terça-feira, 15 de junho de 2010

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 3

Ao chegar foi imediatamente atendido por uma junta médica que constatou que ele tinha uma séria lesão no globo ocular esquerdo (provavelmente causada pelos fortes holofotes em seus shows) e que deveria se internar imediatamente para novos exames. Nenhuma luminosidade seria suportada pelo olho lesionado e assim o cantor adotou, por orientação médica, um tapa olho preto que logo virou piada entre os caras da máfia de Memphis.

O Coronel Parker também logo foi informado que Elvis estava de licença médica por dois meses e que todos os seus compromissos deveriam ser cancelados. Elvis respirou aliviado e se trancou em seus aposentos para tratar de sua saúde e principalmente descansar. Agora o objetivo principal para ele era dormir o máximo que pudesse para se recuperar das longas noites mal dormidas em Las Vegas. Duas semanas depois o Coronel ligou de Los Angeles para ele em Graceland: "Elvis, você ouviu as músicas natalinas? A direção da RCA está me cobrando uma posição de sua parte!" do outro lado da linha cheia de interferência o Coronel conseguiu perceber o estado emocional deprimido do cantor que ao falar, apenas disse de forma melancólica: "Ouvi as músicas...são horríveis...não me interessa..." - então fez-se uma longa pausa, com Elvis em total silêncio - finalmente ele disse: "...depois lhe retorno com alguma decisão, não estou com estado de espírito hoje para esse tipo de conversa..." e desligou.

O Coronel ficou preocupado. Parker não tinha costume em encontrar tanta resistência assim por parte de Elvis. Tudo levava a crer que depois de tanto material medíocre imposto por ele e pela RCA ao cantor ao longo dos anos, finalmente Elvis parecia agora encontrar disposição em dizer não a projetos nos quais ele não acreditava mais. O Coronel Parker então decidiu abrir um espaço para Elvis se refazer e depois partiu para o ataque. Um mês depois o Coronel chegou à Memphis para ver como Elvis estava e intensificou sua propaganda do disco de natal, sempre passando a idéia de que ele seria um grande sucesso, que com esse LP Elvis iria novamente alcançar as primeiras posições, que tudo seria ótimo para sua carreira e blá, blá, blá... Elvis começou a se encher daquela conversa.

Em uma noite particularmente agitada em sua suíte, visivelmente alterado pelo uso de drogas, Elvis explodiu com o empresário após esse lhe sugerir pela milionésima vez a gravações das malditas músicas de natal: "Não agüento mais!!! Eu não vou gravar essas merdas!!! Essa porcarias da RCA, eu não vou gravar esse lixo!!! Me deixe me paz, pelo amor de Deus!!!" e bateu a porta na cara do Coronel. Sabendo do terrível temperamento de Elvis Tom Parker simplesmente se retirou de Graceland e orientou Joe Esposito a ficar de olho no cantor. No dia seguinte já estava pronto para telefonar para Felton Jarvis, produtor de Elvis na RCA, para lhe comunicar da decisão de Elvis em não gravar músicas natalinas em suas próximas sessões, quando foi surpreendido por um telefonema do próprio Elvis: "Coronel...sobre as músicas de natal..." – O Coronel nem deixou o cantor completar a frase e lhe disse: "Elvis, não se preocupe, vou entrar em contato hoje com o pessoal da RCA, não se preocupe.." – Elvis então lhe disse: "Não é isso... eu tomei uma decisão...eu vou gravar o disco de natal......no dia que vocês quiserem voarei para Nashville e farei o álbum.... Não quero mais me aborrecer por esse tipo de coisa. Eu o farei".

Não havia nenhum sinal de animação ou contentamento na voz de Elvis, apenas de resignação mesmo. O Coronel ficou estupefato! Quem afinal poderia entender uma mudança tão brusca de decisão em menos de 24 horas? Elvis era assim mesmo, mudanças repentinas de decisão e de temperamento faziam parte de sua personalidade. O Coronel ficou muito contente e garantiu a Elvis que ele tinha tomado uma "ótima decisão" do qual "não iria se arrepender!". E assim foi feito. Elvis entrou novamente em estúdio no dia 15 de maio (exatamente dois meses após sua primeira tentativa frustrada de gravar as canções do disco de natal). Ainda sem acreditar no disco e com uma certa má vontade Elvis começou a gravar as músicas. Para tornar um pouco menos penosa a tarefa de cantar tanto material horrível.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Anos 50


 

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 2

A direção da RCA tomou essa atitude por uma razão bem simples: suas músicas natalinas sempre venderam muito bem no final de ano, durante as festas, e já é hora de apresentar material novo nesse estilo. Seus fãs querem isso, não os chefões da RCA, entende meu ponto de vista? São seus fãs que querem ouvi-lo novamente cantando canções de natal!". Elvis ficou em silêncio ouvindo os argumentos do Coronel, fitando e mexendo seus diversos anéis. Parecia antes de tudo distante e desapontado. Durante a conversa Elvis não olhou para o Coronel, que ficou o tempo todo ao seu lado tentando convencê-lo a se submeter aos desígnios da grande multinacional. Mesmo com seu esforço de persuasão os argumentos pareciam não fazer efeito.

