCartney.
Outra canção que merece destaque é "Angry". Ao contrário de "Press" ela não foi trabalhada por Paul para ser tocada nas rádios e nem virou sucesso na época. Acabou circulando apenas entre os fãs dos Beatles e de Paul que compraram o LP. De certa maneira ela tem uma sonoridade que lembra o punk inglês dos anos 70, mas com uma pitada dos velhos sucessos do rock´n´n roll em seus primórdios, lá nos anos 50, quando os primeiros singles desse novo gênero musical chegavam nas lojas. Em um disco com pouco mais de dez faixas afirmo que há pelo menos quatro grandes momentos (o que convenhamos não deixa de ser uma boa média). Uma das faixas que foram injustamente subestimadas e caíram no esquecimento foi justamente esse rock com espírito anos 50 chamado "Angry".
A gravação inclusive me lembra uma jam session por parte de Paul e seu grupo de apoio (contando, olhem só, com Pete Townshend na guitarra e Phil Collins na bateria!). É bom salientar que isso não é um defeito, mas um mérito, simplesmente porque nem sempre uma grande produção garante uma grande música. Muitas vezes a simplicidade é tudo em uma faixa como essa! Tirando os vocais típicos do Wings (que nos remete aos anos 70) tudo o mais me faz lembrar das velhas gravações dos tempos da Sun Records ou até mesmo antes disso! O ritmo é bem envolvente e a letra, sucintamente simplória, completa ainda mais o quadro nostálgico. Só resta saber como um quarentão como Paul na época ainda encontrou toda essa energia adolescente revoltosa e rebelde em plenos anos 80! Ponto para o bom e velho Sir Macca e sua eterna juventude roqueira. É assim que se faz meu caro...
Pablo Aluísio.
The Doors - L.A. Woman
Jim Morrison já estava completamente destruído por todos os excessos quando os Doors se reuniram para a gravação de mais um álbum - que iria se tornar o último com o Rei Lagarto nos vocais. Esse disco, todos os fãs sabem, bem poderia se chamar "The Doors Blues Album" porque realmente a levada é de homenagem ao bom e velho blues. Jim estava particularmente interessado no ritmo e não era apenas porque frequentava todos os dias bares de blues em Los Angeles para encher a cara ao lado de seus parças caminhoneiros e motoqueiros. O sucesso do disco anterior, "Morrison Hotel", se tornou um inegável êxito de público e crítica, abrindo o caminho para esse tipo de som, se mostrando bem viável para Jim e seus colegas de banda.
De todas as faixas uma das mais representativas é justamente essa "Crawling King Snake". Esse é um blues antigo, clássico, um verdadeiro standart. Presume-se (ninguém tem certeza) que a canção foi composta por cantores de blues de cabarés na década de 1920. Só depois vieram as primeiras gravações. Naquela época os compositores e cantores de blues eram considerados vagabundos, artistas que vendiam suas criações em troca de uma garrafa de whisky, as gravando em pequenos estúdios do tipo fundo de quintal. Assim as origens de músicas como essa acabavam se perdendo nas areias do tempo. A versão de Morrison bebe diretamente (sem trocadilhos infames, por favor!) da gravação de John Lee Hooker dos anos 1940. Em minha opinião essa versão dos Doors é inclusive superior às gravadas por Howlin' Wolf e Muddy Waters, Um registro excelente, com muita alma e espírito (provavelmente vindo diretamente das entidades que norteavam a mente do embriagado Morrison). Melhor do que isso, impossível.
Outro blues, "The Changeling", foi escolhida para abrir o álbum. Aqui Jim Morrison fez um pedido inusitado. Ele queria um arranjo diferenciado, algo que remetesse aos velhos bares de beira de estrada da Louisiana. Assim o produtor da Elektra Records criou um som bem diferente mesmo. Um crítico do New York Times chegou a dizer que a música tinha um som que fazia lembrar uma serpente ou uma cobra à beira da estrada. Jim que adorava répteis provavelmente adorou esse sentido, essa interpretação. Na letra Jim incorpora um andarilho, um homeless (sem-teto)! Um sujeito livre, que vive em todos os lugares em troca de alguns trocados dados pelos transeuntes. Nada das velhas amarras da sociedade. Jim Morrison sempre teve um interesse a mais nos que viviam à margem, os ditos marginalizados pelo status quo.
