quinta-feira, 10 de junho de 2010

Elvis Presley - Spinout - Parte 1

Em 1966 chegou nas lojas o álbum, ou melhor dizendo, a trilha sonora que celebrava os dez anos de Elvis Presley em Hollywood. Nem é preciso dizer que foi uma festa bem sem graça. Os fãs reclamavam há anos e pediam a volta de Elvis aos palcos, a gravação de bons discos de estúdio e mudanças em sua carreira, mas as organizações Presley se recusavam a mudar. Todo ano a mesma coisa, três filmes, três trilhas sonoras, vendas ruins e críticas negativas para todos os lados. O álbum "Spinout", apesar da recepção com muita má vontade, nem era tão ruim como os anteriores. O filme era um genérico de "Viva Las Vegas", com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. As músicas, por outro lado, se mostravam superiores ao que vinha sendo lançado com Elvis, muito embora acompanhada novamente daquele lote de bobagens que todos os fãs de Presley já estavam acostumados.

O disco pode ser dividido em duas partes bem distintas. O material do filme em si, que é caracterizado por uma certa irregularidade, e as chamadas "bonus songs", canções que não faziam parte do filme, mas que eram encaixadas nos discos para que eles não fossem muito curtos. A trilha sonora propriamente dita tem altos e baixos. Há canções medonhas de ruins como "Beach Shack", ao lado de músicas medianas ao estilo "All That I Am", além de pequenas preciosidades como a subestimada "I'll Be Back". O material foi composto por bons compositores como a dupla Sid Tepper e Roy C. Bennett, o sempre bom Joy Byers e até mesmo os excepcionais Doc Pomus e Mort Shuman, que infelizmente comparecem com apenas uma faixa. Graças aos deuses musicais os produtores resolveram colocar o trio calafrio Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye de lado e eles aparecem também com apenas uma canção, e pra variar a pior de todas, um verdadeiro lixo cultural.

Outro aspecto que merece menção é a falta de qualidade técnica das gravações. "Spinout" é considerado um dos discos mais mal equalizados da carreira de Elvis, talvez só superado por "Double Trouble" que parece ter sido gravado na garagem de alguém. Não dá para entender porque a RCA já não se importava mais com a qualidade das gravações daquele que havia sido seu maior nome até pouco tempo atrás. Ao que tudo indica os profissionais da gravadora simplesmente lavaram as mãos, deixando tudo para lá e como os discos já não vendiam mais tão bem, deixaram tudo para o "Deus dará"! Assim que se coloca o vinil original americano para tocar o ouvinte percebe a falta de capricho nas faixas. A banda já não soa tão afinada como antes e Elvis parece transparecer desleixo em seus vocais, algo impensável para quem vinha acompanhado Presley por longos anos, onde seus álbuns sempre se destacavam pelo bom gosto e cuidado nas gravações.

Alguns membros da Máfia de Memphis confirmam que Elvis ficou até mesmo abalado quando ouviu o disco pela primeira vez. Ele obviamente acusou Tom Parker de mandar mexer nas matrizes mas nada fez para parar essa interferência indevida. Chegou a dizer que ficava fisicamente doente quando descobria que um trabalho com seu nome saía mal feito, mal realizado. Some-se a isso os problemas no cinema e você terá uma ideia da imensa frustração profissional que ele vinha sentindo por essa época. A única salvação do disco vem mesmo das bonus songs, três belas canções em gravações impecáveis. "Tomorrow is a Long Time" de Bob Dylan, "Down in the Alley" de Jesse Stone e  "I'll Remember You" de Kui Lee, são maravilhosas. Gravadas numa sessão em maio (e junho) de 66, estavam arquivadas, sem a RCA saber o que fazer com elas. Acabaram enfiando aqui para amenizar a má qualidade do material do filme. 

Como o público já vinha ficando aborrecido com os rumos da carreira de Presley o disco ao ser lançado novamente se tornou uma decepção nas vendas, a tal ponto que pela primeira vez em sua carreira Elvis tinha sido deixado de lado pela filial brasileira da RCA Victor que simplesmente desistiu de lançar o álbum comercialmente por aqui por causa do fracasso de vendas nos Estados Unidos. E o mesmo aconteceu com vários países europeus, mostrando o grau de declínio que o antigo astro vinha passando em sua carreira, tanto no mundo do cinema como no mundo fonográfico. Como disse certa vez um articulista americano, se Elvis tivesse morrido em 1966 ou 1967, ele seria retratado como um dos maiores cantores de todos os tempos que havia desaparecido das paradas e se tornado um artista completamente irrelevante para a arte em geral. Como sabemos isso felizmente não aconteceu e em 1968 ele finalmente se levantaria do mundo dos mortos do show business para reviver novamente dias de glória na sua carreira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Clambake - Parte 1