Elvis não parecia nada convencido e por fim disparou: "Gravar essas músicas não me interessa, além do mais elas não se parecem em nada com o tipo de trabalho que venho mostrando atualmente para meus fãs, não quero fazer o disco!". Tom Parker entendeu que não adiantava pressionar naquele momento, pois não queria impor uma decisão ou passar a imagem para Elvis de alguém que estava forçando uma situação. Calejado pela vida e profundo conhecedor da personalidade facilmente irritável do artista, preferiu jogar panos quentes no assunto, pelo menos por enquanto. Então a velha raposa simplesmente disse ao Rei, que agora estava de pé, em frente ao grande espelho, verificando se tudo estava em ordem para sua entrada no palco: "Vamos fazer o seguinte: não fique abatido por isso, prometa apenas ouvir as músicas que a RCA vai enviar a você, depois iremos discutir sobre a gravação desse disco, ok? Faça o show tranqüilamente e depois resolveremos esse problema, certo assim?".

Elvis timidamente balançou a cabeça e se dirigiu para fora de seu recinto privativo para encontrar seu staff pessoal que iria conduzi-lo até o palco, para que ele assim finalmente fizesse seu concerto. Não parecia nada animado, sua melancolia era agora cada vez mais aparente. A temporada em Vegas transcorreu normalmente e o assunto não foi mais mencionado entre Elvis e o Coronel Parker. Então no dia 15 de março Elvis chegou à Nashville para o início de suas sessões de gravação. Ele havia feito péssimo vôo, estava se sentindo mal, tinha enjoado durante o percurso, se queixava de fortes dores de cabeça acrescida de uma pressão incomum sentida sobre seu globo ocular e para falar a verdade não estava com a mínima vontade de gravar. Mesmo assim tentou seguir em frente.

Quando chegou aos estúdios estava com péssima aparência: olheiras visíveis demonstrando que não tinha dormido bem nas últimas semanas, cabelo despenteado, barba por fazer e com expressão de dor. Teve inclusive que ser amparado por seu homens para poder sair do carro em que estava. Depois de realizar tantos shows em Las Vegas Elvis estava simplesmente muito estressado e exausto para cumprir uma maratona de gravações em Nashville. Além disso estava sentido dores cada vez mais agudas e latentes em seu olho esquerdo. Felton Jarvis ficou um pouco assustado com a aparência abatida de Elvis, mas mesmo assim resolveu dar prosseguimento aos trabalhos. Começou a tocar alguns demos natalinos para Elvis, para que ele finalmente decidisse quais canções iria gravar. O cantor ficou o tempo todo sentado em uma cadeira ao lado de uma caixa de som, mostrando total desinteresse pelas canções. A aversão de Elvis foi aumentando a cada música demonstrada a ele, até que finalmente pediu a Jarvis que parasse com as execuções. Elvis olhou ao seu lado e disse à sua banda: "Bom, vamos gravar alguma coisa por enquanto, depois a gente volta para esse material de natal, ok?". Dito e feito.

Com a mudança de direção Elvis até mesmo se animou e conseguiu se empolgar um pouco. Pediu uma garrafa de água e começou a conversar com os caras da banda. Sugeriu ótimas músicas para salvar a sessão como "The First Time Ever I Saw Your Face", "Early Morning Rain", "For Loving Me" e a sua preferida na noite: o Gospel "Amazing Grace", que o levou a praticamente renascer dentro do estúdio. Novamente ligado no que estava acontecendo à sua volta, Elvis resolveu escrever ele mesmo um novo arranjo para a famosa música religiosa, depois discutiu com os caras da banda a melhor forma de gravá-la, enfim, era o Elvis Presley dos bons tempos que todos conheciam. As músicas natalinas ficariam para depois, até mesmo porque Elvis não tinha o menor interesse pelo material apresentado por Felton Jarvis. Ele não conseguiu se conectar com as músicas de natal. Na verdade ele havia até mesmo comentado com James Burton dentro da sala de gravação: "...essas músicas de natal são ruins demais, puxa vida!".

Todos riram, o que foi ótimo, pois levou a amenizar bastante o clima de tensão que pairava no ar. Depois de algumas horas ali gravando as músicas não natalinas escolhidas por ele, Elvis chamou todos os presentes e os reuniu em uma sala adjacente ao estúdio principal: "Eu quero comunicar a vocês que estou cancelando o restante das sessões, vou hoje mesmo para Graceland. Não estou me sentido bem, sinto dores, estou cansado, indisposto e minha voz está no limite. Não quero gravar nada nesse estado. O pessoal de Los Angeles está dispensado e o de Memphis segue comigo hoje mesmo para casa. Vejo vocês depois! Estão todos livres! Obrigado e fiquem com Deus!" Poucos minutos depois Elvis embarcava de volta para Graceland.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas - Parte 1

Elvis estava relaxando e se recuperando em seu camarim, durante o período que antecedia o midnight show em Las Vegas durante o mês de fevereiro de 1971, quando recebeu um telegrama da RCA Victor assinado pelo executivo Harry Jenkins informando-o que os estúdios em Nashville estavam prontos para recebê-lo entre os dias 15 a 20 do mês seguinte para uma nova maratona de gravações. Assim que terminasse sua agenda de shows em Vegas Elvis teria que voar imediatamente para Nashville para gravar novas canções de estúdio para seu novo álbum. O texto também informava que a direção da RCA havia decidido que Elvis deveria gravar um novo disco com músicas natalinas e que para isso lhe seria enviado uma série de demos e discos de demonstração com canções desse estilo, entre as quais ele poderia escolher suas preferidas para compor esse seu novo trabalho.

