quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 125

Tédio Real
Data: junho de 1977 / Local: Rushmore Civic Center, Rapid City / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

No final de sua vida quanto mais debilitado ficava, mais Elvis procurava refúgio em Graceland, seu castelo em Memphis. Nesse rancho de 33 acres, no mais puro estilo sulista, o Rei do Rock'n'Roll passava semanas - e às vezes até meses! - em seus aposentos, cercado de todos os cuidados enquanto curtia sua fossa existencial. Graceland está muito bem protegida, tem todas as janelas vedadas e o ar condicionado funciona ininterruptamente, para evitar que Sua Majestade fique transpirando. Agora Elvis está dormindo em sua enorme cama e cada vez mais se parece com Gladys, a sua adorada mãe, cuja foto em sua cabeceira ele contempla amiúde, por horas a fio. Seus cabelos estão grisalhos nas raízes e suas olheiras são profundas. E como ele está gordo! Sua obesidade, todavia, deve-se única e exclusivamente aos seus hábitos alimentares, criados e desenvolvidos quando criança. Elvis está sempre se encapuçando de comida a qualquer hora do dia ou da noite. No seu guarda roupas há uma geladeira tamanho família, recheada com guloseimas para saciar todos os seus repentinos ataques de fome. Durante as madrugadas Elvis é capaz de comer meia dúzia de melões ou tomar dezenas de iogurtes ou, ainda, devorar dúzias de picolés! 

Quando acorda sua primeira preocupação é com o relógio. Após uma ligeira olhadela na TV colorida aos pés da cama constantemente ligada, mas com o som inaudível Elvis telefona para a cozinha querendo saber que horas são: "Quatro horas, chefe!" - informa a cozinheira de plantão. "Da manhã ou da tarde?" pergunta ele ainda grogue pelos efeitos dos barbitúricos. Sua primeira refeição é sempre a mesma coisa, vinte fatias de bacon bem tostadas, batatas amassadas, uma porção de Sauerkreat (repolho cozido e fermentado), um prato de ervilhas e algumas rodelas de tomate. Misturando as batatas ao repolho e às ervilhas, ele transforma tudo numa pasta, a qual devora às colheradas. Com os dedos da mão esquerda ele pega os alimentos sólidos e, quando toma seu café, coloca os lábios na parte logo acima da asa da xícara, um lugar jamais tocado pela boca de uma outra pessoa. Rindo e brincando com seu prato como se fosse uma criança, sempre se distraindo com alguma coisa na televisão ou com o telefone que toca, sua comida acaba esfriando e é substituída por outra quente. 

Desse modo, Elvis acabava comendo grande parte de até três ou até mesmo quatro pratos! Portanto, a causa de sua "misteriosa doença" que fez com que ele atingisse os 120 quilos de peso, era apenas a sua gula compulsiva. Barriga cheia, é hora do Rei do Rock ir repousar e recrear seu espírito. Durante seus prolongados repousos, Elvis jamais ficava sozinho, salvo por algumas poucas ocasiões em sua vida. Quando desejava se entreter durante seus "retiros", havia dois televisores pendurados no teto de seu quarto, além de outra gigantesca aos pés da cama, onde Elvis assistia aos seus limites em video cassete. Ele curtia muito "As grande lutas do século", a cena do assassinato de John Kennedy, ou imaginar-se na pele de Clint Eastwood em Dirty Harry. Mas acima de tudo, Elvis adorava dar boas gargalhadas com o humor refinado dos filmes do grupo britânico Monthy Python. 

A comédia sofisticada e as piadas cheias de nonsense da trupe de humoristas ingleses o divertiam tanto, que demonstravam existir ainda resquícios de inteligência em sua mente deteriorada. Durante essas semanas de isolamento, Elvis podia observar qualquer cômodo da mansão ou ver os fãs no portão musical, graças a um sistema de TV de circuito fechado, com câmeras por controle remoto espalhadas por toda Graceland, e ligadas a monitores instalados atrás de sua cama. Era uma experiência comum a qualquer pessoa que pusesse os pés nesse estranho palácio perceber em meio à uma conversa que a câmera da sala havia parado e estava focalizada diretamente sobre o seu rosto - O Rei estava de olho!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 124

O Menino da Bolha de Plástico
Data: 1976 / Local: Dallas / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

Retiro na Elvis Presley Boulevard 
Caso estivesse num astral romântico, Elvis gostava de ouvir o velho ator Charles Boyer declamar versos sntimentalóides sobre um fundo musical Hollywoodiano: "Se o coração é o lugar de onde vem o amor / Então para onde vai o amor quando se morre? / De volta ao coração de onde veio / Ou se transforma em lágrimas nos olhos?" Depois de mais alguns versos com pensamentos tão profundos como estes, um coro virginal invadia o sistema de som quadrafônico, os violinos subiam em crescendo e a música torna-se estratosférica e muito adequada para curtir uma dor de cotovelo sob efeito de drogas. 

Deitado no sofá da sua sala de estar que mais parece o hall de um hotel havaiano, escutando enlevado as açucaradas poesias recitadas pela voz profunda e ressonante de Charlers Boyer e completamente entupido de narcóticos, assim devemos imaginar o Rei do Rock curtindo seus momentos de ócio no período final de sua vida. A única coisa que tirava Elvis desse eterno torpor era a necessidade de voltar à estrada para cumprir seus contratos. Nessa altura de sua vida as viagens já haviam se tornado um farto na vida do cantor, pois viajar já não lhe trazia mais nenhum prazer. Para diminuir o desconforto da estrada, Elvis logo comprou um avião particular. Presley gabava-se de ser o único artista do mundo a possuir seu próprio jato de quatro turbinas batizado de Lisa Marie em homenagem à sua filha. Esse avião foi adquirido para comemorar seu 40º aniversário e sua intenção era voar numa réplica do Air Force One, o Boeing 707 do presidente dos Estados Unidos. Por pouco mais de 1 milhão de dólares, Elvis comprou e redecorou a seu gosto um Convair 880, que transportava 96 passageiros quando em operação pela Delta Airlines. 

Quando se olha para o Lisa Marie, lembra-se imediatamente do Air Force One, com aquelas faixas azul e vermelha atravessando o avião branco de cabo a rabo. Mas o interior do Lisa Marie não tem nada a ver com o avião presidencial: dividido em três seções principais, na frente fica a sala de estar e recreação, com sofás e mesas para jogos, televisores e um sistema de som quadrafônico de 15 mil dólares. No meio fica a sala de jantar ou de conferências, com uma grande mesa rodeada por seis poltronas tipo espacial. Esta sala é também um centro de comunicações, contando inclusive com um telefone capaz de fazer ligações para qualquer lugar do planeta. Na parte traseira, onde pode embarcar e desembarcar sem ser visto, fica o compartimento mais importante do avião: o apartamento de Elvis, uma versão aerotransportada de seu quarto e banheiro de Graceland, totalmente decorado em tons azul e com todas as comodidades encontradas na mansão. 