No começo de janeiro de 1967 o Coronel Parker recebeu um telefonema desesperado. Era Vernon. Ela ligou ao empresário de Elvis com um pedido: que ele arranjasse logo um novo filme para Elvis estrelar porque ele vinha numa orgia de gastanças que estava destruindo todas as suas economias. Vernon era um notório pão duro e ficou horrorizado ao receber as últimas contas de seu filho. Elvis, que sempre foi um conhecido mão-aberta andava exagerando realmente. Ele tinha um novo hobby, um rancho nos arredores de Memphis e estava gastando furiosamente em cavalos, materiais, automóveis e acessórios em geral para o lugar. Era algo sem freios. Para se ter uma ideia Elvis colocou na cabeça que cada membro da Máfia de Memphis teria que ter tudo o que ele tinha naquela rancho. Assim se Elvis tinha um cavalo, todos deveriam ter também seus próprios cavalos. Se Elvis tinha um trailer equipado, todos também deveriam ter um veículo como aquele. Se Elvis tinha um traje completo de cowboy, próprio para o lugar, todos também deveriam estar devidamente equipados. Tudo, claro, pago pelo próprio bolso de Elvis.

O problema é que a carreira de Elvis derrapava. Seus discos já não vendiam bem, as bilheterias de seus filmes decaíam a cada ano e ele não mais realizava shows ao vivo. Não havia mais tanta grana como antes. Elvis porém se indignava quando Priscilla ou Vernon reclamava de seu estilo de vida perdulário. Elvis respondia que o dinheiro era dele e ele gastaria do jeito que bem entendesse. Por essa época Priscilla também começou a se aborrecer pelo fato de Elvis viver sempre ao lado de sua turma, como se fosse um garoto no colegial. Ela tinha esperanças de ter uma vida de casal ao seu lado, para que eles pudessem viver momentos românticos a dois, de mãos dadas pelos campos. Elvis porém enchia seu rancho de gente e estava sempre ao lado dos caras da Máfia de Memphis, que na verdade eram uns caipiras que pouco ligavam para seu romance ao lado da namorada. Elvis também não parecia se preocupar com isso. Os membros da Máfia de Memphis contavam piadas sujas e isso destruía qualquer possibilidade de criar um clima romântico entre eles. Por essa razão Priscilla foi ficando cada vez mais decepcionada com seu comportamento. Ela tinha razão em querer passar mais tempo com Elvis a sós e não ao lado de um bando de caras como aqueles.

De uma forma ou outra o Coronel Parker acabou arranjando um filme para Elvis na United Artists. O roteiro, escrito às pressas por Arthur Browne Jr, não trazia novidades. Era uma derivação de outros filmes passados de Elvis, com muitas garotas, praias e bikinis. Assim que leu o script Elvis deixou claro que havia odiado tudo - as cenas estúpidas, a falta de conteúdo e a precariedade de argumento. De fato era mais uma bobagem adolescente que para um homem como ele, que já havia ultrapassado os trinta anos de idade, soava como algo completamente imbecil e inoportuno. Pressionado pelos gastos porém Elvis cedeu. Ele odiava o fato de ter que voltar para Hollywood para fazer algo assim, ter que gravar mais uma daquelas horrorosas trilhas sonoras cheias de canções ruins. A necessidade porém de colocar as suas contas em dia o fez engolir suas próprias opiniões e Elvis então rumou em direção à costa oeste. Vernon ficou aliviado pois assim ele deixaria o rancho de lado, pelo menos temporariamente.

Antes de entrar no set de filmagem porém Elvis tinha que gravar a trilha sonora. Em fevereiro daquele mesmo ano ele chegou desanimado e cabisbaixo no RCA Studio B em Nashville, Tennessee. Ele havia passado a semana anterior conhecendo o material que gravaria através de gravações demos enviadas pela gravadora e ficara desolado. O material era muito, muito ruim. Um punhado de canções mal escritas, mal feitas, sem melodia decente. Ele ficou tão furioso com o que ouviu que chegou a jogar o disco de demonstração contra a parede, o fazendo em pedaços. Depois reclamou para Priscilla afirmando que aquilo era "um grande monte de m...". Por isso quando entrou em estúdio e cumprimentou Jeff Alexander e Felton Jarvis, Elvis parecia estar com cara de poucos amigos. Resignado, sentado no meio do estúdio Elvis simplesmente sentenciou: "Ok, vamos começar logo para acabar com tudo isso..."