Elvis, sentado em sua cadeira em frente ao espelho do luxuoso camarim estendeu a mão e deu o telegrama para Joe Esposito ler: "Dê só uma olhada nisso, Joe!" – disse balançando a cabeça em sinal de desaprovação. O desânimo era visível no semblante do cantor. Joe leu o teor da mensagem e compreendeu o motivo do desapontamento por parte de Elvis. "Bem Elvis, talvez eles saibam o que estão fazendo!" – disse Joe tentando amenizar a situação. "Duvido muito Joe! Sempre quando esses caras da RCA interferem em minha música eu sofro as conseqüências, recebo todas as críticas negativas, no final sempre pago o preço desse tipo de coisa sozinho!", desabafou o cantor. No fundo Elvis sabia que o velho fantasma de suas trilhas sonoras ridículas e impostas pelos estúdios durante os anos 60 sempre iriam macular seu status de artista e interprete relevante e receava que tudo voltasse agora, com um novo projeto totalmente fabricado pelos executivos de Nova Iorque.

Pessoas que, segundo a visão de Elvis, não sabiam nada de música! Gravar todos aqueles discos de filmes tinha sido um tremendo erro em sua passado e agora ser levado novamente a embarcar em um projeto do qual não acreditava trazia imediatamente à sua lembrança aquele período negro de sua carreira. Gravar um novo disco de natal, justamente agora que ele procurava produzir bons álbuns e apresentar bom material e de qualidade era um tremendo retrocesso em sua visão. Naquele momento Elvis estava disposto a não embarcar nesse projeto, a rejeitar a idéia dos executivos da RCA (afinal ele nem tinha sido consultado sobre isso!) e comunicar sua decisão ao Coronel Parker após o show. Não foi preciso. Em poucos minutos Parker entrava nos camarins para verificar se tudo estava bem com sua "propriedade". Encontrou um Elvis abatido e cabisbaixo, sem o ânimo necessário para alguém que iria enfrentar um show em poucos minutos.

Parker mandou os membros da Máfia de Memphis saírem para deixá-lo a sós com o deprimido superstar. "O que está havendo Elvis?"- disparou Parker sabendo muito bem que o cantor não se encontrava em um bom estado emocional naquele momento. "A velha história se repete Coronel...Os caras da RCA querem que eu grave um novo disco de natal. Eu não quero gravar mais canções de natal, simplesmente não dá mais para gravar esse tipo de coisa. Por quê não editam novamente o disco dos anos 50?" – perguntou Elvis. Tom Parker sentou-se ao lado de Elvis e vendo que a situação poderia lhe fugir ao controle começou a expor seus argumentos ao seu pupilo: "Elvis, isso não é uma coisa tão séria assim para você se preocupar, sabe? Eles estão com a razão. Não há mais como relançar novamente o Elvis Christmas Album depois de todos esses anos.

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de junho de 2010

Elvis Presley - Double Features II

Spinout / Double Trouble é melhor, com não menos que 11 notáveis que se sobressaem das 18 músicas. Se "Stop, Look And Listen" é somente um fac-símile tolo de rock' n' roll, "Adam And Evil" é o puro rock. Já "All That I Am", a primeira canção que Elvis gravou com acompanhamento de violinos, é uma grande balada, um verdadeiro prazer sem culpas (e um grande hit na Europa). "Never Say Yes" é um lixo, mas "Am I Ready" é uma balada que provavelmente você nunca escutou antes, ou passou batido quando viu o filme. Escutá-la após estes anos todos, é sentir que ela está imaculada e bela. Mas, como este é um caso daquele tipo de arte com altos e baixos, a próxima faixa, "Beach Shack" é horrenda. "Spinout" a musica título é fraca, mas após tanta repetição, agora em 1995, me parece bem melhor.

A parte Spinout do disco termina com uma música, da qual simplesmente não consigo dizer o bastante sobre ela — K. D. Lang terminou sua grande tournée americana de 92 com "I 'll Be Back". Por mais que eu procurasse essa música não a encontrava, até agora. Escondida nesta colcha de retalhos musical, "I 'll Be Back" é como um original de Monet perdido numa pilha de reproduções. Sem discussão, é o melhor momento de Elvis num filme musical, pós-exército. Não consigo parar de tocá-la e depois da 20º audição, torna-se uma experiência religiosa. Estarei obcecado?

A porção Double Trouble do disco, mesmo sem conter nada nem remotamente similar a "I 'll Be Back", é surpreendentemente livre de chatices. Mostra as várias vozes de Elvis em múltiplas situações. A faixa-título "Double Trouble" é outro prazer sem culpas. "Baby lf You'll Give Me Ali Of Your Love" é um rock incendiário! As três seguintes: "Could I Fall ln Love" "Long Legged Girl (With The Short Dress On)" e "City By Night" provam que, não importa o quanto Elvis tenha se tornado irrelevante na época, ele ainda podia ser capaz de emocionar. Então, tudo cai por terra com a terrível "Old MacDonald". Engraçado, mas mesmo na mais mortificante das canções, Elvis permanece bem e dá tudo de si. Em seguida, a igualmente embaraçante marcha, "I Love Only One Girl", antes das 2 últimas faixas deixar tudo a salvo, satisfatoriamente. "There Is So Much World To See" e "It Won't Be Long" são o tipo de canções sexy de Las Vegas, que somente Elvis pode torná-las agradáveis.

