quinta-feira, 17 de junho de 2010

Elvis Presley - Girls! Girls! Girls! - Parte 3

"A Boy Like Me, A Girl Like You" é definitivamente uma boa música dessa trilha sonora. Durante anos eu tive uma certa implicância com essa faixa por causa da letra que sempre considerei piegas um pouco além do ponto do razoável, mas hoje em dia já ouço com outro ponto de vista. Tudo tem seu lugar na história e essa música, mesmo sendo melosa como é, ainda é uma boa criação da dupla Sid Tepper e Roy C. Bennett. Quem escreveu tantas boas trilhas como "GI Blues" certamente merece um pouco de crédito. Merece o benefício da dúvida.

Dessa mesma dupla ainda temos a música "The Walls Have Ears". É uma espécie de tango, mas com uma linhagem mais pop. Elvis não cantaria um tango autêntico em suas suas trilhas sonoras dos anos 60. Seria interessante, sem dúvida, mas não fazia a linha comercial que ele seguia nessa época. Essa canção também tem um aspecto interessante que ainda hoje chama a atenção.

Algumas fãs mais do que atentas dizem que quando fez a cena Elvis estava sexualmente excitado e que isso pode ser visto claramente ao se assistir ao filme. Constrangedor? Certamente que sim, mas sinceramente penso que nesse caso as imaginações das senhoritas (e senhoras também) voaram um pouco longe demais. Elvis está vestido com uma calça preta que pode causar esse tipo de ilusão de ótica. Na realidade não há nada nesse sentido para ver (ainda bem!).

"We'll Be Together" tem trechos em espanhol e uma melodia que algum tempo depois iria ser mais explorada em trilhas sonoras como "O Seresteiro de Acapulco". Eu gosto do solo de violão no começo da faixa, além do solo que vai lhe acompanhando até o final. O refrão "Juntos Estaremos", como eu já escrevi, ficaria perfeitamente ajustado na trilha de Acapulco. Elvis dando seus primeiros passos em direção ao cancioneiro de língua espanhola.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Elvis Presley - Girls! Girls! Girls! - Parte 2

"Return to Sender", criação da dupla formada por Otis Blackwell e Winfield Scott, foi o grande hit desse álbum. Foi lançada como single, com a romântica "Where Do You Come From" no lado B. No filme Elvis resolveu fazer uma pequena homenagem ao cantor Jackie Wilson, recriando sua maneira de cantar, gestos característicos, etc. Falecido nos anos 1980, esse artista foi considerado um dos melhores cantores de soul da história da música norte-americana. Realmente foi um nome fundamental. Elvis aqui deixou esse pequeno tributo a ele. Claro, ficou tudo muito bom.

"Where Do You Come From" que vinha no lado B do single "Return to Sender" também era uma boa faixa da trilha sonora desse filme. Uma música romântica ao velho estilo, com Elvis caprichando na vocalização. Foi composta por outra dupla talentosa formada por Ruth Bachelor e Bob Roberts. Não ficariam apenas nessa gravação. Elvis iria gravar outros temas dessa dupla de compositores, quase sempre músicas bem românticas para filmes de Elvis em Hollywood. Era uma característica deles.

Bem, o personagem de Elvis nesse filme era um jovem que sonhava em comprar seu próprio barco de pesca. Esse tipo de embarcação estava na faixa de 10 mil dólares. Então ele passava o filme inteiro procurando um jeito de arranjar essa quantia para comprar seu tão sonhado barco no Havaí. E com esse tema em cima da mesa os compositores da trilha sonora tinham que compor músicas nessa linha. Não no estilo havaiano que havia sido ouvido na trilha sonora de "Blue Hawaii", mas algo diferente.