Pablo Aluísio e Erick Steve.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 1

Nunca passou pela cabeça dos executivos da RCA Victor o lançamento de um disco apenas com músicas de blues gravadas por Elvis ao longo de sua carreira. Durante toda a sua discografia oficial que se encerrou em 1977 com sua morte, nada chegou ao mercado nesse sentido. Só em 1985 é que chegou no mercado essa coletânea blues de suas melhores faixas no gênero. Foi um resgate histórico tardio, mas muito bem-vindo. Afinal Elvis sempre foi um admirador da cultura negra dos Estados Unidos. O blues para ele era tão familiar e natural como havia sido o gospel, o country e, é claro, o rock.

Esse álbum adquiri ainda na era do vinil, em 1985 mesmo. Foi um disco que chegou a ser lançado no Brasil. A capa e a contracapa seguiram o padrão americano, o que foi muito bem-vindo para os fãs. A filial brasileira da RCA inclusive manteve o texto original que vinha na contracapa em inglês. Isso deu uma certa sensação aos fãs na época de que o disco era importado, embora fosse realmente uma edição nacional, bem caprichada. A capa já chamava a atenção por trazer uma foto rebuscada de Elvis, tirada de forma amadora, com seu terno de listas que ele chegou a usar em algumas apresentações. O clima anos 50 era de fato bem adequado para esse tipo de lançamento.

A seleção também era bem elaborada. Em meados dos anos 80 as coisas tinham melhorado na major americana da RCA Victor. Os discos eram bem mais selecionados, contando com especialistas na discografia de Elvis Presley. Nada parecido com a bagunça que se tornou os lançamentos do cantor após sua morte em 1977. Nada de coletâneas de músicas infantis e outras bobagens. A intenção agora era de fato resgatar o melhor em termos de qualidade musical por parte de Elvis e seu legado. Assim os fãs acabaram sendo presenteados com um disco que tinha além de uma direção de arte muito bonita, também uma seleção digna de um nome como Elvis Presley.

A música principal do disco também lhe dava o título. "Reconsider Baby" é até hoje considerada a melhor música de blues gravada por Elvis. Ela fez parte inicialmente do sublime disco "Elvis is Back!" que foi gravado assim que Elvis retornou aos Estados Unidos da Alemanha, onde tinha ido cumprir seu serviço militar. Depois de ficar dois anos longe dos estúdios e dos microfones, Elvis parecia com muita disposição para gravar. O repertório desse disco foi simplesmente genial, uma maravilhosa sessão de canções que para muitos formaram o melhor trabalho do cantor nos anos 60. Certos exageros à parte, não há muito equívoco nesse tipo de opinião. "Reconsider Baby" estava aí para provar esse tipo de ponto de vista. Era mesmo uma obra prima do blues, divinamente cantada por Elvis Presley. Um daqueles momentos únicos que definiram toda a carreira de um artista como ele.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 2

"Tomorrow Night" foi gravada por Elvis Presley ainda nos tempos da Sun Records. Até hoje não se sabe com exatidão em que ano ela foi gravada, se 1954 ou 1955. Quando o passe de Elvis foi comprado pela RCA Victor a gravadora levou todos os takes e músicas gravadas por Elvis na Sun Records. Essa foi uma delas. Ficou arquivada anos e anos e depois relançada com novo arranjo no álbum "Elvis For Everyone" de 1965. Ela ganhou uma roupagem musical nova com a assinatura do grande músico e produtor Chet Atkins. Os executivos da RCA achavam que não dava para lança-la tal como gravada na Sun, pois a consideravam muito simples, muito sem sofisticação. Atkins foi então designado para dar uma sonoridade mais moderna e bonita.

A versão que temos nesse álbum é a crua, tal como foi gravada pelos Blue Moon Boys (Elvis, Scotty Moore e Bill Black). Embora a versão embelezada dos anos 60 seja de fato muito bonita, com uma bela guitarra tocada pelo próprio Chet Atkins atravessando toda a faixa, aqui a ouvimos tal como foi registrada por Elvis e banda em seus primórdios. É de fato a versão definitiva de Mr. Presley. Já a música original é bem mais antiga e foi lançada pelo cantor e compositor Lonnie Johnson. Hoje em dia essa composição é considerada uma das mais importantes da história do blues norte-americano. Evocativa e muito bem escrita, realmente é um ponto alto da discografia de Elvis Presley. Um momento que não foi bem aproveitado na época de sua gravação.