O último Double Feature, na verdade, contém músicas de três filmes, Kissin' Cousins / Clambake / Stay Away Joe. Com suas 24 faixas durando 54:56, é o mais longo dos três, mas em compensação, apenas cinco delas mantém o interesse. O produtor Sam Katzman era conhecido em Hollywood como "O Rei da Rapidez". Foi quem conduziu a carreira fílmica de Elvis! E pensar que ele teve no seu currículo grandes performances cinematográficas, como em Love Me Tender, Jailhouse Rock e especialmente King Creole, onde provou que poderia ser James Dean por um dia, terminar fazendo Kissin' Cousins!? Que pena! De fato, estou convicto que Barbra Streisand poderia ter salvo a carreira de Elvis no cinema, quando ela foi nos bastidores naquela noite em Las Vegas e ofereceu a Elvis uma participação em A Star Is Bom ao seu lado, um papel no qual ele estaria muito bem, e que ele estava querendo fazer, até seu empresário Parker recusar.

Alguns dizem que ele não queria deixar seu garoto interpretar um derrotado. Outros dizem que a questão foi dinheiro. Outros ainda afirmam que Parker não permitiu que Elvis recebesse menos que Streisand. Qualquer que seja a razão, Kris Kristofferson ganhou o papel e Elvis se afundou na sua mistura de pílulas, mulheres, música ruim e misticismo religioso da nova era, que o fascinou até a morte. Não há muita música para se comentar nesta hora opaca. Mais marchas ruins, mais uma dose de country-music de mau-gosto ("Barefoot Ballad"), que, sem conseguir, tentou reacender um pouco das glórias passadas. Mas tem as cinco canções já mencionadas. "Once Is Enough" é abrilhantada por um vocal perfeito de Elvis. Pelo menos, a letra não é estúpida e tem até uma melodia discernivel! "Kissin' Cousins" é assumidamente burra, mas não posso evitar gostar de seu fraseado tipo pára-e-continua e sua intensa alegria. "You Dont Know" já foi cantada por diversos intérpretes mais notadamente por Ray Charles e Eddy Arnold — mas ouvi-la com Elvis, é uma completa emoção. "The Girl I Never Loved" é uma canção forte, com versos fortes e cantada convincentemente. "How Can You Lose What You Never Had" tem um balanço macho, que é tanto blues quanto rock! Mas, é isto ai.

Rock in Portfólio.

Elvis Presley - Double Features I

O relançamento remasterizado de 7 trilhas sonoras de Presley em 3 discos — intitulados Elvis Double Features pela primeira vez em CD, podem fazer os fãs vibrarem com o som superior e gemas ocasionais (como "I ll Be Back" de Spinout), ou se angustiar com o que deve ter sido artisticamente frustrante para o próprio cantor. Pense. Aqui está Elvis, que colocou o mundo em chamas nos anos 50, posto para cantar "Old MacDonald Had A Farm" nos anos 60, em filmes estúpidos, enquanto que grupos como Beatles e Rolling Stones admitindo que Elvis era o maior — estabeleciam novos padrões musicais. Preso aos contratos de seu empresário Tom Parker, por milhões de dólares, Elvis foi ficando mais rico a cada filme, enquanto morria artisticamente.

O primeiro Elvis Double Feature, com Frankie And Johnny / Paradise Hawaiian Style, é um CD com 49:07 e 22 faixas que mostram o abismo onde o grande artista caiu. Existem 5 preciosidades absolutas embutidas: a faixa título, "Frankie And Johnny", abrasiva com seu som Dixieland. Rodado em New Orleans, é lamentável que as 12 canções deste filme não tenham absorvido mais a cena musical local. Elvis lamenta! Cada verso é construído com intensidade e nos seus escassos 2:23, as numerosas repetições ecoam uma magia mais ampla. Idem para a seguinte, "Come Along", 1:52 de puro prazer. Então, vem o desastre. Será "Petunia, The Gardener's Daughter" a pior música que Elvis já cantou? Provavelmente não, porque ela foi salva pelo balanço de New Orleans. "Chesay" é bem pior e "What Every Woman Lives For" não é apenas terrível, mas francamente insultuosa. Com melancólica misogenia, diz que a mulher é realmente boa se "for para dar seu amor a um homem". "Look Out Broadway" é igualmente ruim. Melosa e maliciosa chega a perguntar: "se ele lhe der um diamante, o que você dará a ele?"

Perceba que a voz de Presley era um instrumento tão quente e expressivo, que escutá-la pode ser o jeito de se descobrir sobre como ele se sentia na época, e estas faixas, mesmo ruins como são, para um fanático por Elvis, são fascinantes. "Begginer's Luck" é a terceira gema. Lembrando trilhas sonoras melhores como G.I. Blues ou Blue Hawaii, esta terna balada tem fluidez. Infelizmente, ela precede uma marcha. Uma marcha! Como aficionado a Elvis por 35 anos, posso dizer sem hesitação que entre todos os gêneros musicais do universo — com exceção do já mencionado "G.I. Blues" — Elvis soava mais desconfortável cantando marchas. E algum estúpido decidiu fazer uma marcha, misturando "Down By The Riverside" com "When The Saints Go Marching In" — atirando Elvis numa horrível estrutura rítmica, salva no fim, quando muda para ragtime. "Shout It Out" é um exemplo, de como aqueles lacaios de Hollywood, tentaram substituir seu grito rebelde de rock' n' roll original, por uma batida pegajosa e sem valor, supervalorizando os efeitos percussivos, ainda que Elvis a cante corretamente.