Como aquele garoto doente que só podia sobreviver dentro de uma bolha de plástico, Elvis parecia incapaz de viver fora de seu habitat artificial. Enquanto o majestoso avião cruza os céus dos Estados Unidos em direção ao deserto de Nevada, os controladores de tráfego aéreo dos aeroportos vão saudando o Rei do Rock'n'Roll por onde ele passa: "Alô oitenta Eco Papa!...Como gostaríamos de estar aí com vocês...Diga a Elvis que nós o amamos!".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 123

Elvis, o mão aberta
Data: junho de 1977 / Local: Rushmore Civic Center, Rapid City / Texto: Lu Gomes / Photo: Elvis In Concert. 

Ouro de Tolo 
Com 40 anos de idade, Elvis Presley tinha conseguido ganhar milhões de dólares - e estava duro! O motivo é simples: ele era o mais impulsivo consumidor de todos os tempos. Suas extravagâncias tornaram-se lendárias. Uma noite em Memphis, ele comprou 14 cadillacs e, quando uma velha senhora negra vinha passando pela calçada, deu de presente a ela um dos carros mais luxuosos. A sua súbita mania de comprar aviões (depois de passar a vida inteira com medo de voar) fez dele o proprietário de uma frota de quatro aviões a jato. A disposição de instalar seus camaradas em casas novas, impulso que se estendeu a Linda Thompson, que além de ganhar uma casa só para ela, ainda ganhou uma para os pais e outra para o irmão. 

Esse jeito de gastar dinheiro, apenas permitido a um xeque do petróleo, só poderia mesmo deixar Elvis Presley a um passo da pobreza! Mas ele não foi sempre assim. Quando jovem Elvis era tão pão duro quanto seu pai Vernon. Mais tarde, no ínicio dos anos 60, Elvis ficou tão impressionado com textos religiosos do tipo "será muito mais díficil para um homem rico entrar no reino dos céus do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha" e praticamente começou a jogar dinheiro fora nos seus anos finais. Considere esses atos de desvario. No 8º aniversário de Lisa Marie em 1976, Elvis estava recebendo em Graceland dois de seus amigos policiais preferidos: o detetive Ron Pietrafeso e o capitão Jerry Kennedy, ambos da polícia de Denver, Colorado. À noitinha, Elvis começou a falar sobre um incrível sanduíche que havia saboreado em um restaurante de Denver. A delícia era feita com pão francês, geléia, pasta de amendoim e bacon e custava 50 dólares, o que era o motivo de seu nome: Fool's Gold (ouro de tolo). Enquanto Elvis falava, um dos caras ficou com água na boca e disse: "Rapaz, como eu gostaria de um desses agora!". Imediatamente uma luzinha piscou na mente de Elvis e ele não vacilou. Qualquer que fosse o desejo que se fizesse no palácio do Rei do Rock, ele seria atendido: "Então vamos lá comer um!" - ordenou Elvis. Num piscar de olhos, 19 pessoas estavam à bordo do Lisa Marie voando para o Colorado. 

Pelo telefone do avião foram encomendados 22 suculentos sanduíches (três para a tripulação), uma caixa de champanhe e uma de água mineral. À 1:40h da madrugada, quando o Lisa Marie aterrissou no aeroporto de Denver, o dono do restaurante levou a comida a bordo e todos degustaram os sanduíches, em seguida o avião decolou de volta a Memphis, a 3000 Km de distância. De acordo com o piloto Milo High, esses 22 sanduíches mais os custos operacionais de colocar a aeronave no ar custaram ao Rei uma quantia superior a 100 mil dólares. O alto custo financeiro desse simples capricho e impulso de Elvis foi gasto em menos de três horas! Conseguir seu quinhão do tesouro real tornou-se um das maiores preocupações na corte do Rei moribundo. Um dos que se deram bem foi o médico particular de Elvis, Dr George Nichopoulos. Primeiro o médico ganhou a tradicional casa nova no valor de 350 mil dólares. Depois o Dr Nichopoulos se juntou a um grupo de médicos para construírem um centro clínico no valor de 5.5 milhões de dólares e de novo ele foi buscar ajuda financeira em seu principal cliente. A grana não era muito importante para os caras da máfia de Memphis no começo. Elvis nunca pagava um salário de verdade, mas isso realmente não importava quando se era jovem, solteiro, despreocupado e se ficava circulando com o chefe em carros luxuosos e curtindo uma festa todas as noites, onde havia pelo menos dez garotas para cada um deles. 

Mas, quando os caras se casaram e tiveram filhos, as coisas mudaram e os salários passaram dos ridículos 35 dólares mensais em 1960 para 170 dólares semanais em 1970 e em 1976, 350 dólares por semana. Dessa forma Elvis estava desembolsando pessoalmente, todos os meses, cerca de 30 mil dólares apenas para manter sua guarda pessoal, sua entourage. Mas mesmo assim isso ainda era muito pouco para um serviço de dedicação exclusiva e que envolvia até mesmo risco de vida. Tá legal, de vez em quando Elvis jogava um carro luxuoso na mão de cada um deles, mas os caras eram obrigados a vendê-los porque, com o salário que ganhavam, não era possível sustentar um Cadillac ou uma Mercedes. E se algum deles caísse mesmo na graça do chefe poderia conseguir uma casa nova ou então todas as suas contas pagas. Existiam ainda as gratificações natalinas e um abono no final de cada excursão, mas os valores deles dependiam muito de quem os determinavam: se fosse Elvis, cada um dos caras recebia uns 5 mil dólares, mas se fosse Vernon (que odiava os caras da máfia) cada um ganharia apenas um salário semanal e olhe lá. 

Um dos grandes problemas dos caras era o desgaste de seus casamentos. Nenhum escapou do divórcio. Todas as esposas sabiam muito bem que, durante as excursões, seus maridos aprontavam o diabo. "Esposas não vão nas excursões", essa lei imposta por Elvis admitia apenas uma interpretação: Elvis ainda levava uma vida de solteiro mulherengo e os caras tinham que fazer o mesmo. As esposas odiavam esse esquema e o homem que o criou: Elvis Presley. E os caras ficavam entre dois fogos, como um cabo de guerra entre seu patrão e suas esposas. Também o que mais poderia se esperar? As esposas dos caras da máfia de Memphis eram todas ex showgirls, bailarinas e atrizes, e é claro que não eram do tipo que ficavam sentadas em casa, escutando todos aqueles boatos sobre as farras orgiásticas que seus maridos se metiam junto com Elvis Presley.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 122

Tomando conta dos negócios
Data: junho de 1977 / Local: Omaha / Texto: Lu Gomes / Photo: RCA Victor. 