A versão de "So Glad You're Mine” que ouvimos nesse álbum é a mesma do disco "Elvis" de 1956, sem maiores novidades. Apenas a RCA Victor trabalhou um pouco mais na master original para recuperá-la adequadamente. Alguns fãs e críticos dizem que ela tem uma leve aceleração em seu ritmo normal. De fato, se ouvirmos o disco de vinil lançado em 56, vamos notar mesmo uma pequena variação em sua duração. Esse porém é um detalhe tão absurdamente minucioso que para o ouvinte comum não fará muita diferença. No mais esse blues é outro grande clássico, criado e composto por Arhur "Big Boy" Crudup, um artista de blues pelo qual Elvis tinha especial admiração. Não podemos nos esquecer que a primeira gravação profissional de Elvis se deu com uma outra composição de Big Boy, a hoje clássica "That´s All Right (Mama)".

"One Night" foi lançada como single em 1957. Chamou muito atenção em seu lançamento original pois a música foi considerada quase pornográfica para aquela sociedade muito conservadora e puritana dos anos 50. E isso porque o produtor Steve Sholes optou pelo lançamento de uma versão mais leve, não totalmente provocante que ficou conhecida dentro do estúdio como "One Night Of Sin". Pois foi justamente um dos takes da versão envenenada que foi selecionado para esse disco. Como não existia mais a preocupação em não chocar ou não escandalizar, a RCA resolveu restaurar os takes originais, sendo que esse ótimo momento chegou pela primeira vez no mercado justamente nesse título "Reconsider Baby", quase quarenta anos depois de sua gravação original! Como diz o ditado, antes tarde do que nunca...

Pablo Aluísio.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 3

"My Baby Left Me" é uma antiga gravação de Elvis que foi lançada pela primeira vez em álbum no LP "For LP Fans Only". Nem precisa dizer que essa foi uma coletânea da RCA nos tempos em que Elvis estava servindo o exército na Alemanha. Um mero caça-níqueis? Em termos, havia boa coisa ali, além disso preservou para a posteridade grandes momentos da carreira de Elvis, inclusive sua primeira gravação profissional, a excelente "That´s All Right (Mama)", gravada nos tempos em que Elvis pertencia ao selo Sun Records. Bom, diante de tudo isso é interessante notar que a versão de "My Baby Left Me" que foi incluída nesse disco é a oficial, master, sem novidades.

"When It Rains, It Really Pours" é bem mais interessante. Um velho blues gravado por Elvis que ficou anos e anos arquivado, sem que a gravadora do cantor a colocasse no mercado. Quem lembra do disco "Elvis For Everyone" de 1965? Pois é, era um álbum bem estranho, não sendo nem um disco oficial de inéditas gravado em estúdio e nem uma coletânea tradicional. Ficando no meio termo entre as duas classificações, acabou chamando pouca atenção dos fãs. Essa música também já havia sido lançada no álbum "Elvis: A Legendary Performer Volume 4" e aqui ganha nova roupagem. Está bem mais trabalhada, com visível melhoria na qualidade sonora.

Já tive oportunidade de escrever várias vezes isso e repito mais uma vez: a versão de "Ain't That Loving You Baby" que você encontra nesse disco de Elvis é a melhor de todas as que já ouvi! Muito superior inclusive ao master oficial que sem ritmo, sem pegada, fracassou nas paradas quando foi lançada tardiamente em single durante os anos 60. Aqui há uma batida inigualável! De todas as músicas que Elvis gravou em sua carreira essa ocupa um lugar de destaque pelos motivos errados. Como é possível ignorarem esse take, escolhendo um bem mais inferior para lançar oficialmente? Um verdadeiro desperdício. O mais estranho é que essa versão ficou anos e anos fora do mercado. Enfim, se você precisa de apenas uma razão para comprar esse disco "Reconsider Baby" essa é a inclusão desse take maravilhoso na seleção musical. Um pedaço de genialidade de Elvis que foi injustamente jogado de lado pela RCA Victor.