Acho que ele sabia, assim como nós, que sempre existirão aquelas poucas gemas, onde valerá a pena enfiar a cara, como na que se segue: "Hard Luck" é um blues pesado, no qual ele se entrega com uma paixão que não se ouve em qualquer lugar. A metade Frankie & Johnny do disco, termina numa levada "para cima" em ritmo de ragtime. A psicologia de bastidores que transformou o Rei do Rock' n' Roll numa marionete de compositores, argumentistas, diretores e produtores, é um enigma da cultura pop que talvez jamais seja solucionado. E fácil apontar para Tom Parker, o homem que ajudou Elvis a alcançar o superestrelato. Parker, na sua visão limitada, optou todas as vezes pelo dinheiro rápido. Presley quase o despediu em uma ocasião, mas em última análise, ele era tão leal quanto um velho perdigueiro.

Minha teoria é que Elvis racionalizou a sua ascenção: "Odeio esta droga, mas até que não tem sido tão ruim assim. Faço filmes em Hollywood. Tenho meus amigos de Memphis comigo o tempo todo. Tenho garotas a cada noite da semana. Recebo minha 'medicação' para me fazer sentir bem. Então, se devo cantar estas músicas horríveis, e dai? É um trabalho para se viver." A porção Paradise Hawaiian Style do disco é ainda pior. Enquanto Frankie & Johnny tem 5 faixas fortes em 12, Paradise... não tem nenhuma em 9. Na faixa-titulo, Elvis canta um verso estúpido, "puxa, é bom estar no 50º estado". Procedido por um material havaiano tão falso, banal e embaraçoso, que Elvis deve ter se entupido de medicação para poder gravá-lo. O divertido é que ele sabia o quanto era ruim. Há uma versão engraçada de "Datin" numa caixa editada em 1980, onde depois de dezenas de tomadas de gravação, ele ainda não consegue cantá-la sem rir do que estava fazendo. Apenas não conseguia parar de rir! Claro, seu senso de humor é lendário, mas aqui é contagiante. O ouvinte não consegue evitar de rir junto com ele. Pena que a versão escolhida pela RCA para este Double Feature, é uma que ele consegue cantar do começo ao fim. O resto do material sequer é digno de menção.

Rock in Portfólio.

sábado, 12 de junho de 2010

Elvis Presley - Minhas Três Noivas

Em 1966 Elvis Presley completou dez anos de carreira em Hollywood. Os executivos da MGM então resolveram elaborar um intenso projeto de marketing para celebrar a data com muito material promocional, posters, álbuns, comerciais, folders etc. No centro das comemorações estava a realização de mais um filme de Elvis na produtora: Spinout (Minhas três noivas, no Brasil). As filmagens começaram em fevereiro de 1966 e duraram dois meses. Para contracenar com Elvis foram chamadas três beldades da época: Shelley Fabares (que já havia atuado ao lado de Elvis), Debora Walley (que chegou a ter um casinho com Elvis no set de filmagem) e Diana McBaine. Na direção o "pau-pra-toda-obra" dos estúdios Norman Taurog.

Infelizmente os executivos da MGM não quiseram se arriscar e resolveram apostar na velha fórmula dos filmes anteriores de Elvis, que já estavam bastante desgastados pela crítica e até mesmo pelos fãs, que vinham exigindo atráves do fanzine "Elvis Monthly" mudanças na carreira de Elvis. Ou seja, muitos fãs estavam mais lamentando esse "aniversário" do que comemorando tal data. A falta de inovação da carreira de Elvis o levou a um impasse: ele tinha que mudar o rumo que vinha tomando há tempos ou afundaria de vez e se tornaria apenas uma "lenda viva" sem relevância artística. Os primeiros sinais já tinham aparecido no ano anterior com as más bilheterias de seus últimos filmes. O público estava cansado dos mesmos roteiros, das mesmas estórias e o pior de tudo: da má qualidade do material musical apresentado nesses filmes. E Elvis tinha consciência disso, porém preso a muitos contratos cinematográficos desde a primeira metade dos anos 60 o cantor se viu amordaçado não só aos grandes estúdios como também à sua própria gravadora que lançava todas as trilhas sonoras - e que por sua vez também estava presa à obrigações com os estúdios de cinema.

Por incrível que isso possa parecer a melhor coisa a acontecer na carreira de Elvis nesse período era um grande fracasso no cinema! E o que todos de certa forma já previam finalmente aconteceu! Spinout foi lançado em novembro de 1966 e afundou nas bilheterias! Nem todo o marketing do mundo o salvou de ser um dos piores fracassos da carreira de Elvis! Até mesmo os fãs resolveram boicotar o lançamento e isso acabou sendo muito bom, pois acendeu de vez a luz vermelha nas organizações Presley - não dava mais para seguir essa velha linha "Trilha / Filme". Para se ter uma idéia do tamanho da bomba, basta afirmar que o filme não conseguiu ficar nem entre os 50 mais vistos do ano - logo Elvis que mesmo em suas bilheterias mais fracas conseguia ficar no top 10 ou até mesmo no top 20. O ano que viria apenas iria corroborar essa visão e tudo isso iria desbancar na realização do NBC TV Special de 68 que iria reviver a carreira de Elvis e o levar de uma vez por todas para longe de Hollywood, para o seu próprio bem e dos seus fãs, é claro!