Acabaram se saindo com temas como "Thanks to the Rolling Sea". Essa faixa, meio pop, meio rock, com sabor caribenho, foi criada pelo famigerado trio "Kissin Cousins" formado por Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye. Segundo algumas biografias eles tinham duas características que faziam com que o Coronel Parker gostasse deles. Era rápidos e baratos. Suas músicas custavam muito menos do que qualquer criação de um Leiber e Stoller, por exemplo. Então para o Coronel, que visava principalmente lucro, estava bom demais. No final das contas essa música é até legalzinha. Nada memorável, mas que funcionava dentro do contexto do filme.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Girls! Girls! Girls! - Parte 1

Retomando os comentários sobre os álbuns oficiais da carreira de Elvis Presley vamos tratar aqui da trilha sonora do filme "Girls! Girls! Girls!". Esse disco foi lançado em novembro de 1962 e a RCA Victor tinha claramente a intenção de repetir o grande sucesso da trilha sonora de "Blue Hawaii" (Feitiço Havaiano, de 1961). O filme também seria filmado no Havaí, mas o produtor Joseph Lilley optou certamente por não voltar para aqueles arranjos havaianos do disco anterior. Assim "Girls! Girls! Girls!" apresentaria uma sonoridade própria. E sem dúvida temos aqui um título de Elvis bem agradável de se ouvir. Há uma certa irregularidade entre as músicas, algumas muito boas, outras mais fracas. O conjunto entretanto sempre me soou muito bom de se ouvir.

E o álbum começa muito bem com a faixa título "Girls! Girls! Girls!". Essa música foi composta pela ótima dupla Leiber e Stoller, mas não havia sido composta especialmente para Elvis. Só depois é que foi selecionada para ser a canção tema do filme. É um ótimo momento, onde se sobressai o talento do saxofonista Boots Randolph. Sempre que havia necessidade de um belo solo de sax, esse músico era chamado para tocar nas gravações de Elvis. Nessa faixa ele teve total liberdade, algo parecido havia acontecido na gravação de "Reconsider Baby" do disco "Elvis is Back!". O resultado não poderia ser diferente, logo se revelou dos melhores.

A música seguinte mantinha o bom nível do disco. "I Don't Wanna Be Tied" foi composta pelo trio Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye. Esse trio iria cair nas graças do Coronel Parker e conforme o tempo foi passando eles foram compondo mais e mais músicas para os filmes de Elvis. Um exemplo seria a trilha sonora de "Kissin Cousins", praticamente toda composta por eles. Aqui escreveram um bom tema que apresenta ótimo ritmo, bem cadenciado. Há também um certo sabor caribenho em seu arranjo.

Entre as baladas eu destaco "Because of Love". Composta por Ruth Bachelor e Bob Roberts é um dos bons momentos românticos da trilha sonora. Tem claramente seus clichês, mas isso passa longe de prejudicar o resultado final. Elvis parece bem à vontade em sua performance. O interessante é que no roteiro do filme o coração do personagem de Pelvis era disputado por duas mulheres, como sempre uma mais jovem e uma mulher mais madura. E essa love song, claro, era mais um tema de amor dentro da história do filme. Se isso se perdeu com o tempo, a canção ainda se manteve firme com uma das melhores faixas dessa trilha sonora.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 4

Elvis também intercalava as gravações natalinas com várias jam sessions de canções Gospel, que no futuro iriam acabar sendo reunidas no premiado disco "He Touched Me". No fundo o cantor procurou antes de tudo ter uma postura eminentemente profissional. Se ele era um artista contratado pela RCA Victor, então cumpriria as determinações da sua gravadora. Como era muito eficiente em estúdio, desde seus primeiros anos, conseguiu finalizar o álbum em apenas duas noites. Alguns músicos que estiveram ao seu lado naquelas desanimadas sessões iniciais pensam que o fator predominante nem foi tanto a intenção de ser eficiente, mas sim de ser rápido o bastante para se livrar desse disco de uma vez por todas. Elvis queria antes de tudo gravar o material, evitar novos atritos com o Coronel e a direção da RCA e seguir em frente na sua carreira, esquecendo essa má experiência da forma mais indolor e célere possível.

Em suma, ele seria profissional e completaria as músicas. Infelizmente porém o gosto amargo ficaria na boca por mais alguns meses. Ele sabia que todo o material era um desperdício de tempo e dinheiro e que não tinha o menor valor artístico. Mesmo querendo se livrar do disco logo, Elvis percebeu rapidamente que o famigerado LP iria persegui-lo por mais algum tempo ainda. O Projeto iria continuar, em um futuro não muito distante, a trazer vários aborrecimentos pessoais a ele. Definitivamente as coisas não melhoraram muito nos meses seguintes, principalmente quando Felton Jarvis comunicou a Elvis o nome do novo disco: "Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas" (Elvis canta o maravilhoso mundo do natal). O Rei simplesmente odiou o título, que para ele era "completamente estúpido!", mas resolveu novamente se calar, só manifestando sua opinião pessoal para os mais próximos.