"I Feel So Bad" também é outro momento muito bom do disco. Elvis a gravou em 1961 em uma época em que ele estava ficando mais centrado apenas nas trilhas sonoras de filmes. É uma faixa que nos faz lembrar o quão Elvis poderia ter sido interessante nos anos 60 se não tivesse sido literalmente engolido pelos estúdios de Hollywood. É a tal coisa, a música ficou em segundo plano, enquanto o Elvis ator não conseguia ir muito além do lugar comum. Uma pena. Mal lançada, sem promoção, esse blues ainda conseguiu chegar na décima quinta posição da Billboard, mostrando que a música de qualidade de Elvis sobrevivia a tudo mesmo, até mesmo ao péssimo gerenciamento de seus lançamentos pela RCA.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 4-5

O vinil vai passando e então soam os primeiros acordes de "Hi-Heel Sneakers". Esse é um blues das antigas, gravado pela primeira vez por Tommy Tucker, cantor negro de blues, excelente pianista e compositor de mão cheia. É dele uma das mais bonitas e lindas músicas de todos os tempos, "My Girl". Pois bem, aqui Tucker foi direto no fonte, mesclando o blues mais tradicional com uma sonoridade que ele pensava ser atrativa para as rádios. No fundo ele queria fazer sucesso, óbvio. E de fato ele acertou em cheio pois a canção conseguiu chegar na décima primeira posição da concorrida parada Billboard Hot 100. Para um blues era algo excepcional.

Elvis sempre ligado no que estava acontecendo ficou realmente atraído por aquele som. Elvis cresceu com uma excelente formação musical, ouvindo muito blues, country, gospel, enfim, as sonoridades que eram tocadas nas rádios comerciais de sua cidade. A música estava no ar e Elvis obviamente sabia quando ouvia um blues de qualidade.

O problema é que por essa época ele já estava preso aos contratos das companhias cinematográficas. Os pacotes das trilhas sonoras chegavam fechados, sem possibilidade de Elvis discutir o que iria ou não gravar. Mesmo assim, com as mãos amarradas, ele decidiu que iria fazer sua versão. Algo que ficou maravilhoso em sua voz. Ouvindo faixas como essas podemos ter uma noção de como Elvis perdeu tempo gravando todo aquele material de Hollywood. Se ele tivesse se dedicado apenas a bons materiais nessa fase de sua vida teríamos algo bem melhor para ouvir hoje em dia.

Outro blues fantástico é "Merry Christmas Baby". Para muitos foi a única obra prima gravada por Elvis durante as sessões que deram origem ao disco "Elvis Sings the Wonderful World of Christmas". Aquele mesmo álbum de 1971 só com músicas de natal, que o próprio Elvis nem queria gravar, mas que acabou cedendo aos desejos e caprichos da RCA Victor e do Coronel Parker. Originalmente essa canção saiu como lado B de um single pouco conhecido durante o pós-guerra. Era o ano de 1947 e a indústria fonográfica ainda engatinhava. Elvis com apenas 12 anos de idade teve contato com a versão original? Não sabemos, mas é possível, afinal ele foi uma pessoa que cresceu ao lado do rádio ouvindo tudo o que era tocado. Muitos creditam a inspiração de Elvis a outra gravação, de Chuck Berry, em 1958, quando ele estava começando o serviço militar. Isso também é possível, porém essa é aquele tipo de pergunta que só poderia ser respondida pelo próprio Presley. De uma forma ou outra o que temos certeza é que a gravação do cantor é absurdamente bem realizada. Puro blues, puro blues.

"Down in the Alley" é outra gravação resgatada dos anos 60, mais um excelente momento de Elvis no gênero blues. Outra que nunca foi aproveitada de forma adequada na discografia de Elvis. Outra que foi usada como bonus songs de uma trilha sonora menor, "Spinout". No lado B desse álbum, que vendeu pouco e foi ignorado, a música, apesar de sua grande qualidade, foi deixada de lado, esquecida completamente, Curiosamente Elvis parecia acreditar nela, a tal ponto que chegou a usá-la ao vivo nos anos 70. Ele a resgatou do esquecimento com o objetivo de variar um pouco seu repertório de palco, mas a recepção do público, que mal a conhecia, foi fria e indiferente. Com isso Elvis a jogou de novo na gaveta do esquecimento. Provavelmente se tivesse sido bem recebida Elvis teria um mudado um pouco a lista das canções que sempre apresentava em seus concertos. Como o público porém queria mesmo ouvir "Love Me Tender" e "Suspicious Minds" Elvis foi ficando dentro de uma zona de conforto, cantando basicamente as mesmas músicas, ano após ano. Uma pena.