"The WASP (Texas Radio and the Big Beat)" soava por sua vez como se você estivesse dirigindo por alguma estrada do Texas e sintonizasse uma rádio de blues no dial. A sigla WASP era uma referência aos brancos, aos protestantes, aos anglo-saxões, considerados "a nata" da sociedade americana. Essa sigla inclusive foi usada por organizações racistas para classificar o que era um "verdadeiro americano", pessoas bem acima do restante da escória, ou seja, dos negros, dos latinos, dos imigrantes e de todos aqueles que não se enquadrassem na visão racista e canalha da Klan. Jim obviamente usou o WASP como ironia, como crítica, como uma forma de debochar da mentalidade dessa gente. Jim incorpora um DJ na música e declama versos como esse: "Os negros brilhantemente enfeitados na selva / Estão dizendo "Esqueçam as noites" / Vivam conosco na floresta azulada / Aqui fora no perímetro não há estrelas / Aqui estamos petrificados - imaculados.". Morrison estava particularmente inspirado para escrever letras nesse disco.
Pablo Aluísio.
De todas as faixas uma das mais representativas é justamente essa "Crawling King Snake". Esse é um blues antigo, clássico, um verdadeiro standart. Presume-se (ninguém tem certeza) que a canção foi composta por cantores de blues de cabarés na década de 1920. Só depois vieram as primeiras gravações. Naquela época os compositores e cantores de blues eram considerados vagabundos, artistas que vendiam suas criações em troca de uma garrafa de whisky, as gravando em pequenos estúdios do tipo fundo de quintal. Assim as origens de músicas como essa acabavam se perdendo nas areias do tempo. A versão de Morrison bebe diretamente (sem trocadilhos infames, por favor!) da gravação de John Lee Hooker dos anos 1940. Em minha opinião essa versão dos Doors é inclusive superior às gravadas por Howlin' Wolf e Muddy Waters, Um registro excelente, com muita alma e espírito (provavelmente vindo diretamente das entidades que norteavam a mente do embriagado Morrison). Melhor do que isso, impossível.
Outro blues, "The Changeling", foi escolhida para abrir o álbum. Aqui Jim Morrison fez um pedido inusitado. Ele queria um arranjo diferenciado, algo que remetesse aos velhos bares de beira de estrada da Louisiana. Assim o produtor da Elektra Records criou um som bem diferente mesmo. Um crítico do New York Times chegou a dizer que a música tinha um som que fazia lembrar uma serpente ou uma cobra à beira da estrada. Jim que adorava répteis provavelmente adorou esse sentido, essa interpretação. Na letra Jim incorpora um andarilho, um homeless (sem-teto)! Um sujeito livre, que vive em todos os lugares em troca de alguns trocados dados pelos transeuntes. Nada das velhas amarras da sociedade. Jim Morrison sempre teve um interesse a mais nos que viviam à margem, os ditos marginalizados pelo status quo.
"The WASP (Texas Radio and the Big Beat)" soava por sua vez como se você estivesse dirigindo por alguma estrada do Texas e sintonizasse uma rádio de blues no dial. A sigla WASP era uma referência aos brancos, aos protestantes, aos anglo-saxões, considerados "a nata" da sociedade americana. Essa sigla inclusive foi usada por organizações racistas para classificar o que era um "verdadeiro americano", pessoas bem acima do restante da escória, ou seja, dos negros, dos latinos, dos imigrantes e de todos aqueles que não se enquadrassem na visão racista e canalha da Klan. Jim obviamente usou o WASP como ironia, como crítica, como uma forma de debochar da mentalidade dessa gente. Jim incorpora um DJ na música e declama versos como esse: "Os negros brilhantemente enfeitados na selva / Estão dizendo "Esqueçam as noites" / Vivam conosco na floresta azulada / Aqui fora no perímetro não há estrelas / Aqui estamos petrificados - imaculados.". Morrison estava particularmente inspirado para escrever letras nesse disco.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Snow Patrol - Eyes Open
Em termos de arranjos vale também a menção de "Shut Your Eyes". O dedilhado atravessa toda a faixa. O refrão pegajoso não é unanimidade entre os críticos do rock britânico, mas está valendo, até porque o Snow Patrol sempre teve mesmo vocação para tocar nas rádios (pelo menos nas rádios inglesas, claro!). Isso ficou bem claro em "It's Beginning to Get to Me". Se bem que eles não deveriam exagerar tanto. Ficou óbvio demais. E essa caixinha de ninar que ouvimos em "You Could Be Happy"? Provavelmente seja feita para tocar para os seus filhos pequenos dormirem de noite. Para uma banda escocesa que não quer ser tão depressiva como o Travis vai soar tudo um pouco fora do lugar! A última grande faixa do álbum vem com "Headlights on Dark Roads". Suas linhas ansiosas e nervosinhas bateram muito bem com a proposta do grupo nesse CD.