Depois outro aborrecimento surgiu quando a arte final da capa chegou em suas mãos: Elvis odiou muito a foto montagem feita com sua imagem, aonde colocaram a foto de sua face acoplada a um desenho de um Papai Noel balofo. Para quem lutava diariamente contra a balança, se deparar agora com um desenho que o retratava como um Papai Noel roliço não era das experiências mais agradáveis e o pior: o desenho iria sair na capa de um de seus próprios discos! Aquilo já era demais! Resolveu reclamar dessa vez. Chegou a comentar com Joe Esposito: "Aonde será que esses caras querem chegar??!! Meu Deus, não há limites para tanta mediocridade!!!" Tentou até mesmo impedir a reprodução da capa, mas o Coronel lhe informou que seria impossível pois todas já estavam impressas! Como não havia mais o que fazer, Elvis resolveu não se estressar mais e tomou a decisão de se divertir com o disco, fazendo piadas em cima de sua capa, de seu título, etc.

Era um humor misturado com angústia e melancolia, pois apesar de rir do LP, Elvis sabia que os outros iriam criticá-lo por ter gravado tal material. Mas ele já tinha problemas demais e aquilo parecia ser o menor deles. Além do mais pensou: Quem sabe ele não estaria errado e os caras da RCA certos, não é mesmo? Podia ser até mesmo que "aquilo" fizesse sucesso! Quem sabe... O LP, finalmente, depois de sofrer muitas modificações promovidas pelo produtor de Elvis, foi lançado em outubro de 1971. A crítica caiu em cima, malhou impiedosamente o trabalho e culpou Elvis, o Coronel e o produtor Felton Jarvis pelo lançamento. Pelo menos dessa vez Elvis não levou a culpa toda sozinho como ele temia. De sua parte Elvis até mesmo se divertiu com alguns artigos e no final deu de ombros, declarando: "Eu tinha razão, esses caras da RCA não entendem nada mesmo de música!"...

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 3

Ao chegar foi imediatamente atendido por uma junta médica que constatou que ele tinha uma séria lesão no globo ocular esquerdo (provavelmente causada pelos fortes holofotes em seus shows) e que deveria se internar imediatamente para novos exames. Nenhuma luminosidade seria suportada pelo olho lesionado e assim o cantor adotou, por orientação médica, um tapa olho preto que logo virou piada entre os caras da máfia de Memphis.

O Coronel Parker também logo foi informado que Elvis estava de licença médica por dois meses e que todos os seus compromissos deveriam ser cancelados. Elvis respirou aliviado e se trancou em seus aposentos para tratar de sua saúde e principalmente descansar. Agora o objetivo principal para ele era dormir o máximo que pudesse para se recuperar das longas noites mal dormidas em Las Vegas. Duas semanas depois o Coronel ligou de Los Angeles para ele em Graceland: "Elvis, você ouviu as músicas natalinas? A direção da RCA está me cobrando uma posição de sua parte!" do outro lado da linha cheia de interferência o Coronel conseguiu perceber o estado emocional deprimido do cantor que ao falar, apenas disse de forma melancólica: "Ouvi as músicas...são horríveis...não me interessa..." - então fez-se uma longa pausa, com Elvis em total silêncio - finalmente ele disse: "...depois lhe retorno com alguma decisão, não estou com estado de espírito hoje para esse tipo de conversa..." e desligou.

O Coronel ficou preocupado. Parker não tinha costume em encontrar tanta resistência assim por parte de Elvis. Tudo levava a crer que depois de tanto material medíocre imposto por ele e pela RCA ao cantor ao longo dos anos, finalmente Elvis parecia agora encontrar disposição em dizer não a projetos nos quais ele não acreditava mais. O Coronel Parker então decidiu abrir um espaço para Elvis se refazer e depois partiu para o ataque. Um mês depois o Coronel chegou à Memphis para ver como Elvis estava e intensificou sua propaganda do disco de natal, sempre passando a idéia de que ele seria um grande sucesso, que com esse LP Elvis iria novamente alcançar as primeiras posições, que tudo seria ótimo para sua carreira e blá, blá, blá... Elvis começou a se encher daquela conversa.