"Stranger In My Own Home Town" ganhou um destaque melhor na discografia de Mr. Presley. Essa fez parte da histórica sessão de gravação de Elvis no American Studios em 1969. Lançada no álbum "From Memphis to Vegas – From Vegas to Memphis"e relançada logo depois no "Back in Memphis", esse blues sempre ganhou elogios da crítica em geral. Não fez sucesso nas rádios e nem se tornou um hit, mas trouxe prestígio a Elvis em um momento de virada em sua carreira. Depois de anos de trilhas sonoras massacradas pela crítica, Elvis finalmente ganhou reconhecimento pelo belo trabalho que produziu no American em Memphis. Afinal ele estava em casa e tinha que honrar seu lugar entre os grandes intérpretes e cantores da história da música norte-americana.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Elvis Presley - Moody Blue - Parte 1

Esse foi o último disco lançado por Elvis. Era 1977 e o cantor já caminhava para seu trágico fim. Por isso quando ele morreu, em agosto daquele ano, os que foram nas lojas de discos para comprar algo dele, encontraram justamente esse álbum nas prateleiras. Por essa razão o sucesso foi enorme. Ao lado de "Elvis in Concert" e "Aloha From Hawaii" acabou se tornando um dos LPs mais vendidos do cantor naqueles distantes anos 1970. E isso acabou sendo muito bom. Eu considero um álbum de boa qualidade, com uma precisa seleção de faixas, todas no geral bem gravadas. O fã ou admirador eventual que levou esse vinil para casa em 1977 não ficou decepcionado. Pelo contrário.

São apenas dez faixas. Por essa época a RCA Victor raramente lançava discos de Elvis com mais de dez músicas. O tempo dos LPs com doze ou até quatorze canções tinha ficado no passado distante. Acontece que Elvis já não tinha mais o mesmo número de músicas gravadas em estúdio esperando por lançamento. Com a raridade de material a gravadora foi dosando melhor o número de músicas em cada vinil novo lançado.

A linda "Unchained Melody" abria o disco. Não poderia haver melhor apresentação. Era uma música gravada ao vivo, em 24 de abril de 1977 , A cena foi gravada para o especial "Elvis in Concert" e se tornou um dos melhores momentos daquele especial de TV. Elvis, sentado ao piano, fazia uma performance memorável desse clássico. O interessante é que o cantor já estava com um visual modificado pelos problemas que ele vinha enfrentando. Isso chocou algumas pessoas na época. Porém nada disso tirou o brilho desse momento especial. Um fato curioso é que desde os anos 1960 a RCA vinha sugerindo a gravação desse sucesso, mas Elvis sempre a deixava de lado. E de fato ele nunca a gravou em estúdio, preferindo trazer sua versão inédita diretamente no palco. Ficou especial, um momento realmente memorável de sua carreira.

"Little Darlin'" era outro clássico. Outra que foi gravada ao vivo e nunca em estúdio. Ao contrário de "Unchained Melody" que exigia uma concentração fora do comum para Elvis, aqui tudo soava bem relaxante e divertido. O próprio Elvis nunca levou essa música muito à sério, preferindo deixá-la mais no modo "puro relaxamento". Curiosamente ela foi gravada no mesmo concerto em que Elvis sentou ao piano para cantar "Unchained Melody", no dia 24 de abril de 1977. Ele parecia bem inspirado nesse dia. A RCA então aproveitou para gravar material para seus discos, uma vez que Elvis já não entrava mais em estúdio como antigamente. Aquelas maratonas de gravações, quando Elvis conseguia gravar vinte, trinta músicas em poucos dias, jã não existiam mais. A realidade de Elvis tinha mudado, para algo completamente diferente. Assim não era raro agora a RCA gravar seus shows, para aproveitar alguns momentos. Afinal a máquina de lucros em torno do cantor não poderia parar nunca!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Moody Blue - Parte 2

Eu considero esse álbum de Elvis bem mais para cima do que o anterior. Aqui há um considerável número de músicas mais alegres e movimentadas. O resultado desse conjunto se traduz em um disco mais agradável de se ouvir, sem ter a melancolia do "Elvis Presley From Boulevard", considerado por muitos como um disco pesado, de complicada audição. Um bom exemplo de que "Moody Blue" tem um astral melhor vem de músicas como "Way Down". Gravada em Graceland, essa música tem uma linha de baixo bem marcante. É um country rock de qualidade. A RCA Victor viu potencial e lançou a canção em single, com destaque. Acabou chegando em primeiro lugar na parada country, um ótimo retorno comercial para a carreira de Elvis.