Snow Patrol - Eyes Open (2006)
1. You're All I Have
2. Hands Open
3. Chasing Cars
4. Shut Your Eyes
5. It's Beginning to Get to Me
6. You Could Be Happy
7. Make This Go On Forever
8. Set the Fire to the Third Bar
9. Headlights on Dark Roads
10. Open Your Eyes
11. The Finish Line
Pablo Aluísio.
Chet Atkins - Mister Guitar
Chet Atkins - Mister Guitar (1961)
Chet Atkins não foi apenas o produtor de Elvis Presley na RCA Victor. Ele foi muito mais. Certamente Atkins foi um dos guitarristas mais talentosos da história do rock e da country music americana. Tem dúvida sobre isso? Então aconselho a audição desse ótimo LP (hoje em dia infelizmente bem raro de encontrar). Nele Atkins desfila todo o seu talento, indo do R&B ao blues, do rock ao pop, do country ao soul. Ele era genial, vamos convir. A música que abre o álbum, "I Know That You Know", talvez seja uma das faixas mais conhecidas. Eu a considero uma espécie de skiflle americano (como todos sabemos o skiffle original nasceu na Inglaterra). Aqui Atkins, extremamente antenado com o som da música britânica resolveu fazer sua própria versão do ritmo, tudo Made in USA. Ficou excelente o resultado, embora eu saiba muito bem que esse tipo de som instrumental será visto hoje em dia quase como algo pueril. Música de desenho animado? Não vamos exagerar a esse ponto também. É skiffle, o ritmo em que nasceu os Beatles.
"Rainbow" tem um sabor bem mais country, bem melódica. A música foi criada por Atkins para fazer parte de um western, porém com o cancelamento do filme pela Universal ele resolveu reescrever parte de seu arranjo. O resultado está aí. Muito bem executada (Atkins era mestre), a gravação original contou a presença de Scotty Moore, o guitarrista da banda de Elvis Presley que resolveu dar uma canja. É dele a segunda guitarra, de apoio. "Country Gentleman" segue na mesma linha, música country instrumental, com belas melodias. Essa é uma baladinha rural que fez muito sucesso nas rádios de Nashville e Memphis a tal ponto que Elvis o parabenizou pessoalmente pela faixa. O álbum se encerra com "Piano Concerto in B-Flat Minor" que considero a melhor gravação do disco. Essa já tem mais elementos de pop, tudo embalado por uma sonoridade agradável e relaxante. Chet Atkins foi certamente um genial guitarrista, infelizmente também subestimado em seu talento.
Chet Atkins - Mister Guitar (1961)
I Know That You Know
Rainbow
Hello Bluebird
Siesta
Country Style
Show Me the Way to Go Home
I'm Forever Blowing Bubbles
Backwoods
Country Gentleman
Slinkey
Jessie
Piano Concerto in B-Flat Minor
Pablo Aluísio.
Chet Atkins não foi apenas o produtor de Elvis Presley na RCA Victor. Ele foi muito mais. Certamente Atkins foi um dos guitarristas mais talentosos da história do rock e da country music americana. Tem dúvida sobre isso? Então aconselho a audição desse ótimo LP (hoje em dia infelizmente bem raro de encontrar). Nele Atkins desfila todo o seu talento, indo do R&B ao blues, do rock ao pop, do country ao soul. Ele era genial, vamos convir. A música que abre o álbum, "I Know That You Know", talvez seja uma das faixas mais conhecidas. Eu a considero uma espécie de skiflle americano (como todos sabemos o skiffle original nasceu na Inglaterra). Aqui Atkins, extremamente antenado com o som da música britânica resolveu fazer sua própria versão do ritmo, tudo Made in USA. Ficou excelente o resultado, embora eu saiba muito bem que esse tipo de som instrumental será visto hoje em dia quase como algo pueril. Música de desenho animado? Não vamos exagerar a esse ponto também. É skiffle, o ritmo em que nasceu os Beatles.
"Rainbow" tem um sabor bem mais country, bem melódica. A música foi criada por Atkins para fazer parte de um western, porém com o cancelamento do filme pela Universal ele resolveu reescrever parte de seu arranjo. O resultado está aí. Muito bem executada (Atkins era mestre), a gravação original contou a presença de Scotty Moore, o guitarrista da banda de Elvis Presley que resolveu dar uma canja. É dele a segunda guitarra, de apoio. "Country Gentleman" segue na mesma linha, música country instrumental, com belas melodias. Essa é uma baladinha rural que fez muito sucesso nas rádios de Nashville e Memphis a tal ponto que Elvis o parabenizou pessoalmente pela faixa. O álbum se encerra com "Piano Concerto in B-Flat Minor" que considero a melhor gravação do disco. Essa já tem mais elementos de pop, tudo embalado por uma sonoridade agradável e relaxante. Chet Atkins foi certamente um genial guitarrista, infelizmente também subestimado em seu talento.