Spinout (S.Wayne / B. Weisman / D. Fuller) - Ao contrário do filme, que é destituído de valor artístico, a parte musical de Spinout traz pela primeira vez em muitos anos de trilhas sonoras fracas, uma seleção bastante interessante de momentos e até mesmo algumas músicas excelentes da carreira de Elvis - "Down in the Alley", "I'll Remember You" e "Tomorrow is a long Time" de Bob Dylan. Isso se deveu a um fator que ocorreu nos bastidores da RCA Victor em 1966. Por motivos de saúde o produtor de Elvis, Chet Atkins, teve que se afastar dos estúdios. Isso abriu caminho para que os trabalhos musicais de Elvis fossem providenciados por um novo produtor: Felton Jarvis. Ao contrário de Atkins, que apesar de ser um produtor e músico talentoso estava muito acomodado, Jarvis chegava com muita vontade de mostrar serviço. Resolveu embelezar as músicas de Elvis com novos arranjos e lhes dar maior qualidade harmônica, mesmo que essas fossem apenas canções descartáveis de filmes. Enfim, finalmente havia um sopro de ar fresco pairando dentro dos estúdios da RCA Victor.

All That I Am - (S. Tepper / R.C. Bennett) - A prova viva de que Felton Jarvis vinha para ficar! Nesse caso o produtor pegou uma música despretensiosa que fazia parte da trilha e resolveu escrever um belíssimo arranjo de cordas em violino! A nova versão ficou tão bela que, com a concordância de Elvis, Jarvis resolveu lançá-la em single antes do filme. O resultado foi tão satisfatório que a música chegou ao Top 20 na Inglaterra, se tornando também bem conhecida no resto da Europa. Nesse compacto europeu ela foi lançada como lado A, ao contrário do single americano original que vinha com "Spinout" no lado principal e com "All That I am" no lado B. O disco com a trilha sonora se saiu melhor que o filme e conseguiu também ser Top 20 nos EUA (18º lugar entre os mais vendidos). Um excelente sinal de mudanças positivas nas combalidas trilhas sonoras de Elvis nesse período.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Coração Rebelde

Um ano após deixar o exército Elvis Presley deu seguimento ao seu plano de se tornar um ator respeitado em Hollywood. Depois de fazer concessões aos estúdios com G.I.Blues Elvis se sentia forte o suficiente para exigir certo controle artístico sobre sua carreira no cinema. O chefão da Fox, Darryl F. Zanuck, já havia dado carta branca a Elvis para ele escolher o roteiro que quisesse para seu próximo filme no estúdio. Então Elvis foi à caça de uma boa estória para ser filmada. Depois de ler pilhas de scripts e roteiros Elvis escolheu "Wild in The Country", uma adaptação de uma peça teatral que havia sido escrita para ser estrelada pelo ator Montgomery Clift. Infelizmente antes das filmagens programadas Clift sofreu um sério acidente de carro ao sair da casa de Elizabeth Taylor e teve o rosto completamente desfigurado pelo painel de seu carro.

Com isso o projeto do filme foi arquivado. Ao cair nas mãos de Elvis no verão de 1960 o rei do rock se entusiasmou pelo roteiro e pela chance de finalmente fazer um filme com conteúdo mais dramático. Para Elvis esse filme deveria ser filmado de forma fiel à adaptação da peça teatral. Com a aprovação de Darryl F. Zanuck o projeto começou a tomar forma com a contratação do conceituado diretor Phillp Dune e a escalação das atrizes Hope Lange, Tuesday Weld e Cristina Crawford. Tudo ia bem até o dia em que o coronel Parker resolveu ler o teor da estória do novo filme de Presley. Parker ficou chocado com o que leu!

Em primeiro lugar a estória era completamente dramática com final trágico - Elvis faria um personagem que se envolvia com uma mulher mais velha, não haveria músicas e o pior: Elvis se suicidaria no final! Uma coisa inaceitável na visão de Tom Parker, sempre preocupado com a imagem de seu principal (e único) cliente! Atuando pelas costas de Elvis o coronel começou a tomar as rédeas do projeto: o final foi mudado por um grupo de roteiristas contratados pelo empresário, o romance entre Elvis e uma mulher mais velha foi suavizado e foi encaixada diversas músicas dentro do filme (no roteiro original o personagem principal nem sabia cantar!). Elvis ficou completamente desapontado pois o filme agora se aproximava cada vez mais de sua comédias bobocas! Tudo em que havia apostado agora estava indo por água abaixo! Tentou vencer a queda de braço com Parker e Zanuck mas não conseguiu, principalmente depois que o diretor Phillip Dune resolveu ceder às pressões comerciais envolvidas na realização da película.