E por falar em country music... "If You Love Me (Let Me Know)" era a melhore representante do estilo dentro do disco. Essa faixa foi gravada ao vivo no show do dia 26 de abril de 1977. Inicialmente a gravadora não pensou em utilizar a faixa em um álbum oficial de Elvis, mas pesquisando no material gravado pela RCA que estava arquivado em Nashville, material obtido nas turnês de Elvis, o produtor Felton Jarvis resolveu selecionar esse momento para compor o disco "Moody Blue", até porque o LP necessitava de dez a doze faixas e Jarvis não tinha material suficiente de estúdio para isso. Em razão dessa escassez, o álbum acabou saindo misto, com músicas gravadas em estúdio (entenda-se a sala das selvas em Graceland) e músicas gravadas ao vivo. Antes a RCA priorizava a separação das duas coisas. Ou o disco vinha apenas com gravações de estúdio ou totalmente Live, ao vivo. Na falta de maior número de faixas disponíveis, o jeito foi apelar para uma fórmula mais diversificada, o que resultou nesse disco em que se misturava as duas opções de gravação.

E a falta de material novo era tão grande que a RCA resolveu usar a mesma versão de "Let Me Be There" que já tinha sido lançada antes no disco ao vivo "Elvis Recorded Live on Stage in Memphis". Isso nunca tinha acontecido antes dentro de um disco oficial de Elvis! E o mais curioso de tudo é que a RCA Victor promoveu o álbum como o "novo disco de inéditas de Elvis Presley". Bom, como se pode perceber, nem todas as faixas eram realmente inéditas. Essa aqui, por exemplo, já era bem conhecida dos colecionadores. Gravada em Memphis no concerto que o cantor realizou em 20 de março de 1974, já era bem conhecida dos fãs. A boa performance de Elvis, por outro lado, até justificava uma nova audição. Apenas penso que a RCA poderia ter pincelado algo realmente inédito pois a gravadora havia gravado pelo menos dois concertos em Memphis. Por que não trouxeram alguma gravação do outro show? Complicado entender.

A faixa título do disco, a boa ""Moody Blue", foi gravada em Graceland no dia 4 de fevereiro. Essa foi a sessão que Elvis interrompeu quando chegou algumas motos novas que ele tinha comprado. É a tal coisa, gravar em casa, apesar de todo o esforço do produtor Felton Jarvis em fazer tudo da forma mais profissional possível, tinha seus problemas. Uma delas era a distração por parte de Elvis. Ele sempre estava interrompendo as gravações por um motivo ou outro. Quando as motos novas chegaram em Graceland Elvis perdeu o interesse pelas músicas que estava gravando. Ele preferiu ir conferir suas novas máquinas. E como ele adorava motos, a coisa só piorou. De qualquer maneira essa canção até que foi bem gravada. Com ritmo agradável, alegre, tem um sabor de nostalgia dos anos 1970. Repare bem no arranjo das guitarras. Poucas coisas poderiam ser mais característicos daquela época do que isso. Um bom momento de um disco que foi gravado com muitas distrações por parte do cantor, mas que no final até que funcionou bem. 

Pablo Aluísio.

domingo, 6 de junho de 2010

Elvis Presley - Moody Blue - Parte 3

"Pledging My Love" tem uma história estranha. Seu autor Ferdinand Washington afirmou que a canção foi composta no meio de uma crise suicida. Ele estava muito abalado com o fim de um relacionamento e decidiu colocar uma bala em seu revólver. Com uma garrafa de whisky na sua frente, ele começou a brincar de roleta russa, apertando o gatilho com a arma apontada para sua cabeça. Para sua sorte sobreviveu ao jogo mortal. Depois, já meio embriagado, deu os últimos retoques nessa canção, que é bem convencional, bem de acordo com o estilo country mais clássico dos anos 50, sem qualquer referência em sua letra sobre suicídio ou temas mais sombrios. Para falar a verdade a canção é até bem agradável de se ouvir, com um bonito arranjo, embora o tema da letra fale de desilusões amorosas.

Essa música foi lançada originalmente em Dezembro de 1954 pelo cantor Johnny Ace no finado selo Duke Records, um dos milhares de selos fonográficos ao estilo Sun Records que surgiram nos Estados Unidos naquela fase de popularização de gravações por pequenos estúdios. O próprio Elvis Presley foi fruto desse processo todo. Qualquer produtor musical com um pouquinho de investimento conseguia comprar uma mesa de gravação e saía gravando artistas locais. Quem sabe ele tirava a sorte e grande e conseguia um sucesso de vendas, fabricando os próprios singles por conta própria. Outro aspecto curioso é que o cantor Johnny Ace morreu em um acidente envolvendo armas de fogo, completando um ciclo meio macabro envolvendo essa música.