800 mil dólares em jóias 
Durante esse mesmo ano ou talvez no seguinte, Elvis estava dando um concerto numa cidadezinha da Carolina do Norte. Ele detestava trabalhar nesses lugares. Porém como estava muito deteriorado pelo abuso de drogas e sendo selvagemente criticado pela imprensa, o coronel Parker achou melhor levar sua "propriedade" para se apresentar cada vez mais longe dos grandes centros urbanos. Embora Elvis fosse recebido como um messias, santo ou pastor religioso nessas cidades interioranas, havia ocasiões em que a platéia não gostava muito do que via. Mas, em vez de dar duro e conquistar o público, Elvis simplesmente o comprava. Afinal de contas ele era o Rei, e reis não precisam pedir nada às audiências - aliás, um rei concede audiências! Então, nessa noite em particular, vendo que não estava recebendo a devida atenção da platéia, Elvis de repente interrompeu o show. Enquanto todos no palco o olhavam incrédulos, o Rei chamou o seu ourives real, um joalheiro de Memphis chamado Lowell Hays e que, como todos ao redor de Elvis, também havia tirado a sorte grande. Hays acompanhava Elvis em todas as apresentações, sempre carregando consigo uma caixa cheia das mais caras jóias femininas, para Elvis presentear suas favoritas do momento ou qualquer outra que aparecesse, contanto que lhe desse vontade. 

Desse modo, em pouco tempo, Hays vendeu ao Rei do Rock mais de 800 mil dólares em jóias. Assim que o joalheiro entrou no palco, Elvis ordenou que a caixa fosse aberta. Então ele retirou um anel de seu interior e, como se fosse um desses animadores de TV que distribuem prêmios, Elvis mostrou a jóia ao público e perguntou: "Lowell, o que é isso que eu tenho na mão?" "Isso é um anel de ouro branco com uma estrela de safira incrustada, Elvis" - responde Hays. "Quanto custa, Lowell?". "Custa três mil e quinhentos dólares, Elvis". Com isso, Elvis se dirigiu a uma velhinha que estava sentada na primeira fila do teatro. "Vovó, quero que aceite isso porque você me recorda muita a minha velha avó Dodger, que está lá em Memphis!" E enfiou o anel no dedo da velha senhora. O auditório explodiu em gritos, suspiros e lágrimas! Pronto, agora Elvis tinha todos sob seu domínio. Mas acha que ele parou por aí? Que nada! Elvis não se contentava em dar apenas um presente espetacular e foi em frente até esvaziar por completo a caixa de jóias! 

No final, 35 mil dólares em anéis, brincos, pulseiras e colares foram distribuídos entre as duas primeiras filas do auditório, antes que Elvis desse prosseguimento ao seu show. Pobre Vernon! Ele quase teve um ataque cardíaco nos bastidores, ao ver o filho jogar dinheiro fora desse jeito tão tolo e infantil. Elvis por sua vez se divertiu como nunca, presenteando seus fãs, distribuindo beijos e abraços para todos! Esse seu comportamento extravagante Elvis justificava insistindo que poderia ganhar imensas somas em dinheiro na hora que quisesse, simplesmente se apresentando em um palco! E isso era a pura verdade como ele bem demonstrou nos anos 70. Em 1974 por exemplo Elvis deu 152 shows e ganhou uma incrível quantia de dinheiro. Nada mal hein? Mas isso não foi suficiente e no final do ano ele foi obrigado a sacar grande parcela dessa soma para poder pagar suas contas! Para onde foi essa grana toda? Para o mesmo lugar de sempre: altos custos operacionais, incluindo 1.7 milhão de dólares pelos serviços de seu empresário Tom Parker, 2.3 milhões de dólares para cobrir os custos de seus shows e banda, 1.8 milhão de dólares em impostos e mais de 1.5 milhão de dólares apenas com suas despesas pessoais. 

No final de tudo sobrava pouco mais de 700 mil dólares ao ano para Elvis de lucro, mesmo assim dava para muito bem para se virar com essa grana, mas não Elvis, que tinha entrado numas de comprar aviões! Quanto aos seus negócios com o Coronel Parker tudo o que Elvis sabia era que, toda semana, chegava uma nota de pagamento do escritório do coronel, relatando quanto ele havia ganho através de sua inúmeras firmas, bem como a dedução de 25% (às vezes até 50%) pelos serviços do empresário. Esse dinheiro ia para sua conta bancária e o banco se encarregava de deduzir os impostos. Só isso Elvis sabia a respeito de seus negócios! Resumindo: todo esse sistema era uma perfeita demonstração de como "não tomar conta dos negócios"!

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

domingo, 26 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 121

Divórcio e Traição
Data: dezembro de 1972 / Local: Memphis, TN / Texto: "Elvis e Eu" de Priscilla Presley e Sandra Harmon / Photo: RCA Victor. 

O outro lado da história 
Mais tarde, naquela mesma noite, na suíte imperial do Hotel, Elvis encorajou-me a treinar com Mike Stone. "Ele possui a qualidade do matador. Não há nada de duas pernas que possa derrotá-lo. Estou impressionado desde a primeira vez que o vi lutar. Gosto do seu estilo". De volta a Los Angeles acertei com Mike Stone que iria à sua academia no final de semana e assistiria uma de suas aulas. Era uma viagem de carro de 45 minutos. Elvis tinha razão. Mike irradiava confiança e classe, assim como muito charme pessoal e espírito. Uma amizade profunda logo se desenvolveu entre nós. Por causa da distância, resolvi continuar o treinamento com um amigo de Mike, Chuck Norris, que tinha uma academia perto de minha casa. Mike aparecia por lá de vez em quando, como instrutor convidado. Eu estava saindo do mundo fechado de Elvis, compreendendo como minha existência fora resguardada até então. Mike e Chuck introduziram-me aos filmes populares de artes marciais japonesas, como a série do espadista cego. Em companhia de Mike, compareci a torneios de caratê locais e nos condados vizinhos, levando para casa fotos e filmes dos maiores lutadores de caratê. Queria absorver seus estilos individuais, a fim de partilhá-los com Elvis, na esperança de que fosse uma coisa que pudéssemos desfrutar em comum. 