Em uma noite particularmente agitada em sua suíte, visivelmente alterado pelo uso de drogas, Elvis explodiu com o empresário após esse lhe sugerir pela milionésima vez a gravações das malditas músicas de natal: "Não agüento mais!!! Eu não vou gravar essas merdas!!! Essa porcarias da RCA, eu não vou gravar esse lixo!!! Me deixe me paz, pelo amor de Deus!!!" e bateu a porta na cara do Coronel. Sabendo do terrível temperamento de Elvis Tom Parker simplesmente se retirou de Graceland e orientou Joe Esposito a ficar de olho no cantor. No dia seguinte já estava pronto para telefonar para Felton Jarvis, produtor de Elvis na RCA, para lhe comunicar da decisão de Elvis em não gravar músicas natalinas em suas próximas sessões, quando foi surpreendido por um telefonema do próprio Elvis: "Coronel...sobre as músicas de natal..." – O Coronel nem deixou o cantor completar a frase e lhe disse: "Elvis, não se preocupe, vou entrar em contato hoje com o pessoal da RCA, não se preocupe.." – Elvis então lhe disse: "Não é isso... eu tomei uma decisão...eu vou gravar o disco de natal......no dia que vocês quiserem voarei para Nashville e farei o álbum.... Não quero mais me aborrecer por esse tipo de coisa. Eu o farei".

Não havia nenhum sinal de animação ou contentamento na voz de Elvis, apenas de resignação mesmo. O Coronel ficou estupefato! Quem afinal poderia entender uma mudança tão brusca de decisão em menos de 24 horas? Elvis era assim mesmo, mudanças repentinas de decisão e de temperamento faziam parte de sua personalidade. O Coronel ficou muito contente e garantiu a Elvis que ele tinha tomado uma "ótima decisão" do qual "não iria se arrepender!". E assim foi feito. Elvis entrou novamente em estúdio no dia 15 de maio (exatamente dois meses após sua primeira tentativa frustrada de gravar as canções do disco de natal). Ainda sem acreditar no disco e com uma certa má vontade Elvis começou a gravar as músicas. Para tornar um pouco menos penosa a tarefa de cantar tanto material horrível.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Anos 50


 

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 2

A direção da RCA tomou essa atitude por uma razão bem simples: suas músicas natalinas sempre venderam muito bem no final de ano, durante as festas, e já é hora de apresentar material novo nesse estilo. Seus fãs querem isso, não os chefões da RCA, entende meu ponto de vista? São seus fãs que querem ouvi-lo novamente cantando canções de natal!". Elvis ficou em silêncio ouvindo os argumentos do Coronel, fitando e mexendo seus diversos anéis. Parecia antes de tudo distante e desapontado. Durante a conversa Elvis não olhou para o Coronel, que ficou o tempo todo ao seu lado tentando convencê-lo a se submeter aos desígnios da grande multinacional. Mesmo com seu esforço de persuasão os argumentos pareciam não fazer efeito.

Elvis não parecia nada convencido e por fim disparou: "Gravar essas músicas não me interessa, além do mais elas não se parecem em nada com o tipo de trabalho que venho mostrando atualmente para meus fãs, não quero fazer o disco!". Tom Parker entendeu que não adiantava pressionar naquele momento, pois não queria impor uma decisão ou passar a imagem para Elvis de alguém que estava forçando uma situação. Calejado pela vida e profundo conhecedor da personalidade facilmente irritável do artista, preferiu jogar panos quentes no assunto, pelo menos por enquanto. Então a velha raposa simplesmente disse ao Rei, que agora estava de pé, em frente ao grande espelho, verificando se tudo estava em ordem para sua entrada no palco: "Vamos fazer o seguinte: não fique abatido por isso, prometa apenas ouvir as músicas que a RCA vai enviar a você, depois iremos discutir sobre a gravação desse disco, ok? Faça o show tranqüilamente e depois resolveremos esse problema, certo assim?".