Assim Elvis se viu totalmente sozinho na defesa do roteiro original que havia lido. Finalmente o presidente da Fox se reuniu com Elvis e demonstrou que as mudanças seriam mais benéficas ao sucesso do filme. Elvis resolveu então tentar salvar o que restava do script mas não obteve êxito em um set completamente controlado pela mão forte do todo poderoso magnata Darryl F. Zanuck. Finalmente acabou cedendo as pressões, com um forte sentimento de frustração e decepção com a maneira de fazer filmes em Hollywood. E assim "Coração Rebelde" se tornou um filme sem identidade própria, um mistão indigesto que tentava colocar sob o mesmo teto conceitos teatrais complexos com romances inventados na última hora para suavizar a forte densidade melodramática da trama.

E também se tornou o adeus de Elvis às suas pretensões de exercer uma atividade de ator independente de sua carreira musical, principalmente depois do sucesso arrasa quarteirão do filme "Feitiço Havaiano", que chegou nas telas nesse mesmo ano. E a fusão desse dois fatores: o sucesso de "Feitiço Havaiano", comédia musical leve cheia de canções, e o relativo fracasso de "Coração Rebelde", filme com pretensões mais sérias, iria determinar como seria a futura carreira de Elvis no cinema, onde ele não iria mais sair do esquema imposto pelos grandes estúdios, das comédias musicais românticas. Era o fim do sonho de Elvis em se tornar um novo Marlon Brando ou James Dean. Será que se tivesse tido a oportunidade ideal, Elvis teria se tornado um grande ator? Nunca saberemos ao certo, infelizmente.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Elvis Presley - Spinout - Parte 3

7. Spinout
(Ben Weisman / Dolores Fuller / Sid Wayne) - Se o lado A do álbum "Spinout" não conseguia sair muito do lugar comum de suas últimas trilhas sonoras, o lado B trazia algumas preciosidades. Essa canção título do filme foi inexplicavelmente jogada para abrir o lado B do disco, algo que surpreendeu aos fãs pois a tradição nas trilhas de Elvis era a música título do filme abrir o disco. Era algo que vinha desde a primeira trilha sonora de Elvis ainda nos anos 50. Não considero essa música muito boa, para falar a verdade mostrou-se uma das mais fracas dos anos 60. Será que os produtores meio que a esconderam no lado B justamente por causa de suas poucas qualidades sonoras? É uma possibilidade.

8. Smörgåsbord (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Essa trilha sonora de Elvis enfrentou alguns problemas no mercado inglês. Isso porque algumas expressões simplesmente não faziam sentido aos ouvidos ingleses. A própria palavra "Spinout" soava ruim aos britânicos. Agora imagine essa palavra chamada "Smörgåsbord"! Os ingleses que sempre consideraram os americanos uns matutos sem sofisticação devem ter coçado a cabeça para entender o que diabos isso significava. Curiosidades linguísticas à parte até que essa canção não é de se jogar fora. Gosto de seu ritmo e refrão pegajoso. Ouviu uma vez, não esquece mais.

9. I'll Be Back (Ben Weisman / Sid Wayne) - Fechando a parte da trilha sonora do álbum temos essa "I'll Be Back". Já li muitos elogios para essa canção, mas sinceramente considero muitos deles exagerados. Não quero ser interpretado de forma equivocada, "I'll Be Back" é sem dúvida uma boa música, diria mesmo muito acima da média das demais presentes na trilha desse filme, porém não é tudo aquilo que dizem e escrevem sobre ela. Considero Ben Weisman um escritor competente que foi muito criticado em sua parceria com Elvis Presley e por isso deixarei o julgamento final a cada ouvinte. Ouça e tire suas próprias conclusões. 

10. Tomorrow is a Long Time (Bob Dylan) - Essa é a primeira bonus song do álbum e o primeiro grande momento do disco. Durante anos as pessoas ficaram sem entender porque Elvis Presley gravava tanta bobagem, sendo que na mesma época os grandes compositores americanos imploravam para que ele gravasse suas músicas. Dylan foi um deles. Considerado um dos maiores nomes da música daquele período, tinha esse velho sonho de um dia Elvis vir a gravar algumas de suas canções. O sonho se tornou realidade com essa faixa, "Tomorrow is a Long Time". Bob Dylan a gravou inicialmente em 1963, em um disco ao vivo. A música chegou a Elvis através de seu músico e amigo Charlie McCoy, que inclusive já havia trabalhado ao lado de Dylan antes. Assim que ouviu a faixa Elvis decidiu que a gravaria. Isso foi em maio de 1966 e inicialmente a RCA pensou em lançar a gravação em um single, o que teria sido uma grande ideia. Pena que mudaram de opinião e a resolveram encaixar aqui no lado B de "Spinout" onde acabou ficando obscurecida, não tendo a devida atenção que merecia. Esqueça esse erro histórico e não deixe de ouvir a faixa, considerada nos dias de hoje uma preciosidade,  um dos melhores momentos de Elvis no estúdio durante os anos 1960.

11. Down in the Alley (Jesse Stone) - Outra jóia perdida da discografia de Elvis Presley. "Down in the Alley" é mais um blues que criminosamente foi jogado para escanteio pelos produtores de Elvis. Uma canção relevante, lindamente gravada, com ótimo entrosamento vocal que foi desperdiçada completamente dentro de sua discografia. Não merecia surgir no mercado como mera bonus song de "Spinout". De qualquer maneira Elvis adorava a música, tanto que a tentou promover até mesmo anos depois, já em Las Vegas, numa forma de resgatar esse ótimo momento obscuro de sua vida nos estúdios.