Ao final, porém, criei um novo círculo de amigos, que me aceitava por mim mesma. As artes marciais me proporcionaram tanta confiança que comecei a experimentar meus sentimentos e expressar minhas emoções como jamais acontecera antes. Acostumada a reprimir minha raiva, eu podia agora descarregá-la honestamente, sem medo de acusações e explosões. Parei de pedir desculpas por minhas opiniões e de rir de piadas sem graça. Tive oportunidade de observar casamentos fora de nosso círculo intimo, em que a mulher podia se manifestar tanto quanto o homem nas decisões cotidianas e nos objetivos a longo prazo. Fui confrontada com a descoberta dura de que viver como eu vinha fazendo há tanto tempo era bastante anormal e prejudicial ao meu bem estar. Meu relacionamento com Mike Stone se desenvolvera agora para uma ligação amorosa. Eu ainda amava Elvis profundamente, mas durante os meses seguintes compreendi que teria que tomar uma decisão crucial sobre o meu destino. Sabia que devia assumir o controle sobre a minha vida. Não podia renunciar a minhas novas percepções. Havia um mundo enorme lá fora e eu tinha que encontrar o meu lugar nele. Gostaria que houvesse algum meio de partilhar com Elvis minha experiência e crescimento. Desde a adolescência que ele me moldara num instrumento de sua vontade. Com extremo amor, eu cedera à sua influência, tentando satisfazer cada desejo seu. 

E agora ele não estava ao meu lado. Acostumada a viver em quartos e cômodos escuros, mal vendo o sol, dependendo de acessórios químicos para adormecer e acordar, sob o cerco de guarda costas que nos distanciavam da realidade, eu ansiava pelos prazeres mais normais. Comecei a apreciar as coisas simples que gostaria de partilhar com Elvis e não podia: passeios pelo parque, um jantar à luz de velas para dois, risos. Como a maioria dos casais rompendo um casamento, passamos por um período difícil, antes de finalmente aceitarmos o fato de que estávamos nos separando. O divórcio foi consumado a 9 de outubro de 1973. Embora Elvis e eu continuássemos a nos falar regularmente, não nos encontramos pessoalmente nos últimos meses, um período de tensão, enquanto os advogados procuravam acertar tudo. Elvis e eu acabamos resolvendo tudo diretamente. Ambos éramos bastante sensíveis e ainda preocupados com os sentimentos um do outro para saber que queríamos evitar discussões e acusações amargas e tentativas de atribuir a culpa um ao outro. A principal preocupação era Lisa, cuja custódia concordamos em partilhar. 

Permanecemos tão ligados que Elvis nunca se deu ao trabalho de pegar sua cópia da sentença do divórcio. Acompanhada por minha irmã Michele, esperei no tribunal de Santa Mônica pela chegada de Elvis. Quando ele apareceu, fiquei chocada por sua aparência. Suas mãos e rosto estavam inchados, ele suava profusamente. Fomos para a sala do juiz, seguido por Vernon, Michele e os advogados. Elvis e eu sentamos diante do juiz, de mãos dadas, enquanto ele efetuava as formalidades do divórcio. Mal ouvi as palavras ditas por ele, de tão atordoada pelo estado físico de Elvis; não parava de passar os dedos por suas mãos inchadas. Imaginei se a nova namorada de Elvis, Linda Thompson, saberia o quanto ele precisava de amor e atenção. E acabei sussurrando em seu ouvido: "Sattnin, ela está cuidando direito de você...vigiando seu peso e dieta, esperando você pegar no sono de noite?" O juiz acabou de ler a sentença. O sonho que eu acalentara, de uma união perfeita estava encerrado. A esperança de um casamento ideal, que absorvera todos os meus pensamentos e energia desde os catorze anos de idade, findava com o movimento de uma caneta. Sentindo um vazio enorme, voltei com Michele para meu carro. 

Elvis, seu pai, seu advogado e alguns dos rapazes encaminharam-se para a limusine. Na passagem, eu acenei, ele piscou-me. A afinidade mútua que partilhávamos sempre existira. Quando nos encontrávamos, era como se nunca estivéssemos nos separado, trocando beijos afetuosos e sentando de braços dados, com Lisa em nossos colos; quando estávamos apartados, jamais criticávamos um ao outro. Uma vez lhe perguntei: "Acha que realmente um dia poderá viver apenas com uma mulher?". Elvis respondeu me olhando nos olhos: "Acho que sim. E agora mais do que nunca. Sei que fiz muitas coisas estúpidas, mas a pior de todas foi não compreender o que tinha até que perdi. Quero minha família de volta".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 120

Divórcio e Traição
Data: Fevereiro de 1973 / Local: Hotel Hilton, Las Vegas / Texto: Phill Moss / Photo: New York Times.

O Dia em que Elvis quis matar Mike Stone 
Cantor e músico do grupo The Stamps, que começou sua carreira como intérprete de hinos religiosos, J. D. Sumner fez revelações ao repórter americano Phil Moss em 1980, sobre a época em que foi uma espécie de guru e confessor de Elvis Presley. Sumner começou a entrevista declarando: "Eu não nego que Elvis usasse as pílulas receitadas pelo Dr. George Nichopoulos, condenado na justiça por lhe ter receitado doses excessivas de drogas. Mas ele não era viciado em tóxico algum. Acontecia é que abusava da medicação. O medico legista de Memphis teve razão ao dizer que Elvis morreu de um ataque cardíaco e não de conseqüências de ingestão de uma dose excessiva de tóxicos". Ele explica: "A mãe de Elvis morreu na casa do 40 anos. Um de seus tios maternos também morreu com a mesma idade. A mãe dele tinha problemas com o fígado. Elvis, alem de ter problemas com o fígado, tinha também uma doença de cólon. Essas duas enfermidades deterioraram todo o seu organismo e provocaram o mal cardíaco. Sabendo disso, Elvis me disse: 'Eu sei que não chegarei aos 50 anos'. E, realmente, ao morrer, a 16 de agosto de 1977, tinha apenas 42". 