Elvis timidamente balançou a cabeça e se dirigiu para fora de seu recinto privativo para encontrar seu staff pessoal que iria conduzi-lo até o palco, para que ele assim finalmente fizesse seu concerto. Não parecia nada animado, sua melancolia era agora cada vez mais aparente. A temporada em Vegas transcorreu normalmente e o assunto não foi mais mencionado entre Elvis e o Coronel Parker. Então no dia 15 de março Elvis chegou à Nashville para o início de suas sessões de gravação. Ele havia feito péssimo vôo, estava se sentindo mal, tinha enjoado durante o percurso, se queixava de fortes dores de cabeça acrescida de uma pressão incomum sentida sobre seu globo ocular e para falar a verdade não estava com a mínima vontade de gravar. Mesmo assim tentou seguir em frente.

Quando chegou aos estúdios estava com péssima aparência: olheiras visíveis demonstrando que não tinha dormido bem nas últimas semanas, cabelo despenteado, barba por fazer e com expressão de dor. Teve inclusive que ser amparado por seu homens para poder sair do carro em que estava. Depois de realizar tantos shows em Las Vegas Elvis estava simplesmente muito estressado e exausto para cumprir uma maratona de gravações em Nashville. Além disso estava sentido dores cada vez mais agudas e latentes em seu olho esquerdo. Felton Jarvis ficou um pouco assustado com a aparência abatida de Elvis, mas mesmo assim resolveu dar prosseguimento aos trabalhos. Começou a tocar alguns demos natalinos para Elvis, para que ele finalmente decidisse quais canções iria gravar. O cantor ficou o tempo todo sentado em uma cadeira ao lado de uma caixa de som, mostrando total desinteresse pelas canções. A aversão de Elvis foi aumentando a cada música demonstrada a ele, até que finalmente pediu a Jarvis que parasse com as execuções. Elvis olhou ao seu lado e disse à sua banda: "Bom, vamos gravar alguma coisa por enquanto, depois a gente volta para esse material de natal, ok?". Dito e feito.

Com a mudança de direção Elvis até mesmo se animou e conseguiu se empolgar um pouco. Pediu uma garrafa de água e começou a conversar com os caras da banda. Sugeriu ótimas músicas para salvar a sessão como "The First Time Ever I Saw Your Face", "Early Morning Rain", "For Loving Me" e a sua preferida na noite: o Gospel "Amazing Grace", que o levou a praticamente renascer dentro do estúdio. Novamente ligado no que estava acontecendo à sua volta, Elvis resolveu escrever ele mesmo um novo arranjo para a famosa música religiosa, depois discutiu com os caras da banda a melhor forma de gravá-la, enfim, era o Elvis Presley dos bons tempos que todos conheciam. As músicas natalinas ficariam para depois, até mesmo porque Elvis não tinha o menor interesse pelo material apresentado por Felton Jarvis. Ele não conseguiu se conectar com as músicas de natal. Na verdade ele havia até mesmo comentado com James Burton dentro da sala de gravação: "...essas músicas de natal são ruins demais, puxa vida!".

Todos riram, o que foi ótimo, pois levou a amenizar bastante o clima de tensão que pairava no ar. Depois de algumas horas ali gravando as músicas não natalinas escolhidas por ele, Elvis chamou todos os presentes e os reuniu em uma sala adjacente ao estúdio principal: "Eu quero comunicar a vocês que estou cancelando o restante das sessões, vou hoje mesmo para Graceland. Não estou me sentido bem, sinto dores, estou cansado, indisposto e minha voz está no limite. Não quero gravar nada nesse estado. O pessoal de Los Angeles está dispensado e o de Memphis segue comigo hoje mesmo para casa. Vejo vocês depois! Estão todos livres! Obrigado e fiquem com Deus!" Poucos minutos depois Elvis embarcava de volta para Graceland.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 1

Elvis estava relaxando e se recuperando em seu camarim, durante o período que antecedia o midnight show em Las Vegas durante o mês de fevereiro de 1971, quando recebeu um telegrama da RCA Victor assinado pelo executivo Harry Jenkins informando-o que os estúdios em Nashville estavam prontos para recebê-lo entre os dias 15 a 20 do mês seguinte para uma nova maratona de gravações. Assim que terminasse sua agenda de shows em Vegas Elvis teria que voar imediatamente para Nashville para gravar novas canções de estúdio para seu novo álbum. O texto também informava que a direção da RCA havia decidido que Elvis deveria gravar um novo disco com músicas natalinas e que para isso lhe seria enviado uma série de demos e discos de demonstração com canções desse estilo, entre as quais ele poderia escolher suas preferidas para compor esse seu novo trabalho.