"She Thinks I Still Care" foi gravada por Elvis na sala das selvas em Graceland no dia 2 de fevereiro de 1976. Curiosamente em um tempo em que Elvis ia perdendo o interesse nas gravações de seus próprios discos ele abriu uma exceção em tudo e resolveu gravar duas versões diferentes dessa faixa, o que demonstrava acima de tudo que ele realmente gostava mesmo da música. A primeira versão foi bem ao estilo country de Nashville e essa versão foi a que acabou sendo escolhida para fazer parte da seleção musical do disco oficial. É uma boa versão, mas não é a minha preferida.

A melhor versão de "She Thinks I Still Care" foi aquela com estilo blues. Essa segunda versão ficou anos desconhecida dos fãs de Elvis Presley. Nunca foi lançada em sua vida e só depois de décadas é que chegou ao mercado. A forma mais simples de encontrá-la dentro da vasta coleção de discos lançados de Elvis é comprando o box "Walk a Mile in My Shoes: The Essential '70s Masters". Ela está no "Disc four: Studio Highlights 1971–1976", creditada como "unreleased alternate take". Na verdade não é apenas um take nunca lançado, mas uma versão completa, perfeita e com ótimo estilo. Em minha opinião bem melhor do que a versão original. Deveriam ter lançado no álbum de 1977, ou pelo menos como single. Arquivar uma gravação tão boa, por tantos anos, foi realmente um pecado.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Moody Blue - Parte 4

"He'll Have to Go" foi gravada em Graceland, na sala das selvas, no dia 31 de outubro. É uma daquelas faixas que não fizeram sucesso na época, sendo apenas uma boa balada usada para completar o álbum. Gosto da letra, bem cinematográfica, retratando um momento complicado de um relacionamento que ficou no passado. Versos que mais parecem ter saído de um roteiro, como nos trechos em que Elvis canta: "Coloque seus doces lábios um pouco mais perto do telefone / Basta fingir que estamos juntos sozinhos / Diga ao homem para abaixar o som da jukebox / Você pode dizer ao seu amigo que está com você, que ele vai ter que ir embora". Elvis que dava longos telefonemas para sua ex-esposa Priscilla, pode ter facilmente se identificado com essa letra.

Embora a expressão "amigo" seja usado na letra, o que temos aqui é outra situação. O autor tenta convencer sua amada do passado a dispensar seu amante, para que eles possam voltar a ficar juntos. É um homem magoado pedindo para a mulher que ama que mande embora seu amante de ocasião. No caso o tal "amigo" seria nada mais, nada menos, do que Mike Stone, o amante de Priscilla, o homem que a fez deixar Elvis para ir morar com ele na Califórnia. O pior de tudo é saber que no fundo Priscilla ignorou o recado indireto que Elvis lhe mandava através dessa música para continuar ao lado de Mike. Ela não o deixou ir embora, como a canção sutilmente lhe sugeria.

"It's Easy for You" também não fez sucesso, mas tinha igualmente algo a dizer em sua letra. Aqui os papéis se invertem. É a história de um homem que largou sua esposa e seus filhos para ficar com uma amante. Só que o tempo passou e ela o largou. E agora esse homem se vê completamente abandonado, tanto por sua ex-esposa e família, como pela mulher que virou sua cabeça, fazendo com que ele jogasse fora seu casamento. Um tipo de situação até bem comum, se formos pensar bem. Praticamente todo mundo conhece uma história como essa envolvendo parentes, conhecidos ou amigos. Geralmente inclusive envolvendo homens mais velhos com mulheres mais jovens. E depois que a amante se vai o homem lhe diz que para ela é fácil fazer isso. Já ele pagou um preço alto demais pelo que fez.

A letra é de arrependimento e também de revolta. Um recado para a "outra". Aqui penso que Elvis se identificou de uma maneira diferente. Embora a música se refira a uma mulher específica, Elvis estaria colocando do outro lado todas as mulheres que ele se relacionou quando estava casado com Priscilla. É um reconhecimento de culpa, já que Elvis realmente traiu Priscilla com inúmeras mulheres, principalmente quando estava em Las Vegas fazendo suas temporadas na chamada "cidade do pecado". Ele pagou para ver e acabou se dando mal, já que a esposa o traiu também, dando o troco na mesma moeda.

Pablo Aluísio.