Sumner sabe, de ciência própria, o que são problemas cardíacos, pois já se submeteu a uma cirurgia de coração, em 1978. Como ele era 10 anos mais velho do que Elvis, mereceu a confiança deste, sendo escolhido para seu confidente. O único homem que chegou a gozar do mesmo grau de intimidade com Elvis foi o professor de caratê do cantor, Ed Parker. Mas faz uma reserva: "Ele e Parker só falavam em caratê e das influencias espirituais desse exercício, enquanto comigo se abria sobre outros assuntos, que nem ao próprio pai revelava". O mais curioso de tudo é que nem Parker, nem Sumner, faziam parte da folha de pagamento permanente do cantor. Baixando o tom de voz, Sumner falou da fúria que se apoderou de Elvis Presley, quando descobriu que sua esposa, Priscilla, a quem adorava, o estava enganando com o instrutor de caratê Mike Stone. E acrescentou: "Elvis queria mandar assassinar Mike Stone. Isso aconteceu às 4h30min da madrugada, num dia de 1973, no Hotel Hilton, de Las Vegas" - relembra J.D. Sumner - "Nessa noite eu estava num quarto do 28º andar, quando, em plena madrugada, o telefone tocou. Era Joe Esposito, um dos membros da chamada Máfia de Memphis, que me pedia para subir, com urgência, à suíte de Elvis, no 30º andar. Encontrei-o na cama, furioso, com a mão direita inchada e esfolada. Estivera dando murros na parede. Acabara de saber que sua esposa era amante de outro homem". Fui logo perguntando, "Mas o que é isso, Elvis? Que diabos aconteceu?" 

Ele disse: "Aquele filha de uma cadela, o Mike Stone, tomou a milha mulher...Eu tenho que matar aquele filho de uma cadela!" Sumner diz que nunca tinha visto Elvis Presley tão enfurecido e tão violento. Precisava pensar depressa. E lhe declarou: "Pois então me dê a sua pistola! Telefone ao piloto do seu avião para que ele me leve agora mesmo a Los Angeles, onde o tal Mike Stone se encontra. Eu sei onde ele vive e o encherei de balas..." Sumner diz que Elvis ficou um tanto desconcertado com a rapidez de sua decisão e disse: "Não, não quero que você faça isso..." Era evidente que J.D. Sumner não tinha a menor intenção de matar o amante de Priscilla, apenas disse que o mataria. Summer explica: "Falei isso para Elvis na intenção da fazê-lo se convencer de que eu estava solidário com ele. Achei que, na ocasião, era o que de melhor lhe poderia dizer" E continua J.D. Sumner: "Naquela madrugada, resolvemos rezar. E disse a Elvis: Ouça, quando uma pessoa está numa situação dessas só ha uma pessoa que pode lhe dar alivio e consolo. Essa pessoa é Deus. Você quer me acompanhar numa oração?" E sua resposta foi sim. "Então chamei todos, inclusive Red e Sonny West, seus primos, que acabariam escrevendo um livro devastador contra ele anos mais tarde. Segurei uma das mãos de Elvis e rezamos. Depois dessa reza, ele se acalmou e foi dormir. O mais extraordinário foi o que aconteceu depois que ele acordou. O furor homicida da véspera havia desaparecido. E Elvis, arrependido, queria mandar de presente a Mike Stone um valioso colar. Eu lhe declarei que não fizesse isso e não o transformasse num dos nossos. Tão descabida quanto a reação anterior. Mas era perfeitamente explicável. Elvis começou a se analisar e a culpar a si mesmo pelo fracasso do seu casamento. O verdadeiro culpado era ele mesmo e não Mike Stone". 

O modo como Sumner reconstituiu esse episódio difere da versão dos guarda costas Red e Sonny em seu livro, "Elvis: o que aconteceu?". Segundo esse livro, só eles dois e Linda Thompson, a namorada de Elvis, estavam presentes quando o cantor pensou em matar Mike Stone. Mas ainda Sumner declara que não se tratava de simples rumores, boatos ou mexericos. "Ao contrário, fora a própria Priscilla quem, de forma leal e corajosamente, dissera ao marido que não gostava mais dele e se apaixonara por Mike. O casamento deles estava acabado. Mas é preciso que se diga, foi o próprio Elvis quem lançou Priscilla nos braços do amante, exigindo que ela tomasse lições de caratê com ele. Eu nunca deixaria minha esposa numa cidade, tomando lições de caratê com outro homem, e ir cantar num cassino de Las Vegas, durante um mês inteiro. Alguma coisa poderia acontecer. E, na verdade, aconteceu!" Por vezes, tinha ele de ouvir durante seis horas a fio as confidências do cantor, ainda confuso com o seu drama intimo. E, ao fim de tudo, Elvis perguntava: "Mas o que aconteceu com a minha vida conjugal? Que aconteceu comigo e Princilla? Não posso falar com meu pai sobre essas coisas, prefiro falar com você". E humildemente, declarara: "Não posso me conformar com o que aconteceu. Fiz tudo o que poderia fazer, mas Priscilla simplesmente não quer se reconciliar comigo!" De uma coisa J.D. Sumner teve certeza: O fim do casamento com Priscilla marcou o começo da derrocada final de Elvis Presley.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

sábado, 25 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 119

Elvis e a busca espiritual
Data: fevereiro de 1967 / Local: Hollywood / Texto: Pablo Aluísio / Photo: "Clambake", United Artists. 

Elvis e a Era de Aquárius 
Nos anos 60 durante as filmagens de mais um novo filme do Rei do Rock, o cabeleleiro do estúdio não pôde comparecer para cuidar do cabelo do Elvis. Foi então que um substituto foi enviado. Seu nome era Larry Geller, hippie, nova iorquino e judeu, uma combinação bem estranha sem dúvida, mas que era o típico espiritualista em moda naquela época. Uma pessoa versada em quase todas as religiões conhecidas, desde budismo, hinduismo, xintoismo e outras várias, que só ingeria comida natural e praticava yoga e outros tipos de vertentes das religiões orientais. Ao cuidar do cabelo de Elvis, Larry percebeu que enquanto ele estava sentado na cadeira esperando o serviço ficar pronto, ficava lendo o livro "Autobiografia de um Yogue". Logo Larry puxou papo com Elvis e lhe disse que gostava muito do assunto, de religiões esotéricas, da nova era de aquário, da busca espiritual, telepatia, de ocultismo, etc. 

No começo Elvis pensou que ele seria apenas mais um bajulador como tantos outros que ele encontrava pelos estúdios, mas quando Larry começou a expor seus conhecimentos, Elvis ficou completamente impressionado! Começou a surgir daí uma amizade muito especial para Elvis, pois finalmente ele havia encontrado alguém com quem discutir esses assuntos de que tanto admirava e estudava. Larry mostrou a Elvis que havia muitos outros grandes mestres além de Jesus Cristo e começou a trazer a Elvis livros sobre Buda, Confuncio, Maomé, etc. E Elvis absorveu toda a literatura disponível, sempre seguindo os conselhos de Larry nesse campo. Elvis perguntou a Larry porque tinha sido tão abençoado por Deus em sua vida, e porque mesmo tendo tudo não conseguia atingir a felicidade! Ele queria entender seu propósito nessa vida, qual era o plano de Deus para ele, qual seria a sua missão! E desabafou que se sentia frustrado pois até sua tão gloriosa carreira de outrora agora perdia o brilho e tudo estava resumido em se fazer 3 filmes por ano com trilhas sonoras estúpidas. 