Chet Atkins - Mister Guitar (1961)
I Know That You Know
Rainbow
Hello Bluebird
Siesta
Country Style
Show Me the Way to Go Home
I'm Forever Blowing Bubbles
Backwoods
Country Gentleman
Slinkey
Jessie
Piano Concerto in B-Flat Minor
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
The Byrds - Turn! Turn! Turn!
Título Original: Turn! Turn! Turn!
Artista: The Byrds
Ano de Produção: 1965
País: Estados Unidos
Estúdio / Selo: Columbia Records
Produção: Terry Melcher
Formato Original: Vinil
Músicos: David Crosby, Gene Clark, Michael Clarke, Chris Hillman, Jim McGuinn
Faixas: Turn! Turn! Turn! (To Everything There is a Season) / It Won't Be Wrong / Set You Free This Time / Lay Down Your Weary Tune / He Was a Friend of Mine / The World Turns All Around Her / Satisfied Mind / If You're Gone / The Times They Are a-Changin / Wait and See / Oh! Susannah.
Comentários:
Em meados dos anos 1960 muitos críticos e especialistas em música decretaram que o Rock americano estava morto e enterrado. Elvis estava afundando em trilhas sonoras pavorosas em Hollywood e os demais pioneiros do gênero como ele tinham decaído na carreira. Ninguém mais na América conseguia fazer frente à invasão britânica promovida por Beatles, Rolling Stones e cia. Durante essa fase apenas os Beach Boys conseguiam colocar a cabeça para fora do buraco. Com o The Byrds finalmente havia um segundo grupo de rock relevante para fazer frente aos britânicos. Esse álbum "Turn! Turn! Turn!" foi um enorme sucesso de público e crítica e até hoje é considerado a verdadeira obra prima dos Byrds. Tem uma sonoridade incrível e letras poderosas que fogem dos temas bobinhos que vinham infestando os discos dos roqueiros americanos. De certa forma é um disco que antecipava o que estava prestes a surgir no cenário como os Doors, que levariam à proposta de unir rock, filosofia e poesia às últimas consequências. De certa maneira o grupo só não foi maior por causa dos problemas internos e das próprias personalidades de seu integrantes pois nem sempre é uma boa ideia reunir tantos dândis poéticos em apenas uma formação. Mesmo assim deixamos aqui o registro dessa verdadeira obra de arte do rock americano dos anos 60. Esse é aquele tipo de disco que simplesmente não pode faltar em sua coleção.
Pablo Aluísio.
Artista: The Byrds
Ano de Produção: 1965
País: Estados Unidos
Estúdio / Selo: Columbia Records
Produção: Terry Melcher
Formato Original: Vinil
Músicos: David Crosby, Gene Clark, Michael Clarke, Chris Hillman, Jim McGuinn
Faixas: Turn! Turn! Turn! (To Everything There is a Season) / It Won't Be Wrong / Set You Free This Time / Lay Down Your Weary Tune / He Was a Friend of Mine / The World Turns All Around Her / Satisfied Mind / If You're Gone / The Times They Are a-Changin / Wait and See / Oh! Susannah.
Comentários:
Em meados dos anos 1960 muitos críticos e especialistas em música decretaram que o Rock americano estava morto e enterrado. Elvis estava afundando em trilhas sonoras pavorosas em Hollywood e os demais pioneiros do gênero como ele tinham decaído na carreira. Ninguém mais na América conseguia fazer frente à invasão britânica promovida por Beatles, Rolling Stones e cia. Durante essa fase apenas os Beach Boys conseguiam colocar a cabeça para fora do buraco. Com o The Byrds finalmente havia um segundo grupo de rock relevante para fazer frente aos britânicos. Esse álbum "Turn! Turn! Turn!" foi um enorme sucesso de público e crítica e até hoje é considerado a verdadeira obra prima dos Byrds. Tem uma sonoridade incrível e letras poderosas que fogem dos temas bobinhos que vinham infestando os discos dos roqueiros americanos. De certa forma é um disco que antecipava o que estava prestes a surgir no cenário como os Doors, que levariam à proposta de unir rock, filosofia e poesia às últimas consequências. De certa maneira o grupo só não foi maior por causa dos problemas internos e das próprias personalidades de seu integrantes pois nem sempre é uma boa ideia reunir tantos dândis poéticos em apenas uma formação. Mesmo assim deixamos aqui o registro dessa verdadeira obra de arte do rock americano dos anos 60. Esse é aquele tipo de disco que simplesmente não pode faltar em sua coleção.
Pablo Aluísio.
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