Elvis, sentado em sua cadeira em frente ao espelho do luxuoso camarim estendeu a mão e deu o telegrama para Joe Esposito ler: "Dê só uma olhada nisso, Joe!" – disse balançando a cabeça em sinal de desaprovação. O desânimo era visível no semblante do cantor. Joe leu o teor da mensagem e compreendeu o motivo do desapontamento por parte de Elvis. "Bem Elvis, talvez eles saibam o que estão fazendo!" – disse Joe tentando amenizar a situação. "Duvido muito Joe! Sempre quando esses caras da RCA interferem em minha música eu sofro as conseqüências, recebo todas as críticas negativas, no final sempre pago o preço desse tipo de coisa sozinho!", desabafou o cantor. No fundo Elvis sabia que o velho fantasma de suas trilhas sonoras ridículas e impostas pelos estúdios durante os anos 60 sempre iriam macular seu status de artista e interprete relevante e receava que tudo voltasse agora, com um novo projeto totalmente fabricado pelos executivos de Nova Iorque.

Pessoas que, segundo a visão de Elvis, não sabiam nada de música! Gravar todos aqueles discos de filmes tinha sido um tremendo erro em sua passado e agora ser levado novamente a embarcar em um projeto do qual não acreditava trazia imediatamente à sua lembrança aquele período negro de sua carreira. Gravar um novo disco de natal, justamente agora que ele procurava produzir bons álbuns e apresentar bom material e de qualidade era um tremendo retrocesso em sua visão. Naquele momento Elvis estava disposto a não embarcar nesse projeto, a rejeitar a idéia dos executivos da RCA (afinal ele nem tinha sido consultado sobre isso!) e comunicar sua decisão ao Coronel Parker após o show. Não foi preciso. Em poucos minutos Parker entrava nos camarins para verificar se tudo estava bem com sua "propriedade". Encontrou um Elvis abatido e cabisbaixo, sem o ânimo necessário para alguém que iria enfrentar um show em poucos minutos.

Parker mandou os membros da Máfia de Memphis saírem para deixá-lo a sós com o deprimido superstar. "O que está havendo Elvis?"- disparou Parker sabendo muito bem que o cantor não se encontrava em um bom estado emocional naquele momento. "A velha história se repete Coronel...Os caras da RCA querem que eu grave um novo disco de natal. Eu não quero gravar mais canções de natal, simplesmente não dá mais para gravar esse tipo de coisa. Por quê não editam novamente o disco dos anos 50?" – perguntou Elvis. Tom Parker sentou-se ao lado de Elvis e vendo que a situação poderia lhe fugir ao controle começou a expor seus argumentos ao seu pupilo: "Elvis, isso não é uma coisa tão séria assim para você se preocupar, sabe? Eles estão com a razão. Não há mais como relançar novamente o Elvis Christmas Album depois de todos esses anos.

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de junho de 2010

Elvis Presley - Double Features II

Spinout / Double Trouble é melhor, com não menos que 11 notáveis que se sobressaem das 18 músicas. Se "Stop, Look And Listen" é somente um fac-símile tolo de rock' n' roll, "Adam And Evil" é o puro rock. Já "All That I Am", a primeira canção que Elvis gravou com acompanhamento de violinos, é uma grande balada, um verdadeiro prazer sem culpas (e um grande hit na Europa). "Never Say Yes" é um lixo, mas "Am I Ready" é uma balada que provavelmente você nunca escutou antes, ou passou batido quando viu o filme. Escutá-la após estes anos todos, é sentir que ela está imaculada e bela. Mas, como este é um caso daquele tipo de arte com altos e baixos, a próxima faixa, "Beach Shack" é horrenda. "Spinout" a musica título é fraca, mas após tanta repetição, agora em 1995, me parece bem melhor.