12. I'll Remember You (Kui Lee) - "I'll Remember You" foi muito importante para Elvis em 1973. Foi uma das faixas mais promovidas e divulgadas em seu "Aloha From Hawaii", justamente porque seu autor, Kui Lee, deu nome a uma fundação que seria ajudada com os lucros do famoso show via satélite de Elvis. Todos certamente conhecem a versão ao vivo de Presley naquele momento tão importante de sua carreira. Curiosamente poucos conhecem a versão de estúdio, essa aqui mesmo que foi lançada como última bonus song de "Spinout". Bela gravação com Elvis em pleno domínio vocal e ao contrário das faixas da trilha sonora, lindamente gravada, sem máculas, em um registro perfeito.

Elvis Presley - Spinout (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore (guitarra)  / Tommy Tedesco (guitarra)  / Tiny Timbrell (guitarra)  / Floyd Cramer (piano) / Charlie Hodge (piano) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Data de gravação: fevereiro de 1966 exceto "Tomorrow is a Long Time" e "Down in the Alley", gravadas em maio de 1966 e "I'll Remember You" gravada em junho de 1966 / Data de lançamento: outubro de 1966 / Melhor Posição nas Paradas: #17 (Reino Unido) #18 (Estados Unidos).

Pablo Aluísio e Erick Steve.

Elvis Presley - Spinout - Parte 2

Stop, Look and Listen
(Joy Byers) - A canção que abre o álbum. Sempre gosto de afirmar que Joy Byers compôs algumas das melhores canções da carreira de Elvis nos anos 1960, período muito complicado para ele, que foi colocado para cantar algumas porcarias enlatadas impostas pelos estúdios de cinema. Assim Byers funcionava como um alívio, pois suas composições, se não eram geniais, pelo menos surgiam acima da média do que ele vinha gravando. Essa "Stop, Look and Listen" é uma tentativa de trazer algum conteúdo roqueiro aos discos de Elvis, que se notabilizavam mesmo por essa época pelas baladas e músicas pop. Não é de toda ruim, embora a ache mal equalizada, mal gravada (característica que pode ser atribuída aliás a todas as faixas da trilha sonora "Spinout", infelizmente).

Adam and Evil (Fred Wise / Randy Starr) - Outra canção mais agitadinha. No filme pelo menos Elvis surge em boa cena, com um figurino azul e preto em um quadro esteticamente muito interessante (muito embora o trash também esteja lá, quando um dos membros de sua banda dá uma de faquir seduzindo uma cobra de pano!). A versão apresentada no filme é ligeiramente diferente da do álbum, com mais solos de bateria. Em termos de letra esqueça, é uma tremenda bobagem.

All That I Am (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Uma das músicas mais celebradas da trilha sonora. Sid Tepper esclareceu nos anos 70 que a canção não havia sido composta especialmente para Elvis e nem para o filme. Só depois quando foi contactado pelo estúdio é que ele resolveu oferecer a canção para fazer parte do disco. Isso talvez explique porque ela é tão bem composta, com ótima melodia. O belo arranjo de violinos também soma muito em seu excelente resultado final. Um oásis de qualidade no meio do deserto de músicas fracas de "Spinout".

Never Say Yes (Doc Pomus / Mort Shuman) - Na volta de Elvis do serviço militar a dupla Doc Pomus e Mort Shuman logo se tornou a principal da carreira do cantor. Não é para menos, pois eles eram realmente ótimos, tanto nas letras como nas melodias. Infelizmente como era de se esperar foram colocados de lado por Tom Parker que começou a considerar a dupla cara demais para trabalhar com Presley. Assim eles foram empurrados sem muita cerimônia para a geladeira. Para surpresa de muitos ressurgiram timidamente aqui na trilha de "Spinout". A canção é fraca, parece que foi vendida pela dupla propositalmente assim. Algo no estilo "pelo preço que vocês querem pagar só podemos oferecer músicas desse nível".

Am I Ready (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Outra bela balada de Tepper e Bennett. Embora fossem contratados da Paramount Pictures, onde compuseram vasto e bom material para os filmes de Elvis, eles também vendiam suas criações por fora, como freelancers, principalmente após 1964, quando se desligaram oficialmente da Paramount. Essa música não chega a ser tão bela como "All That I Am" mas forma com essa a melhor parte da trilha sonora. Infelizmente o arranjo deixou a desejar, principalmente por não ter sido tão embelezada como a outra balada. De uma forma ou outra mantém o interesse e conta com belo trabalho vocal de Elvis Presley, relembrando seus melhores momentos por volta de 1960 e 1961, quando seu estilo de cantar era muito mais suave e terno.

Beach Shack (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - Um verdadeiro lixo! Muitos fãs de Elvis ficam irritados quando alguém afirma que Elvis gravou lixo cultural em sua carreira! Ora, isso é uma afirmação verdadeira! Ele só gravou lixo? Obviamente não, claro que não, mas ele gravou sim grandes porcarias, não há como negar. Pensem sob um contexto histórico. Quando Elvis gravou essa trilha sonora ele já era um homem com mais de 30 anos, não um adolescente boboca! Apenas um cantor teen, desses bem rasteiros, gravaria algo desse tipo. Triste momento para um dos grandes talentos da música mundial que via seu talento ser explorado e colocado a serviço de lixos como esse.

Pablo Aluísio.