Ele disse a Larry que mesmo rodeado de muitas pessoas, se sentia na verdade extremamente solitário em sua vida. Larry acabou virando uma espécie de analista na vida de Elvis, um ombro amigo em que ele podia desabafar sempre que quisesse. E Elvis, para a ciumeira geral de seu grupo, começou a chamar Larry de "meu Guru" e "meu Mestre". A primeira conseqüência disso foi o gradual afastamento de Elvis das amizades anteriores, como os caras da Máfia de Memphis. Elvis sempre estava ao lado de Larry discutindo os grandes temas universais e como os demais membros da máfia não entendiam do assunto e nem tinham cultura para tanto, acabaram ficando de lado na vida de Elvis. Com Priscilla também não foi diferente. Elvis incentivou ela a também estudar todos esses assuntos, mas isso não a interessava. E assim Priscilla também começou a sentir ciúmes de Elvis, pois mesmo quando ele estava em casa, ficava distante e ausente, lendo e devorando o material recomendado por Larry. Nesse ponto a religião se tornara o ponto focal de sua vida - para Elvis nada mais tinha importância, nem seus amigos, nem seus filmes e discos e muito menos sua namorada Priscilla. 

O Coronel Tom Parker começou a ficar preocupado de verdade. Chegou a perguntar a Joe Esposito: "Joe, o que está acontecendo com o menino? Parece distante e desinteressado!". Joe Esposito prometeu ao Coronel que iria ficar de longe, observando essa amizade de Elvis e Larry. Então na manhã em que Elvis iria começar as filmagens de seu novo filme, chamado Clambake (O Barco do Amor, no Brasil), ele acordou meio sonolento e não viu o fio da TV no chão. Ao caminhar para o banheiro Elvis tropeçou no fio e caiu de forma violenta, batendo a cabeça fortemente. Ao recobrar a consciência Elvis percebeu que se machucara pra valer na cabeça. "Mas que merda! Quem colocou esse fio aqui!?". Priscilla, assustada, chamou Joe Esposito imediatamente ao quarto. Em poucos minutos o recinto estava cheio de gente: médicos, produtores, Larry, os caras da máfia de Memphis e o Coronel. 

O doutor declarou que Elvis tinha uma forte concussão na cabeça e que deveria ficar em repouso nas semanas seguintes, pois seria necessário a realização de mais exames, para se certificar de que nada mais grave tivesse lhe ocorrido. O começo das filmagens estava adiado por tempo indeterminado. O Coronel ficou furioso com o acontecimento. Para ele tudo era culpa dos livros espiritualistas. Elvis estava com a cabeça nas nuvens, não se importava com mais nada e nem com ninguém. Tinha se tornado uma pessoa distante e desligada do mundo. Foi então que ele resolveu reunir Elvis, Larry e todos os caras da máfia de Memphis. Para o Coronel o momento era de colocar as coisas em ordem novamente. 

Tom Parker não deixou por menos: "Elvis, Larry está mexendo com a sua cabeça, eu tenho certeza que ele está tentando fazer uma lavagem cerebral em você! Eu posso garantir isso! Você deve se afastar dele e dessa literatura barata. Não deve mais perder tempo com essas coisas. Você tem uma carreira para cuidar! Deve se concentrar em atuar e cantar bem e nada mais. Você não é pago para salvar o mundo, mas sim para entreter as pessoas! Deve honrar seus compromissos e cumprir seus contratos, nada mais. Você é um artista e não um guru! Você deveria queimar todos esses livros de uma vez! E vocês - disse apontando o dedo para os caras da máfia de Memphis - devem deixar Elvis em paz, ele é um artista e não um ombro amigo para trazer problemas. Cuidar de uma pessoa já é difícil, imagine onze! Isso faz qualquer homem vergar, meu Deus! Isso acaba agora, me entenderam?! Vocês devem deixar Elvis em paz, qualquer problema de agora em diante deve ser levado ao conhecimento de Joe Esposito!" - Esse último recado foi dirigido face a face a todos os membros da máfia de Memphis e a Larry Geller em especial. 

Foi uma bronca daquelas, com o Coronel gritando com todos a plenos pulmões! Elvis ouviu tudo calado, com a cabeça abaixada e não contestou as incisivas palavras do Coronel e nem saiu em defesa de Larry. Em um ponto Priscilla e toda a turma da máfia de Memphis concordavam com a visão do Coronel Tom Parker: todos queriam que Elvis mandasse Larry embora de Graceland e tocasse fogo em seus livros espiritualistas. A pressão foi tamanha que numa noite Elvis, ao lado de Priscilla, resolveu fazer uma grande fogueira nos fundos de Graceland para queimar toda a sua coleção de livros. Elvis apenas ficou lá, abalado e não muito certo de sua decisão, olhando todos os seus queridos livros virarem cinzas. Chegou a murmurar: "Não se deve queimar livros!". Ele sentiu muito, mas achou que aquele era o momento certo para fazer aquilo. Pelo menos por enquanto tudo estava resolvido, enfim. Porém, conforme o tempo foi passando, Elvis foi, aos poucos, voltando aos temas espirituais. Esse assunto sempre lhe fascinara e apesar de tudo ainda lhe despertava muita atenção. De fato isso não seria o fim da amizade entre Larry e Elvis, pois esse ainda iria voltar na vida do Rei nos anos 70. Tanto que nos anos seguintes Elvis voltaria a comprar quase todos os livros que ele havia jogado na fogueira naquela noite. Definitivamente Elvis tinha sido fisgado de uma vez por todas pela chamada "Era de Aquárius".

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 118

O Guru de Elvis
Data: fevereiro de 1967 / Local: Los Angeles / Texto: Lu Gomes / Photo: "Clambake", United Artists. 

Fronteiras do desconhecido
 Larry Geller era um judeu nova-iorquino, um dos primeiros espécimes de uma raça que logo seria comum na Costa Oeste e nos resto do mundo - o hippie espiritualista dedicado à alimentação natural. Às vezes Elvis brincava se referindo a ele como "o meu guru". Mas Larry Geller absolutamente não fez a cabeça de Elvis Presley, embora cortasse seu cabelo toda semana. Geller apenas acendeu o pavio. Quase todos os dias, Elvis e Larry engajavam-se em prolongadas discussões sobre os livros de ocultismo que Larry lhe indicava e Elvis estudava com afinco. E o ocultismo ocupou seu lugar na vida do Rei. Não demorou nada para que ele se colocasse na posição de "grande mestre" e líder espiritual, e sua idéia de origem divina começou a se firmar como um dos princípios de sua vida. Elvis passou a pregar a todos que lhe rodeavam, jogando sobre eles tudo o que havia lido nos livros. Elvis estudava teologia, filosofia oriental, numerologia, Madame Blavatsky, objetos voadores não identificados, espiritismo, reencarnação, vida após a morte, telepatia, etc. 