A parte Spinout do disco termina com uma música, da qual simplesmente não consigo dizer o bastante sobre ela — K. D. Lang terminou sua grande tournée americana de 92 com "I 'll Be Back". Por mais que eu procurasse essa música não a encontrava, até agora. Escondida nesta colcha de retalhos musical, "I 'll Be Back" é como um original de Monet perdido numa pilha de reproduções. Sem discussão, é o melhor momento de Elvis num filme musical, pós-exército. Não consigo parar de tocá-la e depois da 20º audição, torna-se uma experiência religiosa. Estarei obcecado?

A porção Double Trouble do disco, mesmo sem conter nada nem remotamente similar a "I 'll Be Back", é surpreendentemente livre de chatices. Mostra as várias vozes de Elvis em múltiplas situações. A faixa-título "Double Trouble" é outro prazer sem culpas. "Baby lf You'll Give Me Ali Of Your Love" é um rock incendiário! As três seguintes: "Could I Fall ln Love" "Long Legged Girl (With The Short Dress On)" e "City By Night" provam que, não importa o quanto Elvis tenha se tornado irrelevante na época, ele ainda podia ser capaz de emocionar. Então, tudo cai por terra com a terrível "Old MacDonald". Engraçado, mas mesmo na mais mortificante das canções, Elvis permanece bem e dá tudo de si. Em seguida, a igualmente embaraçante marcha, "I Love Only One Girl", antes das 2 últimas faixas deixar tudo a salvo, satisfatoriamente. "There Is So Much World To See" e "It Won't Be Long" são o tipo de canções sexy de Las Vegas, que somente Elvis pode torná-las agradáveis.

O último Double Feature, na verdade, contém músicas de três filmes, Kissin' Cousins / Clambake / Stay Away Joe. Com suas 24 faixas durando 54:56, é o mais longo dos três, mas em compensação, apenas cinco delas mantém o interesse. O produtor Sam Katzman era conhecido em Hollywood como "O Rei da Rapidez". Foi quem conduziu a carreira fílmica de Elvis! E pensar que ele teve no seu currículo grandes performances cinematográficas, como em Love Me Tender, Jailhouse Rock e especialmente King Creole, onde provou que poderia ser James Dean por um dia, terminar fazendo Kissin' Cousins!? Que pena! De fato, estou convicto que Barbra Streisand poderia ter salvo a carreira de Elvis no cinema, quando ela foi nos bastidores naquela noite em Las Vegas e ofereceu a Elvis uma participação em A Star Is Bom ao seu lado, um papel no qual ele estaria muito bem, e que ele estava querendo fazer, até seu empresário Parker recusar.

Alguns dizem que ele não queria deixar seu garoto interpretar um derrotado. Outros dizem que a questão foi dinheiro. Outros ainda afirmam que Parker não permitiu que Elvis recebesse menos que Streisand. Qualquer que seja a razão, Kris Kristofferson ganhou o papel e Elvis se afundou na sua mistura de pílulas, mulheres, música ruim e misticismo religioso da nova era, que o fascinou até a morte. Não há muita música para se comentar nesta hora opaca. Mais marchas ruins, mais uma dose de country-music de mau-gosto ("Barefoot Ballad"), que, sem conseguir, tentou reacender um pouco das glórias passadas. Mas tem as cinco canções já mencionadas. "Once Is Enough" é abrilhantada por um vocal perfeito de Elvis. Pelo menos, a letra não é estúpida e tem até uma melodia discernivel! "Kissin' Cousins" é assumidamente burra, mas não posso evitar gostar de seu fraseado tipo pára-e-continua e sua intensa alegria. "You Dont Know" já foi cantada por diversos intérpretes mais notadamente por Ray Charles e Eddy Arnold — mas ouvi-la com Elvis, é uma completa emoção. "The Girl I Never Loved" é uma canção forte, com versos fortes e cantada convincentemente. "How Can You Lose What You Never Had" tem um balanço macho, que é tanto blues quanto rock! Mas, é isto ai.

Rock in Portfólio.