Chegou inclusive a fazer muitas tentativas para se comunicar telepaticamente, mas invariavelmente acabava usando o telefone. Elvis estava particularmente curioso sobre os mistérios da morte e assegurou aos caras que, se morresse, iria encontrar um jeito de se comunicar do além. Como se não bastasse, Elvis passou a freqüentar uma academia espiritualista em Pasadena (Califórnia), fundada em 1952 por Paramahansa Yogananda, o autor de "Autobigrafia de um Yogue". Esse "Shangrilá" ficava no topo de uma montanha, onde havia um hotel, e pelos gramados mulheres caminhavam vestidas com sáris coloridos. Existia também um jardim para meditação, que Elvis imediatamente duplicou em Graceland. No sopé da montanha havia uma cidadezinha totalmente cercada, onde ficavam os alojamentos dos irmãos e irmãs que viviam em celibato, em perpétua meditação. 

Quando soube que essa área lhe era proibida, Elvis não resistiu ao impulso de se declarar um celibatário e conhecer o misterioso lugar. Nessa montanha ele conheceu uma moça que se dizia chamar Daya Mata e que era uma das discípulas de Paramahansa. No primeiro encontro que teve com ela Elvis pediu que lhe ensinasse os segredos da Kriya Yoga, o último degrau da escala de auto realização. Daya Mata lhe aconselhou humildade, paciência e perseverança. Em troca Elvis ofereceu dinheiro, que ela aceitou agradecida em nome da fundação espiritualista. Mas nem toda a espiritualidade foi capaz de fazer com que Elvis controlasse seu terrível temperamento. Até mesmo quando acabava de sair de uma sessão com Daya Mata, Elvis era capaz de atos de irracional violência. Uma vez ele estava voltando para casa e passou por um posto de gasolina na encosta da montanha, onde dois empregados estavam boxeando de brincadeira. Elvis ordenou que sua limusine entrasse no posto e, abrindo sua janela, fez um discurso para os brigões, dizendo a eles que deviam abraçar o amor e não a hostilidade. 

Assim que o carro arrancou, um dos sujeitos lhe fez o clássico sinal de "vá se f*", isto é, o dedo médio erguido com a mão fechada. Instantaneamente o carro brecou, Elvis desceu, aproximou-se do primeiro empregado e lhe aplicou um golpe de Karatê que o jogou longe. Em seguida sacou seu revólver 38 do coldre sob o braço e estava pronto para atirar no segundo sujeito, quando Hamburguer James chegou correndo e gritando: "Me dá essa arma!". Automaticamente, Elvis virou-se e entregou o revólver ao seu valete real. Num segundo, todos estavam de volta ao carro, que saiu em disparada. 

Single nas lojas: 
Indescribable Blue (Darren Glenn) - Essa música foi lançada em janeiro de 1967, como lado A de um single considerado de transição dentro da carreira de Elvis. Só o fato do single não ser de nenhuma trilha sonora dos filmes de Elvis já era um alívio para os fãs. A qualidade também era muito superior, mostrando uma clara evolução técnica e qualitativa dentro dos estúdios. Com arranjo primoroso, vocais e banda em ótimo momento, "Indescribable Blue" representava para os fãs naquele momento um breve, pequeno, mas importante sinal de mudanças na carreira de Elvis. Infelizmente as vendas foram baixas e o single sequer entrou no top 30, mas o mais importante era a clara intenção demonstrada por Elvis em gravar material com melhor qualidade musical. 

Fools Fall in Love - (Leiber / Stoller) - Para o lado B de "Indescribable Blue" foi escolhido essa canção de Elvis, que fica bem na média do que ele andava produzindo na época. Só o fato de ser de Leiber e Stoller já desperta atenção. O ritmo é agradável, o arranjo de metais é bem escrito e Elvis mostra animação nos vocais. Rotineira, mas empolgante, o que a salva de maiores críticas. Breve reencontro entre Elvis e a dupla Leiber e Stoller que merece ser redescoberto.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 117

O Coronel Tom Parker
Data: janeiro de 1957 / Local: Los Angeles / Texto: Lu Gomes / Photo: EPE. 

O Coronel Tom Parker 
O último dos grandes empresários do show business americano, herdeiro da velha escola de P.T.Barnum (aquele que disse "Nasce um otário a cada minuto") O Coronel Tom Parker faz parte do folclore. As histórias que se contam sobre ele já fez muita gente dar risada: de como vendia cachorro quente só com as pontas das salsichas aparecendo, o interior do pão sem carne nenhuma, como pintava pardais de amarelo e os vendia como canários, ou como fazia seus perus dançarem colocando-os sobre uma chapa de ferro quente aquecida por uma resistência elétrica. E muitos outros disparates. Mas afinal quem é esse homem misterioso que adora elefantes? Outra historinha: durante as filmagens de "Em cada sonho um amor", em Cristal River, na Flórida, o Coronel insistiu em visitar um velho paquiderme que tinha conhecido em seus tempos de circo. Tom Parker só ficou sossegado quando chegou ao Zoo e alimentou o animal, que demonstrou reconhecê-lo, abanando a cabeça e arrastando o pé acorrentado. 

Na década de 30 o Coronel trabalhava com o Royal American Shows, um circo que viajava pelos Estado Unidos e Canadá num trem particular de 70 vagões. Sobre o que fazia nesse circo existem divergências: alguns afirmam que o Coronel vendia algodão doce e maçãs carameladas; outro o colocam como intendente da companhia, um trabalho de muita responsabilidade para alguém com vinte e poucos anos. Tudo o que sabemos é que sua escola foi o circo, onde aprendeu a manipular o público. Tom Parker também era um homem com extraordinários poderes psíquicos. Ele era, por exemplo, um ótimo hipnotizador. 

Durante os anos em que as organizações Presley esteve confinada a uma tediosa rotina de fazer um filme atrás do outro, o Coronel uniu seu estilo bonachão aos seus poderes de controlar a mente produzindo cenas de irresistível humor, como conta Albert Goldman em seu livro "Elvis": "Durante as filmagens de Kid Galahad, certa vez o coronel hipnotizou Sonny West, o guarda costas de Elvis, instruindo-o para que dissesse ao diretor Phil Karlson que o filme cheirava mal, a atuação era horrível, a direção era nojenta e toda a produção era uma terrível perda de tempo. Num intervalo da filmagem, o grande, corpulento Sonny caminhou até o diretor e lançou-lhe a impressionante e insultosa conversa. O diretor ficou boquiaberto com o choque, enquanto o Coronel bebia a cena, rindo consigo mesmo e esforçando-se para que seu rosto não o traísse. 

Finalmente Karlson gritou: "Quem é esse sujeito? Tirem-no daqui!" Quando lhe explicaram a piada, o diretor ficou espantado por Sonny West ter atuado tão convincentemente e sem dar um sorriso sequer. "Ele estava hipnotizado" explicou o Coronel. "Ele não poderia ter feito isso de outro jeito". Virando-se para Sonny o diretor do filme perguntou: "Isso é verdade?" "Sim Senhor, é verdade sim", admitiu Sonny. Os dotes psíquicos do Coronel não eram limitados apenas à hipnose. Há anos ele sofria de uma ruptura de disco na coluna, motivo pelo qual ele sempre usava uma bengala. Mas nunca se submeteu a uma cirurgia, preferindo controlar a dor, às vezes insuportável, através do poder de sua mente.

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio. 

Arquivo Elvis Presley (EPHP) - Parte 116

Quem foi Tom Parker?
Data: março de 1960 / Local: Memphis, Tennessee / Texto: Lu Gomes / Photo: Time Life. 

Andreas Cornelius Van Kuijik 
O que mais sabemos sobre o Coronel? Ele nunca assinou um cheque, nunca teve um cartão de crédito e pagava tudo em dinheiro vivo, além de fazer questão de não dever um centavo ao imposto de renda. Embora atuasse em um negócio internacional ele nunca teve um passaporte. Por quê? Segundo o próprio não podia provar seu nascimento pois era um filho enjeitado. Nunca devendo ao imposto de renda, evitando submeter-se a investigações para a obtenção de cartões de crédito e não se sujeitando ao escrutínio do pessoal da imigração para tirar um passaporte, um homem pode passar toda sua vida nos Estados Unidos sem precisar dizer exatamente quem ele é. O Coronel foi casado durante mais de 50 anos com a mesma mulher, Marie, e não teve filhos. Antes de Elvis, por nove anos, de 1944 a 1953, o Coronel dedicou-se a empresariar o cantor Eddy Arnold. A patente de "Coronel", que tantos benefícios lhe trouxe, é um título honorário, que lhe foi concedido por Jimmy Davis, governador da Louisiana, em 1948. 

Virtualmente único em sua profissão, por sempre se dedicar exclusivamente a um único cliente, o Coronel tinha somente duas paixões, fora o trabalho. Uma era comer, o que fez com que seu peso subisse até os 150 Kg, a outra era o jogo. Tom Parker era um jogador prodigioso. Em Las Vegas, onde mantinha um apartamento, era considerado um dos maiores jogadores da história. Na roleta, sempre fazia a aposta máxima, 10 mil dólares, chegando a perder, às vezes, mais de um milhão de dólares por mês. O Coronel tinha 47 anos quando ficou famoso, graças à sua associação com Elvis Presley, mas nunca conversou com jornalistas. Não que recusasse a atender a imprensa. Pelo contrário - qualquer jornalista que lhe pedisse uma entrevista, era atendido gentilmente pelo Coronel: "Ficaria encantado em lhe conceder uma entrevista. Você deseja uma curta ou uma longa? O preço da curta é de 25 mil dólares, a longa custa 100 mil". Após a morte de Elvis, a verdadeira identidade do Coronel Parker foi sendo descoberta pelos autores que escreveram sobre o cantor. 

Alguns acontecimentos sempre chamaram a atenção, como por exemplo, o fato de Elvis nunca ter cantado fora dos Estados Unidos (exceto uma única vez no vizinho Canadá). Outro fato também intrigou os autores: durante seu serviço militar na Alemanha, Elvis nunca foi visitado por Tom Parker. Sem dúvida havia algo de errado com o Coronel, a questão que surgiu foi saber por quê o Coronel evitava sempre viajar para fora dos Estados Unidos? Após uma investigação descobriu-se que o Coronel não havia nascido em Hungtington, West Virginia, como sempre afirmou e sim em Breda, na Holanda, em 26 de junho de 1909. Nome verdadeiro: Andreas Cornelius Van Kuijik. Não se sabe como o Coronel veio parar nos Estados Unidos, mas com certeza foi de maneira ilegal. Seus primeiros registros em solo americano datam de 1929, quando ele tinha 18 anos. Em 1929 o Coronel se alistou no exército americano, onde serviu de 1930 a 1932. E depois disso ele apagou todas as pistas sobre seu passado. Albert Goldman matou a charada em 1980. Junto a Lamar Fike eles resolveram ir direto ao coração do problema. 

É Goldman quem recorda: "Quando descobrimos essa história, Lamar Fike, que viajou muito com o Coronel nos velhos tempos afirmou que não via o Coronel como uma figura inalcançavel e propôs: 'Porque não telefonamos ao Coronel e esclarecemos o mistério?' Quando Lamar conseguiu falar com o Coronel, foi muito bem tratado e começou: 'Coronel, vocês sempre me disse que se houvesse alguma coisa que eu quisesse saber sobre você, deveria perguntar-lhe pessoalmente'. De Hollywood a voz do velho homem fez-se ouvir em Nova Iorque: 'Está certo Lamar, o que você quer saber?' 'Bem, Coronel', disse Lamar, 'tem um livro aqui que diz que seu nome verdadeiro é Andreas Van Kuijik e que você nasceu em Breda na Holanda'. Houve uma pequena pausa na linha e uma perceptível mudança de tom na voz de Parker: 'Oh, sim', respondeu o Coronel, 'Isso já saiu em mais de quinze lugares. Essa é velha... não é nenhuma novidade!' Lamar ficou tão impressionado com a inesperada resposta que protestou: 'Mas Coronel, eu o conheço há mais de 20 anos - porque nunca me contou que era holandês?'. O Coronel, sempre com uma resposta na ponta da língua, retrucou: 'Porque você nunca me perguntou'. Muitos anos depois, quando perguntado como resumiria sua sociedade com Elvis Presley o Coronel afirmou: 'Quando conheci esse rapaz ele só tinha o potencial de um milhão de dólares. Agora ele já ganhou muito mais do que o seu Milhão!'. Coisas de Tom Parker, ou melhor, Andreas Van Kuijik...

Textos publicados no site EPHP
Compilação: Pablo Aluísio.